quarta-feira, 25 de maio de 2022

Alma de Almeida (Parte 2 de 2)

 

 

Volto a falar sobre o artista plástico paulista Caetano de Almeida. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Construção. 2019. Um trabalhinho paciente de formiguinha, construindo algo tijolo e tijolo, como numa construção de carreira, na maravilhosa sensação de que nenhum trabalho é em vão. É como na construção das grandes pirâmides, bloco por bloco, pixel por pixel, no aviso de uma grande potência como os EUA: “Se você tiver juízo, não se meta comigo!”, no formato abrasivo de um obelisco, neste mundo de homens no qual vivemos. Aqui é uma assemblage, como numa reunião de várias roupas numa Campanha do Agasalho, como num pacote de doces sortidos, encantando os olhos da criança, na magia de uma mesa de aniversário cheia de delícias coloridas, na máxima que a mãe do aniversariante diz aos convidadinhos: “Só pode comer depois de cantar o parabéns!”. Nesta alegria cromática, este quadro pode combinar com estofados de muitos tons: tons de azul, de rosa, de vermelho, de amarelo... Aqui é como um quebracabeça ainda não resolvido, embaralhado, enigmático, exigindo paciência da parte da pessoa, como na imagem da Nossa Senhora desatadora dos nós, no modo como a Vida exige que tenhamos paciência, não querendo pular etapas, sem pressa, saboreando cada passo do caminho, como degustar um vinho gole a gole. Aqui temos uma certa competição, como numa floresta, com as árvores competindo por um lugar ao Sol, na luta pela sobrevivência, como num baile da revista Vogue Brasil, num mar de plumas e lantejoulas, só para ver qual mulher é a mais maravilhosa da noite, como no evento beneficente do Met Gala, em Nova York, num desfile de inúmeros fotógrafos ávidos para clicar a mulher com o vestido mais deslumbrante da noite, numa certa fogueira de vaidades. Aqui é como um computador alegre, o qual, apesar de frio e racional, tem amor e calor, nos fios insolúveis de amor que ligam todos os filhos de Tao, no milagre da Ressurreição de Cristo – a Mente sobrevive ao óbito do Corpo Físico, na forte crença do egípcio antigo na Vida pós Morte, havendo na mumificação a esperança de que haverá tal sobrevivência, como uma amiga minha, a qual já desencarnou, uma senhora que viu em vida a própria netinha de poucos anos de idade morrer de forma trágica e brutal, e esta senhora desencarnou recentemente, certamente se reencontrou com a neta e viu que esta está viva, lépida e faceira – é o milagre metafísico. Aqui é como um computador alegre, num slogan antigo da Festa da Uva: “Na alegria da diversidade”. É como um cacho de uva com cada bago de uma cor, numa cidade acolhendo o visitante, numa tradição quase secular. Aqui é uma explosão de cores num fino lustre de cristal, na magia de uma sala elegante, com um anfitrião fino e agradável, fazendo com que nos sintamos tão bem e tão à vontade, ao contrário de lojas com um mau atendimento, num atendimento arredio e antipático, matando minha vontade de voltar a fazer compras em tal loja, pois só um cliente fiel trará dinheiro a um estabelecimento. Aqui é um tanto truncado, pois não vemos aquosidade ou linhas diagonais ou curvilíneas. São placas tectônicas tensas, querendo se acomodar, causando tragédias de terremotos e maremotos, nas forças da Natureza, fazendo com que o artista queira ser assim, uma espécie de força da Natureza, inundando as percepções do espectador, como num cantor querendo lançar um bom álbum, num trabalho de qualidade e excelência musical, na máxima: Quem não tem competência, não se estabelece. É o modo como o sucesso é complicado, fazendo com que tenhamos a ilusão de que é possível viver para sempre num orgasmo infindável, nos aquosos altos e baixos inevitáveis da Vida. Aqui são como camadas sobrepostas, leves, que têm um respiro, deixando o quadro respirar, numa pessoa querendo viver, namorar, beijar e ser feliz sexualmente, decidindo ser sincera consigo mesma, não mais querendo corresponder às tolas expectativas do Mundo. Aqui é um momento de prazer, como comer um belo doce, numa pessoa que decidiu ceder a gostosos pecadinhos, como na embalagem do chocolate em pó Nestlé, com dois frades faceiros fazendo um belo doce de chocolate, sem culpa.

 


