quarta-feira, 30 de março de 2022

La La Lauand (Parte 1 de 2)

 

 

Falo agora sobre a artista visual brasileira Judith Lauand. Nascida em Pontal, SP, em 1922, Judith começou a carreira nos anos 1940, estudando Arte e, em 1952, estudando Gravura. Suas abstrações já passaram pelos Museus de Arte Moderna de SP e RJ. Ganhou em 1958 o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, tendo sido o mestre Nelson Leirner já analisado aqui no blog. Em 1960, Lauand expôs em Zurique. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Concretista IV. Aqui temos um encontro, um entroncamento, um confronto entre forças, com ruas perpendiculares, cruzando umas às outras, como em estampa de kilt, com pessoas passando umas pelas vidas das outras, com lições sendo aprendidas e amizades sendo sedimentadas, havendo na Eternidade o tempo para qualquer, qualquer reencontro, em relacionamentos sadios, leves e desapegados, ao contrário de relacionamentos doentios, fixados e obcecados, como uma pessoa que conheci, a qual nutria uma paixão exageradamente fixada por outra pessoa, numa obsessão doentia que é mostrada no filme espírita E a Vida Continua, num rapaz fixado numa moça, sendo o espírito obcecado contido por anjos auxiliadores, pois se somos todos irmãos, que vieram no mesmo Útero Divino de Tao, por que devemos estar obcecados uns pelos outros? Aqui é como um prédio modernista, de linhas retas e simples, no modo como casas modernistas, feitas nos anos 1920, permanecem perfeitamente modernas até pleno início de Século XXI, nas linhas simples piramidais egípcias, feitas, ironicamente, há milênios, permanecendo modernas até hoje, na máxima de da Vinci: A simplicidade é o mais alto nível de sofisticação, como uma publicitária que conheci, a qual me incentivava a usar fontes de letras simples, sem serifa, evitando fontes como Times ou outras serifadas. Aqui é um encaixe, uma concórdia, uma vitória de diplomacia e diálogo, no modo como faltou diálogo no cruel episódio das Malvinas, com nações que, podendo ser amigas, entraram em conflito, no modo como o civilizado diálogo é tão subestimado, havendo nações tão nobres como a Suíça, primando pelo diálogo entre irmãos do mesmo Pai, na eterna inclinação para Caim matar Abel, tudo por causa do maldito Anel do Poder, o qual corrompe as almas dos homens, num Getúlio Vargas suicida, amedrontado pela perspectiva de perder tal poder, num Trump que, definitivamente, teve muita dificuldade para desencarnar do poder e passar a tocha para Biden, como num Saddam, o sádico, acostumado a mandar e desmandar em tudo e todos, num Calígula, cuja alma se perdeu por completo em meio ao poderes de um césar. Aqui é como a brincadeira do cubo mágico, num trabalho de raciocínio, excitando a mente e desafiando o jogador, no modo como é apenas o Labor o que pode manter saudável a mente de uma pessoa, pois as pessoas improdutivas vivem em qualquer lugar, menos no mundo real, numa frase que ouvi: “Nada mais trabalhoso do que não trabalhar”, no conceito espírita de que os espíritos desencarnados devem se manter produtivos no Plano Metafísico, pois a vida continua em toda a sua seriedade, no caminho da depuração moral, fazendo das leis mundanas um modo de incentivar tal elevação, condenando o oposto, que é a degradação moral mundana, pois que esperança de felicidade há para uma pessoa que só quer passar os outros para trás? Aqui é como um prédio de garagem, útil, prático, funcional, desprovido de beleza, mas rico em utilidade e dignidade, num prédio que, apesar de não tão belo, cumpre sua função, com homens fortes e necessários, que erguem uma cidade, como um prefeito competente, tocando obras por vários lados da cidade, mostrando serviço, dando satisfações a quem nele votou na urna eletrônica. Aqui há tensão e truncamento, numa negociação dura, ou como oponentes num debate político pela televisão, na competição para ver quem tem mais poder na urna, num jogo de palmo a palmo, fazendo das eleições um campeonato. Aqui, as formas se entrelaçam de forma viril, num acordo de cavalheiros, na máxima taoista: A paz é maior e melhor do que a raiva. Aqui é como uma fábrica fazendo coisas, como chapas metálicas, no arrojado parque industrial de Caxias do Sul.

 


