quarta-feira, 25 de agosto de 2021

O Andy Warhol Britânico (Parte 3)

 

 

Falo pela terceira vez sobre o artista britânico Sir Peter Blake. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (1). Os astros pop tornam-se objetos da Pop Art, numa ironia, com um artista tão pop quanto Andy Warhol, o qual por si virou astro de sua própria arte, numa ironia, num retorno. O sargento ao topo é o comando da Mente sobre o Corpo, na vitória do Pensamento sobre a Matéria, atingindo os materialistas, os quais acham que, no início, era a Natureza, quando que, de fato, no início era Tao, o imaterial, ou seja, o corpo físico morre e o espírito volta ao glorioso plano imaterial, o Lar de todos nós irmãos. O sargento é a disciplina, o siso, a responsabilidade, como num comandante de navio, com a responsabilidade de transportar tantas vidas dentro da aeronave, na responsabilidade de um piloto, pousando para preservar a integridade dos passageiros e tripulação, ou na carga de criar uma criança, como uma pessoa que conheço, a qual, ao ter duas filhas, teve que, na marra, aprender a ser adulta. Os Beatles são esse inoxidável ícone pop, nas origens da Pop Musica, gênero que se consolidou nos anos 1980, com medalhões como Madonna e Michael Jackson, na explosão da MTV, numa década de forte identidade jovem, adolescente, colorida, informal, despojada, inédita na História da Humanidade. O elegante bigode do sargento é o garbo, a aprumação, num homem disciplinado, ao fazer a barba de manhã cedo, encarando mais uma jornada se siso e trabalho, de seriedade, como num chefe de família, com a enorme responsabilidade de prover um lar, naqueles superpais, que nunca deixam algo faltar dentro de casa. O terno do sargento são as condecorações, honrarias que contam uma trajetória, uma estrada, uma história, no charme dos homens maduros, com rosto de homem, não de menino, no jogo de sedução entre masculino e feminino, no modo como as meninas adolescentes se sentem atraídas pelos meninos mais velhos, mais vividos, mais experientes, no preconceito o qual diz que a mulher deve ser sempre imaculada, sem carreira, sem rugas, algo absolutamente inviável no Mundo Material, no qual as pessoas nascem, crescem, envelhecem e morrem. Este quadro tem insígnias, registros de carreira, na construção de um homem público, como um político, numa carreira, culminando com o posto máximo de Presidente da República, na gloriosa caminhada sobre a rampa do Palácio do Planalto, numa ascensão, numa escalada, num homem que, nascido comum, tornou-se tão importante e poderoso, no modo como é difícil “desencarnar” do Poder ao final do mandato, na rigidez da sucessão democrática, longe de reinados longevos de monarcas tradicionais, na questão democrática nobre, em que todos somos absolutamente iguais, filhos do mesmo Pai, na igualdade da urna de votação, nosso exercício de Cidadania, na contradição brasileira, num país em que, com voto obrigatório, somos obrigados a ser livres, num resquício ditatorial, no qual o indivíduo é propriedade não de si mesmo, mas de um estado opressor. Os Beatles foram essa origem das boybands, bandas exclusivamente de rapazes, levando à louca histeria meninas no Globo inteiro, numa fórmula tão difundida, com inúmeras bandas afins, como Backstreet Boys, N’SYNC, Menudos e Westlife. As roupas dos astros aqui remetem à moda militar, como um príncipe inglês aprumado no dia de seu casamento, prestando continência, com a noiva pura e casta, impedida de ter prazer sexual, na questão trazida em um livro de Marta Suplicy, na questão da “galinha” e do “garanhão”, ou seja, homem pode tudo; mulher pode nada. E isso enfurece qualquer feminista, as quais querem provar que uma mulher pode ser tão boa quanto um homem, como no fato de que o centro sobrenatural da História da Inglaterra foi uma mulher – Elizabeth I. O sargento é a vitória da disciplina e do cavalheirismo, em oposição à força bruta, algo com que o homem de Tao nada tem a ver, pois a arma de um homem de Tao é o diálogo e a Diplomacia. O sargento é a prova de que a Disciplina é o único aspecto que pode organizar a vida de uma pessoa, nos preceitos positivistas de Ordem e Progresso.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (2). Os arcoíris é a alegria, num salão de baile tão animado, cheio de pessoas finas, belas e divertidas, na beleza de um baile metafísico, numa agenda social maravilhosa, num Mundo que, apesar de ser necessário o Trabalho, a Diversão também é importante. O arcoíris é o símbolo de esperança, nas cores depois de uma terrível tempestade, cheia de raios inclementes e de lágrimas de dor. O arcoíris é uma promessa, no Reino dos Céus, prometido por Jesus. No topo do quadro, uma pequena Estátua da Liberdade, no símbolo democrático, acolhendo imigrantes do Mundo todo, nas nobres intenções da ONU em agregar nações da Esfera inteira, no caminho diplomático que sabe que o Ser Humano é universal em suas virtudes e mazelas. Vemos o Titanic, símbolo de pujança, grandeza e tragédia, na comoção do filme homônimo que arrastou multidões no Mundo todo, nessa capacidade artística em causar tais comoções coletivas, como no falecimento de grandes personalidades como Di, no modo como o falecimento de uma certa popstar, cujo nome não mencionarei, causará comoção mundial certamente. O Titanic é a travessia existencial, talvez numa pessoa que não tenha sobrevivido e tenha morrido jovem, no meio do trajeto. O Titanic é símbolo de sobrevivência, como baratas sobrevivendo a hecatombes nucleares, na canção de Celine Dion, uma das maiores canções da História. Vemos aqui uma bandeira americana em oposição à inglesa, num filho querendo ardorosamente ser independente, em nações americanas não mais querendo se submeter à autoridade europeia, na construção de uma identidade própria, americana, num país que não mais quis ser parte de um grandioso império, na sede por independência, como uma mãe parindo um filho, um filho sedento por Liberdade. Aqui é o que o genial LF Verissimo chamou de “Império da Línguas Inglesa”, num idioma tão universal, tão símbolo de Poder e influência, na união entre países colíngues como EUA, Canadá, Austrália e Inglaterra. O Titanic é o símbolo de tal união, unindo EUA com a Irlanda, como numa nobre união, numa cerimônia de abertura de Jogos Olímpicos, quando a história do país anfitrião é contada, numa identidade nacional, com datas pátrias próprias, como qualquer país quer adquirir tal identidade em meio a essa poderosa supremacia global norteamericana, num mercado mundial cada vez mais Adam Smith, com estados regidos por interferência estatal mínima, numa China tão americanizada, provendo mercados do Mundo inteiro. Ao centro vemos uma moça garbosa, devidamente arrumada e penteada. A moça é como uma miss, uma moça que representa um país num concurso mundial, no poder ritualístico por trás de um concurso de beleza, como numa beleza sendo revelada tal qual a Estrela Dalva no céu matutino, como numa rainha da Festa da Uva, numa moça escolhida para acumular tal poder simbólico, numa embaixadora de todo um povo, o qual tem toda uma história, beleza e proveniência. O fundo ao redor da moça é rubro, uterino, no glamour das celebridades desfilando portal tapete, numa evidência, com pessoas comuns gritando ensandecidamente, no modo como as celebridades são minoria, são exceção, num mundo espetacularizado no qual fingimos que acreditamos que as celebridades não são seres humanos, mas seres divinos, apolíneos, perfeitos. Blake traz aqui pequenos elementos de identidade nacional, como numa caixa de recordações, como uma querida amiga que tenho, a qual guarda com carinho coisas que remetem à Adolescência, esta época doce em que a galera é o centro da vida do adolescente. Na base do quadro vemos uma faixa verde, como um doce gramado verde num jardim de Verão, num nome de origem simples para a cidade gaúcha de Gramado, esta meca de turismo brasileiro, numa cidade de charme e sinergia, tão romântica para uma lua de mel. A moça aqui é como uma glamorosa primeira dama da nação, em ícones como Jackie O, na capacidade de certas pessoas em aproveitar as oportunidades para se expressar e se colocar para o Mundo.