quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Agora é Auguste (Parte 1 de 2)

 

 

O francês Auguste Toulmouche (1829 – 1890) ficou conhecido por fazer luxuosos retratos de damas parisienses. Estreou no Salão de Paris em 1848, aos dezenove anos de idade. Auguste foi um retratista acadêmico, num gênero que foi transgredido pelo Movimento Impressionista, no modo como o advento da Fotografia libertou a Arte da função retratista. Toulmouche faz parte de muitas coleções particulares e de museus como o supremo Louvre. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, O vestido azul. A moça está alheia, quem sabe tímida. Está como a estrela Sigourney Weaver numa certa entrega do Oscar, exibindo as costas de seu vestido, nessa insana competição entre mulheres para ver qual é a que porta o vestido mais maravilhoso da festa, como no tradicional Met Gala de Nova York, para ver qual delas é mais deslumbrante de todas, competindo com Gisele, a menina comum que adquiriu carisma de princesa, deixando “no chinelo” uma princesa de fato, que é a brasileira Paola de Orleans e Bragança, nesse “abismo” que existe entre de facto e de jure. As flores são a exuberância da Vida, na Vida eclodindo em libidinosa primavera, em borboletas ensandecidas polinizando, em ursos acordando famintos após uma longa hibernação, naquela libido de se acordar no meio da noite com fome, louco por uma fatia de pizza. As flores são a delicadeza da feminilidade, em algo tão frágil e tão poético, nas flores silvestres, as quais brotam sem terem sido plantadas pela mão humana, no gosto do caule das flores azedinhas, em prazeres que não custam um só centavo – o melhor da Vida é grátis. O leque é o frescor de novidade, numa nova moda invadindo a Europa, nas transgressões parisienses, em coragem de uma Chanel, num poder libertador, mostrando que a mulher tem todo o direito de sentir prazer na periquita, com o perdão do termo chulo, ao contrário da política patriarcal, que simplesmente tolhe o prazer sexual feminino, como na cena de Sharon Stone em Invasão de Privacidade, masturbando-se na banheira – qual é o mal em uma mulher viver sua própria sexualidade? As porcelanas são a fragilidade, numa fineza, do fino que se sobrepõe ao grosso, na contradição taoista – fino é forte; grosso é fraco. A poltrona é o repouso merecido, numa mulher com toda uma agenda social, em chás de senhoras, no modo como pode ser vazia a vida de uma pessoa sem norte na vida, no filme A Época da Inocência, na diferença entre duas primas – uma com norte, querendo casar e constituir família; a outra, confusa e indecisa, sem ter um norte próprio na Vida. E a Vida não é um inferno para os que não têm norte? Não é o falo racional a aquisição de uma direção e de um norte na vida? É como uma amiga minha, a qual definitivamente carece de um norte, estando perdida dentro de um traiçoeiro labirinto. Podemos aqui ouvir o doce farfalhar do vestido luxuoso, numa tarde preguiçosa de sesta, neste gostoso pecadinho capital da languidez, como um amigo meu, cujo apelido era “Torto”, tal a languidez do rapaz. As costas sensuais estão parcialmente expostas, no jogo sensual entre ocultar e revelar, na provocação do striptease, o qual tanto esconde quanto revela, na figura dominadora da stripper, “domando” os cavalheiros na plateia, como na Mulhergato com seu chicote, domando Batman e colocando este nos eixos, como num casal que conheço, no qual a mulher mantém o patrão debaixo de rigorosas “chicotadas”. O laço aqui é o comprometimento, numa mulher que mostra que não é de fácil acesso, mostrando que só pode ser conquistada mediante muito esforço, numa mulher que definitivamente não se vende pouco, numa Nefertiti parisiense, altiva e misteriosa, assim como na hierarquia dentro do harém de um faraó, em cujo topo estava a Grande Esposa Real, a prioritária, que aparecia oficialmente ao lado do faraó em aparições públicas e monumentos. A cadeira é tal trono, num descanso, numa mulher que está prestes a se tornar Rainha Consorte da Inglaterra, num título de tanto poder e prestígio, numa Diana, que se tornou rainha do Mundo mesmo após perder oficialmente o título de Princesa de Gales. A luz entra pálida e suave no cômodo, fraca, da força da fragilidade feminina, fundamental na hora de contrastar dom a força do Yang, do masculino.

 


Acima, Oração na hora de dormir. Aqui é o zelo materno, numa dedicação, no termo irônico: “Ser mãe é padecer no paraíso!”. O menino é a inocência e a fragilidade, no modo como uma mulher tem o instinto materno de proteger o filho fraco, em figuras de fragilidade como Woody Allen, uma espécie de macho sensível, cheio de vulnerabilidades que seduzem as mulheres, longe da figura do machão supremo, algo tão odiado pelas feministas, as quais têm a coragem de ir contra o vento e ir contra os preconceitos do Patriarcado. O véu de mosquiteiro é tal proteção do lar, numa mãe que se assegura de ter um lar seguro, sem riscos para a criança. Aqui é a sabedoria passada de geração para geração, ensinando o filho a rezar, passado de mãe para filho, como nas tradições orais indígenas, com o conhecimento sendo passado sem o registro de escrita, diferente a civilizações dotadas de escrita, registrando o conhecimento, numa Cleópatra enfurecida ao ver os romanos incendiando a Biblioteca da Alexandria, no eterno talento humano para com a brutalidade e a estupidez, pois, para o Ser Humano, infelizmente, quanto mais grosso, melhor, num obtuso e desinteressante Mike Tyson, simplesmente arrancando a dentadas a orelha do opositor – Jesus, que animal! A oração é tal espiritualidade, no papel que a religião tem para dar acompanhamento psicológico, na importância da religião para o imigrante italiano no Rio Grande do Sul, em noções civilizatórias de elevação moral, indo aqui contra Marx, o qual considerava as religiões bobagens – eu respeitosamente discordo de Marx. O menininho, em sua inocência, ouve a mãe, respaldado por uma almofada, a qual é tal elevação, num esforço espiritual para ser de grande apuro moral, num espírito verdadeiro, que odeia mentir ou dissimular, no caminho da autenticidade, na perfeição moral de Jesus, o qual jamais proferiu qualquer mentira, na metáfora do laço mágico da Mulher Maravilha, o qual, ao envolver a pessoa, causa dor à pessoa que mente. Este quadro é uma das provas da maestria de Auguste, no efeito acetinado do vestido da senhora, num pincel de tamanho retratismo fiel, digno de um Pedro Weingärtner, um acadêmico brasileiro de admirável técnica, sobre o qual este blog já falou. Aqui é um dia de Verão, pois a mulher está com um roupa a mais fresquinha possível, não podendo se desfazer da opulenta saia, no modo como a Moda, em suas vogues parisienses de novidade, foi libertando a mulher, indo contra o Patriarcado, o qual não permite que uma mulher tenha sexualidade – é um horror essa misoginia social generalizada. O berço é a criação, a origem, numa passagem que testemunhei, com um homem, que teve família e criação, e um menino, que veio órfão ao Mundo: O homem falava com a boca cheia de comida, e o rapaz perguntou a ele: “Não tens educação?”. E o homem disse, querendo sutilmente cutucar o rapaz: “Sim, de berço”. E o rapaz, sem se incomodar pela sutil alfinetada, disse: “Então não fale de boca cheia!”. Os cômodos de Auguste são suntuosos, num artista que, provavelmente, não gostava de retratar pobreza. Imagina-se as numerosas encomendas que o artista teve em Paris, tornando-se uma vogue, um queridinho das elites, as quais tinham dinheiro para contratar os serviços do talentoso artista. A oração é o momento de elevação, de olhar para além da Dimensão Material, na sobreposição do sacro ao vulgar, no discernimento entre nobre e vulgar, nos esforços de um psicoterapeuta que nos diz que não devemos nos envergonhar por sermos seres dotados de sexualidade e de desejo sexual, que são naturais no Ser Humano. A mãe é o colo, o acolhimento, a recepção, na mãe zelosa que nos faz comida, na figura da mãe ultrazelosa que é a Dona Florinda, do seriado Chaves, sempre defendendo o filho Quico, no modo como uma mãe fica entre dois aspectos ao criar um filho: Ser calorosa e, ainda assim, rígida. É como repreender o filho, mesmo tendo pena deste. A nobre senhora é a Grande Mãe Metafísica, o útero ao qual todos pertencemos, algo que nos ensina, metaforicamente, a Imaculada Conceição de Jesus, na capacidade permanente do Ser Humano em ignorar tal origem apolínea e sacra.