Acima, Concretista X. Um abalo sísmico, uma interferência, como num grande filme causando comoções globais, como o arrebatador Titanic, marcando época, num doce momento de sucesso, no fato de que os momentos, doces ou amargos, passam. Aqui é um corpo dinâmico, passando por constante processo de transformação, no caminho de depuração moral, cada vez melhor, cada vez mais fino. Aqui são tentativas de encaixe, como numa pessoa querendo se encontrar na vida, buscando um norte, uma noção, no caminho autodidata, no qual apenas Luizinho pode saber o que Luizinho tem que fazer, num encontro que é dentro de si, nunca fora de si, na ilusão de uma pessoa que acha que a vida é perfeita na cidade x, y ou z, no caminho da desilusão e da mortificação, num espírito que passa a ficar em contanto com a realidade, e é triste a vida de uma pessoa que vive fora de tal realidade, de tal senso comum, pois o labor é o único fator capaz de manter a pessoa com os pés no chão, na importância da pessoa se manter produtiva, antes ou depois do desencarne – a vida continua, e o Céu é o paraíso para os que amam construir tal carreira, numa vida cheia de sentido e meta, de tesão pela vida. Aqui é como um objeto dissociado, analisado, desconstruído, num assunto sendo dissecado exaustivamente, como num trabalho de tese de faculdade, fazendo com que o aluno se torne um expert no assunto analisado pela tese, com uma banca de professores exigentes, que acabam ocasionando um enorme crescimento no aluno aplicado, no modo como já fui professor e sei: O bom aluno dá sentido à carreira docente, como um certo professor que tive, o qual brindei com um trabalho feito com muito esforço e carinho, naqueles professores que valem cada centavo da mensalidade; já, outros professores, nem tanto – é assim mesmo. Aqui é um jogo de contrastes, com tudo trazendo em si sua própria contradição, no discernimento de Tao: Quando falo que algo é belo, é porque conheço o oposto, que é feio. É como um casal heterossexual: vemos que o homem é alto exatamente porque a esposa é mais baixa, neste papel menor e importantíssimo da mulher, a qual vem de forma discreta. Aqui é como um enorme maquinário sendo construído, talvez numa turnê de algum grande artista pomposo, como nos megashows de Madonna, visando deslumbrar o espectador, num trabalho árduo, numa mulher guerreira, com quatro décadas de carreira e luta – a vida é de quem luta por esta, com tantos artistas talentosos que pararam de lutar, tornando-se “fósseis” e “peças de museu” de alguma época ida. Assim são como pentes, no garbo, na aprumação, visando impor ordem e beleza a uma revolta e caótica cabeleira, num trabalho de disciplina, como num cavalo montado e domado, no modo humano de trazer ordem a um mundo de caos e desorganização, como num jardineiro aparando um gramado, na imposição de organização, no dever que cada pessoa tem em relação a si mesma, que é organizar a sua própria vida, num caminho solitário e autodidata – ninguém pode, em meu lugar, fazer com que eu me encontre. Assim são como letras E, numa dança, como num baile de carnaval, no momento de interação social, como na menina debutante, que se despede das bonecas momentos antes de ir ao desejado e glamoroso baile, no qual a moça é orgulhosamente exibida pelo pai, mostrando o potencial de noiva da menina, num, baile que, já ouvi dizer, é lá meio machista. Aqui são tentativas de encaixe, em tentativas, intenções, numa pessoa querendo se encontrar, como numa pessoa que muda de carreira, como Ronald Reagan, saindo do showbusiness para ingressar na política, no modo como toda pessoa tem o direito de “dar uma sacudida na poeira” e tentar a vida de outro modo, no sentido da pessoa querer ter uma vida melhor. É como Tolkien, o qual, antes de ser tal esmagador bestseller, foi professor universitário. Aqui são como marcas de pneus, fazendo uma marca, um registro, uma passagem, numa estrada calejada, como numa calejada cancha de artes marciais, talvez com marcas de sangue de algum lutador, na cor de Marte, o deus que faz com que tenhamos o controle sobre nossa própria vida – virilidade.

 


Acima, Gravura III, ed 26100. Isto remete a um antigo videogame, o Tetris, numa chuva de quadradinhos, retângulos, curvas quadradas etc., para o jogador ir encaixando as peças perfeitamente na porção inferior da tela, nos desafios dos games, como eu disse a um professor meu da faculdade, no primeiro dia de aula da segunda cadeira que ele me lecionou: “Estou aqui para novos desafios”, e ele disse: “Terás!”. É como um cantor encarando um novo momento na carreira, planejando o próximo lançamento, buscando ser o mais original e vibrante possível, na capacidade de uma pessoa ter a força para virar as páginas da vida, ao contrário de uma certa popstar, a qual vive até hoje nos anos 1980 – como seria insossa uma vida sem novos desafios! É como me disse uma médium espírita: “Deus não quer que nos tiremos nas cordas do ringue da vida”, como um Chico Xavier, produtivo até o último momento de vida, sempre se colocando a serviço das pessoas, do Mundo. Aqui é um jogo de xadrez festivo, alegre, diversificado, remetendo-me a uma certa artista plástica portoalegrense, expondo uma obra interativa no restaurante Birra i Pasta, num painel de quadrados o qual era montado pelo espectador, numa interatividade, num artista que quer fazer vínculo com o Mundo e com as pessoas, percebendo as pessoas em sua volta, pois o que seria de um artista sem espectadores? Não é um desafio conquistar o respeito dos outros? Aqui são como pixels, numa imagem digital, num zoom que nos mostra as partículas mínimas, no termo “átomo”, ou seja, sem divisão, num momento em que a Ciência acreditava que os átomos eram indivisíveis, sendo a partícula mínima, numa teoria que depois foi refutada, nas inevitáveis ondas de renovação científica, nos versos de Elis: O novo sempre vem. Aqui é como uma colcha de retalhos, na forma humilde de não se colocar fora pequenos pedaços de tecido, como no casting, no elenco de alguma novela, com personagens interagindo com outros personagens, na capacidade de certos escritores geniais em fazer com que os personagens “pulem fora das páginas” e entrem em contato direto com o leitor, como um certo artista plástico que conheço, o qual me disse sentir “saudades” dos personagens de Tolkien, como o rei Aragorn, o hobbit Frodo e o tempestuoso mago Gandalf. Aqui é uma dança vibrante entre cores, na magia de um arco-íris, hipnotizando os índios na Amazônia, na magia de finos lustres de cristal, emitindo suas cores variadas, num alegre salão carnavalesco, em alegres confetes coloridos, num breve momento de desligamento em que nos esquecemos das durezas do Mundo lá fora, na sisudez da Quarta Feira de Cinzas, como num Jô Soares fazendo piadas antes de entrevistar o convidado, no mestre entrevistador dizendo: “Vamos trabalhar...”, como professores no intervalo da aula, na sala dos professores, ouvindo o sinal de retorno à sala de aula, num certo contador que conheci, o qual dizia, após o intervalo no turno da firma: “Vamos tocar o barco para frente!”. Aqui são peças que se encaixam perfeitamente, como num mistério sendo solucionado, num leitor sagaz lendo Agatha Christie, sempre adivinhando, antes do fim do livro, que é o assassino, numa escritora que desafia divertidamente a inteligência do leitor, numa Agatha jogando pistas falsas para confundir, num ícone feminista, numa mulher que atingiu tanto sucesso em um mundo de homens, vendendo muito mais livros do que muitos homens escritores. Aqui há uma tentativa de harmonização, num patriarca tentando manter a família unida em uma noite de Natal, no talento agregador de certas pessoas, sempre tendo o prazer de ser anfitrião, como um senhor que conheci, o qual chamava todos os vizinhos para sentar e bater um papo, numa pessoa que viveu de coração aberto para o Mundo, um dom, pois nem todos vivem assim tão abertos... Aqui temos uma certa repetição de tons, num quadro que, mesmo assim, quer ser colorido e divertido. É um tapete alegre, numa sala fina, agradável, com um anfitrião de fino trato, que sabe que as grosserias nada constroem.

