quarta-feira, 29 de abril de 2020

Calejado pela Arte (Parte 2)



Volto a falar sobre o artista plástico paulista Guilherme Callegari. O seu site, repito, é rico, com imagens em excelente resolução. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Eye. Temos aqui um clichê, uma repetição, um carimbo, como num passaporte rodado, cheio de registros de viagens, num espírito que já passou por várias experiências, várias encarnações, várias etapas e várias vicissitudes. É como no divertido termo “penteadeira de puta”, com o perdão do termo, para classificar a Linha do Tempo no Facebook, como num artista, com décadas de carreira, assumindo vários papéis, vários alteregos, numa estrada, numa trajetória, como numa mala, com vários carimbos, adesivos, selos, narrando por onde o viajante já passou, no modo como, ao Desencarne, a pessoa se depara com um “filme” de sua própria vida, mostrando as partes mais importantes, nas quais a pessoa mais aprendeu, no modo como um artista tem que ter muita, muita força para virar as páginas e continuar tocando a Vida, a lida, luta, pois quem “se atira nas cordas”, desaparece... Aqui, temos uma folha de papel cheia de quadriculações e linhas de referência, na forma racional do Design, impondo Ordem e Harmonia a uma obra, manifestando uma prova do intelecto humano, fazendo do Pensamento o centro de tudo, rechaçando os tolos sinais auspiciosos do Mundo Material. Em inglês, eye quer dizer olho, e aqui temos dois olhos, como os olhos do antigo egípcio, na maquiagem que traçava uma linha explícita ao lado de cada olho, dando ao olho um aspecto de peixe, na liberdade da expressão artística, num artista que tem que ser livre imaginar suas coisas, na miséria que é a vida de um artista a serviço de um estado totalitário e opressor. Aqui, o termo eye tem um aspecto de arroba, no modo como minha geração ainda testemunhou a transição do Analógico para o Digital, ao contrário da geração de meu sobrinho, que nasceu em 2003, numa geração totalmente digital, para a qual nada significa um telefone de gancho, com o disco para discar, no modo como as tecnologias vêm para libertar e simplificar, fazendo da Preguiça, um pecado capital, a Mãe de todas as grandes invenções da Humanidade, como o Elevador, na preguiça de tomar as escadas; como a Roda, na preguiça de carregar algo; como o Telefone, na preguiça de sair de minha casa para falar com outra pessoa etc. Aqui, temos uma mão vigorosa, e essas arrobas se destacam, predominando no quadro, como num filme, com atores protagonistas e atores coadjuvantes, na hierarquia do Showbusiness, onde há atores estelares e atores sodidos, no modo como corre solta uma indigesta bajulação em tal meio, pois o Ser Humano, infelizmente, coloca o Ego no centro de tudo, aceitando bajulações, num Mundo meio nojento, o qual jamais mudará... Aqui, a raiz de tal contraste cromático nasce do preto das arrobas com o amarelado no fundo, como em linhas sinalizadoras dentro de garagens, com a função de alertar e chamar a atenção, fazendo do Carinho, da Cautela, uma virtude que sempre precisa ser praticada, pois a falta de Amor traz só degradação e destruição, como num cenário de Guerra, com irmão derramando o sangue de irmão, na ancestral e imutável crueldade humana, num Mundo com meios sórdidos para a obtenção de poder, sempre poder, como num poderoso e infeliz homem, apegado ao mundano ao ponto de querer se suicidar para não ser destituído de tal poder, numa ilusão, pois, no Umbral, o Vale dos Suicidas segue cheio de espírito infelizes, arrastando-se por escuras poças de lama, na metáfora de Matrix: “O que um homem poderoso quer? Mais poder”. Então, essa sede anestesia a pessoa das coisas que importam mais, como viver a Vida com simplicidade. Aqui, temos uma sinalização, um aviso, como num anúncio publicitário bem produzido, bem conduzido, cumprindo a intenção de interpelar o consumidor, como os nerds de The Big Bang Theory, os quais, apesar de inteligentíssimos, são vítimas dos marqueteiros de produtos com temáticas de super heróis, como uma jarra de biscoitos do Batman ou uma espada que imita o sabre de luz de Star Wars.


Acima, Hoosier. Aqui, temos uma predominância do dourado, como num belo amanhecer, quando parece que o Mundo é feito de ouro, como nos tesouros da tumba do rei Tut, numa majestosa máscara mortuária de ouro, no modo como as tradições dão a impressão de que o Tempo não passa, na tentativa humana de apreender e imitar a imutabilidade da Dimensão Metafísica, o plano onde o Tempo não existe, como na cerimônia de coroação de Elizabeth II, dando-nos a impressão de que estamos, de fato, em tal plano atemporal, conquistando a confiança de um povo, o qual se sente bem sendo governado por tal cetro atemporal, no inevitável modo como tudo na Terra gira em torno da dimensão acima, numa hierarquia interdimensional. Aqui, temos uma sobreposição de logomarcas que remetem a marcas de carro ou a postos de gasolina, algo recorrente na obra de Callegari, talvez num artista aficionado pelo Mundo Automobilístico, na trágica morte de Senna, o brasileiro que trazia para o Brasil este gostinho dourado metafísico, numa vitória fazendo metáfora com a Vitória Metafísica, quando a espírito desencarnado goza de plena liberdade dourada. Callegari gosta de usar letras e números, num jogo vibrante e complexo, quase confuso, e rico, com vários carimbos sobrepostos, como numa harmonia rítmica complexa, africana, aquosa e, ainda assim, de frieza matemática, revelando a majestade do Pensamento Racional, na exatidão rítmica, com repetições que se estendem com perfeição. Aqui, escudos podem ser vistos, e os escudos são a defesa, o impenetrável, num guerreiro todo blindado no campo de batalha, rechaçando as flechas inimigas, como numa vacina que dá imunidade, ou como num site seguro, livre de vírus ardilosos. É a armadura de uma pessoa que sabe da importância de dizer NÃO, numa pessoa que decidiu assumir as rédeas de sua própria vida, não mais se sujeitando a andar de “cadeira de rodas”, como num homem que está farto de ser menino, no modo como os filhos não são criados para os respectivos pais; são criados para o Mundo. Aqui, vemos a conchinha da logomarca da Shell, fazendo alusão aos recursos fósseis, como na riqueza do petróleo brasileiro, no modo como os barões do petróleo estão temerosos com a quarentena do Coronavírus, com cada vez menos carros transitando pelas ruas, pois “castelos” podem ruir, como numa poderosa agência publicitária portoalegrense, uma instituição que entrou em colapso, ou como o ator americano Charlie Sheen, o qual, antes o ator mais bem pago da TV americana, perdeu tudo, e hoje está no fundo do poço, num momento em que a pessoa tem que empreender um esforço ENORME para se reerguer. Aqui, Callegari se diverte com todos esses carimbos, esses clichês, num artista que encontrou prazer no que faz, trazendo-nos uma produtividade notável, num site tão vibrante. Esta concha da Shell é a concha da Vênus de Botticelli, saindo das entranhas misteriosas dos oceanos, trazendo o cheiro de peixe fresquinho, como num bom restaurante de sushi, ao contrário de certos estabelecimentos, que me serviram peixe não tão fresquinho, o que me deu cólica... É como a bela atriz Uma Thurman, interpretando tal Vênus em um filme, numa deusa séria, triste e maravilhosa, na magia das estrelas matutina e vespertina, estimulando a imaginação humana, numa Humanidade que, desde cedo, viu-se obrigada a explicar o Mundo ao seu redor, seja por Mito, seja por Ciência. Aqui, é como um mural de recados que já foi usado por muita gente, numa mensagem complexa, talvez numa competitividade, numa pessoa querendo ser mais marcante do que a outra, na inevitável competitividade, que já começa cedo, na escola. Aqui, temos um quadro quente, como na etérea luz solar da Argentina, um país que tem tal charme cromático, seduzindo o Mundo com o charme de Evita, a pessoa argentina mais famosa da História, superando até o próprio marido, em um mundo patriarcal, onde elas estão sempre abaixo deles. Aqui, são como anúncios publicitários concorrendo entre si, como numa Times Square, nos apelos que buscam distinção e diferenciação, no termo formidável “por um lugar ao Sol”.