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (3). Uma explosão de Pop Art, em grandes ícones da Indústria Cultural, na Cultura de Massa, de Mercado, objetivando vender gibis, bilhetes de Cinema, brinquedos, discos etc., em artistas que, além de ter comprometimento artístico e de Criatividade, sabem se vender, como em booms de vendas como Romero Britto, em seu estilo inconfundível, no triste modo como há tantos artistas que só são devidamente reconhecidos postumamente. Os super heróis são tal símbolo de popularidade midiática, unindo Yin com Yang, pois, além de belos e jovens, têm superforça e superpoderes, remetendo à plenitude do Plano Metafísico, onde somos todos jovens, belos e com superpoderes, como supermáquinas de razão fria, só que com Amor no coração, fazendo do Amor tal diferencial entre herói e vilão, sendo este um sociopata que, em nada nem ninguém amar, acaba rejeitado e desprezado, no final de cada episódio de desenho animado de super heróis, mostrando o Mal sendo punido e aniquilado, tal qual Maria esmagando com seus alvos pés a Serpente da Malícia, ou seja, a clássica vitória do Bem sobre o Mal, incutindo na cabeça da criança o discernimento entre válido e inválido. O artista, seja um cantor ou ator, quer se tornar tal ídolo de superpoderes, na fidelidade dos fãclubes, assembleias de pessoas que admiram o mesmo artista, causando milhões ou até mais de um bilhão de acessos a um determinado vídeo no Youtube. Este quadro de Blake é uma declaração de Amor à Infância, esta época simples em que não temos a frieza adulta, numa Infância na qual não temos todas as exigências dos adultos, na simplicidade do trenó Rosebud do Cidadão Blake, digo, Kane, remetendo a uma época em que a Vida é mais simples e divertida, na ruptura de um Kane sendo arrancado brutalmente de tal paraíso infantil. Aqui é como num imaginário de uma pessoa, remetendo-me à minha doce infância, com meu Castelo de Grayskull e os formidáveis bonequinhos do universo de He-Man, o homem mais poderoso do Universo, lutando contra a malícia corrosiva e destrutiva de Esqueleto, o Mal atuante que quer se apoderar de tudo e todos, como no terrível Sauron de Tolkien, em grandes sociopatas que querem ser vistos como anjos, ou seja, querem enganar o Mundo inteiro, como num célebre sociopata do Século XX, uma pessoa diabólica cujo objetivo era aniquilar o Mundo inteiro, num coração ABSOLUTAMENTE desprovido de qualquer Amor. Ao fundo deste quadro, temos a dura e tediosa realidade cotidiana. Mas então vem a Imaginação e traz todo esse universo de personagens carismáticos, dando a tonalidade para tantas e tantas crianças, remetendo-me às minhas festinhas de aniversário infantis, nas quais eu recebia meus coleguinhas com uma grande mesa decorada com uma toalha de super heróis, tudo arrumando pela minha zelosa e querida mãe, uma supermãe. Os heróis voando desafiam as duras leis físicas da Gravidade, e são os paladinos defensores do Bem e da Liberdade, agindo em nome do Mundo, em nome do Amor, em nome de algo válido, lógico e construtivo, como verdadeiros embaixadores da Santa Paz Divina do Plano Metafísico, o lugar no qual temos a certeza de estarmos cercados exclusivamente de amigos, sem qualquer chance de nos toparmos com sociopatas, os quais vão para o Umbral, o plano no qual os “dedos” não querem se desfazer dos “anéis”, ou seja, tudo de sucesso mundano perece com o Desencarne, e Airton sai de cena, e só se entra humilde e “nu” na colônia espiritual, o plano onde a Vida continua. Aqui é a força da imaginação, no fato da Mulher Maravilha ter sido criada por um psicólogo, uma super heroína feminista a qual, além de feminilidade e beleza, é forte com um tanque de Guerra, dando uma surra em muitos marmanjos mal intencionados. É uma indústria que aproveita qualquer possibilidade de promoção, produzindo filmes que visam deslumbrar a imaginação do Mundo, numa renovação ao longo de décadas, em constantes releituras inéditas, como na verve do Coringa de Heath Ledger.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (4). Aqui é como um picadeiro de circo, com seres anormais atraindo a imaginação do público, na sabedoria de alguém que me disse: “Por mais belo que seja o circo – e como é belo. Só que, por mais belo, vai chegar um ponto em que ele levantará e lona e irá embora”. E a Vida não é o belo circo indo embora? Ao fundo no quadro vemos uma indistinta plateia ensandecida, histérica com a apresentação de um grande ídolo, num momento em que um fãclube se une ao redor de um show ou performance, como nas tietes enlouquecidas no tapete vermelho do Festival de Cinema de Gramado. Aqui temos uma diversidade de animais, num zoo, com animais que não fazem de ideia de como eles próprios são atrações circenses. Esses animais são como brinquedos, como num doce episódio de Chaves, no qual as crianças do seriado brincavam em uma onírica loja de brinquedos, havendo no brinquedo uma forma da criança, recém reencarnada, ter algum contato com a perfeição da Dimensão Metafísica, ou seja, a criança recém reencarnada traz um residual de tal doce vida espiritual, num plano em que a pureza e a bondade correm soltas, sem qualquer interferência maliciosa – as crianças têm tal inocência, talvez com eu aqui remetendo a Rousseau, o qual dizia que qualquer malícia vem do Corpo Social, e não do indivíduo em si, quando que, na verdade, a Malícia faz parte da universalidade das mazelas do Mundo, este Plano Físico tão duro, envenenado por sociopatas atuantes. Podemos ouvir aqui a música e a plateia vibrando, nas comoções das grandes manifestações artísticas, levando multidões aos cinemas, com intermináveis filas para ver o mais recente delicioso escândalo de Monroe, a maior diva do Século XX. Este quadro remete ao privilégio que tive em ver uma apresentação do famoso Cirque Du Soleil, em Porto Alegre, na impecável técnica dos artistas, técnica fruto de uma enorme disciplina e de rotinas espartanas de ensaios, como num ginasta que se esforça ao máximo para o momento do teste olímpico, numa lição de dedicação, como num deslumbrante show de Tango que vi certa vez em Buenos Aires no Teatro Piazzola, na técnica perfeita dos dançarinos, como na Maria Callas de Marília Pêra, que Deus as tenha – Disciplina não pode ser subestimada, pois não é a Disciplina o único fator que pode organizar a vida de qualquer pessoa? Aqui os animais são astros, como no fantástico Sea World na Disney nos EUA, com os gigantescos tanques de água, com os animais adestrados, por vezes esguichando água em quem está sentado mais perto do tanque, na beleza de um animal adestrado, civilizado, domesticado pela Vida em Sociedade, fazendo metáfora com o disciplinamento educacional, com os alunos desregrados sendo severamente punidos pelos responsáveis pela Disciplina de um colégio, como eu próprio fui punido várias vezes por te me comportado mal! Aqui há uma certa concorrência entre os bichos, e cada um quer brilhar ao máximo, no modo como a Indústria Fonográfica Mundial é lotada de divas maravilhosas que competem pela apresentação do público, numa competitividade da Vida em Sociedade, tal qual uma prova olímpica, num momento em que a seriedade disciplinar e a humildade não podem ser esquecidas, remetendo ao conto da Lebre e da Tartaruga – nunca subestime o oponente ou o concorrente; sempre seja subestimado. O leão domado é tal força domesticadora, na tentativa humana em trazer Ordem ao Caos, impondo Beleza a um Mundo tão caótico e desordenado. Aqui é como uma Arca de Noé, numa biodiversidade, podendo haver nesta passagem bíblica uma metáfora para um cataclisma que pode ter de fato ocorrido. Aqui é um plano de diversidade com artista de vários estilos e modos, numa celebração das sagradas diferenças que nos unem como irmãos, como príncipes iguais, filhos do mesmo Rei Tao, no modo como as pessoas são únicas e insubstituíveis – e isto é lindo, não?