Acima, Crux. 2019. Temos um registro, num alvo com vários tiros, como numa pessoa sofrendo ataques, como nos ataques às benesses extravagantes da Família Real Inglesa. Aqui são como os tiros que mataram a inesquecível personagem Odette Reitman na novela Vale Tudo, ou como na amante desvairada e louca vivida por Glenn Close, assassinada pelo próprio amante, na máxima: “Não seja a mulher número dois. Você está bem melhor ficando sozinha”. Ou seja, dê-se ao respeito. Aqui é como na constelação do Cruzeiro do Sul, como na bandeira nacional australiana, nas diferenças entre o céu noturno do Norte e do Sul da Terra. Aqui é como o registro de meteoros rasgando a superfície gasosa jupiteriana, numa marca de algo sofrido, como nas inúmeras crateras de Mercúrio, num registro, numa carreira, como num passaporte muitas vezes carimbado, num espírito que já passou por muitas encarnações de aprimoramento moral, o qual é o objetivo de nossas vidas na Terra – você tem que se tornar uma pessoa melhor, abrindo mão da estagnação. Aqui é como um tecido puído por traças, numa idade, num sinal do passar do tempo, na moda contemporânea dos jeans rasgados, num visual sobrevivente de hecatombe nuclear, no modo como a Vida vai exigindo que sobrevivamos às provações existenciais, em artistas tão sobreviventes como Cher e Madonna, com décadas de trajetória, no desafio de um artista não se repetir nem cair na mesmice, evitando o comentário: “Tal artista é sempre a mesma coisa; tal artista está com a carreira acabada”. É como a célebre artista Yayoi Kusama, a qual, apesar de ter a marca registrada de trabalhar com bolas e círculos, consegue não se repetir ao longo dos anos. É como no inconfundível estilo de Andy Warhol. É como um certo artista que plagia descaradamente Romero Britto, pois uma coisa é eu gostar de certo artista; outra coisa é copiar. É o desafio da pessoa “botar o pau na mesa”, com o perdão do termo chulo. Neste quadro temos uma perturbação, uma instabilidade, como gotas caindo numa água plácida e espelhada, numa influência, num abalo, num artista buscando ser tal abalo, sendo insuportável para um artista ser ignorado, no triste modo como mestres como Van Gogh só foram reconhecidos postumamente, num artista o qual, lá no Céu, ri de tal situação. Aqui temos algo batalhando para aparecer e ser compreendido, numa luta por singularidade, numa pessoa que está percebendo que não adianta ficar o tempo todo reclamando da Vida, a qual é o que é quer queiramos, quer não. O cinza é a cor da discrição, de um dia encoberto, frio e cinzento, e aqui partes nessa nuvem de melancolia lutam para deixar o Sol passar, como numa brumosa e cinzenta Londres, com sua cabines telefônicas rubras, como se quisessem quebrar tal melancolia cinzenta, na explosão de cores que a moda dos anos 1960 trouxe, no divertido personagem Austin Powers, uma sátira de 007. Essas formas arredondadas são como flores de crisântemo, na universalidade da beleza floral, num símbolo de elegância e polidez, como na Flor de Lis, o símbolo da realeza francesa, em símbolos que buscam remarcar a beleza de um reino, como no Antigo Egito, com deuses que louvam elementos da natureza do Nilo: chacais, crocodilos, escaravelhos, gatos, hipopótamos, gaviões etc. Aqui é como um grupo se articulando para formar algo, uma aliança, como em O Clube das Desquitadas, com mulheres se unindo para ensinar aos ex maridos uma dura lição de respeito. Aqui são como territórios ao redor do Mundo formando o Império Britânico, na agressividade ocidental em tomar para si territórios, numa competição entre potências, como no jogo de tabuleiro War, numa fome por anexação infindável de territórios vizinhos – não tem como ser saudável um líder tão sedento. Aqui é como o início de uma ebulição, numa revolta popular, como na deposição do czar Romanov, na covarde execução das crianças do rei, Deus que me perdoe. Aqui é como a união de partes na formação de uma banda de Música, num casamento sem sexo.

 


Acima, Muçunga. 2015. Ondulações como nos calçadões cariocas à beiramar, como nos ágeis quadris de Gisele na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, ao som da extraicônica canção Garota de Ipanema. Aqui são como azulejos quadriculados de piscina subvertidos às ondulações da água, como nos mistérios da Matéria Escura, o “líquido” invisível que mantém o Cosmos unido, num Universo tão além da compreensão humana, como na dificuldade de compreender o Infinito, que é Tao, a Vida Eterna na qual já nos encontramos, na prova do poder imensurável da Inteligência Suprema que nos rege, um poder tão forte que mal o percebemos. Aqui é como uma bandeira tremulando, na universalidade das bandeiras, com cada país tendo a sua, numa espécie de competição para ver quem tem a bandeira mais bonita, como no elegante e impecável minimalismo da bandeira nacional japonesa, no rubro sol nascente do Oriente envolto de brumas brancas, na prova de que simples e sofisticado estão no mesmo “saco”, na elegante simplicidade de uma Jackie O., caminhando tranquilamente pelas ruas de Manhattan, ao contrário de muitos astros, os quais simplesmente não podem caminhar na Rua como um cidadão comum, sofrendo insano assédio, fazendo da fama uma espécie de prisão, que é como olhar para uma linda orla mas simplesmente não pode colocar os pés na areia, numa dolorosa privação, fazendo da fama algo tão cobiçado e tão maldito. Aqui é como um tecido finíssimo, vaporoso, impossível de ser imitado fielmente pelos mais finos tecidos na Terra, fazendo de tal suavidade tátil metáfora com uma pessoa de fino trato, agradável, num anfitrião que faz com que nos sintamos reis, tal o modo como somos recebidos, no termo hispânico: “Minha casa, tua casa”. Aqui é como um feto extremamente confortável no útero, num sofá tão quentinho e fofo, agradável, acolhedor, no trauma que é o nascimento, na cicatriz de umbigo a qual todos temos, uma lembrança de tempos uterinos em que éramos tão felizes. Aqui é na deliciosa EEC, a Experiência Extracorporal, na qual o espírito se desliga momentaneamente do corpo físico, numa sensação de prazer como mergulhar numa piscina térmica, quente, acolhedora. Aqui definitivamente não temos truncagem ou tensão, mas harmonia, como numa Internet Cósmica, mantendo-nos unidos, na imensidão de irmãos que temos, na Grande Família Metafísica, a qual é ainda mais bela e adorável do que uma família de realeza mundana, numa acalentadora sensação de pertencimento, nos esforços de um padre em dizer sempre que somos irmãos, numa Terra tão aguerrida, com tanto irmão derramando sangue de irmão – nem a suprema majestade de Jesus Cristo soube resolver os problemas do Mundo, fazendo Dele a promessa de um mundo melhor, no modo duro e irônico como a Filosofia não muda o Mundo. Aqui é algo cedendo e decidindo se levar com o fluxo, no caminho do discernimento: O primeiro passo para sair de onde estou é aceitar onde estou, no caminho da humildade: Não sou Deus. Aqui é o trabalho paciente de um tecelão ou uma costureira, e podemos ouvir o som da máquina de costura, esta grande invenção que tanto progresso trouxe à confecção de roupas, na perfeição das teias tecidas pela Divina Providência, fazendo com que passemos pelas vidas uns dos outros, unindo-nos como irmãos e ensinando lições as quais levaremos para sempre conosco, no modo como morremos mais depurados do que quando nascemos. Aqui são cores suaves, brandas, sem provocações de um vermelho apimentado, num momento zen de tranquilidade, na capacidade de uma pessoa em bloquear o estresse e levar uma vida humilde e calma. Aqui é alguém cedendo e aceitando algo, sem resistir, como na aceitação da Virgem Maria ao ser anunciado que era a escolhida de Deus para dar a luz ao Seu filho. Aqui é um momento raro de harmonia, na plácida vizinhança metafísica, onde temos a forte sensação de que estamos cercados exclusivamente de amigos.

