quarta-feira, 31 de maio de 2023

Lúdico Ludwig (Parte 4 de 6)

 

 

Falo pela quarta vez sobre o artista alemão expressionista Ernst Ludwig Kirchner. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Garota sentada. Aqui é uma languidez, numa passividade, no gostoso pecadinho da preguiça, este pecado valioso que tantas invenções felizes provocou, como o telefone e, depois, em sofisticação, a Internet, num galgar “louco” de tecnologias, numa era em que os dispositivos móveis estão acessíveis para todos, diferente dos anos 1990, quando era tão chic caminhar na Rua falando no telefone, como no advento das TV a cabo na mesma época, algo que quebrou a hegemonia da TV aberta e algo que, hoje, é banal, não tão chic quanto há décadas. Aqui é um desejo de se horizontalizar, na canção de Bruno Mars: “Hoje nada farei; apenas deitarei em minha cama!”. É o anti herói Radicci, o personagem grossão do genial cartunista Carlos Iotti, com Radicci chamando de “morfético” o filho Guilhermino atirado numa cama, na ironia de que o momento mais gostoso do sono é no momento em que o impiedoso despertador toca, acordando-nos para a vida, como minha mãe acordando minha irmã e eu, dizendo: “Vamos encarar a Vida!”, numa dona de casa abraçando a rotina do lar, fazendo camas, limpando banheiros e cozinhando, comentando com uma comadre, também do lar: “Nossos filhos agem como se nós, as mães, nada fizéssemos além de nossa obrigação”, na sabedoria de que ser mãe é padecer no paraíso, numa mãe que dá ordens cheias de amor e boas intenções, numa pessoa que conheci, a qual dizia para a própria mãe ao telefone: “Eu ainda não te mandei tu te foderes hoje? Não? Então de fode!”, desligando o telefone na cara da mãe, com o perdão dos termos chulos aqui proferido. Aqui temos esta liberdade cromática de Kirchner, livre para pintar de amarelo a cara da modelo, na magia de um prisma desmanchando a luz branca, em lustres luxuosos deslumbrantes, objeto que buscam nos dar uma ideia da beleza fria metafísica matemática, em toda a sofisticação matemática que partiu da mais pura lógica: Depois, de um, vem dois, etc., no modo como a Matemática é tão detestada pelos alunos, uma ciência que é a prova da beleza de Tao, a única explicação lógica para o fato da Vida Eterna, este presente inestimável que nos foi dado, no poder imensurável: Você já se deu conta de que a Vida jamais findará? A Eternidade é a única explicação lógica, junto à imortalidade da mente, evocando Santo Agostinho: A carne perece e a mente sobrevive, numa simples mudança de endereço, num lugar em que a seriedade da Vida se desdobra de forma lógica: Encarnado ou desencarnado, arrume algo de bom, virtuoso e produtivo para fazer, pois a Vida continua em toda a sua seriedade, até chegar ao ponto de arcanjo, os espíritos perfeitos que gozam da suprema felicidade, no prazer que é trabalhar em prol da Paz, esta força tão combalida nas vaidades ditatoriais humanas, num Putin tirano e insano, num rei infeliz que quer sempre anexar mais e mais territórios, em tal sede napoleônica por poder, sempre poder, no Oráculo em Matrix dizendo: “O que um homem poderoso quer? Mais poder!”, quando que a delícia na Vida reside no contentamento, como as inocentes crianças, as quais se contentam com pouco, na sua simplicidade que tanto tem a ensinar aos adultos, nas palavras de Jesus: “Vinde a mim as criancinhas, pois delas é o Reino dos Céus!”, na promessa espírita de uma dimensão melhor para se viver, num lugar de paz inabalável, em cidades limpas, com prédios de extrema sofisticação arquitetônica – é a glória! O vestido vermelho da moça é tal lascividade provocante, como numa feiticeira que vi certa vez, uma mulher de vestido vermelho, provocante, vibrante, na magia dos brujos, as pessoas cuja inteligência emocional nos deixam perplexos. O cabelo é jovem, negro, sem um só fio branco, numa modelo tão jovem, podendo haver um certo preconceito em relação a Kirchner por este usar modelos tão jovens, num pai desconfortável em ver a própria filha com uma saia muito justa. A cama é o merecido repouso, e estar desencarnado é ter todo o tempo do Mundo para descansar e encarar a vida metafísica, um lugar que faz metáfora com a beleza das regiões serranas elevadas, frescas, como na sedução de cidades como Gramado. A menina é a seriedade, a mortificação, a qual traz Paz.

 


