quarta-feira, 29 de junho de 2022

Helen de Troia (Parte 4 de 9)

 

 

Falo pela quarta vez sobre a talentosa pintora escocesa Helen Flockhart. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Calêndula. As flores são tal símbolo de feminilidade e delicadeza, na sobreposição do sutil sobre o vulgar e o óbvio, no modo como os cânticos de Whitney Houston em I Will Always Love You remetem a um belo buquê de rosas, em tal símbolo de beleza e fragilidade no discernimento taoista: Fino é forte; grosso é fraco. Aqui é um jardim de delícias, numa Disneylândia cheia de atrações e coisas divertidas, na etérea Cidade das Crianças na Argentina, no termo Jardim de Infância, na candura infantil de uma criança que traz um certo residual do Plano Metafísico, o plano em que estamos cercados de amigos, ao contrário do Umbral, onde ninguém ama ninguém, num lugar infernal como um presídio. É a pureza infantil. Aqui temos um fidalgo beijaflor, namorador, pulando de flor em flor, na polinização primaveril, nos majestosos ipês roxos nas ruas de Porto Alegre, deixando, na Primavera, um tapete de flores nas calçadas da capital gaúcha, uma cidade a qual guardo em meu coração, pois me sinto um portoalegrense adotivo. O beijaflor é a libido, no instinto sexual de perpetuação da espécie. Aqui podemos quase ouvir os sons do jardim, com pássaros cujo canto é um colírio para os ouvidos, num lugar tão cheio de vida, tão diferente de um morto cemitério, no modo espírita de lidar com naturalidade em relação à inevitável morte, longe de escuros e dolorosos rituais fúnebres, naquele caixão o qual, ao ser enterrado, nos dá a impressão de que jamais veremos aquela pessoa novamente, o que é uma ilusão, no poderoso fato de que a Mente sobrevive à morte do Corpo. As flores são a naturalidade, o inevitável, como no inevitável crescimento de uma pessoa numa dada encarnação, num crescimento formidável que nos dá a vontade de voltar ao passado e “passar uma borracha” em tudo, como no título do livro escrito por Gisele: “Aprendizados”, na ironia na qual ninguém está por cima o tempo todo, num livro que acabou não sendo tão bem sucedido – é a Vida, Gi! A mulher aqui é o receptáculo feminino, numa jarra, como numa flor deflorada pelo beijaflor, cujo bico é o falo do unicórnio, na espada do enfrentamento, numa pessoa se impondo ao Mundo, mostrando que Zezinho é dono da vida de Zezinho, no modo como não podemos fazer com que o Mundo nos dite como devemos viver nossas vidas, no caminho de uma saudável agressividade, numa pitada de Yang em tal feminino jardim, na polinização do esperma, da semente, no ritual de casamento que nos dá um gostinho da plenitude de desencarnados, na dimensão em que não só somos felizes como sabemos que somos felizes, no paraíso para aqueles que querem se manter espíritos produtivos e trabalhadores, mas sem ser workaholics, pois até Tao é tal elaborador, no infalível ditado: “Cabeça vazia é oficina do Diabo”, ou seja, produtividade sempre, numa construção de carreira, num pai orgulhoso do filho no dia de formatura de tal filho. A mulher aqui está num perfil egípcio, na constância milenar dos padrões estéticos do Antigo Egito, com as figuras humanas eternamente de lado, de perfil, havendo na história de tal civilização a transgressão herege no faraó Aquenáton, o qual, sendo um indivíduo, desafiou tais tradições imutáveis, no modo como os transgressores acabam causando o crescimento de um corpo social, como uma feminista “remando contra a maré”, apontando a universalidade dos preconceitos do patriarcado, nos quais a mulher é um cidadão de segunda categoria, tendo que ser sempre respaldada e representada por um homem, seja o marido, o pai, o patrão ou o Papa. Aqui os seios da mulher estão ressaltados graficamente, como nos seios cônicos de Madonna, combinando feminilidade com força abrasiva, em artistas que se impõem ao Mundo, desafiando “ranços” milenares. A mulher não sorri, e observa tudo sem expectativas, as quais são as responsáveis pelas frustrações, numa pessoa que aprendeu a não esperar “mundos e fundos” do Mundo, no caminho espírita da mortificação, abandonando tolas crenças como acreditar em “felizes para sempre”, numa vida que segue sempre.

 