 


Acima, Quarteto. 2016. Aqui são como tripas assimilando um alimento, como numa pessoa sendo assimilada dentro de um grupo, o qual tem regras internas, as quais, se quebradas, podem acabar com a expulsão de um de seus membros, no aspecto da identificação: Repare que, dentro de um grupo de adolescentes, todos se vestem mais ou menos da mesma maneira. Aqui é um organismo complexo, como numa empresa, ou como nas rígidas hierarquias militares, as quais só funcionam se respeitadas, no modo como também existe uma hierarquia moral entre os espíritos, a qual é deliciosa e não rígida, ao ponto de fazermos questão de obedecer ao nosso irmão mais depurado. Aqui é como um complexo de encanamento, com veias e artérias, bombando o sangue venoso “sujo” e o sangue arterial “limpo”, num sistema autorregulável, na máquina perfeita que é o planeta Terra, filtrando a água que vem das nascentes das entranhas da terra, no modo como o Ambientalismo tomou tanta força na transição entre os séculos passado e atual, em instituições tão fortes como o Greenpeace, com arrebatadoras personalidades como Leonardo DiCaprio agitando a bandeira ecológica, dirigindo carros elétricos, remetendo à poluição de urbes como Pequim, na contradição chinesa: Comunismo na teoria; Capitalismo na prática. Aqui são incompreensíveis labirintos de formigueiros, os quais somente os insetos compreendem, como na bagunça de um atelier, na qual somente o artista consegue se situar e se organizar, numa espécie de “bagunça ordeira”, numa pessoa organizando a própria casa da forma que mais lhe apraz, fazendo com que os casamentos exijam paciência da parte dos cônjuges que moram juntos, pois nem tudo ali é do meio jeito, na paciência de uma pessoa que conheço, a qual, sem ser fumante, está há várias décadas casada com um fumante – meu cônjuge não é perfeito, mas é meu cônjuge e eu o amo mesmo assim. Aqui é como uma infecção tomando corpo, com bactérias se reproduzindo e atacando o funcionamento normal, no termo “borboletas no estômago”, para descrever o mal estar de ter comido algo que acabou me pesando no estômago, como na soja, um alimento que pode pesar no estômago se for um alimento consumido em excesso. Aqui é como um microchip, nos avanços industriais que fabricam maravilhas da tecnologia, na revolução dos pendrives, os quais podem, individualmente, abrigar toda uma coleção farta de CDs e vinis, fazendo com que as gerações que nasceram nos anos 2000 ou 2010 não fiquem tão perplexas, fazendo de minha geração uma geração transitória, que pegou os últimos momentos da Tecnologia Analógica, no incrível modo como os DVDs e as fitas VHS são hoje itens de museu. Aqui é uma malha viária absolutamente complexa e enigmática, numa certa confusão em um país vítima de algum golpe de estado, no reinado das confusões, num caos social no qual o cidadão não consegue se situar, no caos das guerras, num estado tal em que a prateleiras dos supermercados ficam vazias, em rastros de fome e destruição. Aqui é na canção que diz “Debaixo dos caracóis de seu cabelo”, na eterna insatisfação do Ser Humano: Se está crespo, quer alisar; liso, encrespar. Aqui é exército de espermatozoides ensandecidos, assediando o cobiçado e exclusivo óvulo, fazendo do espermatozoide este humilde proletário, uma pessoa comum, um peão de tabuleiro; fazendo do óvulo esta “princesa” tão especial e cobiçada pelo anônimo “motoboy proletário”. Aqui é um cenário de excitação coletiva, como numa pista de dança com uma canção popular e adorada, na capacidade de certos artistas em atiçar o público, no poder da Arte em “bombardear” nossas mentes e nos excitar num momento de união, como num megashow de alguma banda ou cantor, reunindo os que amam tal manifestação, num raro momento pacífico de comunhão. Aqui temos um momento de interação social, num vibrante baile, num momento de euforia em que a seriedade da Vida é deixada momentaneamente de lado, fazendo metáfora com a alegria inabalável do Plano Metafísico, onde o espírito, de tão feliz, é emoldurado por uma luz, que é o guia Tao, o Pai que quer o melhor para nós.

 


Acima, Remanso. 2015. Penas soltas ao vento, como num escândalo, com pedaços de merda para todos os lados, com o perdão do termo chulo. É no caos do clássico Os Pássaros, nas forças da Natureza, uma espécie de praga do Egito, na transição do Paganismo para o Cristianismo, com os altares da deusa Cibele tranquilamente substituídos pela imagem de Maria, a Mãe metafísica de todos, fazendo do mito da virgindade um modo de fazer com que o Ser Humano entenda que somos todos frutos de Imaculada Conceição, fazendo da gravidez carnal uma ilusão, numa espécie de renascimento, depois de nosso nascimento espiritual. Aqui são como elegantes casais numa valsa em um garboso salão, num evento grandioso, num momento em que a comunidade se vê projetada, como na eleição de uma rainha da Festa da Uva, no momento em que o feminino é respaldado pela forte mão masculina, na máxima para qualquer mulher: Você precisa de um homem que faça com que você se sinta uma rainha, ao contrário de um casal que conheço, o qual se separou porque o homem deixou que o calor na relação esfriasse, tornando-se um “sapo” e fazendo com que o sexo se tornasse mecânico, como me disse uma amiga psicóloga: Num casamento, todos os dias você tem que dar uma reconquistada no cônjuge, com coisas simples como um abraço, um beijinho ou flores que não custam uma fortuna. Aqui são como riscos, cicatrizes, como na superfície de um planeta rochoso como Mercúrio ou Marte, com inúmeras crateras que contam uma história, como na saga de um homem com uma vasta estrada, experiente, arrancando suspiros das donzelas, às quais não é permitido ser independente, na máxima patriarcal: A mulher não pode ter sexualidade, sendo representada pela liberdade sexual do homem – é um horror. Temos em Caetano de Almeida uma alma de tecelão, com quadros de texturas, num paciente tear, em roupas finas e chiques como malhas elaboradas, sofisticadas e caras, em artigos de luxo que não são acessíveis a todos, nos abismos sociais que nos dão a ilusão de que estamos todos separados uns dos outros, havendo a nobre intenção da urna eleitoral, num breve momento de igualdade. Aqui são como um cardume fluindo, num sistema harmonioso, funcional, como numa família saudável, na qual as pessoas respeitam umas às outras, ao contrário de famílias complicadas nas quais os irmão não ligam uns para os outros nem nos dias de aniversário uns dos outros, no fato severo de que os vínculos de família não se dissolvem com o Desencarne, como eu disse a uma senhora que recém perdeu o filho: “Ore pensando nele”. Aqui é um azul tão paradisíaco, como no sexy filme Lagoa Azul, uma película que fala bastante sobre sexualidade, lançando nomes como Brooke Shields, a qual, anos depois, não se tornou toda a Julia Roberts que esperávamos que se tornaria, pois Hollywood adora fazer promessas que acabam não se cumprindo completamente. Aqui é uma explosão de vida de girinos, no poderoso instinto de perpetuação da espécie, no hilário modo como o Ser Humano carrega em si tal descarga hormonal, num adolescente que quer sexo, sexo e sexo, na explosão da Vida na Primavera, fazendo das flores nada mais do que genitálias reprodutivas. Aqui são como pequenos rasgos que precisam de uma sutura, num cuidado, num tratamento. Aqui é como uma pessoa que passou por um momento complicado, ficando amplamente ferida, talvez desprezada amorosamente, no modo como a paixão dos enamorados pode se tornar algo tão doloroso e complicado, como nos filmes de Woody Allen, com um homem com o coração ao sabor do vento, facilmente descartando uma mulher para se juntar com outra, na máxima: Antes do coração, ouça a cabeça! Aqui é como a natação artística, sincronizada, bela e disciplinada, na imposição de ordem a beleza ao caos, como numa terra selvagem sendo coberta de nomes para montanhas, planícies etc., como no grande lago do Central Park que leva o nome de Jackie O., a mulher mais notável do História dos EUA.