Acima, Interior com duas garotas. Aqui temos um convívio, como no famosíssimo seriado Chaves, no qual, dentro de uma vila, os personagens têm que aprender o convívio, o qual pode ser um tanto complicado, como num casamento, no qual, para durar para sempre, um tem que ter paciência para aguentar os defeitos do outro, no desafio que é manter coesa uma banda por décadas de carreira, como no U2, no modo como uma banda é um casamento sem sexo, como vi certa vez uma reunião da boyband Backstreet Boys, com os integrantes berrando entre si, como numa clássica briga de marido e mulher, como eu podia ouvir a briga de um casal vizinho meu, com a esposa dizendo a um marido calado: “Eu não aguento mais!”. Nas duas moças aqui uma deita e a outra está de pé, talvez numa dondoca rica improdutiva contratando os árduos serviços de uma dama de companhia, numa perua desinteressante, como numa socialite, a qual, no fundo, não é lá muito respeitada pelas pessoas, pois festas não marcam época – trabalhos marcam época, e ser um “robert”, que apenas quer aparecer midiaticamente, nunca é ser muito respeitado. O interior é muito aconchegante, confortável, numa pessoa que volta gloriosamente para casa depois de um dia inteiro de labor no escritório, chegando em casa, colocando chinelos e tomando um merecido drinque de happy hour, numa pessoa que sabe que muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão, parafraseando aqui O Iluminado. Aqui temos relaxamento e tensão, no modo como a pessoa nunca pode baixar completamente “a guarda”, pois somos surpreendidos exatamente no momento em que achamos que está tudo perfeito. A mulher deitada é o Yin lânguido, numa sensual Cleópatra em seu divã, vivida por Liz Taylor, num filme fracassado, que quase quebrou o estúdio na época, no preconceito patriarcal, no qual o macho alfa tem que ter o papel principal, como em O Gladiador, sendo tão malvista a mulher forte, como Thatcher enfrentou tal misoginia patriarcal no início da carreira política, com as pessoas perguntando a Margareth: “Quem vai cuidar de seus filhos e de sua casa?”. É muito machismo, enfurecendo a inteligência das feministas, a elite intelectual que nos acorda para a realidade, fazendo com que pensemos contra o vento, fora de mediocridades. A mulher em pé está atenta, tensa, nos cuidados de uma mãe, como vi certa vez num shopping uma mar desesperada, que se perdeu do filho pequeno, reencontrando este depois de minutos de pura angústia e desespero – que stress! Este quadro traz um pouco da explosão de cores vibrantes nos anos 1960 e 1970, como numa cinzenta Londres sendo “quebrada” pelo vermelho vibrante das cabines telefônicas, utensílios que hoje estão tão obsoletos, fósseis de uma era que definitivamente passou, virando peça de museu, como para geração de meu sobrinho, a qual não faz ideia do que foi a Era Analógica, como o telefone de disco, o televisor de tubo e as cartas pelo correio. Aqui é como no Vênus e Marte de Botticelli, com ela atenta e ele entorpecido, dormindo muito profundamente, num aspecto quase cadavérico, no feto relaxado no ventre, numa mãe desperta, cuidando-se desde a gestação, impedida de ingerir álcool, em sacrifícios de mãe, as quais querem que os filhos sejam felizes, no modo como dói para uma mãe um filho que resolver quebrar relações com ela, numa avó impedida de ver o próprio neto – é um horror. Aqui temos algo confortável e luxuoso, num ambiente acarpetado, bonito de se ver mas difícil de se manter limpo, como uma certa senhora, a qual arrancou os carpetes de sua própria casa para substituí-los por piso laminado, muito mais simples de se limpar, na praticidade falando mais alto. Os quadros ao fundo são as memórias, na ironia de metalinguagem, em quadro sendo pintado em quadro maior. O jogo de chá é o calor, no prazer de uma bebida quente num dia úmido e frio, num consolo de calor goela abaixo. O relógio é a passagem do tempo, no prazo de validade de nossos corpos carnais, os quais perecem frente à morte, na promessa de libertação do Espírito Santo.

 


Acima, Marcella. A moça está entediada e arredia, como se não estivesse confortável para posar, remetendo a uma divertida imagem de um parque da Disney na Flórida, com uma Monalisa absolutamente impaciente ao posar para Leo. O gato é a sofisticação, numa combinação curiosa de unhas afiadas agressivas com maciez felina, na deusa Michelle Pfeiffer interpretando sua icônica Mulhergato, a única coisa realmente boa no fracassado Batman – o Retorno, na prova de que ninguém está por cima o tempo todo, num Burton que, ao obter tanto sucesso em Batman, de 1989, acabou pisando na jaca em 1992 na sequência aqui já citada, fazendo de Hollywood duas terras: a do sucesso e a do fracasso, com tantos e tantos sonhos sendo frustrados todos os dias, na dureza de uma indústria indecifrável, pois o que é necessário para se vencer lá? O gato encolhido é um soninho gostoso, num momento de descanso, no termo catwalk, ou seja, passeio de gato, para se referir à passarela de desfile de Moda, no felino passando com seus pés aveludados, na beleza felina tão apreciada no Antigo Egito, com bichanos sendo mumificados como se fossem seres humanos, nos modos humanos de “driblar” a Morte e encontrar um plano alternativo, como nos túmulos de faraós, túmulos abarrotados de riquezas mundanas tão saqueadas posteriormente, em descobertas raras como a tumba do rei Tut, intacta, protegida de ladrões saqueadores. As garrafas ao fundo são o vício, na sedução etílica, num fato curioso o qual conheço, com três irmãos que nasceram da mesma barriga e foram criados debaixo do mesmo teto, sob os mesmos valores: um saiu alcoólatra e os dois restantes não, numa pessoa “premiada” por uma herança genética, assim como homossexualidade é genética, pois um casal perfeitamente heterossexual, ao produzir prole, pode ter alguns filhos gays, outros filhos não gays, ou seja, nos versos da megadiva Gaga: “Você nasceu assim, bebê!”. Kirchner parece aqui invadir o dia da moça, numa curiosidade, como enviar sondas para o espaço, em desesperada busca por Vida fora da rica esfera terrestre, num Ser Humano que se sente tão solitário no Cosmos, num espaço tão abarrotado de intermináveis galáxias – seria assustador demais pensar em que, no Universo inteiro, só existe Vida em nosso planetinha azul. O piso verde é como um bosque, na cor da Vida vegetal, remetendo aos desmatamentos amazônicos, devorando matas virgens em garimpo ilegal, intoxicando indígenas, tudo em nome da ambição humana por metais preciosos mundanos, os quais giram em torno do que vale, que é a Eternidade, sendo esta, sim, a verdadeira joia, pois tudo de material está fadado à ruína – no início, antes de tudo, era Tao, o qual sempre existiu e sempre existirá, além sempre da compreensão humana. A menina está tediosa, sentindo falta de um amigo para brincar, como uma menina feminina que brinca de Barbie, achando tão feio e tedioso um álbum de figurinhas de jogadores de Futebol, havendo a ruptura na adolescência, onde a menina começa a achar interessante o jeito de ser dos meninos, havendo, depois de tal fase, toda uma pós adolescência para, depois, finalmente, a pessoa abraçar a maturidade, na idade de Cristo quando morreu. Ao fundo, de forma discreta, vemos uma saída, uma porta, talvez na resolução de um impasse, como na resolução de um romance policial, numa genial Agatha Christie, a mulher que fez mais sucesso do que muitos, muitos homens escritores, na prova de que inteligência não tem gênero, derrubando a misoginia patriarcal, na qual só os homens são sábios de fato – é um horror. A menina é listrada como uma zebra, nas pelagens animais que servem como disfarce para escapar de predadores, nas leis selvagens de alimentação carnívora, dando-nos pena de uma empala abocanhada por ferozes predadores, nas leis da Dimensão Material, na função mais básica que existe, que é a alimentação. A menina adolescente está imersa em seu próprio mundo, com seus amigos, seus filmes, suas músicas e seus ídolos, numa fase da vida em que tanto o mundo infantil quanto o mundo adulto são desinteressantes, num “galeto” – nem pinto, nem frango adulto.

