O paulistano Luiz Paulo
Baravelli, nascido em 1942, chegou a estudar Arquitetura e foi cronista do
jornal Folha de São Luiz Paulo, digo, de São Paulo. Apreciador da Pop Art, LPB
foi premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte, tendo exposto na
Bienal de Veneza e até em
Tóquio. Os textos e análises semióticas a seguir são
inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Banhista. A sensação libertadora de se estar na beiramar. Aqui,
temos um enfoque de perspectiva, pois o artista vê de baixo a figura humana. É
uma figura bela e atlética, no masculino da Garota de Ipanema, uma menina que
conquistou o poeta por ser uma menina fina e discreta. No Céu aqui, tudo limpo,
com algumas inofensivas nuvens, no modo como, encarnados, jamais podemos “baixar
a guarda” completamente, como, por exemplo, andar na rua nunca achando que
absolutamente nada acontecerá, como ouvi recentemente: “Como é que se chama
quando tudo está perfeito? Ilusão”. O quadro me remete a um episódio da
animação A Pantera Cor de Rosa,
quando a pantera está na beira da praia, e no desenho há um homem extremamente
atlético, no termo “Tarzan de praia”, numa pessoa para a qual o excelente
condicionamento físico é absolutamente capital, numa personalidade atlética.
Aqui, a cabeça do homem está diminuída, ínfima, talvez numa castração
intelectual, talvez com algo vazio e obtuso. É como numa certa tribo primitiva,
que decepada vítimas e fazia com que a cabeça fosse diminuída por alguma técnica.
Aqui, o homem parece não saber exatamente o que fazer, talvez numa pessoa
perdida e deprimida, sem Norte, inerte em sua dificuldade de agir, de fazer
algo da Vida. É como um certo ator, cujo nome não mencionarei, num homem que é
um Apolo de atlético, mas uma pessoa medíocre, sem talento ou inteligência –
por fora um deus; por dentro uma nulidade. Aqui, é a vida de uma pessoa girando
em torno de uma academia, como nos infelizes rapazes cujas vidas é malhar
durante a semana e puxar briga em estádios no fim de semana. A Mente tem que
estar acima do Corpo. Este homem de Baravelli está cabisbaixo e deprimido,
contrastando com a alegria de um dia de praia glorioso, com Sol e um delicioso
Mar. O homem está absolutamente pálido, sem tomar uma gota de Sol, como se
fosse um pálido londrino, num país em que dias de Sol são raros e concorridos,
fazendo com que tais povos, em regiões de pouco calor, tenham a vontade de
visitar lugares quentes como o Rio, e, na contramão, cariocas vão a Gramado
exatamente para passar frio! É a questão da eterna insatisfação humana: se está
liso, quer encrespar; se está crespo, quer alisar. E, como diz Tao, se não
estou o tempo todo querendo coisas, posso ter Paz. Aqui, a areia está parte
imaculada, parte maculada, como nos sentimentos de uma pessoa, sofrendo por
brigar com um ente querido, mas, mesmo assim, preservando uma parte intocada,
numa reserva, num retiro, na importância da pessoa ter momentos de solidão, ao
contrário de um casal estressado, que convive tanto no Lar quanto no ambiente
de Trabalho. Vemos ao fundo dois guardassóis solitários, desocupados. É a
reserva, numa pessoa se protegendo dos impiedosos raios de um Sol de verão, no
modo como é uma virtude a pessoa desenvolver tal resguardo, protegendo-se,
mortificando-se emocionalmente para, assim, ver o Mundo sem ter expectativas,
pois quanto mais espero tolamente, mais me frustro. Podemos ouvir aqui o doce
som da orla, como adormecer na praia ao som do Mar, com os sonhos embalados
pelos doces braços de Iemanjá, a Rainha para a qual todos voltaremos um dia, um
belo dia, pois se, quando nasço, eles riem e eu choro, quando parto, eu rio e
eles choram! A sedução da orla está neste vazio, pois Tao é isso, é o vazio, é
a página branca na qual desenhamos. É a dignidade do espaço vazio, servindo ao
Mundo, como num calçadão em um balneário, abrigando crianças com suas bicicletinhas
e pessoas saudáveis caminhando e correndo. É como num centro de mesa, o qual
tem que estar vazio, para abrigar comida, vida, alegria, como Tao, o provedor,
o tal vazio que é circundado por tudo e todos.
