O surrealista britânico Paul
Nash (1889 – 1946) passou pelas duas Guerras Mundiais e as retratou em boa
parte de sua obra, na Sensibilidade versus
Feiura. Nash é tido como um modernista inglês, e estudou na Slade School of
Art. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa
leitura!
Acima, Batalha Britânica. São os horrores da guerra pela ótica de um
artista, em eventos que só deixam rastros de fome e destruição, na eterna
vocação humana para a Raiva, o Ódio, a Discórdia. Aviões cruzam os Céus,
jogando-se uns contra os outros, na insanidade que foi o Onze de Setembro, como
é o título do vilão Esqueleto: O Maléfico Senhor da Destruição, puxando para os
dizeres de Obama: “Você será lembrado pelo que você construiu, e não pelo que
você destruiu”. O Céu aqui é até belo, anil, aberto, mas se trata de um dia com
beleza zero, pois só existe beleza na Paz; o resto é fútil, na futilidade das
raivas. Aqui há destruição no ar e na terra, num infame dia em que irmão
derramou o sangue de irmão, como o ditador nortecoreano, mandando executar o
próprio meio irmão, no poderoso fato de que os vínculos de família não se
desfazem com o Desencarne, pois a Vida vence a Morte. Neste terreno tão
desagradável e inóspito, um tortuoso rio corta a terra, na complicada
tortuosidade dos conflitos, pois é só na Paz que existe a limpa simplicidade de
Tao, o arrebatador perfume de harmonia e fineza, havendo na polidez uma virtude
universal, como no gesto japonês de se curvar, em demonstração de respeito. O
rio tortuoso é a serpente da malícia, envenenando laços diplomáticos, num
posicionamento xiita, no qual não há espaço para a negociação, e sequer uma
nação neutra é respeitada, num cego radicalismo, como na bipolarização
brasileira entre pró e contra Bolsonaro, ou na divisão eleitoral americana que
elegeu Trump. É um eterno filme de banguebangue, havendo no guerreiro a virtude
de se respeitar o próximo, só podendo acontecer um conflito quando todos os meios
diplomáticos foram esgotados, na civilizada questão do “sentar e conversar”,
como dois civilizados cavalheiros, numa conversa de espírito depurado para
espírito depurado. É claro que aqui podemos ouvir os sons das explosões, das
bombas, dos gritos de ódio, com jovens vidas sendo ceifadas em nome das
vaidades das elites de um país, no modo como as elites gaúchas manipularam o
povo gaúcho em nome da Revolução Farroupilha, no fato de que, no exército
americano, geralmente os rapazes que se alistam são pobres, provenientes de um
contexto social ignorante e carente. Este era para ser um dia belo e
ensolarado, próximo da beleza plácida metafísica, mas não. É como um leite que
se estragou, não mais prestando para ser bebido. Mais à direita neste céu,
vemos um numeroso grupo de aviões, ensaiando uma investida, no modo como as
guerras consomem muito dinheiro, acabando por maltratar os honestos pagadores
de impostos, na humilhante derrota que a Invencível Armada Espanhola sofreu na
guerra com a Rainha Virgem, a mulher feminista com o estômago de um rei – é a
questão da coragem, e a confusão reina plena nas guerras, como a Europa ficou
muito confusa da II Guerra Mundial, e toda a ordem lógica ficou perdida, com
países sendo brutalmente invadidos em nome da vaidade de um governante absolutamente
psicopata, assim como são os seguidores deste... Aqui, a terra é bela e
dourada, mas é uma beleza que fica abafada pela ordem do dia, que é atacar.
Vemos aqui rastros de aviões sendo abatidos, com os jatos caindo, no modo como
a Guerra das Malvinas ceifou vidas em ambos os lados, na pergunta feita em uma
canção da extinta banda Deee-Lite: “Quem é o vencedor na Guerra?”. Aqui, a
fumaça das explosões se mescla com as nuvens no céu, no modo como ficou
arruinada a consciência da pessoa que executou a bomba de Hiroshima, num
trauma, numa sequela, num espírito que simplesmente se brutalizou, nunca mais
acreditando na Beleza e na Harmonia. É o empedernimento, num coração que se
fechou para sempre para o Mundo. As linhas confusas no céu são como um covil de
cobras maliciosas, num momento em que a sociopatia encontra terreno para
reinar. Talvez amanhã seja um dia melhor.
