quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Fazendo Jus ao Talento

 

 

Falo pela quarta (e última) vez sobre o artista plástico americano Donald Judd. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, sem título (1). A transparência é a amizade, uma pessoa a qual conhecemos profundamente, fácil como se observar através de um vidro de vitrine – é a sinceridade, a verdade, a autenticidade, a honestidade. O vidro em tom de âmbar me remete aos vitrôs amarelos da casa onde morei por muitos anos com minha família, quando o Sol nascente invadia a casa, enchendo-a de uma luz dourada fascinante, mágica, num lindo e dourado dia amanhecendo, na promessa de um novo dia, de um recomeço, no modo como o grego antigo tinha uma deusa específica da aurora, cuja função era trazer a luz do renascimento, na vitória da Luz sobre a Escuridão; do Bem sobre o Mal; do Metafísico sobre o Físico. Judd gosta dessas linhas retas limpa, simples, sem excessos ou afetações, no simples se impondo ao complicado, trazendo esclarecimento, como no resultado final de uma equação matemática, como desvendar um mistério de novela policial, com as luzes se impondo finalmente, como na catarse no final de um filme, fazendo com que saiamos da sala de Cinema com a sensação de que podemos voar livres, como felizes espíritos desencarnados. Esta peça é oca, e podemos ver o interior escuro, talvez numa dúvida que precisa ser esclarecida pelo professor, pelos espíritos de superioridade moral, pessoas inofensivas e honestas, as quais resistem aos apelos materialistas do consumismo desenfreado, fútil e obsessivo, na obsessão humana em adquirir poder e mais poder, no modo como o poder tem essa capacidade de degenerar o Ser Humano, na metáfora do Anel de Tolkien, a joia que simboliza tal obsessão humana, na fraqueza do Ser Humano perante o Anel, perante o mundano, mostrando a visão sombria de Tolkien sobre o Ser Humano, muito distante dos indefectíveis heróis de Disney – o Ser Humano é imperfeito. Aqui é como um túnel, uma passagem, uma travessia, talvez num tubo de encarnação, sempre com a famosa luz no fim do túnel, na promessa de que tudo vai acabar bem, e que o “trem” voltará aos “trilhos”, na promessa da Fé, da Terra Prometida, num mistério muito além da frágil ciência humana – o Tao sobre o qual se pode falar não é o verdadeiro Tao, ou seja, a Eternidade é esta divertida charada, num interminável senso de humor, a virtude de não levar a si mesmo tão a sério. A limpeza de Judd é tal que se tem a impressão de que um pano foi recém passado sobre as superfícies, aludindo à limpeza impecável metafísica, num lugar onde há beleza por todo lugar porque não há sujeira, e limpeza rima com beleza. Aqui é como um tubo, uma conexão, como a rocha cortada na pedra, produzindo um respiro, uma via de passagem, nas demandas de uma cidade vibrante, sempre crescendo para atender a tais demandas, no lema da bandeira brasileira, como no crescimento moral do espírito, cada vez melhor, cada vez mais fino e depurado, como na depuração clara de Judd, na certeza matemática de que uma reta é a menos distância entre dois pontos, nas abreviações práticas que a racionalidade promove, construindo atalhos, e, ao invés de se contornar um morro, fazemos um túnel, no fato de que a Preguiça é a motivadora de grandes invenções e grandes avanços humanos – a geração de meu sobrinho, a geração integralmente digital, não faz ideia da comoção que a tecnologia do e-mail causou nos anos 1990, ou como o DVD era chique no início dos anos 2000, num galgar evolutivo rápido e frenético, sempre com novidades para deixar a Humanidade perplexa com tais avanços. Aqui pode ser uma lareira pós moderna, só que desativada, desocupada, na terrível sensação de inutilidade de uma pessoa improdutiva – tudo o que quero a meus entes queridos lá no Céu é que estejam produtivos, felizes, trabalhando, sendo úteis ao Universo, como uma pessoa que, depois de um encarnação indolente, decide arregaçar as mangas e trabalhar no Plano Metafísico, na eterna chance de recomeço, de reconstrução, com Tao, aquele que acredita muito nos próprios filhos. O preto é o mistério inevitável, com respostas que virão no momento certo.

 


Acima, sem título (2). Aqui temos um sonho de arquiteto ou decorador, com elegantes gavetas, inspirando o usuário a manter a vida em ordem, adquirindo algum nobre norte, um sentido, pois não há felicidade numa vida sem norte, sem pés no chão, numa questão psicológica muito simples: O que é melhor – viver ao sabor do vento erraticamente ou ter algo para se manter realista e conectado ao Mundo? Aqui temos uma espécie de colorida serpente retilínea, como se fosse a Razão impondo disciplina ao Caos, no jogo de sedução entre masculino e feminino, num eterno flerte de Eros, mantendo os opostos do Universo unidos, relacionados, formando um continuum fluidio intergaláctico. Aqui são como cores decompostas por um prisma, no fascínio que exercem os objetos brilhantes, brilhosos, como no brilho avassalador de uma Rita Hayworth, apoderando-se da tela de Cinema, estourando como estrela absoluta, no modo como não há livro ou faculdade que nos ensine a brilhar – cada um tem que aprender por si. Aqui é um arcoíris reto, sem se curvar, altivo, no monarca cuja altivez faz metáfora com a soberania da nação, no modo como é complicado manter a Paz entre reinos, pois o Ser Humano tem uma eterna vocação para o atrito e a desavença, como um rei que nunca está feliz no próprio reino, sempre querendo anexar mais terras, numa anexação brutal, violenta e obsessiva, pois, como diz Tao, que não estou o tempo todo querendo, posso ter Paz. Aqui temos um pouco do mestre Piet Mondrian, com quadriculações e cores, e aqui na obra de Judd não vemos muita igualdade, pois há gavetas maiores e outras menores, designadas para abrigar tipos diferentes de objetos, fazendo metáfora com a organização mental da pessoa. E como organizar minha vida, centrando este no trabalho, na dignidade que o labor dá ao Homem, ao contrário de uma ociosa pessoa maliciosa e fofoqueira, uma pessoa improdutiva que tudo o que produz são fezes e urina. Aqui é como uma joia colorida e festiva, como na moda dos programas de culinária de Rita Lobo, com as cerâmicas diferentes umas das outras, na alegria da diversidade, com cerâmicas de cores variadas que se tornam festivas, alegres e vibrantes, fazendo metáfora com vibrantes e saborosos ingredientes e condimentos, remetendo-me às deliciosas refeições preparadas por minha mãe e por minha avó materna, no sabor de Lar, de origem, de pertencimento, na gloriosa sensação psíquica pós desencarne, quando a pessoa não vai para o Céu, mas volta para lá, num lugar tão produtivo e formidável que não desejamos estar em qualquer outro lugar do Universo – felicidade é se encontrar e ser feliz onde está, pois a Terra, apesar de não ser perfeita, é nosso lar de passagem, e precisamos amar tal lar de passagem, pois como posso ser feliz se odeio tudo e todos? Aqui temos uma alegre serpentina carnavalesca, só que submetida à Razão, à Ordem, num Brasil que, apesar de palavras tão disciplinantes na própria bandeira nacional, é o país do Carnaval e da festa, ou seja, a vida não é só sisudez, pois como posso ser feliz se não faço um pouquinho de festa, tomo um drinque ou tenho conversa com amigos? Isso me remete a uma pessoa que conheci, uma pessoa por cuja influência me tornei temporariamente workaholic, sendo esta pessoa alguém que não tinha autorrespeito, jogando-se no labor como um kamikaze, sem dignidade – dê-se ao respeito, amigo! Aqui é como uma mágica embalagem de jujubas multicoloridas, conquistando a criança pelas cores e pelo doce sabor, como num alegre e festivo cacho de uva multicolorido, em uma edição passada da Festa da Uva de Caxias, convidando a comunidade a respeitar as diferenças e a festejar em torno do fruto do trabalho. Esta obra de Judd me remete a uma bermuda colorida que eu tinha, alegre, numa peça que combinava formidavelmente com camisas azuis, verdes e amarelas. Esta joia emociona quem a vê na vitrine, havendo nas joias a promessa sacrossanta da Vida Pós Desencarne, mas, ironicamente, há o fato de que, do Mundo Material, nada se leva...