Acima, Dentro. A mulher nua repousa tranquilamente, de costas para
Baravelli e para o espectador. Ela parece ser uma escultura, como na escultura
em frente ao STF em Brasília, numa Justiça a qual, cega, julga a todos igualmente.
Esta musa de LPB é cinzenta, como num dia encoberto, cheio de incertezas
encarnatórias, num mundo em que, apesar de termos Fé, nunca temos a absoluta
certeza de que somos especiais, uma incerteza que se dissolve na Dimensão
Metafísica, onde o cinzento dá lugar a iluminados dias de Sol, com raios que,
apesar de poderosos, não ofuscam nossas vistas, pois, em tal nível, não estamos
mais conectados a nossos respectivos corpos carnais, os quais são sensíveis ao
Calor, ao Frio, ao Sol, à Dor etc. A mulher aqui está com um elegante e
disciplinado coque, como Evita, com os cabelos contidos, domesticados, como num
cachorro treinado, no modo como é capital o desenvolvimento de Disciplina, em contramão
a uma vida desregrada; uma vida sem rumo, Norte ou sentido. Ao lado da mulher
vemos uma convidativa piscina azul, num dia de diversões na água. Mas a mulher
parece não se importar com a piscina, algo que me remete a uma coleguinha que
tive no Ensino Fundamental, uma colega que, em minha festinha de aniversário,
caiu propositadamente na minha piscina, ou seja, foi uma loucura de festa para ela,
como numa pessoa que sabe aproveitar o dia, aproveitar a Vida e aproveitar as
oportunidades. Há aqui uma continuidade cromática, pois o chão também é
cinzento, na triste Quarta-Feira de Cinzas, nas reminiscências de uma lareira,
com o calor do fogo extinto, num fogo voraz, que devorou a lenha toda, como
numa pessoa ambiciosa, que tem sonhos e sonhos, como, por exemplo, merecer o
respeito e a apreciação por parte de outrem, por parte da Sociedade como um
todo, no grande desafio que é a imposição de Respeito. O Sol banha as costas
desta modelo, e é um momento de prazer, na libertadora nudez, no termo
“lagartear”, encontrando prazer em atividades simples, como estirar-se ao Sol,
no modo como o melhor da Vida é de graça. Esta mulher parece ser feita de uma
cerâmica cinzenta, com um artista que imita o esmero de Tao, o grande artesão,
um ser produtivo, o qual está sempre trabalhando, no fato de que é só o labor o
que dá satisfação a alguém, pois como são desafortunados os que não produzem!
De pernas cruzadas, como em posição de índio sentado, as costas da mulher estão
relaxadas, e ela não está num momento de tensão ou alarde, como numa pessoa que
se mantém tranquila em meio aos histéricos alardes do infame Corona vírus. Neste
quadro, há uma boa porção negra, imprevisível, no fato de que ninguém sabe
exatamente cada coisa que acontecerá em sua vida, pois, se soubesse, tais
coisas não aconteceriam então, pois nem sempre é permitido à pessoa prever com
precisão o Futuro. São os desígnios de Tao, o Pai que quer o melhor do melhor
para seus filhos, num ato de Amor Eterno, pois se não é eterno, não é Amor, não
é Liberdade, não é Prazer. É como no tradicional quadro negro nas escolas de
antigamente, num professor empenhado em mostrar com extrema clareza aos alunos,
no paciente e persistente trabalho de se lecionar, num trabalho no qual um
aluno aplicado dá sentido à vida de um professor, no prazer de ser ver o aluno
aprender algo de fato, e não num aluno que simplesmente decora a matéria para,
depois, esquecer-se de tudo, como numa exigente professora de Filosofia que
tive, a qual exigia provas de que o aluno entendera a matéria; entendera o
filósofo estudado. Aqui, temos este túnel negro, sem qualquer luz ali dentro,
longe do acalentador termo “uma luz no fim do túnel”, ou seja, longe de alguma
esperança, talvez num Baravelli catarseando um sentimento de imprevisibilidade;
um sentimento de falta de garantias, pois não há garantias científicas da Vida
após o Desencarne... São as limitações da Ciência, num esforço mental que muito
ainda tem a galgar. A mulher observa tal perspectiva, calmamente ponderando se
entrará ou não em tal desafio, como num espírito desencarnado que está prestes
a aceitar uma nova “aventura” na Terra, ou seja, um novo aprendizado, no
caminho da depuração moral.