 


Acima, sem título (1). Um mecanismo dinâmico, giratório, no termo “fazer girar a roda da Economia”, numa cidade mercadologicamente dinâmica como Gramado, com todos os estabelecimentos querendo encantar o turista e fazer com que este deixe dinheiro na cidade, numa cidade cara, com preços compatíveis com o eixo Rio-São Paulo, com uma garrafinha de água mineral a qual, no supermercado, custa um real, sendo vendida, em Gramado, por oito reais – se os preços em Gramado estão assim exorbitantes, é porque há quem pague. Aqui é como uma galáxia girando, nos mistérios do Universo, pois como este funciona? É no modo como a galáxia de Andrômeda pode, sob certas condições, ser vista a olho nu na Terra, nas vastidões galácticas, pois precisaríamos de milhares de anos, na velocidade da luz, para cruzar de ponta a ponta tais galáxias, no termo islâmico: “Alá é grande”, numa vastidão incompreensível para a limitada mente humana, a qual não compreende Tao, o infinito, no mistério jamais revelado, desafiando a fé das pessoas, no descomunal poder que faz que jamais findemos -  Jesus, é muito poder. Aqui é como um ralo de pia, com a água escorrendo de forma espiral, nas forças magnéticas da Terra, pois a água corre em sentido horário ou anti horário – depende de em que qual hemisfério está o ralo. É a universalidade de tais corpos cósmicos, fazendo do Universo uma infindável sopa de galáxias, todas girando de forma cíclica, num certo balé universal, nas forças da Natureza regendo tal mecanismo, fazendo com que tais galáxias se pareçam com conchinhas à beiramar, no desafio científico que equivale a adivinhar como funciona um relógio sem desmontar este. Aqui é a Teoria da Comunicação, uma cadeira séria e difícil na faculdade de Propaganda, na espiral de diálogo entre duas pessoas, num mandando informações ao outro, num abraço de Yin envolvendo Yang, e viceversa, com um assunto que vai evoluindo, fazendo que tal troca cíclica mude de dimensão, adquirindo o aspecto de espiral. Aqui é a magia da ilusão de ótica, pois esta forma parece girar, apesar de ser um quadro inanimado. É como algo em constante processo, tomando corpo, incorporando novas peças e membros, num caminho de crescimento, no maravilhoso modo como as pessoas, apesar de crescer e depurar-se, não mudam em essência, pois que sentido haveria num contexto em que as pessoas perdessem suas próprias personalidades? Não é a Vida Eterna o caminho lógico de Tao, o poderosíssimo? Aqui é como um ventilador, esta formidável invenção que tanto alívio traz a altas temperaturas. Aqui é como o lento processo de formação de uma galáxia ou de um sistema solar, com demandas de bilhões de anos, fazendo da Terra este corpo dinâmico, sempre se transformando, na noção dialética de que tudo é processo, como no sensual farfalhar de folhas numa planta em uma noite amena de Verão, sempre evoluindo, num mistério sussurrante, num segredo, num enigma, na universalidade de tal situação humana, fazendo de uma Terra, aparentemente enorme, ser tão pequenina e limitada, uma esferazinha azul em um Cosmos tão enorme e infinito, numa Humanidade ainda muito aquém de revelar tais segredos – há mais estrelas no Universo do que grãos de areia na Terra. Aqui é como uma supernova explodindo em orgasmo, num salmão morrendo após o orgasmo, depois de lutar para subir correnteza acima, numa viúva negra devorando o parceiro após a cópula, no filme controverso Instinto Selvagem, lançando Sharon ao estrelato, no mito da fêmea fatal, lançando mão do fálico picador de gelo, como no corno fálico sensual do unicórnio, na combinação de beleza feminina com agressividade masculina, numa cosmogonia entre Céu e Terra, na cópula que originou o Mundo. Aqui é como uma vida centrada, girando em torno de algo produtivo, como um homem que conheço, o qual é extremamente centrado no trabalho, sobrevivendo, desta forma, a uma cruel separação conjugal – fora do trabalho, que salvação há?

 


Acima, sem título (2). Um jogo de neons decorativos, na revolução que foi a chegada da televisão colorida ao Brasil, nos versos de Jane Joplin: “Oh Deus Senhor, o senhor não vai comprar para mim uma TV a cores?”. Aqui temos divergências, numa discussão, com opiniões que diferem umas das outras, como numa reunião de condomínio, nos “barracos” acontecendo, numa certa tensão. É como uma briga de casal, na patroa dando uma “sova” no marido, como eu podia ouvir a discussão de um casal vizinho meu, com a esposa dizendo ao cônjuge; “Eu não aguento mais!”, com o marido sentado e calado, aceitando cada “soco” da patroa, no modo como em um casamento, para este ser eterno e bem sucedido, é necessário que haja paciência e tolerância para com os defeitos do cônjuge, como em bandas de rock, como um U2, com décadas de estrada, no modo como os “casamentos” são frágeis, faltando um pouco de paciência e persistência pelas partes do casal, neste respeito que tenho por casais que completam bodas de ouro, pois é fato de que qualquer pessoa, por mais bondosa e nobre que seja, tem defeitos, como uma pessoa que conheço, a qual se separou por não suportar os defeitos do marido, embarcando na ilusão tola de que o novo cônjuge não tem defeitos, numa pessoa que, quando se der conta da bobagem que fez em rechaçar o antigo cônjuge, dar-se-á conta do erro que cometeu, mas, então, será tarde demais – quando você ama alguém, persista no relacionamento, pois os relacionamentos são difíceis sempre. Aqui são como riscos feitos por aeronaves na pista, no modo como as pessoas vão naturalmente se separando na Vida, e, numa turma de colégio, por exemplo, cada um, após a formatura, vai para um lado diferente, no modo como qualquer amizade se torna um relacionamento, e a pessoa tem que ficar muito tranquila, pois a Eternidade é tempo para QUALQUER reencontro, ou seja, é necessário que peguemos leve. Aqui as cores tentam quebrar a profunda discrição do preto em luto, no costume indiano nos funerais da Índia, com as pessoas usando roupas coloridas, na promessa de que o Desencarne, para uma pessoa de bom coração, é uma deliciosa libertação, na forte crença reencarnatória indiana, influenciando, de certo modo, a Doutrina Espírita, na crença de que sempre há mais uma chance, em Tao, o pai generoso que nunca perde a fé nos próprios filhos – os sociopatas passarão por muitas vidas, depurar-se-ão moralmente e tornar-se-ão grandes espíritos de luz, pois este é o caminho natural. Aqui não são linhas aquosas, mas tensas, como num debate político, numa acirrada competitividade, com um candidato querendo “devorar as tripas” do oponente, numa competição para ver quem é maior, numa competitividade que inicia logo cedo, na escola, com os alunos competindo para ver quem tira as notas mais exemplares, ou seja, os queridinhos dos professores. Aqui é uma tentativa de concórdia, numa reunião na ONU, com nações se relacionando, sempre primando pela Paz, num tato diplomático que entende que a Paz é maior do que tudo – Por que o plano metafísico é tão maravilhoso e aprazível? Porque lá existe Paz inabalável, num lugar em que ninguém quer passar o outro par atrás, nos desprendimento material que traz a excelência moral, a qual é a meta de qualquer vida, numa caminhada de evolução, fazendo metáfora com os macacos virando humanos, numa evolução, na forte hierarquia entre os espíritos – os mais morais regem os menos, numa hierarquia deliciosa, ou seja, fortíssima, até chegar a um ponto em que eu faça questão de obedecer ao meu irmão mais depurado. Aqui temos opiniões que tanto concordam quanto discordam, num manejo de acordo, na capacidade de um líder em agregar as pessoas e manter um grupo ou família unidos, num talento de patriarca, numa capacidade distributiva, num pai que não faz diferença entre os filhos, num lar de amor, forte, unido, no maravilhoso modo como os vínculos de família não se dissolvem com o Desencarne – as famílias são eternas, fazendo metáfora com as famílias de realeza mundana, no poder atemporal da tradição.