 


Acima, sem título. 2004. Parece uma luta entre retas e curvas, no jogo de sedução entre masculino e feminino. Aqui é o fascínio das estampas, como papéis de parede, roupas ou papéis de presente, na dica estilística: não abuse das estampas, ou seja, quando for se vestir, certifique-se que você está contrabalanceando uma peça estampada com uma peça lisa, evitando o excesso visual, numa espécie de “respiro” na composição ao se vestir, remetendo a um formidável colega meu no Ensino Médio, um rapaz que, no desejo adolescente de transgressão, foi a um evento fino usando roupas todas estampadas! É como na transgressão de uma Sharon Stone no início do estrelato, indo cheia de joias a uma cerimônia de Oscar, num momento em que Hollywood estava estilisticamente tão clean, tão sisuda, tão “preto e branco” e tão sem joias. É o poder de uma pessoa em causar impacto, sendo uma espécie de pioneira. Aqui é como um terrível acidente, nos terríveis episódios de acidentes da companhia aérea Tam, numa ironia amarga, pois, antes dos acidentes, o checkin da companhia era de cor vermelha, remetendo a luxo e a tratamento de celebridades; depois dos acidentes, tais tapetes se tornaram sinônimo de sangue derramado, ou seja, não é o nome quem faz você, mas você quem faz o nome, no inútil modo de uma pessoa querer mudar de nome artístico. Aqui temos um quebracabeça bagunçado, irresoluto, desafiando a mente e a paciência da pessoa em resolver tal mistério, como num romance de Agatha Christie, desafiando a inteligência do leitor, jogando pistas falsas para confundir tal leitor, sendo poucas as pessoas que conseguem adivinhar quem é o assassino de fato. Aqui é como um bife sendo moído, processado, como numa esteira industrial, fazendo o alimento passar por muitas fases, no termo “ultraprocessado”, um tipo de alimento não recomendado por cozinheiras de mão cheia como Rita Lobo, pois, é claro, quando menos aditivos industriais, melhor, no modo como pode ser enjoativo um caldo de galinha industrial, sintético. Aqui é como uma tempestade de areia, em países do Oriente Médio, no modo, como há ouvi dizer, a areia entra em nossos olhos, narizes e ouvidos. Aqui é o paciente trabalho de reconstrução depois de um terremoto ou uma guerra, como formigas reconstruindo o formigueiro, e não ouvimos as pacientes formigas reclamar, num constante trabalho de reconstituição, na força da união, num poderoso instinto que faz com que as formigas trabalhem tão bem em equipe. Aqui são como pipocas estourando no microondas, no odor de milho invadindo a casa, neste alimento tão barato e delicioso. Aqui são como sugestivas nuvens no céu, e cada um, ao observar, enxerga o que quiser enxergar, nas várias e inúmeras interpretações ao redor de uma determinada obra de Arte, na capacidade da grande obra genial em gerar uma infinidade de interpretações, no modo como até hoje não veio uma definição resoluta da Monalisa de da Vinci. Aqui é como uma esteira de reciclagem, de triagem, com os materiais sendo dispostos numa esteira para ver o que pode ser aproveitado, com as coisas sendo espalhadas, num trabalho cansativo de atenção constante, numa era como a nossa, na qual o lixo seletivo veio com toda a força, deixando para trás a época em que tudo ia no mesmo saco no caminhão do lixo, no maravilhoso modo como hoje em dia as latinhas de alumínio são praticamente cem por cento recicladas. Aqui é como uma folhagem densa, tropical, luxuriante, num sedutor resort tropical para luas de mel, na magia de noites tropicais enluaradas, a imagem dos enamorados, na canção pop que diz: “A noite pertence aos amantes”. Aqui temos uma fragmentação, uma dissociação, no escopo científico sendo esmiuçado ao máximo, no empenho de um aluno em uma tese de conclusão de curso universitário, com um professor exigente, que quer extrair o melhor que o aluno pode dar. Aqui é a reunião de coisas inúteis, de lixo, na sensação gloriosa de se jogar o lixo fora, no poder purificador de uma catarse no Cinema, fazendo com que saiamos da sala com uma sensação de leveza e prazer, no poder de cura da Arte.

 

Referências bibliográficas:

 

Caetano de Almeida. Disponível em: <www.galerialuisastrina.com.br>. Acesso em: 11 mai. 2022.