Acima, No Museu (nº1). Vemos um pedaço de coluna quebrada, caída a chão,
como se fosse um remoto vestígio de alguma civilização perdida, como no Egito
Antigo, sendo perdida toda a linhagem dos faraós, pois o Tempo passa, as
pessoas morrem e os fatos se perdem. É como se um terremoto tivesse acometido
este museu de Baravelli. O teto é a céu aberto, azul anil, com estrelas
dispostas ordenadamente, longe do caos cósmico, com galáxias jogadas na
imensidão como conchinhas à beiramar. É como um vestido de Elizabeth I, com
pérolas bordadas, na missão de um líder em dar tranquilidade ao próprio povo,
na noção de ordenar o caótico, como num presidente acalmando os temores do povo
em relação a alguma pandemia ou epidemia. Na porção esquerda superior, uma
fração de um templo egípcio, no modo como a Arquitetura pode ser um aliado que
ajuda algum governo a se impor, com templos grandiosos, que tentam imitar a
maravilhosa grandiosidade dos lugares metafísicos, lugares estes que cumprem
incondicionalmente os sonhos de um arquiteto de mão cheia, talentoso. É no
termo “casa grande”, que significa “faraó”, fazendo metáfora com as mansões da
Vida Eterna, num Tao empenhado em acolher seus próprios filhos da melhor forma
possível, tendo que haver, na Terra, um contentamento, numa pessoa conformada
em morar, provisoriamente, em um apartamento regular de dois quartos, quiçá um
quarto, numa frase ensinada pelo meu pai: “A maior riqueza é se contentar com
pouco”, pois se estou o tempo todo querendo e ambicionando, como posso ter Paz?
Na porção inferior do quadro, um princípio de escadaria, com mágicas escadas,
fazendo com que plainemos por seus degraus, na deliciosa sensação de leveza e
liberdade, como no orgasmo de uma supernova explodindo, como num artista estourando
pela TV ou Rádio, na ambição de qualquer pessoa em brilhar como um diamante,
uma lição ensinada por Tao, a grande estrela. Esta escadaria também tem
aspectos de arquitetura clássica grega, no modo como a Grécia se tornou tal
pilar do Mundo Ocidental, dando-nos Democracia, Ciência e Filosofia, por
exemplo. Esta escadaria projeta uma sombra no chão, como no asilo de um
guardassol em um dia tórrido de Verão, no modo como posso ser inocentemente
ofuscado por outra pessoa, ensinando-me uma lição importante, uma lição que
nenhum livro pode ensinar... Quase ao centro do quadro, parece haver uma tábua
de vidro, na qual está desenhada um par de coxas e um bumbum, como numa
deliciosa coxa de frango, talvez harmonizada com um bom vinho branco. É um
respeitável corpo atlético, no modo como os espíritos desencarnados têm a graça
e a força de corpos muito atléticos, havendo no atleta, aqui na Terra, uma
noção estética das intenções de Tao quando este criou o Ser Humano. Não podemos
ver aqui se é um corpo masculino ou feminino, como anjos sem sexo, e parece um
atleta pronto para dar um elegante e disciplinado salto, no modo como é capital
o desenvolvimento de Disciplina, como numa professora de balé que conheci, uma
pessoa extremamente séria, exigente e disciplinada, como diz Marília Pêra na
ótima peça teatral Master Class, interpretando uma altiva Maria Callas: “Se
vocês acham que vão obter sucesso sem se dedicar ao má-x-imo, há! É só isso que
tenho a dizer: Há!”, numa metalinguagem, pois é esmagadora estrela falando de
esmagadora estrela. O chão deste museu a céu aberto é de um verde desmaiado,
discreto, longe de um vibrante verde de um campo de futebol. É como se alguém
estivesse fraco, desmaiando, no que me remete a um desmaio que tive certa vez
num restaurante, desmaio causado porque fiquei muito tempo virado com a cabeça
para trás, pressionando um nervo do pescoço! E, por fim, vemos no fundo um
quadro com motivos de artesanato indígena, num bordado com formas geométricas,
na claustrofobia de O Iluminado, na
fragilidade da mente humana em situações de confinamento, como no estresse
inevitável de participantes de um Big
Brother.
