quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Andanças de Andrew (Parte 4 de 4)

 

 

 Falo pela última vez sobre o pintor realista americano Andrew Wyeth. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Cabelo da donzela. Aqui temos uma perspectiva renascentista, a qual quebrou com a tradicional Arte Gótica, no inevitável modo como as novidades sempre vêm. Aqui é um templo vazio, fora do horário de culto, numa pessoa que quer simplesmente orar em saudável momento de solidão, num saudável retiro, nas palavras de Barbra: “Na maior parte do tempo, quero deitar sob uma árvore e nada fazer!”. Podemos sentir o odor de igreja, num odor de madeira antiga, remetendo-me a um certo hotel salvadorenho, construído a partir de um monastério, no modo como Salvador é um deleite para quem estuda História do Brasil, com sua vastidão de templos católicos, no modo como a religião tem tal papel de acompanhamento psicológico, ao contrário de Marx, que desdenhava das religiões, na frieza soviética ateia. A moça aqui é pudica, de família, discreta, e seu disciplinado vestido está abotoado até o pescoço, talvez numa família bem tradicional, no grande machismo patriarcal, numa menina que, ao nascer, faz com que o próprio pai pense: “Esta vou guardar debaixo de sete chaves e entregar pura e casta ao marido na Igreja!”, ao contrário da sexualidade masculina, a qual é amplamente estimulada, na simplicidade de uma família de realeza: Mulher é fêmea e homem é varão, e tudo que se desviar disso é heresia grave, ou seja, uma pessoa que permite que o Mundo a diga como deve viver – é um horror. A moça está triste e cabisbaixa – é a melancolia, numa pessoa depressiva que sentiu, na carne, todos os cruéis sintomas de Depressão, esta doença que faz com que a pessoa perca totalmente o desejo e o tesão de viver, numa pessoa que não vê lógica na Vida, num esvaziamento existencial profundo, como um surfista que perdeu a vontade de surfar, numa pessoa que encara um ENORME esforço de reerguimento e reconstrução, nas palavras de uma certa canção de Jazz: “Você pode estar farto de tudo isso, mas você será um homem, meu filho!”. É levar um tombo, sacudir a poeira e tocar a Vida para frente. A moça usa uma coroa de flores, num símbolo de feminilidade, como as coroas de flores na cabeça de Cicciolina, a atriz pornô italiana que, com muita coragem e altivez, enveredou para a Política, como um senhor que conheci, o qual se desiludiu com a carreira de ator e acabou se tornando advogado, no modo como todos temos o direito de sonhar com uma vida melhor, como no ator Reagan se tornando presidente, ou um despretensioso FHC enveredando para a Política. A coroa aqui é a disciplina, pois é apertada, como num cruel espartilho, na crueldade dos padrões de beleza feminina, nos quais só é considerada sexy uma mulher semianoréxica, como os ossos das costelas evidentes no peito, logo acima dos seios. Aqui é como uma dama de honra num casamento, numa mulher que ainda não casou, sonhando com o momento de subir ao púlpito toda de branco, nas palavras de um senhor que conheci: “Mulher que mesmo é casar. Se puder conciliar com carreira e filhos, melhor. Do contrário, está casada!”, no modo como é desinteressante uma pessoa cuja vida gira em torno da vida de outra pessoa – todos temos que ter “autonomia de voo”, no caminho assexuado espírita, pois somos todos filhos do mesmo Rei. A porta ao fundo está entreaberta, convidativa, num agregamento comunitário, como no filme Mudança de Hábito, com um formidável coro de freiras atraindo os fiéis ao templo, no modo com a igreja de Macedo tantos fiéis “rouba” do Vaticano. A luz aqui, que entra no templo, é a iluminação e o esclarecimento, como numa pessoa chegando a uma conclusão, na resolução de um mistério, ou numa questão sendo resolvida, como uma amiga falecida minha, a qual, em vida, perdeu brutalmente sua própria neta, e aquela desencarnou e se reencontrou com a neta, e este “filme de terror” chegou ao fim! A moça aqui é humildade, fazendo um pedido, talvez num momento de complicada travessia por um “rio”, temendo perecer no decorrer do caminho e se afogar em tal fossa depressiva. A moça quer saber seu lugar no Mundo, como um amigo padre meu, o qual enveredou para a religião para saber qual é seu lugar no Mundo, neste grande desafio da pessoa saber quem ela própria é.

 


