Paulista de 1944, Jeanete
Musatti conquistou seu espaço na Arte Contemporânea Brasileira. JM tem obras
pertencentes ao acervo de vários museus, instituições e coleções. Em 1983, a Associação Paulista
de Críticos de Arte deu a Jeanete o prêmio de Artista Revelação. Os textos e
análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Create Dream. O salto é a feminilidade, o encanto feminino, numa
fragrância doce, no encanto de uma mulher perfumada. O salto é a diferenciação,
é um nível acima, numa mulher que foi elevada a uma categoria mais alta, como
um homem que trata a própria mulher como uma rainha. Os sapatos são a convenção
social, pois causam uma certa dor, um certo desconforto, mas é uma dor que a
mulher decide suportar, no modo como são corajosas as mulheres, enfrentando
mensalmente as dores menstruais. Esse sacrifício em nome da beleza é universal,
e em quaisquer culturas a mulher tem que se submeter a uma certa dor, em nome
da feminilidade. O salto é a entrada triunfante de uma topmodel em uma
passarela, dando a impressão de que a modelo está totalmente confortável, e que
caminhar de salto é o ato mais fácil e trivial de todos, nas “loucuras” que as
mulheres são capazes de fazer em torno de estética, na busca pela autoestima,
pelo “gostar de si mesma”, alimentando grandes mercados globais de produtos de
beleza e moda. O salto é chique, é refinado, e podemos ouvir o toctoc dos
passos dessa mulher, talvez numa Jeanete catarseando a dor proporcionada por
tão belo par de sapatos. As pedras aqui são polidas, civilizadas, e parecem ser
sabonetes em barras redondas, no ritual diário de purificação que é o banho,
num ser humano que, apesar de ser feito de carne e osso, quer cheirar como os
deuses apolíneos, no apelo de vendas de perfumes de uma Jequiti Cosméticos,
falando ao consumidor que os perfumes são o cheiro natural das celebridade,
numa convenção implícita: as celebridades fingem que são deuses; já, os
consumidores fingem que acreditam em tais divindades midiáticas. Esta mesa aqui
é bela, digna de uma vitrine de loja, nos apelos dos shopping centers, os quais
se transformaram em paradigmas de consumo, fazendo das vitrines “ímãs” atraentes,
fazendo o indivíduo comprar o máximo possível, até correr o risco de um
consumidor se endividar em meio a tantos doces apelos, como na cilada
tradicional que são os juros no cartão de crédito, no efeito bola de neve –
será que precisamos consumir tanto assim ou será que somos vítimas interpeladas
por lojistas talentosos? A mesa é o ritual social de se reunir com outras
pessoas para comer, cercando de ritualismo uma das necessidades mais básicas de
um ser vivo – a alimentação. Os sapatos aqui têm uma estampa sofisticada, bela
como hera se entremeando, no poder de sedução, numa pessoa sedutora que vai,
aos poucos, conquistando o namorado, até tomar conta total do terreno,
triunfando em meio a tanta paciência e persistência. Dentro dos sapatos vemos
lenços, como no interior de uma ostra, no sedutor olor do Mar, da origem da
Vida, numa fêmea exalando seu perfume no cio. Estas pedras impedem que os
sapatos voem. As pedras são o siso, o juízo, a referência, a base. É uma mulher
que sabe que, se quiser casar muito bem casada, tem que fazer algo a respeito,
tomando ação e agindo de modo a realizar tais sonhos matrimoniais, numa mulher
se guardando para o príncipe encantado. Aqui, o preto discreto é a reserva,
numa mulher que sabe que, se quiser um matrimônio sério, tem que mostrar que
não é uma mulher fácil ou vulgar, na questão do “vender-se” para um
pretendente. Aqui, o termo em inglês “dream” quer dizer “sonho”, ou seja, o
sonho de uma mulher em querer se diferenciar e ser valorizada, rechaçando ao
máximo um casamento infeliz ou medíocre, rejeitando um pretendente que não demonstrar
ter intenções sérias.
