quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Ruas de Brunias (Parte 3 de 3)

 

 

Falo pela terceira e última vez sobre o artista italiano Agostino Brunias. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Cena dançante. Já ouvi a grande verdade de que as Artes estão umas dentro das outras – o que seria da Dança sem a Música? Aqui é como um terreiro de Umbanda, com muitos tambores liquidiscentes, rítmicos, marcando a ascendência e a descendência das estações climáticas, no homem de Tao, que observa o Mundo de tal forma, sabendo que os ciclos se renovam e que novas chances sempre virão, na eterna paciência de Deus, o infinito sobre o qual escrevemos nossa trajetória, neste presente inestimável da Eternidade, sobre é qual impossível falarmos, pois se pudéssemos falar, seria finito, delimitado, findável, perecível. É um dia de festa, nos moldes africanos de tambores, marcando para sempre, por exemplo, os estados da Bahia e do Rio de Janeiro, como a axé music e o samba, remetendo-me a um casamento de primos meus em Salvador, quando uma banda, como a célebre Olodum, entrou na festa, subiu no palco e contagiou todos os convidados, num casamento belo e exótico, na beira da praia, fazendo de tais terras cópias fiéis do Éden, como eu apreciando as paisagens de Gramado – apesar de eu saber que a Serra Gaúcha é uma cópia no Metafísico Sacro, ainda assim me apaixono por tais paisagens, como observar a beleza de uma rosa natural por meio de uma rosa de plástico, num contentamento, no divino fato de que ninguém está no Mundo para sempre, no dia de libertação que chegará, meu irmão. Podemos ouvir a multidão contagiada pelos tambores, no termo “batuqueiro”, que denomina os umbandistas, como nos orixás baianos, neste casamento sincrético com o Cristianismo, numa sincronia entre Maria dos Navegantes e Iemanjá, com as oferendas feitas na beiramar, que fica tomada de flores para a Santa, como numa avenida de Capão da Canoa, a qual se chama “Rua da Santinha” por ter uma imagem de tal divindade orixá. Aqui é como no filme Bella Donna, do meu querido Fabio Barreto, na personagem que mergulha de cabeça na cultura local brasileira, deixando-se invadir, na capacidade taoista de humildade e aceitação, pois quanto mais me curvo, mais governo, na recomendação taoista de perder uma queda de braço, pois quem vence, entra em inferno astral; quem perde, torna-se o homem maior. Aqui é uma cena predominantemente feminina, e uma negras estão de seios nus, nas curvas de uma Naomi Campbell, a qual, dizem por aí, não é lá muito educada – fazer o quê? A negra nua é como no filmão Carlota Joaquina, com a escrava sem pudor, sabendo que ocupa tal posição socialmente humilde, como numa auxiliar de limpeza num estabelecimento, no fascismo de elevadores de serviços, uma herança escravocrata, nas terríveis senzalas, com seres humanos confinados como cachorros num canil, numa Escravatura que trouxe toda uma herança social desprivilegiada ao descendente de escravos, como numa África dilacerada por tal perversidade mercantil, com seres humanos vendidos como animais, tudo em nome do maldito Anel do Poder, o qual corrompe homens nobres. A árvore ao fundo é a vida brotando em toda a sua força, nos tambores tocados com tanto ritmo e talento, inteligência emocional, num Tao que só pode ser compreendido instintivamente, estando bloqueado contra as inteligências frias e esquemáticas do sociopata, numa pessoa que ignora aquilo que não é fascistamente claro, numa pessoa que ignora canções lindas ou filmes comoventes, no caminho da insensibilidade. O cachorrinho aqui também se diverte com a festa. Os pés nus no chão de terra são a simplicidade, como neste casamento que narrei, no qual os convidados eram convidados a retirar seus sapatos e calçar chinelos de tira, para o convidado se sentir extremamente confortável, no modo como a festa acontece no coração da pista de dança, e não numa tediosa e arrogante ala vip, a qual é um tédio de tão óbvia. Os seios são as amas de leite, amamentando crianças brancas ricas, na beleza do corpo feminino, em aulas de nu em faculdades de Arte, numa Madonna posando pelada, mostrando a beleza do corpo e da sexualidade a uma América tão protestante e puritana, na qual o cidadão não pode se prostituir.

 