Acima, IMG-7492. Temos aqui um pouco de Basquiat, com traços cândidos de Infância, numa simplicidade, num aconchego rústico, no modo como não devemos querer obter perfeição – as perfeições são ilusões. Vemos aqui três formas negras que parecem ser olhos fechados, numa criatura mística, com três olhos, um acima do outro. É um sono, um repouso, num momento que entorpece, que droga, talvez numa pessoa anestesiada, que se cerca de puxassacos, pois estes anestesiam as percepções da pessoa bajulada. Aqui, é como uma zebra mística, com seu pelo que tem a função de camuflar, preservando-se dos predadores, na irrefutável teoria da Seleção Natural – os mais espertos e mais discretos salvam-se; preservam-se. É um grande desafio – ser famoso e, ainda assim, retirado, como na atitude de vida de uma Meryl Streep, uma pessoa que, apesar da glória profissional e da fama, leva uma vida simples, pois a Vida só é boa quando é simples, como um amigo que tenho, que fica alguns dias da semana retirado em seu sítio, no prazer de estar em casa, num lugar onde as pretensões do Mundo ficam lá, longe, do lado de fora. Callegari gosta de usar numerais e letras em seus trabalhos, numa transmissão de informações, como no confuso mundo do filme Blade Runner, com uma proposta sobrecarregada de anúncios publicitários, numa concorrência atroz, no modo como foi feita, há tempos, uma limpeza visual na Avenida Paulista, proibindo anúncios de qualquer natureza, cortando um pouco aquele tesão das grandes campanhas, de suntuosos anúncios que desafiam o espectador, interpelando o consumidor da forma mais grandiosa possível. Hoje, tal avenida é impessoal, árida, sem aquela grandiosidade que esperamos na maior cidade da América Latina – como é bom passear por Sampa! Aqui, o fundo é branco, vago, vazio, no modo como Streep – ó ela de novo! – disse que ser um bom ator é ser uma página em branco, na qual o personagem deve escrever, na tarefa do ator, que é desaparecer perante o personagem, fazendo com que esqueçamos que é um ator que está li na tela ou no palco. Por todo o quadro, vemos vários círculos negros vazios, como numa massa de pastel arregaçada na mesa, cortada por um mesmo prato ou copo, fazendo as massas individuais de pastel, na delícia que são programas televisivos de culinária, num trabalho interessante, podendo ser desempenhado até por pessoas esnobes como a personagem Dona Florinda, a personagem mexicana que odeia pobres. Aqui, é como uma tela de TV, e os anúncios vão passando, concorrendo para permanecer na lembrança do consumidor, no termo recall, ou seja, lembrança, no modo como as poderosas campanhas publicitárias são raras, campanhas que causam comoções federais, como na associação de Guaraná Antártica com pipoca salgada, fazendo com que as mensagens mais simples sejam as mais poderosas, no desafio de se diferenciar simplicidade de pobreza, numa linha tênue, a qual é frequentemente perdida, como num jornal, um espaço visualmente saturado – onde não é texto, há imagens –, pois quanto mais limpo é o anúncio, melhor. E então vem a questão da limpeza, do banho bem tomado, de dentes bem escovados, de Saúde, no modo como a Dimensão Metafísica é mais do que limpa – é higiênica. E aí vem a questão de Tao, o limpo, como numa mulher limpa e perfumada, ou como num homem sem frescuras, sem afetações, simples. Os círculos são como bolhas de espumante, na gloriosa sensação cremosa que o espumante causa na boca do consumidor, preparando o estômago para a refeição. Callegari gosta de carregar com rabiscos, com ensaios, numa criança na Escola, que está aprendendo as lições básicas de Vida, na magia do primeiro dia de aula do ano letivo, no reencontro com os amigos e no desafio de novas lições a ser aprendidas, no modo como a pessoa encarnada tem que encontrar esse tesão, essa vontade de viver. Aqui é uma festa, na questão da diversidade, a qual deve ser respeitada, pois Tao nunca faz dois filhos iguais, dotando-nos de singularidade.


