quarta-feira, 28 de junho de 2023

Ver Vermeer (Parte 1 de 5)

 

 

Falo pela primeira vez sobre o artista holandês Johannes Vermeer (1632 – 1675), do qual pouco se sabe. O pintor holandês mais famoso do século XVII. Só começou a ser reconhecido a partir do ano de 1866, apesar de ter concebido trabalhos de claro talento. Poucos de seus quadros sobreviveram aos dias de hoje. Sua esposa pariu quinze filhos (!). Também trabalhou como comerciante de Arte. Nunca foi rico. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A alcoviteira. Aqui é a mulher fácil e vulgar, fazendo do Sexo um leilão, desperdiçando uma vida, sem construir algo de positivo e produtivo, num Brasil onde a prostituição é legalizada – faça o que quiser com seu próprio corpo. Aqui é um momento de boemia e álcool, no termo “No vinho, a verdade”, no modo como a bebida deixa a pessoa extrovertida, soltando a voz, remetendo ao divertido personagem Raj, do seriado The Big Bang Theory, um nerd que simplesmente não consegue conversar com mulheres, só podendo conversar com elas se tiver bebido algum álcool, no modo como cada pessoa lida com suas próprias vicissitudes. Um homem descaradamente apalpa o seio da mundana, na divertida canção Material Girl, de Madonna, falando sobre uma mulher vulgar e comprável, na artista interpretando Marilyn Monroe, a qual era um escândalo de provocante, neste dom que certas pessoas têm me excitar e hipnotizar o Mundo, como numa soberana Gisele, dona de um enorme talento, ditando paradigma capilar mundial, com todas as mulheres ao redor do Mundo imitando os cabelos ondulados da deusa brasileira, mas na prova de que ninguém tira tudo de letra o tempo todo, no fracasso recente de um livro lançado por Bündchen, intitulado de Aprendizados, na prova de que ninguém está por cima o tempo todo, como artistas que receberam não só um Oscar como também o infame prêmio deboche Framboesa de Ouro. A prosti está ruborizada, talvez sob efeito do vinho, nos conceitos de antigamente, quando atriz era vista como prosti, como dizia Dercy Gonçalves, numa mulher provocante a qual, no fundo, era uma dama, havendo oportunidades catárticas, como me contaram da catarse de Gloria Pires nas filmagens de um filme, com a atriz definitivamente se colocando na pele do personagem, sendo ovacionada no set por todos ao seu redor, na prova que é o desperdício de Pires nunca se aventurar no Teatro, a mãe da carreira de atuação, remetendo às peças gregas, na época em que só homens podiam atuar, como na personagem transgressora da por isso oscarizada Gwyneth Paltrow, numa Inglaterra elizabetana onde mulheres não podiam subir ao palco para interpretar Shakespeare, numa mesma Inglaterra na qual só homens podiam frequentar instituições de ensino, os famosos colleges ingleses, na contradição de que a tal rainha “virgem” foi uma feminista a seu próprio modo, sabendo que, se casasse, faria de seu país um mero quintal de outro, nessa coragem feminista de ir contar os ventos dos preconceitos patriarcais. Talvez este quadro, com tal temática ousada, tenha causado furor e escândalo na época, nesta capacidade da Arte em provocar e assinalar novos tempos, como na revolução modernista brasileira, no poder da Arte em trazer ventos de tal renovação, acordando o corpo social sobre a necessidade de evolução, no modo como, hoje em dia, vemos casais gays de mãos dadas na Rua, os quais respeito profundamente. Aqui é uma mulher de homens, numa mulher que decidiu ter tal vida, com seus próprios motivos, sobre a história de uma menina a qual já relatei aqui no blog, uma moça que de dia era estudante universitária e de noite era stripper! A jarra azul ao lado da puta, com o perdão do termo chulo, é o receptáculo feminino, na pureza uterina da Imaculada Conceição, o mito que busca nos dizer sobre como todos fomos concebidos, filhos de Tao, o Rei Supremo no poder imensurável da Eternidade, como Zeus criando a Mulher Maravilha, outro ícone feminista. Esta cena de prostíbulo remete a um amigo meu o qual frequentava puteiros, com o perdão do termo chulo, beijando as prostis na boca e querendo tirá-las de tal vida degradante. A moça aqui é popular entre os homens e impopular entre as mulheres, as quais reprovam a prosti. É como uma mulher da vida que conheci em Porto Alegre, numa vida mundana, regada a drogas – é meio triste.

 