 


Acima, Te Amor. Claro que temos uma tórrida cena romântica, num relacionamento que chegou ao ponto de profunda intimidade, numa pessoa abrindo suas tristezas para o cônjuge, num mágico momento de entrega, numa pessoa muito especial, única em minha vida. É como uma rendição, um desmonte, uma grande entrega existencial. A mulher aqui parece avessa, arredia, talvez rejeitando o homem, ou simplesmente se fazendo de difícil, numa mulher que sabe que não pode se vender a “um e noventa e nove”, fazendo-se de difícil, no modo como a pessoa tem que ser digna e merecedora de respeito, pois o cônjuge, antes de mais nada, tem que ter orgulho do parceiro ou da parceira, fazendo questão de mostrar tal pessoa ao Mundo, num orgulho, como se estivesse vestindo uma faixa e dizendo: “É com este pessoa que estou!”. Aqui é como um casal que conheço, com a mulher incomodada com os defeitos do marido, o qual fez a esta mulher uma proposta bem sólida de casamento, pés no chão, num homem que, mesmo assim, foi rechaçado pela companheira, resultando em um cruel divórcio no qual o homem se viu, de forma repentina, sem ter o lar que costumava ter, numa espécie de choque térmico, por assim dizer. Aqui as cores são vibrantes e excitantes, vivas, talvez compensando uma cena tão cinzenta de tristeza, na mulher fazendo uma renúncia, uma rejeição, talvez tendo desposado o homem no púlpito, vendo este como um príncipe, desiludindo-se depois no duro dia a dia de um relacionamento, no qual, todo dia, o cônjuge tem que fazer alguma coisinha para reconquistar tal pessoa, pois, do contrário, o casamento entra na mesmice, o calor da Lua de Mel se desfaz e o sexo começa a se tornar mecânico, na canção de Barbra: “Nós não estamos mais fazendo amor como costumávamos fazer!”. É uma mágica que se perde, no fato de que os relacionamentos amorosos são difíceis. O homem aqui acua a mulher, desnudando-se, disposto a dar tudo pela parceira, num homem que desde jovem nutria o desejo de casar e construir uma vida, num homem que se revelou o grossão Radicci, o anti herói do genial cartunista Carlos Iotti, num personagem que definitivamente perde qualquer noção de romantismo, no modo como num casamento existe um trato entre partes, com um marido e uma mulher fazendo uma divisão de tarefas, algo que vai além de Amor e Sexo – tem cabeça. A mulher aqui está desiludida, desesperançada, e parece que o homem nada pode fazer, pois a decisão da esposa já está tomada: “Quero me separar de você, pois você me decepcionou”. É como num conto de fadas ao contrário, no qual o príncipe vira sapo, numa pessoa cujas expectativas foram frustradas uma a uma, até chegar ao ponto de vazio. É como uma pessoa que conheço, a qual entrou em depressão após sensações temporárias de realização e guinada – a pessoa deprimida encara uma decepção muito grande com a Vida, mas as desilusões e as crises são positivas, pois assinalam um momento de renovação na vida do indivíduo. Aqui há uma rejeição, e nada do que o homem fizer será capaz de trazer o amor de volta. É um ponto final, uma resolução, e a mulher, apesar de triste, sabe que é o caminho certo a tomar, na frase: “Eu amo você, mas vá se foder!”, com o perdão do termo chulo. A desilusão faz com que a página tenha que ser virada, num momento novo, na pessoa crescendo e amadurecendo, pois a desilusão causa a mortificação, na meta espírita existencial, numa pessoa que, em depuração contínua, não mais “acredita em Papai Noel”. É uma espécie de faxina espiritual, na gloriosa sensação de se tomar um banho refrescante e revigorante. O homem aqui confronta a mulher, mas já é tarde e a decisão já está tomada, num remédio amargo que faz doce efeito. O azul aqui é a tristeza, no termo do ramo musical dos Blues, um gênero melancólico. A mulher aqui já tomou sua decisão, na letra de uma canção pop: “Teu coração não está aberto, então preciso ir embora! O feitiço se desfez, e eu te amava muito!”.

 

Referências bibliográficas:

 

Judith Lauand. Disponível em: <www.amgaleria.com.br>. Acesso em: 16 mar. 2022.

Judith Lauand. Disponível em: <www.catalogodasartes.com.br>. Acesso em: 16 mar. 2022.

Judith Lauand. Disponível em: <www.escritoriodearte.com>. Acesso em: 16 mar. 2022.

Judith Lauand. Disponível em: <pt.wikipedia.org>. Acesso em: 16 mar. 2022.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Viva Vívi! (Parte 3 de 3)

 

 

Falo pela terceira e última vez sobre a artista caxiense Viviane Pasqual. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. As imagens desta postagem foram fornecidas pela própria artista. Boa leitura!