Acima, Dominicana num mercado de linho. Brunia adora essas cenas de mercado, uma atividade tão antiga da Humanidade, com vendedores ávidos por lucro e consumidores querendo pechinchar, num assédio aos consumidores que passam pelos estandes. Os guardachuvas são a proteção e o resguardo, assim como um pai quer proteger o filho, não podendo ser um pai superprotetor, como uma pessoa que conheço, a qual teve uma mãe extremamente superprotetora, que massageava o ego do filho, dando ao filho a ilusão de que ele próprio era um superstar, nas palavras de tal mãe: “Meu filho não merece dez; meu filho merece onze!”. É na necessidade da pessoa em adquirir o controle de sua própria vida, como numa ninhada dando chutes na barriga da cachorrinha. Os paladinos navios mercantis ao fundo no mar são tal coragem de exploração, como nas naus portuguesas explorando o Brasil, numa corrida entre potências europeias para ver de quem seriam tais terras, tomadas de seres humanos os quais os europeus consideravam selvagens e incivilizados, como em atos de canibalismo, fascinando a Europa com tais relatos exóticos, num choque entre civilizações que causou o colapso da América primordial, na agressividade do homem branco, sem pudores para escravizar e exaurir as reservas minerais, como num Brasil sugado pela Europa, pois onde há riqueza, há pobreza: Como são ricos! E roubaram tudo dos pobres! As senhoras elegantes de Brunias se vestem de modo a ostentar tal posição social, como numa Inglaterra tão aristocrata, nos sangues azuis que não podem se misturar com sangue comum, num perturbador cenário de incesto no Antigo Egito, num rei Tut que se casou com sua própria meia irmã, dando à luz natimortos, num Egito no qual eram considerados chiques e necessários os casamentos dentro da família real, achando que os natimortos eram a vontade dos deuses, e não um problema genético recorrente de tal incesto. Aqui é um momento de interação social, como numa missa numa paróquia, com os jovens solteiros interagindo socialmente, na pressão católica em relação à heterossexualidade, no modo como o Senso Comum levará muito tempo para absorver a informação científica de que homossexualidade não é doença, muito menos pecado, estando eu, aqui, discordando de um bom homem, que é o Papa Francisco. Os vestidos brancos são a limpeza e a clareza, na tradicional noiva de branco, nos preconceitos do Mundo Patriarcal, quando a menininha, ao nascer, “ouve” do próprio pai: “Esta eu vou guardar debaixo de sete chaves e entregar pura e casta para o marido na Igreja!”, numa sociedade que tanto tolhe a sexualidade feminina. As casas na cena são a solidificação, num homem firme e centrado, que dá à esposa a sensação de estabilidade, firmeza e segurança, mas numa mulher que, ao mesmo tempo, quer um homem romântico e bom de cama, na metáfora de Dona Flor e seus dois maridos, havendo o contraste entre opostos, em opostos que se complementam, remetendo a um amigo meu, cujo casamento naufragou, talvez num homem que começou a se mostrar pouco romântico, deixando esfriar o mágico calor da Lua de Mel, a qual, já ouvi dizer, dura cerca de três meses, havendo, depois, a dureza do dia a dia, quando um começa a se deparar com os defeitos do outro, tendo que haver paciência num casamento para que este dure – meu amigo, nesta tua nova mulher, certifique-se de que você não deixará murchar o romantismo! Os milhos, na porção inferior do quadro, são a fertilidade e a força da Vida, que vem da terra, das entranhas da terra, como na famosa escultura de Dalí no novaiorquino MOMA, com a moça com uma espiga de milho e formigas andando, na força da vida, na força que sempre encontra um caminho, em cereais nutritivos, trazendo vida, nutrindo, como num bom mingau de aveia, um alimento tão perfeito e barato – qualidade de vida não custa tão caro. Podemos ouvir aqui um burburinho de tal lugar público, em ofertas sendo feitas, na incumbência do feirante em vender e trazer dinheiro para casa no final do dia.

 


Acima, Homem negro, duas mulheres e uma criança. Aqui negro manda em negro, numa hierarquia, num negro que ascendeu socialmente, num sonho de um emergente em ascender, como num rapaz que conheci certa vez, o qual veio de uma família bem simples e pobre, um rapaz que achou que ia conseguir chegar a algum lugar, neste preconceito em relação a tais ambições, como no rigoroso sistema de classes inglês, como numa menina de classe média que se casou com o herdeiro do trono da Inglaterra, numa oportunidade única de ascensão social – quando teria Kate outra chance de colocar no Mundo bebês de realeza e ser Kate a reinar sobre um terço da Humanidade? Aqui é o conceito de Marx de luta entre classes, numa ideologia que gerou o hoje combalido Comunismo, numa China comunista que é capitalista, mas num país onde a maior parte do dinheiro fica com o governo, numa China rica em que o cidadão chinês, em si, não é rico, numa China que é um dos poucos aliados da ditadura nortecoreana, num líder insano, déspota e cruel que investe tudo em armistício, fazendo tal nação paupérrima carecer enormemente de escolas, hospitais e estradas – é um horror. O homem negro mandante aponta para uma direção, numa seta impositiva, no falo do poder patriarcal, como nas abrasivas pirâmides egípcias, num recado claro: Não se meta com o Egito! É no formato de injeção de um prédio novaiorquino, nuns EUA que tanto poder têm, ao ponto de mandar e desmandar em cenário mundial, posicionando-se contra outro déspota insano, que é Putin, cujas ações estão sendo amplamente desaprovadas, numa guerra tão cruel e desnecessária, num insano Napoleão, o qual perdeu a oportunidade de ficar quieto no seu canto e ser um homem de efetivo respeito, como num certo rapper, o qual perde chances douradas de ficar calado, na máxima popular: Quem falo o que quer, ouve o que não quer! Os escravos são tal pressão, como num infeliz workaholic, trabalhando insanamente, sempre desrespeitando a si mesmo, num Mundo que não vai me abonar se eu for um workaholic, como eu mesmo já passei por uma fase assim, num caminho degradante no qual a pessoa não se dá ao respeito. O negro mandante parece ter uma espada escondida na mão esquerda dele, neste símbolo de agressividade, como no símbolo fálico que simboliza o sexo masculino, numa sociedade patriarcal que cobra do homem o êxito e o sucesso, não fazendo tal cobrança para a mulher, a qual, se quiser ser uma humilde e anônima dona de casa, mãe e esposa, pode o ser sem problemas, sendo mal vista a mulher bem sucedida, nos preconceitos que Thatcher enfrentou no início da carreira política, ouvindo perguntas como: “Quem vai cuidar de sua casa e tomar conta de seus filhos?”. A criancinha negra é herdeira de tal opressão social, enfrentando desde cedo tal desvantagem em relação a criancinhas mais ricas, em abismos sociais que o esforço democrático quer anular por meio da igualdade perante a urna eleitoral, nos sonhos comunistas de igualdade, nos sonhos de igualdade da Revolução Francesa, guilhotinando aristocratas, na ascensão da classe burguesa, havendo sempre uma classe dominante, como na elite burocrática comunista, numa ineliminável diferença entre classes. O negro mandante, apesar de ter poder de mando, carece de sapatos, assim como os pobres na cena, fazendo do sapato tal símbolo de status social, em objetos de consumo, em ladrões psicopatas dispostos a matar por tais itens, perguntando ao sociopata o porquê deste ter tirado a vida de um rapaz, ouvindo a resposta do bandido: “Porque ele não quis me dar os tênis dele”. Aqui é uma rotina de labor, na luta sendo enfrentada, como professores reunidos na sala dos professores durante o intervalo, encarando o fato de que, ao tocar o sinal, é hora de voltar para a sala de aula e continuar trabalhando, no caminho de responsabilidade e sisudez, no modo como não é bom ser jovem demais, pois o jovem não tem noção de responsabilidade.