Caetano de Almeida. Disponível em: <www.iberecamargo.org.br/artista/caetano-de-almeida/>. Acesso em: 11 mai. 2022.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Alma de Almeida (Parte 1 de 2)

 

 

Campinense de 1964, Caetano de Almeida mora em São Paulo, SP. Já fez trinta mostras individuais, fez noventa coletivas, faz parte de quinze coleções públicas, tem três livros lançados e expôs por doze vezes na Galeria Luisa Strina. Caetano estudou Comunicação e Artes na USP e é bacharel em Artes Visuais pela Fundação Álvares Penteado, de São Paulo. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Arhuaco. 2019. Uma grande paciência de tecelão, no momento em que o Homem parou de usar peles de animais e passou a tecer tecidos, no fascínio da seda sobre o Mundo, nos tecidos finos de suave toque, fazendo metáfora com o carinho entre irmãos, numa pessoa que se mostra agradável e de fino trato, na vitória da polidez sobre a grosseria, no caminho da disciplina e da paciência. Aqui as cores se mesclam, formando nuances de transparências. Aqui temos um pouco de Mondrian, na assimetria de linhas retas, namorando com a Arquitetura Japonesa, com uma bandeja de compartimentos assimétricos, no modo humano de compartimentar os dias, organizando a Vida, numa pessoa organizando uma casa, colocando cada coisa em seu lugar, numa sensação deliciosa de ordem e limpeza, no prazer de se entrar numa sala recém limpa, cheirando a fragrância de produto de limpeza. Aqui é a revolução da produção industrial de tecidos, nas máquinas que fazem bordados, na pujança de automação do parque industrial de Caxias do Sul, rivalizando com o poderoso parque industrial paulista, num Brasil pobre que tenta, por meio do trabalho, enriquecer o país, num país com tanto potencial de mercado, como um anão desafiando um gigante, num ato de valentia. Aqui há a predominância de rosa, numa cor feminina, na cor do útero, do sangue que une uma família, no universo glamoroso da boneca Barbie, a boneca cuja idealização de magreza atinge, desde cedo, a autoestima da menina, a qual é confrontada a ser semianoréxica de magra, num padrão de beleza tão cruel, no ponto de certas meninas, de tão esquálidas, pararem de menstruar, tal o dano da extrema magreza à saúde, numa menina que vê a comida como uma inimiga, como uma menina que conheci, a qual simplesmente parou de comer e beber água, tendo que ser internada urgentemente numa clínica de reabilitação. Aqui as linhas em ziguezague lembram o artesanato indígena, nas populações neolíticas, longe do ponto de civilização, na revolução da Escrita, o poder da pena que segue soberano no Mundo, na sabedoria popular: A caneta é mais forte do que a espada. É a questão da classe, do estilo e da distinção, na vitória do fino sobre o grosso, como na invasão de hooligans desvairados trumpistas ao Congresso Americano, achando que a grosseria é a mais elevada dimensão de poder, num Trump irresponsável, num ataque condenado pelo Mundo todo, no conservadorismo republicano, na ironia do democrata Woody Allen, num filme em que um garoto, que começara a simpatizar com as ideias republicanas, estava, na verdade, disse um médico, com falta de oxigênio do cérebro, nessa bipolarização da América entre conservador e moderno, como na Inglaterra moderna frente à Tradição Monárquica, no momento em que a morte de Diana expôs a distância da Rainha de seus próprios súditos, no desafio de reconquistar popularidade, num fenômeno de longevidade e lucidez – setenta anos reinando, sem qualquer sinal de demência. Aqui vemos uma dança de barras randômicas, num baile, numa situação de interação e relacionamento, como numa rotina de convívio dentro de uma empresa, onde todos acabam influenciando todos, como no seriado Chaves, falando sobre o convívio dentro da vila pobre mexicana, com um vizinho aturando o outro, com os barulhos inevitáveis, ou como numa família, na qual temos que aceitar o jeito de cada um, visto que as pessoas evoluem, mas não mudam, na eternidade do espírito, pois Tao nos fez com perfeição, nas palavras da megadiva Lady Gaga: “Você nasceu assim, meu bem”. Aqui é uma tapeçaria, um artesanato, um registro de labor, na universalidade das mãos humanas, fazendo Arte, esta força de expressão que tão humanos nos faz. Aqui é uma tentativa de harmonização, sem choques de contrastes, num estilista fazendo uma combinação cromática harmoniosa.

 