Acima, Lingans. Grãos de cacau dispostos na mesa, seduzindo-nos com o
perfume de uma chocolateria gramadense. É o resultado de um trabalho árduo e
persistente, numa pessoa debruçada inteiramente sobre uma demanda, sobre uma
necessidade de labor. São como pedrinhas em um rio, moldadas por muitos e
muitos anos de erosão aquática, numa espécie de lixa. A polidez é o apuro
moral, é a noção civilizatória. São como cápsulas fáceis de ser engolidas, como
no lubrificante sexual KY, numa ajudinha em nome do prazer. Aqui, a cor marrom
é terrosa, é da cor do chão, da base, numa artista que tem a noção de
disciplina de que é preciso sentar e produzir, mas nunca de forma obsessiva, nunca
de forma workaholic, sabendo entremear dever com diversão, pois não é horrível
a vida de uma pessoa que simplesmente não espairece em meio ao labor? Aqui, é
como uma exposição geológica, ou como pedras de um meteorito, causando as
cicatrizes na superfície lunar, no modo como o sonho de um artista é causar
essas “cicatrizes”, essas marcas, querendo ser célebre e famoso. Aqui são como
ovos de Páscoa, encantando uma criança em um ninho cheio de doces tesouros. É o
mistério da Vida, nas forças misteriosas que trazem um ser vivo ao Mundo, numa
grande charada de Tao, o indefinível, no modo como o Islã proíbe que Alá seja
retratado, na tentativa humana de perceber o imperceptível. Aqui, temos uma
hierarquia, pois nesse ninho, nesse lar, nessa família há irmãos maiores e
irmãos menores, e os mais velhos têm que ajudar a criar os mais novos. Aqui,
temos uma diversidade em tamanhos, e alguns ovos são mais redondos; outros,
mais ovais. É a vasta família de Tao, a grande família imperial forjada na
Imaculada Conceição espiritual, sendo Tao a força invisível que mantém tudo e
todos unidos, como na força de um patriarca, reunindo a família toda numa noite
de Natal. Podemos ouvir aqui o som da água deste rio correndo, no delicioso som
da fluidez, no caminho que faz com que fluamos juntos, como no poder de
liderança de uma Elis Regina, o espírito sábio que nos mostra o caminho, como
numa Elis tocando dentro de um carro em viagem. É o caminho da Encarnação, num trajeto
repleto de aprendizado, crescimento e depuração. Aqui, temos o grande ovo, que
é Tao, a grande mansão que nos espera como lar, após o Desencarne. É como o
termo “faraó” se originou do termo “casa grande”, nas deslumbrantes mansões
metafísicas nas quais Tao coloca, carinhosamente, os próprios filhos, pois Tao
é zeloso, fazendo metáfora com a Maternidade, num ato de dedicação e cuidado,
e, no fim das contas, tudo se reduz a Amor. Esses ovos são ogivas nucleares que
vão explodir a qualquer momento, como numa farta barriga de grávida, prestes a
trazer Vida ao Mundo. É como as grandes obras de Arte explodem como bombas
benéficas, atiçando as percepções das pessoas, numa espécie de bomba atômica do
Bem, numa explosão que, ao contrário de destruir, constrói. Nesta mesa há
espíritos em estágios diferentes de depuração, pois cada pessoa tem o próprio
tempo para crescer e amadurecer. Aqui, são como supositórios, trazendo cura e
saúde, sendo Tao o grande médico que traz bem estar a seus filhos, no modo como
o bom rei é aquele que traz ao povo uma sensação de saúde, de bem estar. Aqui,
são objetos decorativos, numa sala agradável, num ambiente limpo, perfumado,
recebendo convidados e proporcionando a estes a sensação de acolhimento, como
receber amigos em um frio dia de inverno em frente a uma lareira, no talento
que certas pessoas têm em bem receber. Aqui, é o resultado de um trabalho
paciente, numa aranha que vai lentamente tecendo suas teias de sedução.