 


Acima, Um doce fazer nada. Aqui é o gostoso pecadinho da Preguiça, num momento de languidez, numa sesta sedutora, nos versos da canção do grande cantor Bruno Mars: “Hoje nada farei! Só deitarei em minha cama!”. É uma merecida pausa, no modo como a Vida não é só labor, ao contrário do workaholic, o qual pensa que a Sociedade abonará e recompensará tal falta de autorrespeito. Aqui são os luxuosos vestidos de damas parisienses, no fascínio que a Moda exerce sobre a mulher, fazendo do Estilo um excelente modo da pessoa se expressar, em artistas para o quais é muito importante qual roupa vestir ao vir a público, na diversão de se vestir personagens – um dia, a mulher estás se sentindo feminina e usa Chanel; no outro, está se sentindo masculina e se veste como um menino com um boné de Baseball. Aqui remete ao filmão A Época da Inocência, numa moda bem da época, no século XIX, no modo como a moda contemporânea foi evoluindo e libertando a mulher, ao contrário do pesado vestido aqui, como no guardarroupa deslumbrante da telenovela Sinhá Moça, com a moça rica dos cafezais portando seus vestidos, como numa certa festa de Cultura Popular Brasileira, na qual há a figura da Sinhazinha da Fazenda, num arquétipo feminino como a Rainha da Festa da Uva, na inegável universalidade do Ser Humano – conheça tua própria aldeia e conhecerás o Mundo! Aqui é o desejo de se horizontalizar, numa lânguida rede, no modo indígena de descanso, num dia de Domingo, o qual era monótono para o imigrante italiano na Serra Gaúcha, num colono trabalhador o qual só não trabalhava no Domingo porque o padre e a religião não permitiam, pois até Tao descansou no sétimo dia! Os laços e babados são tal feminilidade, numa Madonna usando lingerie para cantar a canção sobre uma mulher que se sentiu como uma virgem ao ser tocada pelo seu namorado, numa Madonna trazendo sexo e sexualidade para uma América tão puritana e protestante, num violento contraste que resultou em brilho esfuziante, numa mulher que tem mais coragem do que muitos, muitos homens. O quarto aqui está como uma luminosidade limiar, branda, convidando a tal descanso gostosinho, num cômodo aveludado como os cômodos nobres de Auguste, que se tornou o queridinho das damas de Paris, uma cidade a qual, já ouvi dizer, é provinciana, mas digo mais: o Ser Humano é provinciano! Como no Met novairoquino, o qual dá preferência para a Arte Europeia, em contraste com o museu Whitney na mesma cidade, que só traz arte dos EUA, como na rádio Antena 1, que só traz música internacional, em contraste com a Brasil FM de São Paulo, que só traz som nacional. A planta ao fundo é tal vida mansa, num lugar que tem vida, em cidades como Porto Alegre, que tanta Arte nos traz, como nas Bienais de Artes Plásticas, numa cidade que nos dá “um banho de civilização”, no modo como amo tal urbe. A moça aqui está relaxada, longe do momento de interação social, sem rigorosos espartilhos, no conforto aqui do lar, com espartilhos afrouxados e um sofá confortável que nos convida à horizontalidade. A saia da moça é como um suntuoso bolo de casamento, na universalidade do enlace heterossexual, nas bênçãos da Sociedade para o casal, na “obrigação” heterossexual de se trazer Vida ao Mundo, na pressão em famílias de realeza em nome da produção de herdeiros na linha de sucessão, como no rei da França dizendo ao casal recém enlaçado em Versalhes: “Boa noite e bom trabalho!”. O livro aqui está colocando de lado, no sono ao se ler na cama. O livro é o termo “Uma vida que é um livro aberto”, nas palavras de um altivo Obama recém empossado, no televisivo americano Saturday Night Live: “Nada tenho a esconder!”, no caminho da dignidade, na capacidade de uma pessoa em se tornar uma figura na qual o povo pode depositar esperanças. As almofadas são o respaldo e o carinho, no trauma de se sair do quentinho e gostoso útero materno, no choque ao se vir ao duro Mundo. A moça aqui está extremamente à vontade, pois sabe que não é um rígido momento de aparição pública.

 


Acima, Um poema de tarde. Aqui é um aconchego de intimidade, como num casal que atingiu tal nível de proximidade, na diferença entre fazer sexo, que é mecânico e selvagem, e fazer amor, que é doce e manso, nas palavras de uma certa prostituta holandesa, que sempre transa com os clientes mediante uso de camisinha: “Eu ofereço sexo; não intimidade”. Aqui é uma aliança, na forte aliança entre mãe e filho no útero, nesta mulher sem a qual jamais teríamos vindo ao Mundo, numa gratidão eterna, muito longe de uma certa sociopata, a qual tramou o assassinato dos próprio pais, pais que eram altamente zelosos e carinhosos – é um horror, numa ingratidão profunda, na frieza de um sociopata, o qual não vê um machado uma ferramenta para cortar árvores, mas para matar alguém a machadadas, na metáfora ao fim do filmão Fargo, com a figura do lenhador deturpada pela mente de um frio assassino. Aqui são esses cômodos suntuosos de Auguste, confortáveis, aveludados, acolhedores, de fino trato, em marcas de roupas e acessórios de luxo, como a Prada, seduzindo mulheres, em bolsas que se tornam tal objeto de alto interesse, numa mulher que faz economia para ter acesso a tal produto, causando “inveja” às outras mulheres, na máxima popular: “O gramado do vizinho é sempre mais verde”. O banquinho para os pés é o suporte, numa pessoa que nos dá tal ajuda, numa pessoa que observa que estamos precisando de tal empurrãozinho, no ato de caridade: Ajudar é bom; dar esmolas, não. Aqui é uma relação de mãe e filha, numa filha criada mediante aos preconceitos do Patriarcado, nos quais o casamento é o passo mais importante da vida de uma mulher, havendo na figura feminista a coragem de se ir “contra o vento”, em figuras como a Mulher Maravilha: Ela é bela, formosa e feminina, mas dá uma bela surra em qualquer marmanjo. O biombo é um desdobramento, no desdobramento de um processo gradual, como num processo de empobrecimento existencial, o qual veio vindo devagar, silenciosamente, pegando a pessoa de surpresa num momento em que realmente já não há como voltar atrás, numa pessoa que adquiriu norte e virilidade, assumindo o controle de sua própria vida, no caminho feminista de independência e emancipação, numa mulher a qual, apesar de delicada e feminina, está com as rédeas de sua própria vida, como no triste caso de Grace Kelly, a qual perdeu o norte ao se casar e abandonar uma carreira brilhante, no modo como uma pessoa rica pode ser tão triste e infeliz. Aqui é um sutil farfalhar aveludado, nos vestidos luxuosos das senhoras, num Auguste que nunca fez quadros retratando pobreza, estabelecendo, assim, uma identidade e uma assinatura, no caminho de construção de identidade de Andy Warhol, passando a receber inúmeras encomendas, em casos de artista que atingiram sucesso e reconhecimento ainda em vida. O poema aqui é entorpecente, calmante e hipnotizador, em um Auguste que gosta de tal preguiça e languidez, retratando mulheres as quais não trabalhavam de fato, tendo estas para si casa, comida e roupa lavada, como uma senhora portoalegrense a qual eu subestimava, uma senhora que se elegeu recentemente vereadora da capital gaúcha – esta senhora me mostrou que eu estava equivocado, como na revista Veja, a qual, de início, subestimou um certo filme brasileiro, tendo que, mais tarde, redimir-se e voltar atrás, como na rainha Elizabeth II, acuada no episódio do falecimento de uma das mulheres mais notórias da História da Inglaterra. O papel de parede deve ser de tecido, talvez de veludo, em elegantes residências, como numa certa senhora que conheço, que é “movida a glamour”, ignorando o que não tem tal charme chic. As almofadas são a sensação reconfortante, como num psicoterapeuta, fazendo com que nos sintamos bem em meio a nossos próprios problemas, sempre apontando uma saída agradável. Aqui são esses simples prazeres da Vida, no modo como a Preguiça foi a mãe de grandes invenções, como a Roda.

