Volto a falar sobre
o pintor argentino Antonio Berni. Os textos e análises semióticas a seguir são
inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Hotel Chelsea. Uma espécie de Barbie
pornográfica, longe dos inocentes seios da célebre boneca. Estes seios fartos
são o sonho de qualquer mulher siliconada, em seios artificiais, que pedem a
naturalidade, pois o que Tao faz, o Homem arremeda grotescamente. É como na
divertida comédia Os Sete Suspeitos,
de 1985, com a criada Ivete com os seios absurdamente descomunais, com as
pessoas perplexas, observando tal dote. Aqui, a mulher se revela, talvez uma
garota de programa, como vi certa vez em uma boate fina e badalada de Porto
Alegre, com prostitutas lindas, entretendo os rapazes, por dinheiro, é claro. É
como uma pessoa que tem vida dupla, tendo uma amante, num homem triste, nunca
satisfeito, sempre sem os culhões para ter uma vida só, íntegra, una, digna de
respeito por parte da Sociedade. A meia calça negra é absolutamente sensual,
macia, gostosa de tocar, como acariciar um gato com fartos pelos. A cortina é a
revelação, a oferenda, numa mulher que sabe se vender bem, num talento nato que
nenhum livro ou faculdade pode ensinar. Esta cortina é como uma cortina de
banho, no modo como a limpeza pode ser atraente e sensual, pois quanto mais
limpo o aspecto, melhor, como um homem de barba feita, banho tomado e cabelos e
unhas cortados, num exercício de autoestima. A meia calça negra é como a
Mulhergato, numa espécie de arquétipo feminino de sensualidade, pois, apesar de
ser macia e sensual, tem unhas afiadas e um chicote ameaçador, disciplinador. A
meia calça é a sedução da noite, da Boemia, da vida noturna, uma vida que pode
seduzir ao ponto de uma pessoa passar o resto da vida na Boemia, fazendo da
Vida uma boate, quiçá fazendo uso de drogas para suportar tal ilusão, a ilusão
de que a Vida é só festa, como um saco plástico na rua, ao sabor do vento, sem
norte, sem pés no chão, sem realismo, pois o Mundo, meus caros, é de quem tem
os pés no chão. A mulher aqui usa uma maquiagem pesada, carregada, querendo se
aprumar ao máximo, trazendo uma beleza um tanto vulgar, um tanto óbvia, com
cabelos loiros que remetem a mulheres pouco sérias, no arquétipo duplo de
Marilyn e Jackie O, na loira vulgar, burra, óbvia e claramente bela, e a morena
de uma beleza mais fina e discreta, uma mulher séria, digna de casamento. É
como no célebre Parabéns a Você que Marilyn
cantou para o presidente, numa artista genial, que definitivamente soube
encarnar tal loira burra. Este apartamento é confortável e acolhedor, com
confortável carpete, talvez aquecido em uma noite fria, no calor de uma paixão,
no modo como um relacionamento pode crescer ao ponto da plena intimidade, como
disse certa vez, na TV, um travesti que se prostituía em Amsterdã: “Eu sempre
uso camisinha, pois ofereço sexo; não intimidade”. Aqui, é o delicioso
pecadinho da Luxúria, como numa sexshop, com artigos para apimentar
relacionamentos. A meretriz aqui convida para o coito na cama, para uma
divertida transa, mas uma transa mecânica, sem muita intimidade. Ao fundo no
quadro, pela janela, podemos ver elegantes prédios de uma cidade evoluída,
remetendo às maravilhosas cidades metafísicas, o lugar onde as pessoas são
boas, em um Mundo
de Amor, num lugar onde o sensual não é sexual, pois tudo se resume aos
relacionamentos estritamente espirituais, fazendo da transa mecânica algo
esquecível e ignorável. Neste quadro com sabor de morangos com champagne há o
convite ao toque, à interação, na deliciosa sensação de se entrar num guardarroupa
cheio de casacos de pele, numa sensação deliciosa de libertação, como um sapato
amaciado, que se adaptou perfeitamente ao pé do usuário. A cidade aqui é o
desenvolvimento, talvez num Berni em uma Buenos Aires
grandiosa e vibrante, na sedução da nação argentina, um país sui generis. Aqui, temos uma noite
estrelada, sedutora, linda, num céu que nunca fica encoberto, que nunca se
cobre de dúvidas, num lugar onde só há certeza, no princípio de Amor que faz
com que possamos detectar os psicopatas, estando estes disfarçados de pessoas
boas.