Acima, IMG-7820. Callegari tem uma paixão por logomarcas, e vemos novamente aqui a Shell e a Volkswagen, no poder e no dinheiro do Oriente Médio, no teor econômico e petroleiro que foi a Guerra do Golfo, nuns EUA xerifões, que se sentem responsáveis pela Paz no Mundo, no auge de grandes impérios, como no Egito, que no passado foi uma potência e hoje é apenas um sítio arqueológico, pois o Tempo passa, as pessoas morrem e as culturas se perdem. Parece eu temos aqui uma prancha de desenho, de exercício gráfico, num desenhista fazendo vários ensaios, tentativas e brincadeiras, almejando a excelência, o aprimoramento, no sentido de que o Sentido da Vida é o aprimoramento moral, numa pessoa que reconhece que, em encarnações anteriores, perdeu tempo enganando e passando os outros para trás, na eterna nova chance, no novo recomeço que é uma nova reencarnação, na questão do eterno perdão, num Pai absolutamente paciente, que sabe que novas oportunidades devem ser dadas. Callegari usa letterings simples, sem serifa, ou seja, usa a fonte Arial, que é simples e elegante, num artista sem afetações pernósticas, querendo se expressar da forma mais clara e simples possível, pois Simplicidade quer dizer Limpeza, e não é o Umbral um lugar feio, escuro, fedorento e imundo? É como uma pessoa jogada numa poça de lama, aguardando que um anjo venha e a salve, num momento em que o espírito, no Umbral, tem que reconhecer amplamente que precisa de uma ajuda, pois todos precisamos de ajuda na Vida, como as pessoas, os queridos amigos de Facebook que permitem que eu divulgue meu blog em seus murais na rede social – o que seria de mim sem tais ajudas? É como um colunista jornalístico, que recentemente me ajudou, divulgando meu trabalho. Aqui, temos bastante movimento, como uma escola de Samba passando vibrantemente por uma avenida, no modo como o Carnaval Brasileiro é o maior espetáculo da Terra. Vemos aqui letras maciças e letras vazadas, no sensual jogo entre vazio e preenchimento, nos movimentos cósmicos que unem os opostos, como rei e rainha, em torno do mesmo propósito, que é a Vida, a Evolução, o Aprimoramento, pois qual seria o sentido da Vida se não o Crescimento? De que serviria uma vida inútil, sem lições? Que professor seria esse, que não exige dos aluninhos? Em um primeiro plano aqui, vemos letras grandes em tons de rosa, como na cor do universo perfeito de Barbie, a boneca mais famosa do Mundo. É um universo perfeito, perfumado, numa trégua, numa Paz, numa pessoa que pode se deitar e dormir profundamente, no prazer de se despir e deitar-se em meio a lençóis suavemente perfumados, na sensação de lar, de segurança, de útero, de invólucro, sentindo-se seguro, como em um condomínio de alta segurança, muito, muito longe de criminosos ou de pessoas malintencionadas. Aqui, a concha está de cabeça para baixo, no ato engraçado que é observar um céu estrelado, só que de cabeça para baixo, na imensidão cósmica na qual não sabemos o que é acima, o que é abaixo; o que é norte, ou que é sul; o que é ontem, o que é hoje. É um útero infinito, pois, se é finito, não é Tao, o nobre presente de aniversário; um presente que dura para sempre, como o dom da Melodia, por exemplo. De dentro de tal concha, vem a pérola barroca, imperfeita, rústica, acolhedora, no empenho que um psicopata tem em ter uma aparência acima de qualquer suspeita; um psicopata que quer que acreditemos que este é perfeito, numa cilada, tal qual teia de aranha capturando moscas desavisadas. O fundo dourado, aqui, sofre então várias interferências, mas segue predominante, num quadro que, apesar de tantos elementos complexos e confusos, segue firme no sustento de tal obra, como num incansável Atlas, sustentando o Mundo, ou num pai herói, que sempre proporcionou tudo de bom e de melhor para os próprios filhos. Aqui, é como um átomo sendo cortado e analisado, numa explosão de frenesi científico, nas grandes mentes empenhadas em desvendar o Universo. Aqui, são como várias camadas, como nas páginas plásticas da famosa Enciclopédia Barsa, com folhas delgadas mostrando cada camada do Corpo Humano.


Acima, IMG-9907. Temos aqui uma camiseta dependurada, como num varal, mas com manchas, talvez num sabão que frustrou a promessa de remover tais máculas, no modo como as experiências de Vida vão se acumulando, até chegar a um ponto em que a pessoa fica mortificada, desprovida de ilusões e idealizações, no caminho do Pensamento Racional, numa pessoa que tem que parar de “acreditar em Papai Noel”, deixando de perseguir totalmente sinais auspiciosos, como áreas vips de boates. Esta camiseta conta uma história, uma proveniência, como num vinho que vem do Vale dos Vinhedos, por exemplo. Aqui, é como a roupa de um soldado abatido no campo de batalha, na insanidade bélica de príncipe matar príncipe. Aqui, temos um campo de batalha, e os escudos automobilísticos se enfileiram como escudos na batalha, vedando, bloqueando a passagem do time opositor. É como os soldados bradando, batendo as espadas contra os escudos, numa forma de amedrontar o campo inimigo, como num certo estádio, cujo vestiário para times visitantes era pintado de cor de rosa, a cor da Feminilidade, com o intuito que fazer com que os opositores se sentissem acuados pela virilidade do oponente, mas é uma moeda de duas faces, pois tudo tem duas leituras, sendo uma a contradição da outra: na contramão, o tal vestiário pode ser interpretado como a feminilidade do time anfitrião, ou seja, num tiro que sai pela culatra... Aqui, são como vários guardachuvas amontoados em uma São Paulo de garoa, numa certa característica, numa identidade local para o Mundo, como nos tradicionais anúncios da vodca Absolut, sendo que, em um destes, São Paulo era mostrada como tal terra de umidade. Por todo o quadro há respingos, como numa tábua de testes de algum atelier, em experimentações, exercícios, num artista examinando possibilidades, como na força de vontade do próprio Callegari, o qual se empenhou em fazer um site exemplar, dando-se ao trabalho de fotografar inúmeras obras, no termo “batalhar”, numa pessoa que tem que se dar conta de que não existe autossuficiência, e de que todo mundo precisa de uma ajudinha, quebrando o mito egoísta do “eu sou o máximo, logo, de ninguém preciso”. Aqui, são como escamas de peixe, de réptil, numa armadura, numa blindagem, como no busto blindado de Mulher Maravilha, combinando beleza feminina com dureza áspera masculina, como na flor metálica em Buenos Aires, homenageando os mortos no conflito das Malvinas, talvez numa menção à Dama de Ferro, Thatcher, combinando um visual chique e feminino com um punho de ferro patriarcal, no modo como cada um de nós tem, dentro de si, um lado masculino e outro feminino, e cada um tem que partir em busca, dentro de si, de tal equilíbrio, sem projetar em outrem o seu Yin ou o seu Yang. Esta camiseta maculada é como um pano usado para secar pincéis no atelier, e aqui temos uma ironia de metalinguagem – atelier falando de atelier, ou seja, numa metáfora, como no termo “A Aurora do Homem” em 2001, num plano fazendo metáfora com a aurora de um dia pré histórico. As obras de Callegari têm esses rabiscos, essas imperfeições, talvez numa pessoa sábia, que sabe que, no Plano Físico, as perfeições são impossíveis e inacessíveis, fazendo do Plano Metafísico o lar imaculado onde a Saúde reina plena, num plano em que os que amam trabalhar e estudar se sentem num paraíso total e absoluto. Estes múltiplos escudos não são todos iguais, e cada um tem uma identidade cromática, como filhos que vieram da mesma barriga e que foram criados debaixo do mesmo teto, sob os mesmos valores – cada um sai a seu modo em particular. Aqui, os sisudos escudos bélicos têm uma alegria carnavalesca, num salão colorido, com finos cristais emanando o seu fascínio multicolorido, como límpidas estrelas no Céu noturno, no modo humano de construir panteões, fazendo metáfora com os espíritos evoluídos, que habitam uma esfera superior, para o qual todos voltamos, cedo ou tarde, ou seja, uma vez cumprida a missão, hora de voltar para casa.


