quarta-feira, 26 de julho de 2023

Ver Vermeer (Parte 5 de 5)

 

 

Falo pela quinta e última vez sobre o artista holandês Johannes Vermeer. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A carta de amor. Vermeer gosta deste chão em xadrez, no jogo binário de contrastes, na construção técnica do espírito, em preto e branco, nas fotos de astros de Hollywood em preto e branco, imitando os espíritos evoluídos, nossos irmãos que atingiram um ponto de excelência moral, na perfeição da alma bondosa e honesta, que nunca vai querer enganar os outros, pois os que mentem acabam desprezados e rejeitados. Aqui temos um contraste social, com a dama e a empregada, no modo como as classes sociais são ilusões, pois somos todos iguais perante Tao, o Pai de todos, remetendo à grosseria de se recusar a andar de elevador com uma pessoa mais pobre, como num prédio com um porteiro ou zelador, com moradores que se negam a compartilhar o elevador com pessoas mais pobres – é muita grosseria. O instrumento musical é a Arte, esta força misteriosa tão humana, no caminho da sensibilidade, do Yin, numa pessoa agressiva que tem que adquirir tal sensibilidade, o que significa se colocar nos sapatos do outro e entender como este se sente, no modo como toda e qualquer pessoa tem que ter Yin e Yang, nos opostos que se beijam e se abraçam, na ironia de que tudo traz em si sua própria contradição, no jogo de sedução entre razão e loucura, num homem dizendo: “Cansei de tentar entender as mulheres – elas são loucas!”. Os quadros de Vermeer trazem tal luz sutil, com porções consideráveis de escuridão e de sombras, como disse Niemeyer ao projetar a catedral de Brasília, fazendo um templo claro e ensolarado para fugir de templos escuros, cheios de culpa e pecado, em templos que nos dizem que precisamos nos mortificar espiritualmente e parar de pensar em bobagens, atendo-se ao essencial, que é a fria beleza da razão, havendo em Tao tal lógica, na eternidade dos números, no poder imensurável da vida eterna – jamais findarás, meu irmão! É a garantia do Yang. A carta aqui é uma novidade, como cartas trocadas por enamorados, como no romance proibido de Ellen e Newland em A Época da Inocência, nas confusões que o coração é capaz de tecer, em personagens que pouco ouvem a cabeça, numa Ellen que, ao fim da trama, coloca a cabeça no lugar e vê que o relacionamento com Newland não tem futuro, na mortificação racional, sabendo que só se pode entrar na vida dos outros pela “porta da frente”, no caminho da dignidade e do autorrespeito, como em As Pontes de Madison, com a personagem de Meryl Streep mandando embora o amante, pois este não lhe fez uma proposta digna de respeito, digna de pés no chão, como um senhor que conheço, o qual fez à namorada uma sólida proposta de casamento, mas um homem que se tornou frio, deixando esfriar o romantismo da luz de mel, sendo então rechaçado pela esposa, a qual se deu conta de que casou com um grossão em pele de príncipe, numa mulher que pensou que o casamento seria diferente do que de fato o foi. A empregada aqui é o labor, o esforço, a força para sair da cama e ir para a luta, como num professor acordando em gélidas manhãs de inverno, tendo que encarar a lida, pois o Mundo só pertence aos que encaram a luta diária, como numa antropóloga que conheço, a qual chegava aos alunos e perguntava: “Como vai a luta?”. O cesto de roupa é a demanda do dia, numa mulher que mantém a casa limpa, organizada e abastecida de supermercado, no modo como ser apenas dona de casa não traz identidade a tal mulher, como numa senhora que conheço, a qual abandonou a carreira profissional para se tornar dona de casa, como Grace Kelly, a qual abandonou uma carreira brilhante par se tornar um útero reprodutor a serviço de uma coroa – é lamentável. A residência aqui é suntuosa, com obras de arte penduradas na parede, numa pessoa que resolve investir em Arte, talvez doando a museus, como no rico novaiorquino Met, o lugar mais lindo que já vi em minha vida, um lugar muito apreciado pela lenda Jacqueline Kennedy Onassis, na classe que existe em torno de obras de Arte, numa cidade que transpira Arte. A vassoura encostada é tal labor, no modo como é só o trabalho o que pode manter sã a mente de uma pessoa, pois os que não produzem não vivem no Mundo real, e quem não vive no Mundo real, sofre.