Acima, A ruela. Aqui temos uma cena pacata, nas recomendações de Tao a um rei: Nunca interfira no dia a dia pacato do cidadão comum. Temos duas cenas de labor, com uma senhora varrendo e outra senhora costurando, numa ironia de metalinguagem, que é o labor sendo retratado pelo labor do pincel de Vermeer, tal como uma atriz interpretando outra atriz. A hera crescendo é o poder da Vida, da Natureza, com a vida brotando com toda a sua força primaveril, como nas selvagens e luxuriantes terras tropicais sulamericanas, nas selvagens tribos de canibais, causando furor numa Europa tão cristã, com a incumbência de colonizar tais terras e educar os indígenas selvagens, na dificuldade do indígena em entender o mito de Nossa Senhora, como na imagem de Maria esmagando a cobra da malícia do Éden, com a bondade imperando sobre a maldade, aniquilando a malícia, como num professor esforçado dando aulas de Educação Sexual, buscando neutralizar a malícia que a criança herda dos próprios pais. Aqui é um dia nublado, sem um majestoso Sol num impecável Céu de Brigadeiro, como numa Londres pálida, cheia de brumas, nas famosas Brumas de Avalon, num romance que, como me disse uma grande amiga minha intelectual, causou um “nó” na cabeça da leitora, numa mulher que era respeitada pelo exigente professor de Comunicação gaúcho Tatata Pimentel, o qual desprezava os medíocres. Nesta construção de prédios vemos arcos, como nos arcos romanos, ou nos arcos da Lapa no Rio, na metáfora de humildade, na qual a pessoa que se curva e é humilde é forte, na ilusão de que a arrogância é a mesma coisa do que altivez, numa confusão feita pelo sociopata, o qual se considera Deus simplesmente, como no ensandecido vilão Esqueleto no final da infame live action Mestres do Universo, com o malévolo absolutamente embevecido com o próprio poder, pois tudo o que um homem poderoso quer é mais poder, numa sede napoleônica por poder, nos versos da canção da banda pop Tears for Fears: Todo mundo quer mandar no Mundo! É como na desnecessária guerra na Ucrânia, com o ditador descarado Putin, um filho da puta, com o perdão do termo chulo. Na parte inferior do quadro vemos algo que parece ser crianças brincando, na doce época da Vida em que a pessoa se contenta com pouco, ficando feliz com modestos desenhos animados, sem os critérios e as exigências dos adultos, numa criança que não entende a pequenez das ambições e pretensões humanas. Vemos uma porta fechada, a qual é um veto, um tabu e uma proibição, como na frustração de nos depararmos com tais portas fechadas, as quais acabam por nos guiar e nos ajudar, orientando-nos pelos intrincados labirintos da Vida, no grande desafio que é a pessoa se encontrar, centrando a Vida em torno de algo nobre e respeitável. Aqui é uma cena urbana, e aqui, como em toda a obra de Vermeer, vemos tal talento de pincel, na época em que a Arte tinha tal função retratista, numa época em que não se fazia a mínima ideia do que seria mais tarde a transgressão impressionista e todas as demais vogues posteriores, num insano galgar de tecnologias, no modo como, hoje em dia, qualquer pessoa tem acesso a dispositivos móveis, mesmo num Brasil tão paupérrimo, com levas intermináveis de pessoas na Rua pedindo comida – é triste, no termo “Comer o pão que o Diabo amassou”. Aqui é um dia como qualquer outro, sem um momento festivo de desfile alegórico, como no exuberante carnaval carioca, no momento em que a sisudez da Vida é deixada de lado e em que o Ser Humano celebra a beleza e a paz metafísicas, com cores sedutoras de prismas de pureza, no inevitável dia libertador de desencarne, o qual virá sim, meu irmão, nos versos da banda Queen: Quem quer viver para sempre neste Mundo? Os tijolos construídos são o lento trabalho construtor de formiga, com peça por peça, na noção de que ninguém vai de zero a cem um piscar de olhos, numa evolução, no termo popular “Devagar e sempre”. Aqui é o cidadão comum, ocupado com saudáveis afazeres, ao contrário de vida infernal de uma pessoa improdutiva.

 


Acima, Cristo na casa de Marta e Maria. É difícil acreditar que tal talento de Vermeer só tenha recebido reconhecimento póstumo, num talento tão claro de ser observado. A sutil aura dourada de Jesus é o esclarecimento, no caminho racional para se obter a verdade, como no laço mágico da Mulher Maravilha, o qual, ao enlaçar alguém, faz com que este só fale a verdade, em um dos espíritos de luz que guiaram Kardec na construção do código espírita, o qual é, creio eu, a doutrina do futuro. Jesus é tal impacto, durando para sempre, num homem cujo pensamento perdura até hoje, em conceitos tão inéditos como o Reino dos Céus, no modo como o grego antigo via tal reino como um Olimpo metafísico, cheio de deuses e deusas guiando os destinos dos homens de carne e osso. O pão é tal carne de Jesus, sendo oferecido a Ele, numa anfitriã generosa, que sabe receber as pessoas, oferecendo um café, um vinho etc., fazendo com que o convidado se sinta em casa, ao contrário de uma certa pessoa a qual entrevistei certa vez, na casa desta pessoa, num anfitrião que sequer me ofereceu um copo de água da torneira! Aqui Jesus conversa e mostra a imensidão de seu pensamento, pois a Eternidade sobre a qual podemos falar não é a verdadeira Eternidade, neste presente inestimável que é a Vida eterna, em cujos trilhos todos nós já estamos, sendo humanamente inconcebível o fato de que jamais findaremos, pois a Eternidade é a explicação fria e lógica para a existência, não havendo sentido em uma finitude, no modo como a Psiquiatria não concebe a fé, na Ciência que não entende que a mente sobrevive à morte do corpo físico, no pensamento de Santo Agostinho – somos todos prisioneiros, mas a boa notícia é que o dia de soltura chegará, na imagem de esperança do Espírito Santo, num Jesus pacífico em um mundo aguerrido, sendo a promessa de um amanhã melhor, pois, infelizmente, nem Ele conseguiu resolver os irresolvíveis problemas do Mundo. A mulher agachada está deleitada, como num aluno aplicado assistindo à palestra de um grande mestre, no caminho da disciplina, no modo como um aluno aplicado enche um professor de satisfação, sendo inevitáveis os gradientes dentro de uma instituição de ensino, com alunos brilhantes, alunos medíocres e alunos péssimos, no modo como a Escola cobra desde cedo a criança em relação à disciplina, como uma dura professora que conheci certa vez, a qual era altamente disciplinada, amedrontadora, dando um “xixi” num aluno que o merecesse, uma pessoa que levava muito a sério o momento de aula, dizendo, ao perceber alguma distração: “A aula não vai render!”. A toalha branca é a Paz, mesmo porque Jesus é o Príncipe da Paz, num homem absolutamente inofensivo, sendo tão mal compreendido em vida, executado oficialmente pelo cruel código penal romano, sendo alvo de deboche sociopático, no deboche: “Jesus nazareno, rei dos judeus”, na especialidade humana que é a crueldade, tecendo uma coroa de espinhos, a qual faz metáfora com as inevitáveis dores da encarnação, pois já dizia Caetano: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é!”, não havendo encarnação perfeita, sem vicissitudes, no modo como o sentido da Vida é nos tornarmos pessoas melhores e mais depuradas. Aqui temos um pouquinho de Barroco, no jogo entre luz e sombra, nessas vogues que vão passando e marcando época, nos versos de Elis: “É você que é malpassado e não vê que o novo sempre vem”, como Marisa Monte se tornou a Elis Regina de minha geração, no dom de certos artistas em ter tamanho bom gosto em termos de voz, repertório e arranjos musicais, numa MM que é uma lenda viva da MPB, uma artista a qual respeito pornograficamente. Jesus é o maior pensador da Humanidade, num homem pobre e simples, o qual não teve oportunidade de estudar de fato, podendo até ter sido analfabeto. Jesus é tal ponto de concórdia, na harmonia entre todos os ramos de Cristianismo, em ramos como a Igreja Anglicana, a qual é fruto da soberania da maior estadista mulher da História do Mundo – Elizabeth I. Jesus é o conceito inédito de Amor, o qual mantém nós, irmãos, unidos.