Acima, Castanhas assadas. Wyeth adora trilhas e estradas pela terra e lama, vias toscas, simples e acolhedoras, na simplicidade do rústico, como os rústicos CTGs, os centros de tradições gaúchas, focando no que importa, que é a beleza das terras gaúchas, numa explosão de flores de hortênsia no Verão, numa beleza exuberante que nos faz lamentar pelo fato de que tal floração não dura o ano todo. Aqui é uma beira de estrada, talvez em alguém perdido e desnorteado, no modo como só um grande amigo sabe olhar para dentro de nós e saber pelo que passamos existencialmente, num grau de proximidade e intimidade, ao ponto de ser possível falar em telepatia com tal amigo, sem precisarmos proferir uma só palavra. Aqui é uma pobreza, numa vida dura, como na vida dura de catador de lixo seco, ou na dura vida de gari, passando os dias de sua vida varrendo, para cima e para baixo, as ruas de uma cidade, e, ainda por cima, dar graças a Deus por ter um emprego. Aqui remete aos vendedores de pinhão nas beiras das estradas em Gramado, numa pessoa que não sabe se, ao final do dia, trará algum dinheiro para casa, talvez na enorme responsabilidade de sustentar uma família. Nestas gélidas cenas de Wyeht, o qual é um fã do Inverno, o fogo aqui é tal consolo de calor, numa lareira num dia frio e úmido, com a função de secar uma casa, no duro trabalho de lenhador, empreendendo tamanha força ao cortar lenha, como um certo cortador de cocos verdes, o qual parecia dizer a si mesmo: “Eu deveria ter estudado para ser médico!”, no modo como a infelicidade é tão presente no Ser Humano, numa insatisfação eterna: Se estou na cidade, quero ir ao campo; se no campo, à cidade. É o modo como a pessoa tem que ouvir à mente e não ao traiçoeiro coração, o qual nos pregará peças eternamente, no crescimento e na aquisição de juízo e siso. Aqui é uma venda frustrada, pois a estrada nada tem de movimento, num silêncio mortal, talvez quebrado por algumas corajosas aves invernais. O fogo aqui é o contentamento num dia tão frio, nos versos de uma certa canção pop: “Dias chuvosos e segundas feiras sempre me deixam triste!”. O rapaz aqui é bem magro e esguio, no sonho de emagrecimento de tantas pessoas obesas, como uma amiga obesa que tenho, a qual, no Mundo Metafísico, ou seja, no Mundo Real, é magra, formosa e bela, no modo da pessoa saber transcender e conectar-se com o metafísico, como uma certa professora que tive, a qual, apesar de obesa, tinha uma inteligência ágil e arrebatadora – de que adiante ser uma gostosona que é vazia, burra, obtusa e desinteressante? É o modo como pode ser tão desinteressante uma pessoa que é apenas um pedaço de carne. Este quadro é a esperança, numa pessoa em brava persistência, como uma Gisele, a qual, antes do estrelato, ao pensar em largar a carreira, “ouvia” uma voz que lhe dizia: “Não desista!”. É a questão do potencial, o qual se cumpre se sob persistência. A vegetação aqui é desolada, pobre, invernal, hibernando para romper em Vida na Primavera, a estação que nos traz o florescimento da esperança de renascimento, na renovação da Vida, nesta obra prima de Tao que são as flores, provas da beleza de concepção da Suprema Inteligência que nos tem como filhos amados, prezados e valorizados, no caminho de um órfão em saber qual é o seu lugar no Mundo. Talvez a magreza do rapaz seja uma certa privação, talvez numa pessoa subnutrida, numa vida muito dura, num espírito que decide corajosamente reencarnar numa vida absolutamente pobre e dura, nas vicissitudes que tanto crescimento espiritual trazem, como numa grande universidade, na qual temos que ser autodidatas, nas palavras de Tao: “As pessoas têm que aprender por si mesmas a lição da simplicidade”, ou seja, a lição da limpeza comportamental, minimalista, limpa, elegante, impecável, sempre dispensando o dispensável, como no perfume metafísico de Chico Xavier, sendo brasileiro o maior médium de todos os tempos. Aqui é uma paciência e uma espera, como se soubesse que a persistência será recompensada. É uma vicissitude sendo enfrentada.

 


Acima, Dr. Pecado. Aqui é a finitude, a danação, na danação da carne frente à eternidade do espírito, fazendo da Terra tal lar de passagem, numa prisão a qual, certamente, não é perpétua, no prisioneiro contando os dias para a tão desejada soltura, como uma pessoa viciada num submundo, odiando este mas se sentindo presa a este, numa relação de amor e ódio. O casaco do esqueleto é o garbo, como um mendigo que vi certa vez na Rua, um mendigo que caminhava com tal elegância como se estivesse vestindo uma roupa cara de grife, tendo mais porte e elegância do que muitas pessoas mais endinheiradas do que ele, no fato de que elegância e porte vêm de dentro, no modo como quem já reinou jamais perde a majestade. O esqueleto é o prazo de validade chegando, no redentor final de O Senhor dos Anéis, com navios nos levando a uma dourada aurora de beleza e vida, num mundo doce para quem gosta de se manter ativo e produtivo, pois mesmo Tao é tal trabalhador, sempre criando e inventando em Sua perfeição que nos deixa perplexos, na grande invenção que é o planeta Terra, uma esfera tão autossustentável, o nosso único lar de encarnados – a Humanidade encarnada não tem outro lugar para ir, portanto, temos que cuidar de nosso planetinha, o qual é tão único em frente a esferas tão mortas quanto Marte. O piso em xadrez é a ludicidade, em doces memórias de infância, nas brincadeiras com os amigos, numa grande amiga minha que me disse: “Éramos felizes e sabíamos!”, como no redentor último dia de aula, na hora das férias e do merecido descanso, num necessário desligamento, numa pausa, ao contrário de uma pessoa workaholic que conheci, a qual só trabalhava e não vivia, como outro senhor que conheço, o qual não para de trabalhar mesmo em momento de jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo – descanse um pouco, rapaz, pois és humano! Na cena vemos um canhão, que é tal raiva belicosa, em baixas em ambos os lados do tabuleiro, no eterno talento de Caim matando seu próprio irmão, e é claro que Tao não gosta das guerras, esses horríveis momentos em que definitivamente esquecemos de que somos todos príncipes, filhos do mesmo Rei, na grande rede que a todos conecta, no tesouro supremo que é a Grande Família Estelar, na qual somos todos infinitamente especiais e únicos! O formato do canhão, claro, é o falo, na competição para ver quem tem o pau maior, com o perdão do termo chulo, no malévolo talento do sociopata em semear o ódio e a desavença, querendo desunir as pessoas, num sociopata que não ama nem os próprios netos – é um horror. Podemos ouvir aqui os impiedosos tiros de canhão, na virilidade de uma Elizabeth I em desafiar a então toda poderosa Espanha, numa época em que nem esta ousava enfrentar o Vaticano, o qual era tudo na Idade Média, com tanta cultura e erudição nos monastérios, no fascinante filme O Nome da Rosa, numa época em que a democratização do conhecimento era evitadíssima, ao contrário dos dias de hoje, nos quais todos temos que ter acesso a tal erudição e conhecimento, ao contrário do Antigo Egito, no qual a escrita só era acessível às elites e sacerdotes. Aqui é uma cabine de navio, no vaivém das ondas, no delicioso útero materno, no trauma que é sair de tal ambiente aprazível para encarar a dolorosa frieza do Mundo, num choro de desespero, em contraste com a celebração que é uma vida chegando a tal Mundo. Aqui é como o comandante do Titanic naufragando junto com o navio, na fragilidade da Vida Humana perante às intempéries do Plano Material, no qual temos que nos esforçar para nos parecermos ao máximo com o Plano Superior, onde somos todos jovens, saudáveis, felizes e produtivos. O esqueleto remete ao vilão Esqueleto, no qual há a metáfora da degradação imoral de um espírito mundano e ambicioso, cruel, belicoso, como num insano Putin, gerando protesto anti Putin ao redor do Mundo inteiro. O esqueleto aqui é uma pessoa que esperou demais, no modo como o sonho tem que se encontrar com a realização, numa pessoa tomando ação e fazendo algo válido e real de sua vida.