 


Acima, sem título (3). Temos aqui um rito de passagem, no modo como o Ser Humano é um ser ritualístico, como num casamento, ou numa formatura, ou numa miss ganhando um concurso e voltando triunfante ao lar, como nas ritualizações ao redor da Juventude – a Juventude feliz e plena é uma invenção de velhos, já ouvi dizer. Os casamentos heterossexuais têm um peso de ritual enorme porque o casal personifica Yin e Yang, as forças opostas que unem tudo. Vemos aqui três etapas, três fases, como num cantor lançando três álbuns, trilhando devagar seu caminho, com passinhos de bebê, no termo “comer pelas bordas”, ou seja, uma pessoa sábia que deve surpreender o Mundo, chegando devagar e despercebida para, assim, dar o “bote” da cobra, pois como posso surpreender se me exibo antes do tempo? Aqui é como passar por três semestres em uma faculdade, numa grande amiga que tenho, a qual, ao me ver ouvir que eu mesmo fora reprovado em algumas cadeiras, ela me disse: “Não se descuide de sua própria faculdade!”, ou seja, a Vida só é boa com amigos que nos veem por dentro, profundamente, como olhar nos olhos de um velho amigo e lá ver uma antessala da eterna amizade metafísica, a amizade que jamais cessará, na Eternidade, a vida que nos espera, num presente maior do que nos sentimos merecer, no caminho da humildade, pois, quem tem o pés no chão, não quebra a cara. Aqui temos três épocas, três anos, três processos de depuração, como três encarnações, cada uma com lições específicas. Aqui temos o encadeamento de três processos: o crescimento da criança virando adulta, o crescimento das cadeiras de uma faculdade e o crescimento moral do espírito. Aqui são como três mausoléus fúnebres desocupados, como se os mortos tivessem ressuscitado e ido embora para Céu, no modo como a Ressurreição de Cristo nada mais foi do que o desencarne deste, no mito cristão que busca fazer com que as pessoas entendam que a Carne perece e que a Alma prevalece triunfante e eterna – a Carne não ressuscita. Aqui temos três portais, como se fossem três famílias numa harmoniosa vizinhança, um lugar em que as pessoas estão contentes com o que têm, podendo viver seus dias na glória da Paz, o sentimento de nos sentirmos felizes exatamente do jeitinho em que estamos, sem as carências da ambição, como num homem poderoso, infeliz ao ponto de dar um tiro no próprio coração, rejeitando isso que Tao nos deu, que é uma encarnação, no valor inestimável da Vida – é como um filho ingrato, que jogou fora um presente nobre. Aqui, o ar circula livremente, arejando as cabeças e trazendo renovação, como na aniquilação de preconceitos rançosos, podres, arcaicos, havendo na Juventude a incumbência de trazer tais ventos de renovação. Aqui são contêineres prontos para o uso, fazendo o comércio internacional, na universalidade do talento empreendedor do Ser Humano, estabelecendo, desde muito antigamente, rotas de comércio e troca, como na saga Guerra nas Estrelas, na ficção em que o comércio entre planetas acontece tranquilamente, talvez numa previsão mercadológica, quando o Ser Humano finalmente estará preparado para aceitar que há vida alienígena inteligente ao nosso redor, pois há peixe de água doce e há peixe de água salgada... Aqui é um sisudo concreto cinzento, da cor da cidade de São Paulo, a cidade cinzenta e garoenta dos negócios, com seus incontáveis escritórios e prédios executivos. Aqui é como um esqueleto sem carne, numa estrutura primordial pronta para ser preenchida por Vida, por fluxo, por atividade. É como uma galeria de Arte vazia, sedenta por abrigar mostras, no modo como a Arte é tão crucial e importante para a Humanidade, fazendo da Arte não uma excêntrica e fútil atividade, mas uma atividade que serve para unir o corpo social e manter este mentalmente são, ao contrário do infeliz caso da censura à controversa mostra Queer Museum, no momento em que a falta de Liberdade se mostra o combustível de sistemas malévolos que transformam um cidadão em um escravo de um sistema sem sentido – Arte é Saúde; Arte voa nas asas da Liberdade de Expressão; Arte é Tao.

 


Acima, sem título (4). A linha preta é um marco, antes e depois do maior homem da História, no irônico modo como ninguém é capaz de curar o Mundo das feridas deste, apenas dando um sinal de esperança de que um Mundo de Amor e Fraternidade nos espera. Temos aqui uma exata simetria, clássica, numa equação muito clara: x = y. O vermelho chama a atenção, como numa ferida aberta, desatada, numa sangria de hemofílico, no sinal vermelho da sinaleira, dando um sinal implícito: Se você não quer ver sangue, pare e espere o sinal verde. O espaço claro é um vão de janela, deixando uma casa respirar e não acumular mofo, nos trabalhos diários de uma dona de casa, uma dona a qual, apesar de trabalhar em casa, leva uma vida dura para manter tudo em ordem, iniciando os trabalhos do dia ao fazer as camas dos filhos. Qual a serventia de uma casa sem portas ou janelas? Seria como um túmulo, morto, sem respiro. E Tao é assim, este “copo” que é de serventia ao Mundo, sempre deixando fluir, no barulho calmante de água escorrendo, e Tao é esta força gravitacional que atrai tudo e todos, fazendo a água ir até o ponto mais baixo possível. Aqui podemos ver como Judd gosta de formas retas, exatas e matemáticas, e sua obra não tem a sinuosidade de uma coluna barroca, por exemplo. Como seria Judd na escola em Matemática? Aqui é como uma peça de fabricação, saindo de uma esteira de montagem, e podemos ouvir o barulho dos trabalhos dentro da empresa, com as máquinas fazendo uma orquestra repetitiva, sempre servindo, numa região rica e produtiva, pujante, gerando fartura, em nações ricas e felizes como o Canadá, um lugar farto, limpo e organizado, regido pela supervisão de Tao, o generoso governante. Estas listras, quadrados e retângulos são o paradigma arquitetônico, projetando casas e prédios com linhas retas, ao contrário de um peculiar e excepcional prédio em Caxias do Sul, o qual é redondo, sendo um grande tubo posicionado verticalmente, fazendo-nos imaginar como devem ser dispostos os móveis dentro de tal prédio. A listra preta é um bloqueio, talvez num escritor que está com bloqueio de redação, como num personagem de Whoody Allen, estando se sentindo atado, com a imaginação anuviada, no modo como todos temos o direito de, de vez em quando, sentirmo-nos impotentes, o que é positivo, pois se sou humilde, minha arrogância não me conduzirá ao tombo, como um certo político arrogante, que foi processado num impeachment – a arrogância precede a queda, na recomendação taoista do curvar-se perante uma situação adversa, aceitando que somos humanos e não deuses. O preto restritivo aqui são como as mesas isoladas em restaurantes, em medidas que buscam frear a maior tragédia do ano de 2020 – o Coronavírus, e já podemos antever as palavras das pessoas na próxima virada de ano: “Já vais tarde, 2020!”. Porém, as vicissitudes são viscerais. O veto preto aqui é impositivo, como no veto presidencial, jogando baldes de água fria no Congresso em Brasília, na abreviação hierárquica – nada ocorre sem a total permissão de Tao. Aqui é como uma grande letra O, só que sem curvas, sem a sedução do Éden que trouxe a Malícia à Humanidade, elegendo um bicho belo como a serpente como representante das perigosas curvas femininas que tiram o juízo dos homens – desculpem-me, mas é muita misoginia. Aqui é um produto na esteira de fabricação, numa reprodução em série, como na música serial, no gênero eletrônico Techno, repetindo exaustivamente as batidas, numa reprodução matemática, unindo Exatas a Humanas, no modo como a Inteligência Humana une os opostos que parecem estar tão longe um do outro, como descobrir algo que estava debaixo de nossos narizes. O preto é uma negação, uma proibição, como num tabu. É uma imposição irrefreável, talvez visando a depuração moral humana, como nos disciplinantes Dez Mandamentos, buscando trazer o bom comportamento às pessoas, como um aluno “cdf”, que senta na primeira fileira da sala de aula, prestando total atenção na aula, estudando antes das provas e passando tranquilamente de ano.