 


Acima, Menina sob um guardachuva japonês. O guardachuva é a proteção, o resguardo, como na logomarca de uma certa seguradora – uma pessoa sob um guardachuva. Aqui é a sedução que o Oriente exerce sobre o Ocidente, do mesmo modo como a Oriente ama o Ocidente, como num local da cidade de Tóquio, imitando a Times Square novaiorquina, na universalidade do Ser Humano, fazendo das religiões caminhos diferentes que levam ao mesmo destino, que é Tao, o presente da Vida Eterna. Aqui é a beleza do corpo feminino, pois como Deus pode ter vergonha de algo que Ele mesmo inventou? É como na violação puritana da obra de Michelangelo no Vaticano, com os inocentes sexos sendo tapados, desrespeitando a obra original do artista, na malícia da maçã, trazendo vergonha a algo natural, que é a nudez. Aqui é esta tradicional explosão de cores de Kirchner, como nas cores vibrantes de Andy Warhol, o artista que estabeleceu uma identidade e estilo inconfundíveis, sendo glorificado ainda em vida, pop o suficiente para aparecer no filme hilário A morte lhe cai bem, a lado de outras celebridades como Monroe e Presley no filme. Aqui é no bom gosto da revista Playboy brasileira, num nu sofisticado, que respeita a mulher, a artista, em edições tão maravilhosas como a de Marisa Orth, na icônica foto de Marisa nua com uma serpente, um animal o qual, na tradição católica, é sinônimo de malícia e pecado mas, em civilizações como a Grécia Antiga, era símbolo de fertilidade e sensualidade, numa fluidez como um córrego, sempre fluindo, no rio encontrando o mar, no mistério da Vida na Terra: o que acontece quando a água do mar penetra fundo e resulta em nascentes de água doce? Não é a Terra um mistério? Aqui, há um continuum entre o corpo da moça e as formas da Natureza, como montanhas e terras devolutas, em galáxias espalhadas pelo Cosmos tais quais conchinhas à beiramar, em revoluções como a do supertelescópio Hubble, desnudando confins do Universo, num Ser Humano ainda tão aquém de desvendar tais segredos, no desafio da onda frente ao surfista. Os seios são belos, naturais, muito longe de seios siliconados, os quais não têm naturalidade, remetendo a uma pessoa que conheço, a qual teve que passar por uma mastectomia, perdendo a constituição natural dos próprios seios, no modo como a vicissitude faz com que superemos tais dificuldades, renascendo nós mais fortes, pois não há sentido algum em uma vida sem dificuldades, algo que eu gostaria de falar a uma certa pessoa prostrada e deprimida – existe vitória sem luta? O acessório aqui traz ainda mais sensualidade, pois é o jogo entre mostrar e ocultar, numa stripper talentosa, remetendo a uma menina que conheci, a qual levava vida dupla: de dia, era uma pacata estudante universitária; de noite, uma stripper em uma casa de shows noturna – acho engraçado, no modo como é complicado uma pessoa que leva vida dupla, uma pessoa que não está nem aqui, nem acolá, ficando “em cima de um muro”, como um certo senhor, o qual tem uma amante, sendo esta uma mulher que não se dá ao respeito: Se é para você ser uma mera fulaninha putinha, com o perdão do termo chulo, então é melhor você ficar sozinha e procurar um homem que lhe respeite, ou seja, ouça a cabeça antes de ouvir o coração. A moça é linda, maquiada, arrumada, como na bela Rose de Titanic, posando nua perante o impetuoso e sensível Jack, numa história de amor que tanta comoção internacional causou, ao ponto de grupos de meninas japonesas se reunirem e, ao som da música tema do filme, chorarem pelo Jack afundando ao mar. O guardachuva aqui é como uma mandala ou um relógio, na passagem do tempo, nos ciclos indo e vindo, numa pessoa que está aprendendo a ver o Mundo de forma atemporal, entrando em contato com o Metafísico, que é atemporal, numa dimensão tão onírica, na qual a paz vem da mortificação psíquica, na função das famílias de realeza em representar tal plano nobre, inspirando-nos.

 


Acima, Nu azul deitado com um chapéu de palha. Aqui remete a um clipe de Michael Jackson, no astro deitado numa cama de barriga para baixo, numa canção que fala sobre como o Mundo pode pressionar o homem a ser o mais durão e frio possível, nos versos de uma certa canção: “Os homens ficam frios e as mulheres ficam velhas, e, no final, todos perdemos nosso respectivo charme”. Aqui é tal transgressão cromática, numa pele azulada, como nos personagens Smurfs ou no filme Avatar, nos esforços de um diretor James Cameron em fazer grandes blockbusters, filmes que exigem um ENORME trabalho e um DESCOMUNAL esforço, numa pessoa que definitivamente se joga no labor, ocupando-se ao máximo. Aqui é a delícia de se estar nu ao ar livre, numa sensação de tanta liberdade, como numa praia de nudismo, onde o nu não é malicioso, mas natural, no momento em que a nudez faz com que nos sintamos conectados à Natureza, na inocência do indígena, sem o peso do pecado europeu. Aqui é como no prazer de ir a um parque, estender uma toalha sobre o gramado e reunir-se com amigos e beber algo, como vinho, chimarrão, café etc., numa cidade como Porto Alegre, com seus parques, uma cidade que é minha “filha adotiva”, uma urbe que tanto amo e na qual fiz tantos amigões, mas uma cidade a qual, como qualquer outra, está em constante processo de transformação, fazendo com que eu mal reconheça a cidade que conheci nos anos 1990 – tudo é processo. O chapéu é um charme, um estilo, remetendo a épocas em que os cavalheiros usavam muito chapéu, algo meio fora de moda no início do século XXI, no galgar incessante das modas, das tendências, como nos jeans rasgados, num aspecto “sobrevivente de hecatombe nuclear”, conquistando os jovens e horrorizando os velhos, no modo como uma pessoa tem que se manter sempre jovial, moderna, como num Leonardo da Vinci, o qual, apesar de ter sido tão longevo, manteve-se sempre jovial e brincalhão – não envelheça demais! Aqui é um prazeroso banho de Sol, remetendo a um lagarto que uma época apareceu no jardim da casa onde morei com minha família, no réptil que erguia cabeça e tomava banho de Sol, dando origem ao termo “lagartear no Sol”, num bicho arisco, o qual se escondia rapidamente em sua toca ao notar algum movimento ao seu redor, no instinto de preservação, passando para as próximas gerações seu gene de esperteza e cuidado, na inevitável seleção natural. O capim aqui parece farfalhar sedosamente ao vento, farfalhando com seu som aveludado, acolhedor, gostoso, numa brisa constante, em constante processo de transformação, num Deus o qual está sempre criando, fazendo da Eternidade o tempo para QUALQUER reencontro, em amizades leves, desapegadas, fresquinhas, por assim dizer, indo contra o amor possessivo, ficado e obsessivo, como uma pessoa que conheci, a qual tinha um amor absolutamente fixado, insano, doente, num amor que tem que passar por um processo de desapego urgente, pois o amor possessivo faz com que a pessoa sofra com tal fixação. O chapéu aqui ressalta ainda mais a nudez, como no jogo do cancã, com as saias arregaçadas e mostrando as partes íntimas da mulher, no modo como os cabarés eram grandes centros de produção artística, numa Dercy Gonçalves contanto que, na juventude desta, ser atriz era a mesma coisa do que ser prostituta, num preconceito quebrado por grandes damas como Fernanda Montenegro, Marília Pêra e Meryl Streep, mulheres de alta classe e dignidade, remetendo à crítica que Woody Allen faz no filmão Celebridades: A salvo exceções, a mulher celebridade é uma mulher vulgar, num Allen que despreza a massagem de ego em celebridades mimadas pois, de perto, o mundo das celebridades é desinteressante. A toalha sobre o capim é o respaldo, o acolhimento, como num indigente sendo acolhido numa fundação de assistência social, com assistentes “colocando na tomada elétrica o dedo” do indigente: Você tem que se reerguer, pois não pode ficar para sempre aqui nesta fundação, ou seja, a Vida cobra sério e realmente não dá para fugir.