 


Acima, sem título (1). O cálice é a universalidade da birita, do Álcool, num advogado na formidável e redentora happy hour, afrouxando a gravata e tomando algo para amenizar a inevitável dureza do dia de labor, no maravilhoso termo “sextou”, quando chega o momento de descanso, pois até Deus descansou no sétimo dia, num imigrante italiano laborioso, que só não trabalhava no Domingo porque o padre e a religião não permitam, como uma pessoa workaholic, a qual simplesmente não vive – é uma tristeza. O sorriso aqui é descontraído – é esta coisa maravilhosa que é o senso de humor, num Tao irônico, que faz com que Yin e Yang façam o contraponto um do outro, remetendo à unidade de Tao, a cola que mantém o Cosmos unido numa grande família, no talento de certos homens em ser patriarcas, que agregam a família num almoço de Domingo. O nariz aqui é saliente e agressivo, como um presente que ganhei certa vez, uma máscara do Carnaval de Veneza com um nariz bem saliente, pontudo, fálico e agressivo, num nariz pênis que exige que as pessoas mantenham distância, numa imposição de respeito – não é um inferno a vida de uma pessoa desrespeitada? Que esperança existencial há sem respeito? Não é uma missão e um desafio conquistar tal respeito? É como um artista lutando para ser reconhecido, numa pitadinha de Marketing, como uma certa diva marqueteira, cujo nome não mencionarei. Aqui vemos um crucifixo, no símbolo dos guerreiros cristãos, os quais fazem atrocidades dizendo agir em nome do Amor de Jesus, com homens fazendo coisas que Jesus JAMAIS faria, como queimar uma pessoa viva numa fogueira – não é a crueldade uma especialidade humana? A cruz é pendurada em um colar de pérolas, como nas mãos fartas e generosas de Iemanjá, trazendo abundância às redes pesqueiras, enchendo barcos de pesca farta, como em países ricos e organizados como o Canadá, com produtos de alta qualidade, num país tão nobre, com cidadãos tão finos e civilizados, num país tão pacífico, nunca se envolvendo em tretas globais – é um país de Tao, o governante da Paz. A cruz é a passagem, numa “cobra trocando de pele”, num desencarne, com a pessoa deixando para trás o corpo físico, como um ator se despedindo de um personagem, numa nova página – doce ou amarga, esta página tem que ser virada, numa pessoa guerreira, que sabe que, se parar, virará “peça de museu”, no modo como há tantos artistas talentosos que não sobreviveram a uma determinada década. Esta obra de Pasqual traz cabelos rasta, afro, no caminho da identidade afro, com uma majestosa seção africana no novaiorquino Met, com elementos de magia tribais, intimidadores, avassaladores, com um negro novaiorquino passeando por tal seção, sentindo orgulho de suas ascendências africanas, no caminho da identidade, de saber quem sou, como um príncipe se sentindo confortável entre seu próprio povo, representando e honrando este. Vemos uma boina com outra cruz, como pessoas que, a partir de um certo momento de suas vidas, passam a se apegar bastante à religião, como um rapaz pobre e negro que conheci, o qual decidiu se dedicar à Umbanda, esta bela religião afro que agrega os socialmente segregados. Aqui temos um momento de alegria e descontração, nesta capacidade majestosamente humana em relação ao senso de humor, esta força que traz contradições que namoram uma com a outra, como num casal, no qual cada uma das partes traz algo ao relacionamento, no jogo entre a donzela inexperiente com o cavalheiro experiente, no mito de Maria, a mulher sem história, ao contrário de um rei, cheio de estrada, carreira e história. O rosto vermelho é tal vibração latejante, numa pizza pepperoni bem apimentada, no modo como artistas latinos são vendidos em Hollywood como estrelas de tal calor latino, como um certo ex-ator americano de origem brasileira, o qual nunca conseguiu se desvencilhar do rótulo de latino exótico. Aqui é um momento de celebração, para desligarmos um pouco da batalha diária.

 


Acima, sem título (2). O ditado aqui tem uma hilária contradição, fazendo das contradições algo natural, numa prova de senso de humor de Tao. Aqui vemos um bigode grisalho, num homem experiente, sábio e adulto, fazendo de cabelos grisalhos um charme em um homem, numa frase que ouvi: “No homem, cabelos brancos são sabedoria; na mulher, desleixo”, uma frase um tanto machista, concordo, afinal cada um é livre para fazer o que quiser com seus próprios cabelos. O bigode cortado e aparado é a disciplina, nos rituais da vida em sociedade, em regras gerais como um banho diário e apara de unhas, num homem que faz a barba todos os dias para ir trabalhar, fazendo do fim de semana, da folga, um momento em que não se faz a barba, num intervalo de descanso, ao contrário de um certo senhor, o qual fora expulso da Brigada Militar e, após, ao trabalhar em uma humilde função, não fazia  barba para ir trabalhar, num senhor de caráter duvidoso, servindo de exemplo de má conduta, numa pessoa que, mesmo tomando tal tombo na vida, segue arrogante – o que mais terá que acontecer de amargo na vida de uma pessoa arrogante? A vida não nos ensina duras lições de humildade? Aqui vemos olhos ardentes, em brasa, nos olhos do Aragorn de Tolkien, num homem de aparência suspeita, mas de nobre coração, no desafio de uma pessoa em ser vista além do aspecto físico, transcendendo. Os olhos são este desejo ardoroso, numa pessoa que quer muito, muito ser respeitada, trilhando o duro caminho da evolução espiritual, fazendo dos sociopatas pessoas que estão, definitivamente, muito longe de atingir tal ponto de depuração moral – o Mundo não respeita os imorais, ladrões, assassinos e mentirosos, como um certo senhor sociopata, o qual chegou a liderar uma nação inteira, nesta capacidade dos sociopatas em enganar “meio Mundo”. Os olhos aqui são o calor da brasa, numa lareira acalentadora em um dia úmido e frio, com uma família em torno de uma mesa na ceia de Natal, agradecendo a Deus por estarem com saúde e financeiramente tranquilos, no ato da oração antes da refeição. Aqui vemos dentes pontudos, agressivos, cheios de vontade de vencer, num tenista que entra em quadra para liquidar o oponente, no sorriso escancarado de um Kuerten segurando um troféu, no prazer de se conquistar algo, fazendo da Vida tal luta, pois qual é a esperança que existe para alguém que nada faz? Como pode ser um campeão um tenista que entra apático na quadra? É como um artista com décadas de carreira, lutando para manter acesa tal chama, tal “fome”, tal vontade de viver. Este ser parece ser um animal, talvez um lobo uivando para a Lua, nas regras da selva, do mato, nas regras da cadeia alimentar, a qual não deixa de ser engraçada, pois Tao coloca humor em tudo o que faz, sendo Tao o mistério eterno – jamais, jamais iremos defini-lo, sendo algo maior do que tudo; maior do que qualquer coisa. Aqui o bicho range os dentes, como num animal arisco, do mato, não querendo que nos aproximemos muito, como num cachorro recém adotado, o qual precisa de um certo tempo até se entrosar com o novo dono, no modo como ninguém pode ter as expectativas de ir, num piscar de olhos, de zero e cem, como eu disse recentemente a um amigão: Passos de bebê, meu amigo, sempre devagar, sempre caminhando. Vemos aqui um narigão, com narinas enormes, no prazer de se encontrar com uma pessoa perfumada, fazendo com que os perfumes mundanos girem em torno do que interessa, que é o perfume espiritual, pois do que vale uma sociopata cheirando a Chanel número cinco? É como reza a lenda de que o grande Chico Xavier tinha um delicioso perfume metafísico, fazendo do perfume físico uma mera moldura do perfume metafísico. Aqui vemos orelhas eriçadas, atentas, num cão de guarda, com o instinto de proteger a casa, na dignidade de defensor do lar, no caminho da dignidade, numa pessoa que percebe que tem que merecer tal respeito, no modo como o Mundo não respeita aqueles que nada de interessante têm a mostrar. O vermelho aqui é o sangue, o vínculo de família, um vínculo que não se dissolve com o Desencarne – as famílias são eternas.