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (5). Mais uma vez a paixão de Blake por formidáveis colagens. Aqui é como uma Itália heterogênea, nas dificuldades em unificar um país com regiões tão distintas, assim como no continental Brasil, fazendo do estado da Bahia um país a parte, num lugar onde tomar mais de um banho por dia é perfeitamente normal, ao contrário dos hábitos gaúchos, de um banho diário somente. Vemos uma bandeira britânica, talvez num divertido chauvinismo catarseado, num Blake apaixonado por seu próprio país, chegando ao ponto de ser condecorado pela sua rainha, a monarca longeva. Aqui é como num baile de Carnaval ou numa noite de Halloween, com fantasias tão variadas e coloridas, numa explosão de cor e ritmo na Marquês de Sapucaí, numa vibração que encanta turistas do Mundo todo, herdando o talento africano para os tambores, num sabor tão brasileiro e peculiar, apesar do americano médio igualar a Cultura Brasileira à Mexicana, por exemplo. É uma construção de identidade, como numa festa comunitária, como numa vindima, nos vestidos das rainhas caxienses cujo estilo inspira as vestes de rainhas de outras festas comunitária, numa comunidade celebrando suas próprias raízes, como nas vindimas italianas evocando o passado medieval italiano, no país em que eclodiu a deslumbrante Renascença, neste charme e nesta culinária tão rica da Itália. Vemos uma moça tomando uma garrafa de Coca-Cola, no casamento que a Pop Art faz entre Arte e Mercado, como num Andy Warhol, recebendo inúmeras encomendas, tendo que produzir num ritmo quase industrial, nesses artistas que atingem o nível de meme, tornando-se darlings talentosos, no modo duro como a aclamação de talentos nem sempre vem a qualquer artista. Na base do quadro vemos uma lolita, que é o encanto feminino, delicado, como numa Monroe muito jovem, em início de carreira, posando nua, numa atriz cujas transgressões encantavam e cativavam o Mundo, como numa Diana, a princesa com alma de artista, com transgressões que traduziam o desejo do povo britânico de aliar tradição com modernidade, respeitando as tradições mas sempre tendo um olho na modernidade global, como a hoje indispensável Internet. Aqui é um quadro predominantemente feminino e agradável, como numa divertida reunião exclusiva de mulheres, num momento de alegria e sensibilidade, deixando um homem, que estiver ali, atordoado com tal identidade Yin, como mulheres de minha família, as quais, ao se reunir, são uma divertida gritalhada, assustando quem não conhece estas mulheres. Os poucos homens aqui são “benditos frutos entre as mulheres”, como numa Vênus entorpecendo Marte na obra de Botticelli, quando o polido diálogo diplomático evita ao máximo o embate bélico, pois um homem de Tao é inofensivo como uma tesoura cega; um homem de Tao nada tem a ver com armas ou guerras. Aqui é como na abertura do televisivo popular Escolinha do Prof. Raimundo, da Globo, com um panteão de alunos tão distintos, como na rica galeria de personagens de Chico Anysio, um artista genial ao ponto de nunca se repetir, no modo como o Brasil foi tão privilegiado em ter aqui, nesta terra, artista de tal quilate. Aqui é como um quadro de sucessão, mostrando uma tradição de governantes, mas aqui não temos tédio formal, mas uma festa, como, repito, num baile de Carnaval, no modo como Tao jamais cria dois espíritos idênticos, e a personalidade, a individualidade, é altamente divina e inexplicável, como num pai que observa que cada filho tem um estilo diferente, apesar de terem vindo da mesma barriga e terem sido criados abaixo do mesmo teto de família. Aqui é como um chá de damas, todas arrumadas, no modo como já ouvi dizer: uma mulher, quando se arruma para sair, na verdade não está se arrumando para os homens, mas para as mulheres. Aqui é como um cast, um elenco de uma gravadora fonográfica, com sua cartela de astros, buscando espaço no Mercado, evocando aqui novamente este link da Pop Art entre Arte e Mercado, a cara do Século XX, o século em que, no fim das contas, o Capitalismo triunfou, com o boom da Revolução Industrial.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (6). O alvo é a objetividade, numa precisão cirúrgica, como num bom psicoterapeuta, fazendo um diagnóstico preciso do paciente, observando qual é a raiz dos problemas da vida de uma pessoa, no modo como ninguém gosta da verdade nua e crua, fazendo com que a Psicoterapia seja algo doloroso, com o terapeuta dando “espetadas” no paciente para ver se este está consciente dos próprios problemas. Aqui é o ávido olho sem pálpebra de Sauron, o Senhor do Escuro de Tolkien, num grande sociopata tomando conta de uma nação inteira, num ser manipulador e ardiloso, que infelizmente sabe com enganar meio Mundo. O alvo é a concentração, uma centralização, como numa gota de água fazendo propagações da água sobre a qual pinga. O alvo é a pessoa dando algum sentido para a própria vida, adquirindo Disciplina e regrando seus dias, sabendo que, fora do Labor, não há salvação, pois como é triste a pessoa improdutiva, a qual não usa a inteligência que Tao lhe deu – é como rejeitar um presente de aniversário. O alvo é como uma pessoa se concentrando numa leitura, no ponto em que tal concentração faz com que os barulhos ao redor “desapareçam”. Os louros aqui são a vitória, a volta por cima, como numa Alanis Morissette, a qual, ao fracassar num primeiro momento, deu a volta por cima com persistência e finalmente triunfou estrondosamente – talento precisa de persistência. O louro é uma consagração, num doce momento de premiação, nesta tendência humana em querer perpetuar tal momento de doce orgasmo, numa Vida que exige que viremos as páginas, sendo estas doces ou amargas, no modo como o Sucesso é complicado, pois ele é “viciante”, numa obsessão por Sucesso, na frustração de quem se sente um fracassado. O louro é um marco, como num Alexandre conquistando reinos, nesta sede por Poder, sempre Poder, uma sede tão capaz de corromper os mais nobres homens, nas tentações mundanas do Anel do Poder – todo o poder mundano apodrece junto com o corpo físico, num inevitável prazo de validade, tal qual um ovo ultrapassa a validade e apodrece, havendo no Umbral este cheiro de ovo podre, ou seja, um lugar no qual não quero ver alguém que eu conheça. Aqui temos um jogo colorido numa Londres tão opaca e cinzenta, como nas famosas cabines telefônicas vermelhas, caindo em franco desuso frente aos dispositivos móveis, neste louco galgar das tecnologias, fazendo com que toda uma coleção de vinis e CDs caiba num simples pendrive – é muito “louco”. O coração, é claro, é o Amor e a afetividade, no modo como somos tão bem recebidos num centro espírita, num lugar cheio de médiuns que sabem que somos todos príncipes, filhos do mesmo Rei, no poder da Fé, pois a Divina Dimensão Metafísica está acima de qualquer ambição científica humana, apesar do Espiritismo ser amigo da Ciência. O coração é o mistério da Vida, pois é como uma bateria, uma pilha alcalina, com um certo prazo de validade, no modo espírita em lidar com naturalidade com o a morte do corpo físico. Aqui é um mágico caleidoscópio, numa roseta de Elizabeth, a rainha virgem, numa monarca que soube conectar o mundano com o divino, conquistando a fé do próprio súdito. A estrela é essa obsessão, essa fome por sucesso, esse tesão em escalar montanhas, numa pessoa com tesão pela Vida, gostando de trabalhar e manter-se produtiva, no modo como o Reino dos Céus é o paraíso para os que gostam de permanecer úteis e produtivos, no modo como não pode haver aposentadoria – todos temos que continuar “tocando o barco para frente”. Aqui remete ao encarte do vinil da banda carioca Blitz, dos anos 80, com cada integrante com estilo próprio, com na então backing vocal Fernanda Abreu com espuma de xampu no cabelo. Aqui temos a alegria de conversar com um velho e bom amigo, pessoas com as quais temos intimidade infinita, nos eternos reencontros da Vida Eterna, num amor desapegado, “fresquinho”, por assim dizer.

