Clinton Adams (1918 – 2002)
foi um americano natural da Califórnia que atuou no Departamento de Arte da
Universidade da Califórnia, a UCLA. Prestou serviço militar. Também trabalhou
na Universidade do Novo México. Em 1985, o governador do Novo México deu a
Clinton Adams a distinção de Contribuição Excepcional à Arte do NM. Em 1993, CA
se tornou membro da Academia Nacional de Design dos EUA. Os textos e análises
semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Forma Arquitetônica. 1947. Vemos algo como “serpentes eretas”, como
varetas, entrelaçando-se, como numa orgia, numa festa, num momento de
interação, no modo como o artista interage com o público na noite de
vernissage. É como uma serpente hipnotizada pela obra de algum artista
fascinante, num bombardeamento de percepções. A ereção é a vontade, a verdade,
os valores de força, numa pessoa que deixa a depressão para trás a abraça novas
etapas desafiantes de Vida. É como o fálico Código de Hamurabi, impondo limites
comportamentais, buscando assustar o cidadão com punições severas, como nos Dez
Mandamentos, impondo parâmetros morais, visando o progresso moral da Humanidade.
Este quadro traz formas nítidas, delineadas por traços negros, e as formas são
bem coloridas, remetendo a Romero Britto, com linhas negras definindo limites,
junto a muitas e muitas cores e estampas. Estas varetas estão sustentadas por
suportes, que são a base existencial, a base de comparação, no termo “fio terra”,
ou seja, aquilo que faz com que a pessoa se sinta linkada ao Mundo, sabendo seu
espaço, seu papel na Vida em Sociedade, numa sociedade pragmática e, às vezes,
dura e cruel, fazendo com que muitos artistas tenham dificuldade em vislumbrar
um espaço, uma posição em um
Mundo tão difícil, tão soda, como todas as inúmeras pessoas
que já se candidataram a cargos eletivos, e foram derrotadas no frio olho das
urnas eleitorais. Esta mesa, neste quadro, tem um azul bebê suave, num dia
recém amanhecendo, num dia abençoado, que convida à produtividade. É o Céu dos
sonhos, num contexto metafísico de acolhimento, de pertencimento, numa dimensão
onde a pessoa se sente muito segura e bem disposta, pertencendo a uma grande família,
à Grande Família Estelar, unida e consolidada por Tao, o invisível Pai Eterno.
Sobre a mesa vemos um grande adorno decorativo, lembrando a forma de um sapato
de salto alto, muito alto, nas loucuras dolorosas de que uma mulher é capaz de
fazer para se sentir mais sexy e bonita, como dolorosas cirurgias plásticas, ou
senhoras batendo perna de salto alto. É o gosto humano pela decoração, pelo
embelezamento, tentando imitar a beleza de esferas que estão a salvo das
intempéries da Vida Material. É a universal busca humana por beleza, por
pertinência visual, na perseguição de coisas belas e aristocráticas, classudas,
no modo como o Reino dos Céus é repleto de Vida, Limpeza e Beleza. Mais ao lado
do “sapato” aqui, outra forma indefinida e enigmática. Parecem-se com duas
faces de perfil, conversando uma com a outra, no modo como o artista faz diálogos
dentro de si mesmo, conversando consigo mesmo, aplacando o sentimento de
solidão e de perdição existencial, no modo como não há problema algum em
conversar sozinho de vez em
quando. Neste quadro, há uma considerável luminosidade, pois
um brando e delicioso Sol penetra na sala, trazendo arejamento e renovação, nos
desafios de um novo dia e de uma nova jornada, como num curso universitário,
cheio de percalços a serem contornados – a Vida não seria um tédio sem
provações? Esta sala tem um chão lilás, cor de lavanda, no modo humano de se
apaixonar por fragrâncias deliciosas, havendo no perfume a metáfora para
limpeza, propósito e pureza de intenções, ou seja, o Bem é perfumado; o Mal,
fedido. É simples, mas as pessoas estão sempre sendo seduzidas pelo Mal. Mais
ao fundo na cena, uma parede predominantemente dourada, na glória do pódio, e é
claro que há uma pontinha de ambição em cada artista, fazendo do Mundo uma
verdadeira fábrica de ilusões e desilusões. Apesar de parecerem más, as
desilusões são positivas, pois nos colocam com os pés de volta ao chão, ao
Senso Comum, uma importante forma de Conhecimento, a qual acaba sempre se
impondo.