 


Acima, sem título (3). Aqui a personagem faz um flerte com o espectador, como numa imagem de Jesus Cristo, flertando ludicamente com o fiel na Igreja, num homem de inteligência absolutamente avassaladora, digna de ser o centro sobrenatural da História – tudo o que precisas mostrar é tua inteligência, meu irmão. Aqui é o hábito inglês do chá, no equivalente gaúcho do chimarrão, nos chás indianos conquistando o Mundo, em tal universalidade, pois o tradicional chá inglês Twinnings é feito na China, este gigante que é teoricamente comunista e praticamente capitalista, numa contradição que marca nosso tempo, no sonho liberalista de Smith numa Economia Global autorregulável, sem qualquer interferência estatal. O chá é quente, acolhedor e acalentador, numa deliciosa sensação morna na boca, como se fosse uma companhia, um amigo consolador, caindo muito bem em meio a uma Inglaterra de clima tão frio e úmido, na latitude canadense, com garoas e chuviscos que fazem que os londrinos sejam tão pálidos, sendo raridade em Londres um dia de Sol potente. Esta obra traz tal identidade inglesa, na terra das cabines rubras de telefone, no modo como a moda vibrante e colorida dos anos 1960 fez tal choque e contraste com uma Inglaterra tão cinzenta e melancólica, como na canção California Dreaming, sonhando com o Sol californiano em meio a folhas marrons e mortas de outono e inverno. A moça aqui é loira, nórdica, na diversidade racial na Terra, trazendo muito racismo, no modo como dizer que negro não é gente equivale a dizer que cocker spaniel não é cachorro. A moça aqui tem um charme aristocrático, com discretas pérolas ao redor do pescoço, numa rainha tão quieta e discreta, primando pelo hábito inglês de discrição, na febre recente das camisetas dizendo, sob uma coroa britânica, “keep calm”, ou seja, “fique calmo”, e não é um prazer encontrar paz em nossos dias aqui na Terra? O chá é a Vida, no nervo da Arte, como percussões africanas de Samba retratam o pulsar do coração, este órgão tão enigmático, no milagre da Vida na Terra, no enigma de como surgiu tal força, em contraste com um planeta Marte tão árido e inóspito, assim como no tórrido Vênus, fazendo da Terra tal raridade de biodiversidade, na distância ideal do Sol. A mulher aqui segue a tradição inglesa dos exóticos chapéus para damas, com flores criativas e festivas, no poder feminino de “quebrar o gelo” com tal alegria de feminilidade, como na gueixa contrastando com o marido sério e carrancudo, no jogo de sedução entre masculino e feminino, no termo “Guerra dos Sexos”, num homem dizendo ter desistido de TENTAR entender as mulheres, nas palavras de uma personagem pragmática de Pozenato: “Homem é uma coisa; mulher é outra. Cada um ficando no seu canto, tudo se resolve!”. É o pesadelo da segregação da Humanidade entre macho e fêmea, numa avalanche de preconceitos atinge a todos do mesmo modo. O fundo aqui é tórrido e vibrante, picante, apimentado, no termo da girl band inglesa Spice Girls, ou seja, “meninas apimentadas”, num criativo e talentoso Jamie Oliver trazendo receitas cheias de ginga e charme, com sabores mágicos, deliciosos, na universalidade da Gastronomia, com o Sushi ganhando o Mundo, ou como o chocolate fazendo estrondoso sucesso ao redor do planetinha Terra. O chapéu é tal elegância, tal charme, no costume das mulheres inglesas de só tirar o chapéu quando é noite, como no garbo das mulheres da família real inglesa, almoçando no domingo e indo à famosa sacada saudar os súditos que fazem aglomeração para bradar um dos símbolos do Império Britânico, numa rainha que reina – mas não governa – acima de um terço da Humanidade, na contradição de tal posto, representando uma tradição milenar, num trono poderoso, sendo este uma mera cópia da maravilhosa Vida Metafísica que espera a todos. O pescoço da dama aqui é delgado, fino, elegante, minimalista, num sedutor minimalismo japonês, na universalidade da limpeza, da preservação do essencial, do indispensável, na sensação gloriosa de se tomar um bom banho.

