Falo pela quinta vez sobre o pintor francês Alexandre-François Desportes. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Estudo das aves. A paixão de Desportes por Biologia, como um Darwin catalogando seres vivos, na busca humana por conhecimento, num físico se perguntando sobre os segredos do Universo, num espaço vasto e infinito, no absurdo modo como há mais estrelas no Universo do que grãos de areia na Terra! Aqui as aves vivem em paz e concórdia, num ambiente saudável e harmônico, ao contrário de certas firmas nas quais trabalhei, num ambiente tóxico, nos quais fui vítima de assédio moral, com pessoas se achando com o direito de ligar para a minha casa à meia noite. Aqui é uma atividade tão antiga humana, que é a caça, no esforço para extrair da Natureza os alimentos, antes do surgimento da Agricultura, quando o Ser Humano passou a controlar a produção de alimentos, na jornada árdua do imigrante italiano na Serra Gaúcha, num labor de Sol a Sol, num colono workaholic que só não trabalhava no Domingo porque o padre não permitia, como eu próprio já embarquei numas de workaholic, e, acredite em mim, não vale a pena, pois o Mundo mal se importa se você se mata de tanto trabalhar, num ponto degradante de uma pessoa não se permitir dormir e descansar, abraçando dois dias de labor sem uma pausa – é muita falta de autoestima e de respeito para consigo mesmo, pois respeito é para quem se dá ao respeito. Aqui podemos ouvir os cantos das aves, nesse bálsamo para os ouvidos, nessa invenção de Tao que é o canto dos pássaros, numa paz, numa harmonia, como no filme espírita Nosso Lar, onde na colônia espiritual podemos ouvir o canto de pássaros, em cantos fascinantes como o de bem-te-vi, nas ruas arborizadas de Porto Alegre, em vias como a rua Gonçalo de Carvalho, tida como a rua mais bonita do Mundo, com suas árvores imponentes, ao contrário de Capão da Canoa, uma cidade pouco arborizada, sinto em dizer, apesar de eu amar veranear por lá. Aqui temos um jogo de relatividade, pois há aves pequenas, médias e grandes, na diversidade biológica da Terra, uma esfera tão rica e abundante, nos esforços de cientistas em encontrar vida fora da Terra. Nesse jogo de relatividade, temos o discernimento: Quando digo que algo é escuro, é porque conheço o oposto, que é claro, como nos contrastes luminosos das pinturas barrocas, no jogo de claro e escuro, como na majestosa Primavera de Botticelli, com as divindades claras e luminosas embasadas por um fundo escuro, numa antiga memória de infância que tenho, em 1983, quando eu cursava o terceiro ano da pré escola, quando a professora nos ensinava o discernimento entre liso e áspero, no discernimento de que quando digo que algo é fácil, é porque conheço o oposto, que é difícil, no discernimento taoista de que fácil e difícil são faces do mesmo trabalho, no modo como não é possível crer que um trabalho só traga prazer, pois é preciso disciplina, como uma rigorosa professora de Dança que conheço, a qual é bem exigente na questão da disciplina, uma professora quase amedrontadora, uma pessoa sem muito senso de humor, sinto em dizer. Aqui é como um banquete, como numa mesa farta de galeteria, onde comemos como reis, numa cornucópia de um reino rico e farto, ao contrário das guerras, as quais deixam rastros de fome e destruição, no modo como o Ser Humano pode ser fútil, num Mundo tão repleto de problemas, e as pessoas preocupadas com fofoquinhas fúteis e improdutivas. Neste quadro temos um convívio harmônico, num ambiente saudável, com respeito mútuo, na paz inabalável do Plano Metafísico, onde todos vivem em paz, trabalhando, produzindo, convivendo em paz com seus irmãos, seus iguais, como no final do filmão Dogma, quando Deus varre os traços de destruição e deixa tudo limpo, pacífico e belo, num filme tão divertido, no qual Deus é uma mulher, indo contra a maré patriarcal, na qual a mulher é um cidadão de segunda categoria, como no monumento caxiense ao imigrante, com um casal, heterossexual, é claro, com o homem mais alto do que a mulher, a qual está condenada a viver na sombra do marido, no termo conservador e careta “Bela, recatada e do lar”, enfurecendo feministas ao redor do Mundo, essas intelectuais que sabem como é pensar “contra o vento”.