Acima, Tríade III. 1980.
A tarefa de um artista plástico é combinar elementos e
produzir coisas novas. É como brincar de Lego ou daquele joguinho com pecinhas
de madeira, produzindo prédios e palácios. Aqui, temos um jogo truncado, com
linhas predominantemente retas. Ao centro, uma forma que lembra um obelisco,
num símbolo de poder, como os descomunais túmulos que são as grandes pirâmides
do Egito. As pirâmides são um joguinho de Lego, reunindo pixels, pedra a pedra,
constituindo um trabalho de geometria invejável, numa perfeição técnica que é,
até hoje, um enigma. É como a construção de uma casa, com a colocação de piso,
paredes e teto, como no incansável trabalho de formigas fazendo um formigueiro,
no modo como uma vida sem trabalho é uma vida vazia, em vão. Estas formas
alaranjadas trazem um certo calor ao quadro, num cheiro irresistível de algum
suco de fruta, como bergamota, na sedução das frutas, as quais são fruto da
mente de Tao, o grande arquiteto, o grande artista plástico. Aqui, este
obelisco parece querer ultrapassar tudo e todos, furando, desbravando
paladinamente um caminho original, um caminho nunca antes trilhado, nas grandes
obras que são os trabalhos originais, criativos, como um Freud, desbravando os
primórdios da Psicanálise. Este obelisco busca furar este teto, como um foguete
alçando voo, rejeitando a gravidade terrestre e desafiando limites, querendo
desbravar o Sistema Solar, na insaciável sede humana por poder e conhecimento.
Então, o foguete levanta voo e desafia limites, como grandes falos
desafiadores, num filho rebelde, querendo se igualar ao pai; quiçá superar
este. É impressionante a inclinação humana pelo formato fálico, símbolo de
verdade e coragem, impondo respeito – se você não quer se machucar, mantenha
distância, numa nação que, apesar de pacífica, irá à Guerra se provocada por
outra nação. Este quadro passa por um processo de mutação, de mudança, e o falo
quer descobrir seu papel no Mundo, num cenário tão duro e competitivo, em que
todo mundo quer virar astro, como nos cabelos dourados de Gisele, um verdadeiro
monstro de brilho. O único elemento ligeiramente curvilíneo neste quadro é um
traço branco quase ao centro da cena. É como uma serpente, de uma sensualidade
discreta e classuda, como se soubesse que, se rebolar demais, poderá ser
repreendida pelo machismo do patriarcado, numa sociedade que sempre tolheu a
sexualidade feminina, fazendo com que a virgindade e a ausência de
agressividade sejam regra para uma mulher respeitável, o que é uma grande
injustiça, pois os sexos são ilusões e, no fundo, somos todos iguais – os sexos
são uma ilusão da Dimensão Material, e, ao Desencarne, perdemos o próprio sexo,
tornando-nos anjos assexuados. Este quadro parece ser um capcioso trabalho de
arquiteto, engenhoso, sofisticado, como vários níveis, mezaninos, espaços como
num museu de arquitetura moderna e invejável, ambiciosa, nos sonhos de Arquitetura
que habitam a Dimensão Metafísica, num mundo imaterial onde os pensamentos
arquitetônicos não se deparam com as vicissitudes materiais, no modo como a
Dimensão Material tolhe boa parte dos sonhos humanos, como uma cena sendo
observada através de um vidro opaco, impedindo haver extrema clareza – a
Encarnação é assim mesmo, num desafio enigmático, desafio que acaba por fazer
com que a pessoa evolua como filho de Tao, na clara necessidade de
aprimoramento psíquico. Estas formas laranjadas de Adams parecem querer sair do
quadro e libertar-se, desafiando, com suas quinas agressivas, os limites de
imposição social, como num artista rebelde, focado em chocar a Sociedade,
colocando os dedos das pessoas na tomada elétrica, havendo no choque catártico
um momento de comunhão, em que todos se reúnem em torno do artista “vomitador”.
O foguete levanta voo, alçando os sonhos artísticos. É um momento de
desestruturação, de recomeço, de abalo sísmico, em que o artista decide
desafiar paradigmas até então indetectados. É o poder renovador da Arte.