Acima, Por Junto Aproximar-se. Aqui, temos algo mondriânico, com blocos assimétricos, desafiando os padrões clássicos de Simetria. Temos uma espécie de desordem organizada. Os quadros foram aqui reunidos, associados, na básica tarefa do artista plástico em geral, que é combinar elementos dissociados e, associando-os, criar coisas novas. Aqui, é algo lúdico, com movimentos, parecendo que os quadros estão constantemente se reorganizando, como placas tectônicas, acomodando-se sempre, trazendo todos os transtornos do Plano Material, num Ser Humano sempre subjugado aos caprichos da Natureza, na promessa de que, na Dimensão Metafísica, tais vicissitudes se perdem por completo, num plano em que a Ordem reina absoluta. Aqui, é um jogo irônico, como numa pessoa que, querendo alcançar a perfeição, está o tempo todo reajustando tais placas, e sempre há um defeitinho aqui ou ali, como na Vida, quando, ao finalizarmos uma tarefa organizacional, uma nova desordem se desdobra ante nossos olhos, no grande piadista que é Tao, como num arquiteto fazendo uma diagramação de espaço – sempre haverá um defeitinho, como uma manchinha preta sobre um majestoso Sol, ou seja, quando alguma dor acaba em meu corpo, outra dor aparece, na constante tarefa de se organizar um lar, pois sempre há algo a ser feito, como numa pessoa que, diariamente, cuida de alguma coisinha diariamente, dentro de casa. Aqui, é como se as placas estivessem querendo se libertar, cada uma migrando para um lado diferente, como numa família, na qual, depois de tirada a fotinho, cada um vai par ao seu lado, só havendo uma harmonia de família, de fato, no Metafísico, pois os vínculos de família são importantes ao ponto de serem mais fortes do que o Desencarne, a inevitável morte do Corpo Físico. Neste jogo de quadrados e retângulos, temos algumas linhas diagonais, como ouvi certa vez: a Cultura de Massa vai pela horizontal; a Erudita vai pela vertical; a Popular vai pela diagonal, como na paixão de Ariano Suassuna pela Cultura Popular Brasileira, num plano em que tal cultura vem do Povo e a este pertence, no modo como os caxienses são os verdadeiros donos da Festa da Uva, nunca sendo esta pertencente a alguma agência publicitária... Aqui, temos pitadas de verde água, no fascínio que as entranhas oceânicas exercem, como nos mitos de séculos atrás, quando acreditávamos que a Terra era plana e que, nas bordas de fim de Mundo, havia monstros que devoravam embarcações, no modo como a Ciência veio para rechaçar tais mitos, mas numa Ciência que ainda não conseguiu apreender a Fé em uma dimensão melhor do que a dimensão da Terra. Vemos aqui uns toques de rosa pink, num perfume de frutas vermelhas, no fascínio que as fragrâncias exercem sobre as pessoas, como num colega que tive no colégio, um colega que há anos se suicidou – não sei se ele ainda está no Umbral, no Vale dos Suicidas, mas ele compartilha comigo o gosto por perfumes, pois este colega adorava chegar perfumadíssimo nos lugares, fazendo metáfora com o perfume comportamental dos espíritos moralmente evoluídos, sendo que os perfumes têm a ver com a essência limpa de Tao, o essencial. Temos aqui também alguns traços negros, como carvão em churrasqueiras, na magia de domingos com o meu pai assando churrasco, na memória que tenho de minha mãe adorar a carne com cebola, assando o vegetal junto com a carne na brasa. O preto aqui são as sujeirinhas inevitáveis, no prazer de se tomar um banho depois de um dia de transpiração, nos irresistíveis rituais de purificação e renovação em torno de água saindo pelos buraquinhos de um chuveiro. Em dos cantos desta obra de Callegari, vemos bolinhas azuis amontoadas, como bolinhas de uvas, só que dissociadas do cacho e organizadas, no modo humano de impor Ordem ao Caos, como numa dona de casa zelosa, deixando a casa na mais completa ordem, zelando por uma família, no fato de que ser apenas uma dona de casa não vai te dizer quem tu és... Ou seja, seja mais do que só o cuidador de um lar. Livre-se as amarras e ouse colocar ao Mundo tua própria inteligência, sempre sabendo que ninguém faz tudinho sozinho.

Referências bibliográficas:

Guilherme Callegari. Disponível em: <www.guilhermecallegari.com>. Acesso em: 15 abr. 2020.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Calejado pela Arte



Excepcionalmente, esta postagem está sendo publicada numa terça-feira. Semana que vem, volta tudo ao normal, assim como vai voltando ao normal nossa vida pós Covid-19.