Acima, O Círculo RBK. Temos aqui um nu feminino, só que pós moderno,
inusitado. A cabeça é um recorte oval, na magia de um colorido ovo de Páscoa,
com seu doce perfume sedutor, num dia de gula e alegria, no modo como é
necessário que sempre guardemos dentro de nós mesmos uma porção de tal
infância, evitando nos tornar empedernidos demais. Vemos um grande círculo bege
abrigando uma pose não ultrajante nem agressiva, como numa pose da revista
Playboy brasileira, com um nu de bom gosto, visando o erótico sem o vulgar, ao
contrário de outras revistas, as quais tratam o nu de forma estritamente
sexual, maliciosa – é uma honra para uma mulher posar para a Playboy
brasileira, como numa sessão de autógrafos que fui em Porto Alegre na
edição da atriz negra Isabel Fillardis, no modo como seria tsunamicamente
bombástica uma Playboy com Maysa. Esta mulher estranha de Baravelli parece
estar com os braços atrás da cabeça, como em panfletos de bordéis distribuídos
aos transeuntes no centro de Caxias do Sul, na diferença cultural entre Brasil
e EUA, onde prostituição é crime, num cidadão que não tem autonomia sobre o
próprio corpo – logo nos EUA, que se dizem o paladino baluarte da Liberdade.
Aqui, vemos uma vulva tímida, um tanto encoberta, como numa Lua minguante ou
crescente, num nu instigante, que nunca se revela por completo, evitando o
óbvio, na brincadeira do Erotismo: parece que é o Sexo, a genitália, quando, na
verdade, não é! Esta estranha mulher de Baravelli parece usar um tomaraquecaia,
escondendo os seios, na beleza de uma mulher com os ombros expostos, como numa
provocante Evita almoçando com o Papa, na atriz exibindo um dos ombros, como
numa Sharon Stone em uma edição da entrega do Globo de Ouro, com uma das alças
do vestido caída, numa provocação tão inocente, como no polêmico livro Sex de Madonna, um livro que, apesar de
ter causado tanto frisson, é um livro de nu artístico de extremo bom gosto, sem
nus agressivos ou óbvios. Nesta figura, há uma certa porção negra, escura, como
num túnel negro, como na horrenda e sombria toca de Laracna de Tolkien, num
útero maldito, malfalado, amaldiçoado, longe do iluminado e imaculado útero de
Galadriel do mesmo autor, numa escuridão sendo iluminada pelo uso da Razão, do
Raciocínio, da Inteligência, pois, já ouvi dizer, tudo o que Joãozinho deve
mostrar é a própria inteligência de Joãozinho, na bipolaridade de Disney entre
Bem e Mal, dando noções morais para uma criança, no discernimento entre mundano
e virtuoso, a lição que o livro de Tao tenta ensinar. As pernas desta modelo
são douradas, como no corpo da Garota de Ipanema, havendo no ouro a metáfora
com o grande astro rei que rege o sistema solar, a grande e verdadeira pérola
sem a qual a Vida não seria possível. Este vestido tem uma faixa verde no
busto, num fértil reino regido por um rei que respeita o cidadão, como se fosse
um médico, zelando pela saúde e pelo bem estar do povo, curando doenças e
conquistando o respeito do povo, pois um líder desrespeitado não pode governar,
pois é uma piada; não é levado a sério. Abaixo desta faixa de fértil campo,
vemos a cor da sedução e da luxúria, num vermelho, no encanto sensual de uma
mulher que veste vermelho, numa maravilhosa Kelly LeBrock em uma comédia dos
anos 80, parafraseando Marylin Monroe na cena de um vento levantando a saia da
estrela, no talento que certas pessoas têm em flertar com o Público, fazendo da
Arte uma inocente e formidável provocação, afetando a atingindo as pessoas, no
dever que a Arte tem em mexer com as pessoas, gozando de Liberdade, longe de
sistemas ditatoriais, que fazem com que o artista seja uma simples e mera
ferramenta de ideologia nacional. Este círculo bege é como uma Lua,
perfeitamente redonda, como numa Julia Roberts no pôster do filem Um Lugar Chamado Notting Hill, com a
estrela iluminando com a suave luz do luar, na pérola barroca que tem suas
próprias regras, ignorando a ordem linear da sucessão de dias e noites, num Sol
sisudo, compartimentado, com diz Chico Buarque, na mulher atrapalhando e
seduzindo home que está saindo para trabalhar.