 


Acima, Caribenhos atravessando um riacho. A travessia é um momento de cuidado, como no líder sob a luz de Tao, num líder hesitante, como se soubesse que há perigo na travessia. É no córrego que leva à floresta mágica de Lórien, de Tolkien, um córrego gelado, porém terapêutico, num remédio amargo que surte doces efeitos, no modo como a Vida vai nos ensinando lições de humildade, pois humildade é sabedoria, pois só quem tem os pés no chão pode resistir às tentações da soberba, como num Jesus Cristo resistindo a sedutoras sensações, num homem de tal caráter incorruptível, perfeito em seu apuro moral, deixando tal legado inestimável no Mundo, como uma certa popstar, a qual, ao morrer, deixará no Mundo um legado incrível, num reconhecimento póstumo, como num Van Gogh, no modo como o Mundo pode ser tão duro e difícil, em exemplos felizes de um Andy Warhol, reconhecido ainda em vida, felizmente, estabelecendo um estilo inconfundível e único, neste incrível casamento da Pop Art entre arte mercado, em obras de arte sendo leiloadas, como numa pessoa que resolveu investir em arte, talvez tendo gestos nobres de fazer doações a museus, em museus tão deslumbrantes como o novaiorquino Met, ou na supremacia do Louvre, o qual exige que fiquemos um ano inteiro dentro de tal museu, tal o acervo vasto, no modo como arte é um terreno inesgotável, eterno, fazendo da arte uma das provas da inteligência humana, ao lado das ciências – qual o futuro da Humanidade? Aqui é a humilde vida dos caribenhos nativos, como nas tribos amazonenses em suas moradas de palha, num modo de vida muito aquém da sofisticação europeia, a qual acabou se impondo sobre os selvagens, no modo como os indígenas eram donos e senhores das Américas, tendo hoje descendentes paupérrimos, jogados numa calçada e pedindo dinheiro. De costas para nós, o homem de branco é o poder e a hierarquia. O homem aponta com o dedo, dando expressas ordens, no falo do dedo do mandante, como num cruel narcotraficante, dando ordens de execução para eliminar desafetos ou pobres coitados viciados inadimplentes, num traficante que quer, acima de tudo, dinheiro, mal se importando com o poder das drogas em destruir vidas e em trazer violência às cidades, como no Rio de Janeiro, a cidade bela e violenta, com tiroteios entre polícia e bandidos, com balas perdidas que atingem inocentes, como crianças. O córrego é o antes e o depois, como na passagem de Jesus pela Terra, como no reinado de Elizabeth I, dividindo em duas a História da Inglaterra, numa mulher que, além de viril, algo que é necessário numa regência, levava muito a sério o se arrumar e se enfeitar na hora de vir a público, remetendo a muitas mulheres da política por aí, mulheres que creem que, se arrumarem-se demais, não serão levadas a sério, o que é um equívoco, pois a vida pública exige boa aparência da pessoa, como Collor, com sua aparência impecável que conquistou e enganou muitos milhões de eleitores. O córrego é o curso da vida fluindo, num processo que vai se desdobrando naturalmente, no caminho de maturação da pessoa, na criança que vai adquirindo siso adulto, como na menina que abandona as bonecas para debutar e iniciar sua vida social – o brinquedo pode permanecer no quarto do indivíduo, pois o que irá mudar é a relação do indivíduo com tais brinquedos, partindo do indivíduo a decisão de guardar os brinquedos numa caixa dentro de um armário, nas minhas doces lembranças de infância dos brinquedos relativos ao universo do super herói He-Man, a figura suprema do macho alfa patriarcal. A paisagem é selvagem e devoluta, virgem, como no colono italiano que se deparava, na Serra Gaúcha, com um terreno virgem, cheio de mato, em mãos calejadas de agricultor, numa vida de trabalho árduo que gerou em tal região a cultura de dedicação extrema ao labor. Num detalhe no quadro, uma mãe amamenta do filho, no universal divisão de tarefas entre os sexos, com o homem indo à mata para caçar e pescar, talvez trazendo um banquete selvagem, como carne de cobra, como na China, um país no qual come-se de tudo, até cachorros! O córrego é algo instintivo, fluindo, encontrando um caminho, um jeito e uma solução.

 


Acima, Mulheres com vestidos elegantes. O rapaz, em seu humilde papel coadjuvante, é essencial para fazer sobressaírem as moças, no discernimento taoista dialético, no qual tudo traz em si sua própria contradição: Quando digo que algo é fácil, é porque conheço o oposto, que é difícil, como eu em meu ínfimo papelzinho coadjuvante em O Quatrilho, fazendo com que eu fizesse sobressaírem-se os poderosos protagonistas, como numa mulher baixinha, a qual faz se sobressair o marido mais alto. As moças parecem conversar, talvez discutindo se aceitam ou não o convite de passeio do rapaz, num momento de interação social para o qual as pessoas se arrumam, como num rapaz de barba feita, banho tomado e roupa limpa, ou como na primeira metade do século XX na Rua da Praia, via tradicional portoalegrense, lugar onde as pessoas se aprumavam para passear, havendo furtivos fotógrafos na calçada fotografando as pessoas elegantes, vendendo a estas tais fotos, como o fez minha falecida avó Nelly, a qual, na foto na época, era uma deusa de cintura de miss Universo, no modo como, ao desencarnar e ir ao Plano Superior, a pessoa rejuvenesce e vive jovem e radiante para sempre, numa linda mulher emoldurada por uma luz, com espíritos felizes e atuantes, que estão trabalhando, no lindo caminho da construção da Grande Carreira Espiritual, na qual nenhum trabalho é em vão, como no árduo trabalho de gari na Terra. Os decotes das moças são até provocantes, talvez necessários com o calor caribenho, remetendo ao carioca de antigamente, o qual devia sofrer com tantas roupas em uma cidade tropical, muito longe da neblina fria londrina. Aqui entre as moças temos uma afinidade, pois ambas se vestem mais ou menos da mesma forma, como num grupo de adolescentes, dentro do qual os integrantes se vestem da mesma forma, no caminho das identificações, na influência grupal, como uma amiga minha, a qual começou a andar com uma galera barra pesada, um grupo que consumia cocaína, e esta minha amiga começou a cheirar só por curiosidade, mas acabou viciada, como um certo senhor, o qual certa vez, tentou me aliciar para a droga – vá tomar no cu, meu senhor, com o perdão do termo chulo. Os chapéus aqui são mais do que proteção solar, mas adornos de estilo, talvez num Caribe imitando as tendências de moda europeia, no modo como uma certa popstar disse que Paris a encheu de novidade e excitação, numa cidade a qual, já ouvi dizer, é provinciana, no parisiense se achando o centro do Mundo, no modo como o Ser Humano é provinciano, em qualquer lugar. O rapaz aqui, em demonstração de respeito e cordialidade, tira o chapéu para as senhorinhas, num ato de respeito e cavalheirismo, na capacidade da pessoa em se curvar em sinal de respeito, como respeitar uma determinada família, ou como respeitar uma dinastia vigente, havendo nas famílias de realeza a função representativa de representar uma dimensão superior, fina e atemporal, a dimensão onde todos temos a plena noção indelével de que somos todos príncipes especiais, filhos do mesmo Rei, que é Tao, a presente da vida eterna, no imensurável poder de que jamais findaremos – não é poder demais? O rapaz usa uma elegante bengala, num símbolo de terceira idade, como minha falecida avó, a qual, já idosa, adorou ter recebido de minha mãe uma bengala, num instrumento tão simples e bem pensado. A natureza de Brunias é assim, perfeita, num cartão postal, num pintor europeu tão seduzido pelo Caribe, em terras tropicais distantes, longe da tradicional Europa civilizada. O rapaz é a polidez e a gentileza, numa pessoa que sabe do valor da cordialidade, ao contrário da pessoa grossa, a qual não entende Tao, o fino, pois grosso é fraquinho; fino é fortíssimo. Aqui é a imposição do modo de vida europeu em terras selvagens, como na catequização de povos indígenas no Brasil, num indígena que não entendia o porquê da virgindade de Maria, mesmo porque os selvagens lidavam de uma forma natural com Sexo.