 


Acima, Vaidade. Claro que temos aqui o mito de Narciso, afogando-se em sua própria vaidade, numa pessoa que se acha tão acima de qualquer defeito. O espelho é tal símbolo de feminilidade, no ato de beleza e de autoestima frente a um espelho, na mulher vaidosa, retocando cada mínimo detalhe de maquiagem, numa pessoa que leva tão a sério a aparência. Os laços do vestido são tal entrelaçamento, em detalhes sendo ajustados, nos destinos sendo traçados existencialmente, nas costureiras traçando tais detalhes de destino, nos modos da Divina Providência, tecendo destinos. O espelho é tal contemplação, tal vislumbre, no Narciso se afogando em meio à própria vaidade, achando-se a coisa mais sexy de todo o planeta. Aqui temos detalhes neoclássicos de decoração, em formas tão elegantes e aristocráticas, na paixão de Toulmouche por decorações chics, aristocráticas, na elegância das damas parisienses, como no estilista Lagerfeld, atraindo senhoras chics tal qual mel atrai abelhas, nas senhoras lutando para cumprimentar o estilista, obtendo atenção dele. O traje aqui é veranil, com ombros expostos, numa estação quente, em dias de altas temperaturas, na ironia dos climas temperados: um gelo no Inverno e um inferno no Verão, com as estações do ano tão bem definidas e delineadas. O espelho é tal momento de aprumação, na moça se arrumando para o momento de interação social, arrumando-se ao máximo, não deixando passar qualquer detalhe, em um atencioso momento de maquiagem, numa moça tão feminina, que vê na maquiagem e no salto alto um prazer, e não uma obrigação social, ao contrário da lésbica, que vê maquiagem e salto alto como imposições e obrigações sociais, e não como um prazer. Aqui é uma mulher que sabe que é uma das mais bonitas da festa, no caminho de autoestima, gostando de si mesma, afetando a todos os cavalheiros no salão de baile, no passo da debutante, a qual se despede de suas bonecas para ir ao baile de debutantes, abraçando a vida adulta, flertando com os rapazes que são como príncipes no salão de baile, ao contrário da mulher madura, a qual sabe que jamais aparecerá tal príncipe milagroso, como na Carrie de Sex and the City, lendo para uma afilhada um conto de fadas, perguntando à afilhada após a leitura: “Você sabe que isso não é real, sabe?”. As flores são tal delicadeza feminina, tal olor sedutor, no filme Perfume de Mulher, na clássica cena do homem cego dançando tango com uma mulher, nesse estilo musical tão único e sedutor, em musicais tão icônicos como Evita, contando a história da atriz medíocre que se tornou um ícone político, no modo como não devemos subestimar as pessoas. Na mesinha ao lado vemos um leque, que é tal frescor, tal renovação de novidade, numa Primavera que vem em tanto frescor após um sisudo Inverno, na magia renascentista de Primavera, soprando novidades a uma Europa tão medieval, no modo como o novo sempre vem. O vaso é tal receptáculo feminino, na jarra de Galadriel frente aos pés rudes e masculinos de Frodo, num contraste, no Espelho de Galadriel, prevendo o futuro, como no espelho de Cheetara, do desenho animado Thundercats , como se fosse um portal mágico para outra dimensão, na magia de artistas como a cantora Enya, com a magia celta de canções místicas, etéreas, apolíneas, na capacidade de certos artistas em obter tal efeito de leveza. O vestido rosado é o interior de um belo filé rosado, numa carne tão suculenta e macia, na magia de um belo filé sendo servido. A cintura é delgada e elegante, talvez ceifada por um doloroso espartilho, nas cruéis obrigações sociais de uma mulher, tudo em insano nome da beleza e da formosura. Vemos na mesinha alguns potes, talvez com maquiagens ou perfumes, na magia multicolorida de frascos de perfumes na sala de arrumação feminina, fazendo metáfora com a beleza imutável metafísica, na eterna juventude, na dimensão em que somos todos belos e produtivos, numa vida com tanto tesão e propósito, na grande construção da carreira espiritual, na qual nenhum labor é em vão. As cortinas aqui são tal suntuosidade, nas salas elegantes de Auguste. O discreto azul marinho é tal sofisticação, no caminho de elegância aristocrática.

 

Referências bibliográficas:

 

Auguste Toulmouche. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 12 out. 2022.

Auguste Toulmouche. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 12 out. 2022.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Amo muito Mucha

 

 

O ilustrador tcheco Alfons Maria Mucha (1860 – 1939) foi grande mestre do movimento, da vogue, da vague, da onda, da moda Art Nouveau, tendo sido ilustrador de revistas e de cartazes de espetáculos. Recebeu as bênçãos de um mecenas para estudar. Lecionou Pintura nos EUA. Morreu de Pneumonia. Acho que um certo amigo meu, que ama Art Nouveau, vai gostar desta postagem! Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Primavera. A beleza e luxúria da explosão de Vida, em ursos famintos após a hibernação, devorando salmões desavisados, na fome de uma pessoa que está encontrando sentido e tesão na Vida, num alpinista excitado com uma desafiadora montanha, no poder dos desafios que tanto nos fazem crescer. Os cabelos são imensos, ultrafemininos, como na Vênus de Botticelli, tímida e sexy, tapando o sexo com seus longos cabelos, como num filme em que Uma Thurman interpreta tal Vênus saindo da célebre concha de revelação, no olor de Mar, numa deliciosa massa à putanesca, como num amigo que tenho, o qual gosta de frequentar bordéis, mesmo sendo um homem casado, no modo como a Vida vai nos exigindo que sejamos dignos e unos, e não ter vida dupla, pois a pessoa com vida dupla é infeliz, pois está “em cima de um muro”, nunca feliz de fato – é triste. As flores aqui remetem às luxuriantes sakuras japonesas primaveris, na universalidade da ressurreição da Vida, na magia das flores, num símbolo de beleza e nobreza, havendo numa flor um símbolo de realeza, falando da beleza natural de um reino, como nas altivas araucárias da Serra Gaúcha, no infeliz modo como o Ser Humano valoriza os palácios mas ignora as belezas naturais. A barriga aqui é fértil, na beleza de uma mulher grávida, símbolo de Vida, neste poder tão invejado pelos homens, os quais conceberam o Patriarcado para haver uma “compensação” frente ao poder feminino de trazer Vida ao Mundo, num certo clipe de Madonna, numa barriga de mulher explodindo e libertando pombos brancos, símbolos de Paz, na Vênus de Botticelli entorpecendo Marte, “adormecendo” a vontade de guerrear, na orientação taoista: Entenda a força de Marte, mas seja mais como Vênus dentro de você mesmo. É no simples prazer de se estar em casa, à vontade, no slogan de uma certa galeteria, o “Alegria à vontade”, na fartura de uma mesa tão abundante, num sonho de imigrante italiano, o qual se deparou com uma vida tão dura, quase passando fome. Os quadris são sinuosos, como na logomarca da universidade Unisinos, aludindo às formas sinuosas do Rio dos Sinos, na aquosidade sedutora de uma serpente, sempre sinuosa e misteriosa, nos quadris de uma competente modelo, caminhando como uma deusa na passarela, no modo como já ouvi dizer: o Mundo da Moda tem um brilho absolutamente superficial, mas, penso eu, ainda assim, fascinante, no modo como a Moda e o Estilo podem ser tais maneiras maravilhosas de uma pessoa se expressar, na revolução de Chanel, a feminista que libertou as mulheres de preconceitos misóginos, numa “masculinização” que só veio a ser altamente feminina, em símbolos de feminilidade como o perfume Chanel número cinco, no comercial com Rodrigo Santoro e Nicole Kidman, no homem comum e sincero que se apaixonou pela fragrância da diva, na junção de Eros entre os opostos – glamour e timidez. É como num senhor malicioso que conheci, o qual usava perfumes de mulher... A cor aqui é o branco da Paz, num esforço diplomático em nome da harmonia, numa nobre neutralidade suíça, havendo no homem de Paz a promessa de um mundo melhor, acima de nós – num mundo aguerrido entre amarelos e azuis, seja verde, pois você não resolverá os problemas do Mundo, mas será a promessa de algo profundamente mais nobre e positivo, que é o Plano Metafísico, o reino indestrutível e eterno, no modo como a fé é tal força de Paz, sem qualquer garantia científica, no modo como a Psiquiatria não vê além do óbito carnal, com todo o respeito que tenho pelas pessoas da Ciência. Os pés descalços são a simplicidade, numa casa confortável, com carpete ou tapetes, fazendo metáfora com a aveludada polidez de caráter de um fino anfitrião. A moça é um continuum com a Natureza pulsante e bela. Uma debutante virginal.

 