Natural de Santo André, SP, Guilherme Callegari nasceu em 1986 – é bem jovem. Graduou-se em Design Gráfico em 2011, tendo sido muito premiado, integrando coleções de São Paulo, Rio de Janeiro, Peru e Holanda; integrando também acervos do MAR, o Museu de Arte do Rio, entre outras instituições. O site de GC é fartíssimo. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, IMG-7874. Aqui, temos pinceladas vigorosas, vibrantes, impetuosas, numa alma querendo se aventurar, inovar, transgredir, respirar, na missão da Arte, que é libertar. O autor lançou mão de muitas cores, como num prisma, mas a predominância é de uma certa escuridão, como dormir em um quarto em penumbra, desligando-se do Mundo lá fora, curtindo prazeres de se ficar em casa, como fazer um chá ou um chimarrão. Estas pinceladas foram e voltaram, talvez encarando uma rua sem saída, numa pessoa que se viu forçada a retroceder, a voltar atrás, como a Rainha da Inglaterra, que teve que revisar seus conceitos, deixando de subestimar a morte de uma das maiores mulheres da História do Reino Unido. Estas cores, esta informalidade, este ímpeto, são muito joviais, num espírito que não quer ficar empedernido demais, rechaçando tal ranço, abraçando renovação, no modo como há pessoas mais velhas que são mais joviais do que muitos jovens, sendo importante que a pessoa não fique embrutecida pelas vicissitudes da Vida. Esta riqueza cromática remete às lojas jovens dos anos 80 ou 90, numa decoração colorida, com muita atitude e informalidade, a fim de conquistar a simpatia do adolescente ou pré adolescente, como na cena final de Mudança de Hábito 2, com jovens vestindo roupas coloridas, relendo a mesma canção cantada anteriormente no filme. Aqui, a tinta parece fresca, assim como deve ser o frescor da alma da pessoa, sempre aberta a novos conceitos, nunca buscando verdades pretensiosas ou absolutas, pois tudo é processo, e a busca pela Verdade passa por constante renovação, num caminho sem fim, pois assim é a Eternidade, o maior presente que Tao tem para dar aos próprios filhos, pois não é pornograficamente forte e poderosa a ideia de que jamais, jamais findaremos? É muito poder, e passaremos a eternidade tentando definir Tao, o indefinível, e, nessa indefinição, pode haver Vida, e eterna, sendo difícil – quiçá impossível – para o humilde Ser Humano apreender, compreender o Infinito. Aqui, os fios delgados de cores buscam subverter tal sisudez, tal formalidade, tal circunspecto luto, trazendo um pouco de açúcar a um chá tão amargo, a um café tão forte, tão desprovido de ternura doce, pois pobre do coração que fica empedernido. Aqui, parecem torres gêmeas, remetendo ao maior atentado terrorista da História da Humanidade. As torres saíram do mesmo útero, e não podem brigar, pois são iguais, são irmãs, como dois espíritos que, inimigos em outra vida, reencarnaram irmãos, para que, dessa forma, entendam que são filhos, príncipes do mesmo Rei. E este é o problema da Humanidade – não conseguir ver que somos irmãos, pois, na Terra, há a dúvida cinzenta: Será que sou especial? Será que não sou? Havendo, na Dimensão Metafísica o fim de tal dúvida, como um céu azul abrindo depois de décadas de céus cinzentos e dúbios, havendo no Umbral a escuridão total, num lugar horrível onde a pessoa, definitivamente, não cogita a hipótese de ser especial e de ser filha de Tao, a razão de tudo. Aqui, a luz está sendo decomposta, abrindo um leque cromático, como na incrível diversidade de uma paleta de cores, abrindo um leque farto de opções, como numa universidade, com cursos que se encaixam em qualquer espírito, na liberdade que o espírito tem para traçar seu caminho existencial de crescimento e depuração, pois esta é a razão da Vida: crescer. Aqui, delgados raios dourados tentam se impor ao conjunto, como frestas em uma janela fechada, anunciando os primeiros raios de Aurora, a grande deusa dourada que traz Beleza e Paz ao Cosmos, como duas nações aliadas, que juntam forças para vencer as dificuldades. Essas duas “torres” estão coladas, como siameses, na incrível vicissitude que é encarnar como um gêmeo siamês, numa Vida que cura muitos, muitos males do indivíduo encarnado. É preciso ter coragem!