 


Acima, Grandes rochedos. Aqui um soldado solitário, como em O Regresso, num DiCaprio que se esforçou ao MÁXIMO para arrebatar um Oscar por tal papel, no auge do rigoroso Inverno norteamericano, num ator que tão visceralmente encarnou em tal papel, na dureza de Hollywood, num Leo que só ganhou o troféu após duas indicações que nenhum prêmio renderam. Aqui é o acalento de uma fogueira, remetendo ao churrasco raiz gaúcho, com os espetos cravado na terra, na carne assando no fogo de chão, no modo como o Churrasco, ou o Churras, ganhou a preferência do brasileiro, na universalidade da Gastronomia, no modo como o Sushi tomou o Mundo. Aqui é a paixão de Wyeth pelas paisagens invernais, no auge de tal frio, num esforço de sobrevivência, como baratas sobrevivendo a hecatombes nucleares, como num artista de longa carreira, conseguindo sobreviver ao próprio sucesso, no modo como o sucesso pode ser algo tão complicado: Quando ele não vem, é frustrante e desanimador; quando vem, torna-se um problema, como num Michael Jackson querendo sobreviver ao momento áureo do álbum icônico Thriller, ou num Macauly Culckin tentando sobreviver a Esqueceram de Mim, pois se você quiser saber o que alguém tem na cabeça, dê a esta pessoa um pouco de sucesso, pois se assim tudo sobe à cabeça de tal pessoa, sabemos da fraqueza desta perante o Anel do Poder de Tolkien, no desejo mundano de se ganhar na Loteria, na máxima espírita: Você não faz ideia a que estado são reduzidos aqui – no Plano Metafísico – os que são considerados felizes na Terra, ou seja, os ricos, numa vida tão rica e tão pobre, no vazio desolador de uma pessoa improdutiva. Aqui as árvores estão nuas e hibernando, áridas, mortas, pobres, sem frutos, sem vida, num quadro tão depressivo, no qual o depressivo se vê num lugar tão pobre e inóspito, longe de um Éden doce e frutífero, na sensação do Umbral, o plano daqueles que não amam a Vida nem amam Tao, o qual é a razão de estarmos todos aqui. O soldado aqui está perdido, desnorteado, tentando arranjar algum consolo na fogueira, como num náufrago numa ilha deserta, tendo que sobreviver, no modo como a Vida é tal luta de sobrevivência, como em tribos indígenas, nas quais não falta o labor universal: as mulheres fazem coleta e cuidam dos filhos; os homens caçam e pescam. É a universalidade da divisão de tarefas entre os sexos, na dona de casa que é prisioneira do próprio lar, numa vida dura para manter uma casa limpa e organizada, lavando as cuecas do marido, como uma pessoa a qual subestimei, uma pessoa que eu julgava ser uma dondoca e dona de casa de luxo, uma pessoa que conseguiu se eleger vereadora numa Porto Alegre na qual MUITOS pleiteiam o mesmo cargo na Câmara de Vereadores. Aqui remete à chuva e à desolação do filmão Ilha do Medo, num filme cujo desenrolar vai esclarecendo os fatos, até o espectador perceber a loucura do personagem de DiCaprio. Aqui é a luta pela Vida e pela sobrevivência, como na duríssima vida de imigrante italiano na Serra Gaúcha, recebendo um lote devoluto, virgem e selvagem, num colono que encarou uma vida tão dura e tão heróica, nas palavras de uma intelectual caxiense: “Nós devemos tudo ao colono!”, no modo como tenho orgulho do casarão de pedra em Flores da Cunha construído por meu tataravô colono, num caminho de identidade comunitária e regional, em gênios como o cartunista Carlos Iotti, trazendo o personagem Radicci, o qual representa tais raízes e tais características do senso comum do descendente de colono. Aqui é o modo xucro de se assar pinhões, direto no fogo, no cheiro de queimado numa mata, no prazer de atividades rurais, tão longe da vida urbana, da selva de pedra, no “abismo” que existe entre as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Aqui a fumaça sobe como espíritos evocados pela crença pagã indígena americana, no interessante como as populações indígenas existiram em todos os cantos das Américas, entrando em choque com o cruel homem europeu, o qual foi obcecado em escravizar brutalmente tais populações indígenas – é um horror.

 


Acima, Rugido do recife. Podemos ouvir o furioso som das ondas, quebrando, numa Natureza que nunca cessa, sempre lutando para viver. Aqui é tal força, como num artista que causa comoções, sendo reconhecido e respeitado devidamente, ao contrário de um reconhecimento póstumo, quando o artista não está mais no Mundo para desfrutar de tal glória. Aqui são borrões incertos, querendo retratar as ondas da forma mais realista possível, talvez aqui com um pé no Impressionismo, em pinceladas fortes e apaixonadas. Aqui são civilizações projetando deuses em tais forças naturais, na tentativa humana de compreender o que nos cerca, encontrando divindades em animais, como no Antigo Egito, com um panteão rico de deuses com corpo humano e cabeça de animal, como crocodilos, escaravelhos, gatos etc., no marco da Revolução Científica, quando a Humanidade se desprendeu de superstições tolas, compreendendo que a Peste Negra, por exemplo, foi causada pela insalubridade do modo europeu de vida, numa época medieval em que se acreditava que tal peste era um empreendimento de ira divina, num Deus descontente com seus filhos, muito longe da concepção de Cristo, na qual Deus é amor eterno e incondicional, como na “cola” que mantém uma família unida numa noite de Natal. Aqui as águas borbulham, num olor libertador de Mar, de origem, da Mãe Primordial que trouxe a Vida à Terra, na sede humana em encontrar Vida fora da Terra, numa Humanidade ainda tão infante e inexperiente. Aqui é o modo como as ondas na beiramar existem com ou sem nós, borbulhando não só em dias de Verão, mas no restante frio do ano, sempre respirando, indo e vindo, ignorando os modos de civilização, numa força tão cíclica, como nas estações do ano; como na hibernação de ursos, acordando famintos, loucos por um belo salmão, na luta pela Vida, uma luta que permanece tanto no Neolítico quanto nos dias de hoje, na lida diária para se trazer o pão para casa, nas palavras de uma pessoa cuja inteligência respeito: “A Vida é dura e difícil em qualquer lugar”. Aqui é o talento de Wyeth, num quadro dinâmico, cheio de movimento, numa Elis Regina furiosa com o adultério do próprio marido, na diva jogando no Mar a coleção de vinis raros do homem, numa pessoa que mereceu o apelido de “Pimentinha da MPB”, na época em que tal gênero se solidificou, fazendo com que a morte da artista “virasse o Brasil de cabeça para abaixo”, nessas pessoas que adquirem tal efeito apolíneo de genialidade e carisma, no modo como as pessoas são únicas, pois nunca veremos outra Elis, no modo como os grandes artistas são insubstituíveis, como num genial David Bowie, numa explosão de estilo, num astro que sabia a importância da aparência de um artista ao fazer um clipe ou pisar no palco, pegando de exemplo uma Celine Dion: Voz excelente; estilo, nem tanto. Foi como o boom de estilo inovador dos anos 1980, em artistas icônicos que tanto marcaram tal época, mas com artistas o quais não sobreviveram a tal década, numa incapacidade de virar as páginas e encarar novos desafios na carreira. Aqui neste quadro é como o Big Bang, a teoria mais aceita pelos cientistas, mas o que havia antes? É o enigma de Tao – sempre existiu e sempre existirá, nas palavras de Kardec: “Deus é o infinito”, e o artista almeja imitar tal infinito, em obras de Arte clássicas que atravessam os tempos, como na obra de um Michelangelo, causando perplexidade até os dias de hoje, nesses talentos de esmagadora grandiosidade, deslumbrantes como numa Gisele, “devorando” as lentes, numa Gisele pés no chão, a qual sabe que precisa continuar trabalhando se quiser “se manter em pé”. Aqui o branco é como açúcar polvilhado, num efeito de beleza de neve, este fenômeno que tantos turistas traz à Serra Gaúcha, como numa operadora de caixa de supermercado que conheci recentemente, uma pessoa que vem do extremo Norte do Brasil, com eu perguntando a ela como ela se adaptou ao frio, e ela disse: “É muito frio!”. Aqui é uma explosão de orgasmo, no continuum universal do Cosmos, numa grande “Internet” que faz com que todos estejamos conectados, filhos do mesmo Rei.