Acima, Paisagem com Dois Personagens Poderosos. Aqui, temos um emaranhado
de linhas retas e tortuosas, numa suruba. Vemos uma mesa farta, digna de rei, na fartura
de uma galeteria, assustando o turista, que não está acostumado com tal
opulência gastronômica. É a mesa farta com a qual o imigrante italiano da Serra
Gaúcha sonhava, no duro início da vida do imigrante no Rio Grande do Sul. Vemos
um volumoso peixe em uma travessa ricamente guarnecida, remetendo ao milagre de
Jesus da multiplicação dos peixes, numa interferência sobrenatural, no poder da
dimensão acima da nossa aqui na Terra, no modo como, em hierarquia, tudo na
Dimensão Física gira em torno da Dimensão Metafísica, e uma das provas disso é
o atual surto de Coronavírus – são as cidades daqui, da Terra, que tentam
desesperadamente imitar a cidades de lá, do Céu. Vemos aqui muitas frutas, numa
granja farta, remetendo-me a uma querida vizinha, a qual sempre visitava o
vizinho levando algo de seu próprio pomar, num ato de generosidade, no prazer
de presentear alguém, num coração generoso, algo distante do egoísmo
sociopático, numa base de comparação, pois se digo que algo é belo, é porque
conheço o oposto, que é feio, ou seja, esta é a função do Mal – delinear,
reconhecer e valorizar o Bem. Essas linhas retas cortam o quadro da esquerda
para a direita e de cima para baixo, como numa cidade como Manhattan, num kilt,
com linhas se encontrando, como pessoas passando umas pelas vidas das outras,
como certa vez conheci um amigo, e ambos estávamos passando por um momento
devastador, só que cada um de um modo, nas perfeitas teias da Divina
Providência, numa forma de poder tão sutil que mal pode ser vista, havendo no homem
sábio, na Terra, um representante de tal poder benevolente. Neste quadro, temos
um jogo complexo de contraste, e porções brancas contrastam com pardo, vermelho
e azul marinho. É como se o quadro tivesse sido cortado impiedosamente por um
estilete, como nas garras agressivas do carismático herói Wolverine, no ato de
um artista deixando sua marca no Mundo, provocando cicatrizes psíquicas, na
capacidade de algumas pessoas em marcar épocas, com artistas que se tornam
figuras emblemáticas de suas próprias épocas, fazendo da Arte tal instrumento
impositivo. Na porção esquerda superior, vemos um cesto com vários ovos, numa
granja fértil, na magia de um farto ninho de Páscoa, ou no desenho de Pica Pau,
com o esfomeado personagem comendo tudo o que vem à sua frente. Os ovos
simbolizam a Vida, na força misteriosa que traz seres vivos ao Mundo, pois a
Vida é um grande mistério, pois qual é o “combustível” que faz um coração
bater? Ao olharmos para esta farta mesa de Baravelli, podemos ouvir o
burburinho do interior de um restaurante, e podemos ouvir o tilintar dos
talheres tocando nos pratos, no ritual polido que existe numa refeição, numa
pessoa polida, usando os talheres elegantemente, havendo na alimentação o ato
mais elementar da Vida. A travessa oval é um planeta circundando uma estrela,
no poder das forças gravitacionais, no modo como algumas pessoas pensam que a
Terra é plana... Neste quadro de natureza morta, podemos sentir o cheiro de um
peixe fresquinho, num urso esfomeado capturando um salmão na correnteza de um
rio, na tarefa diária de se partir em busca do sagrado alimento, no ato de se
rezar e agradecer pela comida, antes de cada refeição, havendo na gratidão uma
gigantesca virtude, como num filho, eternamente grato por sua mãe, no
maravilhoso fato de que os vínculos de família não se desfazem com o
Desencarne, ou seja, qualquer desentendimento de família terá término, e a
harmonia sempre virá e impor-se-á. Estas porções brancas deste quadro remetem à
magia de um dia que amanhece nevado, na beleza de uma terra branca e imaculada,
havendo na Beleza a promessa de um mundo melhor, muito além na pequenez dos
conflitos terrenos – o Mundo não mudará, mas poderá haver promessas de uma
dimensão melhor.
