quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Quero Kerry (Parte 3 de 3)

 

 

Falo pela terceira e última vez sobre o pintor americano Kerry James Marshall. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Cabeças mortas. O vaso é o receptáculo feminino, a jarra de Galadriel no espelho de água, num Tolkien de apelo tão universal. O vaso é tal artefato de artesanato, havendo aqui uma ironia de metalinguagem – Marshall artista pintando a obra de outro artista. O vaso é o vazio de Tao, o vazio que tanto serve ao Mundo, como no gigantesco vão na orla de Capão da Canoa, servindo ao Mundo, com crianças andando de bicicleta e patins, no enigma: Deus é o infinito, no descomunal poder da Vida Eterna, no poder que faz com que nós nunca cessaremos – não é poder demais? Não é isto o presente, o regalo supremo? Das flores saltam notas musicais, num bom artista de Rua, inebriando-nos com seu colírio auditivo, num bálsamo para os ouvidos, no modo como há tantos e tantos artistas no Mundo que não são reconhecidos devidamente, neste enorme desafio que é atingir a notoriedade e a fama. Aqui é o casamento entre as Artes, no modo como as Artes estão umas dentro das outras, no modo como o Cinema reúne todas as outras Artes – o que seria do Cinema sem a Música, por exemplo? As flores são radiantes sóis, como vi hoje no jornal a foto de uma estrela em formação, captada pelo supertelescópio James Marshall, digo, James Webb, num formato de ampulheta, na sobrecarga de enigmas do Universo, num Ser Humano ainda tão aquém de desvendar tais enigmas. Vemos ao chão flores mortas, descartadas, excluídas, no “prazo de validade” de nossos corpos carnais, no modo como ninguém está para sempre no Mundo, fazendo com que escolhamos algo de nobre para fazer em nossos dias na Terra, no fato de que, fora do trabalho, não há salvação, ao contrário de uma dondoca vazia, fofoqueira e maliciosa que conheço, uma pessoa de um grande vazio existencial, uma pessoa abonada, cercada de luxos, uma pessoa que só produz duas coisas: fezes e urina. As flores caídas são tal exclusão social, como na vinheta introdutória do seriado Os Simpsons, com a talentosa Lisa e seu saxofone, excluída da banda da escola, no modo como os verdadeiramente talentosos são excluídos, num Mundo tão cheio de pessoas cagonas, com o perdão do termo chulo, pessoas embebidas em constante mediocridade, na “vingança” que é uma pessoa ser, posteriormente, devidamente reconhecida, num artista subestimado, como uma pedra de ametista – opaca e insossa por fora e belíssima por dentro. Aqui é um quadro um tanto sombrio, escuro, num cômodo não muito iluminado, numa pessoa obscura e subestimada, como na postura da revista Veja em relação a um certo filme, subestimando este e, posteriormente, voltando atrás e dando o devido respeito e reconhecimento, no Diabo do filmão O Advogado do Diabo, sempre subestimado, sempre profundo, não gostando das indiscretas botas de crocodilo do personagem de Keanu Reeves, dizendo a este: “Eu posso ver você vindo, e isso não é bom”. E os subestimados são assim, pois ninguém consegue vê-los chegando, fazendo com que o subestimado nos surpreenda, como num Jô Soares se revelando um mestre entrevistador. As flores são esse símbolo de Vida e Beleza, na luxúria da loucura de acasalamento na Primavera, com adolescentes enlouquecidos em meio a seus próprios hormônios, na fase da Vida em que somos “escravos” de tal libido, como ouvi recentemente um adolescente na Rua, com este dizendo: “Eu quero sexo!”. Aqui é a passagem do Tempo, como numa linha de sucessão monárquica, no filho assumindo os negócios do pai, no poder poético da tradição, a qual existem para que tenhamos a sensação de que o Tempo para e de que há o Mundo Atemporal, no qual somos todos jovens, belos e brilhantes para sempre, na atemporalidade de Tao, no deslumbrante e supremo Mundo Imaterial. As flores jogadas respiram até o último momento, emitindo suas fracas notas musicais, lutando até o fim, nos versos imortais de Hemingway: “Eu nunca vi uma criatura silvestre tendo pena de si mesma!”. As flores caídas são como modas ou tecnologias ultrapassadas, na longevidade do cabelo de Gisele, ondulado, no poder de uma mulher tão notória – a estrela do Brasil!

 