 


Acima, Mulher na frente do espelho. Aqui é a vaidade e a autoestima, como numa Evita Perón, a qual, ao acordar, levava quarenta minutos de aprumação frente a um espelho, numa pessoa que não quer sair na Rua de qualquer modo, usando qualquer roupa, como uma senhora que, há décadas, foi minha professora, uma pessoa a qual, há décadas, era uma pessoa com autoestima, arrumando-se: maquiagem, cabelo, unhas, roupa, sapatos, joias e perfume, uma pessoa a qual, hoje em dia, perdeu tal autoestima, parando de se arrumar – é uma lástima, nos versos de uma certa canção pop: “Aprenda a amar a si mesmo – é uma grande, grande sensação”. O espelho é tal símbolo de feminilidade, numa mulher que vê grande prazer em se maquiar, ao contrário da mulher masculina, a qual não vê maquiagem como um prazer, mas como uma obrigação e uma inclemente e inflexível imposição social, no modo como pode ser complicada a infância de uma mulher masculina, desde cedo tolhida ao querer brincar de carrinho, numa pessoa que, de certo modo, não teve infância – é complicado. A moça está sozinha, reservada, vestindo só lingerie, na transgressão de uma Madonna no ano de 1984, usando roupas íntimas em público, numa mulher tão, tão charmosa e transgressora, uma pessoa que, no fundo, é careta, no modo como tudo traz em si sua própria contradição, no jogo de sedução entre seriedade masculina e loucura feminina. Aqui é o momento de diversão de uma mulher feminina, no “ritual” de arrumação, pois, para a mulher, a festa já começa a partir do momento em que se entra num banho para iniciar os trabalhos de arrumação social, como um rapaz e sua namorada: Antes de casar, ele ia buscá-la em casa com a moça já arrumada; depois de casar, o homem se dá conta de todo o longo ritual de arrumação, pois agora mora com tal mulher. Podemos sentir aqui o olor, o perfume doce da moça, na sedução das fragrâncias, objetos caros, valorizados, finos, numa revolucionária Coco Chanel: “Estar perfumado é um luxo”, dizia Coco, ou seja, ninguém vai morrer por não estar perfumado. É como um rapaz que conheci, que Deus o tenha, um homem que amava se perfumar, perfumando-se até demais, remetendo a um rapaz afeminado que conheci, o qual usava perfume de senhoras. Aqui remete à capa do álbum fracassadíssimo de Naomi Campbell, uma cantora ruim, sinto em dizer, com a modelo raspando as pernas com gilete e espuma de barbear, no modo como deve ser tão duro ser mulher, tendo que passar pelas dores da depilação, tendo que fazer as unhas, tendo que menstruar – que dureza! O espelho é o narcisismo, num sociopata que se acha perfeito, o centro do Universo, no filme O psicopata americano, com Christian Bale, num sociopata em pleno narcisismo, abrindo mão de todo e qualquer apuro moral, na loucura da pessoa achar que é Deus – é um horror. A mulher aqui conversa consigo mesma, numa pessoa solitária, conversando consigo mesma, com a mente dando-lhe alguém para conversar, em pessoas que chegam a um estilo de vida tão solitário e afetivamente carente, vagando por ruas de estranhos, sem norte, sem rumo, sem uma nobre canalização de energia criativa, no modo da pessoa encontrar um norte nobre para sua vida – como posso estar bem se estou dentro de um labirinto traiçoeiro? Aqui são os acessórios femininos que seduzem os homens que querem ser mulheres, como no filmão (pesadíssimo) O silêncio dos inocentes, com o sociopata querendo vestir a pele de mulheres, naquele tipo de filme sem catarse ao final, fazendo com que saiamos da sala de projeção com o coração pesado, como no filme de terror Seven – os sete pecados capitais, ou como ao final da peça Masterclass com Marília Pêra interpretando Maria Callas, fazendo com que saiamos do teatro com a sensação de termos levado um soco na boca do estômago. Aqui é uma mulher que se cuida, como numa mulher tendo a paciência para pintar as raízes brancas de cabelo, como uma certa dama caxiense, sempre arrumada e bonita, naquela mulher elegantes que nos dá gosto de ver, no modo como a aparência é tão capital numa carreira pública, como na Política.

 

Referências bibliográficas:

 

Ernst Ludwig Kirchner. Disponível em: <www.meisterdrucke.pt>. Acesso em: 3 mai. 2023.