 


Acima, Plantador, sua esposa e servente. A negra escrava tem um papel bem discreto e coadjuvante, anônima perante as pessoas de classe social elevada, numa pessoa acostumada a habitar a áreas de serviço e a tomar elevadores de serviço, num espírito que resolveu reencarnar em um contexto social tão pobre, talvez para ficar mais humilde, no modo como no Desencarne as diferenças sociais acabam, não havendo de fato classes sociais entre os espíritos. O homem aqui, com seu fálico dedo apontado, é a uma ordem, apontando uma direção, dando uma ordem e uma diretriz, numa pessoa obcecada em obter o controle, indo contra Tao, pois quanto mais Tao você tem, menos controle você visará obter, como uma pessoa no topo de uma hierarquia, desrespeitando quem habita uma parte humilde na hierarquia, como em pessoas que se negam a andar de elevador com uma pessoa mais pobre e humilde, no caminho da arrogância, como na arrogante Miranda vivida por Meryl Streep, uma personagem arrogante a qual se negava a andar de elevador junto com uma pessoa abaixo de si na hierarquia, algo que se revela uma grande estupidez e má educação, como uma pessoa que conheço, a qual simplesmente se nega a cumprimentar o zelador do prédio onde mora, e Tao não é assim, pois Tao é gentil e agradável, tratando a todos com respeito e consideração. A moça rica aqui está hesitante, não sabendo se cairá na lábia do rapaz, numa resistência e numa hesitação, como se soubesse que há perigos. A moça usa no peito um crucifixo, que é o recato e a discrição, no modo como cruzes espantam os vampiros, fazendo do sociopata uma pessoa fria que não entende o que é comiseração, não compreendendo o que é se colocar nos sapatos do outro e entender como este se sente, como no sociopata cruel de O Silêncio dos Inocentes, absolutamente alheio aos gritos de súplica e pavor da própria vítima, como em pessoas que fazem brincadeiras muito agressivas, sem saber como o outro se sente, pois sensibilidade é saber como o outro se sente. Aqui há um abismo social representado pelo modo de vestir, na negra com roupas muito mais simples e humildes do que da moça rica, como vi certa vez numa igreja católica, com espaço para os ricos e para os pobres escravos – a parte dos ricos era cheia de arabescos e decorações; já, a dos pobres, era simples, limpa e sem excessos visuais, ou seja, a parte dos pobres era extremamente mais interessante, pois trazia a limpeza de Tao, o minimalista, o limpo, clean, por assim dizer, no modo como o desencarne de um pobre é bem mais fácil e tranquilo do que o desencarne dum homem rico e cheio de riquezas mundanas, na máxima popular: Vão os anéis; ficam os dedos. O homem aqui faz uma proposta, como num homem fazendo uma sólida proposta de casamento, num homem sério e centrado, mas talvez um homem não lá muito romântico, fazendo do sexo algo mecânico, muito fora da magia da Lua de Mel, o momento em que o casamento parece que será um eterno paraíso, o que não é verdade, pois a dureza do dia a dia se revela em toda sua dureza, em casamentos que acabam naufragando frente à sisudez da vida de casados. A moça balança sensualmente seu vestido, talvez querendo seduzir o rapaz, num jogo de sedução entre Yin e Yang. O homem aqui se veste como um europeu, num Caribe tão colonizado, com escravos negros sendo oprimidos, tudo em nome da ganância dos coronéis dos cafezais paulistas, exportando grãos para a Europa, encantando o Mundo com os sabores dos trópicos, numa bebida tão difundida mundialmente, em mercados consumidores pujantes como os EUA, o país em que tomar café é algo absolutamente cotidiano, resultando em redes poderosas como a Starbucks, na segunda bebida mais consumida no Mundo, só ficando atrás da água. A moça rica está com um semblante blasé, entediado, não muito seduzida pelo rapaz, talvez num casamento arranjado, tramado pelos pais da moça, nesta inclinação do Ser Humano em fazer escolhas que não trazem felicidade, no modo como a vida é feita de escolhas, como me disse uma amiga psicóloga, uma pessoa feliz.

 

Referências bibliográficas:

 

Agostino Brunias. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 9 ago. 2023.

Agostino Brunias. Disponível em: <www.masp.org.br/acervo>. Acesso em: 9 ago. 2023.