Acima, Maybach. Podemos sentir aquele cheiro de posto de gasolina, com o cheiro do combustível entrando no veículo, no modo como a Humanidade é ainda tão escrava de tal fonte de energia, havendo a utopia ecológica dos combustíveis ditos limpos. Aqui, é como uma folha de exercício, num designer rabiscando logomarcas, marcas, nomes, num Callegari namorando um pouco com a Pop Art. Vemos em repetição a marca Pirelli de pneus, no barulho de bruscas freadas, nos pneus acumulando água da chuva, nas tentativas incansáveis das autoridades em alertar para a Dengue. Aqui, é uma folha de exercício, e nada aqui é definitivo, como num estudante que fez seus erros e precisa passar a borracha em tudo, no modo como a pessoa aprendeu a lição ao ter o desejo de voltar para o passado e “passar a borracha” em tudo pelo que passou até então. Aqui, temos frias e técnicas quadriculações, exigindo Disciplina, como em O Tigre e o Dragão, numa vilã cujos movimentos permaneceram toscos e indisciplinados, como num Moacir Scliar, que disse ser necessária, a qualquer escritor, a disciplina para sentar e produzir, na lição da supremacia do Pensamento Racional, o pensamento que abrevia dores e traz esclarecedora desilusão, como Alanis Morrisette em uma canção famosa: “Obrigado, desilusão!”. É o poder terapêutico das crises, num ponto amargo, porém saudável, de renovação na vida da pessoa perdida. Aqui, vemos Callegari fazendo uso de fotos de carros, de carros ultrapassados, itens de colecionador, com carros antigos muito bem cuidados, mostrando que Beleza e Limpeza vêm do Amor, nos incansáveis esforços dos padres em sermões: Amor é tudo, e é a única coisa que não se pode comprar ou vender. E Tao é isso – inegociável. Podemos ouvir o som dos veículos automotores, como uma pessoa que está farta de, em sua casa, ouvir o som infindável de ônibus lá fora. Aqui, os pneus estão cheios de ar, como se ar fosse Tao, o fluído enigmático que preenche vidas e traz Paz, no mistério invisível do Grande Regente, pois nunca ouvimos falar que Deus não joga, mas fiscaliza? Aqui vemos números, no pavor que a Matemática exerce sobre tantos e tantos estudantes, como foi o meu caso. Só que, depois, a pessoa percebe que Música, por exemplo, traz em si rítmica racionalidade, na grande ironia que é o fato de que Retilíneo e Fluido são a mesma coisa, e o liquidiscente ritmo aquoso segue uma operação matemática, no termo do nome da banda Coldpaly, ou seja, Reprodução Fria. Até a pessoa entender a união que permeia toda a criação de Tao, fazendo da Arte uma irmã da Ciência, na totalidade do Pensamento Humano, com Humanas amigas de Exatas – será que consegui me expressar bem? Aqui, há um exercício de cores, num designer testando possibilidades, buscando novas formas de dizer a mesma coisa, como nas múltiplas Marilyns Monroes de Andy Warhol, ou seja, o mesmo clichê, só que pintado de diversas maneiras, como cada pessoa tem sua própria forma de ver Tao, na Lei da Individualidade – não há iguais, apesar de serem irmãos. Aqui, os rabiscos são vários e inevitáveis, num plano de tentativas, até que a pessoa aprenda tal lição, cumprindo com uma missão da Terra – uma vez vencida tal batalha, é hora de voltar para casa, numa grande recepção de boas vindas promovida por entes queridos desencarnados, como disse uma pessoa de minha família no leito de morte, prestes a falecer: “Tenho que receber meus convidados”, no maravilhoso modo como, nossos avós, por exemplo, jamais morreram, sendo uma ilusão a morte da carne. Aqui, a sisudez matemática revela uma explosão de cores alegres, nas grandes ironias de Tao: haverá números primos por toda a eternidade dos números. Callegari traz aqui tal alegria circense, em jovial irreverência, nas ironias metafóricas.


Acima, Passat B3. Num dos cantos do quadro, vemos bolinhas que remetem a um cacho de uvas, as quais são o símbolo do trabalho, do esforço, do empreendimento, nos doces frutos que vêm depois de um esforço empreendido, numa pessoa que, hoje, pode se soder, mas amanhã colherá frutos, como diz uma canção pop: “Se é amargo no começo, é doce no final”, pois, se começo achando que é facílimo, acabarei achando extremamente duro, num exercício de discernimento e humildade, pois se acho que será duro, estou com os pés no chão, e, ao final, terei na boca o gosto doce de tais uvas. Este quadro tem um aspecto street, urbano, com uma superfície muito usada, rodada, com larga experiência, como num muro pichado e rabiscado, num caderno de notas que me remete a um (excelente) professor universitário, o qual tinha um caderno no qual fazia carinhosas e caprichosas notas e ilustrações, até o ponto em que tal caderno começa a se tornar um companheiro para a pessoa que nele deposita pensamentos e rabiscos, sempre ensaiando, sempre se aprimorando, no caminho eterno de depuração moral, na Felicidade Suprema que pertence aos espíritos evoluidíssimos, ao contrário de divindades que têm defeitos humanos. No quadro, vemos alguns números, como expressas placas de trânsito, querendo informar da forma mais simples, clara e rápida possível, como disse um certo gênio: “A Simplicidade é o mais elevado estágio de Sofisticação”, e isso vale também para anúncios em outdoors nas ruas e estradas, pois quanto mais informações estiverem expostas, menos informações serão absorvidas pelas pessoas que passam e veem... Aqui, temos um jogo complexo de superposições, numa imaginação vibrante, sempre experimentando possibilidades, numa mente aberta para inovações, nunca tendo a arrogância de achar que alcançou o topo do topo, pois tudo é processo. Os números são a fria Razão Matemática, sendo esta uma das maiores provas de limpa e pura sofisticação humana, no sentido de que Pensamento é tudo e Matéria é nada, havendo nesta a ilusão da possessão, no material, do fetiche do objeto, em um mundo tão frio, no qual tudo é dinheiro, sendo infeliz aquele que é considerado feliz na Terra – o ganhador da Loteria, por exemplo, tendo este amigos por interesse, não amigos por amor e carinho. Uma das palavras aqui é rest, do inglês, descanso, da cor de um fértil gramado verde, na lânguida canção Lazy Afternoon, ou seja, Tarde Preguiçosa, cantada por uma Barbra Streisand preguiçosa, repousando sob uma árvore, no gostoso pecadinho da Preguiça, num mundo tão frenético, que exige tanto estresse do indivíduo, como pessoas dirigindo no trânsito, num momento tenso em que o Ser Humano mostra toda a sua patetice, a sua mediocridade, a sua impolidez. Logo acima desta palavra, um círculo cortado com um x, como num artista renascentista buscando as perfeitas proporções do Corpo Humano, querendo encontrar lógica, beleza e majestade nos trabalhos de Tao, o Supremo Arquiteto. Aqui, é como uma prancha de arquiteto, com os fálicos traços retilíneos, cortando e medindo, sempre buscando a elegância dos números, rechaçando as patetices das paixões e sofrimentos humanos, como disse um grande filósofo grego: “A Lei é razão livre de sofrimento”, ou seja, quanto mais desapegado materialmente sou, menos sofro. Vemos aqui palavras em motivos góticos, talvez em alemão, não sei dizer. É como um designer rabiscando caligrafias, querendo criar coisas com estilo e inteligência, pois tudo o que um ser humano tem que mostrar é sua própria inteligência. É como o paciente trabalho de um antigo escriba, escrevendo pacientemente, muito antes das pressas e das loucuras da Sociedade Digital, sendo esta de um estresse que, definitivamente, deve ser evitado – respeite a si mesmo!, ou como me disse um ótimo professor: “Nunca se estresse demais”. Este quadro está divido em seis idênticos quadrados, como num lençol dobrado, numa pessoa ajeitando uma casa, assim como um artista quer ajeitar sua própria carreira e ver seu próprio lugar no Mundo.