 


Acima, Jovem adormecida. A hora mais gostosa do sono é o momento em que o despertador toca, num momento em que temos que sacrificar este pecadinho tão gostoso que é a preguiça. Aqui é tal sedução de Morfeu, num cômodo silencioso, em meia luz, tão convidativo para o sono, no momento em que mergulhamos nos caminhos estranhos dos sonhos, os quais são cheios de códigos, havendo, nos consultórios de Psicologia, o momento para que se façam análises semióticas dos sonhos, na doutrina de que nossos sonhos são partes de nós mesmos projetadas, em sonhos de altas projeções, nas quais podemos entender a nós mesmos. A toalha aqui é tal desorganização, tal caos quando adormecemos, ficando inconscientes do que nos rodeia, no advento desta grande invenção que é a Anestesia, no modo como hoje mesmo fui ao dentista, fazendo com que imaginemos com antigamente as cáries eram encaradas, havendo o ofício de Tiradentes, extirpando o dente causador de excruciante dor, em épocas em que não havia um mínimo analgésico, no modo como a Revolução Científica trouxe tais alentos à Humanidade, no caminho racional do esclarecimento, num longo processo para que o Senso Comum absorva o pensamento científico, como parar de ver o Alcoolismo como desvio imoral de conduta e começar a ver como doença que tem que ser tratada, no mesmo absurdo de se condenar moralmente uma pessoa que tenha diabetes, AIDS, câncer etc. A toalha é o trabalho da mão humana, numa ironia de metalinguagem aqui, no labor do Vermeer pintando o labor de algum artesão, em desenhos geométricos como artes indígenas, no poder civilizatório da Arte, algo tão humano, não havendo nos outros símios a sofisticação suficiente para que se produza Arte, fazendo da Arte tal enigma, só sendo compreendida pelos que têm apuro de inteligência emocional, instinto, sendo a Arte algo bloqueado para os frios sociopatas, os quais são emocionalmente burros, sem poder apreciar Arte devidamente. A cena aqui não é pobre, pois a mesa tem comida e bebida, remetendo às fartas mesas de galeterias, nas quais comemos como reis, num garçom sempre repondo a comida, impressionando as pessoas que não nasceram ou cresceram na Serra Gaúcha, como vi certa vez uma italiana numa galeteria caxiense, dizendo ela: “Meus Deus, quanta comida! Como vocês comem!”. As cadeiras são o repouso, numa pessoa que sabe que a Vida tem que ter pausa, na sabedoria de se fazer um breve intervalo no meio de um turno, havendo no workaholic tal prisioneiro de excessiva disciplina, pois no o discernimento taoista nos traz o fato de que tudo em excesso é prejudicial, e isso incluir trabalhar. As vestes da moça são de uma dama rica, num contexto privilegiado, no modo como o dinheiro pode trazer tais incômodos, como num casal divorciado, num litígio, nela querendo cobrar pensão dele, pois é uma fria ser obrigado por lei sustentar alguém que não mais faz parte de sua vida. Aqui é a sedução do sono, como numa silenciosa sala de espera no meio da tarde, num sono embalado, remetendo ao divertido episódio em que Mr. Bean adormece no meio de uma missa, num momento de tédio, impressionando um senhor sentado ao lado de Bean no templo, num personagem que atravessa décadas de trajetória, num ator tão genial como Atkinson, nesses grandes palhaços que nos trazem a mensagem de que rir é o melhor remédio. As sombras aqui são sedutoras, como me disse um médico sobre aulas de faculdade às treze horas, no momento em que o almoço repousa no estômago e dá soninho, numa sala escurecida, com slides projetados, no som dormente do zunido da máquina de projeção. As frutas são a variedade, no modo como a Sociedade é tão variada, como em certos desfiles alegóricos da Festa da Uva, contemplando todas as etnias que formaram a “Babel” que é Caxias do Sul, uma cidade que há muitas décadas deixou de ser uma cidade exclusivamente italiana, com as recentes levas de imigrantes africanos, por exemplo. Talvez aqui o vinho tenha sido tal causador de dormência, num cálice aqui de forma discreta, quase imperceptível.

 