Acima, Verão. A moça está reclusa, quase arredia, reservada, tímida talvez, numa pessoa discreta, que leva tal vida de reclusão de reserva, na discrição de um Luis Fernando Veríssimo, passeando pacatamente num shopping, como qualquer cidadão portoalegrense, sentando para tomar um café e contemplar um pouco a Vida, em tal momento de descanso – a Vida não é só labor, como uma pessoa workaholic que conheci, a qual simplesmente não se permitia viver. Que vida é essa, irmão? A moça toca com sutileza na água plácida, calma, tranquila, na leveza de Cristo caminhando sobre as água, no final engraçado de O Código da Vinci, com uma moça, descobrindo-se membro da secreta família descendente de Jesus, colocando o pé na água como se quisesse caminhar tal qual seu antepassado, no modo como o sucesso é um amante infiel, num escritor Dan Brown que perdeu a verve, o it e o charme após tal bestseller esmagador, no modo como a Vida é ter a força para virar as páginas, no infeliz modo como há tantos artistas talentosos que não sobreviveram ao sucesso que fizeram nos anos 1980, como uma certa atriz que foi uma grande promessa jovem, uma atriz que “tomou chá de sumiço”, pois quem para de lutar, desaparece. As costas da moça estão sutilmente nuas, num jogo de striptease, no jogo da luz do luar, escondendo e revelando, nunca conclusiva, sempre em processo de desenvolvimento e crescimento, no crescimento que é o sentido da Vida, numa pessoa que morre sendo uma pessoa melhor do que a foi ao nascer, no modo como a Vida não é só sonho, mas trabalho também, na metáfora do estúdio hollywoodiano Dreamworks (sonho e labor): Sonhe e lute para concretizar tal sonho! A água aqui é a purificação, como na princesa pura de aurora da famosa ária operesca Nessum Dorma, no final de um filme de Barbra, com uma revelação apolínea ao final, numa libertação, num esclarecimento de dúvidas, num processo de esclarecimento se revelando, na revelação suprema, a qual nos mostra que somos todos filhos do mesmo Útero Divino Metafísico, havendo esta especialidade cruel humana que são as guerras, em Caim eternamente matando Abel, nas noções moralizantes dos Dez Mandamentos: Não matarás! A moça aqui está em um momento reservado íntimo de banho, como no “ritual” de uma mulher se arrumando para sair, num processo longo: fazer as unhas, banho, desodorante, secar o cabelo, arrumar o cabelo, maquiar-se, vestir-e, enjoiar-se e colocar perfume, o grand finale e tal ritual de autoestima, ao contrário de uma certa atriz, a qual vai a uma cerimônia do Oscar sem se arrumar muito, no fato de que eu mesmo sou uma das pessoas que devo amar na Vida. Aqui são as delícias de brincadeiras de Verão, no glorioso momento de férias, com os amigos na praia e na piscina, como numa piscina californiana, fazendo contraste com o tórrido e seco Verão da Califórnia, no modo como pode ser sem graça um chafariz que funciona na chuva, sem contraste... Aqui é uma gloriosa aurora de Eos, a deusa grega do amanhecer, na universalidade ao redor de Vênus no Céu, sinalizando a morte na noite e o renascimento na manhã, na promessa maravilhosa de que a Mente sobrevive à morte do Corpo, no modo como o Espiritismo é contra a ação de pessoas que se submetem a uma cruel crucificação, num masoquista que quer sentir o que Cristo sentiu, na máxima espírita: Mortifique o espírito e não o corpo! E o que é a mortificação espiritual? É se livrar de tolos sinais auspiciosos, ficando atento ao que realmente importa, que é a virtude de Tao, o ente cheio de sentido. A água aqui é o espelho, símbolo de feminilidade, na personagem Ana Terra, de Érico Veríssimo, olhando-se no córrego, numa moça tão tolhida pelo impiedoso patriarcalismo do próprio pai, o qual executou o índio que engravidara Ana. Aqui é a magia de perfume de um banheiro após um bom banho, aproximando-se da limpeza suprema metafísica, muito além das inevitáveis insalubridades materiais. A roupa aqui é uma majestosa cortina teatral, abrindo-se e revelando o mágico cenário, penetrando assim na mente do espectador, o qual quer ser “enfeitiçado” pela magia da Arte.

 


Acima, Outono. Os frutos são a recompensa, na gratificação por um trabalho duro, ao contrário de um workaholic, cujos esforços jamais são recompensados, num caminho degradante de falta de respeito para consigo mesmo – respeito é para quem se dá ao respeito. O pires é o receptáculo feminino, a jarra de Jeannie é um Gênio, na reclusão de uma pessoa reservada, sabendo que os momentos na muvuca, no lar, são de ouro. É o valor da discrição, no modo como pode ser um inferno a vida de uma pessoa assediada, escrava de sua própria celebridade, numa Xuxa que não pode ser dar ao luxo de caminhar nos prazerosos calçadões à beiramar no Rio, numa pessoa prisioneira de si mesma. Aqui é a estação dos frutos, como das bergamotas outonais, no seu doce sabor, na doce recompensa por um esforço grande, na fartura de uma árvore repleta de frutos, como nos caquis outonais, no sabor da fruta da estação, nesta grande invenção de Tao, que são as frutas, nas doces uvas virando vinho. No busto da moça outonal há dois adornos que realçam o busto, num jogo erótico de vida, como na explosão lasciva de vida em Decameron, na explosão erótica da vida, numa estação de acasalamento, na explosão do sexo e da reprodução, como adolescentes enlouquecidos com seus hormônios à flor da pele, em borboletas enlouquecidas fazendo a necessária polinização, no trabalho promíscuo do beijaflor, na promiscuidade que tanta força deu à AIDS, como numa geração como a minha, a qual foi criança nos anos 1980, já crescendo alertada sobre o vírus, no aviso que é uma pessoa contraindo piolho chato pubiano: Cuide-se, pois hoje pode ser algo brando; amanhã pode ser pior. A moça usa flores na cabeça, substituindo joias caras, no caminho de Chanel, alegando que o que importa é o efeito do adorno, como no busto de Nefertiti, o qual é uma mera peça de pedra comum, num artefato de preço impagável, importante ao ser o pomo de discorda entre o Egito e a Alemanha. Aqui é o seio da Art Nouveau, com seus ramos vegetais crescendo e entrelaçando-se, no caminho instintivo de uma hera, avançando com sua força e graça, com sua vontade, neste estilo de ramos vegetais, na força da explosão primaveril da Vida. A moça aqui é uma donzela, pura como o leite, numa lata de Leite Moça, como na cara de santa de Evita, a qual, de santa, só tinha a cara, numa mulher que não conseguia imaginar a vida sem inimigos, numa política que cultivou inimigos tais quais repolhos em horta. Aqui é a exigência para a inscrição no concurso de Rainha da Festa da Uva, exigindo que a moça inscrita seja jovem e solteira, sendo, ao menos teoricamente, virgem, no modo do mito de Nossa Senhora existir para fazer o Ser Humano entender a imaculada conceição que gerou a todos nós, filhos do mesmo Pai, que é Tao, o qual nos criou absolutamente únicos, pois as pessoas são insubstituíveis, nas palavras da respeitável diva Gaga: “Ele fez você perfeitamente”. Aqui são as cores douradas do outono, no modo como já ouvi dizer que o outono novaiorquino é belo, com o Central Park tomando de dourado, na vida morrendo para renascer vitoriosa na Primavera, na esperança do Desencarne e da Ressurreição, na ascensão para um mundo melhor, repleto da beleza mental, espiritual, nos vínculos nobres que são absolutamente espirituais, sem qualquer influência da carne, no modo incrível como os vínculos da família sobrevivem ao Desencarne, em avós e bisavós que esperam por nós lá no Céu, a dimensão dos que amam a Vida. Aqui é a força da Natureza, como no filme Eu sou a lenda, na Natureza abocanhando Nova York, num futuro apocalíptico em que a Vida em Sociedade falha enormemente. Podemos aqui sentir o olor frutal, na sedução da frutas, no hálito de baunilha da personagem idealizada Iracema, na sedução de doce perfume feminino, em mulheres elegantes passando e deixando seu perfume no ar. O tecido aqui é fino e esvoaçante, carinhoso ao toque, em luxuosas bolsas forradas de veludo, fazendo metáfora com o que importa, que é o fino trato de um espírito evoluído.

 