Acima, Estrela negra II. Aqui remete à grande estrela negra dos anos 1980 Grace Jones, a qual, infelizmente, não soube sobreviver ao seu próprio boom, no modo como há tantos talentos de tal década que não sobreviveram, em exceções como Madonna, sobrevivendo a décadas de carreira, no fato de que o Mundo é dos fortes. O negro aqui se funde com a estrela negra, num continuum cromático, na majestade da cultura afro, na magia de magos africanos em suas tribos, no casamento entre Arte e magia, dotando de superpoderes amuletos artesanais, num poder ritualístico em sintonia com as forças da Natureza, como tempestades, auroras e crepúsculos, na magia das estrelas da manhã e do crepúsculo. A figura aqui é um tanto andrógina, pois não sabemos dizer se é homem ou mulher, na assexualidade de uma estrela no firmamento, como num Michael Jackson no palco, sem sexo, como na indefinição sexual dos anjos, pairando acima dos sexos humanos, como dividir deuses entre deuses e deusas. Aqui vemos uma nudez integral, na fusão do corpo com o fundo, na beleza afro, em uma raça tão marcante, em contraste com os povos nórdicos, em tal variedade racial, como na diversidade de raças de cachorros, com vários tamanhos e cores. A estrela aqui é agressiva em suas pontas cortantes, na necessária agressividade de uma pessoa em se destacar em um mundo tão competitivo, tão cheio de pessoas que almejam o mesmo sucesso, como no mercado de modelos de Porto Alegre, o qual conheci, um ambiente altamente competitivo, cheio de pretendentes para poucas oportunidades de trabalho, como uma moça que conheci, a qual obteve algum sucesso como modelo, mas uma moça que se encheu de tudo e acabou virando dona de casa, como numa brilhante Grace Kelly, a qual abandonou uma carreira brilhante para se casar e virar uma dona de casa de luxo, num vida enfadonha de princesa, na qual a pessoa tem casa, comida e roupa lavada, tudo grátis, num grande machismo que é tirar a carreira de uma mulher. Aqui é um jogo provocante, pois ao mesmo passo de que temos uma total nudez, temos também uma ocultação, como num profundo negror de céu noturno, com estrelas no firmamento, vibrantes eternamente como o mais fino dos cristais, na assexualidade de uma estrela, sem sexo, sem cor, sem raça, apenas um ponto deslumbrante no céu guiando os navegadores, no alvo de ambição de qualquer pessoa, querendo se tornar tal referência apolínea, numa Hollywood que é duas coisas – a terra do sucesso e a terra do fracasso, numa gangorra que hoje pode te levar lá em cima e amanhã pode te levar lá em baixo. Aqui é a ambição de um artista em subir no conceito das pessoas, em fenômenos de popularidade como um Andy Warhol, num estilo inconfundível, recebendo inúmeras encomendas, em marcas registradas, como nas célebres bolas e círculos de Yayoi Kusama, num limiar sexy entre repetitividade e originalidade. A estrela aqui brilha em profundidade, com uma estrela pequena nascendo de uma estrela grande, na capacidade de uma pessoa em se manter em tal topo, sobrevivendo aos inevitáveis altos e baixos da Vida. A nudez é tal crueza de autenticidade, numa sinceridade, como nos seios expostos de uma Gal Costa cantando: “Brasil, mostra a tua cara! Quer ver quem passa para a gente ficar assim!”. É uma crueza, uma autenticidade, numa pessoa que se nega a viver numa mentira. A figura negra aqui se agarra às pontas da estrela, como numa pessoa se agarrando à própria carreira, dedicando-se ao máximo, num trabalho de devoção e dedicação, numa pessoa que sabe que tem que produzir se quiser se sedimentar, num artista que sabe que, se parar, virará “peça de museu”. O negror aqui é uma noite de lua nova, negra, profunda, com a pálida luz das estrelas. A nudez aqui exige ser encarada com naturalidade, pois foi assim que viemos ao Mundo, na inocência da nudez do Éden antes de ser mordida a maçã da malícia, no mito misógino de ter sido de uma mulher a culpa das desgraças da Humanidade. A estrela é tal estouro, numa revelação estelar, em obras de Arte causando comoções, como num Louvre, grande demais para ser apreendido completamente.

 


Acima, Mestre olheiro. Aqui é a iluminação, numa pessoa que brilha, no caminho autodidata – nenhum curso ou livro nos ensina a brilhar. Aqui é uma mente esclarecida, em países eruditos e ricos como a Suécia, em honrarias científicas dadas pela família real do sofisticado país. A bandeira americana é o patriotismo, na cena de Superman recolocando a bandeira americana na superfície da Lua, numa cena em que quase podemos ouvir as plateias “ianques” ovacionando tal ato patriota, pois nada de errado há em ser patriota, mas na pessoa que também não pode ir de encontro ao chauvinismo, como uma pessoa que conheci, para a qual um filme era perfeito só porque era brasileiro, como numa cena de um chauvinista no filme Amélie Poulain, num senhor desdenhando de Lady Di e enaltecendo Renoir. Aqui é uma pose solene, séria, como numa formatura, na conquista de um diploma adquirido mediante anos de estudo e disciplina, em uma ocasião que tanto enche de orgulho um pai e uma mãe, no aspecto fálico do canudo de diploma, desbravando as profundezas pretas da ignorância e trazendo esclarecimento científico ao Mundo, na vitória da Mente sobre as traiçoeiras emoções do coração, como me disse um digno senhor psicoterapeuta – é preciso que tenhamos os pés no chão, na canção de Erasmo Carlos: “É preciso saber viver!”. No peito aqui vemos uma medalha, uma honraria, uma distinção, num monarca condecorando os súditos de brilho excepcional, como num Elton John, irreverente sempre, jovial, ironizando o fato de ser calvo e usar peruca, falando em uma premiação: “Meu cabelo e eu gostaríamos de agradecer!”, pois rir não é o melhor remédio? Aqui é essa dignidade americana, evoluindo após as trevas escravocratas, dando ao negro o status de cidadão livre, o qual pode escolher entre votar e não votar; entre servir militarmente e não servir militarmente. Este rapaz retinto remete a uma personagem controversa do extinto televisivo A Escolinha do Professor Raimundo, no qual uma mulher negra dizia palavras de gosto duvidoso, do tipo: “Negro gosta mesmo é de comer carne queimada e preta!”, na linha tênue entre sátira e ofensa, como no polêmico televisivo Pânico na TV, com piadas que nem sempre agradam as celebridades alvo, como na atriz Luana Piovani, farta de ser perseguida obstinadamente pelos humoristas do programa, ou como nas duras palavras de Bethânia, dizendo ao humorista Ceará: “Não toque em mim!”. O brilho aqui é uma explosão, na vitória do Pensamento sobre a Matéria, sobre o Corpo. Como já ouvi dizer: “Gisele é a vitória da cabeça sobre a bunda!”. Aqui é a coroa de Maria, no brilho da disciplina e da polidez, num mito que traz a virgindade como um modo de compreendermos a Imaculada Conceição que gerou a todos nós, na impecabilidade do Plano Metafísico, no Útero Divino como vitrais mágicos e coloridos de ovos de Páscoa numa farta cesta num domingo tão especial. O homem aqui é extremamente sério e austero, digno de respeito, sabendo que ninguém, no fundo, respeita o “robert”, ou seja, a pessoa que quer pura e simplesmente aparecer, nem oferecer algo de interessante, como um certo senhor carioca, o qual, infelizmente, não tem o profundo e silencioso respeito alheio. Aqui é como uma bomba explodindo, no triste modo como uma experiência bélica pode sequelar psiquicamente o rapaz em serviço militar, num trauma grande o suficiente para fazer com que o rapaz, após tal serviço, não consiga se ressocializar completamente, como na provável sequela do detonador da bomba atômica de Hiroshima: “Meu Deus, o que fiz?”. Este boom de luz é como nas antigas embalagens do sabão Omo, no poder de limpeza, no humilde papel de dona de casa, numa pessoa que não tem exatamente algo que se orgulhar, pois ser apenas uma dona de casa não trará identidade a tal mulher, a qual vive a vida de outra pessoa, sempre centrada no marido: Seja você mesma, mulher! Siga o exemplo feminista da Mulher Maravilha, uma guerreira.