Acima, Tríade IV. 1980. O fundo é o de uma sensual noite enluarada, num
espaço dúbio entre luz e sombra. Vemos ao centro uma linha rubra ligeiramente
tortuosa, como um rio que, no quadro geral, é estável, com pequenas oscilações,
como no princípio da vida de uma pessoa, numa vida geralmente estável até certo
ponto, até o ponto de crise, no qual a pessoa, ao beijar o fundo do poço, tem
que fazer um descomunal esforço para devolver a estabilidade à vida, num grande
desafio existencial. Aqui, continuamos a ter um Adams construtor, arquiteto,
combinando elementos, e podemos ouvir um “malandro” jazz, na incrível
integração e intercomunicação entre as Artes, havendo, na Música, muito de
plástico. Abaixo no quadro, vemos outra serpente, ainda mais estável,
pouquíssimo tortuosa, mais disciplinada, talvez a mesma serpente, após o
momento de reconstrução, na saudável imperfeição da Vida, uma Vida que não foi
desenhada para carecer de desafios, pois a Vida é uma verdadeira prova
olímpica, e, se não o fosse, qual propósito teria? Vemos elementos negros,
fechados, imprevisíveis, como uma noite encoberta de Lua Nova, sem qualquer
estrela no Céu. Essas formas formam um triângulo, e as partes superiores são
como um telhado de uma simples mas acolhedora casa, no modo como o aconchegante
supera o luxuoso, pois de que vale o Luxo se não há empatia ou relaxamento? Ao
centro do quadro, uma grande pedra marrom, na pedra fundamental de alguma obra
importante, no modo como a catedral de Caxias do Sul foi erguida sobre uma
pedra, pois, como Tao diz, em metáfora, aquilo que é construído sobre a rocha
não pode ser destruído; não pode perecer nem desmoronar. A pedra é a âncora, a
base de comparação, o centro de uma Vida, no poder que o labor tem em fazer que
os dias tenham um propósito produtivo, num Norte, uma Meca, uma referência centrada.
A base disso tudo é outra forma marrom, só que retangular, e é uma base forte,
como os fundamentos da Terra, nas forças gravitacionais que regem o Cosmos e
impõem uma hierarquia entre as esferas, no modo como a Vida Espiritual, assim
como no Exército, está repleta de Hierarquia, só que a Hierarquia Metafísica
não é imposta, pois é irresistível, baseando-se em bondade, e não em dureza
arrogante, ou seja, o Bem rege o Mal; o Bem é melhor do que o Mal, no modo como
é simples de se observar a inclinação de um sociopata em relação ao Mal, pois o
sociopata acha o Mal muito mais interessante, num espírito tosco, identificado
com a Matéria, e não identificado com o Pensamento, com a Virtude – o sociopata
zomba da nobreza psíquica, ou seja, o sociopata é um andarilho do Umbral. As
formas aqui, nesta obra de Adams, buscam dialogar, num cenário difícil, no qual
as diferenças são tão claras, no desafio diplomático que é a preservação da
Paz. Aqui, as formas marrons são da cor dos troncos de árvore, havendo no
tronco o sustentáculo de uma sociedade, e este tronco é o apuro mental, moral,
e a pureza metafísica é o que há de interessante ao Mundo, pois é fenomenal a
pessoa que age com desapego, a pessoa que rejeita as glórias mundanas e abraça
o imaterial, desinteressando-se pelo Anel de Tolkien, o símbolo da perdição
humana, numa alma corrompida pelo Poder, num Getúlio Vargas suicida, incapaz de
imaginar uma vida sem poder, no modo como o Espiritismo diz: “Você não imagina
a que ponto ficam reduzidas as pessoas consideradas felizes na Terra”, ou seja,
um ganhador da loto. Não sei quem é mais triste – se é quem acha que pode
vender Amor ou se é quem acha que pode comprar Amor, no modo como o Gênio da
Lâmpada pode prover tudo, menos Amor. E, no fim das contas, sem sentimentalismo,
tudo se resume a Amor, como uma pessoa esmerada, que cuida muito do próprio
trabalho, no semblante atencioso e esmerado de Deus, pintado por Aldo
Locatelli, criando Adão, na revolução conceitual de Jesus: Deus é Amor. Temos
aqui um trato entre pessoas diferentes, como irmãos que sabem que é a
Diversidade o que constrói.
