O francoamericano Arman
(1928 – 2005) nasceu Arman Pierre Fernandez, desde cedo adquirindo intimidade
com os objetos da loja de antiguidades do pai. Aos dez anos de idade já começa
a pintar, e, em 1961, depois de expor na Europa, faz sua primeira mostra em
solo novaiorquino. O site de Arman preserva tal legado. Os textos e análises
semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Brush Stokes. 1992. É como se os pincéis estivessem competindo
entre si, para ver quem deixa a marca mais indelével, no modo como a
mediocridade pode ser competitiva, pois, se sou único e original, ninguém pode
competir comigo. As pinceladas vermelhas são como sangue, como numa pessoa
altruísta doando sangue, num verdadeiro gesto de fraternidade, numa pessoa que
observa que há pessoas precisando de tal doação, numa pessoa que realmente
precisa de um ato de caridade, numa dúvida – devo dar esmola? Essas pinceladas
rubras são como vinho tinto, no fascínio que o álcool exerce sobre tantas
culturas diferentes, na universalidade do Ser Humano – vamos tomar um trago? A
tinta aqui, apesar do quadro estar sequinho, parece estar bem fresca, bem nova,
bem prematura, quase escorrendo pela tela, ameaçando nos melecar se tocarmos a
obra com os dedos. É a liquidiscência de Tao, aquele que sempre flui, sempre
ruma, em um infindável processo de depuração, pois pobre daquele que acha que
já aprendeu tudo, ou seja, é necessário desenvolver humildade, pois não é
insuportável uma pessoa arrogante e presunçosa? As pinceladas douradas parecem
enriquecer o quadro, na universalidade do Ouro, este metal tão cultuado em
tantas civilizações diferentes, como no Egito Antigo e na América Pré
Colombiana. Os pincéis parecem dançar juntos, numa certa concórdia, como numa
valsa fluindo majestosamente em um garboso salão de festas. As pinceladas
parecem querer concórdia, numa vizinhança pacífica, ou num reino bem governado,
atendido por um líder que sabe que a Paz é o que há de melhor para qualquer
reino. As hastes dos pincéis são furadinhas, como numa orelha com um brinco –
este vazio é Tao, o reservado, o subestimado, pois tal furinho é uma utilidade,
uma conveniência, possibilitando que o instrumento seja dependurado num prego
na parede. É o enigmático Vazio, sempre respirando, sempre fluindo, na dica de
decoração – a sensualidade reside, precisamente, nos vazios, pois estes atendem
às demandas do dia a dia, visto que aquilo que não tem utilidade é deletado da
mente das pessoas, no desafio que é um artista se mostrar útil a um Mundo tão
insensível, duro e cruel, na tentativa do artista em provocar e sensibilizar.
Podemos ouvir aqui uma valsa de concórdia, e os pincéis dançam juntos como
irmãos numa barriga, com no recente caso caxiense de um nascimento de
quadrigêmeos. É a lição de que somos irmãos, logo, não devemos brigar, na
incansável intenção de Tao em estabelecer a Paz em um reino tão aguerrido, nas
nobres intenções diplomáticas. Este quadro é um espaço vazio que quer ser
pintado, preenchido, numa força gravitacional. Estes pincéis dançam conforme a
imaginação permite, e é como um grupo de amigos, curtindo, dentro do carro, a
mesma música, numa das maiores riquezas que podemos ter – amigos. A junção
deste dourado com este vermelho resulta em laranja, uma cor quente, numa fruta cítrica,
com aquele pequeno toque de acidez necessário, num toque abrasivo, agressivo,
na sensação de se tomar, pela primeira vez na Vida, um espumante brut. Estas
ferramentas estão em plena atividade, ocupadas, fazendo obras, como numa
esteira industrial, sempre suprindo o Mundo, num capim que cresce
incessantemente. Aqui, são como prédios curvilíneos, desafiando a Lei da
Gravidade, em sonhos de arquiteto, colocando o melhor de si em folhas de papel,
ou num computador. São como cachecóis envolvidos, tremulando como bandeiras.
São fitas de um presente de Natal, fazendo metáfora com as fitas que mantêm uma
família unida, mesmo com distâncias geográficas – os vínculos de família não se
dissolvem com o Desencarne.