 


Acima, Vento de abril. Aqui é um empecilho, um obstáculo, como numa pessoa com problemas com drogas, como uma pessoa que conheci, a qual, por ter tido tanta reincidência na Cocaína, está condenada a “prisão perpétua”, tendo que passar o resto de seus dias numa clínica psiquiátrica, impedida de trabalhar, realizar-se, namorar, ter patrimônio, ter família, ter férias, passear num parque ou ir a um café – é um horror, no modo como a droga pode se tornar tão horrível na vida de uma pessoa. Aqui é um momento de crise, no qual temos que ponderar e descobrir como sair disso, no modo como as crises são positivas, pois elas assinalam um momento de renovação da vida da pessoa, numa pessoa que tem que aprender a se reinventar, como no genial Jô Soares, o qual surpreendeu a todos as se tornar tal monstro entrevistador – se sou subestimado, posso agir. Aqui parece o fim de uma estrada, nos verso com Elis: “É pau, é pedra, é o fim do caminho”, nos versos de Drummond, no famoso poema da pedra no meio do caminho. Aqui um vento frio corta os campos, talvez na região dos pampas, num vento tão duro e inclemente, testando nossa capacidade de tolerância, nas vicissitudes que vão se revelando uma ajuda e não uma atrapalhada. Aqui é uma vírgula, como num desencarne, na pessoa que observa que a mente sobrevive à morte do corpo, numa continuidade, num retorno ao Grande Lar, onde temos a certeza de estarmos cercados de amigos, ao contrário da Terra, tão cheia de sociopatas sádicos e tão cheia de infelizes masoquistas, que se deixam manipular. Aqui é um momento em que a pessoa tem que saber qual ação tomar, talvez após uma demissão, numa pessoa que foi pega de surpresa, demitida de seu emprego, como na dissolução do canal televisivo gaúcho TV Com, com tantos jornalistas demitidos, tendo que “sambar” para conseguir emprego em outras firmas portoalegrenses de Comunicação. É como num caso que conheci, de um primo, diretor de uma firma, demitindo seu próprio primo dessa firma, numa bela “puxada de tapete” – que família, hein? Aqui é a finitude, pois o tronco foi cortado, ou seja, está morto, no inevitável Desencarne, num prazo de validade que sempre chega, fazendo da Terra um mero lar de passagem, na promessa cristã do Reino dos Céus, maior do que qualquer reino mundano, no grande plano divino de Tao para conosco, no qual somos irmãos, iguais, apesar de tão diferentes uns dos outros. O homem aqui está ponderando para saber qual ação tomar, num momento de escolha, de opção, como num pleito eleitoral, no cidadão votando em quem acha que deve ser votado, num fenômeno de Eduardo Leite, o governador gaúcho que provavelmente será reeleito, num Rio Grande do Sul no qual nenhum governador, até hoje, foi reeleito, num Leite que tanta coragem teve ao se assumir gay neste mundo heterocentrado no qual vivemos; nesta terra de machões que é o RS. Aqui é o garbo olímpico superando obstáculos, num porvir que tem que ser enfrentado com galhardia, graça e vontade, no desafio do desporto, o qual prepara a criança para a competição da Vida em Sociedade, como numa competitiva cidade de Gramado, com um incessante abre & fecha de empreendimentos durante o ano inteiro, num mercado que exige que sejamos extremamente competentes e pertinentes, numa “selva”, incitando tal espírito atlético e olímpico, pois o que pode fazer um surfista num mar sem ondas de vicissitudes? É a questão do tesão pela Vida, numa vontade de vencer, num Kuerten se esforçando ao máximo, adquirindo sequelas em seus quadris, numa dedicação extrema. Aqui remete aos alarmantes quadros de queimadas na Amazônia, enfurecendo ambientalistas Mundo afora, na crença ecologista de que nossa casa tem que ser cuidada, pois para onde mais a Humanidade pode ir? Aqui é uma solidão, como numa pessoa passando sozinha uma virada de ano, num solitário espírito vagando pelos ermos inférteis do Umbral, como numa cidade vazia, fantasma, desolada, num deprimente domingo em que a pessoa passa sozinha. Aqui é uma verdade que tem que ser enfrentada.