Agostino Brunias. Disponível em: <www.tate.org.uk>. Acesso em: 9 ago. 2023.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Ruas de Brunias (Parte 2 de 3)

 

 

Falo pela segunda vez sobre o artista italiano Agostino Brunias. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Dia de mercado. A criancinha com o tambor é o ritmo, em raízes afro, nas batidas que se mostram com liquidez, com um processo fluindo de forma natural, no curso de um rio, nos rumos naturais da vida da pessoa, no processo da criança se tornando adulta, num encadeamento de processos, como entrar num curso universitário e também no sentido do espírito crescendo em depuração e aprimorando-se moralmente, como num sociopata de raso apuro moral, o qual passará por muitas vidas, aprimorar-se-á e tornar-se-á um grande espírito de luz, bondade e verdade - é o caminho certo das coisas, pois ninguém é sociopata para sempre, no caminho da esperança do Espírito Santo, na promessa do glorioso dia de libertação, como um fardo pesado sendo largado, pois é só com humildade que se entra no Reino dos Céus, o lugar onde a mentira cai por terra totalmente, no modo como só a verdade é eterna; no modo como o sociopata mente sem parar, perdendo-se em suas próprias mentiras, numa alma transtornada, sofredora, andarilho do Umbral. O mercado é tal atividade tão ancestral e universal, com as especiarias do Oriente seduzindo a Europa, em rotas comerciais de navegação, numa China tão pujante, exportando para o Mundo inteiro, na contradição chinesa: comunista de jure; capitalista de facto. É como no início do episódio quatro de Star Wars, falando das rotas de comércio entre lugares de uma mesma galáxia, nesta infindável sopa de galáxias que é o Cosmos, num lugar vasto demais para a compreensão humana, no mistério infinito de Tao, no presente inestimável da Vida Eterna, na inconcebível perspectiva de que jamais findaremos, algo grande demais para caber na cabeça do belicoso Ser Humano, um ser especialista em crueldades como as guerras, deixando cruéis rastros de fome e destruição, em déspotas como Putin, sendo criticado por toda a comunidade internacional, nesta fome napoleônica por poder, e, nessa infindável fogueira de vaidades, Jesus permanece soberano em sua humildade, observando os egos humanos ascendendo e descendendo, como na humilde figura folclórica brasileira do Preto Velho, quietinho no seu canto, só observando o Mundo de forma remota, sem se envolver em disputas de egos e quedas de braço, na recomendação taoista: Numa queda de braço, perca, pois quem vence, entra em inferno astral, ou seja, sofre. Aqui é o poder aquisitivo das mulheres ricas e finas, numa cena que vi certa vez num shopping, com a dondoca fazendo compras em lojas finas e, atrás da perua, uma empregada carregando as sacolas, numa mulher que se acha sexy demais para carregar as sacolas de suas próprias compras, nos abismos sociais que se dissipam com o desencarne, na metáfora dos anéis sumindo e os dedos permanecerem em humilde nudez. Aqui talvez é a compra de tecidos finos, que seduzem em tal sofisticação e delicadeza, no momento em que o Ser Humano parou de usar peles de animais e começou a costurar e tear tecidos, no poder transformador das mãos humanas, do artesanato, no modo como os macacos não têm tal capacidade intelectual, apesar de serem animais relativamente inteligentes. A elegante senhora em pé sofre um assédio de um cavalheiro, num jogo social de sedução, como numa festa, numa menina e um menino se engraçando, beijando-se e “casando na festa”, como crianças no Ensino Médio, na afloração da sexualidade, numa imponente Marta Suplicy, dando uma palestra a uma plateia de adolescentes e dizendo: “A adolescência é uma época em que se masturbar dez vezes por dia é perfeitamente normal!”, impactando os jovens que assistiam. O chão aqui é simples, de terra, sem pavimentação civilizatória, remetendo ao passado de cidades as quais, em dias de chuva forte, os habitantes tinham que andar na Rua com galochas para evitar as poças de lama. A tenda montada é grotesca, simples, um tanto simplória, como num empreendedor que não se importa muito com a aparência de sua própria loja, como num magazine de Capão da Canoa, o qual tem o visual que tinha há muitas décadas atrás, talvez por influência de um velho proprietário que ainda dirige o estabelecimento. Aqui é uma mulher em compras, como já ouvi dizer: Fazer compras levanta o astral de qualquer menina ou mulher.

 


Acima, Embate entre negros ingleses e franceses. A eterna rivalidade entre essas duas nações, na soberania inglesa do Brexit, negando se anexar à zona do Euro, numa Inglaterra desde muito soberana, como na Igreja Anglicana, rompendo com o todo poderoso Vaticano, em cisões como no advento da Igreja Universal, abocanhando fiéis católicos, numa igreja que tanto enriquece, pois não precisa pagar impostos. Aqui é um mundo de homens, uma rixa de galo, na universalidade do Yang, do agressivo, num espírito de guerreiro, que sabe que não há vitória sem luta, como nas tribos amazonenses, com lutas entre homens da tribo, na universalidade das lutas, como capoeira, judô, caratê etc., na figura do deus Marte, o deus da guerra, em sanguinolentos campos de batalha, num dia vermelho, na paz fúnebre dos que pereceram no campo de batalha. As varas com as quais os homens lutam são o falo, como na espada, nos sabres de luz do jedis de Star Wars, no modo como as competições são tão sedutoras, como em jogos de Copa do Mundo, com o Brasil simplesmente parando para ver o jogo com a seleção canarinho, num certo machismo, pois os jogos da seleção feminina não causam tal comoção federal no Brasil. Aqui é um desentendimento, num momento em que o tato diplomático nada pode fazer, havendo no diplomata tal figura fina de paz, sempre primando pelo diálogo, como num homem de Tao, o qual nunca recomendará violência, pois quando Tao é perdido, o caos reina, como nas guerras mundiais, épocas em que se ouviam notícias tão tristes e aterradoras, em impactos comunitários totais, como na interrupção da Festa da Uva em tempos de II Guerra Mundial, num momento em que não havia clima para festa, havendo no ano de 1949 um momento de esforço comunitário para superar as cinzas da guerra e retomar a Festa. O embate aqui é um sucesso de plateia, seduzindo espectadores, como num espetáculo público. O cenário é simples, de chão de terra e uma casa humilde, da pobreza do escravo africano e do descendente deste, gerando os cinturões brasileiros de miséria, nos quais, infelizmente, há muitos negros de pardos, nesta herança social escravocrata, no escravo sendo libertado e assumindo o sobrenome de seu ex senhor, como Silva, por exemplo. Aqui é um impasse diplomático, como num país que, em posição poderosa mundial, quer impor à força suas leis universais, como no colonialismo inglês, impondo tal estilo de vida para terras selvagens e pouco civilizadas, na imposição do modo ocidental de vida, impondo a religião cristã e condenando os hábitos canibalistas de tribos brasileiras, no caminho do apuro moral, com irmão respeitando irmão, nos esforços do padre na missa em dizer que somos todos irmãos, filhos do mesmo Útero Imaculado, a Mãe de todos que nos concebeu de forma tão amorosa e especial, fazendo cada um de nós príncipes especiais, havendo em nossas veias o sacro sangue estelar metafísico, o qual tem como cópia as realezas mundanas, as quais representam tal dimensão atemporal e fina, nobre, pacífica, construtiva – é nossa família sagrada. Os pés descalços são a simplicidade, como uma pessoa de pés descalços dentro de casa, num momento de intimidade e sem frescuras, numa pessoa que aprendeu a ser mais Yin dentro de si mesma, deixando lá, do lado de fora, as lutas de Yang, o guerreiro que sabe que deve haver luta e coragem. Podemos ouvir aqui os gritos dos que assistem, num falatório caótico e confuso. É como ver sangue em octógonos de luta, num chão já manchado pelo sangue de outros lutadores, num lugar simples, de luta, como no chão gasto de luta no fim de O Tigre e o Dragão, num lugar de um cheiro não lá muito agradável, precisando de uma limpeza feminina, como na casa bagunçada de um homem viril que vive sozinho, precisando desesperadamente de uma figura materna, que arrume a casa, como um certo senhor que conheço, cuja casa, antes de se casar, era um caos de desarrumação.