Acima, Estudo de aves e cães. Aqui é a excitação, com os cães excitados farejando presas, num instinto de caça, auxiliando caçadores, como na raça pointer, com o cão apontando onde está a caça, como cães farejando drogas em bagagens, neste vínculo de amizade entre animais e seres humanos, como amigos que tenho, os quais são amigos do animais, em fiéis companheiros, como num cão fazendo uma festa quando chegamos em casa. Aqui é tal olho observador de Desportes, como num da Vinci estudando formas de vida, como o corpo humano, numa era pré científica, num gênio como Leonardo, num homem à frente de seu próprio tempo, em espíritos desbravadores, como num Elvis Presley, antecedendo o mundo pop que se consolidou muito tempo depois, nos anos 1980, em desbravadores como David Bowie, o qual lançou nos anos 1970 uma moda capilar que só se sedimentou na década seguinte, nesses artistas de tanto carisma, como num Leonardo DiCaprio, uma bomba atômica de carisma, apesar de outro certo senhor, cujo nome não mencionarei, um homem que, apesar de ter um talento amplamente reconhecido e premiado, não é um homem muito carismático, como um Pavarotti, o qual tinha um nível vocal similar ao de outros grandes tenores, mas num Luciano rico em carisma, consolidando-se como o maior astro da Música Erudita. Aqui temos um quadro com muito movimento, como num ensandecido parque de diversões, cheios de brincadeiras e diversões, como no icônico tríptico O Jardim das Delícias, num mundo de diversões e prazeres, na transição entre normalidade, neurose e psicose, quando as coisas fogem de controle, num surto que tem que ser contido antes que algum mal possa suceder, como uma certa popstar, a qual teve um surto psicótico público, indo, contra a vontade, para uma instituição psiquiátrica, sentindo-se humilhada, no inevitável modo como a arrogância precede a queda – tudo o que preciso fazer para levar um belo “tombo” é ser arrogante, no modo como os humildes não “quebram a cara”, como na humilde figura folclórica do Preto Velho, quietinho no seu canto, retirado, só observando os egos ascendendo e descendendo, nessa gangorra de vaidades que é o Mundo, como num Charlie Sheen, o qual era o ator mais bem pago da TV americana e, de um momento para o outro, botou tudo a perder, como numa Whitney Houston, a qual conheceu o céu e o inferno, alcançando um sucesso global ESMAGADOR, desembocando, infelizmente, nas drogas, as quais simplesmente destruíram a voz da mega diva, na capacidade da droga em destruir vidas, na figura egoísta do traficante, o qual só quer dinheiro, pouco se importando com as vítimas das drogas – é um horror. O fundo aqui é marrom e terroso, nas cores da terra, como num certo desfile de Moda que vi certa vez, numa passarela feita de terra, num desfile marcante, original, ousado, com um sabor próprio, nesta ousadia de artistas que ousam pensar “fora da curva”, como nas majestosas instalações ao ar livre da superdupla Christo e Jeanne-Claude, em artes que nos deixam perplexos tamanha a grandiosidade, fazendo-nos “babar” frente a tanta luz e ambição, numa pessoa agressiva, a qual sabe que, se quiser obter sucesso, tem que ser ultracompetente, como um certo psiquiatra que conheci, o qual aprendi a respeitar, o qual abriu por conta própria uma clínica psiquiátrica extremamente diferenciada, um senhor que me disse: “Tens que ter mais agressividade porque vives num mundo competitivo” – respeito é tudo. Ao que se observa aqui, os cães são de fato fêmeas, com suas tetas, na dádiva mamífera das fêmeas provedoras, como uma cachorrinha que tive, a qual, ao parir uma ninhada e dar de mamar às crias, começou a ficar desnutrida, tal a dedicação, no instinto materno provedor, numa mãe que sempre fez de tudo por um filho, num instinto bem básico de sobrevivência, no termo “Ser mãe é padecer no paraíso!”, nas palavras de um certa mãe que conheço: “Ao nos tornarmos mães, muda completamente o modo de nos relacionarmos com o Mundo!”.