 

Referências bibliográficas:

 

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.museum-exhibitions.colby.edu>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth, april wind. Disponível em: <www.thewadsworth.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth obras. Disponível em: <www.google.com>. Acesso em: 31 ago. 2022.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Andanças de Andrew (Parte 3 de 4)

 

 

 Falo pela terceira vez sobre o pintor realista americano Andrew Wyeth. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Agitação na neve. Aqui é uma escassez, numa moderação taoista – tudo o que é demais, enjoa. Aqui é a necessidade de contentamento, numa pessoa que vê que tem que se contentar com o pouco que tem, ao contrário do rei ambicioso, sempre querendo anexar os reinos vizinhos, desrespeitando o mandamento: “Não cobiçarás a mulher do próximo!”. Aqui é como o brando inverno californiano, muito diferente dos invernos americanos em geral, cheios de neve, como numa Nova York, na qual, em dias de muita neve, a prefeitura orienta o novaiorquino a simplesmente não sair de casa. Aqui é um ermo, num momento de retiro, de reclusão, como num encarceramento ou numa encarnação, numa pessoa que tem que cumprir toda uma agenda antes de retornar ao Lar Primordial, no feliz modo como os vínculos de família não se dissolvem com o Desencarne, ao contrário dos outros animais, como num filhote, o qual, após crescer, abandona os pais, com nossos entes queridos nos iluminando do Céu, mesmo um bisavô o qual não conhecemos em vida, na Grande Família Metafísica, a qual inspira as cópias mundanas, que são as famílias de realeza, como uma bijuteria que imita uma joia, ou uma planta artificial – por mais bela que seja, não é planta de verdade, e sim uma cópia mundana. Aqui temos uma vastidão, no encanto que os campos exercem sobre quem é da “selva de pedra”, da cidade, na incrível vastidão cósmica, o exemplo do poder imensurável de Tao, com galáxias as quais, de tão distantes, sequer até hoje foram detectadas pelos telescópios humanos, na incapacidade humana em compreender o Infinito, no grande presente que é a Vida Eterna, no incrível fato de que jamais findaremos, nos preceitos dialéticos: Tudo é processo, tudo é transformação, tudo é crescimento, como num pai orgulhoso no dia da formatura do filho, no modo como todos estamos predestinados à excelência de Arcanjo, os espíritos perfeitos que gozam da suprema felicidade, espíritos que têm a nítida, sólida e indestrutível noção de que somos todos príncipes, filhos do mesmo Rei, no caminho de primar pela Paz, em incansáveis esforços diplomáticos para evitar as lamentáveis guerras, num Ser Humano tão aguerrido e infeliz, deixando cruéis rastros de fome e destruição, num Brasil paupérrimo, com milhões de cidadãos que passam fome – é um horror. Aqui é o momento em que a Vida hiberna, num urso acordando faminto após a hibernação, refestelando-se em saborosos salmões num rio, remetendo à Culinária Japonesa, da qual sou fã, fazendo da Gastronomia uma das provas da universalidade humana, no modo como a Pizza ganhou o Mundo. Aqui remete às modestas nevadas na Serra Gaúcha, as quais tanto fascínio exercem sobre o turista em Gramado, a cidade de excelência turística, sempre empenhada em encantar o visitante, como nos deslumbrantes parques temáticos de Orlando, EUA, em experiências emocionantes, que mexem com a mente do visitante, em lugares que fazem com que nos sintamos crianças novamente. Aqui a neve escassa cai como açúcar sobre um bolo, no gostoso pecadinho capital da Gula, no maravilhoso modo como, no Plano Metafísico, há confeitarias deslumbrantes, num pecadinho sem culpa, como no gostoso pecadinho da Preguiça, do qual nasceram grandes invenções humanas, como a Roda – por que sofrer carregando algo se posso movimentar tudo sobre uma carroça com quatro rodas? Aqui a neve é vestigial, como num detetive desdobrando um crime, querendo encontrar a verdade de evidências, num paciente trabalho de quebracabeça, como na Pedra da Roseta, pela qual os historiadores puderam decodificar uma língua morta, que é o egípcio faraônico. Muito ao fundo no quadro vemos uma colina alva, cheia de neve, por ser mais elevada, no fascínio exercido pela Serra do Rio de Janeiro, abrigando a Família Imperial, a qual foi humilhada e despojada de qualquer poder simbólico, uma lástima, pois o Brasil não foi encontrado numa “lixeira”; o Brasil tem uma história e uma proveniência. Aqui é a vastidão de um reino, no caminho de saúde de um rei, inspirando-nos a encher os pulmões de ar e agradecer por termos saúde.

 