 


Acima, Mercado de linho. Aqui esta predileção de Brunias por mercados públicos, remetendo ao majestoso Mercado Público da cidade de São Paulo, com produtos de alta qualidade e preços módicos. O centro do quadro, numa claridade, é uma senhora muito elegante e arrumada, com o poder aquisitivo de comprar tal linho fino, tecido pertinente em terras de calor tropical, como no Antigo Egito, no qual, em seu clima tórrido desértico, o linho era roupa de faraó, num privilégio para poucos, num tecido que “respira” tão bem em climas quentes. As mulheres negras comerciantes ocupam uma posição mais humilde na pirâmide social, nos moldes sociais do estado da Bahia, na herança colonial na qual o negro pobre trabalhava para o branco rico, gerando então a classe média baiana, na qual o empregado é, normalmente, negro, num caldeirão social narrado a mim por uma mulher branca que morou em Salvador nos anos 1970, uma mulher que disse que, quando pegava um Ônibus para ir ao colégio, entrava num veículo repleto de pessoas negras, no modo como estas olhavam para tal branca perguntando-se: “O que esta branca está fazendo aqui entre nós, negros?”. Aqui são essas tentadoras paisagens tropicais, como na exuberância do Rio de Janeiro, numa deliciosa mescla de urbe com natureza, mas numa cidade na qual a segurança pública é complicada, em toda a violência que se deriva do narcotráfico, destruindo as vidas de usuários e aniquilando carreiras, como numa Whitney Houston, cuja voz foi completamente devastada pelas drogas, num caminho triste, como um senhor narcodependente que conheço, o qual está condenado a passar o resto de seus dias numa clínica psiquiátrica, numa vida devastada, sem qualquer chance de reerguimento ou superação. O mar aqui é paradisíaco. O mar é o prazer, numa delícia, como numa lua de mel no Nordeste do Brasil, num lugar que é cópia fiel do Éden, como uma flor de plástico imitando uma flor natural – tudo na Terra é cópia do Céu, a dimensão perfeita a qual espera por todos nós, na promessa de libertação de Santo Agostino, digo, Agostinho, na carne que perece e no espírito que sobrevive a tal morte carnal. Num grande contraste cultural, vemos nativos quase nus, nesta grande estupidez que é a escravatura, trancafiando seres humanos como se esses fossem cachorros num canil, remetendo ao novelão Sinhá Moça, com a dura vida dos negros na senzala, condenados a uma vida inteira de labor forçado, tudo em nome da ambição dos senhores do café, num grão tão precioso, exportado para uma Europa sedenta por tal bebida universal, no boom de lojas no Mundo da rede Starbucks, num produto caro, mas de alta qualidade, ou seja, um preço que se revela razoável. Aqui, apenas a mulher rica tem um chapéu ocidental, por assim, dizer, quando que as demais mulheres, as mulheres do povo, têm seus tradicionais turbantes africanos, num costume baiano, como na cozinheira parda Bela Gil, arrumando seu cabelo com tal turbante, nos turbantes de adeptos de religiões afrobrasileiras, em tambores complexos, nas religiões dos socialmente execrados, como pretos, pobres e homossexuais. O linho aqui é tal moeda de troca, num privilégio para poucos, no fino que se revela forte, pois na grosseria e na fragmentação não há força, mas destruição, no título do vilão Esqueleto: “O senhor malévolo da destruição”, como islâmicos em júbilo ao cair da torres gêmeas, ou como na torre malévola de Mordor, de Tolkien, ruindo ao final da saga, em rupturas, como no homem europeu escravizando o homem africano, com irmão explorando irmão, tudo em nome do maldito Anel do Poder, pois quando você imagina o que você faria se tivesse o Anel, é porque este já está de apoderando de sua mente, como na recomendação de nunca se dar informações pessoais a um sociopata, o qual é uma comadre malévola, ardilosa e manipuladora. Este quadro é uma revelação de poder mundano, dinheiro, no modo como um agente de viagens ama clientes que compram passagens na primeira classe de um voo, no modo como tudo no Mundo gira em torno de dinheiro, o qual traz tudo, menos o que importa, que é Amor – pode-se ser feliz com pouco.