Acima, Estudo de pássaros. No topo, temos um confronto, como num discreto take no filmão O Advogado do Diabo, numa tapeçaria com lobos agressivos e selvagens, brigando entre si, fazendo metáfora com a competitividade do ramo de advocacia, no termo anticristão “Devorai-vos uns aos outros!”. É este eterno talento humano para a guerra, como num senhor estúpido e grosseiro que conheço, o qual deu um murro no nariz de um amigo meu só porque este deu uma espiadela discreta nos seios da namorada de tal homem, no modo como certos homens podem ser tais “animais”, pois uma coisa é ser macho; outra coisa é ser um bicho que não sabe viver em sociedade, como no infame momento em que o boxeador Mike Tyson arrancou a dentadas a orelha do opositor, num ato para lá de incompreensível e desnecessário, no modo como tudo em excesso é prejudicial, e isto inclui agressividade, a qual, em excesso, é desinteressante. Um dos pássaros tem uma crina exuberante e altiva, numa exuberância tropical, como na natureza fascinante da cidade do Rio, caminhando no calçadão e tomando um suco de frutas, numa cidade que tanto emana vida e beleza, seduzindo turistas dos quatro cantos do Mundo. A crista aqui pode ser o orgulho, numa pessoa que pode estar flertando com a arrogância, sentindo-se o centro do Mundo, na humilhação eminente, que pune os que se sentem deuses, como numa certa agência de propaganda, na qual me neguei a trabalhar, fazendo que eu enfurecesse tais publicitários, os pareciam me dizer: “Como ousas dizer não a nós, da agência? Nós, da agência, somos deuses e tu estás abaixo de nós!”, no modo como é importante mandar tomar no cu quem não nos respeita, com perdão do termo chulo, no caminho da autoestima, no ponto da pessoa não se submeter a um estilo de vida degradante, numa agência publicitária na qual eu habitaria um posto humilde na hierarquia, sendo eu, ali, tratado como uma ameba, e eu não sou masoquista... As asas aqui são a liberdade, nos versos de uma certa canção: “Não há amor sem liberdade; não há liberdade sem amor”, como no fim do filmão Coração Valente, no personagem heroico de Mel Gibson gritando por liberdade até o último suspiro. É como no formidável programa televisivo de comédia americano Saturday Night Live, o SNL, no qual um quadro mostrava déspotas ditatoriais mundiais querendo firmar residência nos EUA, o país da liberdade, em levas ensandecidas de imigrantes latinos querendo entrar, a todo custo, nas terras do Tio Sam, no fato de que a sensação de liberdade é deliciosa, como na Experiência Extracorporal Espírita, a EEC, quando o espírito momentaneamente se desprende do corpo físico, na sensação de conforto uterino, como no final do clássico 2001, no retorno ao lar uterino, um lugar no qual o espírito encarnado de bem quer estar, mas precisa cumprir uma missão na Terra, para depois voltar triunfante ao lar, no sonho do imigrante italiano gaúcho de enriquecer e voltar rico para Itália. As asas aqui são como anjos, em sua liberdade digna, no modo como cada um de nós é acompanhado de um anjo da guarda, um espírito amigo que tem a responsabilidade de nos manter no bom caminho, no maravilhoso modo como ninguém está desacompanhado, no Amor que liga todos os filhos de Tao, no modo como o Plano Metafísico é repleto de amigos, de gente honesta, num lugar glorioso em que ninguém quer enganar ninguém, no modo como uma pessoa que nos enganou, na Terra, acabará pedindo perdão a nós, no caminho lógico do perdão: Claro que te perdoo, irmão! Somos ambos filhos da Mãe Divina! Aqui cada agente está em busca de seu próprio caminho, num caminho de esclarecimento existencial, como no conto do Patinho Feio, o qual, depois de muita melancolia, dá-se conta de que nunca foi e nunca seria pato, abraçando o fato de que era um belo cisne, no termo: “Não se torne algo! SEJA este algo!”, como uma certa popstar, a qual sempre foi e sempre será uma cheerleader, as líderes de torcida americanas. Aqui é a inoxidável lei do livre arbítrio, num espírito que vai para onde quer ir: Se queres ir ao Umbral, vá.