Acima, Inverno. Aqui o agasalho é mais pesado, remetendo à desilusão de um amigo meu, o qual contou que queria ser ratão de praia em Santa Catarina, enfrentando, depois do doce Verão, o advento do Inverno, numa praia cada vez mais erma e fria, cada vez mais cinzenta e nublada – não dá para fugir da seriedade da Vida. Aqui é a beleza da neve, atraindo tantos turistas à Serra Gaúcha, num espetáculo tão raro, tão celebrado, numa beleza natural, parecendo que tudo está coberto de doce açúcar, no modo como cada estação climática tem seus encantos. Aqui é a sisuda formiga gozando das reservas de alimentos que fez durante o Verão, ao contrário da cigarra, que só cantou e esqueceu-se das reservas para a estação fria, nos planos de aposentadoria de uma pessoa, pensando no futuro. A moça aqui está quase toda coberta, pudica, cheia de reservas, e mal podemos ver algo de sua perna. É o instinto de proteção, numa matriarca protegendo os filhos, como um rapaz que conheci, o qual teve uma mãe absolutamente superprotetora, a qual dizia aos professores do filho mimadíssimo: “Meu filho não merece nota dez; meu filho merece nota onze!”, no modo como uma mãe tem que saber contrabalancear cuidado com austeridade. Aqui é o momento de reserva do urso em hibernação, num descanso merecido, como numa sesta, num descanso, em merecidas férias, num momento de saudável desligamento, nas palavras de Barbra: “Na maior parte do tempo, quero deitar sob uma árvore e nada fazer!”. A neve aqui é a doçura do açúcar, na sedução universal dos doces, no gostoso pecadinho da Gula, nas maravilhosas confeitarias que existem no Plano Metafísico, no ato de carinho de receber visitas servindo algum doce, no modo como temos que saber receber as pessoas em nossas casas, pois há algo mais decepcionante do que visitar alguém que nada nos serve, como um café, um chá ou um vinho? É a questão de se fazerem as honras da casa. O agasalho é o cuidado, numa pessoa tomando seus cuidados, como num líder hesitante, que sabe que pode haver perigo na travessia de um rio, no caminho do cuidado e do carinho, no modo como deve ser aprendida a lição do cuidado, pois se vivo perigosamente, estarei exposto a tais perigos – é o caminho da autoestima. Aqui a moça está pudica como uma santa, toda encoberta, cheia de pudores, como se soubesse que está sendo observada pelo espectador, no modo como são visadas publicamente as pessoas celebridades, em pessoas que mal podem caminhar em paz pela Rua, sendo assediadas pela exposição midiática, fazendo da Mídia algo tão perigoso, na pessoa famosa perdendo o privilégio de ir e vir do cidadão comum. Aqui é um momento de pausa e adormecimento, no modo como todos nós morremos e renascemos todos os dias, dormindo e acordando, encarando um novo dia, pois você acorda no dia seguinte e a Vida prossegue – doce ou amarga, esta hora passará e uma nova hora virá, nas palavras de uma certa popstar: “Fiz discos que não foram muito populares. Está ok”. Ou nas palavras de uma maravilhosa professora minha de Língua Portuguesa: “Não deixe o fracasso lhe subir à cabeça!”. É como no fracasso da primeira tentativa de Alanis Morissette. A neve aqui é a sedimentação, numa pessoa se centrando e sedimentando-se na Vida, ficando madura e tomando jeito, sendo adulta, no caminho natural da Vida, que é o crescimento, a evolução e a depuração, no caminho espírito ao Apuro Moral, numa pessoa que está começando a odiar mentir, no caminho do Espírito da Verdade, sempre indo no caminho da autenticidade, ao contrário do sociopata, que mente sem parar. A neve sedimentada é a passagem do tempo, como poeira se sedimentando, clamando por uma boa faxina, no ato de limpeza que visa nos aproximar de Tao, o limpo, o simples, o impecável. A Natureza aqui parece estar morta, mas só parece, pois a Esperança nos traz o Renascimento, no sopro de renovação renascentista, enchendo a Europa de cores e frescor, na majestosa Primavera de Botticelli – sim, amo este. O Inverno é tal fase final, assinalando a renovação trazida pelas crises existenciais.

 


Acima, Dança. A paixão de Alfons por figuras femininas, musas, divas. Aqui é uma sedutora Salomé dançando, na magia de uma stripper, fazendo com que os homens na plateia se sintam um lixo frente a tal esplendor feminino, num poder sendo exercido, na sedução entre masculino, que é o dinheiro, e o feminino, que é o striptease. Aqui a moça flui majestosa com suas vestes, como numa queda de água, como numa galáxia girando com um mistério uterino no meio, num poder gravitacional, de atração, numa pessoa apaixonada, no doloroso modo como quem se apaixona sofre, na sofrência de canções sertanejas, em músicas cujas letras trazem vítimas dependentes: “Você é minha vida! Não posso viver sem você!”, na tragédia de Romeu e Julieta, no amor frente às durezas cruéis do Mundo, em duas famílias em eterno pé de guerra, um cenário trágico para uma história de amor que desafiou tal guerra insana, como na guerra napoleônica de Putin, no fato de que tudo o que as guerras fazem é deixar rastros de fome e destruição, como num chão, antes florido e belo, esmagado pela impiedosa passagem de tropas. A moça aqui é o termo “beijinho no ombro”, das “paniquetes” televisivas, de chacretes em trajes tão mínimos, beirando o vulgar, numa Rita Cadillac – é de respeitável inteligência uma pessoa que acaba como atriz pornô? Existe mérito artístico em tal tipo de material, sem aqui querer ser moralista? Não é um submundo o mundo pornô? Por acaso um ator pornô está construindo algo? É uma pessoa que faz do Sexo um leilão. As melenas da moça são tão mágicas, dignas de um majestoso comercial de TV sobre produtos capilares, nessa sede incessante de autoestima, em mulheres se cuidando, amando a si mesmas, passando muito tempo dentro de lojas de cosméticos, na magia de uma mulher elegante e arrumada, cuidando de si mesma, nas “loucuras” das quais uma mulher é capaz de fazer em nome da beleza, no eterno arquétipo feminino do espelho, numa mulher que está se aprumando para um belo momento de interação social, em mulherões como Patrícia Poeta, a qual conheci em Porto Alegre, uma mulher sempre arrumada, sempre impecável, em toda a beleza da mulher gaúcha! Os cabelos da moça remetem a este estilo tortuoso do Art Nouveau, como ramos de hera se entrelaçando, na força incessante da Natureza, num trabalho “pé por pé”, numa pessoa que vive um dia de cada vez, sempre numa caminhada, sempre numa evolução, no paciente trabalho de formiguinha construindo lentamente, numa pessoa que já foi avisada: Roma não se fez num só dia! Aqui é a magia de uma Cleópatra, ou de um imperatriz Sissi, inebriando os cavalheiros com seu perfume e seus cabelos adornados com flores reais ou joias imitando flores, fazendo um continnum com a beleza da Natureza, em terras virgens desafiando exploradores, em potências europeias competindo por tais terras, em pomos internacionais de discórdia, como me disse um sábio psiquiatra: “Tens que ter mais agressividade, pois vives num mundo competitivo”. Amém! A moça aqui está equilibrada com pés de bailarina, na magia de uma frágil bailarina que tem um aspecto de pesar o mesmo do que uma pluma, tocando no chão o mínimo possível com os disciplinados pés, como uma bailarina que conheço, uma pessoa que definitivamente sabe que a disciplina é altamente necessária, como numa majestosa Gisele, que sabe que não pode parar de trabalhar, pois, do contrário, virará “peça de museu”, no modo da pessoa ter a força para virar a página e encarar um novo desafio, na metáfora do famoso As Horas, de Michael Cunningham – doce ou amarga , a página terá que ser virada. A moça aqui traz um portal, como numa colorida roseta, numa rainha Elizabeth, uma líder de estado que tanto soube transformar um país pobre eu um país rico e poderoso, em raros talentos de estadista, como num Obama, um lendário líder de carisma que unificou os hoje divididos EUA. Aqui há algo esvoaçante, na letra da famosa canção: “As mulheres se movem como o vento!”. Aqui é uma imagem de princesa, digna de adoração.

 


Acima, Princesa Hyacinthe.  A mulher aqui está empoderada em seu trono, como no trono da Inglaterra, o trono mais poderoso do Mundo. A mulher está cômoda em sua posição privilegiada, numa pessoa que gosta de ser ela mesma, sem querer ser outra pessoa ou estar em outro lugar, no caminho da autoestima: Gosto de mim mesmo. A mulher está adornada com uma coroa de estrelas, num símbolo de poder, no monarca britânico reinando sobre um terço da Humanidade. A mulher segura um cristal como um floco de neve, na beleza da neve, em fino cristal, numa delicadeza que se revela forte, no discernimento taoista: Fraco é forte; forte é fraco. O que é melhor – ser fino ou ser grosso? Não foi grosseira a invasão do Capitólio instigada por Trump, o homem deselegância? É como na confusão reinando, como um supermercado sendo saqueado, numa bagunça na qual Tao está totalmente perdido, pois Tao é a ordem e a harmonia, nas cópias grotescas das ditaduras, as quais impõem a ordem de modo opressor e artificial, assim como uma planta de plástico é uma mera imitação. A rainha aqui está respaldando o próprio queixo, num gesto de pensamento, erudição e intelectualidade, na produção de pensamento, no modo como é desinteressante uma pessoa vazia e obtusa, a qual é um mero pedaço de carne, numa pessoa que acaba se revelando tão ignorável. A mulher aqui observa uma perspectiva, avaliando uma possibilidade. É como numa moça num baile, observando o salão, sabendo que é a mulher mais fina e cobiçada da festa, numa mulher cheia de orgulho e dignidade, sabendo que não pode se vender a “um e noventa e nove”, como no filme Harry e Sally: Há dois tipos de mulher – alto custo e baixo custo. É um homem levando vida dupla, tendo a santinha, que é a esposa oficial, e a putinha, que é a amante, com o perdão do termo chulo, no modo como uma mulher não é nem isso, nem aquilo, mas um ser humano de intelectualidade absolutamente similar à intelectualidade masculina, havendo no Mundo a figura do machão misógino, o qual sempre considera a mulher um cidadão de segunda categoria, havendo em Adão a obraprima de Deus e em Eva um arremedo, com a mera função reprodutiva – é muito machismo, Jesus! As estrelas são a beleza do céu noturno, na beleza que desde sempre desafiou o conhecimento humano, num Ser Humano vendo divindades nas forças naturais, dotando de magia objetos de Arte, como imagens de deuses, santos, arquétipos em geral, no modo como, na Cristianização do Ocidente, as imagens de deusa pagãs foram tranquilamente substituídas por imagens da Virgem Maria, na universalidade atemporal, em eternas questões humanas, no modo como a Filosofia da Humanidade permanece viva, em marcos como Santo Agostinho, dizendo que o Ser Humano é feito de duas coisas: a carne, que é finita, e o espírito, que é infinito. É o discernimento entre sacro e mundano. A moça aqui está decentemente vestida, com pudor, e nem podemos observar seus pés, numa moça a qual, nascida princesa, foi a vida inteira “guardada debaixo de sete chaves”, tendo que ser entregue pura e casta para o marido na Igreja, no modo como o Mundo tanto abençoa as uniões heterossexuais, expondo estas ao máximo, numa noite de cópula socialmente aceita, como num casal de indígenas transando em frente a todos os membros da tribo. Flores rubras enfeitam a cabeça, sendo tal símbolo uterino rubro de intimidade, numa casa limpa, na cor da dor menstrual, no modo como é duro ser mulher e lidar com tais dores por tantas décadas de vida, fazendo das mulheres seres fortes, que toleram a dor. Aqui são cabelos de Gisele, a supermodelo suprema que dita por muitos anos um paradigma capilar capital, que são cabelos ondulados, de aspecto natural, em harmonia com a geometria tortuosa das linhas Art Nouveau, um estilo em contraste com o movimento Art Déco, que traz linhas mais retas e disciplinadas, no modo como os movimentos vão suplantando uns aos outros, marcando épocas, no modo como foi tão peculiar a moda e a estética dos anos 1980, na explosão definitiva do gênero musical Pop, em medalhões como Madonna e Jackson, no modo como a Arte permanece mágica até hoje.