 

Referência bibliográfica:

 

Sir Peter Blake. Disponível em: <www.ba-reps.com/illustrators>. Acesso em: 21 jul. 2021.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

O Andy Warhol Britânico (Parte 2)

 

 

Volto a falar sobre o artista britânico Sir Peter Blake. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (1). A Madona é o cuidado, o zelo, no mito de Nossa Senhora, mito que serve para que o Ser Humano entenda o pertencimento que há no Plano Metafísico, o Grande Lar de todos nós, irmãos, iguais. A Madona é tal amor, tal cuidado, num pai que protege o filho, sabendo que há perigo no Mundo lá fora, fora do Lar. A criança é gordinha e saudável, bem amamentada, numa imagem contundente que vi certa vez, da Madona amamentando o bebê com seios fartos, jorrando leite, numa fartura, numa terra abençoada, farta, rica, em contraste com crianças que reencarnam miseráveis, filhos de indígenas pedindo trocados numa calçada suja e fria. Aqui é uma releitura do cânone renascentista, pois a paisagem ao fundo é moderna, do Século XX, com vias cheias de carros e movimento, com cidadãos plugados em seus respectivos celulares, estes dispositivos que se tornaram tão úteis e imprescindíveis, tornando-se alvo da ganância de ladrões, pois, não canso de dizer, quanto mais riquezas tenho, menos seguro estou, como um casal de amigos meus, os quais tinham uma coleção de joias caras, e foram assaltados, com ladrões entrando na casa desses amigos e levando embora todas as joias caras, na avidez humana pelo material, pelo fetiche do objeto, da coisa, da mercadoria, não vendo que a Matéria é uma ilusão, assim como é uma ilusão a morte do Corpo Físico. O manto da Virgem Santíssima é de um discreto e nobre azul marinho, num sangue azul, no modo como todos temos em nossas veias o Divino Sangue Azul Estelar, formando a Grande Família Metafísica, nas vastidões incompreensíveis do Universo, este lugar tão vasto que é, na prática, infinito. A Virgem e o Menino Jesus não olham para o espectador, mas para o lado, talvez distraídos por algo, e ignoram a presença do espectador, como se este fosse invisível, ou seja, é um prazer de voyeur, quando observo sem eu mesmo ser observado, no prazer sexy de “espionar” a casa alheia, como no filme Invasão de Privacidade, com casas sendo monitoradas por um tarado pervertido, na vida citadina contemporânea, cheia de câmeras pelas ruas e pelos prédios e estabelecimentos. Tanto a mãe quanto o filho seguram sexys cerejas vermelhas, que são o formidável pecadinho da Gula, no modo como no Plano Metafísico há confeitarias maravilhosas, com doces que não causam nem obesidade, nem cáries – seja humano; permita-se uns pecadinhos, pois foi da Preguiça que nasceram grandes invenções humanas. O menino parece se sustentar sobre uma Bíblia, no modo como uma religião precisa ter um livro base para existir, assim como os alicerces espíritas do livro kardecista O Livro dos Espíritos. A Bíblia aqui está fechada, lacrada, guardada como uma caixafote, num asseguramento, numa garantia, na garantia de que nosso lugar no Céu está garantido, desde que nunca percamos a vontade de trabalhar e produzir, pois, aos improdutivos, há o Umbral... Aqui é um dogma poderosíssimo, forte, milenar, no modo como se chega a um ponto em que devemos acreditar numa Inteligência Suprema, pois qual é o sentido de tudo sem a sacralidade de Tao, aquele que sempre esteve aqui? A nudez do menino é absolutamente inocente, assim como na ausência de Malícia no Éden, ausência esta violada por Eva, o mito misógino que faz da mulher um ser Sempre QUASE tão bom quanto o Homem, nessa latência entre Virgem e Vagabunda, latência abominada pela elite feminista, essas mulheres cuja Inteligência desafia tais parâmetros inconscientes da Vida em Sociedade. A Virgem aqui está de cara lavada, sem um pingo de maquiagem, na canção famosa: “Maria, você se pintou. Maria, você já é bonita com o que Deus lhe deu”. Aqui não há o mínimo esboço de sorriso, no caminho da mortificação, até a pessoa ficar à prova de futilidades materiais, no espírito que, em apuro moral elevado e de constante desenvolvimento, vai ficando imune às frivolidades dos apelos da Sociedade de Consumo.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (2). Aqui são duas irmãs, na delícia do compartilhamento, em compartilhar com outrem o que temos, como hospedar um amigo ou ter convidados para uma festa. Aqui, compartilha-se uma barriga, uma casa, um modo de criação, no refúgio do lar, da casa, neste lugar nos quais fomos criados, crescendo sob a educação de pais que devem incutir virtudes nas cabeças das crianças, como ensinar parâmetros morais, como nunca mentir, mostrando que grosso é fraco e que fino é forte – criar crianças é um grande desafio. Bem ao fundo no quadro, uma casa, o lar, com um vulto de mãe, de zeladora, em atos de carinho como lavar as roupas dos filhos e fazer as camas destes, no “choque térmico” que é um jovem sair de casa para morar sozinho, deparando-se com a dureza de não ter mais aquele zelo materno e cuidadoso, levando um tempo até a pessoa se acostumar a viver sozinha, como uma querida prima que tenho, a qual sentiu tal choque ao sair de casa, como rupturas, como uma inocente princesa sendo “vendida” num casamento arranjado pelos próprios pais, como na história da lendária Maria Antonieta, arrancada de seu lar, Viena, para ir para Paris, numa terra estranha, sem qualquer amigo inicialmente. São rupturas, como sair do Colégio para a Faculdade, deixando amigos para trás, no inevitável “adeus” da Vida. O gramado aqui é verdejante, perfeito, numa casa com vida, numa tarde de Verão, com crianças brincando no gramado, tomando banho de mangueira, nas épocas infantis nas quais a Vida é mais simples, sem as exigências adultas. O verde é a saúde, a fertilidade, num campo de Futebol, este esporte que tanto apaixona o Brasil, com seleções que torcem para não pegar o Brasil nos sorteios de jogos em tempos de Copa. As irmãs aqui são muito parecidas, quiçá gêmeas. Mas há uma diferenciação, pois uma está sentada do lado de fora; a outra, de pé, atrás da cerca. São as diferenciações, pois mesmo gêmeos univitelinos desenvolvem tipos muito diferentes de personalidade, até chegar a um lar em que os pais tranquilamente diferenciam uma gêmea da outra, nunca havendo confusões dentro de casa. Uma das moças está com uma sensual regata, com os seios se mostrando abaixo do frágil tecido. É a maturidade sexual, no momento em que a pessoa perde o interesse pelos brinquedos, abraçando a Adolescência, a época em que nos tornamos escravos de nossos próprios hormônios, na explosão avassaladora de Vida, como animais em cio na Primavera, quando a Vida renasce em toda a sua força, fazendo da Arte este meio para entender a Vida, seja Vida Física ou Metafísica. Bem no fundinho do quadro, vemos uma mulher sentada lendo, talvez tomando banho de Sol. É o retiro, a folga, as merecidas férias, num recreio, uma pausa, assim como é necessário que, na Escola, haja uma pausa para um recreio, um descanso, como num espírito desencarnado recarregando as energias para encarar uma nova etapa de aprimoramento, num ponto em que a pessoa passa a sentir o gosto de estagnação, pois todos temos o que fazer. Um ramo de limoeiro se insinua no quadro. São as árvores genealógicas, com ramos se entrelaçando, com famílias produzindo linhagens em comum, como uma família de classe média tendo uma linhagem em comum com uma família nobre, de realeza, no modo como, no frigir dos ovos, somos todos uma mesma família, com raízes lá, na Pré História. O azedinho do limão é a agressividade, num competidor que nunca entra em campo subestimando o oponente, como a lebre subestimando a tartaruga. A moça sentada é o recato, e seu corpo está mais decentemente vestido, no modo como gêmeos podem desenvolver personalidades tão distintas; no modo como há coisas com as quais já nascemos, ou seja, coisas do espírito, inatas. Os cabelos das moças estão charmosamente despenteados, num momento de brincadeira com as amigas, num momento em que as moças não estão arrumadas para os meninos no momento de interação social, como nas festas de adolescentes. A casa aqui é tal porto seguro, tal referência, numa mãe que, ao ver uma filha saindo de casa para viver sozinha, sente-se como se um braço desta mesma mãe tivesse sido arrancado.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (3). Uma ode às letras, aquilo que nos tirou da Pré História, trazendo as luzes da Civilização. Aqui temos uma fixação na letra A, como numa pessoa querendo se perpetuar em algum momento doce de sucesso e êxito, algo impossível, pois sabemos que na Vida não há “controle remoto”, ou seja, os altos e baixos são inevitáveis, sendo importante que a pessoa leve uma vida humilde, simples e estável, para, assim, minimizar tais galopes existenciais, pois, para levar um tombo, tudo de que preciso é ser arrogante, em crueldades como proibir uma avó de ver o próprio neto, nesta incansável inclinação humana para com a Crueldade, como queimar uma pessoa viva numa fogueira. Vemos aqui alguns anjinhos, no caminho de depuração até chegar ao ponto da pessoa rechaçar tudo de mundano, como Poder, como os Anéis do Poder de Tolkien, esses poderes mundanos que não sobrevivem à morte do Corpo Físico, pois, para entrar no Plano Metafísico, temos que nos “desnudar” de tais anéis, no caminho da humildade e da simplicidade, no modo como Ayrton sai de cena, como retirar da própria cabeça uma coroa pesada, num alívio, num descarrego, numa simplificação, pois aos que não querem se desnudar de tais anéis, há o Umbral, e, acredite em mim, você não quer ir para lá. Aqui é um retrato idealizado de perfeição, algo impossível em termos materiais, havendo na Informática, na Tecnologia Digital, esta metáfora com a perfeição matemática da mortificação espiritual, até chegar ao ponto da pessoa rechaçar as glórias mundanas, havendo um homem que, mesmo morando num deslumbrante palácio, não se importa com este, como se soubesse da beleza superior dos campos e florestas, que vestem roupas maravilhosas. A letra A é o princípio, os valores primordiais, no encargo de incutir valores na cabeça de uma criança, preparando esta para a mortificação trazida pela encarnação, pois não há encarnação em vão, ou seja, todos temos tarefas de alta importância para aprender, fazendo metáfora com o crescimento de um aluno durante os anos de estudos numa instituição educacional. Este quadro remete a doces lembranças de Pré Escola, quando a criança se depara com as letras, nas doces lembranças dos coleguinhas, amigos que vamos reencontrar um dia, havendo também vínculos de carinho com os professores, os quais acabam se tornando amigos também, havendo na Eternidade o tempo e a oportunidade para qualquer reencontro, ou seja, os vínculos nobres espirituais são desapegados, “fresquinhos”, por assim dizer, num dia agradável, na simplicidade da Saúde Mental, num amor desapegado, arejado, sem obsessão, fixação ou possessão, como uma pessoa que conheço, a qual embarcou num amor altamente possessivo e fixado, obcecado, e qualquer espírita diria o que vou dizer aqui: O amor fixado é doente; não é positivo; não é fraternal. Bem na base do quadro, vemos o alfabeto completo, e este quadro representa o primeiro dia de aula, começando do princípio, devagarzinho, para que a criança tenha tempo para assimilar a matéria, no modo como os alunos aplicados são o que dá sentido à vida docente, como numa colega de Colégio minha, a qual simplesmente não tirava notas abaixo de nove vírgula cinco, talvez um espírito que tenha levado, anteriormente, uma encarnação muito desregrada e vazia, reencarnado para, de algum modo, partir em busca do tempo perdido, na suma importância de uma encarnação, havendo no suicídio o erro de se jogar fora algo tão valioso, tal qual campeões de Fórmula 1 no pódio, jogando fora fino espumante. Aqui remete ao uniforme do colégio portoalegrense Anchieta, com uma grande letra A na camiseta, numa sutileza, sugerindo que se trata de um colégio de classe A, elitista, havendo nas instituições educacionais esta intenção de formar as elites intelectuais, pessoas que pensam acima da média, acima da mediocridade, como um grande professor universitário que tive, o qual, ao ver um aluno inteligente querendo falar na aula, dizia aos demais alunos; “Calem a boca – a elite vai falar”.