 


Acima, Souvenir II. Ao fundo vemos rostos de figuras políticas, nos mitos americanos, e, no centro, uma figura negra, na surpresa de um grande homem como Obama, um dos maiores líderes da História da Humanidade, no incrível avanço que foi a Casa Branca abrigar uma família negra, sepultando séculos de cruel escravidão, na vitória da razão sobre a ignorância. Populacionam este quadro outras figuras célebres dos EUA, nesta capacidade de certas pessoas em se destacar e tornar-se célebres, conquistando carismaticamente os corações das pessoas, com figuras nas quais as pessoas depositam esperanças, no mais alto papel de uma pessoa, que é ser uma representante da plenitude metafísica, como Jesus, o qual não resolveu os problemas do Mundo mas segue como tal figura da promessa do Reino dos Céus, trazendo o importante papel da religião, sem querer ofender os marxistas: As religiões não são bobagens! Respeite as religiões! Vemos aqui uma confortável sala de estar, com bons estofados, na capacidade de um anfitrião agradável em fazer com que nos sintamos tão à vontade, na sensação de prazer perante a liberdade, tendo dor e desconforto nos sistemas ditatoriais, que oprimem o seu próprio cidadão, como em nações como o Catar, na qual um homossexual é cruelmente executado – é um horror. As celebridades aqui são emolduradas por nuvens celestiais e asas de anjo, no papel de um bom astro hollywoodiano, que é imitar a impecabilidade moral dos espíritos evoluídos, em meio a tanto glamour, beleza e tesão de viver, pois como posso ser feliz de pau mole, com o perdão do termo chulo? Como posso viver sem a força e o sentido do Yang? Lá alguém pode ter só Yin? É a junção cosmogônica dos opostos, em Céu e Terra fazendo amor e gerando o Universo. Aqui vemos a anfitriã negra retinta, nesses sisudos negros de Marshall nos quais só vemos o branco nos olhos. A mulher está alada, na liberdade do Pensamento Racional, pairando sobre ilusões e tolos sinais auspiciosos, desprezando coisas monótonas como alas vip de boates, os inferninhos auspiciosos, como uma pessoa que conheci, a qual era admirava festas com celebridades, nesta pessoa dizendo: “Imagine estar numa festa dessas!”. As flores são a beleza da Vida, como flores de lantanas multicoloridas com avivadas borboletas ao redor, como numa rainha da Festa da Uva, cheia de beleza e paz, na beleza da harmonia e da concórdia entre os povos, em momentos de união como num mundial da FIFA, momento em que todos se unem em torno de um esporte, fazendo dos esportes tal prova da universalidade humana. A escada aqui é um acesso para um nível superior de limpeza e simplicidade, num da Vinci nos dizendo que a simplicidade é o mais alto grau de sofisticação, pois a simplicidade é limpa, longe das terras imundas e fedorentas do Umbral, a dimensão dos que não querem lutar pela Vida, numa vida vazia sem produtividade direcionada, centrada. A sala aqui é tal ambiente de lar, de invólucro, numa sensação de pertencimento, ao contrário caótico de um acumulador compulsivo, numa casa sem limpeza, sem acolhimento, numa pessoa que sofre em meio a tal insalubridade, com cheiro tóxico de chorume. Ao fundo vemos quadros com Céu de Brigadeiro, na capacidade de uma pessoa em fazer com que enxerguemos tal Mundo maravilhoso, num ato tão simples, tão grátis como olhar para tal céu, encher os pulmões de ar e agradecer a Tao por termos saúde, no jargão: “Saúde é que interessa! O resto não tem pressa!”. A mulher negra angelical é tal zelo, tal cuidado, no amor de mãe em deixar em ordem as roupas do filho, fazendo com que sintamos um “choque térmico” ao sair de casa e ir morar sozinhos, deixando para trás tal zelo, tal cuidado, num processo de “desmame”, por assim dizer. Aqui se celebram as pessoas importantes que já faleceram, no modo como só a Fé pode nos colocar em contato com tal Mundo pós Vida, na dimensão que só é um paraíso para os que gostam de se manter norteados, pois não é o Umbral o lugar dos que carecem de tal norte nobre? A moça negra é a cor de luto, de discrição, de pesar, na dignidade de um funeral de realeza.

 


Acima, sem título. Aqui é a dignidade de um negro, numa autoridade, representando a rígida disciplina militar, a qual é uma tosca cópia da hierarquia espiritual: os espíritos evoluídos são agradáveis e interessantes ao ponto de tecer ordens irresistíveis, numa hierarquia que gira em torno de apuro moral – os mais verdadeiros regem os menos. Aqui é um momento relaxante à paisana, com tudo em ordem, com tudo nos trilhos, na tensão que deve ser alguém que atende às ligações no fone 190 da Brigada Militar, nas vicissitudes de cidades maravilhosas como Nova York, com suas constantes sirenes perturbando a urbe vibrante, no modo como NY pode ser uma cidade bem dura, fria e cruel, numa cidade bem americana, ou seja, onde tudo é dinheiro, na inclinação econômica protestante, na qual Deus quer que sejamos ricos. Vemos aqui várias luminárias públicas, que são o esclarecimento de fatos, em elucidações de crimes e mistérios, como num romance policial sendo desvendado, numa Agatha nos desafiando divertidamente, sendo poucos os leitores desta que adivinham de antemão quem é o assassino. A sirene aqui descansa desligada, num breve momento de paz, com Neo de Matrix dizendo o que queria que houvesse: “Paz!”. É como no broche de uma enfermeira que vi certa vez, com a imagem do Espírito Santo escrito: “Paz!”. E não é um inferno a vida de quem não tem paz? Não é maravilhoso o Plano Metafísico porque lá estamos cercados de amigos e de paz? Não é a Terra um lugar complicado que acaba nos causando grandes crescimentos espirituais? Qual é o sentido de uma vida perfeita, sem vicissitudes? O policial retinto tem um broche, talvez uma honraria, uma distinção, como num lutador de Judô, indo da faixa branca para a faixa preta, nas palavras sábias de uma moça que conheci: “Não espere ir de zero a cem num piscar de olhos!”. É como um disco vinil girando numa grande espiral, cada vez mais perto do centro, no modo como uma pessoa tem que se centrar na Vida, como na menina no filme cult Labirinto, tendo que chegar ao centro do labirinto traiçoeiro e desvendar os mistérios deste, como numa pessoa em dúvida existencial, não sabendo se vai para este ou para aquele lado – como posso saber quem sou se não tenho um nobre e produtivo norte existencial? A figura aqui é um descanso e uma pausa, como num intervalo no meio da tarde numa firma, tomando um café, numa gloriosa pausa, como professores na sala dos professores: tocado o sinal do fim do recreio, hora de voltar para a sala e dar aula! O chapéu aqui é garboso, elegante, no modo como hoje em dia tal acessório esteja tão defasado, remetendo a uma certa elegante mulher caxiense, a qual é apaixonada por Moda, como Madonna, aqueles artistas para os quais é uma questão muito importante escolher o que vestir para pisar no palco ou para dar uma entrevista, numa pessoa que aprendeu que na Indústria Fonográfica Mundial o estilo e a atitude são muito importantes, como na deliciosa transgressão estilística de Lady Gaga, a artista que trouxe a jovialidade de volta ao tapete vermelho. A mão na cintura é uma pose de autoridade, numa pessoa que sabe ser dura quando precisa ser dura, numa imposição de respeito, no crime de desacato à autoridade, no infeliz e chulo termo “porco” para se referir aos profissionais que zelam por nossa segurança e nossa integridade – respeite o PM! A cena aqui traz um predomínio de azul, sem cores quentes de sirene, talvez numa cena noturna, com os postes de luz ligados, numa cidade vigiada, no suplício de bolsonaristas pedindo a volta do Governo Militar, algo um tanto inviável, pois a dura Ditadura Militar Brasileira surgiu em meio aos efeitos tensos globais da Guerra Fria, a qual acabou faz tempo – a fila anda, meu irmão! Aqui é a disciplina de um homem que se barbeia ao ir trabalhar, dando um exemplo de civilidade – uma coisa é ser macho; outra coisa é ser um animal, como um certo senhor vazio e obtuso cujo nome não mencionarei. O radinho do guarda é a comunicação, esta força que gerou o Telefone e, depois, a sofisticação da Internet, no modo como se sente “nua” uma pessoa desconectada.