 


Acima, sem título (4). Os cabelos são a rebeldia, num rapaz contestador e enfrentador, na força da juventude em abraçar o novo, o moderno, o irreverente, nos versos de Elis: “Já faz tempo eu vi você na Rua. Cabelo ao vento, gente jovem reunida”. É na moda grunge dos anos 1990, à qual eu pessoalmente aderi, com longas melenas, na rebeldia de um componente de banda de Heavy Metal, balançando sua caótica cabeleira ao som agressivo de guitarras e batera. É como num comercial de xampu, prometendo enganosamente que tal produto é sobrenatural e maravilhoso, e que tal produto resolverá todos os nossos problemas, nas mentiras da Sociedade de Consumo, na “magia” por trás de um cartão de crédito, fazendo com que nos sintamos uma elite, um darling, alguém especial, com o poder de adquirir todos os tentadores produtos em sedutoras vitrines de shopping, como eu já ouvi alguém dizendo: “Os shoppings são templos do consumismo”. É no discernimento: Se o que você tem você acha que não é o suficiente, então você nuca terá o suficiente, pois se você não está o tempo todo querendo, você pode ter paz, e a vida não é uma delícia quando se tem paz? Na camiseta deste jovem rebelde vemos um ser dentuço e agressivo, numa pessoa Yang, que sabe o valor e a pertinência de se ter agressividade, no sentido da pessoa ser “guerreira” e batalhar pelas coisas na Vida. É como um javali esfomeado, numa praga biológica, estraçalhando plantações de milhos, num bicho que, de tão agressivo, tem a caça liberada, numa carne que, já ouvi dizer, é deliciosa como carne de porco. É a fome da ambição, numa sociedade mundana que endeusa tal sucesso, fazendo com que a pessoa mal sucedida se sinta um lixo, no traiçoeiro modo como o sucesso traz um problema, pois precisamos saber sobreviver a tal sucesso, como num Oscar, sendo uma maldição para a carreira da atriz Marisa Tomei, a qual tomou um tufo ao abraçar tal troféu. Aqui temos atitude, personalidade, num rapaz peludo, cabeludo e barbado, como um rapaz que conheci, o qual, definitivamente, contrastava terrivelmente com o próprio pai, que era um homem discreto e centrado, seríssimo. Aqui vemos um processo de identidade, numa pessoa se impondo ao Mundo, no discernimento de Osho, no qual o rebelde, antes de tudo, tem que respeitar a tradição, num rebelde que, apesar de tanta atitude contestadora, tem muito amor por eventos como a caxiense Festa Nacional da Uva, acenando para a rainha que está num glamoroso carro alegórico – quem não ama nem respeita o Mundo pode ser feliz e ter paz? O fundo aqui é dourado, num tesouro metafísico, num lugar onde não há a avidez humana por poder mundano, nas intermináveis levas de pessoas fazendo suas apostas na loteria, na frase de uma personagem do filmão O Advogado do Diabo: “Eu achava que ter tanta grana era legal, mas não é legal!”, na questão espírita: Você não faz ideia de como ficam reduzidos os ganhadores da loto! É como no irônico modo de chamar de “miseráveis” os que habitam um prédio de luxo supremo, na questão de Tolkien, num ser humano seduzido pela perspectiva de ter poder mundano, material, num Getúlio seduzido e corrompido pelo próprio poder, suicidando-se e indo a um lugar onde não há paz – é um horror. O rapaz rebelde aqui é bem sério, impositivo, como uma ninhada dando chutes da barriga da cadela, querendo nascer, sair e viver, neste grande desafio que é uma pessoa conquistar o respeito do Mundo, das pessoas, nas sábias palavras de uma amiga minha: O Mal não tem como prosperar, pois, diz o ditado, a mentira tem pernas curtas, pois os mentirosos acabam rejeitados e desprezados. Aqui é uma verdade nua e crua, numa Gal Costa no palco, com os seios à mostra, cantando os versos emblemáticos de Cazuza: “Brasil, mostra tua cara! Quero ver quem paga para a gente ficar assim!”. É a imposição de um rapper tão incisivo como Eminem, no modo como a pessoa nunca poder abandonar o senso crítico, na frase: “Em semiótica não existe ingenuidade”.

 


Acima, sem título (5). Aqui é a atividade de um publicitário, o qual nada mais é do que um vendedor, apesar do ramo da Propaganda ser tão aparentemente glamoroso, divertido e artístico, nas palavras de uma grande publicitária que foi minha professora na faculdade: Propaganda não é arte; é técnica de venda. A flecha é o objetivo, a meta de venda, numa pessoa pés no chão, a qual observa o Mundo da forma mais realista e fria possível, como no olho frio de um psicoterapeuta, vendo tudo da forma mais clara possível, sem sentimentos ou coração, na frase célebre: Lei é razão fria sem paixão, ou seja, sem sofrimento. E este é o objetivo da Psicoterapia – fazer com que o paciente pare de sofrer e pare de reclamar da Vida, encarando esta e “entrando no ringue” da Vida, tornando-se uma pessoa batalhadora. A flecha é a direção, o pênis regulador, num mundo de homens, machista, misógino, como numa Margareth Thatcher no início da carreira, confrontada pela sociedade patriarcal, a qual vê com maus olhos uma mulher independente, que não é uma dona de casa zelosa, perfeita, passiva e sem opiniões, no mito da Virgem Santíssima, a mulher sem história, na impactante cena inicial de A Última Tentação de Cristo, com uma Maria briguenta, humana, longe de idealizações, numa mulher cheia de atitude e opinião, num filme que tanta controvérsia gerou, no poder da Arte em atiçar as pessoas e causar comoções catárticas, como num sensível Leonardo DiCaprio, tendo catarses no set de filmagem, neste talento em vestir um personagem, num esforço digno de Oscar, no sofrimento ao redor de ambições mundanas, num indicado ao troféu construindo ambiciosas expectativas antes da premiação, numa Lauren Bacall perdendo um Oscar, fazendo cara de cu, com o perdão do termo chulo. Aqui vemos umas notinhas musicais, como em um pôster de um filme com Carmen Miranda, em plena II Guerra Mundial, fazendo do Cinema, na época, uma válvula de escape para que o espectador, com alegria e música, pudesse se desligar um pouco dos cinzentos horrores da guerra, no modo como, em Caxias do Sul, em tempos bélicos, não havia clima para celebrar a tradicional Festa da Uva, nas colônias italiana, japonesa e alemã sofrendo tanto preconceito em solo brasileiro em tempos bélicos. Aqui é um baile da terceira idade, num momento do idoso relembrar seus bailes de juventude, idealizando tais tempos, num erro, pois cada época da Vida é cheia de vicissitudes, fazendo da “juventude feliz” uma invenção de velhos. Aqui vemos a inscrição BR 101, remetendo-me a uma passagem divertida, pois ao pedir informações a um nativo da ilha de Florianópolis, este dizia: “O senhor tem que pegar a Briói”. Mas o que era Briói? Era o jeito do pobre nativo ignorante de se referir à BR 101! Aqui é uma placa que sinaliza referências de localização, no desafio de um publicitário em chamar a atenção do consumidor potencial, na sabedoria do bom publicitário, que sabe, por exemplo, que num anúncio outdoor numa estrada a mensagem tem que ser a mais simples, limpa e sucinta possível, pois, se houver muito elementos gráficos e textuais, a mensagem não será plenamente absorvida pelo consumidor, fazendo com que tal outdoor seja um investimento sem retorno, e quem gosta de rasgar dinheiro? É a limpeza de Tao, fazendo uma ironia, fazendo com que seja limpo um anúncio de produtos de limpeza! O vermelho aqui busca tal atenção, tal captação, como num anúncio em jornal, pois quanto mais limpo for tal anúncio, mais fará contraste com a inevitável saturação gráfica de um jornal, no qual onde não há texto, há foto, ou seja, o contraste tem tal papel de captação de atenção do consumidor. Aqui é a proposital simplicidade de Pasqual, a qual, como eu já disse anteriormente, traz uma candura de Basquiat, em desenhos infantis, ou numa caligrafia infantil, no esforço da criança em aprender e se tornar um cidadão letrado, consciente de seu próprio papel de cidadão honesto e íntegro, fazendo metáfora com as cidades metafísicas, as quais só os honestos e bons podem acessar – Papai do Céu está vendo direitinho quando faltamos com o apuro moral.