Acima, Les Chaussures. 1964. O fascínio da Feminilidade, numa mulher que
vê graça e diversão em usar salto alto, algo diferente para mulheres mais
masculinas, que veem salto alto como imposição social. Aqui, são sapatos de
diferentes cores, numa variedade, num convívio entre diferentes. É um cardume multicolorido,
como salmões batalhando para subir rio acima e, ao chegar ao destino, morrem no
orgasmo. O sapato preto é a cor do luto, no modo como nos anos 90 o preto
entrou na moda para nunca mais sair, deixando de ser exclusivamente a cor do
luto. É a cor da dúvida, nos negros confins do Universo, na incapacidade humana
em apreender o Infinito – somos pequenos demais. Já, o rosa é a cor da Barbie,
do doce perfume feminino, na letra de uma canção em inglês: “Lábios como
açúcar. Beijos de açúcar”. O rosa é a cor da pele virgem, da candura. Neste
quadro, podemos ouvir o toctoc dos sapatos, no prazer que a mulher tem em
sentir tal barulho, na imposição daquilo que é considerado feminino e
agradável, como no fascínio exercido pela marca Victoria’s Secret, como diz o
personagem heterossexual de Woody Allen ao filho: “As mulheres são a melhor
coisa que você vai ter na Vida”. Como no filme Perfume de Mulher, na icônica cena do tango dançada por um
personagem cego. O amarelo é a cor da recompensa, do prêmio, como numa taça
dourada, na conquista que vem após um longo período de esforço e dedicação. É a
cor do Sol que nos banha, no modo como a Vida seria impossível sem o astro no
meio de um sistema. É como o artista busca ser, um astro rei que aglutina para
si mesmo um grande poder, uma grande influência gravitacional, nas ancestrais
tentativas humanas de um artista querer ser tal força, pois é insuportável a um
artista ser ignorado ou esquecido. O fundo cinzento tem um aspecto aveludado, e
é a cor de um dia encoberto, invernal, cobrindo o esplendor solar, jogando
dúvidas existenciais, no modo de uma pessoa querer descobrir o propósito da
Vida, da existência, da encarnação, e o propósito é crescimento, numa pessoa
que morre estando melhor do que como era ao nascer. Estes sapatos de Arman
parecem estar num redemoinho, num quadro com um certo movimento, girando, como
num centro galáctico, exercendo muito poder, poder o suficiente para comover
uma infinidade de estrelas e sistemas solares. É o poder de um furacão, na
contradição do olho de tal furacão, num olho que, apesar de estar no centro de
tal distúrbio, está plácido, na capacidade de uma pessoa em se manter realista,
humilde, com os pés no chão, pois o Poder e o Sucesso podem facilmente subir à
cabeça de uma pessoa – se queres conhecer alguém, dê poder a este alguém. Aqui,
são como roupas em uma máquina de lavar, num carnaval, numa mistura, como numa
paella, ou numa salada de frutas, numa sociedade justa, na qual cada cidadão se
sente respeitado, pois não é insano um governante que quer que todos sejamos
indistintos tijolos numa parede, em um sistema que suga a vida do cidadão?
Aqui, cada cor de sapato compõe uma camada, como nas várias camadas de segurança
que povoam o momento de eleições no Brasil, com urnas eletrônicas à prova de
fraude. São como várias peças de roupa sobrepostas, numa composição que, apesar
de carregada, tem um aspecto leve, como um nariz respirando normalmente, e não
é Tao tal arejamento? É a Vida, que deve sempre fluir, nunca num ponto final
cadavérico. Aqui, é como uma sopa de letrinhas, fascinando as crianças. São
como várias setas confusas, apontando para todos os lados, proporcionando uma
escolha, uma opção, um caminho alternativo. É como um labirinto sendo
solucionado, como num dia que vai amanhecendo, humilhando e neutralizando as
incertezas negras do Submundo, o qual tem prazo de validade, sempre. São como
grandes grupos de aves voando, migrando, na minha lembrança de ver aves
migratórias em um parque da Disney, em Orlando. São as demandas de várias estações, como
num pássaro que só pode ser ouvido em determinada época do ano.
