quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Anders Zorn de A a Z (Parte 4 de 7)

 

 

Falo pela quarta vez sobre o pintor sueco Anders Zorn. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Presidente Glover Cleveland. A paixão de Zorn pelos EUA, um “americano adotivo”, por assim dizer. Os livros são a cultura e o esclarecimento, no modo como os cidadãos de países ricos são leitores vorazes, na noção de que um país se faz com homens e livros. O relógio de bolso é o registro do tempo, na tradição democrática americana, um país que foi avançando aos poucos, abolindo a escravatura, permitindo o voto feminino e elegendo um homem negro presidente, na lástima que foi Hillary não ter sido eleita, derrotada por um homem não muito fino, este enraivecendo uma turba que invadiu o Congresso Americano, num ato semelhante aos vandalismos em Brasília, num Ser Humano sempre confuso, sem o simples discernimento de que fino é forte e de que grosso é fraco, nas palavras sábias de Obama: “Você será lembrado pelo que construiu e não pelo que destruiu”, como em vândalos pichadores, achando que estão construindo algo de nobre e válido. O homem aqui usa uma elegante gravata borboleta, num homem que sabe que, na vida pública, a aparência da pessoa é muito importante, ao contrário de certas mulheres desarrumadas, que subestimam a importância do garbo, como num Evita Perón, a qual levava extremamente a sério o se arrumar na hora de vir a público, conquistando os corações dos proletários descamisados, como Diana, uma mulher arrumada, encantando as pessoas com tanto glamour, em personalidades mágicas, de carisma esmagador, ao contrário de um carismático Mussolini, que acabou mal, muito mal. A luz entra branda na sala, num dia encoberto, nesse talento de Zorn em captar tal luz, num pincel tão sutil. As cortinas são finas, aristocráticas, dignas de um gabinete de presidente, como a seda chinesa encantou a Europa, na vitória do sutil sobre o grosseiro, em monarcas franceses vestindo tais tecidos exclusivos, acabando na deposição do rei francês, o qual mal se importava com o preço do pão e a fome do povo, pois um líder que se afasta de seu próprio povo deixa de ser líder, como na deposição dos Romanov na Rússia, neste eterno talento humano egoísta: Se estou bem, resto que se ferre. O relógio é a passagem do tempo, sendo só questão de tempo até o mandato expirar, chegando o momento de uma nova eleição, na troca de cadeiras, num país em que, de tão livre, o voto não é obrigatório, porém num país em que o cidadão não pode se prostituir e ser dono de seu próprio corpo, talvez numa herança puritana protestante, sempre castrando a sexualidade feminina, na figura idealizada da Virgem, à qual não foi permitido ter sexualidade, como em certas culturas em que a genitália feminina é mutilada e castrada, na figura do patriarca, a imagem que temos de Deus, na noção islâmica de que Deus é homem e ponto final, quando que os espíritos desencarnados não têm sexo nem sexualidade, ou seja, de fato, somos todos irmãos, mas Caim sempre assassina Abel, sinto em dizer – é um horror. A cadeira, o trono, é tal empoderamento, no modo como o poder pode corromper a alma do homem, num Trump que simplesmente não teve a elegância de aceitar a vitória de Biden, num Trump que, infelizmente, cativa milhões e milhões de eleitores. O homem aqui está a poucos passos da calvície, num homem vivido e experiente, no modo como não é bom ser jovem demais, pois, quando somos adolescentes, não temos juízo nem responsabilidade, tornando-nos inconsequentes. Apesar de já um tanto idoso aqui, não há cabelos brancos, ao contrário do Aragorn de Tolkien, um senhor grisalho o qual, apesar de estar na casa dos quarenta, era um homem no auge da virilidade e na flor da idade, como na figura de James Bond, um homem na meia idade absolutamente vigoroso e viril, na figura patriarcal do macho alfa comedor de mulheres, com o perdão do termo chulo, no modo como o menininho, quando nasce, é coberto pelos preconceitos do Mundo, nos quais homem pode tudo e mulher pode nada. O homem aqui é disciplinado, posando pacientemente para Zorn, remetendo a um certo artista plástico que conheço, o qual  tira uma foto da pessoa e a partir da foto faz uma pintura a óleo, ou seja, poupa a pessoa de posar por horas.