Acima, Botas do mar. A pirâmide é a forma mais estável de estrutura que existe, de formato agressivo, abrasivo, mas palavras de um psiquiatra o qual aprendi a respeitar: “Tens que ter mais agressividade, pois vives num Mundo competitivo”, como nas palavras de motivação de um treinador esportivo, numa autoridade que tem que ser respeitada, como na figura central de um diretor num set de filmagem. A pirâmide parece furar o Céu, nas ambições da Torre de Babel, desafiando limites, em sonhos apolíneos de Engenharia, na competição fálica para ver qual país tem o prédio mais alto do Mundo. A pirâmide é essa simplicidade de sofisticação, nas palavras do mestre da Vinci: “A simplicidade é o mais alto grau de sofisticação”, na deslumbrante simplicidade da Brasília de Niemeyer, numa limpeza, no prazer de se estar numa sala limpa e perfumada, aproximando-nos da impecável limpeza metafísica, na beleza fria dos números, na frieza racional do Yang, a simplicidade que desconstrói e simplifica, como na resolução de uma equação, a qual, num primeiro momento, pode parecer complicadíssima, mas, na resolução, tudo é simplificado e colocado da forma mais clara e limpa possível, na força da aurora, na beleza da Terra da Estrela da Manhã, com um anjo amigo nos conduzindo para tal lugar, o qual faz com que não desejemos estar em qualquer outro lugar do Universo, na beleza de uma revista de decoração, no elegante Sol de uma região serrana, elevada, no conceito inédito do Reino dos Céus, de Jesus, um homem de pensamento poderosíssimo, na vitória da inteligência e da sofisticação sobre a brutalidade e a grosseria, num homem que dividiu a História em duas. Aqui é uma paisagem desértica, num Egito cuja fonte de Vida era o Nilo, tanto para beber água quanto para que as cheias enchessem as margens de material de adubo, no modo como a Água é como Tao: Sem cor, sem forma, sem cheiro, sem odor e, ainda assim, deliciosa, pois é eterna, pois os sinais auspiciosos parecem ser saborosos, mas nada são, no modo como é possível detectar claramente um quadro de sociopatia, numa pessoa que, simplesmente, identifica-se com o Mal, como dois professores que tive, dois sociopatas de marca maior – ignore tais mentes diabólicas, pois os sociopatas, apesar de estar em ter nós, não minoria. As pirâmides têm tal tom futurista, apesar de terem sido feitos há tanto tempo, alimentando as crenças de que a Humanidade recebeu, no passado, um “empurrãozinho” civilizatório de raças alienígenas mais evoluídas, numa espécie de colonização, assim, como as colônias britânicas ao redor do Mundo, num esforço civilizatório, de crescimento intelectual – a ancestral cidade de Teotihuacán, por exemplo, tem um incrível design futurista, remetendo à simplicidade da Arquitetura Modernista, com suas linhas simples, racionais e limpas, no modo como a Revolução da Escrita tirou o Ser Humano do Neolítico, como nas tribos amazônicas, sem escrita. As botas aqui são um abandono, algo deixado para trás numa contenção de despesas, remetendo a uma divertida pitada de irreverência do pintor italiano Aldo Locatelli, num dos quadros da Via Sacra que pintou, com Jesus sendo surrado com um pé de sapatos, no fato de que, na época de Jesus, não existiam certos artefatos, como na transgressão do filme Maria Antonieta, num tênis da marca All Star no guardarroupa da monarca francesa. As botas são o abrigo, numa pessoa se agasalhando para sair de casa num dia frio, numa preparação, como num folião se preparando para um baile de Carnaval, caprichando em sua fantasia, no “mico” que são as festas à fantasia, num momento em que todos se sentem ridículos. As botas são uma longa caminhada, numa pessoa que sabe que não se vai de zero a cem num piscar de olhos, na sabedoria de quem vai a “passos de bebê”, num trabalho de construção, num prédio que não se faz da noite para o dia. As botas são o sinal de uma caminhada, num calçado calejado por tal travessia. As botas são como a vestimenta do gaúcho, na lei estadual gaúcha de que a pessoa “pilchada”, trajada tipicamente, pode entrar em qualquer lugar, até num baile de gala.

 


Acima, Filho de Albert. O rapaz é a juventude, uma inexperiência, numa idade em que ainda não levamos muitos tombos na vida, numa natural “arrogância”, num jovem que acha que percalços são só para os outros. A camisa desabotoada é um bem estar, algo reconfortante, numa pessoa se sentindo à vontade, talvez na casa de um bom anfitrião, remetendo às socialites, pessoas que, no frigir dos ovos, não trabalham e nada produzem, no modo como uma Paris Hilton pode ser tão desrespeitada, apesar de rica e aparentemente feliz, nas palavras de Woody Allen sobre uma personagem socialite: “Ela é fútil! Ela é burra! Ela é louca!”, como um certo rapaz socialite, cujo nome não mencionarei, uma pessoa que é um “robert”, ou seja, na gíria, uma pessoa que quer, acima de tudo, aparecer, sem necessariamente mostrar algo de produtivo, no grande engano de se acreditar de que se pode conquistar, sem trabalho, o Mundo, no termo “perua”, para designar mulheres as quais não merecem o profundo respeito de outrem, como em Sex and the City, desculpe se vou ser blasé agora, mulheres dondocas e loucas, só pensando num grande guardarroupa, nas palavras do cantor Fábio Jr.: “Cansei de tentar entender as mulheres. As mulheres são loucas!”. Ao fundo vemos uma grade, uma prisão, na prisão de carne que é uma encarnação, numa prisão, é claro, temporária, mostrando-nos que temos que fazer algo de produtivo aqui na Terra, sendo equivocada uma pessoa que nunca se centrou na Vida, uma pessoa tal qual um saco plástico na Rua, ao sabor do vento, numa sensação de fragilidade e vulnerabilidade, ao contrário de um homem que conheço, o qual é um homem pragmático e centrado no trabalho, mas um homem que foi rejeitado pela própria esposa, a qual se deu conta de que se casou com um homem pouco romântico, um “Radicci”, o personagem grossão do genial cartunista Carlos Iotti, sendo este um artista que foi injustamente desligado de suas atividades no Grupo RBS, ao qual pertence o jornal Zero Hora – que mundo duro! Aqui é como um prisioneiro contando os dias para a soltura, remetendo a uma roupa de Madonna no set quando a estrela resolveu ser diretora de Cinema, uma roupa com os tradicionais riscos verticais riscados por um risco diagonal, no prisioneiro contando os dias para sair da indesejada prisão – se queremos que algo passe logo, é porque não estamos encontrando muito prazer ali, numa Madonna que não foi longe na carreira de diretora, pois cada um com suas carências. O rapaz contempla um vasto campo, talvez num sonho de herança, nas vastas terras dos Pampas, como se o capim fosse um vasto carpete cobrindo planícies e colinas, na beleza dos campos, uma beleza ignorada pelo Ser Humano, que só contempla os palácios, num Ser Humano eternamente hipnotizado pelos sinais auspiciosos, como numa tediosa e insignificante ala vip de boates, quando que a festa acontece, de fato, longe dali, no coração da pista de dança. O cabelo quase raspado é a disciplina, talvez na rigorosa disciplina militar, talvez num rapaz que foi pego para servir num quartel, na rigorosa hierarquia militar, brutal, seca, por vezes desumana, muito distante da hierarquia espiritual, a qual nunca é imposta com o emprego de força, numa hierarquia baseada em apuro moral, fazendo com que façamos questão de obedecer. A cena aqui é de Verão, ao contrário dos tantos cenários invernais de Wyeth, em doces lembranças de praia e piscina, no doce momento de férias, na magia do último dia de aula, como num momento de merecido desencarne e descanso, num dia ensolarado, cheio de amigos, numa criança sem estudar, apenas com seus brinquedinhos, no fechamento de um ciclo, numa sensação de dever cumprido, de missão cumprida, como no velório de uma pessoa de elevação espiritual, num velório em que se sente no ar o clima de missão cumprida, como no funeral de minha querida avó Nelly, um dos corações mais amorosos que já vi em vida, no maravilhoso modo como tais entes nos iluminam lá de cima, sempre, na imortalidade das famílias. O menino é a juventude eterna, numa vida plena, sem as vicissitudes terrenas.