Acima, Pêndulo V. Um pouco de Art Decò, no modo como os grandes movimentos
estéticos conduzem o Mundo em um dado momento, traduzindo o espírito de uma
época. O pêndulo é a passagem do tempo, das horas, no modo como a Vida é uma
contagem regressiva, como um foguete pronto para ser acionado e ir aos Céus,
levando a pessoa ao Plano Metafísico. Podemos ouvir o som do tictac neste
relógio, e o som das badaladas que marcam as horas indo e vindo. No topo deste
pêndulo, temos um olho frio de câmera fotográfica, no olho que o artista tem em
retratar o Mundo da forma mais autêntica possível, e cada um de nós tem um modo
particular de observar o Mundo. Este quadro é o estilo, na força marcante de
uma pessoa abençoada que tem senso de estilo, como na lendária Jackie O., a
maior mulher das História dos EUA, uma pessoa simples e elegante que era
respeitada e ovacionada, podendo tranquilamente caminhar na Rua sem ser
importunada por paparazzi ou tietes histéricas. Jackie era simples. Este
pêndulo é vazado, pois, em um arejamento, proporciona que possamos ver o fundo
negro ao redor. O fundo negro é o quadro negro das escolas de antigamente, no
professor chamando a atenção dos alunos da forma mais nítida possível. Aqui, o
ar circula saudavelmente, numa casa arejada, sem estagnação, no modo como é
infeliz a pessoa que, arrogantemente, crê que já sabe tudo e cai em uma triste
estagnação, e Tao é a fluidez eterna, nunca resultando em uma pestilenta água
parada. Este pêndulo tem um aspecto prateado, lustroso, no brilho prateado dos
primórdios do Cinema, no modo como até hoje existe charme num filme em preto e
branco. Este pêndulo está parado, como se fotografado no exato momento em que o
pêndulo está reto, num quadro que, apesar de ser altamente assimétrico, tem
também uma certa simetria no contorno do elemento pendular. O fundo negro são
os enigmáticos confins do Universo, na total incapacidade humana em apreender o
Infinito. Você já se deparou para pensar que jamais morrerá, e que a Vida
sempre continuará fluindo? Nada mais natural do que Tao, o Infinito, dar-nos de
presente a Vida Eterna, num presente nobre, de qualidade alta, que jamais
perecerá. Aqui, temos um buraco de fechadura, num enigma buscando por uma
solução, por uma resposta, e a chave tem que encaixar para abrir essa porta e
solucionar os negros mistérios deste quadro. É o interesse humano em abrir tais
portas, trazendo esclarecimento, conhecimento. É o dever científico em
encontrar tratamentos e curas para doenças. Aqui, é como um cano de revólver
sendo apontado para o espectador, pronto para ser puxado o gatilho e “detonar”
com as percepções do espectador, no termo em inglês “hit” que quer dizer
“agressão”, ou seja, um artista que se convenceu de que é necessária uma certa
agressividade para que o artista sobreviva em um Mundo tão concorrido,
como num popstar que sabe que tem que produzir um videoclipe muito bom e
marcante, pois, do contrário, este artista jamais atingirá seu público. E
competência tem a ver com Amor – tenho que me dedicar e ser muito cuidadoso com
o que faço, pois se deposito Amor no que faço, esse amor será reconhecido. Se
sou incompetente, meu fracasso é minha culpa e de mais ninguém. Portanto, não
devemos culpar o Mundo. Neste quadro, a forma mais redonda ao centro é como uma
lâmpada de luz, explodindo no momento da fotografia, num artista que sabe o
momento certo de entrar e sair de cena, na virtude que é o contentamento – se
não estou satisfeito, como poderei ser feliz? Este pêndulo é como uma gota
d’água pronta par ser derramada, bombardeando as águas estagnadas da
mediocridade e causando saudáveis comoções, no poder da Arte em marcar épocas,
momentos. Neste quadro temos um centro gravitacional, e tudo parece girar em
torno de tal centro, só que cada elemento rotacional gira de forma própria, no
modo como cada pessoa tem que encontrar seu próprio estilo, sua diferenciação,
no pertinente termo “atitude” – tenho que ter muito ímpeto se quiser me
destacar. Aqui, é como uma urbe vibrante, com muitas coisas interessantes
acontecendo, como numa cidade de São Paulo, com suas vastas opções
civilizatórias de Cultura e expressão.