 


Acima, Sommarnöje. Este incrível talento de Zorn para retratar águas, num talento inacreditável, marcante. O homem aqui é sedutor, querendo que a moça embarque, como na capa de um dos álbuns do cantor Eros Ramazzotti, com Eros remando um barco numa linda noite de luar, num amante sedutor, na letra de uma canção de Fábio Jr.: “Esquece e vem”, como na Dona Flor de Amado, com o homem do dinheiro e o homem romântico, no modo como a mulher gosta dessas duas coisas no mesmo homem, rechaçando um homem que é só romântico e um homem que é só garantia e segurança, como um homem que conheço, o qual levou um “pé na bunda” de duas mulheres, pois estas tinham expectativas românticas em relação a tal homem, quando que o romantismo está em pequenas coisas que não custam um só centavo, como por exemplo a mulher cozinhando no fogão, com o homem abraçando-a por trás e dando-lhe um beijinho, como me disse uma amigona psicóloga: “Nos relacionamentos amorosos, todos os dias temos que dar uma pequena reconquistada no cônjuge”, pois os relacionamentos amorosos são difíceis, pouco importando se é hetero ou homossexualidade. A mulher aqui é a hesitação, pensando se o homem tem uma proposta digna de respeito, no modo como tudo tem que começar pela cabeça, pela razão, na garantia do Yang, na proposta de homem, sólida, realista, como uma sisuda proposta de casamento, no modo como o glamour da Lua de Mel só dura poucos meses, entrando em cena o dia a dia do casal, quando um começa e se deparar com os defeitos do outro, nas palavras de um certo senhor: “Eu estou até hoje casado porque minha esposa aguenta meus defeitos”, como um certo casal, no qual ele é fumante e ela não, mas ela, em compensação é uma chata assumida, ou seja, tem que haver paciência sempre – não é perfeito, mas é meu cônjuge, e eu o amo! O dia é incerto e cinzento, numa sisuda Quarta Feira de Cinzas, quando a alegria do veraneio acaba e temos que voltar a nossas sisudas vidas, encarando o labor e o estudo, como na divertida tira do mestre cartunista Iotti, com a família voltando da praia, todos com cara de emburrados, sentindo o peso da seriedade da Vida. A mulher aqui não é cinzenta, mas branca, na pura cor do leite, na moça na embalagem de leite condensado, talvez virgem, guardando-se, como uma mulher que casou virgem tendo pelo resto da Vida o mesmo parceiro sexual, num comportamento bem visto pela Sociedade, na qual o homem, antes de se casar, tem que ter uma visa sexual ativa, requentando prostíbulos, nas duas figuras misóginas de feminino: a santa e a puta, com o perdão do termo chulo, quando que, na verdade, a mulher não é nem uma, nem outra, como no seriadão Sex and the city, com mulheres modernas, vivendo suas sexualidades, catapultando Sarah Jessica Parker ao status de estrela, num seriado que tanto conquistou a mulherada, numa conversa honesta sobre sexo, num seriado se passando nuns EUA protestantes, que no passado condenava mulheres por bruxaria, na condição e Eva em ser um mero arremedo do perfeito Adão, sendo culpa de uma mulher pelos males do Mundo, numa Eva diabólica e maliciosa, que corrompeu Adão idealizado, talvez num patriarcado com “inveja” do poder feminino em trazer Vida ao Mundo, construindo um patriarcado como uma compensação, uma divisão de poderes, na figura do cacique indígena, assumindo o controle da tribo. A cena aqui é erma, e o casal parece estar bem sozinho, num momento propício para tal flerte. Mas a mulher está incerta, não sabendo se confia no homem, num ato de cautela, de sabedoria e precaução, como no filme As pontes de Madison, num homem que não fornece uma proposta sólida nem realista a uma mulher, fazendo desta uma mera amantezinha, como no filmão Elizabeth, quando a rainha se dá conta de que nada mais foi do que a putinha de um homem, com o perdão do termo chulo. A água é plácida e convidativa, e podemos ouvir o delicioso ruído aquoso, numa pessoa vibrante, num artista que sabe “atear fogo” numa plateia ensandecida.