 

Referência bibliográfica:

 

Alfons Maria Mucha. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 12 out. 2022.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Delicioso Bacon

 

 

 Falo pela única vez sobre o pintor angloirlandês Francis Bacon (1909 – 1992). Vindo de um contexto pobre – foi faxineiro – e filho de um pai extremamente duro e autoritário, Bacon teve Picasso como um de seus ídolos. Uma obra de Francis pode custar dezenas de milhões de euros. Uau. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Duna de areia. Claro que a flecha é a autoridade do falo, quase amedrontador, impondo respeito, como num agente no raio x de um aeroporto – gentil mas firme; firme mas gentil. É uma pessoa mandona, obcecada em mandar nos outros, no divertido trocadilho para Madonna – mandona. É uma ilusão, pois quanto mais Tao tenho, menos controle viso obter. Aqui é como uma caixa sendo preenchida, no termo “a gota d’água”, no ponto sem retorno em que a situação ficou insuportável, como numa certa drag queen portoalegrense, a qual foi embora de casa aos dezesseis anos de idade porque estava insuportável o convívio com próprio pai, duro e inflexível como o próprio pai de Bacon, num pai que não conseguia ver que o filho tinha uma dádiva, que é sensibilidade. É como no Complexo de Édipo do pai sendo assassinado pelo filho, para este ficar com a mãe, no mito grego que mostra a atemporalidade de tal complexo. Aqui a areia é uma contagem regressiva, como numa ampulheta, registrando a passagem do Tempo, numa espécie de contagem regressiva, pois num aniversário não é um ano a mais, mas um ano a menos, na suprema inevitabilidade do óbito carnal, uma força absolutamente inevitável para fragilidade humana. A flecha é um indicativo, como num professor chamando a atenção de algum aluno indisciplinado, no modo como eu mesmo já causei muita “dor de cabeça” a professores meus, ao contrário de minha irmã, a qual foi sempre muito comportada – algumas coisas não são genéticas, mas do espírito, o qual simplesmente vem assim ao Mundo, no termo psiquiátrico do que é “figura” na pessoa, algo imutável, no modo como a pessoa não pode ter a intenção de mudar um Mundo imutável, pois nem a avassaladora majestade de Jesus foi capaz de ajeitar o Mundo com as guerras intermináveis deste, fazendo de Jesus uma promessa de um lar supremo que nos espera após nosso respectivo enterro, no milagre do Desencarne, este renascimento que nos mostra que a Vida continua em toda sua beleza e sentido, na irresistível hierarquia espiritual, na qual o mais honestas governam os menos, na suprema questão do apuro moral. Aqui é como aqueles tanques de mágicos ilusionistas, aprisionando-se debaixo d’água, atiçando nossa curiosidade: Como ele consegue fazer isto? É como numa esperta Agatha Christie, atiçando o leitor a desvendar o mistério antes do livro acabar, num jogo divertido, numa escritora mulher que tanto superou em vendas os livros de muitos, muitos homens – gênero é uma ilusão, na assexualidade dos anjos, na nobre intenção da urna eleitoral, perante à qual somos todos iguaizinhos, assim como Tao, o enigma da Eternidade, bipartindo-se e gerando masculino e feminino, no modo da pessoa entender a força e o poder do Yang, mas sendo mais pacata, mais Yin dentro de si mesma, num dia a dia pacato, produtivo, no modo como a Vida é um inferno quando não há Paz, esta força que é a Paz, numa dimensão onde tudo é feito com extrema calma, na sobra de tempo que é o Eterno, o atemporal, fazendo da passagem do Tempo uma outra ilusão, na metáfora feita pela tradicional coroação do monarca inglês, num momento social em que a Humanidade tenta compreender  atemporalidade da Vida, numa sensação de que o Tempo não passa, mas fica congelado num momento de tal pompa, beleza e nobreza, algo que serve para dar uma amostra aos encarnados da Vida vibrante e bela que nos espera no Plano Superior, a dimensão de uma eterna Festa da Uva, com seus dias agradáveis e suas noites amenas, no paraíso para os que gostam de se manter ocupados de forma nobre e proveitosa. Aqui é a caixa, o receptáculo uterino do Yin, no lar, no conforto do lar, de pés descalços caminhando pelos tapetes e carpetes, num momento de tamanha simplicidade e conforto, como na recepção de um anfitrião tão fino e agradável, numa sala limpa e enfeitada.

 


Acima, Édipo e a esfinge depois da entrada. As paredes rosas são a feminilidade, nas cores sedutoras de Victoria’s Secret, como nas paredes rosas de um estádio de um certo time de futebol, no vestiário rosa dos times visitantes, querendo, assim, feminilizar patriarcalmente o opositor, num jogo divertido dialético de contradição, com duas leituras, sendo uma oposto da outra: o time visitante pode ser feminino, mas o fato é que as paredes do estádio do time anfitrião, paredes também são feminilizantes, no senso de humor eterno de Tao, com tudo tendo duas leituras: Razão e Loucura, no machismo que tanto menospreza as mulheres, causando a fúrias das feministas, as quais têm a coragem para ir contra tal vento patriarcal, numa ousada Britney Spears, sabendo que o brilho está por trás do que a pessoa tem na cabeça, ao contrário de certas outras cantoras, sem muita atitude libertária feminista. Aqui temos um pé ferido, magoado, num ressentimento, numa mácula no fundo da alma, em feridas que podem ser, posteriormente, curadas, como numa pessoa que teve, em sua própria vida, a passagem de uma pessoa especial, amorosa, carinhosa, compreensiva, no poder terapêutico do Amor, esta força tão subestimada e tão essencial, havendo nos terríveis episódios bélicos a falta de noção de que é irmão matando irmão, no eterno mito de Caim, numa Mary Tudor, a qual, apesar de tão sanguinolenta, recusou-se a executar sua própria irmã Elizabeth I, nas palavras de Faustão: “Só o Amor constrói!”. O pé machucado é tal fragilidade, numa Paz tão frágil perante as guerras vaidosas do Homo Sapiens, numa sanguinolenta Guerra das Malvinas, numa inflexível Thatcher, a qual se recusou a buscar uma saída pacífica e diplomática, perdendo da oportunidade de fazer com que as Ilhas Malvinas se tornassem um símbolo de amizade e compartilhamento entre duas nações, no modo como a Paz é tão subestimada, nas palavras de uma miss, pedindo por Paz Mundial. A esfinge é uma matriarca rígida, liderando a família, exigindo dos próprios filhos, nas palavras de uma mãe no leito de morte, dizendo ao filho: “Dos fracos a história nada conta!”. Vemos no quadro algumas argolas, que são a elegância olímpica, o garbo, a elegância de uma mulher bem vestida, na vitória do belo sobre o crime hediondo; na vitória da Vida sobre o assassinato. É o costume do embalsamamento, buscando preservar o cadáver “vivo”, na intenção humana em entender a sobrevivência da Mente à morte do Corpo, numa Humanidade até hoje deglutindo a mastigando as palavras de Jesus, um homem DEFINITIVAMENTE à frente de seu próprio tempo, nas suas palavras de Amor e união, numa grande família, nos vínculos de primeiríssimo grau que nos unem, fazendo das famílias mundanas uma metáfora; fazendo das belas famílias de realeza uma cópia do metafísico, numa intenção de fazer o Ser Humano entender tal imaculação. A porta aberta é a possibilidade, a saída, a solução para algo, num labirinto sendo desvendado, na resolução de uma equação matemática, numa simplificação, numa limpeza de percepções, no importante modo como a pessoa tem que saber olhar o Mundo da forma mais realista possível, num trabalho de psicoterapeuta, trazendo nossos pés para o chão. A esfinge aqui é exigente, num professor duro e exigente, o qual causa um enorme crescimento ao aluno, em professores excelentes, os quais valem cada centavo da mensalidade, ao contrário de outros professores não tão inesquecíveis – é assim mesmo. O homem aqui é atlético, desenvolvido, disciplinado, e sua dedicação lhe rendeu tal ferimento, como num Guga Kuerten, o qual exigiu o máximo de seus próprios quadris, num caminho de tal dedicação e devoção, numa pessoa que acordou e percebeu que não há vitória sem luta, nas palavras de uma certa médium espírita: “Deus não quer que nos atiremos nas cordas!”, ao contrário de um certo famoso ator americano, o qual está numa fossa depressiva sem fim, improdutivo. O ferimento aqui é um tempo que tem que ser dado, numa pausa, num descanso, na sabedoria popular: “Ninguém é de ferro!”. Aqui voltamos a ver uma seta, apontando para um disforme pedaço de carne, num falo buscando compreender o caos, organizando este.