 


Acima, sem título (5). É um tanto raro vermos diagonais em Judd. A diagonal é o modo como as retas buscam ser orgânicas. Aqui são como barras numa prisão, no termo “ver o Sol nascer quadrado”, no infeliz modo como, ouvi dizer, o Presídio Central de Porto Alegre é uma verdadeira sucursal do Inferno. Aqui é como um novo dia amanhecendo pelas frestas de venezianas, no modo como os obeliscos são esses “galos”, cuja pontinha iluminada anuncia os raios de um dia no Antigo Egito, a civilização inesgotável, fascinante e misteriosa, sendo um combustível para arqueólogos sedentos por Conhecimento. Aqui são como várias pistas numa via, como nas largas vias do centro de Buenos Aires, com demarcações nem sempre respeitadas pelos condutores latinoamericanos. É como um leque de vias que se abre num posto de pedágio, como no rigoroso controle antidrogas na fronteira dos EUA com o México, em algo em que o truculento Trump tem razão: é o principal portal de entrada de drogas nas terras de Tio Sam. Aqui é como um objeto feito de borracha sendo torcido, como um teste numa fábrica, testando a resistência do material, como um professor testando o aluno para ver se este entendeu a matéria, como numa rigorosa e ótima professora de Filosofia que tive, a qual exigia claras provas de que o aluno entendera a matéria ao invés do aluno apenas decorar textos dados em aula – foi a única cadeira em minha faculdade na qual quase fui reprovado, passando com nota mínima, e, hoje, respeito tal mestra. As listras são, em geral no Design, elegantes e aristocráticas, no termo “andar na linha”, com padrões estéticos que atravessam o Tempo e o Espaço, como nas elegantes listras da máscara mortuária do rei Tut, numa civilização que, há milênios, já entendia o valor de Tao, o elegante, o fino, o irresistível aristocrata, no modo como uma certa professora de Redação exigia que os alunos, em seus próprios textos, mostrassem ter classe, distinção e inteligência, pois, já ouvi dizer: “Tudo o que você tem que mostrar é sua própria inteligência”, rechaçando, assim, o showman, o exibidinho que não conta com o respeito secreto de outrem, pois, uma grande amiga me disse, Dignidade é tudo, rechaçando, assim, os tolos sinais auspiciosos, os quais, na prática, não têm importância qualquer. Aqui são como linhas no caderno escolar, exigindo da criança disciplina e distinção, nos sisudos cadernos de Caligrafia, os quais, pelo menos no meu caso, não surtiram muito efeito, pois minha letra segue sendo pouco bela... As listras são a Disciplina, numa pessoa que enfrenta um momento sério do dia, tendo que se dedicar se quiser obter sucesso, numa dedicação séria, madura, como numa pessoa disciplinada que encara uma dieta espartana para, por exemplo, perder peso. Aqui é como um chip eletrônico, fazendo com que o interior de aparelhos eletrônicos ganhem esse aspecto de cidade, de lugar civilizado, como nas moderna e contemporânea Teotihuacán, a mítica Cidade dos Deuses, construída há milênios. Aqui são como veias e artérias numa cidade, levando embora o lixo e trazendo insumos para suprir tal cidade, no desafio que é fazer com que o Plano Material se pareça ao máximo com a dimensão acima, e nisso enquadram-se as dinastias mundanas, os aristocratas de listras disciplinadas, pois sei que é difícil de crer, mas as dinastias mundanas estão abaixo do sangue azul metafísico, num plano em que somos todos da mesma casa de realeza, mas uma realeza superior, depurada e psíquica – no fim das contas, no frigir dos ovos, tudo gira em torno do “andar de cima” metafísico. Aqui é como uma máquina produzindo fios de macarrão, no deleite de se assistir programas de Culinária, algo que me entretém, apesar de eu não ser o maior chef de todos os tempos – cada um com suas carências, com suas lições a aprender neste caderno de disciplinantes linhas retas. Aqui são como muitos prédios retilíneos, numa divertida competição para ver quem tem o falo maior, como colocar dois grandes tenistas jogando um contra o outro, no modo como a Humanidade se sente tão entretida nesses duelos de titãs.

 

Referência bibliográfica:

 

Art. Disponível em: <www.juddfoundation.org>. Acesso em: 5 ago. 2020.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

O Dono de Pedaço

 

 

Falo pela terceira vez sobre o artista plástico americano Donald Judd. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 

Acima, Para Susan Buckwalter. Pias num banheiro público, o lugar onde fica clara a divisão da Humanidade entre homens e mulheres. As pias são as individualidades, no termo popular “cada macaco no seu galho”, ou “cada um com sua cruz”, no sentido de que as pessoas estão aí, tocando suas vidas – não existe encarnação perfeita, pois as imperfeições são agentes do aprimoramento, ao contrário de uma pessoa que perde tempo fazendo fofocas improdutivas. A cor cinza é o siso, a discrição, numa pessoa que aprendeu que o showman, o exibidinho, não obtém o respeito secreto das pessoas, no grande desafio que é a pessoa se impor ao Mundo sem agredir este. Aqui são como caixas de correio na recepção de um prédio, nas demandas diárias, ou numa pessoa carente, que sempre abre sua caixa de correio cheia de expectativas, frustrando-se e se entristecendo com a caixa vazia, numa pessoa que permitiu que a própria vida se empobrecesse vertiginosamente, num terrível sentimento de solidão. Aqui é como se as caixas fossem leves e voláteis, remetendo ao divertido episódio de Chapolin em que um cientista inventa um produto capaz de volatizar objetos pesados, como paredes e móveis. Aqui são como carneiras, túmulos indistintos que sepultam indigentes, pessoas em cujos funerais absolutamente ninguém vai, numa pessoa que, em vida, refratou tudo o que a Vida em Sociedade tem a oferecer. A haste azul aqui é discreta, como uma haste de cotonete, nos rituais diários humanos de purificação, numa pessoa feliz, socialmente inserida, considerando o banho não uma impositiva obrigação, mas um prazer, um deleite. O azul é a discrição de uma pessoa que vive seus dias de forma quieta e produtiva, rechaçando as badalações do mundo das celebridades, sendo este reduzido ao “maravilhoso” mundo de Caras, reduzindo as pessoas a fofocas de salão de beleza, e se tem algo que o Espiritismo despreza é a Fofoca, a qual é maliciosa, perniciosa e fútil, sem propósito. A discrição azul é de um pacato cidadão, que vive seus dias com simplicidade, como se soubesse que é no sossego em que a Vida acontece de fato, na metáfora do Superman e o alterego Clark Kent – seja, dentro de si, um homem pacato e será um super herói, ou no Gato Guerreiro de He-Man, sendo o animal o alterego de Pacato, na recomendação taoista: entenda o poder, a força do Yang, mas seja, dentro de si, mais Yin, mais “lar doce lar”. Essas caixas são as demandas de cargas num aeroporto, ou num porto, com agentes sempre prontos a detectar as infames drogas ilícitas, as quais são essa praga que segue incomodando, de todos os modos, a Sociedade em geral. Aqui temos uma organização, como gavetas num móvel, fazendo metáfora com a organização do pensamento, numa pessoa que, dentro da própria cabeça, coloca cada coisa em um lugar específico, organizando a própria vida, pois como posso ser feliz se minha vida está um caos? Aqui são indistintos tijolos numa parede, na intenção ditatorial em reduzir o cidadão a um indistinto tijolo escravo de um sistema opressor, na genial trilogia Matrix, onde o Ser Humano é escravizado e reduzido a uma pilha alcalina, a serviço de um sistema sem sentido – não interessa se é Fascismo ou Comunismo; é tudo ditadura igual. Aqui são armários num colégio, onde cada estudante coloca sua própria identidade, como uma folha em branco, pronta para ser preenchida pelas particularidades de cada pessoa, pois, se amo, não aprisiono, e é por isso que Tao nos ama, pois ele nos dá o Livre Arbítrio, como anjos livres batendo suas asas, num presidiário para o qual chega o dia de soltura. Aqui são quatro prédios indistintos, prontos para receber o toque pessoal de cada morador, no tesouro que é a diversidade social, cultural etc., como em infinitas estrelas em infinitas galáxias, brilhando como o maior tesouro do Cosmos, numa vastidão tal que é inútil contar e catalogar todas as estrelas do Universo, numa grandiosidade fora de qualquer compreensão humana.

 