Acima, Estudo para a caça ao lobo. Aqui é um agressivo confronto, com o lobo furioso se defendendo dos cães, remetendo a um lamentável caso recente de uma senhora que foi agredida por cachorros de uma raça agressiva, nesta mulher perdendo um dos braços e uma das orelhas, numa selvageria como leões caçando empalas na selva, nas leis da Natureza, na seleção natural de Darwin – os mais espertos sobrevivem e transmitem seus genes adiante, como ursos brancos em zonas polares, da cor do gelo, numa cor que facilita a caça, como na esperteza de um camaleão, “invisível” para atacar presas e fugir de predadores. Os senhores aqui são aristocráticos e garbosos, arrumados em seus trajes nobres, remetendo a um certo quadro, cujo ator não lembro quem é, que é um príncipe num cavalo doando um manto de veludo a um mendigo nu, num quadro de alta condescendência, como um certo padre católico, de cujo nome não lembro, um senhor que ostentava trajes finos e carésimos de grifes apolíneas, numa certa esnobice, indo contra os votos de pobreza de um padre, sem eu aqui querer atacar a Igreja Católica, a qual é uma bela religião, como nas pinturas MAJESTOSAS de Aldo Locatelli na igreja caxiense de São Pelegrino, num gênio italiano que perpetuou sua mão em terras brasileiras. As árvores são as ramificações naturais, como cursos curvilíneos de rios, como veias e artérias, ou como raios de tempestade, como raízes profundamente entranhadas na terra, trazendo estabilidade e firmeza, como um homem sério e centrado no trabalho, dando à esposa a sensação de segurança e estabilidade, como no caso da Dona Flor do amado Jorge Amado, uma mulher entre dois homens, os quais são, na verdade, um só – um lado sério e um lado romântico, remetendo a um amigo meu, o qual levou um pé na bunda de duas mulheres diferentes, mulheres que o fizeram porque ele não se mostrou um homem lá muito romântico, quando que o romantismo está em pequenas coisas que não custam um só centavo, no modo como, para um casamento conservar o calor, todo dia o cônjuge deve reconquistar o outro, em coisas pequenas, como o homem, ao ver a esposa cozinhando no fogão, abraçando-a por trás e dando-lhe um beijinho – coisas simples. Os cavalos aqui são a disciplina, a elegância, num bicho tão majestoso, altivo, impetuoso, no discernimento taoista: Cavalgar nos campos é prazeroso e excitante, mais vai enlouquecer você se você cavalgar demais! Os canídeos aqui são a ferocidade, numa pessoa competitiva, a qual quer se destacar e ter um lugar ao Sol, na competitividade natural da Vida, como na escola, quando, desde pequeninhos, competimos com nossos coleguinhas, como uma amiga que tive na pré escola, uma aluna aplicada, que enchia o professor de orgulho, numa espécie de “garota de ouro”, ocupando o topo na hierarquia dentro da sala de aula. Podemos ouvir aqui os grunhidos dos canídeos e do cavalgar dos cavalos no chão, na figura do caubói, desde cedo na Vida cavalgando, remetendo ao filme O Segredo de Brokeback Mountain, no modo como homossexualidade é algo complicado no mundo patriarcal no qual vivemos, havendo ainda pouco tempo desde que a Psiquiatria retirou homossexualidade da lista de enfermidades psíquicas, pois, até o Senso Comum absorver tal noção, vemos uma longa faixa de tempo pela frente, até afetar a conotação de ser gay. Aqui é um quadro bem machista, sem uma única mulher, numa atividade agressiva, como em tribos amazônicas, com os homens encarregados da caça e da pesca, nesta universalidade do Ser Humano, no momento decisivo da Arte, como na pintura de cavernas ou cerâmicas, num momento em que nos diferenciamos dos outros primatas, os quais, por mais espertos que possam ser, não têm a capacidade de pegar um pincel e expressar um pensamento. Aqui é uma certa covardia, pois o lobo está cercado de vários cães e homens, tudo para garantir a caça, o ganho do dia, na responsabilidade de trazer comida para casa e alimentar as crianças, no modo como há pessoas que simplesmente se negam a ter filhos, tal o encargo de responsabilidade de ser pai ou mãe, no modo como há pessoas omissas, que sequer conhecem os próprios filhos, numa fuga da responsabilidade.