Acima, Leitora à janela. As cortinas aqui abertas são uma revelação, como na revelação que traz a carta lida pela moça, numa época em que provavelmente só os ricos sabiam ler e escrever, havendo nos dias de hoje tal democratização da leitura, com cotas universitárias que buscam trazer a todos o conhecimento. A janela aberta é tal perspectiva, numa saída, numa opção, no encanto de um cômodo arejado e iluminado naturalmente, no fato que a melhor luz é a luz natural, pois que Tao faz, o homem não faz igual, infelizmente, nas palavras de uma princesa Elizabeth num interrogatório: “Meu senhores, todos nós somos cristãos!”, nas cruéis execuções de protestantes na terrível Inglaterra Católica de Maria Tudor, pois desde quando Jesus compactuaria com atos como queimar viva uma pessoa numa fogueira? O Ser Humano não comete atrocidades dizendo agir em nome de Cristo? O rosto da moça se reflete no vidro da janela, o que é a reflexão existencial, numa pessoa ponderando e adquirindo maturidade e discernimento, como eu disse certa vez a um jovem vintão: Quando dobrares a curva dos trinta, entender-me-ás! Vemos aqui novamente as frutas de Vermeer, no apreço deste artista por natureza morta, nas lições em instituições de Arte, com frutas ao centro da sala, no poder distributivo de Tao, o astro rei ao centro de tudo, provendo seus filhos planetas, como numa grande travessa ao centro de uma mesa, numa questão de simplicidade: Ele, nosso Senhor, é o único caminho, pois somos todos uma única família, num trabalho organizacional de recolher frutos e reuni-los numa cesta, num ato de arrumação, como numa dona de casa colocando uma casa em ordem, encarando uma nova jornada de trabalhos enquanto o homem sai de casa para trabalhar, numa divisão de tarefas, na conveniência do casamento, o qual é mais do que apenas amor e sexo, mas um trato, um contrato, uma necessidade. Aqui, o cabelo arrumado é tal garbo e disciplina, como num Fernando Collor, ganhando a fé do povo brasileiro por se tratar de um homem com uma aparência acima de qualquer suspeita, sem um único fio de cabelo fora do lugar, ao lado do oponente Lula, sem este ter uma aparência tão boa quanto à do oponente, no modo como, na vida pública, a aparência da pessoa é capital e crucial, havendo pessoas que não vão muito longe na vida pública exatamente por terem uma aparência ruim, como uma certa senhora, a qual deveria delinear as sobrancelhas, pintar o cabelo, maquiar-se e enjoiar-se, uma senhora que poderia ter chegado a presidente caso tivesse uma aparência melhor. Aqui é uma moça recatada, passiva, guardada “debaixo de sete chaves” pelos pais, arranjando um casamento de conveniência, como numa Maria Antonieta sendo entregue ao herdeiro do trono da França, num momento em que Maria não podia se negar a ter, numa passividade, numa pessoa que não tem o controle de sua própria vida, e que vida é esta na qual sou prisioneiro das expectativas de outrem? Vá se foder, com o perdão do termo chulo. A cortina rubra é o interior uterino, nas cólicas menstruais em uma época em que não havia medicamento para amenizar tal dor, no imaculado interior uterino de Maria, no mito da mulher sem sexualidade, no modo como já ouvi de um senhor que frequentava prostíbulos, dentro dos quais as cores rubras remetiam a Sexo, como na sedutora grife feminina Victoria’s Secret, seduzindo e excitando os homens, na magia de perfume pairando no ar, no ato de autoestima que é a pessoa se perfumando, aprumando-se para a interação social. A moça aqui é tal tristeza, talvez tendo que desposar um homem que ela não necessariamente ama, como na Maria Antonieta com seu amante, numa época em que casso extraconjugais eram aceitos, desde que de forma altamente discreta. A menina aqui é a juventude, muito jovem, sequer com formatos de seios à mostra, numa época em que a menarca já era sinal de que a moça podia casar ter prole, na opressão patriarcal de castrar a moça e impedir esta de ter prazer – é um horror, algo que enfurece toda e qualquer feminista.

 


Acima, Oficial e moça sorridente. Aqui temos um claro contraste, pois a moça está revelada e o homem está oculto em sombras. Aqui temos um jogo de sedução entre experiência masculina e passividade feminina. Talvez ele seja um grande navegador, cheio de experiências e aventuras, encantando a moça com tais histórias, no jogo de sedução do príncipe que liberta Rapunzel da torre. É o modo de meninas gostarem de rapazes mais velhos do que elas, nas meninas se esforçando para parecer que amadurecem antes dos meninos da idade delas, como numa moça eleita rainha da Festa da Uva, iniciando o reinado menina e terminado-o mulher, numa experiência que faz com que a moça cresça consideravelmente. Ao fundo no quadro vemos um mapa que parece ser a América do Norte, nos esforços humanos para esclarecer e catalogar as terras devolutas americanas, cheias de perigos e indígenas hostis, num homem com tal espírito aventureiro, de coragem, partindo em missão em nome de seu rei ou rainha, tornando-se um homem importante, um herói, um mito, num Colombo que veio à América achando estar na Índia, não tendo ideia do Mapa Mundi do século XX, em continentes novos como a Oceania. A janela aberta são os descobrimentos, numa corrida entre potências europeias para ver de quem eram tais terras sem dono, no modo português de arrancar tudo o que podia das riquezas minerais brasileiras, pois como são ricos alguns países! E roubaram tudo dos pobres! O homem aqui é bem viril, sedutor em suas histórias de aventuras, encantando a mocinha jovem e inexperiente, a qual é altamente pudica, com o cabelo todo coberto, num sinal de época de moças comportadas, dignas de serem respeitosamente desposadas no púlpito, moças superprotegidas por suas famílias, em absurdos como proibir mulheres de frequentar instituições de ensino, como há muito tempo atrás no programa vespertino de Serginho Groisman no SBT, como convidados um machistão e uma feminista, a qual estava absolutamente indignada com as colocações misóginas do homem, ao ponto de um menino pegar o microfone a dizer ao machistão: “Eu gostaria de lembrar o senhor de que a senhora sua mãe também é mulher!”, sendo o rapaz aplaudido pela plateia no estúdio. Aqui o homem sabe que está diante de uma dama pura e casta, e busca fazer uma sólida proposta de casamento, digno de ganhar o respeito dos pais da moça, como um homem que conheço, o qual fez uma proposta de casamento muito sólida mas, mesmo assim, acabou rechaçado pela mulher, tendo que contornar as sombras do divórcio e arranjar uma nova parceira, num duro recomeço, um homem que por fora é um príncipe mas por dentro é um Radicci, o personagem grossão do genial cartunista gaúcho Iotti, no modo como as aparências podem enganar. O homem aqui traz tal esclarecimento, e a estrela do quadro é a moça, como na Vênus e Marte de Botticelli, com ela desperta e esclarecida, enquanto ele dorme profundamente, como se hipnotizado e entorpecido. A moça sorri suavemente, linda como numa lata de Leite Moça, como na cara de santa que tinha Eva Perón, uma mulher que, por dentro, era perniciosa e complicada, sendo idolatrada pelo proletariado e odiada pelas classes sociais mais superiores, numa Evita que passou MUITO longe de ser uma figura conciliatória que uniria a Argentina, contrariando as sábias palavras de Obama: “Um presidente tem que governar para todos!”. A janela aberta traz um sopro de renovação às ideias da moça, a qual fica fascinada com as aventuras do machão à sua frente, numa moça tão passiva, que vai direto das mãos do pai para as mãos do marido, toda de branco na Igreja, em contraste com o marido, o qual explorou a sua própria vida sexual e frequentou prostíbulos, na divisão entre santinha e diabinha, pois nenhuma das duas fala sobre uma mulher, como nos recentes anúncios publicitários do sabão para roupas Omo, com marido e mulher dividindo as tarefas do lar, numa marca a qual, antigamente, pregava o mito da mãe zelosa e perfeita, sendo “Omo” a sigla em inglês para o termo “velha mãe coruja”.