Acima, Um Lugar para Fazer o Mundo Acabar. 1948. Este quadro foi pintado
logo após o término da II Guerra Mundial, num Mundo que, de certo modo,
sobreviveu ao conflito, renascendo como a Fênix. O fio é a mediação, a
negociação, o contato polido diplomático entre as nações, num Mundo desejoso
por harmonia e concórdia, deixando para trás todos os horrores nazistas. O fio
é a manutenção da Paz, do contato amigável entre nações. O fio é a ligação,
como num vínculo de sangue, unindo irmãos. O fio é a garantia de que somos
todos filhos de Tao, e de que não devemos brigar. À esquerda, vemos uma espécie
de torre, como numa transmissão de Rádio, numa época em que o Rádio era todo
poderoso, antes do boom da Televisão e muito antes do boom da Internet. A torre
é o desenvolvimento tecnológico, com dois lados opostos, dispostos a fazer de
tudo para a obtenção da Vitória, numa ideia fixa – vencer, vencer e vencer, não
importando como. A torre é a ereção dos EUA, emergindo como suprema potência
mundial após o conflito. A torre é como um paladino obelisco, no modo como as
comunicações sociais revolucionaram, com sinais de rádio que estão, hoje,
viajando pelo espaço, no modo como os ufólogos creem que outras civilizações
estão nos observando fervorosamente, observando nosso modo de vida, nossas
tecnologias, nossa Arte, a Internet. Então, esta torre emite seu sinal
retilíneo, cruzando o quadro, cruzando os quatro cantos do Mundo, chegando à
extrema direita, num Mundo então entrando na Guerra Fria, com relações
diplomáticas interrompidas entre dois grandes blocos globais. O fiozinho magro
é um contato minúsculo, microscópico, com dois lados paranóicos, sempre achando
que o lado oposto trama algo engenhoso para a obtenção da Vitória, e o Brasil
entra em uma ditadura de direita, numa época em que o Bloco Capitalista temia
que o Brasil pudesse se tornar uma URSS ensolarada. É como numa gincana de
colégio, em que equipes se organizam para cumprir as tarefas, reunindo em seus
quartéis generais, sempre buscando fazer algo que os oponentes não tenham
pensando em fazer. Este
quadro ansia por integração e consenso, Paz. E a Arte pode ser tal agente. Quase
ao centro do quadro, vemos duas espécies de torres, trocando um sinal, que é
uma linha vermelha pontilhada. É como a torre de suas indústrias, numa escalada
de desenvolvimento, no modo como o Japão, humilhado ao término da II GM,
emergiu como a Fênix, estabelecendo-se, décadas depois, como um gigante
tecnológico e econômico, rico. A linha é o diálogo, um trato entre cavalheiros,
como dois vizinhos conversando e se entendendo, estabelecendo a harmonia na
vizinhança, no esforço que o Ser Humano tem que fazer para se assemelhar, ao
máximo possível, com a Paz Divina da Dimensão Metafísica, pois, como Tao diz, a
Paz é melhor do que a Raiva, numa lição que, apesar de aparentemente básica e
quase óbvia, é constantemente subestimada por um Ser Humano raivoso. Mais
abaixo no quadro, uma casinha branca, que é a sala diplomática da Paz, numa
Suíça neutra e empenhada em conciliar vizinhos aguerridos, nas nobres intenções
das Nações Unidas, fazendo de Nova York o epicentro do Mundo Civilizado, no
cenário do 11 de Setembro, o dia em que a Terra parou, pois parece que o Ser
Humano sempre tem algo de raivoso para fazer, numa sede insaciável por Guerra e
por sangue derramado. A casinha branca é simples, e a mensagem é simples –
temos que construir respeito mútuo. Mas a maioria das pessoas é reprovada nesta
simples prova. O fundo do quadro é de um tom pastel, brando, na cor da Paz, do
carinho, do Amor e da União. É a inocência de um bebê, vindo ao Mundo da forma
mais inocente possível, num Ser Humano que, à medida que vai crescendo, vai se
deparando com as provações existenciais, construindo um processo de identidade:
Quem sou e para onde vou? Este quadro todo parece ser uma indústria, com vários
prédios e setores, com cada órgão do aparelho digestivo, com funções
diferentes, delegadas por um sistema hierárquico, como um cérebro regendo o
resto do corpo. É o aparelho psíquico da pessoa, numa sinergia entre os
elementos da psique. Então, o artista dialoga consigo mesmo, num ato essencial
de autoconhecimento.
Acima, Vênus IV. 1973. Temos aqui duas formas dialogando, como duas
pessoas numa sala de espera, batendo um papo para amenizar a passagem do tempo.