Acima, Costela trapaceira. Aqui novamente uma mulher de perfil egípcio, altiva, orgulhosa, talvez herdeira de alguma tradição secular, como numa família de realeza, com a dignidade de representar todo um povo, toda uma história e toda uma tradição, no contraste da Inglaterra tradicional com a moderna, na consideravelmente controversa pirâmide de vidro do Louvre, a qual causa grados e desagrados, como num senhor intelectual que conheço, o qual diz ter dois olhos: um tradicional e um avançado, como na formidável transgressão da Semana de Arte Moderna, trazendo todo um desejo de identidade brasileira, talvez longe de rígidos padrões clássicos europeus, como na pintura acadêmica de Pedro Américo ou de Pedro Weingärtner, antepassado este de familiares meus, neste jardim onde os ramos vão se entrelaçando em casamentos entre famílias e linhagens, como na curiosa e única miscigenação brasileira, ao contrário dos EUA, nos quais branco tem filho com branca e negro tem filho com negra, normalmente. Os cabelos aqui são como algas, no odor de mar, de origem, de proveniência, na sensação libertadora que o vazio da orla traz, no cheiro marítimo, da Grande Mãe Oceânica que trouxe a Vida para a Terra, nos mistérios de exploração: Por que a Terra é tão rica e os outros planetas tão pobres de vida? A gola da mulher é um tanto elizabethana, no boom renascentista das explorações além mar, na competição para ver qual a potência europeia obteria a maior fatia das Américas, num rei infeliz, que nunca está feliz dentro do próprio reino, sempre querendo anexar territórios vizinhos, como na insana Guerra na Ucrânia, num Putin que nada mais tem para fazer de sua vida de ditador disfarçado de presidente democrático, homofóbico ao ponto de proibir na Rússia a exibição do filme sobre Elton John, por causa do teor homoerótico – és teu próprio flagelo. Os cabelos aqui são como as serpentes de Medusa, no mito misógino que coloca o feminino como a fonte dos flagelos da Humanidade, num monstro poderoso, feio ao ponto de causar a morte do homem que olha para Medusa, na prisão da mulher em relação ao espelho, como nos cruéis padrões de beleza semianoréxicos, naquela magreza em que os ossos do peitoral da mulher ficam expostos, atingindo em cheio a autoestima de mulheres as quais, apesar de lindas, não se acham tão lindas assim. O nariz da mulher é cheio de personalidade, protuberante, no charme de narizes descomunais, numa Barbra Streisand, num “feio bonito”, charmoso, fazendo com que certas imperfeições fiquem tão sexy e instigantes, no fato de que não existe, no Plano Material, a beleza perfeita. A mulher fita o espectador, num Helen Flockhart entrando em nossas mentes, talvez aqui num autorretrato, como numa Frida Khalo, com tantos autorretratos em suas obras célebres, na prova de que uma mulher pode ser tão boa quanto um homem, no sonho feminista de equiparação entre os gêneros, na frieza da Lei, a qual pune igualmente o assassinato de um homem e de uma mulher, no caminho espírita do Humanismo, a força que nos faz irmãos, na assexualidade dos anjos, no modo como inteligência não tem gênero, ao contrário do absurdo de dizer, por exemplo, que siamês não é gato. O pescoço da mulher é longilíneo, como de uma Nefertiti, a “Monalisa” do Museu de Berlim, uma mulher que, apesar de morta, segue viva numa briga entre Egito e Alemanha, países disputando pelo busto famoso, numa Helena de Troia fazendo da beleza tal sensual pomo de discórdia. A gola aqui é como um doce mil folhas, como num livro volumoso, gordo, que exige muitas horas de leitura, na revolução da tecnologia que fez possível a impressão em massa de livros. O figo aqui está partido ao meio, revelado em seu interior, no Útero Imaculado de Maria, a fonte de cada um de nós, os filhos pecadores. O figo aqui é uma revelação, como num astro sendo revelado ao Mundo, no sonho de um artista em se tornar tal estrela atemporal no Céu, vibrando com seu brilho fino e limpo. O figo é algo delicioso, como num trabalho que traz satisfação ao trabalhador, no poder da disciplina – não dá para viver “ao sabor do vento”.

 


Acima, Demétrio e Abas. Aqui temos uma altivez de monarca, talvez num espírito o qual, numa encarnação anterior, foi de fato governante, no dito popular: “Quem já reinou, jamais perde a majestade”. O pescoço é a força, a sustentação, no fascínio universal do busto de Nefertiti, num pescoço delgado, aristocrático e elegante, no fato de que elegância vem de dentro, no caminho autodidata no qual a pessoa tem que aprender, por si, o que é ter estilo e bom gosto, num caminho de crescimento e depuração. As plumas são o cuidado e a suavidade, no fascínio de uma cama deliciosa com lençóis de cetim, algo tão romântico como uma lua de mel em Gramado, ou Paris, a cidade dos amantes, numa doçura de recém casados que pode perecer, fazendo com que o casamento entre na mesmice rotineira e com que o sexo comece a se tornar mecânico e sem romantismo. Os cabelos são tortuosos e sedutores, nas forças marítimas que fascinam e subjugam o marinheiro, na generosidade da Mãe Iemanjá, trazendo fartura às redes dos pescadores, no milagre cristão da multiplicação dos pães, como num reino farto e rico, como num Canadá, um país tão repleto de qualidade de vida, em contraste com nações tão miseráveis, como a Coreia do Norte, regida por um tirano que tem aversão a qualquer liberdade de expressão – é um horror. Vemos aqui um lagartinho, tortuoso, remetendo a um belíssimo par de dragões chineses que tive, comprados em Nova York, a cidade que fede a cultura e arte, na pulsação da Broadway, o mercado no qual medíocres não têm vez, numa Barbra Streisand, a qual, antes de se tornar tal diva monstruosa, começou humildemente, sendo lanterninha dos teatros novaiorquinos, no caminho da humildade, numa pessoa que começa por baixo e, com força e persistência, sabendo de seu próprio potencial, vai obter sucesso mais tarde, inevitavelmente, ao contrário da teimosia obstinada, numa pessoa que não tem potencial para um determinado trabalho, como numa moça que se inscreveu duas vezes no concurso de escolha de Rainha da Festa da Uva de Caxias do Sul – é a questão da dignidade e do autorrespeito. A salamandra é furtiva e brincalhona, liquidiscente, difícil como capturar um peixe na água, no termo “sabonete”, designando pessoas difíceis e fugidias, as quais parecem ter medo de parar e conversar confortavelmente, talvez numa pessoa com um certo desconforto existencial, a qual ainda não delineou muito bem qual é seu próprio lugar no Mundo, como numa peça exposta num museu, num objeto cujo uso é desconhecido, no caminho do ajuste e da adaptação, numa pessoa que encontrou algo de nobre para se centrar, como um senhor que conheço, pragmático, pés no chão, centrado no trabalho e na firma, num homem sério e firme, fazendo a uma mulher uma sólida e realista proposta de casamento, digno de receber o respeito dos sogros, ao contrário de uma pessoa sensível e sonhadora, com alma de artista. Os dedos da mulher são longilíneos, finos, como no elegante uso de talheres, na divertida cena de Julia Roberts se atrapalhando para comer um escargô, como uma fina senhora que conheço, a qual respeito, pois ela escreve livros de etiqueta, havendo no Plano Metafísico a plena polidez e nobreza, num lugar onde ambições e grosserias definitivamente não têm espaço, na máxima de contradição taoista: Fino é forte; grosso é fraco (apesar de parecer o contrário). Ao fundo no quadro, em detalhe coadjuvante, uma janela rubra, sensual, das cores do bordel, com árvores, que são a libido da Natureza em época de acasalamento, com galhos cujo “design” imita raios de tempestade ou veias de sangue, na força inabalável da Vida, na força dos campos magnéticos dos planetas, fazendo da magnetosfera terrestre uma proteção contra raios nocivos no Sol, colocando a Terra na posição ideal para se ter Vida, esta força tão rara, ao menos até o presente momento de avanço científico astronômico. A roupa aqui é rica como uma mina, luxuosa, cheia de riquezas, de pérolas, fazendo metáfora com a riqueza do caráter de uma pessoa a qual simplesmente odeia mentir.