 

Referências bibliográficas:

 

Johannes Vermeer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jun. 2023.

Johannes Vermeer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jun. 2023.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Pellizza na película

 

 

Falo pela primeira vez sobre o artista italiano Giuseppe Pellizza da Volpedo (1868 – 1907). Giuseppe tinha um certo engajamento social, fazendo sucesso em revistas socialistas. Sua obraprima é O quarto estado ou A quarta propriedade, a qual é mostrada no filme 1900 de Bernardo Bertolucci, sobre as tensões políticas na época do roteiro da película. Giuseppe só foi reconhecido postumamente, o que deve explicar o seu trágico fim de vida – suicidou-se. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A criança morta. Aqui é a tentativa humana em lidar com a morte, no modo “arejado” espírita de lidar com naturalidade com o óbito, ao contrário de uma certa religião, na qual a morte é uma coisa escura e horrorosa, dando-nos a impressão de que nada nos espera após o desencarne, o que é uma bobagem, pois uma vida maravilhosa nos espera, uma vida cheia de significado e trabalho, na eternidade da produtividade; na construção da grande carreira espiritual; no objetivo de uma “formatura”, na qual o espírito, de tão depurado, atinge o ponto de felicidade suprema, tornando-se arcanjo e recebendo as ordens diretamente de Deus, de Tao, o terno e eterno. As mãos dadas são tal demonstração de solidariedade, dando condolências, num consolo, num abraço reconfortante, naqueles que aqui permanecem, no maravilhoso fato de que ninguém está no Mundo o tempo todo, na promessa de esperança do Espírito Santo, nas asas de libertação, na gloriosa vida metafísica que nos espera, num mundo em que estamos livres das vicissitudes terrenas, como doenças e demais condições de saúde. O velório é tal homenagem, como no funeral de minha avó paterna Nelly, no qual se respirava o ar de missão cumprida, num espírito altamente consciente de sua própria morte, nas palavras de Tao: Se o seu corpo físico morrer, não tem problema, havendo uma relação de continuidade entre Terra e Céu. As moças com véus são tal pesar, procurando dar palavras de consolo, no enigma ao redor da cor branca, como num casamento, na cor da pureza, da limpeza, como num certo casal em seu casório, no qual ambos trajavam roupas totalmente brancas, no poder da tradição, em choque com a tradição cigana, na qual a noiva nunca usa branco, num povo tão sofrido como o povo cigano, sofrendo preconceito, com as pessoas tendo quase medo dos ciganos, nas nossas mães nos alertando quando éramos crianças: “Se você não se comportar, a cigana vai levar você embora!”, na ENORME paciência necessária para lidar com as intempéries infantis e adolescentes, havendo toda uma pós adolescência para então, só depois, vir a tão esperada maturidade, nos caminhos naturais da Vida, num encadeamento dialético de processos: 1) A criança se tornando adulta; 2) O aluno aprendendo numa faculdade; 3) O espírito crescendo moralmente. Aqui é o necessário momento sóbrio de homenagem, no profundo respeito que deve haver num funeral, havendo a profunda discrição da cor preta, a cor que tanto na Moda entrou nos anos 1990, no termo “pretinho básico”. Neste quadro não podemos ver o morto, mas apenas as homenagens ao redor do morto, fazendo do funeral um dos muitos rituais sociais, como um batizado, um casamento, uma formatura etc., no modo como o Ser Humano é um ser tão ritualístico, com rituais mesmo em tribos amazônicas, na universalidade da divisão de tarefas entre homem e mulher, havendo a ela a eterna obrigação de criar os filhos e a ele a de sair de casa para trabalhar e voltar para casa com a caça, a comida do dia, num enorme peso de responsabilidade adulta, num superpai que nunca deixou algo faltar dentro de casa, nesta incumbência de macho alfa provedor, na figura do patriarca, num homem que tem o dom de manter a família unida numa noite de Natal, pois quando os patriarcas se vão, as famílias, de um certo modo, desintegram-se, não mais passando juntas uma noite de Natal. Aqui é uma cena campestre, e podemos ouvir o canto dos pássaros e sentir a brisa campestre, em grandes rituais fúnebres como no enterro de algum membro de uma família de realeza, em comoções como o funeral de Diana, com o cidadão comum fazendo questão de prestar alguma homenagem, como jogar flores sobre o caixão no momento de cortejo pelas ruas londrinas.

 