 


Acima, Vinheta número 2,25. Aqui é algo inusitado na obra de Marshall, pois aqui não é um quadro colorido, mas um quadro em preto e branco, nos opostos que traduzem a complicada questão racial nos EUA, em épocas em que banheiros públicos americanos eram divididos entre banheiro de negros e banheiro de brancos, isso logo num país que se diz um baluarte democrático de igualdade, numa peculiaridade: enquanto no Brasil há um intensa miscigenação, nos EUA, em geral, negro casa com negra e branco casa com branca. Aqui traz a palavra “amor”, numa cena doce e romântica, numa brincadeira, com o homem aqui sustentando a mulher – no mundo patriarcal, um homem deve sustentar uma mulher, e nunca o contrário. É a misoginia do mito de Eva, aquela que tirou a Humanidade do doce Éden. Talvez aqui é um casal apaixonado e recém casado, com seu gostoso lar para iniciar a vida a dois, no modo como a doçura da Lua de Mel vai se esvaindo, e o dia a dia, o cotidiano, toma conta de um casamento, com um tendo a paciência para aguentar os defeitos do outro, como em bandas longevas como o U2, num casamento sem sexo, num casamento em que um tem que suportar o defeito alheio, pois já diz a sabedoria popular: “Ninguém é perfeito”. Aqui é como o bailarino respaldando a bailarina, num sustento, nas responsabilidades de um homem em prover um lar e alimentar suas crianças, naquele pai dedicado o qual nunca deixou algo faltar dentro de casa, como meu falecido avô Ibanez, o qual teve a pesada responsabilidade de prover um lar com esposa e seis filhos. Vemos doces coraçõezinhos, numa ternura e numa delicadeza, remetendo ao desenho animado das Meninas Superpoderosas, a quais juntam o agradável feminino com a agressividade masculina, num pequeno ícone feminista, como eu gostaria de dizer para várias pessoas: Ter só Yin ou só Yang não basta, e cada um tem que partir em busca, dentro de si, do que lhe falta, sem fazer projeções, no modo como é inevitável num casal heterossexual, publicamente, ele personificar o Yang dela a ela personificar o Yin dele. As flores aqui são este romantismo, como trazer flores para sua amada, no eterno flerte romântico entre Professor Girafalez e Dona Florinda, com ele apaixonado trazendo flores para a donzela, com os dois desabando após uma briga entre eles, no modo como uma pessoa apaixonada se ferra inevitavelmente. A cerquinha aqui é a delimitação, na delimitação de espaço entre propriedades, havendo numa certa doutrina o desrespeito para com o que é do outro, como uma certa pessoa a qual, ao ser recebida como uma rainha por uma pessoa na casa desta pessoa, “cuspiu no prato em que comeu”, não percebendo que o indivíduo tem que ser livre e pertencer a si mesmo, e que não devemos ser xiitas – posso ser simpatizante de uma doutrina, mas nunca um escravo cego. Não falo mal do Espiritismo, pois tenho “um pé” em tal doutrina, mas o Espiritismo é um dos “dedos” da “mão” que prega o Bem, ou seja, sou livre para fazer meu próprio amálgama de crença espiritual. Aqui é o termo popular: “Quem casa quer casa”. Vemos ao fundo uma bandeira tremulante, mas não necessariamente a bandeira americana, mas outra bandeira qualquer, na universalidade do patriotismo, em datas pátrias como em Londres, com multidões de cidadãos acompanhando as pompas de um casamento de realeza, esses rituais que nos dão a impressão de que o Tempo não passa, na eternidade irrefutável do Plano Metafísico, o lugar onde não há a passagem de Tempo nem o envelhecimento. O homem aqui é o forte baluarte, tratando uma mulher como uma rainha, nas divertidas palavras de um colega que tive na faculdade: “Quem gosta de homem é veado! Mulher gosta mesmo é de dinheiro!”. Aqui é um portarretrato, na tentativa de eternizar e cristalizar um momento doce, com uma mãe guardando fotos dos filhos nenês. Aqui, o que importa é a qualidade do tempo que se vive, e não a quantidade.

 

Referências bibliográficas:

 

Kerry James Marshall. Disponível em: <www.jackshainman.com/artists/kerry_james_marshall>. Acesso em: 02 nov. 2022.

Kerry James Marshall. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 02 nov. 2022.