 


Acima, parcialidade de Três retratos. Aqui o retrato é um representante, como num empresário representando um artista. É como tem que haver a diferença entre a pessoa e o trabalho da pessoa, como uma Xuxa Meneghel, a qual não pode sair de casa sem seguranças, numa definitiva confusão entre a pessoa e a obra, fazendo da fama tal “prisão”, numa mulher proibida de curtir os simples prazeres do Rio, como passear no calçadão e tomar um suco de acerola – é meio triste. A lâmpada é a ideia, a iluminação, numa concepção de publicitário, encontrando algum conceito para vender um produto ou serviço, pois, para vender, preciso dizer que o produto é bom ou que o produto é ruim? Tenho que dizer que é bom, mas, é claro, o produto tem que ser de fato bom, do contrário é uma mentira, e o consumidor percebe quando está sendo enganado, no caminho da ética e da honestidade, da lisura, do garbo de cavalheiro. O homem aqui espera por algo, como esperar que um rio desça de nível para haver uma travessia, numa pessoa esperando um pouco para agir, como numa cobra armando lentamente o bote, esperando pelo momento certo para abocanhar a presa, como numa paciente aranha, construindo a teia e esperando por uma mosquinha desavisada, como num negócio sendo aberto, numa loja, por exemplo, como na construção do complexo da Disney na cidade americana de Orlando – construa e o público virá. A porta aqui é a travessia, na crença do egípcio antigo em cruzar no submundo pós morte, com uma série de palavras de religião e encantamento, no modo como é antiga a crença de que a Mente sobrevive à morte do Corpo, no modo como o Homo sapiens antigo fazia da Arte tal instrumento de magia, depositando crenças mágicas em esculturas e pinturas, na magia da Arte, magia que persiste firme e forte até hoje, sendo considerados mágicos tais artistas de ampla popularidade, num mago como Michael Jackson, deslumbrando o Mundo ao abrir a mão da vaidade e se tornar um horrível lobisomem, no modo como a Academia de Hollywood adora atores que se desfiguram para um determinado papel, abrindo mão da vaidade, na eterna sabedoria popular: Beleza não põe à mesa. A sombra aqui, bem densa, é a dúvida, na dúvida de um ser humano se debatendo entre Bem e Mal, numa dúvida cinzenta e brumosa, num dia de chuva que nos dá uma pontinha de melancolia, no “abismo” que existe entre estar triste e estar deprimido – triste é leve, suportável, natural; deprimido é gravíssimo. É como em uma letra de Madonna: “Na maior parte do tempo estou tristinha”, numa mulher com olhos um tanto tristes, nessa carência do Ser Humano em relação a afeto, como numa duríssima encarnação de uma criança órfã, de Rua, não sabendo o que é o Amor de um lar, de pais zelosos – é um sofrimento só, num espírito corajoso, optando por tal encarnação dura, duríssima, numa vicissitude que acaba por ocasionar no espírito um crescimento descomunal, dando, assim, sentido a uma vida na Terra, este grande colégio no qual aprendemos com as inevitáveis dores. As mangas arregaçadas aqui são a dedicação ao labor, num atelier de artista, caótico, só compreendido pelo próprio artista, como professores reunidos na sala dos professores durante o intervalo, dizendo na hora em que bate o sinal para voltar à sala de aula: Vamos trabalhar! O retrato aqui na parede é um registro, uma tentativa de compreender, num Ser Humano tentando entender porque o Cosmos é tão, mas tão vasto, e porque a Humanidade é ainda tão jovem, somente conseguindo mandar sondas aos planetas vizinhos. A sombra aqui se espalha, na discrição da cor do luto, como ouvi duas senhoras falando de mim num velório, no qual eu vestia roupas coloridas: “Tudo bem que não precisa vir todo de preto, mas olha só este de azul!”. É como na Índia, sem a tradição de vestir preto num funeral. O retrato é aquilo que é figura, que é imutável na pessoa, em inconfundíveis traços de personalidade, no fato de que a essência das pessoas não muda, no modo como sempre encontraremos grandes amigos, por toda a Eternidade.

 


Acima, parcialidade de Tríptico. Os fios são a sustentação, a base, o chão. Os fios são essa terrível capacidade sociopática de manipulação, numa pessoa malévola – duvide do caráter, mas não da inteligência de um sociopata. Os fios são um controle, como marionetes controladas por um intérprete, num diretor de Teatro ou Cinema, impondo a hierarquia, pois, num set, tudo está submetido ao veto ou à aprovação do diretor, como certa vez levei um “xixi” no set, com Fábio Barreto me dizendo: “Quando eu disser alguma coisa você tem que obedecer!”, punindo minhas rebeldias de James Dean. No chão uma sombra azul se projeta, na cor clássica de caneta Bic, na reviravolta civilizatória que foi a chegada da Escrita, do registro histórico, num momento em que o tempo cíclico neolítico deu espaço ao registro linear de passagem de tempo, organizando tudo entre passado, presente e futuro, no modo humano de medir distâncias cósmicas com a velocidade da luz, esta velocidade a qual, apesar de aparentemente rapidíssima, é incrivelmente vagarosa em termos cósmicos, levando quatro anos inteiros em tal velocidade para chegarmos à estrela mais próximas de nós na Terra, além, é óbvio, do nosso Sol, o qual está oito minutos luz de distância de nós – quando estou apreciando um por do Sol, na verdade estou vendo o astro como ele era minutos atrás. As linhas aqui são movimentos de articulação comunitária, numa comunidade se organizando para uma nova edição da Festa da Uva, ou como foram gigantescas as articulações em torno do Fábio para uma produção cinematográfica, fazendo dele um grande brasileiro, um grande homem que sabia que o Brasil tem que exportar mais imagem, e não só importar. O homem aqui olha sério para o espectador, na seriedade de um artista que abraça o dia a dia de produção, num trabalho de paciência, como num ator desdobrando o personagem, encontrando o Tao deste, a essência, a inconfundível identidade, até chegar ao ponto de catarse de DiCaprio no set de filmagem, neste dom de vestir um personagem, dedicando-se a este, incorporando, “baixando o santo”, por assim dizer, como já ouvi um ator dizendo: Ao final de um dia de trabalho, o ator tem que se despir do personagem e voltar para casa livre do “hálito” do personagem. O sapato aqui é a proteção e o resguardo, no garbo, na elegância de uma pessoa arrumada e perfumada, distanciando-nos dos macacos, os quais são penteiam a si mesmos. É como nas palavras de Liza Minnelli, em show em Porto Alegre, sendo entrevistada pelo mestre Tatata Pimentel, dizendo a este, sobre os sapatos deste: “Sapatos fabulosos!”. É a universalidade da Moda, do garbo, da elegância, como tribos amazônicas se aprumando para um dia especial de celebração, como cocares coloridos e desenhos pelo corpo, na universalidade da celebração, cujo objetivo é nos dar uma amostra da fabulosa Vida Espiritual que nos aguarda após o sombrio óbito, como tive um sonho com minha avó desencarnada, emoldurada por uma luz – é muito lindo. O homem aqui, em discreto azul marinho, é tal discrição, na cor profunda do Mar, nas bênçãos de Iemanjá enchendo de fartos peixes as redes dos pescadores, no milagre cristão da multiplicação dos peixes, num reino rico e farto, longe de uma miserável África, um continente tão maltratado pela cruel Escravatura, tudo em nome da fome humana por poder, num Anel do Poder capaz de corromper até o homem mais íntegro – é algo sombrio, muito longe dos indefectíveis heróis de Disney, como uma Cinderela perfeita e idealizada, muito longe da enigmática, gélida e intimidadora Galadriel de Tolkein. Aqui temos uma articulação em fase de desdobramento, com cada agente social fazendo sua parte pelo todo, pela Comunidade, como um senhor que conheci, o qual articulou toda uma comunidade em torno de uma celebração qualitativamente equiparável à Festa da Uva de Caxias do Sul, num espírito de iniciativa, sem ambições vaidosas por louros de sucesso e bajulação.