Acima, Caverna. 2019. Aqui é como uma interferência de satélite, no chamado “scrambled channel”, ou seja, canal misturado, abilolado. Aqui é um momento de choque, de mudança, no termo “colocar os dedos na tomada”, no dever de um psicoterapeuta em acordar o paciente para a fria realidade, no modo como o olho clínico tem que ser o mais frio possível, na razão livre de sofrimento. Aqui é um jogo complexo de interferências e influências, como nas chamadas “brainstorms” em agências de Propaganda, ou seja, tempestades cerebrais que consistem em pessoas ao redor de uma mesa falando tudo o que lhes vem à mente para que, assim, boas ideias e conceitos sejam pensados para um produto ou serviço, algo, que, já ouvi dizer, são “surubas mentais”. Aqui é um canal confuso, e não sabemos ao certo o que há por trás, num televisor cheio de interferência, como numa guerra, os insanos momentos em que um rei quer anexar o reino vizinho, no mandamento “Não cobiçarás a mulher do próximo”, ou seja, fique quietinho no seu reino e tudo dará certo em termos diplomáticos, pois como posso ter Paz se cobiço o gramado do vizinho? Aqui é uma colagem complexa, como confetes num baile de Carnaval, no momento de alegria em que a sisudez cinzenta é deixada momentaneamente de lado, numa festa que tem prazo de validade – é só uma festa. Aqui temos uma alegria cromática, na questão do respeito à diversidade, como na questão da Homossexualidade: a denotação está mudando, do tipo “não é doença – é só uma orientação da pessoa”; a conotação, infelizmente, continua péssima. Aqui temos uma orientação em entremeios, no modo de Caetano de Almeida em nos trazer tais fibras de tecidos, como na perfeição das teias tecidas pela Divina Providência, num kilt, fazendo com que passemos uns pelas vidas dos outros, com amizades sendo feitas e lições sendo aprendidas, naqueles amigões que sempre carregaremos em nossos corações, naquele amigo íntimo o qual não vamos há décadas, mas que parece que a última vez em que o vimos foi ontem – a amizade verdadeira não perece; é eterna. Aqui é um desafio, e Caetano nos desafia para que entendamos o que há aqui. Aqui é como uma visão de cima de algo que tem várias camadas, várias sutilezas, com as camadas se entremeando, formando um tecido forte e resistente, na revolução do Jeans, esta calça prática, jovial e resistente, nas modas jovens de jeans rasgados e desbotados, fazendo disso estilo, numa peça de roupa que tem décadas de uso, e ainda assim sigo a usando, no modo como quem tem estilo não precisa ser um escravo de grifes caras, pois estilo vem de dentro, da classe da pessoa. É como o boom da moda jovem dos anos 1980, rompendo de vez com a década anterior, no modo como já ouvi na televisão: “Precisamos ver mais jovialidade no tapete vermelho”, na irreverência da cantora americana Macy Gray, que apareceu no tapete vermelho com uma roupa anunciando a data do lançamento de seu novo álbum, e, ainda por cima, escrito no bumbum dela: “Compre!”. É como na bomba de transgressão que é Lady Gaga, um talento que não fez feio no álbum que gravou com a lenda Tony Bennett. Aqui temos um estímulo e uma provocação, num vômito de catarse, no modo como já ouvi que Gloria Pires teve uma catarse no set de O Quatrilho, no momento mágico em que o ator se deixa vestir integralmente pelo personagem, numa entrega, numa declaração de amor ao personagem. Aqui é um jogo de xadrez complexo, no irônico modo da concepção da Inteligência Artificial, que faz com que um robô vença o campeão mundial de Xadrez, na ficção de Matrix, com tal inteligência robótica subjugando a Humanidade. Aqui, uns deixam os outros respirar, numa troca, numa sociedade, num trato interessante, onde todas as partes ganham, como num casamento sisudo: Nós nos casamos e cada um faz sua parte. Aqui é como um vidro distorcendo o que há atrás, no modo como o espírito encarnado só possa ver uma parcela do Plano Divino para conosco. Aqui é como uma reciclagem de papéis diferentes, na policromia de diversidade, nas cores estimulantes de uma boate.

 


Acima, Cristal Rosa. 2019. A identificação do rosa com a feminilidade, nas ritualizações sociais, no modo como a azul é da masculinidade, uma bobagem, com uma certa senhora que veio a público com declarações conservadoras, provocando o movimento “Rainhas vestem azul”, para mostrar que se tratam apenas de cores, nada mais. Caetano de Almeida gosta dessas texturas têxteis, no trabalho de uma malharia, no modo como as malhas são tão usadas no clima gaúcho, em eventos como a Tricofest, no talento empreendedor de uma unidade federativa laboriosa e esforçada, talvez herdado os genes de imigrantes europeus. Aqui há um respiro, e a parte branca é como se fosse o vazio, como num código binário, como conversar com um espírito de moralidade superior, o qual só nos responde “sim” ou “não”, como numa pessoa mais velha a qual, apesar de ter mais juízo e sabedoria, não deixa de ter amor por seu irmãozinho menor, fazendo do Amor algo tão subestimado, algo que é a cola que une a Grande Família Metafísica, a qual todos pertencem sem exceção, havendo no sociopata uma pessoa que definitivamente não se sente tão pertencente, num espírito tosco que sofre com sua própria amoralidade, na dimensão infernal do Umbral, o Inferno de Dante. Aqui é uma estampa, como num papel de parede, no modo como há certas pessoas de bom gosto e estilo, pessoas que não precisam dos serviços de um decorador profissional, em casas dignas de capa de revista de Decoração, na paixão por lares acolhedores, maravilhosos, dentro dos quais nos sentimos tão confortáveis, tão em casa, na beleza de regiões serranas, fazendo metáfora com a elevação metafísica, o Reino dos Céus tão prometido por Jesus, o Rei dos reis, forte ao ponto de bipartir a História da Humanidade. Aqui são como as vias de uma cidade, com ruas paralelas e perpendiculares, numa hierarquia, com vias de maior demanda de tráfego do que outras, com vias que precisam de mais tempo para escoar os veículos, no dia a dia frenético de grandes cidades, no modo como o Ser Humano mostra, dirigindo no Trânsito, sua face mais patética, estressada e desnecessária – a tranquilidade é uma dádiva. Aqui é como um altivo prédio, ereto, imponente, no desenvolvimento de uma cidade, como na urbe futurista de Os Jetsons, com prédios elevados, limpos, abertos, como num apartamento bem ensolarado, vivo, respirante, deixando o ar circular, como no vaivém de pessoas numa cidade, com tantas coisas acontecendo, em urbes vibrantes como Nova York, um lugar que, apesar de tão belo e pujante, pode ser uma cidade bem dura e cruel para quem não tem muito dinheiro, na crueldade capitalista – sou o que tenho em minha conta bancária. Aqui temos um convívio pacífico entre branco e rosa, num trato de paz, de diplomacia, num acordo que delimita fronteiras, como nos acordos europeus para definir de qual nação europeia cabia um pedaço das Américas, no extermínio das populações indígenas, como ouvi certo dia na Rua um senhor falando com uma indígena semimendiga, jogada numa calçada suja: “Teus antepassados já foram donos e senhores destas terras, e foram todos cruelmente despojados pelo homem branco”. É um choque de civilizações, tudo em nome da ambição por mais e mais terras, numa sede napoleônica insana, num ditador que, apesar de governar o país de maior extensão territorial do planeta, ainda assim quer anexar mais e mais territórios, querendo ser o cruel Sauron de Tolkien, o terrível Senhor da Terra. Aqui temos uma espécie de “bissexualidade”, por assim dizer, num quadro que, se fosse uma peça de roupa, combinaria muito bem com uma peça branca ou com uma peça rosa, na capacidade diplomaticamente neutra de um país em ser verde um aguerrido mundo no qual amarelos e azuis estão sempre em pé de guerra um contra o outro, num Jesus que, sem conseguir resolver os problemas do Mundo, segue como a promessa de um amanhã melhor.