Ernst Ludwig Kirchner. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 3 mai. 2023.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Lúdico Ludwig (Parte 3 de 6)

 

 

Falo pela terceira vez sobre o artista alemão expressionista Ernst Ludwig Kirchner. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Cena de rua em Berlim. As cidades agitadas são excitantes, no título de Nova York: “A cidade que nunca dorme”. Em urbes grandiosas, convivemos com estranhos o tempo todo, e cada um vive sua vida, sem muito se importar com os estranhos ao meu redor no metrô, por exemplo, numa libertação, podendo eu sair na Rua do modo como eu bem quiser me vestir, fazendo da moda e do estilo um excelente meio de autoexpressão, pois como me visto é como quero ser visto. Aqui temos glamour e garbo, com pessoas que não saem na Rua se não estiverem aprumadas o suficiente, remetendo à Era de Ouro de Hollywood, com as atrizes tão elegantes, portando suntuosamente seus vestidos, numa geração tão incomum de atores, nos versos da canção Vogue, de Madonna, uma grande estilista por si só, diga-se de passagem: “Damas com atitude! Cavalheiros animados!”. Aqui é uma pompa de coroação britânica, com tanto glamour que chega a nos dar rechaço, tal a pompa, no modo como as tradições britânicas tanto seduzem Hollywood, numa Academia que curte muito filmes sobre monarcas ingleses, na “arrogância” britânica, na frase emblemática: “O Sol nunca se põe nas terras de Sua Real Majestade”, no desafio de se assumir tal poderoso trono, ou seja, vamos dar uma chance a Charles III para ver como este se sai. Aqui remete a tempos em que o tabagismo era via de regra, sendo raros os não fumantes, ao contrário dos dias de hoje nos EUA, com crescentes restrições aos fumantes, no absurdo modo como um dia era permitido fumar dentro de aeronaves, numa situação que chegará ao ponto em que o cidadão americano só poderá fumar dentro de sua própria casa! É na época de Hollywood em que fumar era tido como glamoroso, ao contrário dos dias de hoje, início de século XXI. Vemos aqui uma predominância de azul marinho, um tom tão discreto e majestoso, amplamente usado por discretos cavalheiros no Congresso em Brasília, nos dias de transgressão de Clodovil em Brasília, indo ao trabalho vestido de forma a destoar amplamente dos outros cavalheiros, evocando novamente aqui o modo como o estilo pode falar muito sobre uma pessoa, em looks ousados, transgressores, nas ondas de moda, as vogues, na onda decisiva que transformou o Cinema numa arte contestadora e crítica, em películas chocantes como o oscarizado Crash, falando de urbes como Los Angeles, em um país como os EUA, no qual as questão raciais podem ser tensas, inclusive em relação a hispanodescendentes, num país que, ao contrário do Brasil, é pouco miscigenado, pois nos EUA branco tem filho com branca e negro tem filho com negra, geralmente, uma bobagem, pois a miscigenação é algo bonito, misturando índio com negro, com branco, com japonês etc. Os elegantes passantes aqui circulam como peixes coloridos num aquário, num show de cores, pois as cores são importantes para expressar o sentimento de Ernst, na magia de cristais que dividem a luz e geram o arco-íris, gerando a bandeira da causa LGBT, no absurdo de países como o Catar, no qual homossexualidade é impensável, numa repressão estatal sistêmica, sendo reprimida neste país, durante a Copa do Mundo, até uma inocente bandeira do estado brasileiro do Espírito Santo, tudo por causa do arcoíris em tal bandeira, num Ser Humano que trata de ser o mais cruel possível para com seus irmãos, seus iguais, com Caim matando Abel. As plumas das mulheres aqui são exóticas e provocantes, como bichos exuberantes em matas tropicais, na exuberância de natureza dos trópicos, seduzindo os países de clima mais frio, nevado e depressivo, em cidades convidativas como Salvador, com o ano inteiro num calorzinho gostoso de Verão. Aqui é um momento de interação social, como num templo num domingo, num momento em que moços e moças se olham, como certa vez em dois tradicionais colégios caxienses, um para meninos e outro para meninas, havendo, na hora da saída, o momento em que o meninos iam ao colégio das meninas exatamente para o flerte. Aqui temos uma cena chic, garbosa, e finas fragrâncias pairam pelo ar, na lembrança de infância que tenho ao ver meus pais saindo para algum vento social, com o casal devidamente aprumado e perfumado.

 