 


Acima, Fique um tempo. Aqui temos uma espécie de Pietà, num Complexo de Édipo, na Virgem chorando, a mulher à qual foi negado ter sexualidade, na castração patriarcal, colocando o pênis acima da vagina, numa hierarquia a qual, sendo subjetiva, acaba sendo objetiva. Aqui é a letra da canção brega: “Aqui nesse lugar, não há rainha ou rei. Há uma mulher e um homem trocando sonhos fora da lei”, brincando com o nome “Édipo Rei”. As flores são o cortejo, num amante entregando um vistoso buquê de flores românicas, as quais não são o suficiente, pois num relacionamento, que tem os pés no chão, a cabeça e a fria razão têm que ter espaço, abreviando caminhos e vendo o Mundo do jeito que este é. As flores são o buquê da noiva, na entrada solene no Templo, nessa expressão de tanta magia feminina ao redor da noive pura e casta, a contrário do homem, cuja sexualidade é estimulada e encorajada desde cedo na vida, na ida do rapaz ao bordel para perder a virgindade, no patriarca que só vê duas mulheres – a santa e a puta, com o perdão do termo chulo. Aqui é a Madona e o filho, no binômio poderoso mãe filho, numa embalagem de fraldas com a mãe carinhosa com o filho, relegando a mulher a tal escravidão do lar, numa mulher que vive a vida inteira na sombra do marido, o qual, no casal, é o único a se realizar de fato profissionalmente, nos esforços feministas de dar à mulher o pleno direito de liberdade e de construção de carreira, num Mundo que até está evoluindo dessa maneira, pois a inteligência do espírito independe de estar em um corpo de homem ou de mulher, na ilusão no Plano Material, no qual a Humanidade está segregada entre banheiro masculino e feminino – os anjos não têm sexo. Aqui é uma inversão, pois o homem, o Adão primordial de Deus, está subalterno e coadjuvante, como uma mulher me disse certa vez: “Eu quero um namorado que seja mais alto do que eu”, como num Tom Cruise baixinho, exigindo que a esposa, na tapete vermelho, use um salto baixo, para não parecer que a astro é tampinha, o que é uma bobagem, no termo popular: “Tamanho não é documento”. Aqui é a magia universal do casório, no momento mágico cósmico da união entre Yin e Yang, desde um casamento tribal indígena na Amazônia, com o noivo e a noiva fazendo sexo na frente de toda a tribo, numa vibrante avenida apolínea do glamour dos recém casados, fazendo metáfora com a plenitude perfeita metafísica, o lugar mágico onde não há os percalços carnais, como a fadiga, o cansaço e o esgotamento, num paraíso para os que gostam de se manter produtivos – que esperança há fora do trabalho? Não é Tao tal trabalhador? Helen Flockhart gosta de figuras em perfil, e o olho parece um peixe, livre na água, devorado cru e ainda vivo pelo monstrinho Gollum, de Tolkien, o personagem mais fascinante de toda a obra do autor brilhante, no modo como o desejo de poder pode corroer até o coração mais nobre, numa história sombria, que revela a fraqueza humana perante o Anel, muito longe dos heróis bondosos e perfeitos de Disney. O branco, é claro, é a virgindade, como num pai o qual, ao ver a filhinha nascer, diz a si mesmo: “Esta eu vou guardar debaixo de sete chaves e entregar pura e casta ao marido na Igreja”, na exigência do concurso a Rainha da Festa da Uva, que exige que a moça inscrita seja solteira, ou seja, virgem, ao menos na teoria. O homem aqui está em posição fetal, uterina, como numa cama aconchegante, fazendo do útero a cama mais confortável de deliciosa de todas, fazendo uma cópia mundana da cama na qual dorme um rei ou rainha, na deliciosa sensação de liberdade e paz da Experiência Extracorporal, no mágico momento em que o espírito se liberta por algum momento do corpo físico, dando uma amostrinha da plenitude gloriosa do Plano Metafísico, o lugar onde, acima de tudo, há Saúde, em todos os sentidos – Saúde não é tudo? O fundo aqui é cinzento e incerto, na junção do branco da noiva com o preto do noivo, como no Castelo de Grayskull, o castelo da caveira cinza, palco de competição entre o Bem, que é a Luz, e o Mal, que é a Escuridão.

 


Acima, Olho da amante. A gola é a aprumação, no ritual diário em frente a um espelho, ajeitando os cabelos, na exigência social de uma pessoa sair de casa arrumada, como num homem fazendo a barba diariamente, num cavalheiro limpo e perfumado, no fascínio exercido pelos aromas, como nas especiarias orientais que tanto encantaram a Europa, na universalidade humana em relação à limpeza e à pureza, no fascínio da perfumaria. O nariz da mulher é desproporcional, descomunal, como numa pessoa de inteligência descomunal, deixando-nos perplexos com tal inteligência emocional, com tal instinto O pomar aqui é fértil, próspero, no costume de antigamente, quando um vizinho visitava o outro vizinho levando algo do pomar de sua casa para a casa do anfitrião, numa troca de gentilezas, como no imigrante italiano no RS, num domingo improdutivo, fazendo com que a único programa de domingo fosse visitar os colonos dos lotes vizinhos, numa pessoa feliz dentro de sua própria vizinhança. A moça é a seriedade, talvez num momento áspero, e não vemos qualquer resquício de sorriso, na seriedade inevitável da Vida, esta força cheia de percalços que faz com que evoluamos, tornando-nos pessoas melhores, mais sábias e mais nobres, na classe impecável dos espíritos de superioridade moral, no poder da verdade, que é eterna, sobre a mentira, que está fadada à danação. Aqui é uma colheita próspera, como na prosperidade agrícola do Nilo no Antigo Egito, e os pêssegos brotam doces, maduros e perfumados, no talento de Tao em criar as frutas, os sabores, numa incrível riqueza gastronômica, como na manga vinda da Índia, hoje uma fruta disseminada pelo Mundo, como uma pêra doce e suculenta, irresistível, na irresistível hierarquia entre os espíritos, fazendo com que façamos questão de obedecer a um espírito mais depurado. A mulher carrega uma joia, uma bijuteria, e é um olho, no terrível olho tirano do Sauron de Tolkien, num líder malévolo que quer manter tudo sobre controle, o que é uma ilusão: Quanto mais Tao você tem, menos controle você quer obter. A mulher aqui veste uma estampa com um casario à beira de um rio com uma canoa, que é a pesca, a lida diária, no fato de que a Vida é difícil em qualquer lugar, com pessoas iludidas, que se mudam de cidade, buscando, assim, fugir da seriedade da Vida, comprando a ilusão de que a Vida é fácil em um determinado lugar ou cidade, como num doce verão passando e indo embora, numa orla fria, chuvosa e cinzenta, deserta, deprimente, numa praia que nos mostra que a vida não é só verão. Aqui o olho é como um pavão exibido e luxuriante, num macho cortejando a fêmea, na competição atroz para ver quem passa para frente seus próprios genes, na inevitável lei da selva, fazendo metáfora com o mundo competitivo no qual vivemos, num mundo cheio de competições, no fascínio dos esportes, num Brasil que se une de norte a sul em época de Copa do Mundo, na pressão em cima dos pobres atletas, pressionados a trazer a taça para casa, num país interior pressionando o pobre atleta, como numa Whitney Houston, a qual passou a sofrer pressões gigantesca após o sucesso arrasador do álbum famoso de O Guardacostas, fazendo com que a diva, numa desesperada válvula de escape, recorresse à drogas, as quais devastaram a voz da cantora, no modo como são malditas as drogas, esses “remédios” que destroem vidas e levam o espírito ao Umbral, a dimensão onde não há contentamento – é um horror. Uma das palmas da mão está virada para cima, num gesto de aceitação, como no passe num centro espírita, com a pessoa, ao levar o amoroso passe de um médium, tem que posicionar as palmas das mãos para cima, aceitando aquilo que Deus lhe coloca nas mãos, havendo no suicídio um sacrilégio, jogando fora uma vida que Tao nos concedeu com tanto carinho. Aqui é um doce jardim, e podemos ouvir o doce canto de pássaros, esse bálsamo para os ouvidos, no modo como a Natureza está repleta de maravilhas, no esforço ecológico de preservação, como na complicada questão do lixo plástico, numa Baía da Guanabara abarrotada de lixo, infelizmente.