 


Acima, Sophia, rainha consorte da Suécia e Noruega. Aqui é uma vida vivida, numa mulher no Inverno da Vida, construindo sabedoria e sensatez, como num longevo Leonardo da Vinci, o qual se manteve jovial e brincalhão até o fim da Vida, numa pessoa que não se permitiu envelhecer demais, como um senhor que conheci em Porto Alegre, o qual usava roupas extremamente fashion e modernas, joviais, mais jovial do que muitos, muitos jovens de fato, um senhor que chamava a atenção de tão moderno, algo extremamente inusitado para uma pessoa de mais idade. A mão sobre a face é o repouso, numa pessoa que sabe que a Vida precisa de pausa e de calma, na sabedoria de que Roma não foi erguida em um só dia, nessa “pressa” que as pessoas jovens têm, em achar que um relacionamento de dois anos de duração é uma eternidade. A luz lateral revela as marcas de velhice na face, numa mulher que já foi linda, num espírito que, ao desencarnar, opta por qual imagem ter no Plano Metafísico, rejuvenescendo assim, sendo jovem para sempre, mas com a sabedoria de um espírito que já passou por muitas vidas, tendo passado por muitos lugares, num caminho de crescimento e depuração: o importante na Vida é a evolução, fazendo com que nos tornemos pessoas melhores, menos egoístas e menos alienadas, no eterno exemplo do personagem Oscar Schindler, um playboyzinho fútil que acabou se compadecendo com os problemas do Mundo, escrevendo a lendária lista que tantas vidas salvou, numa Hollywood um tanto judia, crucificando Mel Gibson quando um dos filmes deste colocou os judeus como os executores de Cristo, na perseguição aos judeus, como num insano Hamas, numa guerra de terror, nesse “talento” humano em primar por destruições desnecessárias, como atingir uma inocente editora parisiense, a Charlie. As suaves mãos envelhecidas seguram um lenço fino, leve, macio, agradável, na questão do termo latino “lux”, que é luz, luxo e leveza, como na Cinderela, numa Disney que traz às crianças o discernimento entre Bem e Mal, ao contrário da obra sombria que é O Senhor dos Anéis, num livro que fala sobre a fraqueza humana perante o Anel do Poder, num anel corrompendo homens basicamente bons, no esforço de renúncia de Galadriel, a qual negou o Anel, adquirindo humildade e permanecendo ela mesma, sem ser desfigurada por tal sedutor poder. A consorte aqui é pudica, com o corpo quase todo tapado por vestes, com elegante adorno na cabeça, numa mulher decente, com pudor, construindo toda uma vida pública, conquistando o respeito do povo, como num machista Antigo Egito, no qual o MÁXIMO que uma mulher podia sonhar em chegar era ser a grande esposa real, que aparecia publicamente ao lado do rei, uma esposa acima de todas as outras integrantes do harém do faraó, uma lei machista que foi transgredida por Hatshepsut, a mulher que foi faraó de fato, num momento excepcional, raro. Aqui é a dignidade de realeza, numa posição de poder e de representatividade, representando uma tradição que serve para nos dar uma amostra do infinito, do atemporal, da dimensão acima da nossa, da dimensão em que tudo é jovem, fino, belo, limpo e eterno, fazendo com que as duras cidades terrenas sejam meras cópias toscas das divinas cidades espirituais, para onde voltaremos após nossas sisudas encarnações na Terra – é só questão de tempo, meu irmão. Aqui é uma pessoa que aprendeu “na marra” a ter majestade, como na rainha consorte Camilla, uma figura não muito carismática, num povo que teve que “engoli-la”, por assim dizer, uma consorte a qual, mesmo em tal posição de poder, não é uma figura na qual o povo inglês coloca necessariamente suas esperanças – na Vida não se pode ter tudo. O repouso aqui é numa poltrona, num abrigo para uma pessoa idosa, numa vida cheia de confortos e regalias, no modo como pode ser duro para um presidente “desencarnar” do poder, não aceitando a derrotas nas urnas, como num elegante FHC, passando humildemente a faixa presidencial para Lula, havendo neste o carisma de um homem que não teve acesso a muito estudo.