Acima, Cinco mulheres na rua. Aqui é uma certa competitividade, pois já ouvi dizer: As mulheres se arrumam umas para as outras, e não para os homens. Aqui, uma quer ser mais linda do que a outra, como em eventos como o baile da revista Vogue brasileira, com plumas e lantejoulas no ar, tudo para ver quem é a perua mais bela, como no red carpet do evento novaiorquino do Met Gala, com roupas suntuosas, dignas de rainha, em presenças cativas como a de Gisele, a qual tem o poder aquisitivo para comprar o carésimo ingresso no baile, pois é um evento beneficente, remetendo a uma fábula que ouvi em uma aula de Ensino Religioso, no Ensino Fundamental, com duas pessoas fazendo doações – o rico e a pobre. O rico ostentava muito ouro e riquezas, e exibia as riquezas doadas, só que estas riquezas eram restos, sobras no cofre de tal ricaço. Já, a senhora pobre doava poucas moedas, mas aquele pouco pesava no bolso de tal senhora. Ou seja, é uma fábula que compara qualidade com quantidade. Aqui é como num glamoroso desfile de Moda, com trajes que tanto seduzem as mulheres, em mulheres como a imortal Evita, a qual mandava vir de Paris um vestido em um manequim dentro do avião, visando não amarrotar o traje, numa Eva que entendia perfeitamente que, na vida pública, a aparência é fundamental, como num certo senhor que se elegeu presidente, sendo uma pessoa que sequer tinha um fiozinho de cabelo fora do lugar, em célebres estadistas como Elizabeth I, levando muito a sério a aparência na hora de vir a público, num glamour que lhe rendeu o título “A rainha virgem”, conquistando a fé do súdito cidadão, num ícone feminista digno da faraó mulher Hatshepsut, com mulheres se impondo em um mundo de homens, na coragem feminista de se ir contra o vento do patriarcado, num Egito em que o máximo que uma mulher podia ser era a Grande Esposa Real, subalterna ao faraó. Este quadro remete a conjuntos como The Supremes, em artistas que sabem a importância do estilo na hora de vir a público, numa banda altamente atendida por estilistas, em granadas pop poderosas como os Backstreet Boys, sabendo que, na Indústria Fonográfica, a aparência em videoclipes e performances ao vivo é importante, na capacidade de poucos em ditar regras estilísticas que se tornam símbolos de uma determinada época ou década, como no inoxidável padrão capilar de Gisele, com mulheres ao redor do Mundo imitando fervorosamente os cabelos ondulados da top, numa mulher que conquistou o Mundo inteirinho, mas ninguém se dá conta, tal o poder de Gisele, sempre subestimada, sempre reinando, na humildade de uma pessoa que sabe que não pode parar de trabalhar pois, do contrário, virará “peça de museu”. Podemos ouvir aqui o toctoc dos sapatos das glamorosas mulheres, no modo como os sapatos tanto seduzem as mulheres, em seriados como Sex and the City, com mulheres absolutamente apaixonadas por Estilo, por sapatos, fazendo dos sapatos tais “pilares” que erguem uma mulher, num homem forte e firme, que dê à mulher a sensação de segurança, firmeza e estabilidade, no jogo de sedução entre rico e chic, que não são exatamente a mesma coisa. Aqui são todas magras e elegantes, no impiedoso mercado de modelos, no qual só é considerada sexy uma menina que esteja na antessala da Anorexia, atingindo em cheio a autoestima feminina, em padrões de beleza um tanto misóginos, reprimindo e escravizando a mulher – é um horror. Podemos aqui sentir o floral e doce perfume exalado pelas garbosas moças, em esmagadores ícones de feminilidade como Monroe, fazendo marketing da fragrância Chanel número 5, numa Marylin que buscava nos homens a figura patriarcal de um papai forte, no modo como a fama pode ter uma face tão cruel, numa MM que sofria de certo modo. Aqui é o poder das modas, das ondas de renovação, como em Paris, de certa forma o centro estilístico do Mundo, numa Paris que, já ouvi dizer, é provinciana, mas digo mais: O Ser Humano é provinciano. Simples assim. Bjo!

 


Acima, Cozinha alpina. A famosa cozinheira inglesa Nigella Lawson já disse: A cozinha é o coração da casa. Antes de tudo, numa casa tem que haver comida, remetendo aos pobres coitados sofredores bulímicos e anoréxicos, pessoas que têm dificuldade em se alimentar. Aqui temos um grande jogo de perspectiva, nos conceitos renovadores renascentistas da perspectiva, abrindo os olhos da Europa para tal nova onda, fazendo da Itália tal berço renascentista, com artistas em acirrada competição em Florença, a cidade dos pintores, seduzindo outras culturas, fazendo Shakespeare buscar inspiração italiana em Romeu e Julieta. A janela ao fundo é uma saída, uma resolução, como no glorioso momento do desencarne, como no recente falecimento de uma querida tia minha, uma pessoa boa a qual, assim sendo, foi direto para o Céu, na ironia de que os vínculos de família não se desfazem com o desencarne, e nela sempre terei a carinhosa tia que ela sempre foi – não é glorioso? Aqui temos esta bomba de cores de Ernst, como numa cartela de cores, numa explosão de arcoíris, num arco fascinando culturas, na crença espírita de que uma das colônias espirituais que pairam sobre o Brasil se chama Colônia do Arcoíris, evocando algo belo e inspirador, num símbolo de alegria e diversidade, no sonho de uma Humanidade unida em torno do que importa, que é o Amor fraternal, o qual é imprescindível e gratuito, sem custar um só centavo. Talvez aqui seja a casa do próprio Ernest, num lugar aconchegante, acolhedor, porque, por mais modesta que seja, é nossa casa, e devemos amar esta, como num casamento, tendo que haver no casal a paciência para suportar os defeitos um do outro. Aqui temos esses traços “furiosos” de Kirchner, como no traço “cru” de uma Frida Kahlo, a qual soube muito bem se expressar, mesmo não tendo o toque de pincel de um Botticelli, com cada pessoa buscando sua identidade, na construção de uma galeria de artistas, na genialidade de um Chico Anysio, o qual construiu um verdadeiro panteão rico de personagens, numa genialidade que fez com que fossem personagens absolutamente distintos, sem haver um copiando o outro, no privilégio que o Brasil teve em ter aqui tal gênio, num espírito que teve a missão de construir aqui, no Brasil, tal carreira, como na lendária Elis Regina, a cantora cuja vida foi ceifada precocemente, tirando-lhe a oportunidade de fazer carreira internacional – malditas sejam as drogas! Vemos uma figura humana debruçada, que é a dedicação, o empenho e o esforço, no discernimento de que liso e áspero são faces do mesmo trabalho. Então, a libertadora janela se torna uma saída de esperança, e ao fundo vemos belas paisagens nórdicas, num Ernst que tanto amou a Alemanha, como Tarsila amou o Brasil, fazendo do Amor tal combustível, algo que nenhum dinheiro pode comprar, pois não sei quem é mais cínico – se é quem acha que pode comprar Amor ou quem acha que pode vendê-lo, na ironia de que dinheiro compra tudo, menos o que mais importa. O fogão aqui é como um coração quente bombeando sangue, nos mistérios científicos: Afinal, o que faz o coração bater? Como surgiu a Vida em nosso humilde planetinha? A porta aberta é a abertura de possibilidades, num Mundo farto e grande, cheio de irmãos que se amam, fazendo do Plano Material tal “prisão” que faz de nós pessoas melhores e mais nobres, verdadeiras, cientes dos flagelos do Mundo, como num playboyzinho fútil que acaba se compadecendo com os problemas do Mundo, em vicissitudes amargas que fazem com que morramos sendo melhores do que quando nascemos, fazendo do crescimento moral o sentido da Vida, até chegar a um ponto da pessoa odiar mentir, fazendo com que diamantes sejam cópias toscas do espírito verdadeiro, autêntico, nobre, carinhoso, racional, pois a Eternidade sobre a qual podemos falar não é a verdadeira Eternidade. Vá em paz, tia! Descanse, reencontre-se com entes queridos e, finalmente, arranje algum trabalho, pois o Plano Metafísico é maravilhoso por não sofrer de desemprego, no título do filme espírita E a vida continua.