Acima, sem título (1). Vemos uma guitarra verde, remetendo-me a um programa de TV em que um traficante é flagrado com cocaína escondida dentro de um baixo. É uma metalinguagem, pois é arte falando de arte, no modo como as artes estão todas interligadas, produzindo o Humano, na universalidade artística que une os povos da Terra, com um popstar com fãs em cada canto do Mundo. Podemos ouvir aqui os acordes, como no festival caxiense de Blues, o Mississipi Delta Blues Festival, no gênero primo do Jazz, sendo este o meu predileto, apesar de meu respeito pelos Blues. Nesta “guitarra” também podemos ver uma microagulha penetrando num óvulo, talvez numa inseminação artificial, nos avanços tecnológicos humanos, aceitando desafios olímpicos como descobrir a cura da AIDS, por exemplo, nas charadas que permeiam o interesse científico, num Ser Humano que tem que ser autodidata neste sentido. Vemos este retângulo amarelado que é como uma ponte, unificando cidades e países, nos gloriosos empreendimentos de Engenharia que visam imitar a glória fisicamente impossível das urbes metafísicas. Neste quadro vemos brechas como fechaduras, na insinuação sexual da canção pop Open Your Heart: “Eu possuo a fechadura e você possui a chave”, no divertido termo de um filme de Whoody Allen: “Subjetivo é objetivo”, ou seja, a insinuação sutil é claramente desvendada. No topo do quadro vemos uma espécie de colher vazada, furada, ineficiente, na vida inútil de uma pessoa que nada faz, jogando-se num interminável “mimimi” – eu, Gonçalo Mascia, não sou o homem mais rico do Mundo, mas busco não ceder ao pernicioso ócio, pois como pode crescer na Vida uma pessoa que se atirou nas cordas do ringue da Vida? Este retângulo amarelo é como a rocha sendo duramente escavada no Vale dos Reis, no Egito, como cupins cavocando dentro de um móvel, produzindo as sepulturas nas entranhas das colinas pétreas, tão áridas, tão sem Vida, como numa inóspita paisagem marciana, sem qualquer indício de Vida, fazendo com que o Ser Humano entenda como a Terra, apesar de ínfima, é tão singular e preciosa, no inevitável discurso ambiental. Aqui, a mão humana vai transformando a Natureza, e o faraó recebe um túmulo à sua altura de realeza, nos privilégios mundanos que fazem metáfora com a glória metafísica, a dimensão na qual nos sentimos tão ricos, mesmo sem joias de fato ou carteiras abarrotadas de cédulas. A escavação deste túmulo está em progresso, num túmulo impiedosamente selado, rechaçando qualquer ladrão espertinho, no modo como, no referido Vale, a maior parte dos túmulos já foi vítima de saques, na ancestral avidez humana mundana por Ouro, o metal dos reis, no materialismo que tanto inspirou Marx, no modo como a Coroa Portuguesa sugou tanto as riquezas naturais brasileiras, como um escravo sendo explorado, num empregado doméstico que sofre assédio moral – é a exploração do Homem pelo Homem, na insanidade de irmão sacaneando com irmão, na fábula de Caim e Abel, ou no Gollum de Tolkien, matando o próprio amigo para ficar com o maldito Anel do Poder. O retângulo amarelo é o falo do Conhecimento, querendo descobrir mais e mais, havendo na Eternidade o poder imenso que jamais será apreendido pelo Ser Humano, pois este é finito. É no incrível modo como Tao sempre esteve aqui e sempre estará, pois, como eu já disse aqui no blog, sem a Eternidade, qual seria o sentido de tudo? É como um nobre presente sendo dado numa festa de aniversário, um presente bom, de qualidade, que vai durar por muito tempo, quiçá além dos anos de vida do aniversariante. São os domínios de Tao, o grande anfitrião. Aqui é o falo penetrando fundo na vagina, no termo chulo “meter o pau”, que é criticar severamente, ou no gesto de se enfiar a espada em algo, tendo a coragem de Yang, o Marte belicoso que jamais abandona a luta, como num artista com décadas de carreira, sabendo que não pode parar de produzir, como numa canção da Broadway: “Você acha que você vai encontrar a perfeição e, então, parar de produzir? Você tem que ficar o tempo todo tocando a Vida para frente”. É o espírito de guerreiro. Força, rapaz!

 

Acima, sem título (2). Um lindo sarcófago dourado, digno de rei em majestoso descanso. O chão pardo desta galeria entra em harmonia cromática, na linda combinação que é pardo com dourado, ou marrom com dourado, na cor de corpos bronzeados, na lembrança que tenho de minha avó, a qual pegava um lindo bronzeado quando em férias na orla. Aqui é como uma caixa de joalheria, numa embalagem que tem que ser digna de algo precioso, no modo material, humano, de projetar virtude na riqueza física, mas não importa quanto tesouro um homem pode ter – tal tesouro não sobrevive ao Desencarne. É como sonhar, de noite, que você ganhou um lindo presente, mas este presente se evanesce quando você acorda na sua cama, numa disparidade entre dimensões, na ancestral lição que o Ser Humano tem que aprender: o Pensamento está acima da Matéria, e como é difícil tal lição ser aprendida. Esta caixa guarda um mistério, talvez sendo um portal interdimensional, no sonho dos cientistas de exercer interferência no Tempo e no Espaço, podendo assim viajar pelo Cosmos num piscar de olhos, nunca dependendo da lentíssima velocidade da Luz, a qual, apesar de dar sete voltas ao redor da Terra em apenas um segundo, é uma lesma de lenta em escalas cósmicas, num Universo ainda tão aquém de ser explorado pelo Homo sapiens sapiens. A caixa por si só é uma joia, e o dourado remete ao estilo Versacce – é assim que se escreve? –, com roupas trazendo muito dourado, talvez aludindo a uma classe social que está ascendendo, no termo “dinheiro novo”, deixando socialmente para trás classes sociais mais tradicionais, já não tão ricas, no modo como a deusa chef inglesa Nigella Lawson, ao adicionar a doces confetes dourados, disse tais confetes serem de uma inspiração Versacce. É o modo humano de se referir ao Metafísico, na glória que, apesar de abrigar-nos em mansões inimagináveis, tem uma carteira paupérrima, sem uma moedinha dentro, no mistério do Desencarne, numa espécie de ganho na Loteria, só que sem dinheiro, num espírito que, ao desencarnar, percebe a necessidade de se manter produtivo, trabalhando, sendo útil ao Mundo, só que numa dimensão superior, nos sonhos apolíneos de arquitetos, na idealização racional de linhas elegantes e depuradas, no modo como a Cultura Clássica invadiu a Europa no Renascimento, colocando a Mente acima do Corpo. Esta caixa está selada, e é difícil abri-la, talvez num sepulcro absolutamente vedado, arisco em relação a ladrões espertinhos, numa espécie de lacre, de bloqueio, no modo de um espírita em bloquear a interferência de espíritos maliciosos e mal intencionados, no termo “distúrbio”, para definir enfermidades psíquicas, no prazer de se ir a um centro espírita e receber o reconfortante passe, sentindo um calorzinho de amor fraternal, no termo inicial de uma espírita ao iniciar os trabalhos no centro: “Viemos aqui com muito amor e respeito”, numa doutrina formidável, que busca entender o plano divino de Tao para conosco, como já ouvi: “Existe uma vida depois da Encarnação, e é uma vida maravilhosa. É tudo”, fazendo da Terra tal lugar de passagem, numa espécie de “mundo adotivo”. Esta caixa tem uma serventia, uma utilidade, como mesa de centro numa elegante sala de estar, no prazer de ser bem recebido por um anfitrião fino, numa sala linda, elegante e agradável, no fascínio que objetos brilhantes e cristalinos exercem sobre as pessoas, como numa certa elegante loja de móveis em Gramado, uma “cidade de bonecas”, com tudo feito para encantar o turista, numa cidade de sinergia que aprendeu a se vender muito bem. Este “túmulo” não quer ser perturbado; não quer ser aberto. Ele quer permanecer em eterna Paz, como numa cidade plácida, repleta de amigos, de gente empática, num lar que faz com que não desejamos estar em qualquer outro lugar do Universo. A caixa excita o arqueólogo, no sexy desbravamento na sepultura do rei Tut, entrando para a História como o maior achado arqueológico de todos os tempos da Humanidade. É o Ser Humano tentando compreender o intangível, o imaterial.

 