Acima, L'Heure de Tous. 1985. Os relógios olham para todos os lados,
talvez querendo marcar a hora de todos os cantos do Universo. São como ovas de
caviar, ou numa Nossa Senhora cercada de anjinhos aos seus pés, numa deusa de
fertilidade, abençoando os campos de plantio e trazendo bebês às famílias. Esses
relógios estão em discordância, pois cada um marca uma hora diferente. É como
numa grande e caótica discussão, e cada um quer impor sua respectiva ordem. São
os relógios derretidos de Dalí, fracassando na missão apolínea de marcar o
Tempo; na missão de trazer ordem ao caos. É como numa briga de família, onde
cada um fala o que quer, nas catarses das discussões de família, discussões nas
quais tudo acaba em harmonia, concordância e reconciliação. Aqui, é uma demanda
crescente, como numa Inglaterra tendo um boom de crescimento na Revolução
Industrial. É uma esteira de indústria fabricando mais e mais bens, na explosão
capitalista, numa sociedade de consumo que nos dita o que devemos cobiçar, como
último e mais avançado aparelho de telefonia móvel, numa sociedade que nos diz
que seremos infelizes se não consumirmos... Aqui, são como os diferentes
compromissos de várias pessoas, cada um com sua ordem do dia, com seus
afazeres, no modo como a Dimensão Metafísica é cheia de afazeres, mas afazeres
que são feitos com prazeres, nunca tendo o labor como uma fonte de estresse ou
sofrimento. Aqui, é uma rosa dos ventos apontando para todas as direções, como
numa estrada com placas confusas, apontando para muitas direções, trazendo
dúvida existencial: Qual é meu lugar no Mundo? Quem sou eu e para onde vou?
Qual é o sentido da Vida? Aqui, temos uma perda de noção de Tempo e Espaço,
como numa pessoa que se perdeu na Vida, tendo que empreender um esforço
titânico para se reerguer e reencontrar-se, como numa pessoa que passou por um
gradual processo de empobrecimento existencial, talvez perdida em um ambiente
de subconceitos os quais nada têm a ver com a realidade, com o Senso Comum.
Aqui, é uma casa maluca, sempre pregando peças, numa pessoa que quer me iludir
e me desnortear, num amigo falso, que definitivamente não quer me ajudar a me
reerguer – os sociopatas estão entre nós. Estes relógios nos mostram que o Sol
nunca se põe nas terras de Sua Real Majestade, e o Mundo nunca está
completamente adormecido, na ironia do fuso horário, pois enquanto alguém dorme,
outro alguém está atuante e desperto, como na ironia das estações climáticas –
enquanto aqui há calor, lá há frio. Como na mente genial que inventou os
plátanos, aquecendo no Inverno e refrescando no Verão. Este conjunto caótico e
vibrante de relógios discordantes faz um profundo contraste com o relógio atrás
na cena, o qual está, de fato, marcando a hora certa, num paralelo entre Razão
e Loucura, no fato de que tudo tem duas leituras, sendo uma a contradição da
outra, ou seja, se digo que algo é belo, é porque conheço o oposto, que é feio,
no modo como o Mal existe exatamente para sabermos identificar e reconhecer o
Bem, no discernimento taoista. Estes relógios parecem querer concorrer entre
si, para ver quem tem a razão; quem está marcando a hora certa. É como a
correria de espermatozoides em busca do óvulo, nas inevitáveis rivalidades orgânicas,
como plantas lutando por um espaço ao Sol, no termo “luta” empreendido por uma
professora minha, uma antropóloga, ou seja, de fato, a Vida é sonhar e lutar
por tais sonhos. Estes relógios olham para todos os lados, numa pluralidade,
numa diversidade, com vários pontos de vista sobre um determinado assunto, como
nas várias religiões sobre a Terra, religiões que carregam o fato da
universalidade do pensamento humano, trazendo o fato de que, no fundo, somos
todos iguais, irmãos, espírito encarnados em um Mundo tão duro e
fascinante. Estes relógios parecem estar em pleno processo de ordenamento,
parecendo querer se organizar, talvez numa torre hierárquica, na imposição de
sentido a algo aparentemente sem sentido.
Acima, The Secretary is Fired.