Acima, Porto e Sala. O fálico mastro do barco resiste bravamente a uma
intempérie, numa pessoa com a capacidade e o controle emocional para se manter
calma em uma situação tensa ou difícil, na dádiva que é ser uma pessoa calma,
que dorme tranquilamente. Aqui, é uma cena escura e instável, talvez no meio de
uma grande tormenta, grande ao ponto de transformar o dia em noite, com densas
nuvens negras, impedindo o esclarecimento se expressar. Aqui, temos um jogo
surrealista, com elementos, antes dissociados, sendo associados, brincando com
a percepção espacial do espectador, dando um nó na mente deste, como num MC
Escher, o mago ilusionista. Esta sala pode ser um porto, e o Mar invade a cena,
ameaçando inundar o quadro. Vemos um espelho, que significa a vaidade, na
representação do sexo feminino por meio de um espelho, e este significa a
reflexão, de uma pessoa que está aprendendo a se ver de fora, observando suas
próprias ações e entendendo as impressões que gera em outrem – é o popular
termo “enxergar-se”, no modo como há pessoas que, basicamente benéficas, passam
uma impressão ruim, tal a dificuldade de se enxergar por completo. Esta sala é
elegante e neoclássica, e a lareira, que deveria estar ardendo e gerando calor
e acolhimento está apagada em uma escuridão profunda, significando a incerteza,
numa janela que se abre para o nada, como no Umbral onde são perdidas as noções
de Tempo e Espaço, numa punição aos arrogantes, pois a arrogância precede a
queda, ou seja, curva-te e reinarás. Vemos edificações portuárias ao fundo do
quadro e no lado direito inferior, com janelas que derramam luz para o cais, na
narrativa liquidiscente de Moby Dick, quando temos a sensação de flutuação
aquática. São os mercados de peixes e frutos do Mar, com seu cheiro de oceano,
de peixe fresquinho, no hálito primordial de Iemanjá, a Mãe que nos trouxe das
entranhas oceânicas para a face da Terra, nos caminhos evolutivos, no modo como
tudo é processo, tudo é dinamismo, e a Verdade é uma busca incessante de
humildade e reconstrução. É claro que podemos ouvir o som do Mar, com suas
ondas requebrando, no barulho reconfortante de ondas quebrando, quando durmo de
janela aberta quando veraneio em Capão da Canoa, embalando-me pelo som
marítimo. É gloriosa a sensação liquidiscente, e os barcos atracados dançam
indefinidamente por esse útero agradável, no conforto de um lar, no modo como é
difícil sair de casa e ir morar sozinho, quando estamos, desde sempre,
acostumados com as benesses confortáveis do lar materno. Este mar não é muito
revoltoso, e suas ondinhas são brandas e modestas, discretas e tímidas, como na
tímida Vênus de Boticcelli, no jogo erótico entre timidez e exibicionismo, no
jogo provocante entre mostrar e esconder. Nesta cena, vemos construções, com
muitos arcos, com a sedução de suas janelas abertas, deixando o ar entrar,
fluir e sair, como um honesto cidadão no seu direito de ir a vir, no
desconfortável modo como uma celebridade não pode caminhar em paz na Rua,
sofrendo assédio desrespeitoso, como vi certa vez, num shopping, pessoas
parando Luis Fernando Veríssimo para tirar selfies com este – deixem o cara
passear em Paz! Este céu é dúbio, e não sabemos se está amanhecendo ou entardecendo,
na discrição dos tons de cinza, na profundidade do luto respeitoso. Esta sala
tem papel de parede listrado, num símbolo de elegância aristocrática, no modo
como os franceses simplesmente defenestraram suas próprias elites de
aristocracia, em um agressivo momento de ruptura, causando escândalos
internacionais, como no assassinato da família real da Rússia, na dureza dos
cursos da História, na amargura de um Ser Humano tão embrutecido, cético em
relação às belezas da Vida, como tomar café da manhã sentado no colo do cônjuge
– o Amor é tudo. Este espelho traz a reflexão prateada, entrando para um pódio,
no modo como Caxias do Sul é o segundo polo metalmecânico do Brasil, numa
cultura enaltecendo o árduo labor. Nesta cena, temo um Nash querendo conciliar
coisas primeiramente dissociadas, na capacidade do artista plástico em fazer
associações nunca antes imaginadas por outrem, no caminho inventivo da Originalidade.