Acima, sem título (3). O interior de algum motor, com seu jogo complexo de cilindros, válvulas, etc., fazendo metáfora com os “engenhos” do Corpo Humano, a máquina orgânica que tanto atiçou a curiosidade de da Vinci, numa época em que o exame de cadáveres era um ato mal visto pelo Corpo Social. Aqui temos metais com lustros, novos em folha, como talheres novos, os quais, depois de muitos usos e lavagens, vão se tornando opacos. É como um sistema de ar condicionado central, alimentando prédios inteiros, na invenção formidável humana em contornar os desconfortos dos extremos climáticos, fazendo da Dimensão Metafísica, tal mundo ideal, com dias agradáveis e noites amenas, num plano em que o espírito não mais está linkado ao próprio corpo carnal, o qual é sensível a temperaturas. Aqui é como um cubo cortado em várias partes, num trabalho de análise, de desconstrução, na tentativa de se compreender tal engenho, como cadáveres sendo dissecados, no modo humano em segmentar e encontrar uma função específica para cada fração, como a função dos rins e a função do fígado, nos avanços científicos que buscam compreender a aperfeiçoar o Corpo Humano. O lustro aqui traz beleza, como peças sendo fabricadas, recém saídas da fábrica, da barriga da mãe, como na imaculada pele de bebê, desafiando as mulheres em encontrar inúmeras formas de tratamento de Beleza, como na atual vogue do botox, uma substância a qual, convenhamos, não deixa natural o rosto da mulher – mulheres, vocês são lindas; vocês não precisam de botox. Aqui é como uma carne de açougue sendo cortada, gerando o subproduto dos ossos, que são a alegria da cachorrada. Essa manipulação de subprodutos remete ao talento químico de meu bisavô, que foi um respeitado químico industrial, dando utilidade a um subproduto do processo de vinificação, trazendo à minha família uma certa tradição na atuação de Indústria Química. Aqui é como no filme A Cela, com uma Direção de Arte fantástica, na cena onírica em que um cavalo é cortado em várias fatias de forma abrupta, como num raio x, buscando ver o que não é visto, como desmontar um relógio para ver como este funciona. Aqui é como um conjunto de túneis, numa urbe vibrante, como faraônicas obras de Engenharia, buscando desenvolver uma Sociedade, talvez num país rico, com muitos recursos, ou numa universidade como a de Caxias do Sul, a UCS, a qual reinveste em si mesma todas as receitas, num caminho de crescimento e desenvolvimento, fazendo jus ao lema positivista da Bandeira Nacional Brasileira. Aqui é como uma passagem de fases, como num videogame, como momentos de luz e momentos de escuridão, como num buquê de flores, só que com alguns talos sem flor, no modo como a Encarnação não foi feita para ser perfeita, bem pelo contrário – a Vida não tem sentido sem vicissitudes. Aqui temos um respiro entre coberto e descoberto, nos altos e baixos da Vida, fazendo metáfora aquosa e liquidiscente, com ondas subindo e descendo, proporcionando uma experiência que faz com que a pessoa conheça o farto e o miserável, pois ninguém está o tempo todo no topo, nem mesmo as milionárias celebridades – não há deuses; há seres humanos. Este cilindro cortado faz o jogo de striptease entre mostrar e esconder, provocando uma plateia, atiçando-a antes e gelando-a depois. O interior dessas “grutas” é de um laranja cítrico e vibrante que contrasta com o metal discreto. O laranja é o calor de um lar, ou de um amor tórrido, com os amantes entre quatro paredes, deixando o Mundo todo lá fora, a parte. O laranja é a lenha queimando, coruscante, trazendo calor em meio um Inverno tão impiedoso, com pessoas refratárias, moradoras de Rua, que rechaçaram tudo o que a Vida em Sociedade tem a oferecer. O laranja é um vitral em âmbar, trazendo o Ouro da Aurora, na famosa ária de Ópera: “A Aurora venceu”, ou seja, o Desencarne é tal Aurora, na prova da avassaladora Beleza Metafísica, o lugar onde não há qualquer grão de poeira ou sujeira. É como um caixão sendo aberto, recebendo a luz de uma nova manhã. Bem vindo de volta!

 

Acima, sem título (4). Soldados voltando da batalha, mortos, com os caixões espalhados pelo hangar de um aeroporto, numa dramática volta ao lar, com muitas famílias enlutadas. Aqui, não há sincronia, pois algumas caixas estão abertas; outras, fechadas. É o modo como pessoas estão em etapas diferentes em suas próprias vidas, como na matrícula de uma faculdade, com alunos cursando diferentes cadeiras, cada um atendendo às próprias necessidades e carências, no modo como uma encarnação na Terra é uma grande faculdade, numa existência que faz com que o espírito cresça enormemente. Aqui é como a regra para frutos do Mar em conchas: antes do cozimento, devem ser descartadas as conchas abertas; após o cozimento, as que permaneceram fechadas. Aqui são como cargas que estão sendo inspecionadas por cachorros farejadores, para encontrar drogas ilícitas, no modo como a droga tem a capacidade de destruir a vida da pessoa, sem chance alguma de reconstrução, como um senhor que conheço, o qual está condenado a passar o resto de seus dias numa clínica psiquiátrica, ou como uma certa famosa cantora, cuja voz ficou destroçada, devastada pela droga. Aqui são como mesas de um restaurante inoperante, sem cadeiras, como em tempos de Lockdown, transformando cidades antes pujantes em cidades fantasmas, num cenário de guerra, de caos, infelizmente semelhante ao caos do Umbral, a cidade fantasma pela qual vagamos sem encontrar outra alma além de nós mesmos, como ficar perdido no meio do Saara, delirando e vendo oásis que não existem. Aqui é como uma feira, com as barracas vendendo os produtos, no modo como a Sociedade delega naturalmente às mulheres a tarefa de fazer compras, como as índias coletoras da Amazônia, na universalidade do Ser Humano, como as galerias do novaiorquino Met, atendendo a toda forma de Arte, de muitas civilizações diferentes, desde o rebuscado europeu ao mágico africano. Aqui é uma espécie de labirinto desvendado, desmitificado, como dúvidas sendo esclarecidas, no termo latino que diz que “A Verdade é a filha do Tempo”, ou seja, o termo “A Verdade vem à tona”, e a sepultura se abre para o renascer. Aqui, as paredes traiçoeiras e ilusórias foram destruídas, e o labirinto está desvendado e esclarecido, na conclusão de um processo existencial no qual a pessoa enfrentou o fundo de poço e retornou triunfante, ciente de que, realmente, o Trabalho é fundamental, como já disse Leonardo DiCaprio. Aqui, as caixas foram dissociadas para uma análise científica, e antes formavam um bloco só. É o método científico de análise, como uma parede sendo desconstruída tijolo por tijolo, como uma casa que é desmontada para ser remontada em outro lugar, no tesão que é desvendar mistérios, como nas novelas de Agatha Christie, fazendo um desafio à inteligência do leitor, numa escritora brincalhona, a qual dava pistas falsas para ludibriar o leitor! Aqui é como na franquia Alien, na ficção científica em que cada astronauta hibernava numa caixa, despertando anos depois em outros confins do Sistema Solar, com cada um acordando na hora que podia acordar, cada um em seu tempo, no modo como cada pessoa tem seu tempo, e estamos aqui para aprender lições diferentes, talvez fazendo com que irmão ensine algo a outro irmão, e viceversa. Aqui, há caixas abertas e fechadas, e apenas uma está entreaberta – é a dúvida, a hesitação, num defunto que não sabe se quer sair do caixão ou voltar a este, num espírito um tanto mundano, apegados às sensações físicas, carnais. Aqui, há os que se foram e há os que ainda estão aqui, num trânsito ininterrupto de vaivém, como num movimentado campus universitário, com o mais novo slogan da UCS: “Pessoas em movimento”. É um formigueiro, com cada formiga tocando o próprio dia de afazeres, no termo latino “Aproveite o dia”, ou seja, só há felicidade na produtividade, pois a pessoa ociosa encara uma vida excruciante, com o tempo passando devagar, com cada minuto parecendo um século. Aqui, há mistério e revelação, com as caixas respirando, cada uma no seu próprio ritmo.

 

Acima, sem título (5). Temos aqui um conjunto e subconjuntos, como luas circundando um planeta e este circundando uma estrela, com estrelas circundando um centro galáctico, numa espécie de hierarquia gravitacional. Aqui são gavetas absolutamente organizadas, no sentimento de uma pessoa que colocou em ordem a própria vida, encontrando-se consigo mesma, encontrando algo de nobre e produtivo para fazer, não vendo o trabalho como obrigação, mas como um agente de Saúde Mental, como a Arte. Aqui temos formatos de cruzes, como na bandeira suíça, no modo como as mais belas bandeiras são as mais simples, como a japonesa, no conceito de limpeza taoista em que menos é mais, numa amostra do senso de humor de Tao, o divertido contraditório. Aqui parecem caixas de bombons com diversos sabores, no prazer de se abrir uma caixa de bombons e sentir o olor de chocolate, na sedução das glamorosas chocolaterias gramadenses, atiçando, fisgando o turista pelo paladar. As caixas aqui não são idênticas, e apesar de todas trazerem o formato de cruz, cada cruz é um caso. É como no grupo Spice Girls, em que cada integrante tem uma particularidade, um estilo próprio, mas, em conjunto, todas seguem pelo mesmo caminho do Girl Power, ou seja, o poder feminino. O interior das caixas parece ser gelatinoso, lustroso, no prazer de se ver um chão devidamente encerando, espalhando pela sala o perfume do produto de limpeza, no modo como as salas metafísicas estão sempre limpas e perfumadas, como se houvesse um robô para manter tudo em ordem. Aqui é como um Mondrian dissociado e relido, como dar uma roupagem moderna a uma velha canção de Cole Porter, como as fabulosas releituras de U2 e Dionne Warwick, com Cole vivendo para sempre, de smoking e cabelo aprumado com goma, espiando, lá do Céu, o que é feito com o legado Porter, no modo como no Céu há televisores nos quais a vida dos encarnados pode ser acompanhada, como uma vó, que quer ver se os netos estão bem. Podemos sentir aqui o cheiro de madeira nova, de casa nova, numa casa que ainda não adquiriu os inevitáveis odores dos moradores. Aqui é uma cidade com ruas perfeitamente quadriculares, indo de Norte a Sul e de Leste a Oeste, numa cidade organizada, muito diferente do caos material, cidades que cheiram a trabalho e produtividade, como aproveitar o dia para fazer coisas relevantes, como serviço de banco, compras de super e atividades que alimentem um sonho na pessoa, pois que miserável é a vida de quem não sonha em brilhar! Aqui são como casas parecidas em um loteamento, num arquiteto que quer mostrar que, apesar de não idênticas, formam uma só família, um só caminho, no modo como Tao é este caminho, como caminhos diferentes que levam ao mesmo ponto, ou seja, cada um tem sua forma de ser Tao, nas inevitáveis e saudáveis diferenças entre as pessoas. Nesta cidade a ordem impera, e a quietude também. Aqui, os carros não poluem, nem fazem barulho. Na crença espírita há, nas colônias espirituais, o aerobus, um transporte aéreo que desliza docemente no ar, sem fazer barulho ou poluição, no sonho de engenharia de qualquer fabricante de meios de transporte – o Físico gira em torno do Metafísico, numa hierarquia. Aqui são apartamentos duplex com sacadas, em simples linhas retas modernistas, quebrando com a Cultura Clássica e trazendo ventos joviais de renovação, pois que Mundo é este no qual nada respira? Aqui podem ser lustres no teto, num arquiteto de mão cheia, que sabe ter estilo, diferenciação, na eterna busca humana em se sobressair, no sonho de se destacar e de conquistar o respeito de outrem, pois que vida é esta na qual não sou levado a sério? Nesta “cidade” de Judd, a trânsito é extremamente simples, e não há engarrafamentos, dando ao indivíduo a sensação clara de Tempo e Espaço, ao contrário do Umbral, o plano em que a pessoa perde tais noções espaçotemporais, como numa pessoa encarnada sem Norte, presa num labirinto de autolamentação.