 


Acima, Distúrbio. 2019. Aqui temos uma tensão de discordâncias, como num debate político, no qual o nível pode baixar a qualquer momento, com Trump chamando Hillary de “nasty”, ou seja, nojenta, na misoginia de um mundo de homens. Aqui não temos uma organização quadricular, mas linhas tensas diagonais, numa mistura, num embaralhamento, como num jogo de cartas com a sorte sendo lançada, numa pessoa que perde dinheiro em apostas, numa conduta incauta, longe da sabedoria adulta ou idosa. Aqui é como um prédio sendo demolido, com tudo indo abaixo em questão de segundos, como numa destruição do Onze de Setembro, no Mundo perplexo perante tanto desejo de destruição, como sem sonhos sendo frustrados e despedaçados, como numa pessoa indicada a um Oscar, sentido-se um lixo ao seu nome não ser identificado dentro do envelope com o nome do vencedor, pois imaginemos a dor de uma Fernanda Montenegro, a qual, mesmo em sua dignidade e majestade, não soube prosperar em Hollywood, pois FM disse que só recebeu proposta de papéis de empregadas dominicanas, como um certo ator que abandonou a carreira cênica, um ator que nunca soube se desvencilhar do estigma de ator exótico, que não pode fazer papel de americano – são as frustrações da Vida, com nossos dedos sendo “colocados na tomada”, em choques de realidade. Aqui é como um momento de obra, de reforma de um cômodo, com uma casa sendo “virada de cabeça para baixo” em meio às demandas do serviço, como uma pessoa que resolveu dar uma guinada e fazer uma “reforma” em sua vida, adquirindo novas metas, como numa Paris Hilton, frustrando-se como atriz e cantora, no modo como o Mundo não respeita o “robert”, aquela pessoa que simplesmente só quer aparecer midiaticamente. Aqui é um jogo de transparências sobrepostas, como em feitos especiais de Cinema, com imagens sobrepostas, na fascinante ilusão cinematográfica, com efeitos visuais dignos de prêmio, na busca por excelência, no slogan de um certo estúdio hollywoodiano: “Um legado de excelência”. Aqui são como placas tectônicas em processo de acomodação, de adequação, nas terríveis forças da Natureza com as quais o Ser Humano se vê obrigado a conviver, com terremotos que em segundos podem destruir lares e lugares públicos, remetendo à minha querida avó Nelly, a qual se negou a assistir a um programam do Globo Repórter sobre um grande terremoto do México, dizendo: “Não quero ver desgraça dos outros”. Aqui é como uma estrela querendo causar um abalo, uma comoção, numa monstruosa Gisele abalando as estruturas do planeta, ditando moda capilar de cabelos longos ondulados, numa trajetória impressionante, partindo de uma anônima cidadezinha de interior brasileiro – quando é para ir, vai até debaixo da água, nos mistério do estrelato: O que é necessário para que se brilhe? Aqui é um acordo truncado, difícil, numa negociação intrincada, como na longa e sofrida negociação para Marília Gabriela entrevistar Madonna, numa entrevista a qual, apesar de ter sido tão odiada pela própria Marília, foi, na verdade, ótima, muito única na carreira de Madonna – não seja muito duro consigo mesmo. Aqui é como uma papelada sendo organizada e catalogada, como num professor corrigindo provas, no modo como a Vida em Sociedade vai cobrando, desde cedo, disciplina por parte da criança, na questão do bom comportamento, com mães dizendo aos filhos: “Se você não se comportar, a cigana vai levar você embora!”, na grande responsabilidade e paciência de se criar um filho, no desafio de incutir valores na cabeça da criança. Aqui é uma malha viária complexa, com trilhos de trem se entrecruzando, num sistema complexo de leis de fluxo, exigindo que respeitemos as cores dos semáforos, no modo humano de trazer um pouco de ordem e paz a um mundo tão caótico e estressante. Aqui é como uma estrada cortada por vários veículos, num passaporte “calejado”, numa pessoa experiente, que passou por muitas encarnações até alcançar a perfeição moral, o dom que faz com que o Plano Metafísico seja um lugar onde estamos cercados inteiramente de amigos.

 


Acima, Lenticular 1. 2019. Uma perfeita elegância aristocrática, no termo “sangue azul”, numa pessoa a qual temos a certeza de que foi muito bem criada, com valores nobres embutidos na mente da criança desde cedo. Aqui é como uma disciplinada plantação, lavrada por tratores, em modernas colheitas automatizadas, como na soja, barateando o preço final do produto, ao contrário do vinho, o qual é caro porque a colheita é artesanal, feita a mão. Aqui são como fileiras de vinhedos, vastos, enchendo os olhos de um turista, na universalidade enológica, com vinhos sendo produzidos nos quatro cantos do Mundo, em programas televisivos de tanto entretenimento, com vinhedos sendo visitados, no poder da interferência da mão humana, na dura vida inicial de colono italiano no Sul do Brasil, deparando-se com um lote virgem, numa jornada tão árdua até ter campos que gerassem alimentos como milho, no modo como, já ouvi dizer, a revolução agrícola nada mais fez do que redobrar o trabalho humano, num agricultor que tanto tem que se dedicar a seus campos e plantações, apesar de tal revolução trazer o controle sobre a produção de alimentos, deixando par atrás a era de humanos caçadores coletores, como nas tribos indígenas brasileiras, fósseis vivos no Neolítico. Aqui é como um pente sendo passado e disciplinando cabelos caóticos, no casamento de beleza com disciplina e fria racionalidade, como na gélida Galadriel de Tolkien, estranha, intimidante, bela, misteriosa, gélida e bela como um floco de neve. Aqui é o termo “pente fino”, ou seja, as pessoas que são monitoradas de perto pela Receita Federal, como um senhor que conheço, o qual foi certa vez preso por sonegação, um senhor que, por tal deslize de sonegação, tinha um belo e invejável patrimônio, acreditando que jamais cairia nas mãos do impiedoso leão, o faraó rei da selva que impõe seus cruéis impostos ao súdito já tão pobre: O povo não aguenta mais, senhor leão. Aqui é uma busca por uma perfeição e uma limpeza que não existe integralmente no Plano Material, pois em tal plano, por mais que limpemos uma casa ou banhemos um corpo, sempre haverá resquícios mínimos de sujeira e bactérias, numa faxina que é eficiente na medida do possível, numa ordem relativa, no modo como não há perfeição material, nunca, no termo da canção regravada por Alanis: “Há uma manchinha negra sobre o Sol hoje”, e encarnação é isso: Sempre haverá uma manchinha sobre o Sol, mas não se preocupe muito, pois e só uma manchinha. Aqui é como uma disciplinada fileira de militares numa parada de ostentação militar, como numa Coreia do Norte, um país miserável cujo líder investe tudo em armistício, num país sem escolas, hospitais ou estradas decentes – é um horror, nessa eterna vocação humana em provocar e ofender o próprio irmão, na “beleza” das guerras, eventos que causam sequelas psíquicas aos combatentes. Aqui é como um filtro solar, permitindo que só alguma radiação passe pela tela, numa moderação, numa preservação, no cuidado de se usarem óculos escuros para evitar lesões como a Catarata. É a sensualidade de uma janela veneziana, nua luz que refresca o ambiente e deixa o sedutor Sol de Verão do lado de fora, enquanto os enamorados curtem um ao outro. Aqui é num salão de beleza, com o pente impondo ordem ao caos capilar, diferenciando-nos das épocas em que o Homo sapiens mal se importava com o garbo civilizatório, no ritual diário de aprumação antes da pessoa sair de casa, estando digna de um momento de polida interação social, no caminho da autoestima, numa pessoa que se nega a sair de casa portando uma aparência desleixada. Aqui é como uma embalagem de espaguete, os quase saem de tal ordem industrial para bailar numa água de cozimento, nesta comida de origem oriental que tanto conquistou a Itália, no corpo dinâmico da Gastronomia, sempre em processo de transformação, num corpo vivo e pulsante, como Tao, a fonte da Vida que não seca. Aqui temos uma estabilidade, num voo tranquilo, sem trepidações, num comandante sisudo, que sente o peso da responsabilidade adulta.