Estas formas têm uma grande semelhança, mas têm também suas diferenças. Há aqui
uma afinidade. São dois pedaços de esparadrapo, numa ferida que sarou e que não
mais precisa de curativo, numa pessoa desencarnando e deixando para trás tudo
relativo à carne, inclusive a carne em si. É como o sinal matemático de igual,
só que não escrito por uma máquina, mas por uma mão humana, num pulso fadado a
sofrer as tremulações da pulsação sanguínea, nas charmosas imperfeições de algo
feito por um ser humano. Estas formas brancas obtêm expressão porque estão
dispostas em um fundo bem escuro, quase negro, como no antigo tradicional
quadro negro, um instrumento de trabalho feito para chamar a atenção do aluno,
na importância da produção de Cultura Erudita para a construção intelectual de
uma nação. Ao redor de tudo aqui, vemos uma grande base em azul, que é a cor
dos sonhos, dos projetos, daquilo que um artista almeja, que é ser reconhecido
e valorizado. Aqui, são como duas nuvens, num lento processo de passagem e
mudança, no modo como tudo é processo, e a depuração espiritual não tem
conclusão próxima, como o Espiritismo crê na existência dos espíritos supremos,
perfeitos, que gozam da felicidade absoluta, num caminho de depuração à frente
de todos nós, que vivemos num mundo em que o pernicioso Anel de Tolkien seduz
almas e mais almas, corrompendo a fraca fé do Ser Humano. Aqui, são duas
pessoas de perfil, e são semelhantes como dois irmãos, gozando de uma mesma
base, de um mesmo teto, uma mesma casa, no fato de que somos todos filhotes da
mesma ninhada de Tao, o grande cesto em comum. É como uma bandeira tremulante,
no inofensivo desenvolvimento de patriotismo, no ensaio para que, mais tarde, a
pessoa desencarnada erga a bandeira da Cidade Metafísica, fazendo com que
vastas florestas sejam luxuosas salas de estar, perfumadas, limpas,
aconchegantes, elegantes – é o bom gosto de Tao, o grande artista. Aqui, são
como barras de uma prisão, mas uma prisão positiva, que acaba causando muito
bem ao seu prisioneiro, fazendo dos anos de cárcere uma oportunidade de
crescimento, havendo na libertação uma espécie de cerimônia de formatura, como
o canudo sendo o falo paladino que liberta mentes, na saudável agressividade
pragmática do pensamento racional, o pensamento que nos liberta. Aqui, são dois
grandes olhos de lince nos olhando no escuro, numa fera faminta, agrilhoada às
demandas orgânicas, louca por um suculento pedaço de carne, no modo irônico
como as coisas funcionam na Natureza, no senso de humor de Tao, fazendo com que
tudo em si carregue sua própria contradição, ou seja, claro e escuro
coexistindo. Aqui, são como dois cometas brilhantes cruzando céus, como duas
galáxias em rota de colisão, fundindo-se, nos intermináveis processos cósmicos,
nos mistérios da Matéria, distribuindo pelo Cosmos inúmeras galáxias, como
conchinhas à beiramar, nas regras da Matéria, desafiando o Ser Humano na fraca
ciência deste – os mistérios movem o Conhecimento. Entre essas duas faixas, o
intervalo negro parece a silhueta de uma mulher nua, com um seio delineado, na
beleza do nu humano, uma nudez que remete à simplicidade de Tao, à limpeza de
Tao, à pureza, pois o nu celebra a intenção estética de Tao. Esta Vênus recém
saiu de um perfumado banho, enxugando-se em uma toalha e iniciando o dia com
perfume, limpeza e graciosidade, como uma flor que desperta cheia de orvalho
delicado. Os quadris são como os fartos quadris do faraó herege Aquenáton, um
indivíduo transgressor que desafiou todo um paradigma religioso. E a Arte é
também transgressão, com suas catarses lavando a percepção de um espectador,
tocando este, num papo de pessoa para pessoa, de espírito para espírito. Aqui,
são duas fortes pernas tendo que sustentar um corpo, numa pessoa que decidiu se
reerguer e aceitar o desafio da Vida, nesta pessoa tornando-se adulta.
Referências bibliográficas:
Clinton Adams. Disponível em <www.addisonrowe.com/gallery-artists/adams-clinton>.
Acesso 22 mai. 2019.
Clinton Adams. Disponível em <www.en.wikipedia.org>.
Acesso 22 mai. 2019.