 

Referência bibliográfica:

 

Art. Disponível em: <www.juddfoundation.org>. Acesso em: 5 ago. 2020.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Donald Trump, digo, Judd

 

                   

Volto a falar sobre o artista plástico americano Donald Judd. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 

Acima, sem título (1). As listras retas impõem disciplina, numa distinção clara entre dia e noite, numa pessoa organizando a própria vida, tendo um apego nobre, uma meta, um norte, centrando a vida no trabalho, no modo como o trabalho é a única forma de se dar a volta por cima. As listras são como várias pistas de automobilismo, e podemos ouvir o vaivém de carros nas demandas de uma urbe gigante, como São Paulo, a cinzenta cidade dos negócios. Aqui, temos um contraste entre o vibrante sanguíneo e o cinzento, como Drácula, sedento por sangue na sisuda e moralista Era Vitoriana. É o contraste entre vibrante e sério, entre festa feminina e responsabilidade masculina, na junção de opostos do Universo, no modo como todos temos, dentro de nós, Yin e Yang, fazendo de Tao o grande piadista, que separou a Humanidade entre homens e mulheres, uma condição que cai por terra no momento do Desencarne. As listras são como uma sensual persiana, insinuante, escondendo e, ao mesmo tempo, revelando, na sedução de venezianas no Verão, deixando o quarto na penumbra numa quente tarde de férias, no lugar perfeito para namorar com quem se ama, deixando o Mundo lá fora, curtindo um gostoso momento de intimidade, no gostoso pecadinho da Luxúria. As listras parecem ter saído de uma esteira de fábrica, talvez fabricando tecidos, disciplinadas, impondo ordem e discernimento a uma Natureza tão caótica e enigmática, no retilíneo querendo aplacar o liquidiscente, na relação de continuidade entre Matemática e Ritmo, fazendo das batidas uma repetição de padrões frios, matemáticos, no jogo rítmico entre grave e agudo, na sedução de um salão de baile, pois a frieza dos números guarda toda a beleza de Tao, nosso professor. Aqui é como uma massa passando pela máquina para fabricar fios de massa, no acolhimento de uma comida caseira, não industrializada, na forma materna de se expressar carinho por meio gastronômico, sempre conquistando o paladar da família e amigos, no ato de dedicação e carinho que é cozinhar para outrem, como minha avó materna, cujos Natais eram inesquecíveis, numa mãe e avó que, desde manhã cedo na véspera de Natal, já começava os afazeres da ceia, num amoroso ato de doação e dedicação. As listras são as grades de uma prisão, num tempo de reclusão, como é todo o encarnado, fazendo com que este encontre algo de bom e produtivo para fazer nos seus dias na Terra, pois o Ócio é uma sucursal do Inferno – nunca ouvimos falar que cabeça desocupada é oficina do Diabo? É como uma improdutiva pessoa fofoqueira, que se tornou uma pessoa desinteressante. Aqui, o cinzento é o asfalto, o cheiro da poluição do desenvolvimento, no modo como a Imigração Italiana no RS foi uma reforma agrária que deu certo, resultando em riqueza e desenvolvimento. Aqui, há chapas metálicas cinzentas, na natural dureza do Mundo, a oficina em que temos que nos encontrar, abraçando sonhos, nunca fazendo da Vida uma senzala de trabalhos forçados, workaholics. As listras são a organização, vencendo o caos, estabelecendo a vitória do Bem sobre o Mal; da Beleza sobre a Morte, como uma rainha da Festa da Uva desencarnada, permanecendo bela para sempre no Plano Metafísico, devidamente trajada e coroada. A chapa metálica é a pujança industrial, o empenho, o esforço e a disciplina para se sair da cama e trabalhar. O vermelho é uma geleia de morango, seduzindo como combinações entre morangos e espumante. Aqui, são como veias retilíneas, como se do corpo de um robô, na construção técnica evolutiva do espírito, o qual, apesar de não ser mais escravo das emoções mundanas, permanece amoroso, cuidando de todos os seus irmãos, como uma cadela deitada, deixando a ninhada mamar, na arrebatadora imagem da loba amamentando Remo e Rômulo. As listras são como uma escalada, uma progressão, numa grande escada evolutiva, no modo dialético como tudo é processo, numa Natureza em constante processo evolutivo, mutante, como na canção: “Prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

 

Acima, sem título (2). Aqui temos um tijolo que se perdeu dos seus, ficando abandonado na Rua, no termo “cachorro que caiu do caminhão da mudança”, talvez num artista catarseando uma sensação de abandono e despertencimento. O tijolo aqui é oco, com um vão no meio, como se precisasse respirar, como janelas numa casa, como Tao, sempre vivendo, sempre respirando, nunca colocando um saliente e arrogante ponto final, trazendo a nós a Eternidade, na noção de que jamais pereceremos, num poder que é grande demais para caber na infante cabeça do Ser Humano. Aqui é como um presídio, uma sucursal do Umbral, num ambiente infernal no qual reina a descordialidade, com homens muito longe de ser cavalheiros, na eterna inclinação humana em achar que grosseria é melhor do que fineza, pois a indagação de Tao é muito clara: O que é melhor – o Bem ou o Mal? Sendo muito claro de se observar a sociopatia em quer crê, de fato, que o Mal é mais interessante, como alguns professores sociopatas que tive, os quais um dia visitarei no Umbral, estendendo-lhes minha mão numa intenção de auxílio, mas como posso ajudar uma pessoa que não quer ser ajudada? Como posso ajudar uma pessoa que se identifica com os vilões de Disney? O tijolo aqui é como uma arca, talvez guardando as moralizadoras tábuas dos Mandamentos, noções eticocivilizatórias, no esforço de pais incutindo valores nobres na cabeça dos filhos, na gigante responsabilidade de fazer com que os filhos se tornem cidadãos de Bem. Este tijolo não tem alça, e é difícil de se pegar e carregar, como se fosse um fardo, como uma pessoa rica demais, a qual acaba reduzida espiritualmente um estado inacreditavelmente pobre, ao contrário de uma pessoa boa que conheço, a qual tem o Ouro mas não é escravizada por este, permanecendo uma pessoa simples, pois as pessoas afetadas são desinteressantes. Aqui temos uma casa de tijolos à vista, nua, revelada, como um bolo com vários andares revelados, sem cobertura, como na recente moda nude, com roupas cor da pele, como numa Whitney Houston na abertura da Copa de 1994, vestindo roupas exatamente da cor de sua pele, na questão do orgulho racial, numa pessoa que ser orgulha de ter raízes africanas, numa Humanidade cruel ao ponto de forçar o trabalho escravo – Deus Jesus, quanta desumanidade na Humanidade. Aqui é como um prédio de indústria recebendo raios de sol por meios de tais brechas, e podemos ouvir os barulhos da rotina, numa cidade industrial como Detroit, no modo inglês de colonizar o Mundo por meios civilizatórios de indústria, na cruel jornada de trabalho na Revolução Industrial, com mais de doze horas de labor diário. Estas brechas são o que impede um apartamento de ficar embolorado, com o ar sempre circulando, sempre circulando, num processo ininterrupto, como na sensação que tenho ao ouvir o suave farfalhar de copas de árvores no silêncio de uma noite de brisa ou vento, na sensação de um processo se desdobrando, evoluindo, transformando, na dádiva libertadora que é amar alguém, ingressando num namoro mágico, íntimo, único, como uma Lua de Cristal em meio a um submundo tão sem brilho. Aqui, as brechas não são todas da mesma largura, e temos um jogo de progressão, como brechas que vão ficando cada vez maiores, no modo como Judd gosta de organizar, como numa dona de casa dedicada, tirando a roupa do varal e colocando mais roupa na máquina, nas demandas rotineiras do dia. Esta obra pode ser usada como um banco de praça, num design ousado, no modo como devem ser fascinantes cidades como Barcelona, com tantas relíquias arquitetônicas, como no complexo de igrejas salvadorenhas, com cidades de pulsam Arte – podemos observar a depuração cultural de uma cidade por meio de suas instituições artisticoculturais. Aqui, é como se uma bengala tivesse saído do meio do tijolo, revelando uma face, um interior, como uma pessoa que, não exatamente bela, vai se revelando belas aos poucos, de forma fina, na vitória da Mente sobre a Bunda.