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (4). As borboletas são a Liberdade, nos preceitos contemporâneos da Revolução Francesa, nos indestrutíveis paradigmas democráticos, numa forma de Poder que segue incólume até hoje, num Ser Humano que não vê algo mais legítimo do que a Democracia, como numa Inglaterra, na qual a Rainha tem um poder limitado, nunca como os absolutistas europeus de séculos atrás. As borboletas são a beleza da Primavera, a Feminilidade, a dança sensual da reprodução. As borboletas são a beleza, a delicadeza, a diversidade numa cidade tão charmosa e atraente como Paris, com turistas do Mundo inteiro que querem conhecer tal charme, com seus museus deslumbrantes, da vitória do Mundo Civilizado sobre a barbárie, na vitória da Arte e da fineza, no atrativo dos perfumes franceses, esses produtos que buscam nos aproximar da glória perfumada simples do Plano Metafísico, o plano no qual não há sujeira, fedor ou insalubridade, havendo o oposto no Umbral, onde tudo tem cheiro de cocô – pobres dos que vagam por lá. A Torre Eiffel é tal símbolo imponente de charme, no ponto turístico mais famoso e arrebatador do Mundo, com incontáveis cliques fotográficos, com intermináveis levas de turistas querendo registrar a visita à assim chamada Cidade Luz, no charme das belas mulheres francesas, em esbarrar na Rua com divas como Deneuve, numa mulher deixando o perfume no ar, com músicos executando nas calçadas La Vie en Rose, só para os turistas, é claro. A bandeira no topo é a soberania de uma nação, com seu próprio código penal, nas jurisdições dos consulados e embaixadas, na beleza das relações diplomáticas harmoniosas, em esforços para sempre manter a Paz e a Harmonia entre vizinhos, pois que vizinhança é esta na qual os vizinhos jogam bombas uns dentro dos terrenos de outros? Um homem de Tao é assim, cuidadoso e diplomático, nunca tendo algo a ver com guerras, armas ou violência, sempre lamentando as vidas ceifadas de jovens soldados no front, como na abertura da inesquecível telenovela Que Rei Sou Eu?, mostrando que, desde sempre, o Ser Humano tem tal tendência violenta, sempre impondo tudo pela força estúpida, muito distante da hierarquia moral espiritual, a qual é imposta com classe, delicadeza, sempre deixando a pessoa livre para fazer suas próprias escolhas,  numa lei agradável, até chegar ao ponto da pessoa fazer questão de obedecer a tais espíritos moralmente superiores. O dia aqui amanhece fresco e perfumado suavemente, no prazer de se despertar numa dimensão tão gostosa, irresistível, fazendo de Paris esta cópia tão infiel das cidades perfeitas metafísicas, as cidades nas quais não há a fogueira de vaidades humana, nas vaidades que carregam a arrogância e a incessante fome humana por Poder, em líderes que têm dificuldade em “desencarnar” do Poder, como num Trump, negando a derrota nas urnas, enraivecendo turbas em Washington DC. Aqui há uma libertação, como num animal silvestre sendo devolvido a seu habitat natural, num glorioso dia de soltura, como no último dia de aula do ano, nas merecidas e deliciosas férias, na magia do Verão, com noites amenas. Ao fundo da torre mais icônica do Mundo, um vasto palácio, talvez cheio de inestimáveis obras de Arte, no mistério da Arte, esta obra humana que atravessa os milênios junto ao Homo sapiens, numa espécie de magia, como num filme levando multidões globais às salas de projeção, nas comoções que causam as grandes obras, no modo como todos vão ao Louvre para ver a obra de Arte mais famosa de toda a História da Humanidade – a Monalisa. Aqui um olor de orvalho repousa no ar de um novo dia de labor e perfume, numa pessoa que não vê o Trabalho como uma tortura, mas como uma forma da pessoa se sentir feliz e útil ao Mundo, mantendo-se sempre produtiva a ativa, à semelhança de Tao, o trabalhador, a Mente Suprema que está sempre cirando e inventando, com o fã clube mais numeroso de todas as dimensões do Universo. Tao, o perfume maravilhoso, no perfume metafísico de Chico Xavier.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (5). Símbolo de longevidade e sobriedade, Elizabeth II aprendeu, na marra, a ter majestade, carregando isto para sempre, na sabedoria do ditado: “Quem já reinou, jamais perde a majestade”. É a forte dignidade de representar todo um povo, um país e uma história, uma tradição, nas inevitáveis comparações, principalmente com sua antecessora xará, assim como é inevitável comparar Maria Rita com Elis Rainha, digo, Regina. O peso das décadas caem sobre os incansáveis ombros da monarca, lúcida após os noventa anos de idade, fazendo com que seu filho espere uma vida inteira para sentar no trono que é de direito a Charles, o príncipe sem muito carisma. As joias representam a virtude indestrutível, havendo nas riquezas mundanas uma cópia grotesca da glória metafísica, da Eternidade, pois tudo de material, cedo ou tarde, está fadado à ruína, e nada de material é eterno, por mais tempo que dure, havendo na Eternidade a prova do poder de Tao, dando-nos tal vida eterna, pois qual o sentido de tudo se um dia findaremos? A Eternidade dos números é o caminho lógico. Os cabelos brancos são a sabedoria da idade, na glória que é uma pessoa crescer, amadurecer e aceitar a si mesma de forma incondicional, no glorioso caminho da autoestima, numa pessoa madura e bem resolvida, adulta. Esta monarca é símbolo de disciplina e sacrifício, dedicando-se ao máximo em sua função contraditória – reina mas não governa. As tradições são uma forma de entendermos a atemporalidade de Tao, o maravilhoso pelo qual o tempo não passa, na atemporalidade metafísica, no caminho da mortificação espiritual, numa pessoa que passou a rejeitar os sinais auspiciosos da Vida Material, como as joias desta monarca. A transparência das joias é a Verdade, esta nobreza, num amigo transparente e verdadeiro, o qual puxa nossos pés para o chão, sem querer nos enganar ou iludir. O vidro é esta virtude de uma pessoa autêntica, verdadeira, odiando falar mentiras, no caminho do apuro moral, nos parâmetros da indestrutível Tábua dos Dez Mandamentos, com noções morais, como as leis de um país, punindo aqueles que subestimam tal apuro moral, tal necessidade de apuro, pois é no crescimento que reside a razão da Vida, numa pessoa que morreu mais depurada do que quando nasceu. O sorriso da rainha é suave, sem querer ser uma celebridade, mas uma chefe de estado, numa função que coloca muito peso sobre a cabeça de um líder, com toda uma responsabilidade a cumprir, na frase: “O dever vem primeiro; o pessoal vem depois”. Esta líder foi majestosamente interpretada pela diva Helen Mirren, tendo esta abocanhado um Oscar pelo trabalho de viver Elizabeth II nos turbulentos dias que sucederam a morte de Diana, uma das figuras mais carismáticas da História da Humanidade, numa Di que, ao simplesmente querer ser feliz, conquistou o coração do Povo Inglês e da Terra inteira. Atrás da monarca, devidamente aprumada para mais uma cerimônia formal em seu reino, há um majestoso Céu de Brigadeiro, ao contrário de uma Londres opaca, de pouca luz solar direta durante o ano. O Céu é a clareza de ações de uma pessoa pública, ao contrário do líder sociopata, um sociopata que, em ter as próprias ações desconstruídas e analisadas, apresenta ações sem sentido algum. A faixa azul é o símbolo de tal sangue azul, assim como os faraós eram considerados descendentes diretos dos deuses, havendo no sangue azul mundano uma cópia do Sangue Divino Estelar ao qual todos pertencemos, num Tao que quer o melhor para seus príncipes e princesas, num Pai tão zeloso e amoroso, fazendo com que um monarca, para ser respeitado, ter que, acima de tudo, amar sua terra e seu povo, pois como posso ser amado por súditos que odeio? A coroa da Inglaterra é tão valiosa que simplesmente não pode sair do cofre, havendo, na cerimônia de entronamento, uma cópia da peça, nesta obsessão humana por riquezas materiais. A rainha se tornou uma avó e bisavó de todos nós, num exemplo de Disciplina, acordando todos os dias para mais uma jornada de reinado, na prova de que uma vida improdutiva não tem sentido.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (6). Uma grande celebração, num grande cortejo de carnaval, no fascínio global que o Carnaval do Rio causa no Mundo, fazendo o maior espetáculo da Terra, com suas cores e exuberâncias vibrantes. Esta obra é uma prova da paixão de Blake por colagens, na função básica do artista plástico, que é combinar coisas dissociadas e fazer algo novo. Altivas bailarinas voam no Céu, e são a majestade da Arte, na capacidade da Arte em deslumbrar o Mundo, como numa deslumbrante Gisele, onipresente numa passarela, na função da Arte em se aproximar de Tao, aquele que nos deixa perplexos com seu imenso poder de eternidade, fazendo com que a Arte seja assim, eterna, como num deslumbrante Louvre, um templo inesgotável de Arte. As bailarinas são anjos, pairando sobre nós encarnados, nós prisioneiros, no consolo do Espírito Santo, na promessa de uma glória metafísica após este Vale de Lágrimas que tanto nos faz crescer. Mais ao fundo no quadro vemos mulheres voláteis elegantes, vistosas, naquele glamour inexplicável das divas hollywoodianas dos anos 1940, carregando elegantemente seus vestidos sofisticados, numa atitude de Bette Davis, a malvada que tanto amamos. A Moda é isto, este deslumbre, num homem elegante num terno, aproximando-nos da elegância infinita dos felizes desencarnados, num plano onde tudo é limpo e agradável, longe da dúvida cinzenta encarnatória. Aqui vemos uma união de povos, como numa cerimônia de abertura de uma Olimpíada, acolhendo a todos, como num carismático Papa Francisco, o Papa do Povo, o Papa que não tem Soberba ou Arrogância – Simplicidade é tudo. Aqui vemos uma Londres rendendo-se a um carnaval carioca, num momento de tanta energia, na magia de um salão colorido e movimentado, como serpentinas como veias que unem a todos com seu sangue metafísico, fazendo com que pulsemos num só ritmo de união, ao contrário de episódios tão tristes como a Guerra das Malvinas, num momento em que Inglaterra e Argentina deveriam ter entrado em concórdia, não em guerra sanguinolenta. Podemos ouvir aqui os tambores africanos, no Samba e no Pagode que veio dos morros, da classe baixa, nessa identidade tão brasileira, com raízes na Mãe África, nos versos inesquecíveis: “Não deixe o Samba morrer. Não deixe o Samba acabar. O Morro foi feito de Samba. De Samba para a gente sambar”. É o caminho da Cultura Popular, que veio do Povo e com este permanecerá, como na Festa da Uva de Caxias do Sul, num momento em que a comunidade se une em torno dos frutos do Trabalho e da Beleza de uma terra. Na porção inferior do quadro vemos uma indígena de seios expostos, na ausência de Malícia na nudez indígena, como no Éden antes da Maçã, com Adão e Eva lidando naturalmente com seus próprios corpos, pois como Tao pode ter vergonha de algo que Ele mesmo fez? Vemos também um senhor com a tradicional gaita escocesa, remetendo ao uísque inglês e escocês, na universalidade das bebidas alcoólicas. Aqui é uma festa de união de culturas, numa universalidade humana. Ao fundo vemos um carro alegórico que parece um trio elétrico arrastando multidões, numa contagiante Ivete Sangalo agitando uma multidão enlouquecida, no grito de ordem: “Tire o pé do chão!”. Vemos também senhoras indianas, pertencendo ao Grande Império Britânico, nesta vocação colonizadora inglesa, investindo pesado, por exemplo, em vias férreas na Argentina, na crença de que a Humanidade, no passado, foi colonizada por raças alienígenas de inteligência e tecnologia superiores às humanas de então – é um mistério. Aqui é como uma Nova York, que acolheu tantos imigrantes de tantos países, como China, Itália e Brasil, numa cidade tão cosmopolita e multicultural, cheia de comidas variadas e exóticas, servindo pratos como o tradicional cuzcuz, numa cidade símbolo da universalidade humana. É uma Torre de Babel com variadas línguas e culturas, sendo necessário o respeito às diferenças. É uma assembleia da ONU, com gente de todos os cantos do Globo, neste desafio que é construir a Paz Mundial, uma Paz tão difícil de se estabelecer em meio à tendência humana para com a Crueldade.