Acima, QP2R73. Aqui, há uma repetição Pop Art, como se fossem vários ensaios para o mesmo show, num exercício evolutivo, como num designer de marcas, aprimorando, polindo o objeto trabalhado, como um espírito com várias encarnações, sendo cada encarnação possuidora de lições específicas, tudo com o objetivo de se alcançar a perfeição moral, como Tao, o ético, o honesto, o verdadeiro, ao contrário de uma pessoa que quer passar os outros para trás, perdendo tempo com mesquinharias de ambições mundanas. Aqui, são como múltiplos ovos de Páscoa coloridos, no encanto de um cesto farto e colorido, diversificado, seduzindo os olhos da criança presenteada. Neste quadro, temos linhas que formam, em perspectiva, um corredor sem fim, no modo como a fina exatidão de perspectiva moldou a vogue renascentista, abrindo os olhos da Europa para os novos tempos, das Navegações, das especiarias orientais, dos indígenas selvagens americanos etc. É um corredor extremamente longo, infinito, convidando-nos a observar o absurdo poder de Tao, dando-nos uma existência que jamais cessará. É como observar a Torre Eiffel de baixo, dando-nos a perspectiva de observarmos uma mandala, no padrão cíclico das estações climáticas, ou num relógio, trazendo a sensação de ordem e calma a um reino. É uma explosão de supernova, explodindo para todos os cantos, causando as comoções artísticas catárticas, deixando perplexo o Corpo Social, com multidões indo aos cinemas para ver filmes badalados, películas papando múltiplos Globos de Ouro, Oscars etc. É como uma pipoca estourando na panela, num ato de agressão, de marcar épocas, na terrível releitura terrorista, a qual acha que destruir é o mesmo do que brilhar. Aqui, é como os escudos de vários times de Futebol, com álbuns de figurinhas conquistando meninos, colecionando as figurinhas de seus ídolos do esporte bretão. São como fichinhas de Futebol de Botão, numa diversidade competitiva, em que qualquer time quer ser o topo da elite, numa pessoa que mira alto em seus objetivos, colocando os pés no chão e parando de esperar por um milagroso príncipe encantado, no modo como a pessoa se dá conta de que, se quer algo, tem que ter vontade de tê-lo. Esta logomarca da Volkswagen se parece com a armadura da Mulher Maravilha, numa pessoa blindada, à prova de flechas, rechaçando o sofrimento, numa pessoa que aprendeu a importância de saber dizer não, pois como posso ter o controle de minha própria vida se vivo aceitando que me digam como devo viver? Aqui, são várias luas de um planeta, colocada cientificamente lado a lado, na intenção humana de ver lógica no caos, de dar nomes e graças a corpos celestes, no modo de tribos primitivas verem divindades em todos os elementos da Natureza, como no Sol, no trovão, na Lua etc. Nesse sentido, é um grande pulo o surgimento da Ciência, num Ser Humano que está farto de ver o Mundo e o Universo de forma turva, mística, idealizada, no modo como a Astronomia desafia a Astrologia. Aqui, são várias bolinhas de tênis sendo jogadas ao mesmo tempo, num momento em que a maestria é revelada, como num ultra ágil Yoda, brilhando ao empunhar um sabre de luz em um filme da franquia Star Wars. Aqui, temos a diversidade do arcoíris, como numa classe de estudantes, em que cada um se esforça para se diferenciar ao máximo, buscando ter um estilo inconfundível, como os círculos e as bolas de Yayoi Kusama, a artista plástica que optou, sem necessidade, morar numa clínica psiquiátrica – cada um sabe de si. Aqui, é um camaleão em vários momentos de camuflagem. É como um ator assumindo vários papéis, como na riquíssima galeria de personagens construída pelo genial Chico Anysio, que Deus o tenha. Aqui, é uma pessoa em momentos diferentes de humor, indo da alegria à tristeza, da depressão à mania, do discreto ao escandaloso, numa pessoa que quer saber de si mesma, que quer ser ela mesma, apesar de ter ídolos e pessoas as quais admira.


Acima, Scania. Temos aqui uma medida impositiva, numa personalidade forte, que exige respeito. Temos aqui um bloqueio, como numa médium espírita que conheci, a qual disse ter como bloquear, em pensamento, os espíritos maus, toscos e mundanos, num trabalho de desenvolvimento de virtude, dotando de propósito nobre uma encarnação, uma existência, talvez num espírito que, numa encarnação anterior, foi fútil e alienado dos problemas do Mundo, sendo que uma nova encarnação é uma grande chance de se recuperar tal tempo perdido, no eterno perdão de Tao, o Pai que sempre dá uma nova chance aos filhos, sabendo que estes foram feitos para errar, tropeçar e reerguer-se, num eterno recomeço, aprimoramento, numa dimensão na qual nada se perde, um lugar onde tudo o que a pessoa tem que ter é a si mesma – o que é mais importante: a alma ou a imagem? Aqui, é como uma placa de trânsito, exigindo respeito, pois o que seria do tráfego se não respeitássemos tais regras? É como me disse uma amiga, que morou num certo país da América Latina, uma pessoa que me disse que, lá, as leis de trânsito são piadas, desrespeitadas. Aqui, é como uma garagem, exigindo que não estacionemos ali, sendo uma absoluta sacanagem ignorar o pedido do proprietário da garagem, no modo como devemos respeitar a casa de outrem, para termos a noção de que, apesar de bem recebidos pelo anfitrião, a casa continua sendo do anfitrião, ao contrário de certas doutrinas, que pregam, na prática, o desrespeito para como a baia de outrem, pois nunca ouvimos falar que cada macaco no seu galho? Ou melhor, cada pessoa com o seu caminho de depuração psíquica, havendo, à frente do psicopata, por exemplo, um longo, longo caminho até se tornar uma pessoa boa, levando muitas encarnações para tal “mármore” ser polido. Aqui, as linhas são tensas, num proprietário que quer deixar claro as regras, evitando golpes baixos, como chutar o saco do opositor num ringue, ou jogar areia nos olhos do opositor, no modo como esses lutadores têm um controle emocional impressionante, a fim de não levar as pancadas para o lado pessoal. Aqui, é como a tensão numa luta que vai começar, numa torcida enlouquecida, numa competição para ver quem é quem tem mais força de vontade, mais vontade de vencer, mais agressividade, mais tesão pela Vida. Aqui, há um expresso contraste, é claro, para que a mensagem seja expressamente transmitida, como linhas negras e amarelas em garagens, para evitar que o condutor bata o carro em paredes ou pilares, num ato de cuidado, de cautela, no modo machista que coloca as mulheres como péssimas condutoras, despertando a ira das feministas, as quais protestam, sempre que podem, contra os preconceitos do Patriarcado, sendo este imperativo no Mundo, castrando a liberdade da mulher, quando que a mulher tem que ser livre, como uma Mulher Maravilha, com sua superforça. Aqui, temos um discreto tom vinho, casando com um berrante amarelo esverdeado, ou seja, para haver berrante contraste, temos que unir os opostos, colocando, lado a lado, sisudez e euforia, na tarefa de Eros em unir os opostos do Universo, nos ternos tronos de reis e rainhas, como diz uma canção de Cher: “O poderoso forte e a poderosa fraca”, e lá vem o Patriarcado de novo, na coragem de uma Hatshepsut, a faraó mulher que desafiou as tradições machistas do Antigo Egito, como no título de um livro de uma feminista, o Contra do Vento, ou o termo O Segundo Sexo, apontando todo o machismo bíblico, no qual, a obraprima de Deus é o ser humano do sexo masculino, no dramático modo como o Mundo não mudará, só mudando o modo de Fulano lidar com tal Mundo, sendo a Grande Elite Psíquica aqueles que questionam o Mundo ao redor, pois os ignorantes passam suas vidas sem ter consciência de suas próprias existências. Aqui, são setas piramidais, apontando para cima, apontando para o Reino dos Céus, o plano metafísico em que as enfermidades terrenas cessam. É como um conjunto de ondas, mas não ondas aquosas e liquidiscentes, mas ondas abrasivas, agressivas, talvez numa água sanitária contra um poderoso vírus coletivo. Aqui, é a retilinidade do Pensamento Racional destruindo a Serpente da Malícia. Respeite.