Acima, O Matador. A Caveira é a finitude, e
temos aqui um toureiro, a pessoa que vai selar o destino do pobre touro, como
me disse uma tia que viajou para a Espanha e foi assistir a uma tourada – não é
uma programa recomendado para pessoas muito sensíveis. O toureiro é a Ordem, o
Ser Humano, o garbo, a elegância; já, o touro é a força bruta, selvagem, irada,
desafiando o corajoso homem que ingressa na arena, sendo frequentes os
ferimentos no toureiro, num homem que entra na arena assumindo riscos. A capa
do toureiro é esta elegância, na civilidade domando a selvageria, numa plateia
ávida por ver um espetáculo em que o Ser Humano se confirma a espécie dominante
no planeta. Aqui, o toureiro morre e definha, como na célebre canção: “Os
homens vão ficando frios, as mulheres vão ficando velhas, e, no fim, todos
perdemos nosso charme”. A caveira é ao destino selado, no modo como a Vida é
algo tão sério, apesar de ser uma virtude ter senso de humor – temos que
escolher algo virtuoso para ocupar nossos dias de encarnados. A caveira remete
ao Dia dos Mortos, no México, quando os viventes homenageiam os finados, na
promessa certa de que a Morte vem a todos, incondicionalmente. Esta magreza
cadavérica é a elegância aristocrática, o minimalismo, numa pessoa que,
seguindo Tao, começa a perceber o poder da Simplicidade, a questão do se ater
ao que realmente importa, numa metáfora de galeterias, nas quais, antes do que
importa, que é o galeto, servem agnoline, polenta, e salada. A caveira sorri
numa maldição, lembrando-nos de que não estaremos para sempre na Terra, como na
promessa do Reino de Deus, da Terra Prometida, um lugar tão remoto e, ainda
assim futurista, como Tolkien narra o povo élfico, como o cometa Halley
cruzando paladinamente os Céus. O traje do toureiro é absolutamente luxuoso,
rico e vibrante, em contraste com a virilidade quase tosca do homem que doma o
touro. É um traje todo bordado, glamoroso, vibrante, em contraste com a tosca
nudez do touro, que representa o modo nu e cru pelo qual chegamos ao Mundo. O
toureiro é o grande astro do espetáculo, fazendo com que o Homem se imponha
sobre o Caos, enchendo o Mundo de graças, nomes e denominações, como num
navegador chegando a terras devolutas, tendo que demarcar territórios e dar
graças, como homenagear Colombo ao batizar a Colômbia; ou Américo para a
América. Nesta obra em preto e branco, não podemos ver o sangue rubro do touro.
Esta execução pública é como um grupo de leões cercando uma zebra e matando-a
lenta e cruelmente, até o ponto em que o touro perde o fôlego e acaba por ser
derrotado, rendendo-se ao garbo civilizatório, como um elegante jóquei domando
seu cavalo, impondo as luzes da Disciplina ao Caos animal, como numa pessoa que
percebeu a necessidade de tal Disciplina, ao contrário de uma pessoa errante,
que vive ao sabor do vento, sem ter algo de produtivo para fazer, numa vida
vazia e desinteressante, na qual tudo o que resta é tecer maliciosas fofocas –
a serpente da Malícia é esmagada pelos alvos pés de Nossa Senhora. Podemos
ouvir aqui o poderoso brado da plateia, sedenta por um espetáculo de coragem e
elegância, no tradicional: “Olé!”. Sobre os ombros do toureiro reside uma
pressão enorme, como um jogador de futebol – como deve ser pesado ter que
aguentar uma nação inteira pressionando você a trazer um troféu para casa.
Aqui, o manto majestoso é negro, na cor da Morte, do luto, do respeito enlutado
– será que o touro, depois de executado, serve de churrasco e de tapete de
couro? Ou será que o touro é simplesmente sepultado? Os ombros do toureiro são
largos e fortes, num momento em que a força bruta tem que se submeter à
Inteligência. É como o choque de civilizações, como o entre os pré colombianos
e os europeus, numa espécie de quebra de braço, nas inevitáveis competitividades
mundanas, nesta guerra entre humano e animal, na luz do Conhecimento
sobrepondo-se aos mistérios selvagens. É a virilidade elegante, fazendo do
toureiro um astro, ganhando uma chuva de flores, na glória mundana que arremeda
a glória metafísica.
Acima, Juanito
Laguna Remontando un Barrilete.