Acima, Paisagem do Iden. As toras empilhadas são a organização, numa mente
saudável, que organiza e categoriza os objetos, ao contrário do acumulador, que
vai estocando objetos sem critério algum organizacional, num ambiente insalubre
e degradante. As toras são a força econômica, e têm uma clara finalidade, que é
produzir calor e energia, nas demandas sociais de um país, num mundo tão
pragmático, no qual um artista enfrenta uma grande dificuldade para se
estabelecer e ser considerado digno de respeito e relevância – é um desafio.
Aqui, as árvores estão todas nuas, empobrecidas, fracas e feias, como se uma
guerra tivesse ocorrido neste campo de batalha, num ambiente inóspito, estéril,
como um homem que já tentou ter filhos biológicos com muitas mulheres, tendo
que aceitar tal vicissitude e dar amor incondicional a filhos adotivos, no modo
como a Vida está aí, exigindo o máximo de todo mundo, no modo como a vida sem
vicissitudes não tem sentido. Talvez estas árvores estejam no Inverno,
permitindo que o Sol penetre entre os galhos nus, na inteligência que criou as
árvores que ficam caducas no Outono. Vemos uma espécie de barquinho com algumas
toras. O barco é o sonho de um artista, num barco navegando e aventurando-se
por águas nunca antes navegadas, no modo como um artista tem que se empenhar
para trazer coisas que nunca foram antes trazidas, no modo como, desculpe-me, não
vejo mérito em artistas galgando caminhos que já foram galgados por outrem, ao
contrário do momento áureo de Ray of
Light, de Madonna, quando esta tratou de ser criativa e original. Este
cenário tem um infeliz aspecto de campo de concentração, talvez num Nash
debruçado sobre o fedor nazista, num mundo perplexo frente a tanto ódio por
parte de um sociopata que desejava destruir o Mundo. Podemos ouvir aqui um
melancólico e doente canto de pássaro, num choro, numa lamentação, num cenário
tão pobre e arrasado. Não vemos uma viva alma aqui, numa tristeza desértica,
num Nash catarseando um sentimento de desolação e lamúrio. Apesar disso, aqui
temos uma cena limpa, muito limpa, e o chão está impecavelmente varrido, no
empenho de um sociopata em ter uma aparência impecável, para, assim, poder
lançar suas ardilosas teias maléficas, na questão de O Senhor dos Anéis: os personagens do Bem têm uma aparência tosca,
mas causam uma boa sensação; os do Mal, uma aparência impecável, mas causam uma
sensação desagradável. Talvez, isto aqui seja um campo de treinamento militar,
com uma rígida disciplina, num dia a dia de trabalho e terror, assim como é o
dia de Mordor, a terra negra do Mal tolkienense, num termo que remete ao termo murder, em inglês, que quer dizer assassinato, no modo como, em O
Iluminado, um menino clarividente que previu uma tragédia
sangrenta – um bárbaro homicídio. É o hálito negro do Umbral, a dimensão da
grosseria e do sofrimento, com espíritos maltratando uns aos outros, esquecendo-se
de que são irmãos; de que são iguais. Aqui, a luz do Sol é pálida, fraca e
triste, muito longe de um radioso Sol num Céu de Brigadeiro. Apesar do Céu aqui
estar limpo e com belas nuvens, é ainda assim um Céu melancólico, e esta cena
traz pouco conforto ou contentamento, numa pessoa com demasiada agressividade,
infeliz ao ponto de dar o cabo da própria vida, como num Getúlio Vargas, um
homem incapaz de imaginar a Vida sem Poder, no apego humano ao Poder, ao
mundano. Vemos aqui colinas ao fundo, mas também parecem ser estéreis. Aqui,
temos um cenário no qual a Beleza luta para sobreviver e manter-se, numa
disciplina demasiada que vai se revelando sem sentido, no modo como o
Nazifascismo acabou sendo desmascarado e rechaçado, numa herança maligna que a
Humanidade, até hoje, está tentando esquecer. Na porção direita do quadro,
vemos um muro, que é o percalço, o impedimento. É uma proibição. Então, o
artista tem que ter força olímpica para vencer tal muro, dando um salto de vara
e estabelecendo-se paladinamente, erguendo a cabeça e sendo digno, como num
altivo Leonardo DiCaprio recebendo seu Oscar, fazendo com que acabemos tirando
o chapéu para um artista.