 


Acima, Mulher com criança e servente. A vara na mão do menino maior é o corte de atalhos, na praticidade do pensamento racional, na fria beleza dos números, em equações sendo resolvidas friamente, nas luzes científicas, fazendo da Ciência uma grande aliada do Espiritismo, o qual funciona por meio do pensamento lógico: Nada teria sentido sem a imortalidade da alma, na diferença entre fé e Ciência, pois esta não consegue ver além da morte do corpo físico, como diz Oráculo ao fim da trilogia Matrix: “Eu nunca soube, mas eu acreditei!”. O menino dá sinais de que se tornará homem feito, no senso de praticidade Yang, num homem centrado, pés no chão, assim como os pobres pés descalços do menino, havendo nos tênis um bem de consumo tão desejado, pois um par de tênis é caro, além do poder aquisitivo de muitos consumidores, nas palavras sábias de uma pessoa para mim: “Cuidado com esses tênis!”, um bem de consumo tão desejado por um assaltante invejoso, o qual mata por um par de tênis, como um rapaz digno e nobre que conheci em Porto Alegre, um jovem que foi assassinado por um bandido que queria o carro da vítima, havendo nesta uma pessoa boa, nobre, a qual certamente ocupa altos cargos no mundo real, que é o Metafísico, havendo nas aparências da carne uma ilusão, como em atletas que se “matam” para ter um condicionamento físico de desencarnado, na beleza da juventude eterna, como uma senhora amiga minha que faleceu recentemente, a qual deve estar hoje, lá em cima, linda como no dia do casamento dela, um espírito amoroso, que foi direto para o Céu. A servente parece dar uma instrução ou direção à senhora rica, como uma placa orientadora de trânsito, instruindo quem não é familiarizado com tais vias, numa pessoa perdida em um labirinto existencial, talvez solitária, respirando o ar pestilento de um submundo, perdendo o contato com algo fundamental, que é o Senso Comum, no modo como nossos pais nos colocaram no Mundo para o Mundo, e não para um submundo. A servente está descalça, havendo no calçado um símbolo de status social, como nos salões nobres do famoso Titanic, numa pessoa que, apesar de estar cercada de regalias, está infeliz, como Rose, uma menina que estava gritando por dentro, querendo se libertar, mandando a própria mãe à merda, com o perdão do termo chulo, no caminho que é a pessoa crescer e sair de casa. A criancinha menor é a vulnerabilidade e a dependência, como num filhote dependente, em pássaros filhotes num ninho, sem conseguir voar ainda, alimentados no bico por uma mãe zelosa, fornecendo vermes ou insetos como alimento. O decote das servente é a sensualidade tropical, nos exóticos trópicos seduzindo Brunias, como turistas do Mundo inteiro que são ao Rio de Janeiro, querendo vivenciar a sedução da América do Sul com sua vegetação exuberante e seus tambores exóticos, num Brasil cujas riquezas minerais foram tão exauridas por Portugal, pois riqueza e pobreza estão relacionadas, como numa pessoa que ostenta riqueza: Como são ricos! E roubaram tudo dos pobres! Como numa África exaurida, paupérrima, com riquezas sendo sugadas por potências europeias, numa herança social que traça até hoje a pobreza do continente negro, ao contrário de um Egito, cujo passado de glória e riqueza dava a tal nação o status de superpotência, militarmente temida pelos reinos vizinhos, os quais não ousavam contradizer o faraó, havendo em Cleópatra o fim de tal linhagem faraônica, num Egito que passou a ser uma mera província de Roma; num Egito que hoje é apenas um sítio arqueológico – os egos de poder humano ascendem e descendem, na eterna fogueira de vaidades humanas. Os trajes da senhora expressam tal status social, num mundo de privilégios e regalias, como no monarca inglês, dono de inúmeros imóveis, numa Inglaterra que só se tornou potência após o reinado emblemático de Elizabeth I, uma mulher que provou ir além do que muitos homens, num ícone feminista que mostra que inteligência não tem gênero.

 


Acima, Mulher com servente negra. Brunias adora esses quadros de motif social, com os abismos entre classes, como na supersérie Downton Abbey, mostrando o modo inglês entre classes sociais, com o Mundo dividido entre dois mundos: acima das escadas, que são os ricos, e abaixo das escadas, que são os pobres – uns com tanto e outros com tão pouco! É como num prédio que conheci em Salvador, com uma minifavela ao lado, com a máxima: Manda quem pode; obedece quem tem juízo! A roupa da mulher rica é suntuosa, majestosa, digna de rainha, com tecidos finos e caros, como um rapaz estiloso que conheci, o qual comprou fina seda e mandou fazer camisas, havendo na suavidade de um tecido metáfora com o cuidado e o carinho, virtudes dos espíritos nobres, de grande apuro moral, numa hierarquia que nunca é imposta à força, como num fino anfitrião numa sala – o fino e caro lustre multicolorido de cristal de nada adiantará com um anfitrião grosseiro e desagradável, na questão de que até a mais linda moldura não poderá valorizar um quadro ruim, no modo como já ouvi dizer que no Louvre as molduras são um espetáculo à parte. A negra servente é a resistência social e racial em meio a uma sociedade tão dura e racista. O peso é tal fardo de trabalho, como um porteiro de prédio, o qual sua em todos os sentidos para manter limpas as áreas comuns do prédio, numa vida tão árdua, como um caminhoneiro, o qual tem que passar os dias e noites de sua vida viajando Brasil acima e abaixo, num trabalho que não rende dinheiro o suficiente para acumular; num trabalho que só serve para pagar as contas – é muita dureza. A árvore é a família, com seus ramos se desenvolvendo e enlaçando-se com famílias vizinhas. A árvore é o lembrete de que somos todos do mesmo cesto, da mesma família, havendo no desencarne a sinalização de que somos conectados, na metáfora da Internet, a qual faz metáfora com o Cosmos todo interligado no arquétipo sensual rei/rainha, nos opostos fazendo amor no orgasmo de uma supernova explodindo, numa sexy operadora de telefonia com voz aveludada, como na voz de veludo de Nat King Cole, seduzindo o Mundo em meio a um talento tão célebre, na capacidade instintiva de certas pessoas em seduzir o Mundo, num caminho autodidata – não há livro ou faculdade que nos ensine a viver. É como na força e no instinto de uma Gisele, a qual enfrentou uma grande provação, que é superar suas raízes humildes para se tornar a princesa do Brasil, num ícone de orgulho nacional, como Senna e Pelé. Ao fundo no quadro uma negra e um menino conversam, talvez numa língua nativa, como no tupiguarani, diferente das línguas mães europeias, no modo tais sociedades pré Escrita desenvolvem oralmente suas tradições, em noções passadas de geração para geração, havendo na Escrita um passo decisivo na Humanidade, no acúmulo de conhecimento, desembocando na Tecnologia Digital, a qual tanto poupa o desperdício de papel, num paradigma indestrutível: Quem não está online, não vive no Mundo real. Ao fundo, morros pedregosos, que são a dureza da Vida, numa pessoa subserviente que não teve acesso a educação ou ensino, como em humildes garis varrendo as ruas de uma cidade, levando uma vida tão dura e difícil, no modo como já ouvi dizer, e assino embaixo: A Vida é dura e difícil em qualquer lugar, nas palavras de Sinatra: “Se posso obter sucesso em Nova York, posso obter sucesso em qualquer lugar!”. A mulher rica é o destaque do quadro, nesta paixão de Brunias por mulheres elegantes, como numa Vênus de Botticelli, protagonista, estelar, no centro das atenções, assistida por uma aia humilde, coadjuvante, no secundário que se revela primordial: Quando digo que vejo uma estrela, é porque vejo ao lado algo menor do que tal estrela. A mulher rica aqui é um demiurgo, restando à negra o duro trabalho braçal subserviente, na imagem que já citei aqui no blog sobre outra obra de Brunias, com a dondoca que se acha sexy demais para carregar as sacolas de suas próprias compras, no modo como uma pessoa rica desocupada é uma pessoa de grande miséria existencial.