 


Acima, Sofrimento ou ataque. Aqui o quadro é bem sombrio, numa cena noturna em algum palácio europeu, num inverno gélido. O calor da lareira é ao acalento, o contentamento, o consolo em meio a uma noite tão fria. O fogo é a Vida que arde, nos animais de sangue quente sobrevivendo à catástrofe que dizimou os de sangue frio, no meteoro que matou os dinossauros. A lareira é a sedução entre enamorados, tomando um vinho à beira do fogo, no demônio Balrog de Tolkien, feito de labaredas e escuridão, com seu chicote inclemente, no delírio sadomasoquista, em joguinhos eróticos inofensivos, como numa sexshop com artigos que prometem apimentar um relacionamento, talvez num casamento que caiu na mesmice, com o sexo se tornando mecânico e impessoal, na contramão de fazer amor, que é um sexo manso, delicioso e cheio de intimidade, num maravilhoso momento de entrega nas mãos do enamorado. As tochas ardem como olhos e a lareira como boca, num demônio erótico cheio de sedução.  A menina aristocrática posa ao centro de tudo, talvez para um pintor. Ela está centrada, simétrica e comportada, disciplinada, como numa menina ainda muito jovem, recém começando a menstruar, e já negociada pelos próprios pais para um casamento arranjado, no qual, convenhamos, não há muito amor, mas muita conveniência, numa pobre menina sendo usada como moeda de troca, num mundo insensível, que sequer pergunta à pessoa se esta está feliz, fazendo com que seja necessário que a pessoa adquira o controle sobre sua própria vida, parando de se preocupar em satisfazer às expectativas de outrem – mostre para o Mundo o dedo do meio. Ao fundo vemos um cavalo domado, sonolento, contentado com o calor da lareira. O cavalo está entregue, adaptado, numa pessoa que se adaptou a algum local de vida, como se sentindo confortável dentro de uma empresa, contente em desempenhar seu papel no organismo. É a ato de relaxamento e entrega, como o dormente Marte de Botticelli rendido aos encantos hipnóticos de Vênus, no jogo de sedução entre ativo e passivo, na aranha passiva com sua teia, esperando que ali caia uma desavisada mosca. Ao fundo na janela, no negror da noite, vemos uma estrela cadente, talvez a Estrela de Belém que guiou os Reis Magos, no poder das tradições natalinas, numa época em que cidades como Nova York se enfeitam com adornos e luzes, fazendo com que até um judeu, que não celebra o Natal, fique impressionado com tal beleza, como numa judia Barbra Streisand, cantando Jingle Bells em um de seus concertos, na universalidade da beleza, da união, da comunhão e da harmonia, num homem que dividiu a História em duas. Vemos um senhor cabisbaixo, discreto, quase oculto, talvez triste, em luto, no meio de tal escuridão neste quadro, no período de luto necessário para que a pessoa dê a volta por cima e retome sua vida, como uma pessoa que conheço, a qual, depois de tratar um câncer, voltou a suas atividades rotineiras, na força para que demos a volta por cima, no caminho da superação e do crescimento. Ao fundo vemos um raio de luz entrando, que é a esperança, a saída para tal negror. É a retilinidade do pensamento racional, abreviando atalhos e chegando direto ao ponto, rechaçando crendices ignorantes e tolas superstições, na Revolução Científica, na universalidade de tal lógica, na universalidade da mente humana e da questão encarnatória, fazendo dos japoneses, por exemplo, nossos irmãos e nossos iguais, apesar da ilusão das diferenças culturais. Ao fundo vemos pessoas, vultos, talvez anônimos súditos, na função de um monarca em trazer contentamento para um plebeu, para uma pessoa comum, num reino onde a pessoa está contente em assumir o posto em que está, com cada ator com seu papel. Bem ao fundo, de forma bem discreta, vemos uma escadaria, que é a saída, o êxito, a solução de um problema ou de uma questão, numa charada sendo morta, na resolução de um complexo labirinto, numa pessoa encontrando Paz em seus dias na Terra – é a glória. O vestido aqui é em forma de sino, na marcação das horas e dos deveres do dia.