A bela pandorga é a alegria de viver, numa doce brincadeira de criança, num
momento de lazer, no qual a pessoa deixa para lá as exigências do Mundo e
desliga-se de tal sisudez, mesmo que só por uns instantes, evitando o trabalho
excessivo, pois como posso contemplar o trabalho de outrem se estou o tempo
todo trabalhando? Ouvimos aqui a barulheira de crianças no pátio de uma escola
durante o recreio ou a saída, e podemos sentir aqui, no rosto, a doce brisa de
um dia agradável, primaveril, nem muito quente, nem muito frio, imitando as
temperaturas maravilhosas do Plano Metafísico. Fundo no quadro, até a nuvem
parece se divertir, dançando no Céu, curvilínea, como uma serpente se
contorcendo em cio, como um gigantesco marshmallow, como gigantesco monstro de
marshmallow Stay Puft, no filme Os
Caçafantasmas, no certo modo como o Cinema marcou o Século XX. Aqui, é a
delícia do ar livre, numa criança saudável, que sai de casa para fazer alguma
atividade ao ar livre, como praticar um esporte ou, como aqui, brincar com
pipas e pandorgas. O fiozinho mínimo que liga o menino à pandorga é o controle,
o juízo adulto, numa pessoa que sabe que não pode viver simplesmente ao sabor
do vento, como uma pessoa que teve uma encarnação improdutiva, desencarnando e deparando-se
com o fato de que, sempre, temos que fazer algum tipo de trabalho. A pandorga é
um sonho, um ideal, um lindo sonho colorido, no modo como a Terra é um lugar
onde tantos sonhos são frustrados todos os dias, no modo como a pessoa tem que
se proteger de tais frustrações, pois estas são doloridas. Aqui, o fiozinho
mínimo é o suficiente para tal controle emocional, no termo fioterra, usado por
uma psicóloga com a qual consultei, a qual me disse que, de fato, não podemos
ficar vivendo ao belo prazer do vento, pois a Vida exige seriedade e juízo, num
encadeamento dialético de processos: O crescimento natural no menino se
tornando adulto e, junto a isso, o espírito aprendendo lições encarnatórias, e,
com outro processo que é, por exemplo, cursar uma faculdade, num processo
triplo aqui. A camisa azul do menino entra em harmonia com o Céu, como na
recente campanha para incentivar moças a se inscrever ao concurso de Rainha da
Festa da Uva de Caxias, com uma menininha olhando para o Céu, contemplando o
trio de soberanas, nos inocentes sonhos de infância, como um menino querendo
ter a superforça de seu super herói favorito. Neste quadro, temos uma cisão,
pois um caudaloso rio corta o terreno, dividindo tudo entre antes e depois, no
termo “divisor de águas”, como num Jesus Cristo, dividindo a História em duas. A água é algo
marcante, numa experiência que faz com que a pessoa busque um modo de completar
tais lacunas, como uma pessoa cuja vida foi empobrecendo ao ponto desta pessoa beijar
o fundo do poço, tendo que empreender um esforço gigantesco para devolver a
estabilidade à própria vida, como no termo de uma personagem espírita de
Vanessa Redgrave: “Colocar sua própria vida em ordem”. Neste quadro, temos uma
alegria, como numa colorida colcha de retalhos, na alegria de uma mesa de festa
de criança, cheia de doces e delícias. É como na recente moda dos programas de
culinária de Rita Lobo no canal GNT, com as cerâmicas misturadas, coloridas,
diversificadas e divertidas, evitando a monótona sisudez monocromática;
evitando o óbvio. Aqui, temos uma colorida favela, numa classe social em que a
pessoa se contenta com o pouco que tem, podendo, assim, viver em Paz. O chão aqui tem até um
aspecto de depósito de lixo, no triste fato de que muitos brasileiros não têm
acesso a água encanada nem a esgoto apropriado. São os lixos inevitáveis da
Vida em Sociedade, nas vicissitudes materiais, numa demanda urbana que desafia
o governante a decidir o que fazer com tanto lixo, havendo na Dimensão Metafísica
a desnecessidade de esgoto ou água encanada, pois, lá, é imaterial, havendo na
Matéria uma grande ilusão, como na ilusão da Morte, a qual parece, aos da
Terra, um fim horroroso, quando que a Morte é, na verdade, uma libertação
gloriosa.