 


Acima, Sr. Henry Clay Pierce, financiador e pioneiro da indústria de petróleo. Zorn gosta de retratar esses senhores digníssimos, grandes homens, que fazem a diferença, com muita austeridade, na noção de que o Mundo pertence somente aos austeros e dignos, sendo o resto tolos sinais auspiciosos, como tediosas alas vip de boates, quando que, na verdade, o coração da festa está na pista de dança. Aqui temos um retrato de corpo inteiro, com impecáveis sapatos, símbolos de status, como em Liza Minnelli entrevistada pelo mestre gaúcho Tatata Pimentel, dizendo a este, claro, em inglês: “Sapatos fabulosos!”, como num cliente que entra na loja, com o vendedor olhando para os sapatos do cliente, sabendo, assim, se trata-se de uma pessoa abastada ou nem tanto – é a crueldade da Sociedade de Consumo, na qual os que não têm dinheiro nada são. Esses senhores se arrumam para posar, em homens ricos, que têm como bancar o serviço de tal pintor excepcional, como nas meninas burguesas de Renoir no MASP, numa família com dinheiro para fazer tal encomenda, na burguesia que ascendeu na Revolução Francesa, guilhotinando Maria Antonieta e chocando países tão tradicionais como a Inglaterra, a qual cultua até hoje sua própria aristocracia, numa espécie de meio termo, numa monarquia parlamentar – o monarca reina, mas não governa. Pierce segura um livro, símbolo de conhecimento e intelectualidade, numa pessoa quieta no seu canto, lendo, como a senhora minha mãe, uma pessoa muito letrada, inteligente – sem eu aqui quer ter Complexo de Édipo –, uma pessoa que devora livros, no prazer de uma boa leitura, como num delicioso texto de LF Veríssimo, meu escritor ídolo, um homem tão discreto e reservado, dizendo, em sua sabedoria, que a pessoa tímida, como ele, é, na prática, uma “Elke Maravilha”, atraindo atenções para si, numa contradição divertida, no conceito dialético de que tudo traz em si sua própria contradição, no senso de humor de Tao – duas faces para cada moeda, como na xilogravura, num jogo de sedução entre côncavo e convexo; positivo e negativo. O escritório elegante aqui é a responsabilidade, no peso da coroa sobe a cabeça, num homem que sabe que tem que ter tato diplomático, cautela, como se soubesse que a travessia num rio tem perigos ocultos, como um cirurgião no momento da cirurgia, num momento de extrema concentração e dedicação, como numa foto de uma amiga minha médica, fazendo uma cesárea, altamente dedicada a tal delicado momento, no peso da responsabilidade, numa seriedade adulta a qual o muito jovem não tem, num adolescente para o qual o mundo dos adultos é extremamente tedioso e desinteressante, num “galeto” – nem pinto, nem frango. A poltrona confortável é a regalia do poder, num estilo de vida tão confortável, numa mansão tão confortável e luxuosa como a Casa Branca, limpa, com deliciosas refeições servidas ao presidente e sua família, numa bela banheira Jacuzzi no banheiro, nas regalias do poder, sendo duro para um homem terminar o mandato e retirar-se da célebre mansão americana, como FHC dizendo sentir falta da majestosa piscina na residência presidencial em Brasília, na sedução do Anel do Poder, subestimando o poder da humildade – a arrogância precede a queda. O gabinete é organizado, como uma mente organizada, numa pessoa que adquiriu um norte para sua vida, ao contrário de uma pessoa desnorteada em um submundo, perdida dentro de um labirinto traiçoeiro e cheio de pistas falsas, até a pessoa se dar conta que está andando em círculos, perdida, sem noção, numa pessoa solitária e perdida, construindo uma enorme carência afetiva – é triste. A barba feita e o bigode alinhado são a polidez, o garbo, e a elegância, como num bom galã da Era de Ouro de Hollywood, em charmes como Clark Gable, gerando a maravilhosa sátira do grande mestre Chico Anysio, o ator Alberto Roberto, cheio de estrelismos, esnobando suas coatrizes, com AR dizendo: “Eu não ga-ra-vo”. A decoração é como no suntuoso Palácio Piratini, sede do governo estadual gaúcho, com pinturas do célebre mestre Aldo Locatelli, numa identidade gaúcha.