 

Referência bibliográfica:

 

Home. Disponível em: <www.helenflockhart.com>. Acesso em: 1 jun. 2022.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Helen de Troia (Parte 3 de 9)

 

 

Falo pela terceira vez sobre a talentosa pintora escocesa Helen Flockhart. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Acerto de Contas. Uma rosa desabrochando, com hormônios adolescentes na explosão de Vida, no boom primaveril, onde toda a Vida renasce em libido no instinto de perpetuação da espécie, como um cachorro transando com uma almofada, na flor dos amantes, dos apaixonados. A rosa é esta delicadeza, num fidalgo símbolo fino de poder, como na flor de Lis da França, simbolizando a polidez acima da grosseria. Aqui é como um rocambole fatiado, mostrando sua estrutura interna, no trabalho científico de análise, na curiosidade de se desmontar um relógio, na curiosidade de da Vinci em analisar cadáveres, muito tempo antes da Revolução Científica, no trabalho metódico de cientista, procurando evidências frias e racionais de que há Vida fora da Terra, este planetinha tão único nosso. No centro deste labirinto vemos o terrível Minotauro, o guardião, numa cilada, como na traiçoeira toca da monstruosa Laracna de Tolkien, no talento de pessoas descomunais, excepcionais, causando perplexidade, na figura do brujo, o feiticeiro da tribo, uma pessoa de enorme inteligência emocional, instintiva, intuitiva, uma pessoa que vai desbravando inconscientemente seu próprio caminho, até alcançar sucesso e respeito, como numa respeitável Lady Gaga, uma pessoa que, vindo do nada, conquistou o Mundo – não há livro ou faculdade que nos diga “Dez passos para se brilhar”, num caminho autodidata, no caminho existencial do autoencontro, o qual é sempre dentro da pessoa, nunca fora, no modo como minha vida não vai mudar enormemente só porque me mudei de cidade; no fato de que a Vida é dura em qualquer lugar, esta força impositiva que, em tais percalços variados, vai nos depurando e fazendo de nós pessoas mais nobres, humildes e finas. Os cornos do Minotauro são essa libido, num lugar fechado, claustrofóbico, no qual tal ente é dono e senhor, sendo só questão de tempo até que ele nos encontre, num jogo de gato e rato, em coisa inevitáveis, numa pessoa que, com talento e potencial, precisa de persistência, como uma Paola de Orleans e Bragança, uma pessoa que tinha tudo para se tornar a “Anastácia Romanov dos trópicos”, mas uma pessoa que, infelizmente, acabou abandonando a lida, numa pessoa que tinha o potencial de encher o Brasil de orgulho, na nobre proveniência europeia que cerca a Família Real Brasileira, tal qual um Senna trazendo o ouro para casa – uma coisa é ser princesa de jure; outra, é ser princesa de facto. Que desafio, não? A cor aqui é carnal, de bordel, num abajur cor de carne, na “Casa da Luz Vermelha”, num Brasil que não criminaliza a prostituição, num cidadão que tem o direito de fazer o que bem entender de seu próprio corpo, numa vida dura, tendo que transar com estranhos para ter o que comer. Vemos aqui alguns animais, talvez no caminho inevitável do abatedouro, sendo conduzidos a seu destino selado, que é servir de alimento, como um furioso T-rex no genial blockbuster de Spielberg que tantas multidões atraiu aos cinemas do globo inteiro, numa das provas da universalidade da Arte, a força que nos faz humanos, longe de animais. Vemos algumas árvores frágeis, que são os sentimentos, numa vulnerabilidade e numa fragilidade, numa dolorosa briga de namorados, como numa dona Florinda, a qual desabou completamente ao brigar com o amado professor Girafalez. Aqui é um desafio de uma pessoa no trajeto do autoencontro, cheia de dúvidas, num caminho traiçoeiro, cheio de pistas falsas, como numa genial Agatha Christie, atraindo o leitor por pistas falsas, sempre surpreendendo ao final, no modo como são raros os leitores que adivinham quem é o assassino antes de terminar livro, num desafio, numa AC divertida. Aqui é um desnorteamento, num longo e penoso processo, até a pessoa encontrar um fio terra, uma referência, uma pista, algo de nobre para fazer de seus dias aqui na Terra, o lugar onde nenhum trabalho é em vão, nem mesmo o humilde e anônimo trabalho do gari varredor de ruas, pois tudo faz parte da construção da Grande Carreira Espiritual, até o espírito chegar ao ponto de Arcanjo, um espírito de perfeição moral.

 