Acima, Subaru. Aqui, é como um bolo de aniversário, doce, colorido, brincalhão, num Callegari que não quer perder tal candura infantil, evitando se tornar um adulto amargo e empedernido, como num filme com Jack Nicholson, no qual vive um homem amargo que, no final da película, acaba retomando tal candura, num coração duro que se amoleceu novamente. Aqui, é como uma bagunça carnavalesca, com salões entupidos de confetes e serpentinas, na árdua tarefa de se limpar um salão de baile depois da festa, ou limpar uma boate depois da balada, com quilos de tocos de cigarro sendo varridos. Aqui, um vibrante amarelo nos dá as boas vindas, num vibrante Sol de Céu de Brigadeiro, como no bebê sorridente emoldurado pelo Sol no televisivo infantil Teletubbies. É uma energia que emana, como no Sol metafísico, o qual, apesar de esmagadoramente forte, não fere nem ofusca as vistas do espírito desencarnado, num Mundo em que não é necessário protetor solar, visto que, no desencarne, perdemos a sensibilidade térmica do corpo físico, numa libertação, fazendo metáfora com o filme Elysium, no qual havia uma máquina que curava seres de humano de toda e qualquer doença, como disse um artista em uma entrevista: “Você só se realiza quando morre”, no eterno retorno ao lar, como no feto do filme clássico 2001, entrando numa nova vida, sem os anéis mundanos, como é fadado à danação o querido trenó Rosebud, no clássico Cidadão Kaine, no modo como só se leva da Terra aquilo que tem algo de Amor, condenando o Ódio materialista à ruína certa. Aqui, os números dizem a idade do aniversariante, no modo como é importante homenagear alguém em seu aniversário, mesmo que seja só para lhe dar um presentinho e comer um docinho, fazendo metáfora com as eternas festas metafísicas, em seus salões ensolarados e seus lustres de cristal multicolorido, num plano em que só há alegria, apesar da possibilidade de se visitar entes que estejam no Umbral. Aqui, é uma bagunça, mas uma bagunça não mal intencionada, porém uma bagunça sem más intenções, no modo como, desde muito cedo, é cobrada do indivíduo a Disciplina, o bem se comportar, num aluno que, de tão estudioso, se torna o queridinho da professora, dando exemplo de Disciplina aos demais coleguinhas, no modo como é pobre a vida de uma pessoa que não tem disciplina; a vida de uma pessoa que vive ao sabor do vento, sem produzir – levante-se e faça algo! Aqui é uma chuva de confetes coloridos, no delicioso confeito Confete, com suas drágeas multicoloridas recheadas de doce chocolate, no fascínio que os doces exercem sobre o Mundo, fazendo metáfora com os doces metafísicos, os quais não engordam nem causam diabetes. Aqui, temos um Callegari errante, com tintas esvoaçantes, livres como a imaginação deve ser, nas asas de um pégasus, alando as inspirações, num artista que sonha em fazer coisas muito, muito pertinentes, sonhando com grandes espaços, grandes instalações, trazendo o espectador para dentro da mente de tal artista, numa espécie de anfitrião psíquico, nos polidos, belos e agradáveis anfitriões metafísicos, numa Vida em que a polidez impera e a impolidez desaparece, ou seja, seja educadinho. Assim você vai se tornar um espírito emoldurado por uma luz, com um perfume delicioso, usando roupas finas e esvoaçantes. Aqui, os numerais marcam a passagem do Tempo, num presidiário que conta dos dias antes da soltura, deparando-se, após o Desencarne, com o fato de que a Vida continua, e que a produtividade deve continuar, fazendo da Morte uma minúscula vírgula. Aqui, é como um calendário, com suas datas festivas e seus dias de labor, num lugar em que, apesar de produtivo, não é degradantemente workaholic. Aqui, é como se uma chuva colorida estivesse caindo, molhando as asas de uma borboleta, impedindo-a de voar, nas inevitáveis castrações da Vida, pois nunca ouvimos falar que não podemos fazer absolutamente aquilo tudo que queremos fazer? Assim, a vicissitude vem para libertar, e não para prender, pois qual é objetivo de uma Vida sem qualquer obstáculo? Tenha coragem!

Referências bibliográficas:

Guilherme Callegari. Disponível em: <www.artsoul.com.br>. Acesso em: 15 abr. 2020.
Guilherme Callegari. Disponível em: <www.guilhermecallegari.com>. Acesso em: 15 abr. 2020.