MUNIZ, Leandro. Kerry James Marshall: uma escola de beleza. Disponível em <www.artequeacontece.com.br/kerry-james-marshal-uma-escola-de-beleza/ >.

domingo, 20 de novembro de 2022

Breve pausa

 Nesta quarta-feira, 23 de novembro de 2022, não haverá postagem.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Quero Kerry (Parte 2 de 3)

 

 

Volto a falar sobre o pintor americano Kerry James Marshall. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Nossa cidade. Aqui é uma doce lembrança de Verão, andando de bicicleta. Aqui é o modo tenaz de como Marshall se apega à questão racial, sempre retratando negros em suas obras. A bicicleta é a fluidez, num processo fluindo naturalmente. O hidrante é o alívio do calor, na brincadeira de acionar o hidrante e tomar um banho de água, em doces memórias que se esvaem, perdidas frente à dureza dos dias que não são de férias de Verão, em doces brincadeiras com amigos na beira da piscina, no clipe de Cherish, de Madonna, com sereios brincando no mar, na figura de uma Iemanjá, trazendo fartura às redes de pescadores, no milagre cristão da multiplicação de peixes, num reino próspero e abundante, em mesas fartas, dignas de reis, num reino tão farto, longe de miseráveis nações africanas paupérrimas, com altas taxas de mortalidade infantil. A rua é o rumo, o caminho tomando, como num jovem fazendo uma escolha de curso universitário, numa pessoa a qual, ainda jovem, é forçada a fazer escolhas para uma vida inteira, como um amigo meu, o qual, desde jovem forçado a prestar vestibular para Medicina, decidiu mandar o Mundo se foder, com o perdão do termo chulo, e decidiu entrar para o curso de Jornalismo, numa pessoa partindo em busca de sua própria felicidade, pois que vida é esta na qual somos reféns das insensíveis expectativas de outrem? Que Mundo é este no qual nossa felicidade é tão colocada de lado, numa cesta de lixo? O cachorro correndo é a fidelidade, num amigo que sempre nos acompanha, como velhas amizades, nas quais nos conhecem de fato, num alto grau de intimidade, pessoas que nos conhecem tão bem, tão profundamente. Aqui temos uma vizinhança, numa proximidade, em casas amigas, na harmonia diplomática de Tao, sempre primando pela paz e pelo diálogo, em esforços para evitar ao máximo os conflitos, numa vizinhança pacífica, na metáfora do U2: Onde as ruas não têm nome, num lugar em que temos a certeza de que estamos cercados de amigos, os quais são o ouro da Vida, pois que vida é esta na qual só temos inimizades? Não é um Umbral infernal porque lá não há concórdia? A menina acompanhando o menino é a esposa acompanhando o marido, numa mulher centrando sua vida num homem, na submissão patriarcal, num homem que, por sua vez, está centrado no trabalho, na firma, na frustração da mulher ao perceber que é a mera cadela de um homem, com o perdão do termo chulo, como num casal que conheci, no qual a mulher, centrada no casamento, deu-se conta de que era coadjuvante na vida do marido, o qual é centrado no labor, trazendo a questão do casamento: vale o cônjuge ou o labor? Vemos aqui traços de grafitismo, algo que pode ser Arte ou ser vandalismo, numa pessoa que quer se expressar, talvez emporcalhando os espaços urbanos, nas palavras sábias de Obama: “Você será lembrado pelo que construiu e não pelo que destruiu”. A rua aqui é o rumo existencial, numa escolha de vida, numa mulher que decidiu casar e centrar-se na vida do marido, levando as camisas deste, na mulher eternamente reduzida a tal papel coadjuvante, vivendo a vida de outra pessoa, na figura da mulher submissa, vivendo a vida de outra pessoa, criando os filhos de outra pessoa, num papel tão subalterno, tão anônimo, num funeral sem as grandes honras do funeral de seu marido, no preconceito patriarcal de colocar a mulher num eterno papel subalterno – é um horror. As casas aqui são as famílias, as casas reais, com cada casa tendo sua dignidade, sua história, como na casa dos Orleans e Bragança, num clã que representa toda uma história e toda uma proveniência – nós, os brasileiros, não fomos encontrado numa lata de lixo, pois nós,os brasileiros, temos uma história e uma proveniência. A grama verde é tal Verão fértil, generoso e doce, numa Escandinávia tão miserável nesse sentido, com invernos que duram meio ano, na sedução californiana, com seus invernos amenos, sem um só floco de neve. Aqui podemos ouvir o sininho do caminhão de sorvetes, chamando a criançada, no ambiente mágico de uma sorveteria, numa vida tão doce e refrescante, num lugar tão celestial e belo.

 