Acima, A quarta propriedade ou O quarto estado. Certamente, a obraprima de Giuseppe. Tenho uma lembrança desta obra, lembrança de infância, quando havia uma reprodução deste quadro na chácara da tradicional família caxiense Triches, com a qual tenho uma linhagem em comum. Confesso que, de início, eu acreditava que se tratava de uma representação de imigrantes italianos chegando às colônias na Serra Gaúcha. É claro que aqui temos a figura patriarcal do macho alfa, liderando o grupo, com a mulher eternamente num papelzinho coadjuvante, como na representação do MST, com o homem, acima da mulher, empunhando a figura fálica do facão, ou como no Monumento Nacional ao Imigrante em Caxias do Sul, com o homem forte acima da mulher, à qual só cabe o ínfimo papel de ficar dentro de casa criando os filhos, na misoginia de ver com maus olhos a mulher que constrói carreira, em figuras libertárias como Kamala Harris, ocupando uma das mais elevadas cadeiras hierárquicas dos EUA, numa mulher a qual não devemos subestimar; numa mulher que tem o potencial para ser a primeira mulher presidente da terra do Tio Sam. Aqui é toda uma caminhada na conquista de direitos básicos, numa figura de paizão de Getúlio Vargas, trazendo benefícios como o Décimo Terceiro, ao contrário dos EUA, nos quais o chamado “Bônus de Natal” é totalmente opcional da parte do empregador. Aqui são espíritos irmãos numa caminhada de depuração e crescimento, havendo no sociopata o desejo de enganar e prejudicar os companheiros de caminhada, num sociopata que ainda está muito aquém de compreender tal irmandade que nos une. A mulher carrega o nenê, no papel de mulher de cuidar de uma casa, nas palavras de brigas de casal, com a mulher dando uma “sova” no marido, gritando para este: “Eu me matando para manter esta casa limpa e organizada! Eu não aguento mais!”, num marido sentado e ouvindo tudo, aguentando a “sova”, num momento em que a mulher mostra que o coadjuvante pode ser, de certo modo, protagonista, pois quando digo que algo é pequeno, é porque há o comparativo, no que há de grande, ou seja, um ator que faz um mínimo e pequenino papel coadjuvante é essencial para fazer se sobressair o ator protagonista, no momento divertido de inversão taoista: Fraco é forte; forte é fraco. A mulher aqui parece questionar, opinar, sabendo da bobagem ao redor do lema machista: “Bela, recatada e do lar”. É no mito de Virgem Maria, a mulher sem máculas e sem história, ao contrário da diva, da mulher de Arte, construindo uma carreira, “desesperada” para se manter bela e jovem para sempre, no modo como uma Evita Perón era malvista em sua própria época, malvista pelas elegantes e recatadas mulheres aristocráticas argentinas, com as quais Evita tinha uma relação de amor e ódio: por um lado, Evita odiava a classe alta que explorava o labor do proletário; por outro, Evita imitava o estilo de tais damas finas. É na relação de amor e ódio de Diana com a Imprensa, numa mulher que gostava da exposição midiática mas não gostava do assédio dos paparazzi. Aqui é um movimento social, como numa genial professora antropóloga que tive, a qual me incentivou a fazer um trabalho sobre as Ligas Camponesas no Brasil, o movimento de reivindicação de terra, gerando, mais tarde, o tradicional MST. Neste quadro temos tal reivindicação de direitos básicos, numa classe social que não mais suporta tal exploração, no boom marxista pregando a “vampirização” entre classes, num pensamento que gerou o Socialismo/Comunismo, o qual, tempos depois, pereceu, na contradição chinesa: Comunismo de jure e Capitalismo de facto, na diferença básica entre teoria e prática, como numa Gisele: de jure uma mulher comum e de facto uma princesa. Aqui é numa mobilização social da Revolução Francesa, ou na deposição do czar russo, num povo que notou que seu próprio governante se afastou de seu próprio povo, pois se me afasto do povo, deixo de ser líder. Aqui é uma tensão social, como no embate entre católicos e protestantes, neste dom eterno humano para com a desavença e a desarmonia.

 


Acima, Idílio primaveril. É claro que aqui temos uma celebração da Vida, como nas festas comunitárias, momentos de engajamento social em torno da Vida, como nas numerosas e tradicionais vindimas italianas, no produto doce de um labor amargo, como num remédio amargo que surte doces efeitos. Esta roda é o engajamento social em torno de algo, nesta capacidade de certas pessoas em unir o corpo social, como neste grande homem que foi o diretor Fabio Barreto, o qual foi, por um certo tempo, um príncipe de Caxias do Sul e região, pois por um momento as pessoas se esqueceram de suas diferenças e uniram-se em torno do sonho do Fabio, que era transformar o livro de O Quatrilho em filme, num gênio cinematográfico que imaginou uma matiz linda para o romance. Aqui as árvores rompem em cor, na beleza da Vida, como nas ruas arborizadas de Porto Alegre, com seus jacarandás frondosos que produzem flores roxas na Primavera, cobrindo as calçadas com as flores, pois nada mais chic do que flores na calçada, na explosão de beleza da Primavera de Botticelli, no sopro renascentista de renovação europeia, num momento em que a Itália foi berço de tal explosão de novidade e frescor, numa Florença tão florescente, gerando os gênios que hoje reverenciamos, numa Florença competitiva, com um artista querendo “devorar as tripas” do outro, como em herdeiros na hora da partilha de uma herança. As árvores aqui se ramificam como veias e artérias, ou como curso de rios, ou como raios de tempestade, nas universais forças da Natureza, na ironia de que não importa para qual lugar do Mundo nós vamos, pois a Lua no céu sempre será a mesma, um lembrete de que somos todos crias da mesma ninhada, no constante esforço do padre no púlpito, sempre nos chamando de irmãos, num excepcional Chico Xavier, sempre chamando os outros de irmão, tendo havido no Brasil o maior médium de todos os tempos, no modo como Tao abençoa tanto o Brasil, com gênios como Niemeyer, Chico Anysio, Elis Regina etc., em exemplos vastos, como Tom Jobim. Podemos ouvir aqui os sons da diversão da criançada, num caos lúdico, no mágico momento do recreio no colégio, o momento de interação social, como no flerte de enamorados no Ensino Médio, na lembrança que tenho de adolescente, quando, no momento do recreio, a coordenadora impedia que os namorados ficassem muito perto um do outro, num pudor, numa disciplina, mas não sisuda demais ao ponto de proibir namoros no colégio. Um menininho coroa uma menina com uma coroa de flores, na magia das flores, na beleza de flores silvestres, as quais não precisaram ser plantadas pela mão humana, as quais adornam lindamente uma cabeça de menina, provocando os mesmo efeitos de uma cara joia de pedras preciosas, na revolução chanelista – o que importa é o efeito, no advento libertário das bijuterias. Aqui são como as tradicionais sakuras japonesas na Primavera, na libido sexual em cio, em flertes entre enamorados, no modo como a vida não é só siso, como em pessoas excessivamente disciplinadas, os workaholics, pessoas que simplesmente não vivem; só trabalham – é um horror. A coroação é tal júbilo, como numa formatura, remetendo-me a um fim de vida trágico que conheci, num rapaz de bem que foi covardemente assassinado em latrocínio na semana de formatura deste mesmo rapaz, nesta capacidade humana em subestimar o valor da Vida, num assassino que é, definitivamente, infeliz, vagando pelas terras inóspitas e desoladas do Umbral, a dimensão dos que não amam a Vida. Aqui é o momento de reprodução da Natureza, com salmões subindo rio correnteza acima e copulando, como num pinheiro macho fertilizando o fêmea, gerando a semente do pinhão, este produto tão característico do Sul do Brasil, o país feito de muitos pequenos Brasis, como, por exemplo, no “abismo” que existe entre Bahia e Rio Grande do Sul. Aqui é a força da Vida, em tempestades explodindo em forças de relâmpagos, no modo humano antigo em ver divindades em aspectos da Natureza.