 


Acima, Henry Teel. Aqui é um momento de solidão saudável, de retiro, num momento silencioso, num homem num dado momento de contemplação, no modo como a Vida não pode ser só labor, mas um pouco de contemplação também, como num cidadão passeando por um shopping no fim de semana. A mesa é o momento da refeição, da alimentação, no momento em que fazemos algo tão básico, que é a alimentação, essa coisa tão comum aos seres vivos, como num restaurante fino, dentro do qual realizamos algo tão básico à Vida, no prazer de uma refeição bem servida. Aqui a casa está em ordem, apolínea, limpa, no esforço de uma dona de casa em manter a casa na mais perfeita ordem, confrontando o marido dizendo a este: “Eu me matando para manter esta casa limpa e organizada!”, no momento em que o Yin se sobrepõe ao Yang, na Vênus entorpecendo Marte, na vitória da Paz sobre a Guerra. A luz entra suave na cena, no talento de um diretor de fotografia num filme, deixando a luz entrar da forma mais bela possível, na capacidade de certos filmes, em obter tal efeito de beleza, na etérea luz dourada da Argentina, nos louros cabelos de Evita, a primeira dama que provou ser algo além do que uma mera dondoca, numa carreira vertiginosa, tornando-se tudo o que se tornou em apenas cinco anos de vida pública, numa Evita aguerrida, a qual não conseguia imaginar a vida sem inimigos, numa figura tão controversa, amada pelo proletariado e odiada pelo resto da sociedade, numa Evita que cultivava inimigos tais quais repolhos em horta. O homem aqui é a experiência de vida, em rugas que contam uma história, nos padrões femininos de beleza, nos quais qualquer ruga em mulheres seja perniciosa, no machismo de exigir que uma mulher não carregue traços de experiência de Vida, ao contrário do Homem, no qual rugas, cicatrizes e marcas de expressão são consideradas interessantes e pertinentes, no mito da Virgem Maria, a mulher sem história, jovem e virgem para sempre, na capacidade do Patriarcado em castrar qualquer sinal de sexualidade na mulher, enfurecendo as feministas, as quais provam que uma mulher pode ser tão boa quanto qualquer homem, na capacidade de uma feminista em ir “contra o vento” e desafiar os preconceitos patriarcais. Aqui a mesa está recolhida, sem pratos ou copos, num momento de saciez, no qual a pessoa não quer ser alimentada, mas num momento de retiro e contemplação, numa pessoa com seu direito de ir e vir, passeando em paz num parque, sentando na grama e tomando um chimarrão, no redentor momento da happy hour em que gravatas são afrouxadas e um drinque é bebido depois de um dia de sisudez e obrigações, num relaxamento que nos mostra que a Vida não é só labor, com o próprio Deus repousando no sétimo dia da Criação, no colono italiano no RS, o qual só não trabalhava no Domingo porque a religião não permitia, no modo como a Vida não recompensa o laborador obsessivo, o qual só trabalha e não vive, num caminho masoquista no qual a pessoa simplesmente não se permite ter prazer, na escura culpa católica em relação aos prazeres da Vida, como a Preguiça ou a Gula, num Niemeyer que projetou a Catedral de Brasília fugindo das cores escuras da culpa e do pecado, no modo como a Vida não é só sisudez, mas um pouco de prazer também, como tomar um doce vinho do Porto após uma refeição. Aqui as cortinas esvoaçam-se suavemente na brisa que vem da Rua, num momento de placidez e de doçura, na capacidade da pessoa em contemplar a Vida de tal forma simples e desapegada, na languidez de uma tarde preguiçosa, no desejo de fugir do Mundo, deitar sob uma árvore e nada fazer, no modo como as durezas da Vida podem ser tão estafantes. O cômodo está limpo e organizado, numa vida colocada em ordem, centrada, em algo centrado no trabalho, na necessidade da pessoa em se centrar, encontrando um norte existencial, no modo como é miserável a vida de uma pessoa que não é centrada. Aqui é um doce nada a fazer, na canção: “Que tal nós dois numa banheira de espuma?”. A Vida não é só siso.

 


Acima, Planície de inundação. Temos um acidente, um imprevisto, como num terrível acidente de carro que sofri certa vez com minha família, num choque tenebroso, impactante, traumático, na lamentável modo como são comuns os acidentes automobilísticos. Aqui temos esta paixão de Wyeth pelo Inverno, e podemos sentir o frio nas telas, num vento cortante que faz despencar a sensação térmica, no frio que tantos turistas atrai para o eixo Gramado-Canela, num frio tão inusitado para quem vem de partes mais setentrionais do Brasil, como certa vez vi em Gramado moças de Manaus, AM. O caminho aqui é a trilha, numa pessoa que percebe que tem que colocar nos trilhos sua própria vida, no modo como não pode acontecer algo chamado “aposentadoria”, pois ninguém pode parar e ficar ocioso, no ditado popular: “Cabeça vazia é oficina do Diabo”, no modo como é somente o trabalho o que pode manter a sã a mente de uma pessoa, na questão da pessoa ser realista e ter os pés no chão, pois o Mundo pertence aos que não têm ilusões em relação ao Mundo, no caminho espírita da mortificação – desprenda-se de expectativas, pois a Filosofia não muda o Mundo, o que é uma noção encorajadora, no termo “continua tudo a mesma merda”, com o perdão do termo chulo. Ao fundo é o refúgio do lar, do invólucro indispensável de lar, num lugar onde somos mais Yin do que Yang, deixando lá fora a lida diária pela Vida, no espírito de guerreiro que a pessoa tem que ter, como uma pessoa sensível, a qual tem que entrar em contato com seu próprio Yang, na diferença enorme que faz uma pitadinha de agressividade, num Mundo que é tão competitivo, como uma certa cantora, cujo nome não mencionarei, a qual quis obter sucesso mundial com um clipezinho bem medíocre e desinteressante, pois o Mercado Fonográfico Mundial é ultracompetitivo, com muitas divas maravilhosas concorrendo pela atenção do público, na pessoa que sabe que tem que ser competente e merecedora de admiração e respeito, como numa respeitável Lady Gaga, a qual, além de ter uma voz excelente, tem um estilo e uma atitude monstruosos, arrebatadores, numa artista de uma originalidade gigantesca, produzindo Arte com A maiúsculo. Neste quadro temos um acúmulo, um depósito, uma acumulação, nos transtornos de acumulação compulsiva, no apego humano à Matéria, ao fetiche do objeto, da coisa palpável, num apego obsessivo por riquezas mundanas, como no personagem Tio Patinhas, nadando com as montanhas de dinheiro em sua caixaforte, no pecadinho da Avareza – qual o mal de se guardar um dinheirinho debaixo do colchão? Aqui, a trilha remete ao lar, no ponto mais baixo, atraindo gravitacionalmente, no modo como a água escorre para os pontos mais baixos, como em rios desovando em oceanos, nesse perfeito mecanismo autossustentável que é a Terra, reciclando a si mesma, nos mistérios – porque há água doce em contrapartida à água salgada? Aqui temos uma vegetação invernal pobre, “morta”, por assim dizer, uma vida esperando pelo milagre de renascimento da Primavera, na explosão primaveril de Botticelli, na explosão em cio dos adolescentes, na época da Vida em que somos “escravos” de nossos próprios hormônios, no modo como a Igreja Católica vê com maus olhos a masturbação – se você não se masturbar em excesso, está tudo bem. Aqui o céu é de sisudo cinza, nos vestígios da lareira do fogo da noite anterior, no termo “Quarta-Feira de Cinzas”, assinalando o fim da bela euforia colorida carnavalesca, como em professores no intervalo da Escola, na Sala dos Professores, com o sinal batendo no fim do intervalo, nos professores dizendo uns aos outros: “Vamos trabalhar!”. A madeira azul aqui é a esperança de dias mais ensolarados e quentes, num majestoso Céu de Brigadeiro, no hino nacional: “O Sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da patroa neste instante!”. Aqui é um cenário que pede por uma organização, uma faxina, numa demanda, no prazer de um banho bem tomado. A neve é escassa, talvez assinalando a Primavera, na esperança do Reino dos Céus, a única morada.