 


Acima, Telex. 2019. Aqui temos um corpo no qual muitas coisas acontecem ao mesmo tempo, como numa cidade vibrante como Nova York, com seus museus e teatros, seduzindo o visitante com suas ruas que muitas e muitas vezes apareceram no Cinema, no modo como quando vamos a tal cidade não nos sentimos num lugar totalmente estranho, tal o modo de quantas e quantas vezes vimos NY nas telas cinematográficas. Aqui é como um equipamento eletrônico em funcionamento, com seus circuitos, nos sonhos de um arquiteto a projetar uma cidade, na identidade brasileira de Niemeyer, numa arquitetura tão única, tão original, tão brazuca, ao som de Bossa Nova, no enorme desafio do Cinema Brasileiro em estabelecer uma identidade própria, no esforço heroico que é fazer Cinema num país tão pobre. Aqui é como um labirinto traiçoeiro, em constante mutação, numa pessoa existencialmente desnorteada, que não sabe para onde ir ou o que fazer, num processo de autoencontro que leva um tempo para se desenrolar, até a charada ser morta e a pessoa conseguir ver a si mesma com clareza, numa pessoa que resolveu adquirir o controle sobre sua própria vida, pois que vida é esta na qual não tenho controle? Devo ser escravo do Mundo? Aqui é como no game clássico Atari do Pac Man, num labirinto com inimigos no qual o jogador tem que comer o máximo de guloseimas no labirinto, no modo como há tantos amantes dos games, em um galgar de tecnologia que não conhece limites, podendo até ser um ato viciador, numa pessoa que prefere estar num quarto jogando a ir para a Rua e interagir com as pesas de carne e osso. Aqui é uma estampa colorida, como num arcoíris despedaçado, estilhaçado, como num paradigma sendo destruído por alguém que tem a força e a coragem para fazer tal transgressão, acordando o Mundo para um novo ponto de vista, como na praia de Capão da Canoa, cujo paradigma arquitetônico de prédios de veranistas foi quebrado por um elegante e imponente prédio em estilo neoclássico, algo inusitado para uma residência de Verão – o paradigma só pode ser detectado depois de ser transgredido, na responsabilidade do transgressor em causar a evolução de uma sociedade, ou seja, os transgressores “loucos”. Aqui são como confeitos que enchem os olhos de uma criança num ninho de Páscoa ou numa mesa de aniversário, cheia de doces e delícias, no casamento de percepções entre ver e degustar, num confeiteiro habilidoso, competente, calejado por décadas de carreira fazendo doces, no gostoso pecadinho da Gula – eta pecadinho bom! Aqui temos dois trânsitos: de leste a oeste e de sul a norte, sem algo na diagonal, como na Cultura de Massa, que vai na horizontal, e a Cultura Erudita, que vai na vertical. Aqui até temos uma certa profundidade, com várias camadas sobrepostas, com várias camadas de um doce mil folhas, numa riqueza, como um sanduíche farto, cheio de camadas de sabores, numa comida feita por quem entende de sedutores condimentos. Aqui é como um baile de Carnaval retilíneo, numa alegria a qual, apesar de tão vibrante, faz com que eu não perca minha consciência ou identidade, numa espécie de diversão adulta. É como uma televisão com uma interferência, com canais competindo pela preciosa e imprescindível audiência, como certa vez no embate entre Globo e SBT, num momento em que ambos exibiram filmes de Rambo, mas numa guerra: Silvio Santos não exibia o filme enquanto a Globo não findasse a novela que estava sendo transmitida, dando um show para o telespectador perplexo com tal guerra. Aqui é como um tela perfurada, numa esteira de produção, numa máquina de tear, moderna, aposentando os dedos das costureiras, em invenções que tanto nos dão comodidade e praticidade, na revolução, por exemplo, da máquina de lavar roupa, com gerações que não sabem o que é torcer roupas a mão. Aqui é uma ventania colorida, numa neve divertida, nos apelos de Gramado, a cidade na qual tantos sonhos empresariais perecem todos os anos – é uma dureza.

 

Referências bibliográficas:

 

Caetano de Almeida. Disponível em: <www.galerialuisastrina.com.br>. Acesso em: 11 maio. 2022.

Caetano de Almeida. Disponível em: <www.iberecamargo.org.br/artista/caetano-de-almeida/>. Acesso em: 11 maio. 2022.