Acima, Reunião Crítica. Aqui, temos uma grande diversidade, pois cada
cadeira nesta reunião é de um tipo, de um estilo, de uma aparência. É o grande
desafio da Democracia – igualar e, ao mesmo tempo, diferenciar. É como uma
família de planetas gravitando em torno da mesma estrela, e o centro aqui é
Tao, pois é invisível, é metafísico, é o nada, é o vazio, pois Tao é desprovido
de ego e vaidades, muito diferente do Ser Humano, o qual coloca o próprio ego
no meio de tudo, numa pessoa obcecada em obter sucesso, poder e grana, fazendo
da ambição o grande vilão causador de infelicidade – como posso estar feliz se
nunca estou satisfeito? Jeanete aqui se esforçou para trazer cadeiras muito, muito
diferentes uma das outras, algo que eu, particularmente, aprecio, no modo como
no programa de culinária de Rita Lobo as comidas são servidas em pratos e
tigelas de diferentes tipos, na celebração da diversidade, uma diversidade que
já foi tema de uma edição passada da Festa da Uva de Caxias, na qual os visitantes
eram recebidos com um “bem-vindo” em vários idiomas. Nesta mesa redonda, não há
cabeceira,logo, não há hierarquia, e há aqui uma igualdade, como nas urnas
eleitorais, num momento em que gênero, classe social e raça nada significam. O
assunto nesta sala está ao centro, e quanto mais nobre for o assunto, mais
prazerosa será a conversa, no prazer de se sentar numa sala de estar e bater um
bom papo. Podemos ouvir o som gentil de pessoas conversando, numa sala com
pessoas bonitas e agradáveis – é a universalidade da Polidez. Uma cadeira
estampada lembra a face de um leão, o rei da selva, na agressividade que move
um carnívoro a devorar uma zebra, na fome por comida, no modo como o artista
tem que encontrar sua própria fome, seu próprio tesão, encontrando-se na sua
atividade, centrando a Vida ao redor da Arte, do Trabalho, pois não é infeliz a
vida que carece de Norte? Vemos uma cadeira rubra, vibrando como fogo e sangue,
no sangue que corre em nossas veias, fazendo-nos humanos e dotando-nos de necessidade
como respirar e comer, nas rígidas demandas da Vida Material, a qual deve ser
posicionada abaixo da Vida Metafísica, numa hierarquia. Vemos uma cadeira
listrada, que é a elegância, a retidão e o garbo, no encanto das estrelas de
Cinema da Era de Ouro de Hollywood, com atrizes que portavam majestosamente
luxuosos vestidos – por que será que eram assim essas estrelas? Que momento foi
esse? Vemos uma cadeira de couro de cava, macia, no modo como a Vida Material,
assim como numa Cadeia Alimentar, tem lá suas necessidades, no prazer de
devorar um bom filé suculento ou vestir um belo casaco de couro, na ironia de
que na Índia as vacas são sagradas – será que há Mc Donald’s na Índia? Vemos
duas cadeiras em um rosa pastel, e essas são ligeiramente cromaticamente
semelhantes, numa cor que traz brandura e doçura, suavidade. São como primos, e
há entre elas um relacionamento especial, algo que foge desta sala de visitas –
é a diferença entre Vida Social e Vida Amorosa, pois quando uma grande amiga
minha me tirou as cartas do Tarô, as previsões para essas duas vidas eram
separadas, ou seja, um baralho embaralhado para cada tipo de vida. Vemos uma
cadeira com traços mais antigos, em madeira entalhada, que é a tradição, o
culto ao antigo, ao que já passou mas que conserva charme ainda, num charme retrô.
Vemos outra cadeira de madeira, mas com traços bem mais modernos, simples e
elegantes, que representa a Vanguarda, a transgressão, a transição para novos
momentos artísticos, em novas ondas de estilo, atitude e estética, nas ondas
que lavam o Mundo, fazendo com que muitas pessoas ao redor do globo sigam mais
ou menos a mesma pista, numa espécie de suruba global. Vemos uma cadeira bem
mais simples, com modestos aros negros e um assento branco, num contraste, numa
cadeira mais humilde, sem tantas ambições de ser o topo do topo – é a timidez e
o retiro, no charme de uma Diana, sempre tímida, cabisbaixa, um monstro midiático
global – seja pacato como um Clark Kent e serás um Superman, na divisão necessária
entre público e privado, como numa celebridade sendo entrevistada, tendo que
cuidar para não trazer a público coisas muito íntimas. Por fim, de costas para
o espectador, uma cadeira negra, um trono, confortável, numa profundidade negra
salpicada por “estrelinhas” que servem como botões de costura – é a sedução de
um Céu noturno, com estrelas salpicadas como grãozinhos de sal. O que é o
Universo?