 


Acima, O espelho da vida - Aquilo que o primeiro faz e os outros seguem. Aqui temos uma ordem e uma harmonia, no termo religioso “cordeiro de Deus”, para designar o cidadão de bem, comportado, que respeita o corpo social, havendo no sociopata uma pessoa que leva vida dupla, pois é um lobo em pele de cordeiro. Aqui são como as migrações de animais, como aves de Inverno que vi em Orlando no inverno americano de 1993, em aves fugindo do inclemente inverno do Norte. Aqui é como o Senso Comum, nas pessoas seguindo uma às outras, no modo como tal pensamento popular acaba se impondo a tudo, como por exemplo na linguagem, e darei um exemplo: Originalmente, falava-se “tão pouco”, só que o tempo passou e o Senso Comum se impôs, trazendo então o termo “tampouco”, considerado tranquilamente correto pelas normas da Língua Portuguesa, no ditado popular: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!”. Aqui é o trabalho rural com plantações e animais, cuidando dos animais, remetendo à produção de lã, como no município gaúcho de Uruguaiana, fronteira com a Argentina, um município que celebra a Festa da Lã, celebrando a força econômica de tal parte do Brasil, no fenômeno de disseminação das festas comunitárias gaúchas, cuja grande mãe é, sem dúvida, a tradicional e quase secular Festa Nacional da Uva de Caxias do Sul, cuja semente inicial, tenho orgulho de dizer, foi “plantada” por meu bisavô Lisboa em 1931, numa Caxias do Sul ainda agrária, sem ruas pavimentadas, muito diferente da Caxias de hoje, urbanizadíssima, com um parque industrial metalmecânico pujante, vibrante. Podemos ouvir aqui o som dos animais em fila, numa ordem, como desde cedo no colégio, quando a professora forma uma fila com os alunos da turma, numa ordem de estatura – o mais baixinho vem primeiro, fazendo uma metáfora com o conceito cristão de “Os últimos serão os primeiros”, remetendo a um certo templo católico brasileiro antigo, secular, no qual havia dois espaços: o decorado com excessos para os ricos e o simples, nu, para os escravos, e é claro que o espaço dos escravos era o mais interessante, simples, limpo, impecável, no conceito inoxidável de da Vinci: “A simplicidade é o mais elevado grau de sofisticação”, como na Arte Moderna Brasileira, limpa, simples, de uma candura quase infantil. Aqui remete às palavras do buenacho LC Barreto, o famoso Barretão, produtor de Cinema, dizendo, numa locação rural: “Coisa boa este cheiro de bosta ao ar livre!”, na liberdade da cena rural, encantando as pessoas da cidade, da selva de pedra, remetendo aos passeios rurais que eu fazia, quando criança, com minha família pela zona rural de Caxias do Sul, com o girinos nadando no rio e com quedas d’água selvagens, fortes, cruas, por assim dizer, na maravilha que é o contato com a Natureza, com o selvagem, havendo a contramão de como as pessoas da zona rurais são fascinadas pelo modo urbano sofisticado de vida, no termo “gente da cidade”. Aqui não há sinais de caos natural, como no recente ciclone extratropical que tantos danos causou a famílias gaúchas, despertando o sentimento de solidariedade, como hoje dei um pedaço de pão a um paupérrimo reciclador na Rua, na advertência taoista: Não seja ganancioso por comida; seja generoso, sem fazer da comida algo preciosista. A água aqui é pura, selvagem, em charcos e pântanos, remetendo ao pavoroso pântano morto de Tolkien, com cadáveres repousando, num lugar tão lúgubre, nesta dificuldade humana em lidar com naturalidade com a Morte, pois esta é tão inevitável, havendo no Plano Superior a necessidade da pessoa arrumar um trabalho e permanecer produtiva, na construção da grande carreira espiritual. Aqui a água é como um espelho, como nos espelhos d’água de Niemeyer em Brasília, a cidade do poder, para onde vão os nossos impostos, neste ímpeto de construção da capital, desenvolvimentista, pujante, viril, num homem ativo, que toca obras e mostra serviço, no caminho da construção do caráter de um homem, numa realização, como um certo senhor de minha idade, trabalhando no ramo de construção civil.

 


Acima, Prado florido. Aqui temos o flerte entre masculino e feminino, no advento da adolescência, na fase em que os sexos, que na infância se “odiavam”, começam a se interessar um pelo outro, a salvo, é claro, em caso de homossexualidade, como no livro Sexo para adolescentes, de Marta Suplicy, um livro que, definitivamente, não foi escrito para os gays, apesar destes “idolatrarem” a sexóloga política. A flor é a delicadeza, no presente de um apaixonado, num vistoso buquê de rosas, no eterno flerte entre Dona Florinda e Professor Girafalez no seriado Chaves, ao som da música tema de ...E o vento levou, na advertência sábia: Lindas flores são o caminho para o coração, mas o enamorado tem que começar pela cabeça, ou seja, pés sempre no chão, no conselho do agressivo e talentoso rapper Eminem: Keep it real, ou seja, Mantenha a coisa real. O Rap é um gênero musical agressivo, claro, mas poético, sendo difícil existirem rappers mulheres. Aqui é um campo de Primavera, como na floração nos vinhedos, gerando, no Verão, o cacho doce e delicioso da uva, na hora da árdua colheita, nas vinícolas tendo que contratar muita mão de obra temporária para dar conta da demanda dos vinhedos, na hora de colher os frutos, fazendo metáfora com as consequências das ações de uma pessoas, colhendo o resultado de suas atitudes. Aqui é como o Yin e o Yang se abraçando e entrelaçando, no fascínio de sedução entre AM e FM, como na embalagem de um produto, com duas faces: uma face é o rótulo exposto na gôndola, com um bom design, fazendo uma embalagem bonita e atraente; já, a outra face é utilitária, com o código de barras, os ingredientes do produto e as calorias no alimento, no termo “Unir o útil ao agradável”, no modo como liso e áspero são faces do mesmo trabalho, pois não existe trabalho cem por cento liso; cem por cento fácil; cem por cento doce. Aqui é como a delicada flor de cerejeira, linda, como num frágil tule de bailarina, esvoaçante, na imposição do delicado sobre o bruto, no mais fino cristal, frágil, exigindo um brinde suave, cuidadoso, delicado, sutil, como numa família de realeza, algo tão belo, onírico, atemporal, e algo, ao mesmo tempo, tão obtuso, pois numa família de realeza homem é varão e mulher é fêmea, e tudo que se desviar disso é heresia, na sabedoria popular: Na vida não se pode ter tudo, como num Charles III, reinando sobre um terço da Humanidade, mas um homem sem muito carisma, absolutamente aquém do carisma esmagador e atemporal de Diana, a mulher a qual, no momento do divórcio, tinha tudo para cair no esquecimento, assim como sua concunhada Sarah Ferguson, a qual se divorciou de um príncipe e simplesmente sumiu dos olhos do Mundo. A flor é este modo de começar a explicar a criança sobre sexo, nas forças naturais de polinização e reprodução, nas forças da Natureza brotando e ressuscitando depois de um longo Inverno, como num urso acordando faminto depois de uma hibernação, devorando salmões em rios caudalosos. A flor é tal beleza, no modo como a Flor de Lis foi símbolo da Monarquia Francesa e a Flor de Lótus símbolo dos faraós egípcios, fazendo da flor algo tão frágil e, em seu poder representativo, algo tão forte, na imposição do frágil, do sutil, como mãos suaves, gentis, no termo em inglês “gentleman”, ou seja, homem gentil, fazendo da grosseria a maior fraqueza possível, como me disse uma grande amiga, que foi minha professora de Redação no Ensino Médio: Fora da gentileza, não há alternativa. Aqui é o fascínio de Giuseppe pela Natureza e pela Primavera, com borboletas ensandecidas, beijando as flores, involuntariamente ocasionando tal fertilização, fazendo das flores as genitálias das plantas, algo muito natural, pois como Tao pode ter vergonha de algo que Ele mesmo inventou? Não é necessária a Educação Sexual para neutralizar a malícia no jovem? Estas flores remetem à recepção do hotel paulistano Matsubara, com flores pintadas de sakura brotando impiedosamente, nesta grande presença nipônica no SP, fazendo do Brasil tal nação de miscigenação, na terra dos pardos e mulatos. A flor é um presente da Natureza.