Acima, sem título (1). A paleta é a diversidade de opções, numa diversidade de cursos oferecidos por uma instituição de Ensino Superior – nenhuma dessas várias opções desperta teu interesse? É um rico degradê de cores de arcoíris, na magia de um cristal colorido, na bandeira que celebra tal diversidade, na questão da homossexualidade – a denotação mudou, pois é uma orientação da pessoa que deve se respeitada; a conotação continua péssima. Aqui é ironia de metalinguagem, pois é artista falando de artista, numa paleta de cores usada para pintar outra paleta. O decote aqui é provocante, num jogo sensual de esconder e revelar, na magia do seio feminino, como no formato de uma taça, com o formato do seio feminino, a fonte de vida lactante que nutre o bebê recém nascido, no modo mamífero de nutrir a cria, algo tão universal no Mundo dos Mamíferos. O cabelo aqui está arrumado e harmonizado, como se para um baile, como uma moça negra que vi numa boate em Nova York, num penteado sofisticado para o qual a moça teve que ficar horas sentada num salão de beleza, nas “loucuras” das quais uma mulher é capaz de fazer em nome da Beleza, como ficar horas numa cadeira para um processo de extensão capilar, fio por fio, como nos cabelos produzidos de uma Michelle Obama, inteligente ao ponto de ter seu discurso plagiado por uma primeira dama posterior, na prova de que beleza não põe à mesa. O retilíneo pincel é o pensamento racional, na abreviação em atalhos, como na resolução de mistérios de equação, solucionando um mistério até chegar a uma conclusão, como num mistério de Agatha Christie, testando a inteligência do leitor, trazendo este por pistas falsas e enganadoras, na fria beleza por trás da Matemática, uma ciência tão injustamente odiada pelos alunos, na prova da fria beleza de Tao, o lógico, na ironia de que, por toda a eternidade de números, sempre haverá números primos. No canto direito, vemos um colo com pincéis, que são tal diversidade de opções, no modo como, no Nível Metafísico, temos à nossa frente toda uma diversidade de trabalhos a serem feitos, sendo impossível querermos estar inativos, na ironia de que, antes ou depois do Desencarne, o Trabalho permanece capital e importantíssimo, indispensável, havendo no sumo exemplo de Tao a suprema inteligência que está sempre criando e deixando-nos perplexos em meio a tal perfeição e excelência, na incrível vastidão cósmica, na qual a rapidíssima velocidade da luz é tão, mas tão lenta. Neste quadro, estamos diante de um quadro em processo de composição, com várias lacunas a serem preenchidas, como num quebracabeça que ainda não foi solucionado, num mistério ainda longe de ser solucionado. A saia azul é tal majestade marinha, num planeta que é mais água do que terra, numa diversidade tão rica, ainda não igualada ou suplantada pelas observações astronômicas atuais, fazendo da Terra tal esfera rara, talvez atraindo a atenção de civilizações alienígenas, num Universo o qual, de tão vasto, fica difícil de crermos que só há Vida na Terra. O fundo negro do quadro se mescla com a pele negra da modelo, num futuro ainda imprevisível, no modo de que não haveria sentido em sabermos exatamente como as coisas aconteceriam em nossas vidas, pois, se soubéssemos, não aconteceriam! O cabelo negro e a pele negra formam tal continuum, numa identidade racial, na estupidez escravocrata, reduzindo seres humanos a burros de carga, tudo em nome da inclinação humana em relação ao Poder, esta força que tanto corrompe os corações dos homens, na metáfora do malévolo Anel do Poder de Tolkien, na figura do personagem Gollum, a prova de como o Poder pode corromper a alma do mais nobre homem, num caminho degradante de empobrecimento moral. A moça aqui é jovem e séria, como se soubesse que descende de escravos, num processo de identidade racial, como no filme Pantera Negra, na altivez de tribos africanas, com seus artefatos de magia e ritual, na maravilhosa diversidade racial do Homo sapiens. A blusa da moça se mistura com a pintura, numa relação de continuidade e harmonia.

 


Acima, sem título (2). O fundo rubro é esta identificação com o Comunismo, como no vestido vermelho da primeira dama Marisa Silva na primeira posse de Lula como presidente, mas tal cor tem muitas identificações, como no glamour do tapete vermelho das lindas celebridades, passando pela cor de carne de bordéis, no famoso cabaré parisiense Moulin Rouge, ou seja, Moinho Vermelho. É na cor de Chapeuzinho Vermelho, cheirando a Chanel número cinco, perseguida pelo lobo feio, o qual é puro Yang, no jogo de sedução entre opostos. Na mesa vemos uma caveira, que é a finitude do corpo físico, num corpo que tem prazo de validade, no fato de que ninguém está na Terra para sempre, nos versos melancólicos de um Freddy Mercury soropositivo: “Quem quer viver para sempre?”. Ou como nos versos dos Ramones: “Não quero viver minha vida de novo”. Ou como num Woody Allen, que disse que vai morrer deixando para trás tudo o que fez na Terra, num recomeço, no frescor de se partir do zero novamente, numa escala de desenvolvimento espiritual, até o espírito chegar ao ponto de perfeição moral, numa pessoa que está começando a odiar mentir, fazendo metáfora com os diamantes, os quase giram em torno do que importa, que é a imortalidade da alma, no modo como o Ser Humano não compreende que mesmo as pedras mais preciosas estão fadadas à danação – na verdade, não existe pedra. O cachorro amarelo embaixo da mesa é a tal fidelidade, em amizades que tanto duram, perdurando pela eternidade, no caminho natural do perdão, pois acumular ressentimentos é como acumular lixo – sua casa começará a feder a lixo tóxico, sendo muito mais simples perdoar, pois tentar mudar os outros é dar “murro em ponta de faca”, como diz a sabedoria popular. Aqui é um grande atelier, numa ironia de metalinguagem – atelier (de Marshall) falando de atelier fictício, num caos dentro do qual somente o próprio artista pode se organizar, com seus pincéis calejados e cores se misturando. O vaso de flores é tal beleza a ser contemplada, na beleza de um belo buquê de rosas ao som de Whitney da canção chefe de O Guardacostas, nesses casos raros de avassalador sucesso, no modo como o sucesso pode ser algo complicado, pois quando o sucesso vem, temos que saber virar a página e tocar a vida adiante, numa Whitney que passou o resto de seus dias TENTANDO sobreviver a tal áureo momento. Bem ao fundo no quadro vemos um vulto negro, obscuro, sem muita fama, num mistério policial, num romance que testa nossa inteligência, em formidáveis peças pregadas por Agatha, na prova de que inteligência não tem gênero, derrotando os preconceitos misóginos, nos quais Eva é eternamente um arremedo mero de Adão, sendo este a obraprima de Deus – é muito preconceito patriarcal! As tintas são a magia das cores, num belo lustre de cristal, num cristal dividindo a luz branca em um leque alegre de diversidade, numa alegria festiva, num momento social que busca se aproximar da alegria perene metafísica, o lugar onde não há dor, mas a necessidade de se manter produtivo, pois até Tao é um trabalhador, sempre criando e deixando-nos perplexos frente a tal perfeição, como num grande popstar. A janela ao fundo é a liberdade, no modo como deve haver liberdade de pensamento, ao contrário de ditaduras, as quais simplesmente castram a cabeça do cidadão, aterrorizando este: “Se você não quer se incomodar, fique calado”, na genial letra de Chico Buarque, em meio à estupidez ditatorial militar, combinando “cálice” com “cale-se”, numa voz de autoridade paterna, inflexível, cruel, duríssima, numa sutileza indetectada pela censura de então, ou como na sutileza do apelo político de Águas de Março, em exilados no início dos anos 1980 voltando de tal exílio, numa reabertura. O refletor aqui é tal iluminação, numa celebridade em evidência, em holofotes públicos que tanto podem invadir a vida de famosos, desrespeitando estes, como numa Patricia Pillar irritadíssima com pessoas tirando fotos desta, ou como uma Xuxa, que não pode sair sozinha na Rua no Rio.