 

Referência bibliográfica:

 

Sir Peter Blake. Disponível em: <www.ba-reps.com/illustrators>. Acesso em: 21 jul. 2021.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

O Andy Warhol Britânico

 

 

Pai da Pop Art Britânica, Peter Blake, inglês de 1932, sempre amou Música e retratismo, tendo tido várias mostras retrospectivas e regulares. Blake sempre amou a Cultura de Massa e colagens de imagens, tornando-se importante ao ponto de receber no ano de 2006 o título de Sir da rainha Elizabeth II. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, certamente a obra mais famosa da carreira de Blake, capa do álbum célebre dos Beatles, abocanhando o troféu Grammy de Melhor Capa de Disco do ano de 1968, num trabalho em que PB traduz toda a sua paixão pela Cultura de Massa, no boom midiático do Século XX, na função da Pop Art em conciliar Arte com Mercado, no boom da Cultura Pop como um todo. O grande tambor ao centro é algo retumbante, com alarde, nos gigantescos esquemas de Marketing por trás do lançamento de algum artista pop, como num videoclipe bem dirigido e executado, veiculado pela MTV no Mundo todo, com uma gravadora fazendo investimentos em um certo artista, no boom inicial da carreira internacional de Ricky Martin, com um clipe muito bem produzido, neste privilégio de poucos artistas, como Michael Jackson, de fazer um dos dez clipes mais caros da História da Indústria Fonográfica Mundial. O tambor aqui pulsa, como um coração, no modo como já li que o nervo da Arte é a Vida. No centro, é claro, os Beatles, com suas cores vibrantes, no boom estilístico dos anos 1960, trazendo cor a uma Londres cinzenta. Logo ao lado esquerdo, uma autocitação, com os mesmos artistas com suas vestes de início de carreira, dando uma ideia da passagem de Tempo, no modo como é duro uma banda sobreviver a décadas de carreira. Aqui há um ar de citações, e numerar todas fica inviável, tal a riqueza, num Blake que faz o que um artista plástico faz, que é associar coisas anteriormente dissociadas e, associando-as, produzir algo novo. Marilyn Monroe é este superarquétipo feminino, provocadora, escandalosa, fascinante, com filas intermináveis em cinemas para ver a deusa da telona, num artista que fez a maior campanha de Marketing da história do perfume Chanel n. 5, dizendo dormir nua, com algumas gotas da fragrância que perdura até hoje no Mercado. O cenário aqui, desculpem a morbidez, remete a um enterro, com flores no túmulo, talvez em artistas querendo sepultar o passado, abraçando novos tempos de trabalho, novas metas, uma nova fome de vencer, no intuito de manter dentro de si esta chama, este ardor pelo Trabalho, no modo como cada pessoa tem que saber sobreviver às intempéries da existência. As flores são o implacável romper da Vida na Primavera, num jardim de Botticelli, no termo Flower Power, ou seja, Poder Floral, tão em voga naqueles tempos, remetendo à juventude de meus pais, havendo no início dos anos 1990 uma febre nostálgica, voltando à Moda tal poder das flores, como na icônica banda finada Deee-Lite. Os trajes coloridos dos Beatles aqui remetem a um visual um tanto militar, numa contradição, pois a Arte não quer reproduzir a rígida hierarquia militar, havendo no Amor a força que traz a verdadeira hierarquia, que é, assim, irresistível, nunca brutal. Cada beatle veste uma cor, numa diferenciação, apesar da semelhança ao mesmo tempo, como na concepção do nome da banda de Pagode, a Constelação, ou seja, cada membro da banda é um astro em si. Aqui é como uma reunião de turma de colégio ou faculdade, numa festa de reencontro, com todos reunidos para bater a foto e, logo depois, dispersar, indo cada um para um lado, no modo como é inevitável que cada um siga seu caminho particular, em amizades que se transformam em relacionamentos, pois a Eternidade é tempo para qualquer reencontro. Aqui é como na foto da abertura do televisivo Escolinha do Professor Raimundo, com cada aluno distinto, como num panteão, numa cor de diversidade. Vemos uma Marlene Dietrich, cheia de atitude, na capacidade de poucos em brilhar. Vemos até Karl Marx, marcando a onda comunista do século passado, num álbum feito em plena Guerra Fria, numa atitude corajosa em colocar Marx na capa de um grupo inglês, ou seja, de um país não comunista – a Arte precisa de Liberdade. Vemos Marlon Brando, um astro controverso e fabuloso. Vemos muita gente, e minha ignorância é gigantesca.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (1). O ônibus é esse caminho da Vida, como “Tao” quer dizer “caminho”, com Elis Regina tocando no veículo, nesta capacidade de pessoas em se tornar ícones que guiam gerações por seus caminhos, neste dom nato da liderança. Existe figura mais pop do que o Super Homem? É metáfora com os espíritos desencarnados, de alto valor moral, espíritos da Verdade, que odeiam mentiras, as quais são grandes perdas de Tempo. O SH é este homem de grande caráter, com seu tímido e despretensioso alterego Clark Kent, um humilde e pacato jornalista acima de qualquer suspeita, discreto, subestimado – seja subestimado e serás um homem descomunal. É a luta de tantas pessoas que ingressam na Política, buscando construir toda uma imagem, todo um caráter junto a um povo, na construção desses ídolos, campeões de urnas eleitorais, no modo como cada um tem que aprender por si a ser tal homem de caráter construído, como na construção tijolo por tijolo, numa pessoa que está aprendendo a lição da Dignidade, Simplicidade e Humildade, como na carismática figura de Papa Francisco, o papa do Povo, num rei que, apesar de morar num suntuoso palácio, pouco dá valor a este, pois os campos e florestas são muito mais belos. Existe figura mais pop do que Elvis Presley? Foi na aurora do Rock n’ Roll, no caldeirão musical norteamericano, no modo como os movimentos de Arte e Música estão em constante processo de transformação, como no recente surgimento da Música Eletrônica, iniciando na tecnologia digital dos anos 1980 – o Universo está sempre se transformando, havendo em Tao tal agente de transformação, tornando ridículo o homem de verdades inabaláveis, rançosas e mofadas. A estrela rubra aqui traz corajosa alusão comunista, num Mundo Ocidental que, no século passado, tanto rechaçou a URSS, no bangue bangue da Guerra Fria, neste eterno jogo de cadeiras de estados e reinos. A estrela é esta revelação, em algo explodindo e deslumbrando o Mundo: “É um pássaro? É um avião?”. É numa pessoa que não mais pode ser ignorada, impondo respeito, como na explosão de uma Gisele, na força grande de certas pessoas em aturar todas as vicissitudes, num processo de fortalecimento psicológico, pois o Mundo não é dos fortes? Este caminhão faz divulgação de um site de Arte, das Galerias CCA, inclusive com o site na fronte do veículo, trazendo a Pop Art, que nasceu na Tecnologia Analógica, para a Tecnologia Digital, do Terceiro Milênio, na digitalização do Universo das Celebridades, com artistas com milhões de seguidores no Facebook ou Twitter, como num clipe de Whitney Houston, com mais de um bilhão de visualizações no Youtube, trazendo um sopro de renovação à Cultura de Massa, como na geração de meu sobrinho, o qual nasceu no ano de 2003, em plena Era Digital, no casamento entre Indústria e Arte. Neste busão vemos uma figura de alvo, num artista visando o sucesso, produzindo um álbum, fazendo um belo clipe, para atingir altos índices de popularidade, numa precisão cirúrgica, num enigma, pois ninguém sabe ao certo o que é necessário para que alguém se torne astro – há muitos corpões, rostos belos e vozes boas que jamais serão astros... O que então é necessário? Não se sabe. Vemos listras em preto e branco, numa faixa de segurança, num artista que está seguro de que seu trabalho obterá sucesso, num código binário em dois tons, em preto e branco, como em fotos de grandes astros e estrelas hollywoodianos do Século XX, o século do Cinema. Vemos também uma lolita, uma mulher tão atraente, só que menor do que os homens no mesmo painel, nos eternos preconceitos do patriarcado, castrando mulheres, como em filmes pornôs, nos quais só ao homem é permitido ter orgasmo. Aqui é como um artista em turnê, nesses megashows internacionais que tanto demandam de estrutura técnica, com grandes aviões viajando pelo Mundo, transportando numerosas equipes, num espírito circense, no modo como Dercy Gonçalves se dizia mambembe.