 


Acima, Mulheres com crianças e serventes. Aqui é o modo como o estilo de vestir fala sobre status social, com as mulheres ricas em seus adornos exuberantes de cabeça, algo simplesmente negado a mulheres mais pobres, as negras, no racismo que tantos séculos de escravatura gerou, em heranças sociais que perduram até hoje, nos pretos pobres de favelas, fazendo da escravatura um símbolo da crueldade ambiciosa humana, num rei que quer anexar os reinos vizinhos, agredindo assim a Paz, valor tão defendido pelo tato diplomático. Bem ao fundo, num detalhe, vemos uma negra com uma criança branca – é a mãe de leite, ou a mãe preta, no leite de negras que alimentam bebês de famílias brancas ricas, nos apelos dos bancos de leite materno para doação de leite, como uma pessoa que conheço, a qual doa sangue periodicamente, numa intenção nobre de ajudar o próximo. Os cachorrinhos minúsculos são a obediência, na dádiva que é uma criança bem comportada, como um aluno que obtém notas altas no colégio, no caminho da disciplina, havendo a dureza do diretor de escola, tendo que ser duro para manter na linha tantas crianças e adolescentes, no modo humano de impor uma hierarquia por meio da força, e não por meio da virtude, como na rígida hierarquia militar, dura, por vezes cruel, em Caim se achando no pleno direito de matar Abel. Os vestidos brancos são o esclarecimento, a inteligência, numa pessoa que acumula conhecimento, sabendo que há certos comportamentos que não são doenças, no caminho frio racional, numa pessoa que “colocou a cabeça no lugar” e parou de ouvir o traiçoeiro coração para, assim, ouvir a mente, como na personagem Ellen em A Época da Inocência, numa mulher que, no fim do filme, acaba caindo por si e manda o amante Newland à merda, com o perdão do termo chulo – bons filmes não envelhecem em seu apelo universal, numa Hollywood de altos e baixos, com o Oscar e a Framboesa de Ouro, na prova de que ninguém está por cima o tempo todo. Os cachorrinhos são a fragilidade e a vulnerabilidade, numa criança que inspira cuidados, como num íntimo relacionamento mágico, no momento de entrega no qual um se joga nos braços o do outro, encontrando consolo em meio a um Mundo tão duro, no sentido de um abrir suas tristezas para o outro, num momento profundo que NENHUM dinheiro pode comprar. Aqui vemos homens e meninos de farda, de vestes ocidentais, no modo europeu de ditar parâmetros absolutos de comportamento, como na imposição do Cristianismo, num indígena que não entendia o significado de Maria esmagando uma serpente, no modo indígena de lidar com mais naturalidade com o sexo e a sexualidade, longe das culpas negras católicas em relação a sexo e prazer, havendo um imenso prazer nos gostosos pecadinhos capitais, como a Preguiça, da qual nasceram as grandes invenções da Humanidade, como o elevador – porque eu tenho que me matar subindo escadas se posso pegar um elevador? Aqui, os rostos negros colocam em evidência os brancos, nas palavras elitistas da famosa socialite carioca Carmen Mayrinck Veiga, a qual declarou que já trabalho na vida como uma negra, atiçando protestos no Brasil inteiro com uma colocação de fato racista, porém engraçada. O menininho branco tem sapatos, ao contrário dos menininhos pretos, descalços, para deixar bem clara a questão hierárquica, numa pessoa que tem que depender de doações se quiser calçar um sapato, mesmo que usado e esburacado, no conselho taoista de misericórdia: Nunca seja mesquinho em relação a comida, como já vi donos de restaurantes dando comida de graça para homens miseráveis, no modo como eu mesmo tive, certas vezes, que depender da gentileza de estranhos. O que é caridade? Caridade é entender como o outro se sente, na sensibilidade do Yin, na clemência, no Amor entre irmãos, filhos do mesmo Rei Supremo, que é a razão de tudo. Aqui, há a inocência da criança, numa época em que as amizades são sinceras e simples, sem noção de abismos sociais, numa idade em que a criança traz um residual de vida metafísica, na pureza do puro Amor entre irmãos, ao contrário do sociopata, o qual começa desde cedo sua carreira criminosa, agredindo os coleguinhas na escola – é um horror.

 

Referências bibliográficas:

 

Agostino Brunias. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 9 ago. 2023.

Agostino Brunias. Disponível em: <www.masp.org.br/acervo>. Acesso em: 9 ago. 2023.

Agostino Brunias. Disponível em: <www.tate.org.uk>. Acesso em: 9 ago. 2023.