 


Acima, sem título (3). Aqui é o momento de lazer do pacato cidadão, numa Gisele disfarçada passeando por um parque, sendo mesmo assim reconhecida e indevidamente fotografada, no sagrado momento de lazer do cidadão, para parar um pouco e contemplar a vida um pouco, como num imigrante italiano laborioso, o qual só não trabalhava no Domingo porque o padre e a religião não permitiam. O céu aqui está quase perfeito, talvez com uma nebulosidade suspeita, anunciando uma chuva em breve, no modo como um dia chuvoso pode nos deixar um pouco de baixo astral, mas só um pouco, nada equiparável a um quadro agudo de depressão, no qual a pessoa está triste e mal, num desconforto existencial de baixíssima autoestima, numa doença que nenhum divertido episódio de Friends é capaz de curar, nos versos de Frejat: “Se é para ficar triste, que seja só por um dia, e não um ano inteiro”. Vemos os pombos aglomerados, talvez comendo coisas jogadas propositalmente na calçada, como vi hoje pessoas alimentando tais animais, sendo as fezes destes cheias de bactérias e doenças, nos chamados “ratos do ar”, como na praça central de Caxias do Sul, transformada num verdadeiro tapete fecal. O balão ao fundo é o sonho, numa pessoa sonhadora, a qual talvez sonhou demais e esperou demais, nos versos da MPB: “Mas a ilusão, quando se desfaz, dói no coração de quem sonhou, sonhou demais”, numa pessoa que quer fugir de algum modo, querendo embarcar numa viagem perfeita e apolínea, a qual não existe, no modo da pessoa adquirir siso e juízo, entendendo que a Vida tem toda uma face séria, cheia de responsabilidade adulta. A ponte é a comunicação, no artista entrando na mente do espectador, no poder que a Arte tem em mexer conosco, comovendo, perturbando, instigando e excitando, como em popstars que lançam álbuns tão bem sucedidos, em fenômenos de popularidade e vendas, na capacidade de certas pessoas em adquirir tal carisma fenomenal, em explosões como uma Lady Gaga, a qual tem que ser respeitada em seu talento e sua deliciosa transgressão estilística. No asfalto, vemos uma tampa forte, sólida, numa cidade planejada para se parecer ao máximo com uma gloriosa cidade metafísica perfeita, com seus sistemas de esgoto, água, eletricidade e gás, na responsabilidade de um prefeito em manter tudo em ordem, nunca desejando causar insatisfação no cidadão, como um certo senhor prefeito, o qual foi impeachado, pois foi uma pessoa que se mostrou arrogante e insensível – a arrogância precede a queda. O cachorro aqui é tal companheiro, excitado com os cheiros da Rua, principalmente da urina de outros cães, em demarcações de território. Aqui é um doce dia de Verão, como na linda orla do Lago Guaíba, em Porto Alegre, num poente sedutor, ardente, refletido pelas águas, em cidades planejadas sempre pensando na comodidade do cidadão, num prefeito atencioso, fazendo valer sua vitória no pleito eleitoral. O skate é a diversão, num esporte tão urbano, em skatistas seguidamente com ossos quebrados por causa da prática arriscada, num esporte que ganhou o respeito do Mundo. Vemos de costas um soldado da Guarda Imperial Britânica, na altivez inglesa como um país tão rico e poderoso, num agente agindo pela segurança do cidadão, como policiais à paisana em dias movimentados na cidade de Gramado, numa garantia de segurança, como controlar a entrada e saída de drogas ilícitas do Brasil. O rio aqui é a Vida fluindo, numa avenida ampla e elegante, num lugar cheio de vida e significado, num rio cortando e nutrindo terras, na importância do Nilo no Egito, com pontes sendo construídas, em esforços diplomáticos para manter a Paz entre vizinhos, no poder do diálogo e da cordura, fazendo contraponto à brutalidade animalesca. As correntes no cordão da calçada são a encarnação, exigindo que a pessoa faça algo de nobre em sua vida na Terra, sempre primando pela Paz e pelo crescimento moral. Vemos bandeiras dos EUA, num país verdadeiramente democrático, no qual votar democraticamente e servir militarmente não são obrigações.

 


Acima, Um retrato do artista enquanto uma sombra de seu antigo eu. A abertura nos dentes é uma possibilidade, uma saída, uma opção, uma oportunidade. É a saída para algum problema, alguma questão espinhosa. O sorriso é honesto, amigável, e não um sorriso “amarelo”, no qual apenas se mostram os dentes. É a universalidade do sorriso, uma emoção tão humana, numa sinalização de felicidade, de piada, de ironia, no infalível senso de humor de Tao, como já disse uma gestante publicamente: “A gravidez e o parto são grandes piadas de Deus!”. Aqui são esses negros retintos de Kerry, negros como o chapéu e o casaco, num continuum, numa harmonia cromática, numa pessoa de bom gosto, de estilo, de critérios; numa pessoa que tem bom gosto e que sabe que coisas boas vêm da cabeça, no modo de que uma pessoa que tem estilo não é uma pessoa que precisa ser uma “escrava” de grifes caras – se tenho estilo, posso me vestir com roupas baratas, tipo em feiras beneficentes, e, mesmo assim, posso estar muito bem, muito bonito, na revolução de Chanel, a mulher que foi mais corajosa do que MUITOS homens. Aqui é a figura folclórica brasileira do Preto Velho, um senhor anônimo, quietinho em seu canto, só observando as fogueiras de vaidades do Mundo, no modo como os bastidores do Showbusiness podem ser tão nojentos, com a bajulação e a massagem de ego rolando soltas, na corrupção ativa – quem oferece a bajulação – e na passiva – quem a aceita. É a eterna capacidade humana egoísta em deixar o Ego no centro de tudo, como num artista deselegante, que pisa deliberadamente atrasado no palco, crendo que, assim, será ainda mais valorizado, o que acaba se revelando uma simples falta de respeito para com o seu próprio espectador. Os olhos aqui sorriem juntos, num sorriso sincero, espontâneo. Aqui, há várias portas e opções, mas apenas uma porta aberta, com portas que podem ser falsas, traiçoeiras, no modo como o coração pode ser traiçoeiro, levando-nos a crer que nossa vida mudará radicalmente se nos mudarmos para outra cidade – está na merda aqui, está na merda acolá, com o perdão do termo chulo, na questão da pessoa olhar para dentro de si, pouco importando se estou em Caxias do Sul ou São Paulo. Aqui remete divertidamente à personagem banguela Chiquinha do seriado Chaves, uma menina sapeca e esperta, travessa, pequenina e baixinha, mas um monstrinho, por assim dizer, na prova de que qualidade e quantidade não podem ser sinônimos, como um homem corpulento, colossal fisicamente, um homem que parece ser o homem mais corajoso da Terra, mas um homem que, no frigir dos ovos, não é tão valente assim, pois não canso de dizer que o metido a valentão é, no fundo, um medrosão. O chapéu aqui é o garbo, num acessório que, hoje em dia, em princípios do Século XXI, tornou-se tão obsoleto e ultrapassado, sendo raros vermos na Rua um homem com um chapéu, remetendo à cena de uma multidão de cavalheiros com chapéus coco no impecável filme A Época da Inocência, no divertido modo como as modas acabam por dar toda uma matiz a determinadas épocas, num corpo tão dinâmico, como na moda contemporânea dos jeans rasgados, algo absolutamente impensável em outras épocas; algo que, em tais épocas anteriores, seria tido como roupa de mendigo. O quadro aqui é praticamente bicromático, como em código binário entre sim e não; entre preto e branco, no charme de fotografias em preto e branco de grandes artistas de Hollywood, na brincadeira do Ser Humano em tentar se assemelhar aos espíritos evoluídos, nossos “irmãos mais velhos”, por assim dizer, os espíritos de impecabilidade de beleza, inteligência, bondade e moralidade Os olhos são como peixes soltos, na liberdade de pensamento, uma dádiva inexistente em tantas nações do Mundo, em estados opressores nos quais ao cidadão não é permitido ter uma opinião – é um horror. O dente faltando é um respiro, como num tecido que permite a passagem de ar e suor, como numa combinação cromáticas para a concepção de um look, sempre primando pela harmonia diplomática entre as cores das roupas, num Joe Biden dizendo a Mundo: “Unidade!”.