 

Acima, sem título (3). Temos aqui peças dissociadas, numa desconstrução, talvez num objeto de estudo científico, com um escopo sendo definido, no modo científico ocidental. É como algo caindo e se quebrando, espatifando-se fulgorosamente, e podemos ouvir o som do desmantelamento. São como listras de uma zebra, no processo evolutivo que privilegia aqueles que se escondem de predadores, salvando-se, ou ficando imperceptível para presas, no modo como o instinto e a esperteza estão geneticamente programados, no claro modo darwinista de Seleção Natural, num Tao dinâmico, sempre criando, sempre transformando, num processo ininterrupto, no modo como a Eternidade é o único caminho lógico, no incompreensível poder de Tao, o infinito – prepare-se, pois você mal sabe em que aventura você mesmo embarcou... Aqui, é um enigmático quebracabeça, no desenvolvimento do pensamento lógico de Sherlock Holmes, no fascínio das grandes inteligências, deixando o Mundo perplexo com tais avanços de intelecto, pois já ouvi dizer: “Tudo que precisas mostrar é tua inteligência”, no desafio que é ganhar o segredo secreto das pessoas. Aqui é como uma escrita estranha, estrangeira, talvez de outras eras, no modo como foi a Escrita o que tirou do Neolítico o Ser Humano, a partir do momento em que o pensamento é decodificado, trazendo a sofisticação que tanto nos diferencia dos demais animais, fazendo que o Homo sapiens chame-se Homo sapiens sapiens. Aqui é um jogo complexo de fechaduras, confundindo, como nas questões de vestibular chamadas pegarratão, buscando desafiar os que acreditam que estudar não é necessário, pois o que é de uma sociedade sem seus intelectuais? Como já ouvi uma respeitada jornalista brasileira dizer: Quando você viaja para qualquer lugar do Mundo e, lá, entra em contato com a inteligência local, você se dá conta claramente da universalidade do Ser Humano. Aqui são objetos de uso misterioso, como uma pessoa existencialmente perdida, confusa, como num labirinto, sem saber para onde ir ou quem consultar, no modo como só o Trabalho é o que há de capaz para tirar uma pessoa de tal miséria existencial, fazendo com que a pessoa dê a tão desejada volta por cima. Aqui é um móvel que foi vendido desmontado, para que o comprador monte em casa. Os cacos quebrados acompanham o termo “quebrar a cara”, ou seja, as frustrações, as quais são causadas pelas expectativas: No dia de hoje, vi na rua duas pessoas que não esboçaram a mínima gratidão por um ato de gentileza, ou seja, se não espero por um “muito obrigado”, não me frustrarei, como Tao, observando o Mundo sem expectativas, entendendo que o Ser Humano foi feito para errar e crescer com tais erros, no trecho da oração Ave Maria – “nós pecadores”, no modo como todos estamos na Terra para crescer moralmente, num caminho de depuração, numa espécie de curso universitário sem universidade. Aqui, não podemos contemplar um quadro completo, numa prisão para a mente que são os submundos, subesferas em que a pessoa, por exemplo metafórico, ao se deparar com a Monalisa, só consegue ver as mãos desta, perdendo a noção de totalidade, de conjunto, de abrangência. Aqui, é uma foto de um subconjunto, impedindo que vejamos o que é de fato, pois como saberei o que é tal Monalisa se só vejo suas mãos? Aqui é um jogo de adivinhações, e temos que adivinhar perante tal mistério, no modo como os avanços científicos acontecem frutos dessa curiosidade, dessa vontade de se desvendar mistérios. Aqui é como um trecho de um labirinto, como na claustrofobia de O Iluminado, um livro que, já ouvi dizer, faz com que o leitor se sinta dentro de tal atmosfera dantesca, e assim é o Umbral, o infinito labirinto que nos faz caminhar em círculos, até a pessoa, em tal submundo, dar-se conta de tal trânsito circular sem sentido. Aqui é como uma cena de microscópio, com pequenos seres lutando para viver, como os cachorros, os quais, na sua força de viver, nunca sentem pena de si mesmos.

 

Acima, sem título (4). Poleiros numa gaiola, no empenho de um psicopata em aprisionar outrem em gaiolas psíquicas, como no filmão Silêncio dos Inocentes: Nunca dê informações pessoais a um psicopata, pois, se der, ele entrará em tua mente, brincando com ela, no modo como qualquer psicopata se acha Deus, no completo avesso do caminho da humildade. Aqui é como uma arquibancada num estádio, no clamor de torcidas enlouquecidas, como o barulho do foguetório e da torcida berrando, no modo como os Esportes têm essa vocação de puxar torcidas e unir as pessoas em torno de seus times do coração, ou em torno de atletas que representam toda uma nação. Aqui são como os “poleiros” do Theatro São Pedro, de Porto Alegre, com assentos no nível mais alto e remoto da plateia, com ingressos mais baratos, é claro, como num jovem Chico Buarque, o qual só entrava no estádio do Maracanã no segundo tempo, quando os portões eram abertos aos que não queriam pagar pelo ingresso. O vermelho são os laços de sangue que unem um clã, no modo espírita em que os vínculos de família não se dissolvem com o Desencarne, ou seja, quaisquer desavenças em família serão resolvidas, pois a Eternidade é isso – a possibilidade de sempre predominar o Perdão, o qual é eterno, ao contrário do Ódio, que é aprisionador, finito. Aqui é como uma escada que leva a algo, como pirâmides, as quais causam elevação no Ser Humano, no caminho de depuração que é a contramão da ambição, no caminho do desapego, pois como posso ter Paz se nunca estou feliz? É o modo como as crianças muito têm a ensinar aos adultos, pois as crianças, em sua simplicidade e inocência, contentam-se com pouco, muito longe das vertiginosas ambições materialistas e mundanas dos adultos. Quase todos os poleiros aqui são rubros – apenas um é azul marinho. É a diferenciação, na pessoa que tem a coragem de destoar e de adquirir uma identidade em meio a um mundo tão medíocre, óbvio e sem graça. É o desejo de um artista em se diferenciar, impondo uma espécie de marca registrada, original, criativa, nova, pois uma coisa é se inspirar; outra, copiar. Este azul é discreto, em destonia com o vermelho ardente. É como se fosse uma pitada de racionalidade num contexto selvagem, bruto, como uma família de leões devorando junta um cadáver de búfalo, no modo como é importante que a pessoa nunca perca o contato com sua própria família, pois se tais vínculos sobrevivem ao Desencarne, é porque são vínculos importantes, consideráveis, necessários. Aqui os poleiros se dispõem na diagonal, talvez para quebrar a caretice retilínea. É como um varal de roupas, nas demandas diárias de uma casa, no modo como uma pessoa não pode ser apenas dona de casa, tendo que ter uma atividade extra Lar, para que, assim, tal dona de casa adquira uma identidade, uma vida produtiva, remetendo à triste história de Grace Kelly, uma artista brilhante que abandonou tal brilhante carreira, tudo para se tornar uma dona de casa, no frigir dos ovos. Aqui é como um portarrevistas, com cada revista sendo disposta em uma das varas. As varas são a força, a sustentação, a vontade de viver, numa pessoa realista que construiu para si mesma uma base existencial, centrando a vida no trabalho, na carreira, como já ouvi de uma pessoa íntima minha: Para se ter sucesso, é necessário que haja trabalho, trabalho e trabalho. As varas são a vontade, como só vence a pessoa que deixou de se atirar nas cordas do ringue da Vida. Aqui são como os relevos de um tanque de lavar roupa, exigindo força de tal frágil mulher, na rotina do dia a dia, rotina que nunca deve sufocar sonhos, pois que Vida é essa na qual nada mais faço do que carpir um lote ou lavar uma pilha de roupa suja? Aqui é um degradê, um gradiente, como num relacionamento, o qual, depois de um breve estranhamento inicial, vai se desenvolvendo ao ponto de resultar em alta intimidade. O poleiro azul é a coragem, fazendo com que a pessoa não seja uma escrava das expectativas de outrem, mandando outrem à merda, com o perdão do termo chulo.