1963. O título significa “A Secretária
está demitida”. Parece que uma bomba estourou dentro do escritório, e que pouco
restou da máquina de datilografar. É como nos lamentáveis destroços da Guerra,
com lindos palácios sendo destruídos, tudo em nome da cobiça humana, da
insaciável sede de poder. Não há beleza na Guerra, e todos ficam desolados e
esfomeados. Esta obra é como no termo “estouro” aplicado a algum artista que,
de alguma forma, conquistou reconhecimento e valorização, como num Andy Warhol,
artista reconhecido ainda em vida, recebendo muitas e muitas encomendas, como
num Leonardo brilhando na Renascença. Aqui, não sobrou pedra sobre pedra,
talvez num movimento de Vanguarda, detonando com velhos padrões, assinalando a
vinda de um novo tempo, uma nova época, nas inovações de movimentos que abalam
estruturas e trazem novos parâmetros de Arte e beleza, como na transgressão
impressionista ou modernista, em sopros de renovação, na tarefa da Arte em
assinalar tais refôlegos, tais reinvenções, como num artista “camaleão”,
adquirindo, durante a carreira, muitas formas e estilos, nunca sendo
repetitivo, sabendo que, se repetitivo, entediaria o público. Aqui, o fundo
rubro é o sangue derramado nesta explosão, talvez nos destroços que restaram do
Onze de Setembro, num escritório que, antes ordenado e organizado, virou puro
caos de destruição, com tantas vidas inocentes ceifadas em um episódio tão
macabro, na prova de que a mente humana pode alcançar níveis altos de maldade e
ambição, nas palavras de Obama: “Você será lembrado pelo que você construiu;
não pelo que você destruiu”. Aqui, temos um sonho confuso e desordenado, talvez
esperando para ser entendido e solucionado sob a supervisão de um bom
psicólogo. Aqui, é como um trabalho de análise e desconstrução, como num objeto
de estudo científico, sendo desmantelado para ser compreendido, estudado. É
como na função científica da Medicina, dividindo o Ser Humano em partes, em
aparelhos, em sistemas, buscando entender a criação de Tao e trazer tratamento
e cura para terríveis doenças, como AIDS e Câncer. É como na construção de um
carro, num processo industrial longo, com cada peça sendo pacientemente
anexada, num trabalho de paciência e persistência. É como no conserto de um
relógio – é necessário desmontar tudo e remontar tudo. Aqui, é como uma terra
devoluta, pronta para ser colonizada e ser repleta de graças, de nomes, estes talvez
em honra de grandes homens. Este quadro traz a decadência da Era Analógica, em
nome da forte ascensão da Era Digital, numa suplantação de tecnologias, como na
trilogia Matrix, na transição entre
analógico e digital. É como nos carros atuais, cujo sistema de som simplesmente
não mais suporta tocar CD... É um galgar tecnológico muito rápido e
avassalador, talvez na percepção de um artista em compreender tal cavalgar
frenético. Aqui, é como se tal instrumento tivesse sido jogado de uma janela,
espatifando-se em mil pedaços, num grande desafio de conserto – será que tem
conserto ou é perda total? Algumas teclas da máquina ainda persistem
bravamente, como num gesto de resistência, no modo como as coisas na Era
Analógica parecem ter sido tão mais simples – como é simples a Infância! Aqui,
temos um intrincado trabalho de montagem e desmontagem, com peças nos
desafiando para que saibamos qual é a função de cada uma, buscando encontrar
lógica no funcionamento do Corpo Humano, como num Leonardo, dissecando
cadáveres, tudo em nome do Conhecimento. Aqui, é como se tivessem sido
dissociadas as partes do Aparelho Digestivo, na intenção humana em encontrar
sentido em enigmas, delegando uma importante função a cada órgão, com tudo
chegando a um ponto em que temos que admitir a existência da Inteligência
Suprema, no difícil caminho da Fé. Podemos ouvir o barulho do objeto caindo e
se espatifando, como num barulho de trovão, ou de uma bomba. É um artista
querendo chamar a atenção do Mundo, renovando percepções e trazendo o Novo,
sempre.
Acima, sem título. 1958. Um
cacho de uvas, numa explosão de Vida durante a Vindima, na celebração da
fartura e da felicidade, num momento de reunião comunitária em torno da Vida.
Este cacho aqui não uniformiza os bagos, bem pelo contrário – diversifica.