 


Acima, Sra. Eben Richards. Provavelmente aqui temos uma noiva, arrumada para tal momento de glamour e glória na igreja, fazendo da noiva a estrela da cerimônia, na noção machista de que o casamento é o passo mais importante na vida de uma mulher, no termo “bela, recatada e do lar”, como uma mulher que conheço, a qual abandonou a carreira docente e abandonou um bom emprego de bancária para se tornar puramente mãe, esposa e dona de casa, no modo como ser apenas uma dona de casa não vai dizer a tal mulher quem esta é, no processo de identidade da pessoa, como a personagem Mulan de Disney, encarando a guerra e partindo em busca de tal identidade. O buquê de flores é a beleza da Vida, na beleza de explosão de Vida primaveril, na elegância de uma noiva com um buquê de copos de leite, no machismo da cor branca, exigindo que a moça case virgem, pura e casta, ao contrário do marido, como no famoso casal Perón e Evita – ele dava umas “puladas de cerca”; já, ela, nunca. O vestido é majestoso, digno de um casamento de realeza, na intenção burguesa de se parecer com a aristocracia, em vestidos tão suntuosos como os de noivas em casamento de realeza inglesa, no modo como tais rituais seduzem o Mundo, como num certo casamento inglês nos anos 1980, com o noivo e a noiva saindo de linda carruagem da igreja, já enlaçados, com o casal jogando quilos e quilos de pétalas de flores brancas pela extensão do cortejo pelas ruas de Londres, convidando todo o povo a fazer parte de tal glamour estonteante, fazendo do Ser Humano um ser ritualístico, na dura noção religiosa: “O que Deus une o homem não desune”, como na ruptura entre católicos e protestantes, numa Europa tensa, muito longe da paz medieval na qual o Vaticano era tudo, com os sinais dos tempos chegando, em passos de renovação como as Navegações e a Renascença, no momento em que o tradicional terraplanismo perdia força, no advento de passos decisivos como a Revolução Científica, no momento em que as superstições dão lugar ao raciocínio lógico, imaginando o porquê da Peste Negra ter atingido em cheio a Europa, como nas condições insalubres no Antigo Egito, com mortalidade infantil alta e expectativa de vida baixa, nas palavras positivistas na bandeira nacional brasileira: Ordem e Progresso, no desenvolvimento do pensamento racional, livre como uma águia nos céus, acima de bobagens e crendices sem fundamento científico. A moça é pálida como o vestido, pura, como a donzela élfica Arwen de Tolkien, entregue pura e casta ao marido, passiva, gentil, triste, reservada, modesta. O vestido é o fascínio da Moda sobre as mulheres, em ocasiões especiais como eventos de gala, num tapete vermelho para ver qual mulher tem o vestido mais majestoso e estonteante, como no evento novaiorquino Met Gala, numa certa esnobice, sinto em dizer, com os ricos, com dinheiro para comprar o ingresso, exibindo suas roupas suntuosas, querendo humilhar os pobres. A noiva aqui não é uma Maria qualquer, mas uma moça de família abastada e poderosa, gozando de regalias de poder socioeconômico, estudando em boas instituições caras de ensino, gozando de privilégios, como uma viagem maravilhosa à Disney, uma mulher que não se vende por “um e noventa e nove”, no filme Harry e Sally, no qual há a noção de que há dois tipos de mulheres – alto custo e baixo custo –, com Harry dizendo a Sally: “Você é o pior tipo: alto custo disfarçada de baixo custo!”. O luxo do vestido traz tal farfalhar, num cômodo luxuoso, como no sutil farfalhar de veludo negro de Kim Basinger no filme que lhe um Oscar, numa estatueta tão cobiçada, com zilhões de atores os quais jamais serão sequer indicados ao prêmio, num senhor que conheci, o qual se desiludiu com a carreira de ator e tornou-se advogado – cada um tem o direito de sonhar com uma vida melhor. A moça aqui está paciente, esperando pelo momento, tendo uma paciência para encontrar o pretendente ideal, exigindo um homem sério, centrado, uma rocha firme que dê à mulher a sensação de segurança e estabilidade, que é o Yang.