 


Acima, Venda pública. Aqui os homens estão reunidos, num momento de interação social, num mundo misógino de homens, no qual à mulher não é permitida liberdade de expressão, como uma certa popstar, a qual paga um preço alto por ser uma mulher num mundo de homens, no preconceito de se colocar a mulher sempre num nível abaixo ao do homem, sendo Adão a obraprima de Deus; sendo Eva um arremedo fadado a ser um mero útero reprodutor; sendo culpa da mulher pelos pecados do Mundo – Jesus, é muito machismo, machismo quebrado pelo genial filme Dogma, no qual Deus é uma mulher, num filme que acaba não sendo um insulto, mas um enaltecimento da fé. O carro aqui é a evolução tecnológica da Humanidade, suplantando o uso de cavalos, numa simplificação, numa facilitação, como uma complexa equação sendo resolvida e os mistérios sendo esclarecidos, como no fim de um romance policial, com a Estrela da Manhã trazendo sua luz e beleza, banhando a Terra com suas luzes de esperança, derrotando a escuridão fétida e sofredora do Umbral, no qual os espíritos se arrastam em sofrimento, como uma certa boate portoalegrense, um antro de escuridão, malícia e mentiras – é um horror. Aqui a estrada corta o capim, em rotas de comércio internacional, como na saga Star Wars, num filme o qual, apesar de tão futurista, traz as velhas e boas rotas de comércio entre povos, na universalidade que faz comércio entre as nações, como na potência chinesa, exportando para o quatro cantos do Mundo, num comunismo que acaba sendo capitalismo. Aqui as terras são vastas, com um rei avistando o próprio reino, sabendo que o dever de um rei é nunca interferir no dia a dia pacato do cidadão, ao contrário das guerras, as quais deixam rastros de fome e destruição – vide a Ucrânia, meu amigo. Esta estrada é tal quadro de devastação, com tropas impiedosas passando, destruindo qualquer beleza, em experiências bélicas que deixam sequelas terríveis nos rapazes que prestam tal serviço militar, num caminho de empedernimento e brutalização. Aqui temos um grande acontecimento, com um público prestigiando o acontecimento, como em eventos comunitários, numa Festa da Uva, na manifestação que pertence ao povo de Caxias do Sul, no momento em que a comunidade se vê projetada por si mesma, na figura universal da Rainha, a qual encarna a beleza e o pertencimento do Plano Superior, no qual temos a certeza de que a única família que existe é a Grande Família Estelar Metafísica, sobrepondo-se às vicissitudes terrenas, as quais são passageiras e necessárias, como num estudante se matriculando em cadeiras numa faculdade, na importância da Cultura Erudita na formação de um país, em nações tão nobres como a Suécia, valorizando a Inteligência Humana, que é o maior bem que temos. Aqui remete às paisagens dos Campos de Cima da Serra, no RS, na estrada Rota do Sol, cercada de planícies vastas de pasto verde e altivas araucárias, na beleza das paisagens campestres, o maior bem que um reino pode ter, num Ser Humano que tanto ignora as luxuriantes roupas vestidas pelos campos e florestas, como na cidade do Rio de Janeiro, cheia de Vida, numa mescla deliciosa entre Natureza e concreto, com suas praias e morros monumentais, no modo como, já ouvi dizer, os cariocas não gostam de dias nublados. Aqui vemos uma casa, na capacidade de uma pessoa em se tornar matriarca ou patriarca dentro de uma família, num poder agregador, de reunir todos numa noite de Natal, remetendo a meu querido avô falecido Ibanez, uma pessoa com tal talento agregador, num divertido Amigo Secreto entre as pessoas da família reunida. Aqui remete aos pampas gaúchos, nas terras vastas de Uruguai e Argentina, nações que estão começando a ser “seduzidas” por Gramado. É como na vastidão das terras de Scarlet O’hara, no drama que mostra a perniciosidade bélica, numa Scarlet a qual vai de menininha mimada a mulher forte, tendo que ter as forças para se reerguer, como numa pessoa em fundo de poço existencial, tendo que reagir de alguma forma para se reerguer.

 

Referências bibliográficas:

 

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.museum-exhibitions.colby.edu>. Acesso em: 31 ago. 2022.

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Andrew Wyeth, april wind. Disponível em: <www.thewadsworth.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth obras. Disponível em: <www.google.com>. Acesso em: 31 ago. 2022.