Acima, Natureza morta (1). O cachorro fareja em seu sentido tão aguçado. Esta natureza morta faz metáfora com a questão da mortificação espírita, numa pessoa que passa por um processo de desencanto, por assim dizer, uma pessoa que não mais se deixa seduzir por tolos sinais auspiciosos, como tediosas alas vip de boates, numa pessoa que se foca no que é importante na Vida, que é ter apuro moral, até chegar a um ponto em que a pessoa odeie mentir, nas sábias palavras da senhora minha mãe: A mentira tem pernas curtas! É no efeito da passagem de tempo, quando tudo se esclarece, como Jesus, um homem que, em vida, foi altamente subestimado, terminando executado cruelmente, ressuscitando depois na fé das pessoas, até chegar ao ponto do césar se converter ao Cristianismo, fazendo de Jesus nosso irmão depuradíssimo, permanecendo como tal cabeça pensante, no poder do pensamento, pois a nobreza de Jesus está nos pensamentos que Ele propagou, e não numa lasca da cruz onde Ele foi executado, nessa obsessão humana pelo material, pelo tangível, pelo fetiche do produto na gôndola de supermercado, no modo como há tantas pessoas que são vítimas da Sociedade de Consumo, não resistindo aos apelos de vitrines em shoppings, na metáfora de Matrix, onde o indivíduo é o escravo cego de um sistema opressor, quando então Neo se dá conta disso e liberta-se de tal prisão para a mente, no modo como tal sistema nos diz que morreremos se não adquirirmos tal produto – é bem patético. As flores aqui desabrocham majestosas, na magia das flores, neste símbolo de feminilidade, como na Rosa Mística de Maria, no fascínio da feminilidade, com tantos homens que simplesmente se negam a serem homens, resultando em travestismo ou transexualidade, como uma vizinha que tive certa época, uma transmulher, a qual era uma pessoa bem educada e agradável, conversando comigo no elevador, remetendo ao transhomem Tamy, extirpando suas próprias mamas para masculinizar o tórax – cabe a nós respeitar, apenas isso, pois as mamas são dele e não de outrem! As flores são a delicadeza, o tato diplomático de conversa e civilidade, em polidos diplomatas trabalhando em nome da harmonia entre vizinhos, como na vizinhança do Plano Metafísico, um lugar de inabalável paz onde todos convivem com respeito e amor, quando Neo, ao ser indagado sobre o que este queria, ele disse: “Paz!”, e a Paz não é maior do que a raiva? A Paz é eterna e perene; a raiva, passageira. É uma lição que, apesar de ser aparentemente elementar, temos um Ser Humano que sempre opta pelo caminho da raiva, por caminhos secundários que se diferenciam do grande caminho, que é a Paz. Desportes gosta dessas cenas de fartura, de mesa de rei, caindo como uma luva nas vaidades da corte, no modo como certos artistas recebem reconhecimento ainda em vida, ao contrário de outros, só reconhecidos postumamente, como no triste Oscar póstumo para o assombroso Coringa de Heath Ledger. Desportes gosta dessas paisagens de bosques franceses, na prazerosa vida ao ar livre, remetendo a passeios que eu fazia com minha família por áreas rurais, algo inusitado para crianças da cidade, da selva de pedra, entrando em contato com a Natureza, como girinos num rio e cascatas, na sensação de liberdade, como na sensação de estar na orla, um espaço vazio que serve para “escrevermos” algo nele, no modo como a sensualidade reside exatamente nos espaços vazios, como decorar uma mesa com objetos decorativos: Você tem que deixar espaços vazios para que tal mesa continue servindo ao Mungo, sendo útil para colocarmos certos objetos nela, como um celular, por exemplo. Os cães de Desportes são esses queridinhos da corte, na paixão pelos animais, como uma amigona minha, uma veterinária especializada em gatos, amando os bichinhos criados por Tao.