Acima, sem título. Grama ou barba
crescendo, nas demandas orgânicas que regem a Vida na Terra, no incessante
labor, na rotina que faz com que tenhamos uma vida limpa e agradável. Aqui, os
fios estão em estágios diferentes de crescimento, no modo como todos estamos em
tais diferentes estágios existenciais, sendo que cada um tem que se debruçar
sobre a própria vida, e não querer cuidar da vida dos outros... Esta caixinha é
como um criadouro, uma horta, uma plantação, um vaso numa varanda. A caixinha é
a limitação, no modo como a pessoa tem que delimitar um escopo para fazer, por
exemplo, um trabalho de conclusão de curso universitário, na necessidade de se
ter um foco, um objeto de estudo, descobrindo tudo o que for relativo a tal
escopo. Aqui são como vinhedos podados no Outono, hibernando e depois renascendo
na Primavera, nos milagres da Natureza em renovar a Vida e trazer esperança
àqueles que vagam pelo Mundo Material em busca de um pouco de consolo e
significado. O interior da caixinha é estampado como mármore, no poder de um
Michelangelo em transformar um bruto bloco de pedra em algo sublime, de técnica
absolutamente excepcional, no modo como o talento é algo que simplesmente nasce
com a pessoa – é do espírito, pois não há universidade que ensine a lição do
brilho, como Tao, o sempre brilhante. Num pequenino detalhe, vemos uma pequena
forma humana em pé, de braços cruzados. É o dono da plantação, o conceptor de
tal criação, numa posição bem discretinha, bem despretensiosa, numa pessoa que
aprendeu a lição da discrição, pois a pessoa exibidinha, que quer aparecer por
aparecer, nunca é secretamente respeitada pelo restante das pessoas. Esta
pessoinha está num momento de descanso, depois de tanto trabalhar arduamente,
numas merecidas férias, ao contrário do workaholic, que simplesmente não vive.
A pessoinha está numa simples nudez, numa pessoa em um momento de retiro dentro
do lar, como um bebê muito confortável dentro de uma barriga, num lugar
quentinho em que a pessoa se sente muito, muito à vontade. Esses capins são
como uma terra devastada, desmatada, nos crescentes apelos globais em nome da
preservação das reservas naturais, no modo como seria deprimente uma nação a
qual destruiu todas as suas próprias florestas, num apelo que podemos ver até
na obra de Tolkien, reprovando o assassinato ambiental. Aqui é como um mato
depois de uma queimada, com ramos carbonizados, absolutamente mortos, e podemos
ouvir o das impiedosas labaredas consumindo tudo ao seu redor, como um coração
seduzido pelo Mal, numa pessoa na qual é fácil de se observar a predileção pelo
Mal, num psicopata que, definitivamente, perde o seu próprio tempo em
elucubrações maléficas. Aqui, esses troncos querem crescer, atingindo o topo da
caixa, numa pessoa que quer se encontrar e prosperar, realizando sonhos,
inocentes sonhos, num coração benéfico, que quer trazer coisas boas ao Mundo.
Não podemos ver aqui as raízes de tal floresta, no modo como Tao é invisível,
pois é o provedor, o artista, a pessoa por trás de um grande trabalho, no modo
como o artista tem que desaparecer em frente à própria obra, como num ator
genial, em cuja interpretação vemos o personagem, nunca o ator. É a lição da
invisibilidade. Esses troncos lutam para se desenvolver, e querem muito vencer.
São como arranhacéus em uma pujante cidade, nas ambições humanas de se arranhar
os limites, em sonhos de Engenharia, nos invejáveis prédios do Plano
Metafísico, um lugar em que a Lei da Gravidade pouco significa, fazendo desta
lei uma verdadeira corrente que nos aprisiona, mas é uma prisão temporária,
como em um iogurte, com prazo de validade. Aqui, houve uma ceifada, uma
limitação, como asas sonhadoras sendo cortadas, no desafio que é não deixar o
próprio coração ficar empedernido em meio a um Mundo tão duro.