 


Acima, Dança colorida. Aqui é a magia das Artes, como nos primórdios do Homo sapiens, quando a Arte era tida como uma forma de magia, fazendo o Homem se linkar com o sobrenatural, em rituais de magia como em tribos amazônicas, fazendo do Ser Humano tal ser ritualístico, pois a Vida em Sociedade está repleta de rituais, como tomar banho, por exemplo, aproximando-nos da plenitude limpíssima dos espíritos felizes desencarnados, num prefeito se esforçando para manter a cidade limpa e bem administrada, num trabalho sério. O Sol aqui é a luz da ribalta, no momento mágico em que as cortinas se abrem e a cenário é revelado, fazendo com que, de certa forma, entremos na cabeça do diretor, ou ele entre na nossa! É um beijo, um diálogo, com mentes trocando ideias, fazendo da Arte tal linha que une pessoas, unificando o Mundo em filmes de comoção mundial, unindo mentes e criando uma unidade psíquica, como nas ondas que varrem o Mundo, como o Impressionismo, impressionando no modo de transgredir o tradicional, apesar de respeitar este, pois já disse Osho: O rebelde, antes de tudo, tem que respeitar a tradição, no modo como eu respeito profundamente a Festa Nacional da Uva de Caxias do Sul, uma tradição quase secular, no poder da tradição em nos dar a impressão de que o tempo não passa, remetendo-nos ao Plano Superior onírico e eterno, no qual Einstein tinha razão: o tempo não existe. É como uma rainha que nunca envelhece, sempre regendo, no termo “veneranda”, com rosas desprovidas de espinhos, no lugar onde caem as máscaras da mentira, num lugar bloqueado aos de má fé, que querem o tempo todo enganar, como nos infelizes que tentam aplicar golpes por meio de telefone ou internet, prejudicando pessoas que caem em tais armadilhas, num espírito imoral infeliz o qual, ao desencarnar, vai se dar conta de como se equivocou em vida na Terra, como uma certa senhora rica que conheço, uma improdutiva maliciosa que fala da vida dos outros; uma senhora que não tem vida simplesmente – é bem triste. Aqui temos uma alegria de carnaval, num alto momento de interação social, na lascividade de pessoas se beijando esfuziantemente, talvez sob influência de álcool. A luz propagada aqui é como Áton, o deus do disco solar, na revolução herege promovida pelo faraó Aquenáton, o homem “insano” com a coragem de impactar toda a imortal tradição egípcia politeísta, num homem que é tido como o primeiro indivíduo da História. A cena de dança remete-me a uma enérgica professora de Dança, uma pessoa ciente da necessidade de disciplina e trabalho, dedicação, uma professora da qual debochei mas, hoje, respeito – desculpe aí, profe! Fique em paz, minha amiga! A nudez aqui é sem malícia, pura, na pureza da Arte, num artista o qual, de certa forma, despe-se perante o Mundo, literalmente como numa revista Playboy, em edições tão marcantes quanto à de Maria Orth, pois temos que respeitar o corajoso artista que está “colocando a tapa sua própria cara”. Aqui são árduos ensaios, como em astros pop em turnês mundiais grandiosas, num espírito de mambembe, como num circo indo de cidade em cidade, na magia bela a qual, depois do espetáculo, retira-se, no belo circo levantando a lona e indo embora, fazendo com que retornemos à sisuda Quarta-Feira de Cinzas. Ouvimos aqui o esfuziante aplauso da plateia, como espectadores enlouquecidos, excitados, implorando por um bis, como em presenças de palco de uma Barbra Streisand, a mulher cuja voz equivale a uma orquestra inteira, em talentos raros, como num insubstituível David Bowie, em filmes tão sui generis como Labirinto, para o qual fica impossível de se imaginar um remake, num filme que, de início, decepcionou em bilheteria mas, com o passar das décadas, foi adquirindo verniz cult, numa “vingança” do tempo, em verdades que vêm à tona. Aqui são finos pés de bailarinas, numa dançarina que parece leve como uma pluma e que brilha como finíssimo cristal, seduzindo entusiastas como Paulo Francis, o ferino inteligentíssimo. Aqui é um momento de união, unidade, na capacidade de um bom anfitrião em unir os convidados, tornando-se essencial em socializações, com amigos sendo feitos.

 


Acima, Dança da máscara. Aqui temos uma pitada de Surrealismo, com criaturas estranhas, de um olho só, algo bizarro, no poder de uma mente criativa, fazendo da criatividade artística algo tão humano, tão próprio do Homo sapiens, o único primata que faz Arte, fazendo desta tal poder civilizatório, em rituais de magia. Aqui temos um abraço, uma união, um continuum, como no momento da comunhão na missa, onde todos temos a mesma coisa no estômago, num compartilhamento, como no processo de comunicação, quando são tornadas comuns informações e noções, como comunicar num jornal, deixando tais informações à mercê do corpo social, na capacidade de liderança rara, numa pessoa com talento de estadista, nas sábias palavras de Obama cutucando o obtuso Trump: “Um presidente tem que governar para todos”, ao contrário de uma controversa Evita, evitada pela classe média e pela aristocracia rural mas amada pelo proletariado, numa mulher que passou longe de ser uma figura conciliatória, que unificou a Argentina. Aqui são como gêmeos siameses, numa incrível vicissitude encarnatória, talvez em espíritos os quais eram grandes inimigos um do outro em outra vida, topando reencarnar em tal situação para sanar de vez tal inimizade. Aqui, cada pessoa forma um dos olhos deste rosto, numa comunidade, numa cooperativa, num engajamento comunitário, como cuidar de um templo, na sabedoria de Tao para os governantes: Nunca interfira no dia a dia pacato do cidadão comum, neste grande desafio à frente de Charles III, ocupando o trono mais poderoso da Europa e um trono de tradição milenar, no peso enorme de tal responsabilidade, no desafio de merecer o respeito da Inglaterra, do Império Britânico e do Mundo, num homem que, definitivamente, não tem todo o carisma de Diana, a mulher a qual, oficialmente, perdeu o título de princesa mas, na prática, foi sepultada como princesa, desafiando sua sogra, a rainha, numa história tão bem contada no filmão A Rainha, numa rainha que teve que voltar atrás e abraçar um processo de humildade, curvando-se perante uma das maiores estrelas de toda a História Inglesa, numa mulher a qual, ao se divorciar de um príncipe, tinha tudo para cair no esquecimento do povo. Neste quadro tão curioso e sui generis, temos um movimento, uma dança, na união das artes, no modo como a Música é tão essencial à Dança, e ao Cinema também, neste grande passo da Humanidade em criar a arte do Cinema, algo que foi tão característico do século XX, fazendo da Internet algo tão característico do século XXI, no modo como já existiu uma era em que não se imaginava uma mídia mais moderna e inultrapassável do que o CD, neste galgar “louco” das tecnologias, no modo como nunca se imaginou que findaria a mídia DVD, fazendo fechar todas as locadoras de DVD do Mundo. Os braços aqui têm um movimento cíclico, como na roda das estações climáticas, passando pelo frio e retornando ao calor, como ondas respirando, indo e vindo, numa pessoa que aprendeu a ver o Mundo de forma atemporal, sabendo que o Tempo não passa no glorioso Plano Metafísico, a dimensão onírica em que temos a certeza que somos príncipes, filhos do Grande Rei Absoluto – não é maravilhoso? Os monoolhos aqui remetem à figura mística do Ciclope, como no filme X-Men, um filme que, além de ser um blockbuster de super-heróis, é um filme que fala sobre preconceito e intolerância, no modo como no filme os mutantes eram malvistos, como na comunidade cigana, a qual sofre um baita preconceito e discriminação, no modo como os ciganos foram perseguidos na Alemanha nazista, o que equivale a dizer que rusky siberiano não é cachorro – é cachorro sim! Aqui temos algo estranho e formidável, diferente, nas palavras de Tao: “Sou estranho; sou diferente; e vivo para a Mãe”, na figura de consolo da Virgem Maria, o mito que busca nos dizer a Imaculada Conceição que a todos nós gerou, no grande presente da Eternidade, a qual é uma explicação lógica, pois, sem Eternidade, não há sentido.