Acima, Dama das Bestas. A magia da Lua remete ao MAJESTOSO quadro de Pedro Américo, A Noite, numa deusa enluarada trazendo estrelas para o céu num prato prateado, numa quase divindade, um quadro o qual tive a rara oportunidade de ver “ao vivo e a cores”, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, numa peça imponente, enorme, na primeira obra aos olhos do espectador que visitava a mostra no célebre museu, numa musa com seus cabelos negros como a noite, como na donzela Arwen de Tolkien, a Estrela Vespertina anunciando o fim da jornada, nos sonhos de qualquer pessoa em se tornar uma estrela, uma referência, um ponto de luz guia no céu, algo que vale mais do que qualquer dinheiro mundano, algo sem sexo ou nacionalidade, num brilho vibrante, coruscante, vibrando no ritmo da Vida, do coração, pois, já ouvi dizer, a Vida é o nervo da Arte, nos mistérios da Vida, num coração que pulsa e bombeia sangue, como numa urbe vibrante, numa agenda social excitante, num lugar onde todos são produtivos, num lugar que é o paraíso para quem gosta de laborar e construir algo na Vida. Vemos em segundo plano uma alcateia ou matilha, numa ninhada, numa fertilidade, numa cadela parindo vários filhotes, no milagre da Vida, como numa Nossa Senhora cercada de flores e anjinhos, num canto celestial angelical de vitória, de força, na vitória da Beleza sobre a Vulgaridade, no índio de Erico Veríssimo narrando uma visão que teve com a Santa Mãe, num Veríssimo tão rico, tão incólume, na vitória do talento sobre a mediocridade. O cervo aqui é a beleza, como na cena do filme A Rainha, na qual a soberana tem um momento pessoal de luto pela morte da nora Diana, numa cena em que Elizabeth vê um belíssimo alce selvagem, dizendo a este: “Você é uma beleza!”. É o toque de Tao na Criação, num sistema evolutivo que se autorregula, como nos sonhos liberais de Smith numa economia global autorregulada, sem interferências estatais, no oposto comunista, que é o Estado Absoluto, na Guerra Fria que tanto tempo durou. Ao lado da donzela vemos um arco e flecha, só que desativados, talvez numa depressão, no modo como a pessoa deprimida perde totalmente o tesão de viver, tendo que trilhar um esforço enorme para voltar a ter uma vida plena e produtiva. É a flecha de cupido, que é o falo racional, furando um coração que não está blindado, no modo como podemos observar que está de coração fechado para pretendentes uma pessoa cujo coração já tem um dono enamorado, ao contrário de uma pessoa infeliz que leva vida dupla, num estilo de vida que realmente falta com a integridade da pessoa, numa pessoa “em cima de um muro”, em dúvida, sem viver de verdade – é muito triste. A moça tem um vestido farto, e está sentada, descansando, numa pessoa que, em momento de luto, só voltará quando o processo escuro passar, dando tempo ao tempo, na sabedoria de que as tristezas passam, como numa pessoa que, recobrada, consegue sorrir e rir novamente, como numa Carrie no filme Sex and the City, magoadíssima por um noivo que simplesmente não foi à igreja ano dia do casamento, uma noiva que, num majestoso Vivienne Westwood, despedaçou as pétalas do buquê batendo no amado, fazendo metáfora com o coração despedaçado de Carrie. Esta selva está repleta de Vida, na crença ufológica de que estamos cercados de vida alienígena, fazendo de Tao este grande arquiteto que traz vida a todo o Cosmos, na curiosidade tenaz de um Mulder de Arquivo X, no lema: “Eu quero acreditar”. A Lua cheia anuncia que tudo pode acontecer nesta sensual noite tropical, com as folhas nas árvores farfalhando, sussurrando, como o som sutil de veludo roçando, numa Kim Basinger em LA Confidential, na diva abocanhando a tela, numa aparição digna de grande estrela, numa atriz que teve lá seus altos e baixos na vida – fazer o quê? A selva tem seus sons furtivos, na letra de Cole Porter em Night and Day, nos mistérios de uma mata virgem, causando fascínio a uma pessoa da “selva de pedra e concreto”. A moça aqui precisa de um tempo para se recobrar, como na recuperação de uma cirurgia, como uma pessoa que conheço, a qual teve que fazer uma mastectomia, uma pessoa que, depois de período de se recobrar, voltou plena à Vida.

 


Acima, Labirinto. O filme Labirinto, com o deus pop David Bowie, angariou muitos fãs ao astro pop, e eu fui um deles. A trama é com Sarah, uma menina que, na transição de menina para mulher, tem a obrigação de resgatar o seu irmão bebê das garras do malévolo rei dos Duendes, tendo que Sarah encarar um labirinto traiçoeiro, cheio de armadilhas e pistas falsas. Aqui é como na claustrofobia de O Iluminado, num hotel mal assombrado que causa um fenomenal surto psicótico no personagem do deus Jack Nicholson, num Minotauro rei de um labirinto, esperando para abocanhar suas vítimas, sendo só questão de tempo até a caçada ser concluída. Aqui remete ao labirinto verde no município de Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha, num lugar desafiador, desafiando-me a me encontrar na vida, tendo que lidar com pistas falsas e armadilhas, com tolos sinais auspiciosos. Aqui o Minotauro repousa calmamente, sem presas em potencial no momento. É o retiro, uma aposentadoria, uma pausa, umas férias, na revolução getulista dos direitos do trabalhador, com um mês inteiro de férias remuneradas, num líder popular, populista, mas na prova de que uma pessoa feliz não se suicida – o poder traz felicidade? O Anel do Poder traz felicidade? Aqui é como no desenho do cérebro, com meandros tão traiçoeiros, com ruas enganosas, num processo de autoencontro, num processo longo e penoso, que pode levar muitos anos, numa pessoa que se vê obrigada a encontrar seu “fio terra”, seu canal, para, assim, canalizar sua própria energia, fazendo algo de produtivo de seus dias aqui na Terra, esta esfera na qual só é feliz quem é produtivo, na relação de continuidade com o Plano Metafísico, no qual permanece viva e plena a noção de que devemos nos manter produtivos, no modo como Tao é esse labor, este ente que está sempre produtivo, deixando-nos perplexos com a riqueza biológica do planeta Terra, um pontinho azul visto de Marte. O Minotauro aqui é a solidão, nessa pitada de solidão que é a Vida, num momento em que a pessoa conversa consigo mesma, numa pertinente pitada de solitude, no modo como até Tao se retira às vezes, saindo da vista de qualquer um, no modo como todos nós precisamos de tal momento de retiro às vezes, numa pessoa reservada e quieta, como no divertido filme Dogma, no qual Deus é este ser que às vezes se retira da vista de todos, num filme que, com jovial irreverência, só vem a elogiar e fortificar a Fé da Igreja, num Deus que, apesar de poder imenso, é brincalhão. Aqui o labirinto está em silêncio e meditação, num momento de aposentadoria, e não há aqui presas a serem abocanhadas pelo feroz Minotauro. É no conto grego de Teseu, desafiado a encontrar um ponto de saída no labirinto, tendo que enfrentar o monstro carcereiro, numa pessoa que se vê desafiada a encarar um certo fato ou uma certa verdade na Vida, num choque de realidade, como numa pessoa que encara um momento de internação psiquiátrica hospitalar, no termo “colocar os dedos na tomada”, num choque de realidade, numa pessoa que se sente tão humilhada num episódio de internação, como numa Britney Spears em surto psicótico, encarando um lugar e um contexto nos quais não era estrela nem famosa, dizendo aos próprios fãs: “Fui a um lugar humilhante chamado Reabilitação”. Aqui, o Minotauro está centrado, focalizado, talvez encarando algum fato, debruçando-se existencialmente, talvez se sentindo acuado dentro de seu próprio labirinto, no fato de que a pessoa coloca a si mesma dentro de tal situação, na frase: “És teu próprio inimigo”. O monstro aqui está exaurido, cansado, tendo que se recobrar talvez de uma humilhante queda, nas crises que acabam causando uma desilusão, uma desilusão que, quando chega , é para o bem, colocando no chão os pés da pessoa, na frase de uma certa psicoterapeuta: “As crises são positivas”. O Minotauro está ponderando e meditando, sozinho, como se estivesse pesando as coisas numa balança, num momento solitário de introspecção, na saudável solidão do lar e do retiro, numa pessoa encarando a própria existência.