Acima, sem título. A
tartaruguinha é a Vida, a força da Vida, numa esfera tão singular, tão rica em
Vida que é o nosso planetinha, com belezas naturais que nos desafiam a imaginar
se há outras esferas tão belas como a nossa. O bicho está em cativeiro, talvez
num zoo, no modo como todos os encarnados estão em cativeiro, como uma vítima
sendo sequestrada, jogada em um canto enclausurado, como se a vítima fosse um
bicho, e não um ser humano. O bicho aqui, apesar de tal prisão, vive
tranquilamente, talvez não se dando conta da “jaula”, talvez acostumado com tal
situação, não podendo imaginar uma vida melhor, uma vida mais livre. Aqui,
temos um aquário, o qual é Tao, o copo vazio que, sendo vazio, serve ao Mundo,
no modo como servir ao Mundo, sendo amado por este, exige que a pessoa se dispa
dos apelos vaidosos do Ego, pois Tao é a humildade eterna, no fato de que
nenhum ser humano é o centro do Universo. Vemos aqui um belo prato azul, da cor
do Céu e do Mar, numa sedutora paisagem mediterrânea, num perfume de Antonio
Banderas, no fascínio que os mares exercem sobre o Ser Humano. O prato é a
fome, a ânsia por viver. O prato aqui está vazio, esperando por comida, por
combustível, e talvez a tartaruga seja tal refeição, na agressividade de um
predador carnívoro, caçando suas vítimas e lutando para sobreviver em um mundo
no qual as coisas são tão difíceis. Abaixo da tartaruga, respaldando-a, um
terreno nivoso, branco, com plantas de cristal, na beleza de um gramado coberto
de geada, parecendo ser feito de cristal. É o momento invernal, num retiro, uma
hibernação, um sono, e a tartaruga parece estar hibernando assim, esperando
pelos primeiros sinais de uma volta por cima, com os ventos primaveris de
renovação chegando e libertando todos do rigoroso gelo. É a Ressurreição de
Cristo, desencarnando e reencontrando o Mundo Divino do qual veio, na promessa
do Reino dos Céus, uma dimensão pela qual devemos ter fé, mas nunca certeza...
É o desafio da Fé. O aquário é belo, feito de fino cristal, e é uma bela
prisão. Mas, por mais bela que seja, é ainda uma prisão, e de que adianta estarmos
em uma prisão de ouro maciço se tal prisão não traz consolo? O casco da
tartaruga é a proteção, o resguardo, numa pessoa que tem que aprender a dizer
não e a tomar as rédeas da própria vida – não é inconcebível uma pessoa que não
sabe dizer “não”? O prato é da cor de Netuno, o planeta azul, belo em seus
mistérios gasosos, desafiando-nos a imaginar o que há nele. E a tartaruga
repousa docemente, segura dentro de tal clausura, sendo a sua própria casa,
reclusa no quentinho interior em um dia de Inverno frio. O casco é a proteção,
pois quando o bicho se sente ameaçado, recolhe-se rapidamente, esperando que
passe a nuvem de instabilidade, na questão do saber esperar – se espero um
pouco, sem desespero, eu posso agir. O Inverno é uma travessia, um desafio, exigindo
que tenhamos fé na Primavera, no renascer, no capítulo seguinte à Vida Terrena,
fazendo da morte orgânica uma ilusão, uma simples vírgula. O interior deste
copo está pronto para ser bebido, numa artista feliz, que se vê útil e
pertinente ao Mundo. O aquário é a mão humana, no talento de transformar
materiais em coisas úteis, como o próprio aquário. Parecendo estar morta, a
tartaruga repousa, acordando em acolhedores lençóis, despertando em um lugar o
qual leva o nome de “Lar”, como uma vencedora de concurso de beleza voltando à
sua cidade de origem, no retorno triunfante daqueles que cumpriram uma missão
importante. Aqui, temos o silêncio profundo e sábio do Inverno, na ponderação
das mentes sábias, que sabem que há virtude na Paz, a qual é muito, muito
melhor do que a Raiva. A tartaruga se refugia em sua toca, como um artista
enfurnado em seu ateliê, sempre criando, sempre ocupando o tempo, sempre
concentrado em produzir para, assim, comunicar-se com o Mundo. O brilhante
prato é o esmero do artesão, depositando Amor naquilo que faz, pois como posso
ser feliz se meu trabalho não me faz feliz?