 


Acima, Franzi na frente de uma cadeira esculpida. Aqui temos um respaldo, numa pessoa sendo amparada por outra, como numa aliança, com alguém tendo um aliado poderoso, que vai me ajudar a obter respeito das pessoas, remetendo a uma passagem que tive no Ensino Médio, quando a professora perguntou uma coisa, e eu respondi, e meus colegas riram da minha cara, crendo que tinha falado alguma bobagem, e a professora, após as gargalhadas de meus colegas, disse que eu estava certo, e, naquele momento, a sala de aula ficou mergulhada num silêncio absoluto, mortal, de respeito – obrigado, professora! Mais uma vez aqui temos a paixão de Kirchner pelas cores, pelo registro cromático, buscando expressar emoções e sentimentos, numa certa alegria carnavalesca, com confetes coloridos caindo no salão de baile, nos lindos bailes metafísicos, cheios de beleza e nobreza, em festas mais lindas do que qualquer festa de um roteiro social na Terra. Aqui é no ditado: “Por trás de um grande homem há uma grande mulher”, e temos aqui um apoio, como num ator coadjuvante, o qual, na sua pequenez de papel secundário, é fundamental para fazer aparecer o protagonista, pois se digo que algo é alto é porque conheço o oposto, que é baixo, ou seja, se no casal o homem se sobressai em altura, é tudo por causa da mulher mais baixa, a qual é essencial em seu sutil papel coadjuvante, no discernimento de relatividade, como no nosso gigantesco Sol, o qual é uma titica de nada perto de estrelas muito, muito maiores, nas vastidões do Universo, a prova da grandiosidade de Tao, o eterno, num poder inconcebível para o Ser Humano em sua humilde encarnação na Terra. A moça aqui tem um semblante plácido, e sua boca é vistosa e receptiva, como no talento de um bom anfitrião, na alegria de receber as pessoas, numa pessoa adorada pela comunidade, recebendo pessoas em sua casa, numa generosidade, como uma queridíssima senhora que foi minha vizinha, uma mulher de grande generosidade, afável, a qual sempre presenteava os vizinhos com coisas do pomar, como figos, caquis e chuchus, na sabedoria de uma pessoa que sabe que tem que dar sem necessariamente receber algo em troca, ao contrário da relação de cobrança numa loja, da qual só posso sair com o produto se eu pagar, nas sábias palavras de Hebe Camargo: “Eu acho que em amizade não pode haver cobrança”. A moça aqui tem toda uma carta de referência, uma indicação, uma proveniência, no fato de que nós, os brasileiros, não fomos encontrados numa “lata de lixo”, pois o Brasil tem toda uma história e uma proveniência, como em denominações de origem de vinho, por exemplo metafórico. É como nas famílias de realeza, as quase acumulam tal papel representativo, no modo como o Brasil pouco conhece sua própria família imperial, infelizmente. Na figura ao fundo, anônima, vemos uma densa cabeleira negra, talvez uma serviçal, cuidando dos afazeres domésticos, numa cena que testemunhei certa vez num shopping, na dondoca fazendo suas compras em lojas finas e, logo atrás, a empregada carregando as sacolas, numa dondoca que se acha sexy demais para carregar suas próprias sacolas de compras – eu, hein. A moça em primeiro plano é pudica, e está vestida até o pescoço, como numa amiga que tenho, a qual, no colégio, era a queridinha CDF dos professores, mas uma menina a qual, no fundo, nunca se identificou com isso, querendo desbravar sua própria sexualidade, em figuras desbravadoras como Madonna, uma das maiores feministas da História, mostrando que não existe esta história de santinha comportada, e que a mulher tem que ser livre para viver sua própria sexualidade. Aqui é como um empresário por trás de um artista, num papel discreto, no modo como há mulheres que buscam por uma figura paterna, como Marilyn Monroe, buscando tais figuras de paizão, algo que causa ojeriza nas feministas, as quais têm a força e a coragem para pensar contra o poderoso vento patriarcal, no desenvolvimento de senso crítico, de inteligência. Aqui é como a mãe de Britney Spears, a qual sempre apoiou incondicionalmente a carreira da filha.

 

Referências bibliográficas:

 

Ernst Ludwig Kirchner. Disponível em: <www.meisterdrucke.pt>. Acesso em: 3 mai. 2023.

Ernst Ludwig Kirchner. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 3 mai. 2023.