Acima, Juanito
Pescando entre Latas. A
imagem remete à vinheta do estúdio hollywoodiano Dreamworks, com um menininho
pescando solitário num plácido lago, no famoso termo: “Está nervoso? Vá
pescar”. Tenho lembrança de Infância, quando pesquei com minha família lambaris
num açude, torrando depois as pescas como aperitivo. Aqui, é um trabalho de
paciência, silencioso, pois qualquer perturbação pode espantar os espertos
peixes, sempre fugidios, sempre se esquivando espertamente de predadores, no
termo “sabonete”, para caracterizar pessoas assim fugidias, um tanto ariscas,
que não permitem muito a proximidade. O Céu e o lago aqui são de um majestoso
entardecer, banhando tudo de sangue, talvez numa cena de batalha, com sangue e
cadáveres por todos os lados, neste inabalável talento humano em colocar irmão matando
irmão, como Caim e Abel, ou como o personagem Gollum, de Tolkien, personagem
que assassinou o próprio amigo para ficar com o infame Anel. O vermelho é o
sangue metafísico que nos une, como uma Internet intergaláctica, num Ser Humano
que olha para os misteriosos confins negros do Universo e pergunta-se o que há
depois, e depois, e depois, no enigma da Eternidade, como um amigo dando um
nobre presente de aniversário, um presente que durará para sempre. Aqui, temos
as sujeiras e as imperfeições, como vi ontem uma batida policial em uma cracolândia
em Caxias do Sul, algo me envergonhando um pouco, pois no carro comigo havia a
sogra baiana de meu sobrinho, com tal mulher vendo as feiúras indisfarçáveis em
uma cidade tão desenvolvida como Caxias do Sul. O lixo é a desnecessidade, como
nas caóticas casas de acumuladores compulsivos, pessoas que “compram” a ilusão
da Matéria, construindo obsessão em colecionar mais e mais objetos inúteis ou
insalubres, como uma pessoa que conheci, a qual morou em Londres e passava os
dias de sua vida fuçando no lixo seco de vizinhança, trazendo simples
tranqueiras para casa, numa pessoa que praticamente se enterra viva, como no
impactante documentário de Eduardo Coutinho, inclusive que Deus o tenha,
mostrando famílias que simplesmente moravam dentro de um lixão no Rio de
Janeiro, nos cruéis abismos sociais brasileiros, havendo, a nível metafísico, a
total ausência de tais diferenças, num plano onde somos todos príncipes filhos
do mesmo Rei, que é Tao, o majestoso tapete vermelho sobre o qual nos
debruçamos, na inacreditável vida plácida que nos aguarda após nosso “passeio”
pela Terra – aguenta aí, rapaz! A Caça e Pesca são universais, como, por
exemplo, índios amazônicos pescando na selva, na universal divisão de tarefas
entre homens e mulheres, no homem que tem a incumbência, a responsabilidade de
trazer algo ao fim do dia na tribo. O menino aqui é um sonhador, no modo como
qualquer artista é um sonhador, querendo se fazer compreendido e valorizado em
um mundo tão duro e difícil como o nosso, um mundo por vezes desprezando
artista bons, como artistas que só são devidamente valorizados após a Morte,
numa espécie de vingança póstuma, como num Jesus Cristo, o qual, em vida, foi
absolutamente subestimado. O lixo aqui se amontoa em montanhas de desnecessidades,
algo muito longe de Tao, que é limpo, essencial, perfumando, puro e nítido, na
beleza das salas metafísicas, tão finas, tão agradáveis, tão pertinentes em sua
delicadeza de um anfitrião fino e acolhedor. O Lixo é a inevitável vicissitude
material, nos percalços encarnatórios, portas fechadas que acabam por guiar e
beneficiar aquele que se frustra perante tal porta fechada, como uma pessoa que
fechou uma porta em minha cara, uma porta fechada que acabou me ajudando – não
tema a Desilusão, pois esta é positiva. Aqui é como um indisciplinado morador
de Rua, coberto de lixo, numa vida em que a pessoa foge da Vida em Sociedade, rechaçando
normas como produzir e até normas tão básicas e construtivas como tomar banho.
Talvez temos aqui um Antonio Berni querendo denunciar tal miséria.
Acima, Ramona
Bataclana. As prostitutas
dançarinas maravilhosas de Toulouse Lautrec, fazendo da Boemia tal inspiração.