Vemos lâmpadas opacas, claras e azuis. A lâmpada azul é como um oceano,
seduzindo os descobridores por terras longínquas, no fetiche de desbravar
terras virgens, intocadas, nas aventuras que foram a Navegações. É o globo
terrestre, numa esfera que se autossustenta, com seus sistemas biológicos, no
ar, terra e água, numa riqueza a qual, aparentemente, inexiste em qualquer
outro lugar do nosso sistema solar. Podemos ouvir aqui o tilintar das lâmpadas
se tocando, num quadro de encontro e atrito, de reunião, talvez numa tensa
reunião de condomínio, com moradores frequentemente discutindo sobre problemas
no prédio, numa certa tensão, como nesses dias, em que reclamei a um gerente
bancário sobre o barulho do alarme intermitente do banco, numa agência ao lado
de onde moro. É a certa tensão numa partida de Futebol, com discussões que
podem resultar em baixaria, como ofensas e socos. Aqui, temos uma reunião, um
engajamento comunitário, como numa Festa da Uva caxiense, num momento em que a
comunidade esquece de suas diferenças e une-se em torno da celebração, no forte
papel representativo da Rainha, num arquétipo de feminilidade, doçura e beleza,
valores que norteiam a sagrada Dimensão Metafísica. No topo desta obra de
Arman, um forte cabo mantém o grupo coeso, unido, como no talento de uma
matriarca ou de um patriarca, reunindo a família numa noite de Natal, com
crianças abrindo avidamente seus presentes, pois o Natal não é das crianças?
Nesta reunião de diferentes esferas, há uma simplificação, uma limpeza, pois
todos estão no mesmo “saco”, numa hora de comunhão, como numa missa, no momento
em que absolutamente todos – homens e mulheres, ricos e pobres, negros e
brancos – estão no momento da transubstanciação. A reunião é esta
simplificação, pois são todos bebês do mesmo útero, na simples e limpa questão
de Irmandade – somos todos filhos de Tao, o grande patriarca. Então, cada uma
dessas lâmpadas tem algo em comum com as demais, num cenário de Liberdade,
pois, apesar de sermos todos irmãos, cada um tem suas características, as quais
devem sempre ser respeitadas, pois quando não há Respeito, há Guerra... Então,
irmão derrama sangue de irmão, em algo sem sentido, sem propósito, sem beleza,
sem validade, pois o Ódio não é uma invenção de Tao; o Ódio é um capricho
humano. Aqui, são como ovas de caviar, numa grande ninhada, como ovos comprados
no supermercado, na eclosão do ovo de chocolate, como na eclosão da sepultura
de Jesus, o qual passou para um mundo melhor, pois ninguém é capaz de resolver
os problemas do Mundo. Mas o sábio, o homem de Tao, pode ser a promessa de um
amanhã melhor. É como um farto ninho de tartaruga, depositando seus ovos na
areia, no fato de que, conforme a seleção natural, apenas poucos filhotes
atingem a idade adulta, como na baixa expectativa de vida no Egito Antigo.
Aqui, são como bolhas num sedutor espumante geladinho, encantando os enófilos,
num momento de verão, de virada de ano, na deliciosa sensação cremosa que o
espumante deixa na boca, num momento de prazer, de curtir a Vida. Aqui, é como
um professor adquirindo a atenção e o controle sobre os alunos, num trabalho
árduo, sempre querendo mostrar às crianças a importância da Disciplina, pois
quem vive “ao sabor do vento” não tem Disciplina, não conseguindo, assim, fazer
algo produtivo. Aqui, são vários feudos formando uma só Europa, no árduo
trabalho de unificar a Itália, com regiões tão distintas, como no Brasil, no
qual a Bahia é um país a parte. É como na mesma Língua Espanhola, falada em
diversos países, só que cada região tem seus próprios sotaques e gírias, no
indecifrável modo como os sotaques de constituem. Aqui, temos um majestoso
lustre, numa abundância, como em países ricos, proporcionando qualidade de Vida
ao cidadão.