 

Acima, sem título (5). Uma cela que não aprisiona, no sentido do livre arbítrio, o princípio de Liberdade que, em inspiração na Dimensão Metafísica, gera as maiores e melhores nações do Mundo, causando inveja a sistemas ditatoriais, os quais, por suas vezes, estabelecem a Paz por meios artificiais. Aqui é uma prisão facultativa, como seguindo o Feng Shui na hora de posicionar os móveis da sala de estar: formar, com os assentos, a forma de U, com a abertura virada para a fora, ou seja, sai quem quer; entra quem quer. Temos um Judd amante das formas retas, sem muito espaço para sensualidades liquidiscentes. A obra se integra com a galeria, e talvez vemos aqui uma paisagem novaiorquina, a cidade materialista na qual tudo gira em torno de Arte e o valor monetário desta. É como um ringue aprisionador, no modo humano de eleger os melhores, colocando um homem contra o outro, para ver qual dos dois é o macho alfa da alcateia, neste bicho competitivo que é o Ser Humano. Esta obra gera um respiro, um ar livre, no ato saudável que é sair de casa num majestoso dia ensolarado, rejeitando um tanto a clausura da muvuca, gíria carioca para “lar”. Aqui é o glorioso dia de soltura, num presidiário que, ao sair da prisão, tem uma vida para reconstruir, preferencialmente longe do Mundo do Crime, numa chance de recomeço, ao contrário de um homem que conheci, numa vida destroçada pela Cocaína, sem chance alguma de reconstrução. Aqui é o cenário do Submundo, numa pessoa viciada em tal esfera, pois é muito fácil dizer a um alcoólatra que é só para de beber, numa pessoa que, frente ao vício, tem que ter uma força de vontade enorme para contornar tal vicissitude. Nesta abertura, nessa libertação, é como um animal selvagem solto de volta na Natureza, talvez depois de passar por cuidados veterinários. As linhas retas são a Disciplina, a virtude que desde muito cedo é cobrada da criança, na criança que é inevitavelmente punida após fazer alguma malcriação, no desafio que é mostrar para a criança e para o (pós) adolescente a seriedade da Vida. Este vão nos convida para passar, para viver a vida cultural de uma urbe vibrante, como no famoso vão do MASP, cenário tradicional paulistano para concentração de grandes manifestações públicas, no local mais fino de toda a maior cidade da América Latina. Temos aqui um azul esverdeado, discreto, profundo, das profundezas de hálito marinho da qual nasce a Vênus numa concha, como uma pérola, revelada ao Mundo, como numa estrela estourando em carisma e sucesso, como uma Britney Spears, a qual, depois de conhecer o doce sucesso, conheceu a amarga vicissitude, tendo que empreender um esforço enorme para se reerguer, no desafio enorme que é a pessoa se manter simples, mesmo em meio às tentações narcisistas do sucesso, como numa pessoa celebridade, a qual só sabe falar de si mesma, de sua própria vida, como se estivesse dando uma eterna entrevista – de perto, o Mundo das Celebridades é desinteressante. Esta obra dá um escudo, um envoltório, um teto acolhedor, e somos convidados a entrar na mente do artista, como um anfitrião generoso, na arte de bem receber, no termo “Encham os copos!” de uma certa personagem de filme. Aqui é como uma embalagem descartada, e o que importa, o que estava dentro acondicionado, já foi retirado e consumido, como numa embalagem de telefone celular, nas tentações consumistas do Capitalismo, sempre inventando coisas para arrancar dinheiro das pessoas, como Hollywood, a terra da esperteza, sempre elocubrando alguns filmes para arrancar dinheiro do espectador, o qual não é burro, pois o Mundo percebe quando quer ser ludibriado – o Ser Humano é pretensioso. Neste vazio temos Tao, sempre respirando, como numa sala de estar ao ar livre, arejada, leve, no prazer de se sentar numa sala e bater papo com amigos, nas elegantes salas metafísicas, lugares onde não vemos o Tempo passar. Aqui temos uma armação, um esqueleto, uma base sobre a qual algo será criado, preenchido com carne e sangue. É uma folha em branco, esperando para ser preenchida, como no ator valoroso, que se deixa “tatuar” pelo personagem.

 

Acima, sem título (6). Temos uma pequena escada, mínima, numa dimensão que está ligeiramente acima da outra, numa hierarquia, pois as cidades da Terra tentam imitar as plenas cidades espirituais, as quais não são acometidas por vicissitudes como coleta de lixo, limpeza de calçadas, manutenção de canteiros e recapeamento do asfalto. São cores vibrantes e divertidas, contrastando com o discreto e sisudo cinzento chão desta galeria de Arte, na majestosa capa rubra em Drácula de Bram Stoker, revelando a sede, o vício do protagonista sociopata, o qual devora a felicidade alheia. Temos aqui um prédio de dois andares, com duas grandes varandas, no prazer de se apreciar a vista para alguma cidade ou paisagem campestre. As cores aqui são doces como pirulitos, na magia de uma colorida mesa de aniversário de criança, com guloseimas prontas para a devoração, na magia dos doces, remetendo aos felizes dias que antecederam o Reencarne, ou seja, os dias metafísicos, os quais estão ainda fresquinhos, recentes na mente da criança. Aqui é um prédio de arquitetura modernista, talvez num arquiteto que pensou na hora da limpeza, ao contrário de estilos mais carregados, mais difíceis para a limpeza ou pintura, na impressionante arquitetura futurista de Teotihuacán, a Cidade dos Deuses, uma cidade que, apesar de muito antiga, permanece moderna e sofisticada, alimentando a imaginação de quem crê que o Ser Humano é o resultado de uma colonização alienígena instrutora, que educou tal ser, numa espécie de “empurrãzinho” na escala de evolução humana. A escada é a evolução, o aprimoramento, numa pessoa que morre melhor do que quando nasceu, no objetivo da Vida, que é a depuração moral, numa pessoa que vê a Honestidade como tal meta de aprimoramento, pois como posso melhorar se sou alguém de má fé? A Desonestidade é uma grande perda de tempo, uma ilusão. As rampas e escadas são brilhantes e simples invenções que nasceram da Preguiça, pois porque preciso escalar um prédio se posso tomar as escadas? Ou seja, nada de errado no gostoso pecadinho da Preguiça. Aqui, o nível superior é menor, menos volumoso, talvez numa pessoa que está passando por um processo de desapego, como se soubesse que as riquezas mundanas são sobrevivem ao Desencarne, na ilusão de abarrotar com tesouros o túmulo de um faraó, acreditando que o Metafísico é uma piada materialista. Aqui temos disciplinadas linhas retas, só que num detalhe em diagonal, numa espécie de liquidiscência matemática, por assim dizer, no modo como as áreas do Conhecimento Humano se interligam, como numa família onde cada membro tem importante função. Podemos ouvir o som de pessoas subindo e descendo, num movimentado shopping, numa demanda de consumo, com filas em caixas de supermercado, nas inevitáveis necessidades mundanas. Aqui temos o esmero de um marceneiro, serrando, lixando e pintando, no modo como nada nem ninguém é pequeno demais para desmerecer a total atenção de Tao, o Pai zeloso que quer o melhor para os filhos, tratando estes como príncipes, pois é na Dimensão Metafísica em que podemos observar com clareza o Plano Divino para conosco, fazendo da Terra um mero lar de passagem, uma mera etapa anterior ao retorno à Vida Real, que é o Reino dos Céus, a terra prometida pelo filho de Maria, a Mãe Virgem que nos gerou imaculadamente. Aqui temos o enigma de construção inca, com pedras que se encaixam perfeitamente, numa técnica perdida na noite dos tempos, com todas as charadas que o Ser Humano jamais conseguiu desvendar. Aqui, o corte nos revela um interior roxo, como um bolo sendo fatiado, num doce irresistível, recheado, rico, consistente, num doce que pode ser amplamente comido sem resultar em sobrepeso ao apreciador. Aqui é como um mirante, num ponto de observação, como num drone filmando das alturas. Esta é a prova de como a Simplicidade é fascinante, livre de frescuras e afetações. Aqui é a ascensão num pódio, havendo na celebração da vitória a doce vida produtiva que nos espera.

 

Referência bibliográfica:

 

Art. Disponível em: <www.juddfoundation.org>. Acesso em: 5 ago. 2020.