 


Acima, sem título (6). A esquina marca um encontro, numa divertida passagem de uma pessoa que conheço, a qual bateu de frente com Jô Soares numa esquina no Rio de Janeiro, a cidade das celebridades, como vi certa vez, em um shopping carioca, ninguém menos do que Regina Duarte. As esquinas são surpresas, entroncamentos. Na porção direita, vemos um “bicho papão”, numa criança com medo de escuro, acordando de um pesadelo infantil, acordando com seu choro tudo e todos na casa. O bicho aqui sorri esfomeado, numa sede, numa busca, num tesão pela Vida, no modo como a pessoa não pode deixar morrer tal tesão no trabalho, nunca caindo na mesmice, sempre encontrando direção e propósito, ao contrário de uma pessoa que se deprime, não mais encontrando sabor na Vida – é muito triste. È como num casamento, no qual o cônjuge tem que ser reconquistado todos os dias, pois, do contrário, o relacionamento cai na fria e tediosa mesmice. O bicho aqui é dúbio, como num dragão chinês, e não sabemos se é simpático ou se é amedrontador, pois tudo depende do receptor, pois sou meu próprio inimigo, tendo que resolver, dentro de mim, tais questões, e parar de fazer inimigos fora de mim, na frase do Oráculo de Matrix: “Conhece a ti mesmo”. O bicho abre um abraço. É a receptividade, em carismas esmagadores com Lady Diana, com um marido príncipe que nunca foi de grandes índices de carisma ou popularidade, nesta capacidade empática, como uma certa rainha da Festa da Uva que se tornou vereadora, uma pessoa acessível e simpática, a qual mereceu tal posto na Festa. O bicho aqui é um ser das profundezas tectônicas, subterrâneo, inconsciente, no demônio Balrog de Tolkien, numa combinação de chamas e sombras, no terror de O Iluminado, num local claustrofóbico, fechado, num labirinto traiçoeiro, sem saída, no ponto em que pode chegar a psique humana, nos terrenos horríveis do Umbral, o labirinto de escuridão no qual perdemos a noção de tempo e espaço, como num livro que, por mais páginas de viremos, nunca chegamos ao fim, numa cilada, num submundo com subvalores – é uma prisão para a cabeça. Ao lado esquerdo neste painel de Pasqual, vemos uma figura mais humana, parecida com um robô, que é a Mente acima do Corpo, numa pessoa que aprendeu que o coração pode ser traiçoeiro, pois só pode ser feliz uma pessoa que ouve, além do coração, a cabeça, pois o coração, por si, já nos enganou e enganar-nos-á novamente, no poder libertador do Pensamento Racional, na águia Zoar de He-Man, na liberdade da mente que está livre dos sofrimentos mundanos, visto que o Plano Metafísico é feito de pensamento, ou seja, é invisível aos olhos dos encarnados, na máxima espírita: Matéria é nada; pensamento é tudo. E o poder da passagem de Jesus pela Terra não reside nos conceitos e pensamentos que tal grande homem propagou? O homem aqui parece ser um policial, em ronda, mantendo tudo em ordem, no poder de autoridade, podendo prender alguém por desacato, no modo como sempre cumprimento os policiais na Rua, pois estes são os que zelam por nossa vida, integridade e segurança, havendo tanta infelicidade e distorção nos estados paralelos regidos por criminosos – o Mundo é um só; Tao é um só; eu sou um só; você é um só. No capacete, que é senso de proteção e precaução, vemos uma estrela, como na embalagem do perfume Angel, em forma de estrela, no consolador modo como cada um de nós é sempre acompanhado de um anjo da guarda, no modo como a Rainha da Inglaterra não permite que seus netos viagem sem guardacostas, pois ninguém é pequeno o suficiente para desmerecer a total atenção de Tao, o Pai que nos carrega no colo quando mais precisamos, como numa pessoa em fossa depressiva. O uniforme do policial é dourado, na obsessão do Egito Antigo em relação ao Ouro, no Ouro maciço da famosa máscara mortuária do rei Tut, numa época em que o todo poderoso Egito Faraônico não fazia ideia de que o divino Vale dos Reis se tornaria um simples sítio arqueológico, pois impérios ascendem e descendem, enquanto o infinito Tao segue soberano.