 


Acima, Sra. Potter Palmer. Zorn gosta de tais vestidões suntuosos, em mulheres elegantes, ricas, nos esforços de uma Patrícia Abravanel em encantar o brasileiro pobre, numa Patrícia obcecada em ter aparência de rica, numa Evita Perón caprichando no visual elegante, querendo deslumbrar o humilde proletariado com glamour e vestidos de maisons parisienses. Aqui a burguesa usa uma tiara digna de rainha, na sedução de tal adorno, como na personagem Amy em The Big Bang Theory, absolutamente deslumbrada por ganhar do namorado uma tiara digna de princesa, num adorno que toca na autoestima da mulher, fazendo esta se sentir tal princesa, como um pai carinhoso, que trata a própria filha como uma princesa, nos versos de uma célebre canção: “Meu coração pertence a papai, pois ele ma trata tão bem”. O vestido aqui é, definitivamente, extravagante, arrastado pelo chão de garbosos salões de festa, pelos salões arrastando o seu vestido rendado, nos versos de Aquarela do Brasil. A escuridão ao fundo serve para fazer um contraste com o vestido alvo, no jogo barroco entre claro e escuro, como nas divindades da Primavera de Botticelli, figuras humanas claras respaldadas por um fundo escuro, num artista que sabe que quando digo que algo é liso, é porque conheço o oposto, que é áspero, como na mulher baixinha que faz destacar o marido alto, ou como o coadjuvante faz realçar o protagonista. Aqui temos um belo salão de baile, pronto para servir tal evento pomposo de ricos e poderosos, num salão limpo, pronto para receber os garbosos convidados, em eventos solenes, ao contrário de uma certa atriz americana, a qual definitivamente não se arruma para um evento solene, o que é grave, pois o se arrumar é um ato de autoestima, como uma mulher indo semanalmente à manicure para renovar o visual das unhas, num ato que não é apenas feminilidade, mas autoestima, como o rapaz fazendo a barba para uma festa, num momento em que a pessoa busca ter a melhor aparência, girando em torno da plenitude do Plano Metafísico, o lugar limpo onde não há uma só fagulha de poeira ou pó, o plano que nos proporciona empregos maravilhosos, que exigem de nossas mentes, na noção de que não pode faltar trabalho, estando eu encarnado ou não – a seriedade da Vida continua, meu irmão. A Sra. Potter Palmer segura um leque emplumado, como se fosse um cetro, numa posição de poder, no conselho taoista: Nunca fique exibindo sua riqueza como um pavão! É o valor da discrição. As furiosas pinceladas impressionistas de Zorn retratam tal suntuosidade, no modo como, numa festa, neste mundo competitivo em que vivemos, as mulheres competem para ver qual é a mais maravilhosa, nessa guerra no tapete vermelho, com comentaristas de Moda julgando os trajes, elegendo as melhores e as piores, no modo como ninguém está por cima o tempo todo, num ator que pode ter tanto um Oscar quanto uma Framboesa de Ouro, como Halle Berry, nas gangorras hollywoodianas de sucesso e insucesso, numa terra sedutora que destrói tantos e tantos sonhos todos os dias, em pessoas fortes como Gisele, vendendo tais cruéis vicissitudes, em casos raros de sucesso, pois o Mundo não é dos fortes? A mulher aqui é digna de uma recepção de realeza, como a personagem de Sharon em Cassino, circulando elegantemente entre os convidados, dando as boas vindas a todos, no fascínio de uma mulher que, além de usar um vestido elegante, tem uma atitude e um comportamento elegantes, pois quando a pintura é ruim, não há moldura que a salve, como um álbum ruim, cuja capa não o salva do fracasso, ou como um filme que parte de um roteiro ruim, impossível de consertar tal filme com trilha sonora, elenco etc. Atrás da dama de branco vemos uma pintura, talvez cara, de um artista famoso, numa casta social que tem o poder para adquirir tais peças, num artista feliz, reconhecido ainda em vida, como nas inúmeras encomendas feitas a Andy Warhol – é um privilégio, com tantos artistas reconhecidos só depois da morte. A mulher sorri suavemente, gentilmente, sabendo que uma mulher sorridente enche um salão de graça.

 

Referências bibliográficas:

 

Anders Zorn. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 8 nov. 2023.

Anders Zorn. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 8 nov. 2023.

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