Acima, Tum Tum Tum Bate Coração. O coração é a paixão, a devoção, e talvez
o sofrimento de um amor não correspondido. Este coração é como um nobre brasão,
trazendo virtude, nobreza, como numa pessoa honesta, simplesmente incapaz de
passar os outros para trás, numa questão de caráter e honestidade. O coração
está adornado com motivos florais, pacientemente bordados por uma costureira
dedicada, debruçada, assim como o trabalho exige que o artista tenha dedicação
e esmero, tendo amor pela própria obra. O coração está guardado em uma
caixinha, a salvo, como num fortíssimo cofre de banco, no sentido de que tudo
gira em torno de Amor Incondicional, fazendo do dinheiro uma cópia grotesca do
Amor, na questão de que a pessoa não pode se escrava do dinheiro, ao contrário
de muitas e muitas pessoas, nos incontáveis sonhos de loteria, pois dinheiro
traz tudo, menos preenchimento existencial. Podemos ouvir aqui o coração
batendo, pulsando, esbanjando Vida, bombeando o sangue por todo um organismo,
assim como a seiva nos vegetais, no modo como Tao é o grande nutridor,
provedor. Este coração tem uma assimetria clássica, aristocrática, fina, de bom
gosto, na beleza das ações gentis, como abrir a porta a uma pessoa idosa e um
tanto incapacitada, no prazer que me dá fazer certas gentilezas, visto que tudo
acaba se reduzindo a Amor. O coração é de um bordô discreto, profundo, na
profundidade de uma mente que medita sobre o Mundo, tentando entender este,
entender por que a Vida tem este aspecto tão duro e áspero, levando-nos à
conclusão de que a Vida sem percalços não tem sentido. É da cor do vinho, do
sangue de Cristo, do sangue inocente derramado por uma Humanidade tão
despreparada para as palavras do Salvador, num Mundo até hoje despreparado, nas
dificuldades materialistas em compreender o Metafísico, o intangível, no modo
como Tao é feito de pensamento, e não de matéria, na obsessão humana em possuir
pedras e metas preciosos, havendo nestes uma metáfora em relação à Eternidade,
mas é apenas uma metáfora, pois a Matéria está fadada a ser inferior ao
Pensamento. Esta caixinha é a segurança, a garantia de que está tudo a salvo,
deixando-nos dormir em paz à noite, no tranquilo sono daqueles que não faltam
com o comportamento moral. Acima do coração, vemos imagens um tanto imprecisas
e enigmáticas. A primeira parece ser uma pessoa carregando um pesado fardo,
numa encarnação, ou no modo como a pessoa rica pode ser escrava do próprio
dinheiro; a segunda parece ser uma explosão rubra sobre uma pessoa dormente,
nos enigmáticos códigos oníricos da Gestalt, que afirma que os sonhos são
feitos de projeções da mente própria pessoa; a terceira parece ser um paladino
cavaleiro montando em seu triunfante cavalo, na vitória da Honestidade sobre a
Malícia, nos alvos pés de Nossa Senhora, sempre esmagando e desprezando a
serpente da Malícia. Os ramos deste coração são um jardim apolíneo, muito bem
cultivado, com o amor de um jardineiro esforçado, no modo como tantas pessoas
ignoram as belezas naturais, como na perfeita simetria de uma flor de plátano.
Este coração parece ser um irresistível doce, pronto para ser devorado com
tanto prazer, no agradável pecadinho da Gula, no modo como é doce a vida da
pessoa produtiva, da pessoa que faz algo de nobre com seus dias na Terra. É
como um lindo presente de aniversário, numa festa, num momento de interação
social que busca imitar as lindas festas metafísicas, num momento de polidez e
acolhimento, numa criança que, no dia do próprio aniversário, sente-se o Rei do
Mundo! O coração são os relacionamentos, as amizades, os vínculos espirituais,
vínculos estes que sobrevivem ao Desencarne, com amigos e parentes se
reencontrando alegremente nos salões cristalinos do Céu, o verdadeiro Lar, a
morada de Tao. Este brasão impõe respeito, como numa casa respeitada, cheia de
virtude, com irmãos que cuidam uns dos outros, na Grande Família Metafísica. É
como um nobre bordado de um vestido de Rainha da Festa da Uva.
Referências bibliográficas:
Jeanete Musatti. Disponível em <www.artsy.net>.
Acesso 24 jul. 2019.
Jeanete Musatti. Disponível em <www.bolsadearte.com.br>.
Acesso 24 jul. 2019.
Jeanete Musatti. Disponível em <www.catalogodasartes.com.br>.
Acesso 24 jul. 2019.
Jeanete Musatti. Disponível em <www.escritoriodearte.com>.
Acesso 24 jul. 2019.