Acima, Paisagem de um Sonho. O pássaro se olha num espelho, num momento de
autocontemplação, no modo como os espelhos, trazidos pelos navegantes europeus,
causavam fascínio nos indígenas, fazendo com que estes considerassem mágicos
tais espelhos. O pássaro é a Liberdade, num feliz cidadão em um estado em que
as liberdades são respeitadas, no modo como são toscos os estados ditatoriais,
causando desconforto ao próprio cidadão, pois só há Prazer e Bem na Liberdade,
fazendo com que a desagradável ausência de Liberdade se mostre uma sucursal do
Inferno, a dimensão desagradável. Podemos ouvir o som de Mar, com suas ondas
rítmicas banhando a beira, como numa respiração, nas ondas indo e vindo, no
enigma que ainda persiste na Humanidade: Há Vida fora da Terra? Então, o Ser
Humano se sente navegando um pequenino barco em um oceano tão vasto, vasto
demais. Céu e Mar unem-se aqui num continuum azul, como ouvi numa certa canção:
“Eu descobri que são azuis as paredes da Casa de Deus”, no modo como o espírito
desencarnado, na Colônia Espiritual, ache lá o Céu mais azul do que na Terra,
quando, na verdade, é o mesmíssimo Céu aqui ou acolá. Neste quadro, vemos as
armações de um biombo, só que um biombo nu, translúcido, que permite que
enxerguemos através dele, assim como é Tao, o Senhor invisível que faz com que
observemos com clareza, como no enigma da Matéria Escura, o “cimento” invisível
que mantém o Cosmos unido, como um só, no modo como Tao é um só, sem infelizes
caminhos alternativos, ou seja, sem submundos. A praia está deserta, como me
disse um parente: “É deprimente vir para a praia fora do período de veraneio”.
Aqui, as ondas se chocam violentamente com as rochas, desafiando a dureza
pétrea, num longo trabalho de persistência, pois nunca ouvimos dizer que “água
em pedra dura, tanto bate até que fura”? Este biombo projeta uma sombra
azulada, num por do Sol marciano, azulado, no pontinho azul que é a Terra vista
de outros pontos do Sistema Solar. Aqui, este espelho não revela o artista, o
qual desaparece, numa prova de discrição e recato, num Nash que sabe que o
artista não deve aparecer mais do que a própria obra, num Mundo que
naturalmente desrespeita o showman, o exibidinho, o homem que quer aparecer
pelo puro fetiche de aparecer, num certo vício ilusório, pois uma celebridade
não ama aparecer? E se, depois, não poderei caminhar em paz na Rua? Tudo tem
seu preço, numa supercelebridade que simplesmente não pode sair na Rua, como
num presídio. Vemos um pássaro voando, no prazer onírico de volitar, o termo espírita que fala sobre
quando conseguimos voar, numa sensação deliciosa de força, vida e prazer – é a
leveza de um espírito que consegue voar como um pássaro, na força do Espírito
Santo. Neste reflexo, é tudo mais vermelho, na cor de sangue de um Sol sendo
assassinado, ressuscitando no dia seguinte, renascendo como a Fênix, na força
que faz com que o espírito jamais morra, na grande lei universal: O espírito é
único, indivisível e imortal. Dá para imaginar presente maior do que a
Eternidade? É o nobre presente, que nunca perece, estraga ou caduca. Doces
nuvens brancas cruzam estes céus, como algodão doce, em doces memórias de
infância, a fase da Vida em que tudo é mais simples, fazendo com que as
crianças ensinem aos mais velhos a lição da Simplicidade, pois, quando criança,
o espírito recém saiu da Dimensão Metafísica, trazendo resquícios de tal vida
maravilhosa. Neste quadro, vemos algumas esferas, como numa mesa de sinuca, no
prazer de jogar algum esporte, na memória que tenho de ganhar uma bola de
aniversário, na simplicidade do prazer de fazer um gol, no termo “bola dentro”,
que fala de alguma atitude feliz, que atingiu seu objetivo, no gosto da
realização, rechaçando as frustrações e dando a volta por cima. Essas bolas são
como um colar de pérolas desmantelado, numa Iemanjá distribuindo as pérolas a
seus filhos navegantes, no talento da distribuição.