A prosti aqui está lépida e faceira, arregaçando-se ao máximo para trazer um
pouco de alegria e diversão aos rapazes, fazendo do Sexo um leilão, no gostoso
pecadinho da Luxúria. O fundo é de um rico dourado, num momento de euforia no
qual a quenga, no palco, torna-se o centro do Universo, como Nicole Kidman em Moulin
Rouge, uma prostituta que sonhava em ser uma atriz séria
e respeitada, para construir uma carreira e ser o que ela no fundo era de fato
– uma artista. Podemos ouvir o som do Cancan, nas mulheres fazendo exatamente
aquilo que as mulheres ditas sérias jamais fariam, fazendo com que os homens
vejam a mulher somente de duas formas – ou vulgar ou santa, como num videoclipe
de Peter Gabriel, no qual um homem impõe esta regra a uma mulher, e esta veste
jeans e camiseta e manda o homem para aquele lugar, numa mensagem feminista, na
qual a mulher tem que ser totalmente livre de tais estereótipos, não sendo dama
nem vagabunda, mas sendo uma pessoa simplesmente. Esta prosti de Berni é
opulenta, farta, abundante, no fato de que o maior sex symbol e todos os tempos, Marilyn Monroe, não era sequíssima
como as supermodelos atuais, mas uma mulher que, apesar de não ser gorda, não
era semianoréxica, e tinha um corpo delicioso, farto, suculento. Aqui, duas
flores em forma de mandala formam os seios da mulher, e parecem girar como
pneus, na capacidade que (poucas) pessoas têm em brilhar, tornando-se símbolo
de algo rítmico, aquoso, belo, maravilhoso, no fato de que não há livro ou
faculdade que ensine alguém a brilhar, apesar do livro de Tao dar bons
conselhos neste sentido, num caminho que tem que ser instintivamente aprendido
por cada pessoa, num mundo que exige que sejamos autodidatas. A saia da prosti
tem vários babados luxuosos. É como uma personagem prosti de Natalie Portman,
quando esta garota de programa, achando arrogantemente que podia todo, foi tolhida,
ficando mais humilde. É como a prosti de Julia Roberts, num homem amoroso que
decide tirá-la da vida nas ruas, num conto contemporâneo de Cinderela, na
miraculosa transformação de diabinha em santinha, como no poderosíssimo mito de
Nossa Senhora, o mito que pretende dar ao Ser Humano uma ideia da Dimensão
Metafísica, a dimensão que realmente importa. Este quadro tem uma identidade
bem feminina, como motivos femininos, divertidos, um tanto complexos e
enigmáticos, numa tortuosidade, como na vilã Hera Venenosa de Uma Thurman, uma
deusa botânica que gera magicamente plantas e flores, no fascínio que o
Feminino exerce sobre o Masculino, num jogo de sedução, como George Clooney e
Catherine Zeta-Jones em O
Amor Custa Caro, num jogo traiçoeiro de sedução,
quase como uma negociação, como na trincada negociação entre Madonna e Marília
Gabriela para esta entrevistar a diva pop, como se ali estivesse sendo
entrevistado São Miguel Arcanjo. Os olhos desta prosti têm um tanto de Picasso,
com olhos arregalados, mortificados, em formato de peixe, na liberdade aquosa
do peixe, sempre se esquivando espertamente, sempre fugindo sabiamente de
predadores, de pescadores. A prosti tem um complexo adorno sobre a cabeça, como
uma coroa, num mundo belo repleto de pessoas boas, um mundo no qual realmente
podemos caminhar pela Rua sem medo de assaltos. A prosti fica aqui numa pose praticamente
ginecológica, como certa vez num programa de TV no qual uma prosti abria o
próprio canal vaginal com um instrumento e permitia que as pessoas, munidas de
uma lanterna, vissem o fundo vermelho de seu útero, com a prosti dizendo: “Não
tenham medo – é daqui que todos viemos”. Aqui é o sexy, como nas modas
avassaladoras que varrem o Globo, com mulheres ensandecidas aderindo a tais modas,
a tais vogues, a tais ondas de estilo, no modo como a Moda é um corpo dinâmico,
pois apesar de clássicos como um tailleur Chanel, o novo sempre vem. Esta
divertida pose é vulgar demais para uma revista criteriosa e de bom gosto, que
é a Playboy brasileira, no desafio de ser sensual sem ser sexual.