 


Acima, Touro Cólquida. O Sol é a majestade, no deus sol egípcio, no início do musical O Rei Leão, na Broadway, com o forte Sol africano raiando e trazendo um novo dia, numa força avassaladora, numa estrela sem a qual a Vida não seria possível. O Sol é a magia dourada da Aurora, na Galadriel de Tolkien, gélida, porém bela. É um campo de amanhecer de geada, quando o capim esbranquiçado parece ser feito de cristal, no microclima da Serra Gaúcha que tanto fascina o resto do Brasil. O Sol é o ouro e a recompensa, nas cores do sucesso, este amante tão infiel, que hoje faz amor com você, mas amanhã deixa a cama vazia, nos inevitáveis altos e baixos da Vida, na liquidez que nos leva a extremos, como num ator oscarizado que levou o prêmio deboche Framboesa de Ouro, nesta gangorra hollywoodiana que nos ensina a não ser arrogantes, pois a arrogância precede a queda, meu irmão. O touro é a força e a coragem, no famoso touro de Wall Street, neste rei possante, forte, que gere com virilidade e coragem, conquistando a confiança do povo, como num firme Churchill, guiando a Inglaterra contra a ameaça letal de Hitler, o senhor malévolo da destruição, um sociopata que simplesmente quis acabar com qualquer vida sobre a face da Terra. Os chifres do touro são tal tesão, tal vontade, no ditado popular: “Deus ajuda a quem ajuda a si mesmo”, numa pessoa paladina, que não se “atira nas cordas” do ringue da Vida, num menino que quer ser homem, apesar de tantas frustrações depressoras e desapontantes da Vida, nas palavras de Barbra num show: “Você pode perfeitamente sobreviver às decepções da Vida”, pois como a Vida pode ser exatamente o que espero que seja? Que graça ou sentido haveria numa vida completamente prevista? O touro aqui esguicha um fogo, um empenho, no termo “monstro”, que designa pessoas que brilham descomunalmente, como no “tsunami” que é Gisele, ditando tendência capilar há vários anos, com mulheres ao redor do globo copiando seus cabelos longos ondulados. O touro aqui é quase grosso, é viril, e é de serventia, no juramento na coroação de um rei, jurando servir a seu próprio povo, num rei que sabe que, para ser rei, nunca pode se afastar de seu próprio povo, no modo como a repentina morte de Diana expôs a distância entre Elizabeth e os britânicos, na manchete de um tabloide inglês: “Onde está nossa rainha?”, fazendo a monarca se sentir acuada e forçada a tomar alguma atitude frente ao povo. A mulher aqui, agarrada ao touro, é a dependência, como num casal que viveu décadas assim, com o homem fazendo o papel de provedor e a mulher no papel de dona de casa, havendo uma forte ruptura no falecimento de um dos dois, como um viúvo que recém perdeu a esposa, encarando a dureza de reinventar a vida, fazendo coisas que sua esposa fazia em seu lugar, como supermercado. O vermelho da mulher é a dor da menstruação, fazendo com que as mulheres sejam tolerantes com um pouco de dor, ao contrário dos homens, que não sabem o que é cólica. A mulher é a adesão, como um carrapato, como num casal feliz, com a paciência para que um aguente os defeitos do outro, como um não fumante suportando um fumante. A mulher aqui embarca numa onda, numa pessoa com tal alma de surfista, pegando um impulso num cipó, como num ator se agarrando ao máximo a um papel divisor de águas na carreira de tal ator, como num Viggo Mortensen, o qual se tornou astro de fato após seu impecável Aragorn, no modo como o Mundo dá voltas e como não devemos subestimar as pessoas. A mulher aqui grita, como a “patroa” repreendendo o marido, mostrando quem manda dentro de casa, nas inevitáveis brigas de casais, fazendo com que existam psicoterapeutas que fazem terapias para casais. Aqui é um baque forte, um impacto, num touro tão forte, como no personagem Pacato, de He-Man, um tigre medroso que se transforma no corajoso Gato Guerreiro, o companheiro do super herói, na metáfora do Clark Kent e o Super Homem: curve-se e seja pacato para, assim, reinar, pois não é insuportável uma pessoa prepotente, que se acha imune a erros?

 


Acima, Venha para dentro de meu palácio, querida. Aqui é a magia de uma debutante, fazendo metáfora com o frescor da Primavera, da renovação da Vida. Aqui é a Bela no palácio da Fera, no embate entre Yin e Yang, na Vênus “domando” Marte, na máxima taoista: “Entenda a força do Yang, mas seja mais Yin dentro de você mesmo”, no sentido da pessoa levar uma vida pacata, em paz com o Cosmos, como se despedir de um amigo após visitá-lo, na sabedoria de um rei que sabe que não deve interferir no dia a dia pacato do cidadão, sempre cuidando para que os impostos não sejam abusivos. A plantinha aqui é a Vida lutando para prosperar e sobreviver, na brincadeira de crianças em colocar um grão de feijão num algodão molhado, no milagre da Vida surgindo, num espírito com tesão pela Vida, estando desencarnado ou encarnado, na forte relação de continuidade entre Vida e pós Vida, numa pessoa que conserva seus traços de personalidade e singularidade, no modo como Tao nunca faz dois filhos iguais. Aqui é a vaidade de uma Evita, mandando vir da Europa um vestido junto a um manequim de madeira, para assim evitar que a peça se amassasse, numa mulher exigente, que cobra muito do marido, numa fome infindável por ascensão social, numa “domadora” que colocou um homem na linha. Aqui é ironia de metalinguagem, pois é arte falando de arte, ou seja, Helen Flockhart pintando esculturas de forte apelo clássico, grecorromano, nos cânones ocidentais de beleza, havendo, de certa forma, uma ocidentalização do Mundo, com mulheres japonesas dispostas e fazer uma cirurgia plástica de pálpebra para “ocidentalizar” seus olhos. A moça aqui é frágil, fraca e magra, e seu vestido é como uma vulnerável camélia no pé, caindo por qualquer vento, nos versos carnavalescos: “Foi a camélia que caiu do galho, que deu dois suspiros e depois morreu!”, numa certa melancolia em frente a uma colorida festa de Carnaval. A luz entra pela janela, e é o esclarecimento, talvez num processo de autoesclarecimento, numa pessoa que, com o passar do Tempo, vai adquirindo certa consciência, como numa pessoa que sabe direitinho o que quer fazer da Vida, abraçando uma carreira, como numa feliz Marisa Monte, deusa da MPB, uma artista respeitadíssima, que diz amar o que faz, e isso é uma dádiva, sendo a Elis Regina da nova geração, à qual pertenço, nos versos de Elis, que dizem que o novo sempre vem. Aqui é como uma coleção inestimável de algum museu, num farto Louvre, no qual precisaríamos de um ano inteiro dentro dele para apreender tudo o que nele existe, na riqueza da França, numa Paris que por tanto tempo foi o centro do Mundo, nas noções civilizatórias eurocentristas, no casamento entre simplicidade e sofisticação, como num jantar de apenas pão e vinho, numa Paris que tantos turistas atrai. A mulher aqui está aprisionada, talvez esperando pelo príncipe encantado que a libertará, no final de Uma Linda Mulher, com o homem empunhando seu guardachuva fálico, na chave fálica que entra na fechadura vaginal, libertando a mulher e abrindo um coração, na dádiva que é termos na vida alguém que toque fundo em nossos corações, num momento mágico, o qual, apesar de passar, é eterno, pois quem vive encarnado para sempre? Vemos ao fundo uma penteadeira, que é a vaidade, a autoestima, numa Evita que levava quarenta minutos de manhã para se aprumar para um novo dia. O espelho remete a um certo rapaz que conheci, o qual ficava encantado com sua própria beleza frente a um espelho, uma pessoa cuja beleza não lhe garantiu o estrelato, na sabedoria popular: “Beleza não põe à mesa”, sendo estelares pessoas que não são exatamente belas. Os cabelos arrumados da moça são tal garbo, numa pessoa que se preparou para algum compromisso, numa expectativa, como em algum evento social, como numa entrega de prêmio, na competição para ver qual das mulheres no evento tem o vestido mais deslumbrante, na agressividade competitiva por trás de um inocente concurso de beleza. O palácio pode ser uma prisão bela, porém prisão, numa pessoa que precisa fazer algo de produtivo.