Acima, A Estrada Menin. Um melancólico cenário de devastação e destruição,
talvez num momento de devastação existencial, numa vida que se transformou numa
fábrica de frustrações, num indivíduo que, de uma forma muito repentina,
deparou-se com um quadro de devastação, beijando o fundo do poço, tendo que
empreender um esforço gigantesco para se reerguer. É um quadro triste, sem
muitas cores, na beleza que inexiste nos conflitos da Terra, algo muito longe
da beleza eterna metafísica, num Ser Humano com uma ancestral vocação para a
infelicidade, num talento para a violência. Aqui, há um amplo lamaçal, e as
poças d’água são paradas, estagnadas, e nada flui, nada vive, nada se renova, e
há apenas esta água suja e pestilenta, imprópria para uso, para consumo, e é
uma água enlameada, tóxica, que faz mal a quem a beber, como um veneno, no modo
como a Guerra envenena as relações diplomáticas, sem espaço para conversa
civilizada, sem espaço para uma polida conversa entre dois cavalheiros. Podemos
ver poucos homens na cena, talvez os sobreviventes de uma batalha sangrenta,
com pessoas que passaram por uma experiência traumática, arrastando, para o
resto de suas vidas, uma sequela, um trauma irreversível. As guerras são
grandes funerais coletivos, e rapazes, na flor da idade, com toda uma vida pela
frente, são ceifados como gado no matadouro, banalizando a vida humana – é
claro que Tao não gosta da Guerra nem da Raiva. As árvores aqui estão decepadas
e mortas, talvez intoxicadas com armas químicas, na crueldade humana em fazer o
máximo de Mal possível. Aqui, não há Vida, e há só ausência e privação, como
uma pessoa padecendo de fome na Rua, num contexto em que se perdem as noções de
Tempo e Espaço, numa pessoa jogada numa calçada fria, enfrentando a inevitável
indiferença do Mundo. Porém, aqui, há uma nesga de esperança, pois alguns raios
de luz, retilíneos, caem do Céu para abençoar esta terra são arrasada e coitada,
tão desprivilegiada. É a esperança de que os percalços serão contornados e de
que um belo dia novo virá, jorrando luz e cura, curando feridas e fazendo com
que uma pessoa dê a volta por cima, no grande desafio que é se reerguer, numa
pessoa que não tem outra escolha, senão enfrentar o trabalho e seguir adiante.
Essas poças são reflexivas, como espelhos, num momento em que Nash faz um reflexão
sobre as guerras, questionando se é necessário tanto sangue sendo jogado fora,
numa lamentação, num Nash que se vê impotente para curar as feridas do Mundo,
pois o Mundo não muda, e a preciosa Filosofia também não muda o Mundo, mas pode
mudar o modo particular de uma pessoa observar tal Mundo, numa questão íntima e
pessoal, particular, numa cabeça que gravita acima das mediocridades, fazendo
do sábio a promessa de uma dimensão melhor, muito melhor – é a Terra Prometida,
o Reino dos Céus anunciado pelo espírito mais depurado que já encarnou na
Terra, num Jesus Cristo absolutamente alheio a violências. Os céus aqui lutam
para que a luz penetre e cure, nos poderes miraculosos que o Evangelho atribui
a Jesus. Este cenário luta para se reerguer, encarando um longo percurso pela
frente, numa demanda que exige uma Vida. Aqui, temos um silêncio cemiterial,
morto, com cadáveres apodrecendo, com rapazes que sequer terão a honra de ser
sepultados juntos aos falecidos de suas próprias famílias. Aqui, é como um
grande depósito de lixo, cheio de entulho inútil, na inutilidade das vaidades
humanas, dos orgulhos arrogantes humanos, num rei ambicioso, num rei que não
está contente nem satisfeito com suas próprias terras, pois a ambição é inimiga
da Paz, e se você não está o tempo todo querendo, você poderá ter Paz, pois se
o que você tem, você acha que não é o suficiente, então você nuca terá o
suficiente – é a simplicidade de Tao, o contentador. Este quadro é muito
distante do conforto acolhedor de um lar limpo e com mesa farta. É uma miséria,
com seres humanos megalomaníacos, empenhados em anexar mais e mais terras a
seus mundanos domínios. Se estou contente com o que tenho, estou bem, num mundo
em que o consumismo traz a sensação de vazio espiritual.
Referências bibliográficas:
Paul Nash. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 19 jun. 2019.
Paul Nash Obras. Disponível em <www.google.com>.
Acesso 19 jun. 2019.