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (2). Uma releitura Pop Art de Alice no País das Maravilhas. O coelho é a fertilidade, como na abertura de um filme de Woody Allen que fala sobre Sexo, com coelhinhos se reproduzindo em alta velocidade, na fertilidade de ovos num cesto de Páscoa, na celebração da Vida, na Vida brotando em toda a sua força, como num ninho de aves, cheio de filhotes famintos, dependentes, tendo que ser alimentados constantemente pelos pais, nesta responsabilidade que é colocar um filho no Mundo, numa criança que vira adulta, assumindo a carga de responsabilidade. A mesa aqui é comedida, espartana, simples, e não é farta, muito longe de uma farta mesa de galeteria, numa fartura que espanta o turista ou visitante. A mesa é o vazio sensual de Tao, o espaço vazio pronto para abrigar Vida, como num vaso vazio, pronto para receber flores, como num grande vão público, feito para que o cidadão aproveite o espaço com lazer, caminhadas, bicicleta etc. O vazio é a serventia, a dignidade, numa pessoa que se sente útil ao Mundo, sentindo-se a serviço deste, na dignidade de uma vida produtiva, como após o Desencarne, quando o espírito desencarnado vê que, mesmo assim, não pode faltar trabalho, no modo como a Vida, com ou sem carne, revela-se em toda a sua seriedade, numa construção de carreira, pretendendo uma “formatura”, como nos arcanjos, os espíritos perfeitos, de apuro moral impecável, nossos “irmãos mais velhos”, por assim dizer. Alice aqui está entediada, enfadada, num chá tão monótono, numa festa tão chata, num anfitrião não muito empenhado em bem receber, fazendo das festas tais momentos de descanso e diversão, pois, depois da festa, a Vida retorna em toda a sua seriedade, ou seja, o playboy, a pessoa que só quer se divertir, tem uma existência miserável, no modo como uma pessoa rica que conheço, a qual, por dentro, é uma mendiga de miserável. A cartola é o galanteio, num homem elegante, como vi certa vez em Porto Alegre na Rua um famoso colunista social, com uma flor na lapela, uma flor pronta para ser dada a alguma donzela bonita e sorridente, como me disse certa vez uma amiga mais idosa do que eu: “Não se fazem mais cavalheiros como antigamente!”. Vemos um pequeno roedor se insinuando na mesa, talvez atraído por migalhas, na luta diária pela Vida, como li em frente a um atelier de costura: “Qualquer trabalho que garanta o pão de cada dia é essencial”. A Alice aqui fica no limiar adolescente, não se sentindo atraída pelo Mundo das Crianças; nem pelo Mundo dos Adultos, na idade da “galera”, quando o jovem só vê propósito e diversão com os amigos, nessa idade em que a pessoa é prisioneira de seus próprios hormônios, numa insaciável sede por Sexo. Atrás no quadro, um mosaico rico e colorido, na diversidade da Vida em Sociedade, como num momento de Paz como uma Olimpíada, num momento em que os povos se unem e esquecem-se de suas diferenças – como seria bom se o tempo todo fosse assim! O mosaico é um enigma de quebra cabeça, como um detetive desvendando um caso, um assassinato, um mistério, como num enigma de Agatha Christie, sempre desafiando a inteligência do leitor, pregando peças neste, confundido-o. Aqui é uma cafeteria chique, como amigos meus, que se mudaram para outra cidade e lá abriram um café muito sofisticado, certamente um dos melhores da cidade. Este mosaico é a paixão de Blake por fotomontagem, associando imagens, como num Frankenstein sendo montado, como num vinho assemblagem, com várias castas misturadas, ou numa salada de frutas. A Alice é como uma jovem debutante, muito jovem ainda, sem entender completamente os significados da Vida em Sociedade, numa época em que acreditamos em milagres, como numa criança que crê em Papai Noel. Podemos ouvir o tilintar das xícaras nos pires, na universalidade das infusões, como no chá inglês ou no chimarrão gaúcho. É um momento chic, de ritual polido, na sabedoria de que o fino é mais forte do que o grosso.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (3). O rinoceronte é a força, a resistência, como no recente anúncio de uma marca de cimento: “Não é forte; é fortaço!”. É no modo como a Vida vai exigindo que fiquemos mais fortes para, assim, não sofrermos tanto. O bicho aqui está exposto como num zoológico, com seres fadados a um confinamento, no modo como a encarnação em si é tal prisão, na boa notícia de que um dia o dia de soltura chegará, sempre, na questão de Santo Agostinho, colocando o Ser Humano como um vínculo entre carne e espírito, um vínculo fadado ao término, como num produto cuja da data de validade chegou – não é formidável? O rinoceronte é uma sedimentação, como numa carreira sendo construída, no modo espírita como uma encarnação na Terra tem um valor curricular muito grande, nesta dura escola cuja disciplina vai nos deixando com os pés no chão, bem no chão, no caminho de mortificação, como no adulto que parou de acreditar em Papai Noel. Aqui temos uma cena de Carnaval de Veneza, com suas exuberantes fantasias, na magia renascentista de descobrimento de novos mundos, no impacto global que seria o descobrimento de Vida – e inteligente – fora da Terra, numa revelação, no modo como o Desencarne nos mostra tal maravilhoso plano divino para conosco. Aqui temos uma praça movimentada, cheia de Vida, num merecido momento de lazer, algo proibido ao workaholic, aquela pessoa que simplesmente não para de trabalhar, trilhando o caminho da falta de respeito consigo mesma, pois como posso ser respeitado se não me dou ao respeito? Vemos palmeiras exuberantes, na magia de cidades como Los Angeles, na fábrica de ilusões, numa terra tão cheia de sonhos fracassados, nos altos e baixos, como num megaastro, o qual não está o tempo todo no topo... Aqui é um delicioso dia de Verão, com suas noites amenas, frescas, sensuais, numa praia de férias a qual sempre terá de se abandonada, pois o Verão passa, e o que vem depois? A Vida é uma coisa séria. O rinoceronte aqui se alimenta, neste ato tão primordial como o da alimentação, nos problemas de fome e subnutrição pelo Mundo, com um bilhão de pessoas na Terra mal tendo do que se alimentar, neste Mundo tão desigual como o nosso, com irmãos sendo separados por abismos sociais. Aqui é um momento de lazer em tal parque zoológico, num dia de Sol, belo, vibrante, nas diversões com amigos na beira de uma piscina, em doces memórias de diversão e amizade, como me disse uma grande amiga sobre a Adolescência: “Nós éramos felizes e sabíamos!”. Saudades daqueles amigões, havendo na Eternidade o tempo para qualquer reencontro. Bem ao fundo no quadro vemos painéis pintados, numa ironia de metalinguagem – artista falando de artista, tal qual uma atriz interpretando outra atriz, no brilho de Goldie Hawn em O Clube das Desquitadas, uma das maiores comédias da década. Podemos ouvir o som dos patins sobre o asfalto, em um momento de forte interação social, como encontrar por acaso um amigo e papear com este, nos mágicos momentos de Vida Social. Atrás deste muro pintado, um Céu de Brigadeiro, perfeito, sem qualquer vestígio de nebulosidade, num turista que vai à Califórnia sabendo que o Sol lá brilhará como sempre, no estado mais rico dos EUA, como seus vastos vinhedos. O Carnaval aqui é como uma trupe teatral, como um amigo meu, apaixonado por Teatro, na magia do palco, de uma cortina se abrindo e nos convidando a entrar na mente do escritor e do diretor. O Teatro é esta arte tão milenar, desde a Antiguidade, nos mistérios que sempre rondaram a pergunta: O que é Arte? É um mistério. É humano. É fantástico. O rinoceronte aqui é a passagem do Tempo, numa pessoa que vai adquirindo sabedoria com os anos, neste divisor de águas que é ter juízo, ao contrário de rapazes que vi na Rua estes dias, os quais corriam de bicicleta em alta velocidade – cuidado, moleque! Então, chega a Maturidade e nos dá o senso de consequência. Esta cena me remete a uma máscara de Veneza que uma pessoa de minha família me deu, com um nariz pontudo, exigindo distância e respeito. E as leis exigem em nome da manutenção de tal respeito, no caminho do apuro moral, da verdade, de uma pessoa autêntica como uma joia rara.