Acima, Ramona
y La Adivin. Berni gosta de mulheres “oferecidas”, com saias bem
justas, na frase hilária: “Deus é justo, mas a sua saia!”. A mulher de carnal
rosa está com a própria carne exposta, mostrada, numa mulher que topa em ser
uma mera amante, uma esposa número dois, relacionando-se com um homem de vida
dupla, o qual não respeita integralmente nem a esposa, nem a amante – seja uno
e tenha uma vida só, rapaz! Aqui, é um serviço de cartomante, como uma grande
amiga minha que, há décadas, leu para mim as cartas de Tarô, uma conversa na
qual esta amiga previu o que de fato ocorreu, numa conversa da qual jamais
esquecerei. Aqui, a velha bruxa presta esse serviço de previsão, como a moça do
Tempo, fazendo a previsão para os próximos dias. A idosa é a sabedoria da
experiência de Vida, como um preto velho, quietinho no seu canto, só
observando, vendo os egos ascendendo e descendendo, no baile de vaidades que é
o Mundo, num Ser Humano querendo ser Tao – a arrogância precede a queda. As
vestes da cartomante e o cabelo da moça são bem negros e densos, imprevisíveis,
no fato de que só se pode prever o futuro de uma pessoa com a qual temos
intimidade, familiaridade, no modo como um estranho só pode nos dar informações
generalizadas e vagas – nada como a intimidade. A bola de cristal aqui é rubra
como a maçã do Éden, como a maçã que quase matou Branca de Neve, talvez havendo
aqui a bruxa que quis dar cabo da vida de Branca, tudo por inveja, por ego, na
eterna inclinação humana em colocar o próprio ego no centro de tudo. Vemos uma
gigantesca mão aberta, com símbolos ocultos, com várias cores, como no Guia de
Estudante, dando ao vestibulando várias opções de carreira. A mão é o Ser
Humano, a Humanidade, a Inteligência que tanto nos difere do restante dos
animais na Terra, fazendo da Arte um dos maiores exemplos de noções
intelectuais e civilizatórias; fazendo da Arte muito essencial, e jamais
supérflua. Mais à direita no quadro, uma carta que mostra o Diabo, talvez
aludindo à “diabinha” vulgar que é a moça aqui. O Diabo, é claro, é a Malícia, no
modo como tal Malícia parece ser sabedoria e clarividência quando é, na
verdade, uma cegueira, que impede que a pessoa veja o Mundo com saudável
clareza. É muito desinteressante a pessoa que se presta a fazer fofocas, pois
estas estão muito, muito longe de ser algo produtivo, proveitoso e virtuoso, e
não é um inferno a vida de uma pessoa improdutiva? A carta aqui sela um
destino, que é a danação da Matéria, sendo complicado o desencarne de uma
pessoa materialmente apegada, como dedos que não querem se desapegar de seus
anéis, anéis estes que ficam no Mundo, havendo tal bloqueio na entrada na
Dimensão Metafísica – é como um raio x de aeroporto, no qual não podemos passar
com vidros, metais pontiagudos etc., fazendo aqui uma metáfora. O Diabo é a
obsessão com o Material, num espírito mundano que não consegue entender Tao,
caçoando deste, numa pessoa que caçoa de pessoas moralmente evoluídas – o
indivíduo mundano, quando ouve sobre Tao, ri como um idiota. A moça aqui, além
de vestes indiscretas, tem maquiagem exagerada, talvez num excesso, como na
frase em propaganda de bebidas alcoólicas: “Aprecie com moderação”, pois
cavalgar por campos é delicioso, mas enlouquece quem cavalga demais. Aqui,
temos Juventude e Velhice, ou seja, talvez vemos aqui a mesma pessoa, só que em
fases diferentes da Vida. Vemos Presente e Futuro, na sabedoria que uma pessoa
idosa tem, como no formidável Papa Francisco, o qual, ao ser indagado sobre os
homossexuais, disse: “Quem sou eu para condenar os homossexuais?”. É o caminho
humilde de Tao, o produtivo, o antimalicioso. A beleza da prosti aqui é como a
exigência de um faraó solicitando mulheres para seu harém: “Que sejam belas e
imaculadas”. Aqui, com duas pessoas estranhas uma para a outra, as informações
são imprecisas, no modo como eu, apesar de não ser adepto de Astrologia,
Horóscopo e Mapa Astral, considero divertido isso tudo.
Referências
bibliográficas:
Antonio Berni. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>.
Acesso em: 1 jul. 2020.
Antonio Berni. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso em: 1 jul. 2020.
Antonio Berni. Disponível em: <www.wikiart.org>.
Acesso em: 1 jul. 2020.
Antonio Berni Obras. Disponível em: <www.google.com>. Acesso
em: 1 jul. 2020.