Acima, Natureza morta (2). O coelho é tal símbolo de fertilidade, como na abertura do filmão de Allen Tudo o que você queria saber sobre sexo mas tinha medo de perguntar – que título grande, não? – com os coelhinhos se reproduzindo ensandecidamente, nessa grande veia cômica de Woody, um mestre de estilo próprio e inconfundível, em jargões tão fabulosos como “Subjetivo é objetivo”, ou seja, o sutil acaba se tornando gritante. É a magia de um ninho de Páscoa com ovinhos coloridos, no milagre da Vida, da abundância, num ninho cheio de filhotes, como na logomarca da Nestlé, com a mãe pássaro provendo com carinho as crias no ninho, no instinto materno de qualquer mãe, que é proteger o filho, nas palavras de uma certa matriarca: “Não sei do que sou capaz para proteger um filho meu!”. Aqui as uvas brotam em abundância, na vindima, na magia doce do Verão, em bagos doces, assediados por abelhinhas, na minha paixão pela Festa da Uva de Caxias do Sul, um momento de cultura popular, quando a comunidade se une em torno da rainha menina, a qual tem que ter alma de diva para ser uma soberana marcante, como a eterna rainha Elizabeth Menetrier, a rainha mais marcante de toda a história da Festa, marcando muito bem a edição do ano de 1969, no modo como a Ditadura Militar não afetou a realização das edições da Festa durante tal regime, numa época em que não se sabia dos porões da ditadura, como prisões, torturas, assassinatos e ocultações de cadáveres. Aqui é uma dispensa bem farta, na mesa farta de galeteria, remetendo a um caso engraçado que testemunhei, quando uma italiana de Bérgamo, numa galeteria de Caxias do Sul, ficou abismada com tal fartura, dizendo que isto não existe na Europa, sendo um traço do italiano que se fixou no Sul do Brasil. Na porção inferior do quadro vemos um espaço vazio, talvez para algo ser escrito, neste vazio que é Tao, a página em branco, em talentos esmagadores como Meryl Streep, a qual disse que um ator tem que seu uma página em branco onde o personagem pode ser escrito, e a sensualidade reside exatamente nos espaços vazios, numa pessoa sabe que não pode abarrotar de objetos uma mesa, na sabedoria popular de que tudo que é demais enjoa, na figura do Robert, que é a pessoa que quer aparecer ao máximo na Mídia, uma pessoa disposta a “vender a alma o Diabo” para ter visibilidade midiática, como uma certa comunicadora gaúcha, a qual se disse sempre muito exibidinha, desde criança, uma mulher que me disse que as mulheres ODEIAM ser chamadas de “dona” e de “senhora”, dizendo ela para mim: “Pare de me chamar de senhora!”. A arquitetura aqui e os arcos são renascentistas, gregos, romanos, clássicos, no paradigma estilístico ocidental, resultando no Neoclássico, como um certo prédio imponente do balneário gaúcho de Capão da Canoa, em estilo Neoclássico, belo, chique, imponente, agradável, aristocrático, elegante, na explosão renascentista que resgatou tal cânone ocidental, com tantos séculos de pintura acadêmica, resultando em transgressões como o Cubismo e o Impressionismo, no advento da Fotografia, libertando a Arte da função retratista, no insano galgar das tecnologias, sendo, hoje, a fotografia acessível a qualquer pessoa que tenha um dispositivo móvel, digitalizando de vez tal função, deixando pasma minha geração, a qual viveu a época do filme fotográfico e da revelação em laboratórios fotográficos, em adventos como o scanner, possibilitando digitalizar imagens feitas com tecnologia analógica. O coelho aqui está jogado de forma aleatória, quase caindo, colocado de qualquer maneira, talvez por uma pessoa impaciente, como a famosa chef Nigella Lawson, impaciente, sempre em busca de atalhos nas receitas, no modo como foi da Preguiça que grandes invenções surgiram, como a panela de pressão: Por que cozinhar algo por horas numa panela convencional se posso fazê-lo em muito menos tempo numa panela de pressão? As uvas aqui caem majestosas, nas mangas rendadas de vidimista, inspirando os vestidos de rainha da uva, no modo como a Itália é o país das vindimas, com inúmeras festividades no país da bota, na universalidade da booze, da birita, da bebida alcoólica, desde o saquê japonês até a vodca russa.
Referências bibliográficas:
Alexandre-François Desportes. Disponível em: <www.meisterdruke.pt>. Acesso em: 20 mar. 2024.
Alexandre-François Desportes. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 20 mar. 2024.