 


Acima, Procissão. Aqui remete às palavras de uma professora antropóloga que tive: “O Carnaval do Rio tem três matizes: A matiz portuguesa, que é o formato de procissão; a matiz veneziana, que são as fantasias; e a matiz africana, que são os tambores”. Temos aqui então tal matiz portuguesa, europeia, ocidental, nas procissões que Maria I, a louca, promovia, numa época em que não havia diagnóstico nem medicação para tal transtorno psíquico, nas maravilhas da Ciência que são tais medicações, fazendo-nos imaginar como era a dura a Vida em épocas em que não havia nem analgésicos e nem antitérmicos. Os véus são a pureza, a virgindade, numa mulher que casou virgem, casta, passiva, submissa, com o próprio pai dizendo para si mesmo no dia de nascimento de tal menina: “Esta eu vou guardar debaixo de sete chaves e entregar pura e casta para o marido na Igreja!”, ao contrário do menino, o qual, quando nasce, é soterrado de expectativas de ser o maior garanhão namorador de mulheres do Mundo, nos preconceitos de expectativas entre masculino e feminino, havendo em certas mulheres corajosas os ícones feministas, libertando a mulher do eterno papelzinho coadjuvante patriarcal, num Mundo tão obtuso, dizendo: Como uma mulher ousa ser o mesmo do que um homem? A cruz é tal força cristã, no duro início do Cristianismo em Roma, com cristãos sendo oficialmente executados pelo césar romano, até chegar ao ponto de, séculos depois, o imperador se converter ao Cristianismo, sepultando todo o paganismo antigo romano, grego, egípcio, sumério etc., em atos corajosos como o do faraó herege Aquenáton, desafiando a fortíssima religião politeísta do Egito, no modo como é a partir da transgressão de alguns de seus membros que uma sociedade evolui, numa pessoa com a capacidade de tal pioneirismo, de tal coragem, tornando-se um indivíduo pensante, e não um macaco mudo sem opinião nem discernimentos, na formação de nossas elites intelectuais, pessoas que pensam acima da média, formando a Inteligência, a qual mostra de forma clara como o Ser Humano é universal, pois Pensamento não tem cor, raça ou nacionalidade. Este dia é de uma ocasião especial, extraordinária, como nas tradicionais procissões de Corpus Christi, com os tradicionais tapetes de serragem, uma arte que, infelizmente, foi feita para ser destruída, como um certo designer cujo trabalho conheci, um designer de claro e extraordinário talento, mas perdendo tempo com bobagens pornôs, no modo como o pornógrafo nada constrói, apesar de eu não querer aqui soar moralista – Pornografia não é Arte, sinto em dizer. Aqui podemos ouvir o som do sino, chamando a comunidade para tal momento de comunhão e união, no momento de manifestação de cultura popular, a qual vem do povo e a este pertence, como no fascínio de Ariano Suassuna pela cultura popular brasileira, algo tão rico e único, no momento em que a comunidade gira em torno do belo e do festivo, uma tentativa de nos aproximarmos da beleza plácida metafísica, no lugar onde a Paz é inabalável. Aqui é um caminho a ser galgado, numa estrada, numa trajetória, como na construção de uma carreira, sabendo que nenhum trabalhinho é em vão, como na árdua vida de gari, passando a vida varrendo calçadas numa cidade, por vezes limpando a sujeira promovida por cidadãos pouco limpos, os quais não parecem saber o que é uma lixeira, como numa indignada Patricia Pillar na beira da praia no Rio de Janeiro, juntando da areia o lixo que o povo porco jogou, com o perdão do termo forte e contundente. A mulher com a cruz é tal responsabilidade, no modo como até hoje o Mundo absorve o pensamento de Cristo, o espírito mais depurado que já encarnou na Terra, no conceito do perdão, o qual é muito mais simples e fácil do que guardar ressentimento, no modo como resolvi perdoar uma pessoa que foi desagradável comigo. A cruz é a passagem, no caminho, na verdade e na vida, pois Tao é um caminho só.

 

Referências bibliográficas:

 

Giuseppe Pellizza da Volpedo. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 14 jun. 2023.

Giuseppe Pellizza da Volpedo. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 14 jun. 2023.