Acima, sem título. 1994. Uma
competitividade, na qual cada pincel quer deixar sua marca. Um aspecto de tinta
fresca, e temos a impressão de que nos sujaremos se tocarmos nesta obra. Aqui
há um entroncamento, pois pinceis passam uns pelos outros, como em pistas de
estrada, com veículos indo e vindo. Aqui, são como carros numa corrida, numa
competição, na inevitável competitividade mundana. É como num estojo de
maquiagens, com suas cores vibrantes e sedutoras, numa mulher que, de tão
feminina, pode passar horas se maquiando. O preto delineia os olhos, destacando
o rosto da mulher, num exercício de fascínio, no universal ato de autoestima,
como numa índia, pintando-se para seu casamento na tribo. O vermelho é a cor do
batom, em bocas sedutoras e brilhantes, destacadas, como na aprumação de uma
gueixa, maquiando-se para seduzir e encantar os homens, agindo da forma mais
doce e feminina possível, contrastando com a dureza do mundo dos homens. O
amarelo traz o ouro, num baú de piratas sendo aberto, ou na caixaforte do Tio
Patinhas, no empreendimento de acumulação de riquezas, num reino inseguro, pois
quanto mais ouro tenho, mais pessoas vão querer roubá-lo – um tesouro pode ser
uma prisão, pois o que importa mais: tua imagem ou tua felicidade? Vemos aqui
cândidas marcas de cor de rosa, na parte interior de uma carne bem cozida,
feita por quem entende do riscado, pois comida boa não é comida
sofisticadíssima, mas comida simples e bem feita, como um feijão com arroz bem feito.
O rosa é a cor dos bebês, numa zelosa mãe trocando fraldas, no trabalho
gigantesco que é a maternidade, sem falar na depressão pós parto. Todos os
pinceis parecem ter começado juntos o momento de pincelada, como crianças
apostando uma corrida, na sedução que é um jogo de tênis ou de futebol
disputado por titãs do Esporte. Aqui é uma casa alegre, com crianças peraltas,
sujando as paredes e fazendo bagunça, nas brincadeiras que têm como função
introduzir o Mundo à criança, pois somos todos crianças em nossos inevitáveis
erros, no sentimento de se querer voltar no Tempo e reparar tais erros, como
numa inscrição a lápis sendo apagada pela borracha. Aqui, é como na fabricação
de uma estampa, e as listras representam a retilinidade do nobre pensamento
racional, pensamento frio e matemático que rechaça as malícias, como numa água
gelada que, apesar de desconfortável e fria, é uma água que limpa e cura, como
num remédio de amargo sabor, ou como num amigo que, apesar de tecer críticas
rígidas ao outro amigo, acaba esclarecendo a mente deste. Claro que te perdoo,
amigo! Estas cores remetem à bandeira nacional alemã, na universalidade das
bandeiras, com cada um querendo ter uma identidade inconfundível, remetendo-me
aos pavilhões dos países em um parque da Disney, tendo eu adquirido uma
bandeirinha de cada país ali representado, num esforço diplomático pelo diálogo,
evitando ao máximo a Guerra, e Tao é assim, um polido e sofisticado diplomata,
mantendo em Paz a Dimensão Metafísica, a plácida vizinhança onde dá gosto
morar. Aqui, temos uma certa alegria, talvez numa nação comemorando um grande
título, como numa Copa do Mundo de Futebol. Estas listras parecem ser
serpentinas num salão de baile, numa divertida sujeira na qual podemos, ao menos
por um instante, ser novamente as crianças bagunceiras que fomos um dia. Aqui,
são as cores delimitando placas e sinais de Trânsito, havendo no Respeito a
base para que tais formas façam valer, como na Inglaterra, onde há a impressão
de que a Rainha comanda tudo, desde a menor sinaleira à maior guarda militar.
Estas linhas sublinham algo, talvez palavras importantes num texto, como num
aluno lendo e tendo que crescer para passar na cadeira universitária, no modo
como quase rodei na cadeira de Filosofia em minha faculdade, topando-me com uma
professora exigente, à qual dei uma pincelada de Taoismo. Aqui, é o prazer do
artista em pegar um pincel e produzir algo, como Tao, o grande artista, sempre
produzindo, sempre sendo útil ao Cosmos.
Referências bibliográficas:
Arman. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 20 nov. 2019.
Artworks. Disponível em <www.armanstudio.com>.
Acesso 20 nov. 2019.