 


Acima, Vinheta (o beijo). A flor é tal perfeição natural, na explosão de vida de flores silvestres na Primavera, em flores naturais, que não tiveram que ser cultivadas pela mão humana. É como uma mandala, num calendário maia em ciclos, assinalando um apocalipse que de fato nunca chegou. Os enamorados se beijando são tal vida, nos galanteios de um buquê de flores para a mulher amada, em regalos como bombons, na sincronia entre prazer sexual e prazer gastronômico, na magia sedutora do chocolate, o vegetal que ganhou o Mundo ao ser misturado com leite e açúcar, na universalidade gastronômica, como na pizza, que ganhou o Mundo. A escada é o acesso a tal elevação romântica, na gloriosa sensação de paixão, dando-nos a impressão de que estamos ascendendo a um plano superior e maravilhoso, na sensação de um trem perfeitamente nos trilhos, num pertencimento. O brinco de argola da moça é tal elo, tal aliança, simbolizando o enlace no púlpito, num compromisso sendo assumido perante toda a sociedade, num comprometimento moral traído por uma pessoa que tem um amante, ou seja, levando vida dupla, numa vida sem lá muito apuro moral, pois a vida tem que ser uma só, íntegra, digna de respeito. As flores aqui são o símbolo dos enamorados, sendo os órgãos sexuais das plantas, numa explosão de libido, como adolescentes embebidos em hormônios, loucos por obter três coisas: sexo, sexo e sexo, nas palavras de uma Marta Suplicy: “A adolescência é uma fase em que se masturbar dez vezes por dia é perfeitamente normal!”. Os tijolos à vista são a construção de um relacionamento, numa casa sendo feita passo a passo, na construção de uma relação de confiança. O céu azul ao fundo é tal plenitude, num dia glorioso ensolarado, em um ato tão simples como olhar para tal céu azul, encher os pulmões de ar e agradecer a Deus por se ter saúde, no modo como o melhor da Vida é grátis, e Saúde é tudo, pois como podemos ser felizes sem saúde mental? Os corrimões são a segurança, numa pessoa que nos dá tal sensação de segurança, de lar e de invólucro, num lar sólido, cheio de dignidade e virtude, nos versos de uma canção de Jennifer Lopez a um rapaz que magoou uma moça, a qual disse a ele: “Aqui, comigo, você tinha um lar”. E a vida não é deliciosa quando temos uma sensação de lar? A luminária é tal esclarecimento, em fatos se revelando ao passar do tempo, na máxima latina: “A verdade é filha do tempo”, ou seja, na sabedoria popular: “A verdade vem à tona”. A porta de entrada traz tal lar, tal envolvimento, numa casa limpa e organizada, numa mulher devota, mantendo tudo em ordem dentro de casa, num trabalho que é fácil somente aparentemente, no modo como é dura a vida de dona de casa, sempre mantendo tudo em ordem, precisando do apoio de uma empregada doméstica. A árvore frondosa é tal construção de uma vida, nas árvores genealógicas, em ramos de famílias se entrelaçando, remetendo ao incestuoso Antigo Egito, no qual eram comuns os casamentos dentro da família real, num Egito que não tinha a noção científica de que os casamentos cosanguíneos potencializam as doenças congênitas. Este abraço é uma demonstração de saudades, talvez no retorno de uma longa viagem, num tórrido reencontro. A vegetação aqui brota com a força de hera, lenta, gradual, apoderando-se lentamente, num trabalho paciente e persistente, como em hera avançando, tomando conta de forma tão discreta, na força dos ramos de vegetação, em vínculos sendo formados. O miolo da flor é tal sol, tal estrela, alimentando todo um sistema solar, num talento de patriarca, mantendo uma família unida, como meu falecido avô Ibanez, o qual tinha tal talento agregador, reunindo todos em torno de uma mesa de Natal. As flores aqui são tal feminilidade, tal delicadeza, tal beleza, tal força natural. A flor é a esperança da Vida que sempre renasce, lutando para viver e perseverar. A flor é tal fartura, numa perfeição geométrica, como numa roseta da rainha Elizabeth, girando nos ciclos naturais, trazendo fartura e riqueza a um reino, num inegável talento de estadista.

 

Referências bibliográficas:

 

Kerry James Marshall. Disponível em: <www.jackshainman.com/artists/kerry_james_marshall>. Acesso em: 02 nov. 2022.

Kerry James Marshall. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 02 nov. 2022.

MUNIZ, Leandro. Kerry James Marshall: uma escola de beleza. Disponível em <www.artequeacontece.com.br/kerry-james-marshal-uma-escola-de-beleza/ >.