 


Acima, Zoológico. Aqui vemos um embate e um confronto, como numa pessoa que, de forma muito repentina, adquiriu as rédeas de sua própria vida, vislumbrando um terrível fundo de poço existencial, numa depressão que estoura com todas as suas forças. O pássaro esverdeado é a beleza, num pavão cortejando uma fêmea, no jogo de sedução entre opostos, como brancos contra pretos no tabuleiro de Xadrez. A ave é a fartura de uma mesa de ceia de Natal, com um belo pássaro assado, numa mesa farta, com cada membro da família levando algum prato para compor a mesa. A mulher com a capa rubra é a exuberância, num voo sendo alçado, nas ambições humanas exploratórias, planejando pisar em Marte num futuro não tão distante, numa Humanidade tão aquém de entender o que é a Vida Eterna, esta força que faz com que nunca findaremos, na prova do poder imensurável de Tao, que é o enigma infinito. A mulher tenta aprisionar o animal, numa domesticação, num condicionamento, na imposição de ordem ao caos na Natureza, esta força que tanta influência causa ao ser encarnado, como observar além de um vidro opaco, que pouco nos revela espiritualmente. O chão aqui é terroso, simples, como numa adega com as bebidas das entranhas da terra, no fascínio dos vinhos, produtos caros, pois há impostos e um alto custo de produção, como nas colheitas, que são obrigatoriamente feitas a mão. Esta capa rubra é a capa que cerca a Eva de Michelangelo, a “cadela” sendo dada a Adão, relegando a mulher a um eterno papel coadjuvante, um mero útero reprodutor a serviço de uma coroa, na tragédia da vida de Grace Kelly, a mulher que abandonou uma carreira brilhante e apolínea, tudo para que se casasse com um caralho coroado, com o perdão do termo chulo. A mulher aqui usa um farto colar de ouro, no fascínio de metais preciosos e pedras preciosas, itens que podem ser um problema, pois quanto mais tesouros tenho, menos seguro estou, como um casal de amigos meus, os quais sofreram um terrível assalto, dando aos bandidos sua coleção de joias preciosas – vão-se ao anéis; ficam o dedos. Ao fundo vemos um cabrito cabisbaixo e humilhado, talvez numa pessoa com sonhos frustrados, chegando ao ponto de querer mudar de carreira, tal a decepção, como no ator Ronald Reagan se tornando político. Atrás do cabrito melancólico, vemos três crianças reservadas, assustadas e submissas, como se estivessem rezando num velório pela alma do falecido, numa homenagem fúnebre, como na lúgubre reabertura do túmulo de uma Evita embalsamada – é sábio deixar os mortos quietos em seus jazigos. Ao fundo vemos uma lareira ardente, que é o desejo ardente, talvez num casal apaixonado, no acalento de uma lareira numa Escócia tão fria e úmida, numa Helen sonhando com um tempo tropical, de calor sedutor, com roupas curtas e frutas exóticas. A lareira é o ardor dos amantes, dos casais apaixonados, no calor de uma Lua de Mel, um calor que pode cair na mesmice e esfriar com o passar do tempo, como uma pessoa que conheço, a qual se separou de um marido que, por sua vez, deve ter deixado tal calor esfriar. Bem ao fundo no quadro vemos arcos, que são a humildade e a reverência, no discernimento taoista de que o Mundo é dos humildes, das pessoas que têm os pés no chão, pois a desilusão fria e dolorosa vem para ajudar a pessoa, acordando esta para a realidade, a qual é dura, mas não é impossível. Muito ao fundo do quadro vemos um cachorro sozinho, que é uma sensação de abandono, de solidão e de carência, numa pessoa se decepcionando com a Vida, tendo que empreender um esforço titânico para reencontrar o tesão pela Vida.  A mulher aqui quer encobrir o pássaro, talvez num acolhimento, num ato de caridade, que significa dar um empurrãozinho para quem precisa, no nome de um certo centro espírita: “Fora da caridade não há salvação”, não no sentido de dar esmola, mas no sentido de dar uma assistência a quem precisa de um auxílio. A capa esvoaçante é o poder da liberdade, nuns EUA que tão a sério levam os conceitos contemporâneos de liberdade, esta força libertadora do Amor, algo tão subestimado pela crueldade humana.

 

Referência bibliográfica:

 

Home. Disponível em: <www.helenflockhart.com>. Acesso em: 1 jun. 2022.