 


Acima, parcialidade de Tríptico II. O prato é a alimentação – por mais chic, sofisticado e caro que seja um restaurante, ali dentro fazemos algo de mais primitivo em toda a História da Vida, que é a alimentação. É o doloroso fato de que tantos milhões de brasileiros passam fome, nos contrastes dos abismos sociais brasileiros, como me disse uma certa senhora: “A cidade de São Paulo é o primeiro e o quarto mundos juntos”, como no miserável entorno do Mercado Público da desenvolvida e cosmopolita urbe. No prato vemos figuras humanas, no canibalismo de tribos primitivas brasileiras, no brutal e primitivo ato de sacrifício humano, algo ABSOLUTAMENTE aquém do apuro moral, que nos diz que somos todos príncipes, filhos do mesmo Rei. É o impactante filme Silêncio dos Inocentes, num personagem sociopata de moralidade zero e inteligência dez, manipulando pessoas, no conselho dado à agente do FBI que se encontrou com o sociopata preso: “Não dê informações pessoais a ele. Não deixe ele entrar em sua mente”. E há tantas e tantas pessoas que fazem o que não se deve fazer, que é ter um sociopata como comadre/compadre, num diabólico psiquiatra, brincando com a cabeça das pessoas, numa pessoa imoral a qual, definitivamente, temos que excluir de nosso círculo de relacionamentos sociais. O quadro aqui é limpo e minimalista, no modo como se destaca num jornal um anúncio publicitário limpo, clean, minimalista, fazendo contraste com o visual corriqueiramente carregado dos jornais – onde não há texto, há fotos, numa saturação gráfica. Aqui é uma oferenda, na insanidade de rituais de magia negra, os quais mostram como o ser humano pode ser patético e desprovido de razão, formando populações inteiras de pessoas vazias, obtusas e ignorantes, na importância suma da produção de Cultura Erudita para a formação de um país, até chegar ao ponto da qualidade de vida em Portugal, um país no qual podemos sair na rua sem ser assaltados em qualquer hora do dia, da noite e da madrugada. O prato é o receptáculo, como no Santo Graal da Última Ceia, no momento do filme de Indiana Jones: numa infinidade de cálices caros, ricos, glamorosos e dignos de reis, o Graal de verdade é o cálice mais simples e rústico de todos, digno de um filho de carpinteiro, no caminho da simplicidade, que observa que as riquezas mundanas são ilusões e prisões, no modo como pode ser infeliz uma pessoa rica, na sabedoria popular: Vão-se os anéis; ficam os dedos. É como um ator saindo de cena, numa monstruosa Bette Davis, a dama que tanto talento tinha para interpretar o que não era, que eram megeras vagabundas e desprezíveis. Na porção superior do quadro vemos uma lâmpada, frágil, por um fio, numa vida prestes a entrar em crise, em tal miséria existencial, na qual a pessoa simplesmente não sabe que decisão tomar, num rato perdido num labirinto traiçoeiro, no modo como o coração pode ser tão traiçoeiro, na sisudez de termos que escutar a mente, a fria cabeça: Eu não estou dizendo que você não pode ter um namorado bonito; eu só estou dizendo que, além de bonito, certifique-se de que ele seja boa gente. A lâmpada é esta tentativa de esclarecimento, na resolução de uma desavença – se mesmo depois da desvaneça ainda resta um pouco de amargura, nada pode ser feito... Aqui é na crença hedionda de que o Mundo é plano como um prato, colocando fora séculos de conhecimento e esclarecimento, no modo como uma organização pode explorar tanto uma pessoa, arrancando dinheiro desta, como uma moça hoje na Rua, dando-me um panfleto doutrinário, dando-me a vontade de lhe dizer: Por acaso eu tenho cara de ser um desses pobres coitados ignorantes que você vampirizam? Aqui é como algo indo ralo abaixo, numa pessoa que está fazendo uma limpeza em sua lista de amigos no Facebook, nas palavras da comunicadora gaúcha Tânia Carvalho: “Tenho muito cuidado ao selecionar amizades”. O “tapete” azul aqui é a zona de conforto, numa pessoa com receio de ousar um pouco mais, saindo do convencional e do corriqueiro, como uma certa popstar, que ganhou um Grammy por um álbum inovador, na coragem de transgredir.

 


Acima, Tríptico inspirado pelo poema de T.S Eliot’s - Sweeney Agoniste. No meio, a janela é a perspectiva, a saída para uma situação, num jeito sendo dado para que um espinhoso momento seja superado. A escuridão além da janela é tal infernal Umbral, a dimensão dos que não amam a Vida, como em Neo de Matrix, aprisionado numa estação de trem que vai do nada para lugar nenhum, no espírito de Nosso Lar no Umbral, chegando a um ponto de rendição, não mais aguentando aquilo, pedindo ajuda ao anjo da guarda – cada um de nós, sem exceção, está acompanhado de um anjo da guarda, que é um espírito cheio de amor fraternal, sempre nos guiando pelo bom caminho, na riqueza do amor incondicional, o qual a tudo resiste, no caminho da Eternidade, esta força incrível que faz com que vivamos para todo o sempre, uma imensidão que não cabe na cabeça de um ser humano. As redomas de vidro são tal proteção maternal, nas palavras de uma certa matriarca: “Não sei do que sou capaz para proteger um filho meu!”. É como no vidro blindado protegendo a Monalisa, um quadro que o que tem de famoso tem de pequenino, decepcionando-se quem for ver o quadro, num da Vinci que tão longe foi na percepção das pessoas, em obras de bilhões de dólares ou, no caso da Monalisa, sem preço. Bacon nos traz essas disformidades, confusas, parecendo ser corpos humanos, mas nos dando uma dúvida, como é Tao, a charada eterna: Encare e não verás rosto; vá para o traseiro e não encontrarás cauda. No centro do quadro há uma porta aberta, que é uma perspectiva, no modo como tanto pode nos guiar uma porta fechada, no caráter positivo das crises, as quais assinalam um ponto de renovação na vida da pessoa, na salubridade do desencanto, da frustração, da desilusão, pois o Mundo pertence aos realistas; aos que têm os pés no chão. É a questão de que um sonho precisa de trabalho para ser realizado, numa pessoa que trabalha muito, muito duro para atingir tal realização. Aqui temos uma certa e insinuante simetria, pois os quadros opostos, latentes, são similares; já, o quadro do centro é um tanto diferente, com um carpete azul, na cor dos navegadores aventureiros, sem ter a certeza suma de que encontrariam terras além mar, nessa insana competição entre potências europeias para ver de quem tais devolutas terras seriam, como no jogo de tabuleiro War, na insana guerra de Putin, um rei que, apesar de ocupar o país de maior território do planeta, quer anexar mais e mais territórios, ferindo o mandamento: Não cobiçarás a mulher do próximo. É tal sede napoleônica, terrível, insana, num Ser Humano que nunca está satisfeito, ferindo Tao, o qual diz: Se o que você tem você acha que não é o suficiente, então você nunca terá o suficiente! Essas disformidades de Bacon são corpos dinâmicos, em constante processo de transformação, no modo como as cidades vão se transformando – hoje em dia, mal consigo me encontrar na Porto Alegre que conheci nos anos 1990 e 2000! Aqui é o fato de que os opostos se atraem e assemelham-se, no fato de que não importa se é Fascismo ou Comunismo – é tudo ditadura igual, evocando novamente aqui Putin, um líder que não sabe que não se deve interferir no dia a dia pacato do cidadão, num Putin que vê um cidadão como um mero peão sacrificável, o que é um horror. Num pequeno detalhe na extrema esquerda, um criadomudo, que é o conforto do lar, num momento de retiro e relaxamento, num homem chegando em casa após um dia de labor, com esposa e filhos lhe esperando, num homem tirando os sisudos sapatos e calçando simples chinelos, como na curiosa cidade de Salvador, na qual o cidadão, mesmo nos melhores shoppings da cidade, usa despretensiosos chinelos – o estado da Bahia, já ouvi dizer, é um país à parte. Nos extremos aqui vemos mesas, que são a sustentação de algo, numa teoria sendo defendida, ou num chefe de família sustentando as pessoas dentro de um lar, ou como uma mesa sólida como um lar, numa mesa farta de galeteria, no sonho gastronômico de um imigrante italiano na Serra Gaúcha que levava uma vida duríssima, quase passando fome.

 

Referências bibliográficas:

 

Francis Bacon. Disponível em: <www.dasartes.com.br>. Acesso em: 5 out. 2022.

Francis Bacon. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 5 out. 2022.