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (4). Blake gosta desses espaços vazios, como se soubesse que a sensualidade está exatamente nos espaços vazios, disponíveis ao uso do dia a dia, do cotidiano. É como decorar uma prateleira ou uma mesa de centro – deve haver espaços vazios para o uso, para a dignidade, na serventia de tal móvel. O ônibus é uma carreira, uma estrada, uma história, como uma cobra trocando de pele várias vezes, no chocalho de uma cascavel, ou na barriga de um homem, contando toda uma história, ao contrário da mulher, que precisa ser jovem e pura para sempre, sem poder se realizar numa carreira – é a misoginia social. Trata-se de uma paisagem americana, pois os cavalheiros ao fundo têm chapéus de caubói, neste símbolo de Cultura Popular Estadunidense. O chão pardo é a terra, a mãe, a pátria, na capacidade de um grande líder em, ao amar a própria nação, é amado pelo próprio povo, num reconhecimento, pois que líder é esse que mal se importa com o povo nem com o preço do pão? É um líder tirano, que abusa de impostos, oprimindo um povo, o qual não suporta mais impostos. O jogo de Xadrez é a paciência, o raciocínio, numa negociação diplomática, no modo como um homem de Tao nada terá a ver com guerras ou devastações, nunca ceifando vidas em conflitos, pois quando o Tao entre as nações é perdido, perde-se tudo, principalmente a Paz. O jogo é um relacionamento truncado, com uma pessoa que resiste em se entregar aos braços de outra pessoa, talvez com medo de se machucar, no modo como é maravilhoso uma pessoa se entregar, deixando de fazer Sexo para fazer Amor, no modo como o Amor respeita integralmente o Apuro Moral, num lar seguro, com crianças sendo amadas e preparadas para a dureza do Mundo, havendo no lar proveniente um ambiente de recarregamento de energias, de porto seguro. O homem ao tabuleiro está entediado, talvez enfadado com o óbvio, com o evidente, numa equação ridícula, que diz que 1 é igual a 1. Então, o Amor vem e toca fundo, tornando-se algo de plena importância numa encarnação, pois a privação trazida pelo Mal só leva ao Umbral, a dimensão suja e escura na qual não sabemos quem somos. O vestido floreado da moça é delicado, na força da Vida, numa exuberante cerejeira em floração, com uma flor tão delicada, tão bela, na prova do talento de Tao, o autor da beleza inequiparável dos campos e florestas, num Ser Humano infelizmente obcecado com palácios e joias, ou seja, num ser mundano, sujeito ao “prazo de validade” de tudo ligado à Matéria. A moça tem colado em si bilhetes, como num mural de recados, com informações, referências – são as lembranças, as memórias de uma vida, com lembranças doces de infância, como no estimado trenó Rosebud de O Cidadão Kane, remetendo a uma época em que a Vida era mais simples, sem as afetações patéticas das ambições humanas adultas. É como no meu adorado Castelo de Grayskull, o qual não mais me pertence. A terra aqui é erma e árida, como numa paisagem marciana, sem uma gota de Vida – é a aridez de uma mente preocupada com riquezas mundanas, como numa senhora materialista que conheço, a qual é a prova de que dinheiro não traz felicidade, no modo como uma pessoa pode ser tão rica e, ao mesmo tempo, miserável como um indígena jogado numa calçada pedindo moedinhas. O rosnar do ônibus é a força da Vida, num motor que bate como um coração vigoroso, numa pessoa que se mantém com tesão pela Vida, sempre aceitando olimpicamente os desafios, os obstáculos, numa pessoa que se excita frente a uma montanha a ser escalada, ao contrário da pessoa deprimida, prostrada numa cama, sem qualquer tesão, como num lutador borocoxô, xoxo, atirado nas cordas do ringue da Vida, pois nunca ouvimos que Deus a ajuda a quem ajuda a si mesmo? O vento corta este vazio, numa página em branco, na capacidade do grande ator em se tornar uma página em branco sobre a qual um personagem será “escrito”.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (5). Um quadro de tons renascentistas, num momento em que a Europa passou por um forte sopro de renovação. A mulher é Flora, com seus braços de árvore, na imaginação fértil de um artista, sempre imaginando, com coisas estranhas e fabulosas, pois o óbvio, realmente, não é amigo da Arte – bem pelo contrário. A donzela é a beleza da Natureza, em terras devolutas sendo desbravadas por colonizadores, fazendo relatórios a seus respectivos monarcas, no modo como os navegadores foram ídolos e heróis da Renascença. Aqui é uma Primavera de Botticelli, na capacidade da Natureza em se renovar e ficar jovem para sempre com tais ciclos de renovação, como na pessoa idosa, que, ao desencarnar, rejuvenesce e vive jovem e bela para sempre, no modo como as pessoas são de fato, no Mundo Metafísico, que é o Mundo Real, de verdade, fazendo da Terra tal arremedo precário, como uma amiga que tenho, a qual na Terra não é bela, mas, no Plano Metafísico, é belíssima. É como na beleza interior revelada por uma Susan Boyle fisicamente pouco atraente, a qual, subestimada por sua aparente feiúra, revelou tudo de belo que tem, como num aspecto feio exterior de uma pedra de ametista, uma pedra que, bipartida, revela tudo de belo que tem por dentro, no modo como a Elegância está nas atitudes, e não numa peça de roupa cara e luxuosa, pois, quem tem Estilo, pode ficar extremamente bonito se vestindo em lojas populares como as da rede Pompéia, no caminho da Simplicidade, deixando para trás afetações pernósticas e desnecessárias. A donzela floreada aqui é assediada por um pretendente, nos instintos da selva, com o macho procurando pela parceira numa terra sem leis, na força do instinto, como numa pessoa que se move instintivamente pela Vida, sabendo que não há livro ou faculdade que nos ensine a brilhar, no caminho autodidata, num aprendizado que somente a pessoa pode dar a si mesma. A donzela é o princípio passivo, como numa indefesa rede de goleira de Futebol, na moça virginal tendo que ser protegida por seus fiéis soldados, numa Jackie O. sendo acudida atenciosamente após o famoso e brutal assassinato de seu marido presidente, no mito de Nossa Senhora, a mulher desprovida de Sexualidade, no modo como as feministas odeiam este esquema de colocar a mulher ou como santa, ou como diaba. Ouvimos o sensual farfalhar das folhas dos braços desta deusa vegetal, nas árvores fornecendo os frutos, numa atribulada colheita de maçãs no município gaúcho de Vacaria. É a árvore do Éden, culpando Eva por todos os sofrimentos do Mundo, colocando Adão como uma vítima de sedução mundana, numa Vênus entorpecendo Marte, minimizando as guerras, estes terríveis eventos nos quais Tao é definitivamente perdido, dando espaço à brutalidade de Caim assassinando Abel. O cavalheiro aqui tem saia de soldado romano, como na recente saia de Mulher Maravilha, no Cinema, uma mulher guerreira, feminista, que mostra que pode dar conta de qualquer marmanjo mal intencionado. Este quadro tem uma brisa, uma volatividade, com tecidos finos esvoaçantes, nos deslumbrantes tecidos metafísicos, vaporosos, além de qualquer tecido fino mundano, no modo como as cidades físicas buscam imitar as cidades perfeitas metafísicas. A luminosidade aqui é num limiar – ou é fim do dia, ou é início do dia. É uma luz dúbia, sem declarações terrivelmente claras. É uma insinuação, como numa luz de luar, que ilumina e, ao mesmo tempo, oculta, num limiar sensual, provocante, como num striptease. A mulher tem continuidade aqui com a Natureza, remetendo ao saudoso seriado televisivo O Elo Perdido, havendo em um episódio uma Medusa traiçoeira, a qual aprisionava homens com suas heras fortes e envolventes – por que a Medusa tem que ser mulher? Por que Jesus tem que ser homem? O Marte aqui é uma pedra firme, um porto seguro para a errante Flora, como num homem sério, que propõe sério matrimônio, como num amigo que tenho, o qual desde cedo em sua vida sonhava em ter uma mulher para casar.

 

Referências bibliográficas:

 

Sir Peter Blake. Disponível em: <www.ba-reps.com/illustrators>. Acesso em: 21 jul. 2021.

Sir Peter Blake. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jul. 2021.