Acima, sem título. Temos
aqui silhuetas de mulheres formosas, numa dança erótica que tanto esconde
quanto revela, provocando a imaginação do público, na famosa cena da vulva de
Sharon Stone, nunca revelando tudo por completo, no cruzar de pernas mais
famoso do Cinema, caindo nas graças do finado crítico Rubens Ewald Filho. Aqui,
é como um papiro, no papel do papel na História da Humanidade, havendo na
Escrita o que trouxe o Ser Humano à Civilização. No centro da cena, uma figura
que remete a um Oscar, na cobiça que move o Ser Humano, na obsessão por
sucesso, fama e dinheiro, havendo um fetiche materialista no troféu mais famoso
do Mundo, num mundo onde tudo gira em torno de quem está por cima no momento,
na gangorra da Vida, pois ninguém está por cima o tempo todo, pois, já disse e
repito, o Sucesso é um amante infiel. Este papiro é leve, muito leve, quando o
fino se sobrepõe ao grosso, ou seja, é a vitória da polidez sobre a estupidez,
havendo no homem de Tao o líder extremamente polido, representando dignamente
todo um povo, toda uma civilização, na arte de bem receber e bem acolher, no
modo como dá gosto sentar e conversar com uma pessoa educada e humilde, uma
pessoa que sabe que não é o centro do Universo, e é exatamente esta humildade o
que torna tal homem o dono do Mundo, na divertida contradição taoista. Este
papiro é dividido entre antes de depois, num marco, na passagem de Jesus pela
Terra, numa pessoa que tem o dom de inclinar o Ser Humano a um patamar mais
alto e mais nobre, como num esforçado professor, empenhado em ensinar o que é
válido e correto, num trabalho de muita paciência, pois o Ser Humano está o
tempo todo sendo seduzido pelos atalhos traiçoeiros da arrogância, confundindo
esta com altivez, no modo como pode ser difícil ensinar tal discernimento. O
papiro é ladeado por duas figuras femininas, com amplos quadris, numa mulher
fértil, como numa rainha Victoria, trazendo filhos e mais filhos ao Mundo, no
modo como o Patriarcado infelizmente vê a mulher como tal instrumento de
produção, no incrível machismo que irrita profundamente qualquer feminista. Uma
dessas mulheres é branca; a outra, negra. É como num desfile de Moda com Naomi
Campbell e Claudia Schiffer, no discernimento de Yin e Yang, onde tudo carrega
em si sua própria contradição, ou seja, no Cosmos, nada mais natural do que a
sombra projetada pela luz. A mulher negra posa com as mãos atrás da cabeça, num
ato de entrega, numa mulher apaixonada, entregando-se por completo, sabendo,
pela primeira na vida, a diferença entre fazer sexo e fazer amor, num ato de rendição,
numa pessoa abrindo o seu coração e os seus sentimentos a outra pessoa, num
momento mágico de confiança, fazendo que com o cônjuge saiba das tristezas do
companheiro, num lindo momento de confidência, no modo como tudo pode ser
comprado, menos Amor, num filme que vi quando criança, quando um homem,
atendido por um gênio da lâmpada, podia dar tudo para uma pretendente, menos
Amor... Já, a mulher branca está com as mãos nas ancas, dançando numa
liquidiscência, como num rio tortuoso, circundando terras como uma fértil
serpente, na letra de uma canção brega (e fascinante): “Um animal que ronda no
véu do luar”. Aqui, temos uma dança de striptease, e podemos ouvir o som
vibrante de batidas, como no filme em que Demi
Moore, no auge de sua forma física, interpreta uma stripper,
arrastando seus seios sobre a passarela de um clube de strippers. É como uma
chama em uma vela, sensível, deixando-se levar por qualquer pequena corrente de
ar, dançando ao sabor do vento, como diz a canção célebre: “A mulher se move
como o vento”. É como uma sacola de plástico voando ao léu, como um surfista
surfando sobre uma onda, na capacidade de uma pessoa em saber surfar em tais “ondas”,
buscando carona nas oportunidades, numa pessoa pegando carona em um cipó, como
no cavalinho branco, que é montado no momento exato. Aqui, o vermelho quebra a
sisudez preta e branca, na cor dos bordéis, cheirando a Sexo, ou cheirando à
erótica marca Victoria’s Secret.
Referências bibliográficas:
Luiz Paulo Baravelli. Disponível em: <www.catalogodasartes.com.br>. Acesso em: 18
mar. 2020.
Luiz Paulo Baravelli. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 18 mar. 2020.