 


Acima, Mulher tocando guitarra. Vermeer ama tais mulheres aprumadas impecavelmente, numa mulher que sabe que tem que vir a público só se estiver arrumada, como numa das mulheres mais notáveis da História da Humanidade, que foi Elizabeth I, a qual só vinha a público se estivesse arrumadíssima, ao contrário de outras senhoras, as quais não vão longe na vida pública exatamente porque não se arrumam, como uma certa senhora caxiense, a qual, definitivamente, não se arrumava, e o Mundo gosta de mulheres arrumadas, produzidas, como numa Evita, a qual levava muito a sério a aparência, ganhando a fé do proletariado, numa Evita que copiava o estilo das damas aristocratas argentinas, apesar de odiar estas. Os cachos aqui são premeditados, como numa mirim Shirley Temple, nesses talentos precoces como Michael Jackson, ao qual foi negado ter uma infância normal, num pai duro e tirano, no modo como tudo na vida tem seu preço, num MJ adulto que construiu para si um parque de diversões particular. Aqui neste quadro temos o dom e a disciplina, como numa técnica perfeita de bailarina, encantando a plateia com tal leveza, fazendo parecer que os pés da bailarina são do mais puro cristal, tocando o mínimo no chão, numa limpeza minimalista, no modo como a preguiça pode ser algo clean: Quando você precisa tomar ação, faça só o que é necessário. É uma exclusão de desnecessidades, de frescuras, de frivolidades. Os livros ao fundo são tal conhecimento, em bibliotecas vastas, na revolução digital que suplanta tal mídia, no fechamento de livrarias, nas palavras sábias do intelectual portoalegrense Tatata Pimentel, que Deus o tenha: “Na Internet, você encontra informação; nos livros, cultura”. Aqui é na canção de verso “Debaixo dos caracóis de seus cabelos”, remetendo ao mulherão Patrícia Poeta, daquelas mulheres que só saem de casa se estiverem totalmente arrumadas, numa Poeta polida, que cumprimenta as pessoas – ela foi minha contemporânea de faculdade na PUCRS. O colar de pérolas é tal recato, tal beleza comportada, num caminho de disciplina, em pais se esforçando para incutir valores nobres na cabeça de uma criança, ensinando sempre o discernimento de que grosso é fraco e de que fino é forte, no modo como são as cidades terrenas que buscam imitar as cidades perfeitas metafísicas. A roupa da moça é suntuosa, digna de princesa, num Vermeer pintando tais elites. A pérola é este símbolo de feminilidade, nos ciclos lunares menstruais, em ondas à beiramar enluarada, respirando, indo e vindo, no modo como certos lugares na Terra são cópias fiéis de tal Éden, o paraíso do qual Adão e Eva foram expulsos, na completa misoginia que é culpar a mulher pelos flagelos da Humanidade, sendo Adão a obraprima de Deus e Eva um mero arremedo com a função de reproduzir, como na misoginia de culpar a namorada de Ronaldo Fenômeno pela derrota do Brasil na Copa de 1998. A moça parece estar feliz, deslanchando na prática de tocar um instrumento musical, e a moça olha para o lado, talvez para um ou mais espectadores, na necessidade do artista em ter público, prestígio, como na deusa Marília Pêra, a qual dizia que uma plateia cheia é uma alegria e que uma plateia vazia é uma tristeza. A mulher sorri suavemente, como se soubesse que está agradando. Seu sorriso tem um continuum com o colar de pérolas, como senhoras elegantes se reunindo no meio da tarde para um chá ou um café, em tradições como a britânica, em tronos poderosos como o inglês, reinando acima de um terço da Humanidade, num monarca de uma vida tão pública, tão visada pelos súditos, numa enorme responsabilidade de representar valores nobres e atemporais, fazendo das famílias mundanas de realeza cópias toscas da Dimensão Metafísica, na qual compreendemos que somos todos príncipes, filhos do mesmo Rei. O quadro ao fundo é uma árvore, a qual é a criatividade brotando, num artista tão feliz em suas talentosas pinturas. A árvore é a solidez firme do Yang, resistente a intempéries, numa mulher que se sente segura ao lado de um homem.

 


Acima, Senhora diante do virginal. A moça nos olha desafiadora, como num sorriso enigmático de Monalisa, a maior obra de Arte de todos os tempos. A cadeira é o aconchego e a receptividade, como numa pessoa com bom gosto para bem decorar uma casa, como numa senhora que conheço, uma pessoa de extremo bom gosto; uma pessoa cuja casa parece ter saído das páginas da famosa revista internacional de decoração, a Architectural Digest, uma pessoa que não teve que contratar um único decorador – classe e beleza vêm de dentro. O vestido é nobre e suntuoso, nesta paixão de Vermeer por luxo e riqueza, em pinceladas de tanta excelência que, como eu mesmo já disse aqui no blog, fica difícil crer porque tal gênio só foi reconhecido postumamente, nas palavras de Woody Allen, o qual declarou que não está nem aí para seu próprio legado, dizendo que deseja desencarnar sem qualquer carreira em vida, na canção Devil may care: “Ninguém se importa comigo. Fico feliz o quanto posso. Eu aprendi a amar e a viver. O Diabo poderá se importar!”. O vestido é tal feminilidade, como nos marcantes figurinos de Lucélia Santos no novelão Sinhá Moça, da Globo, nos vestidos de uma moça socialmente privilegiada, numa novela de tal cunho social, mostrando toda a dureza da escravatura, nos escravos jogados numa senzala como se fossem cachorros num canil, na curiosa origem da Feijoada, a qual nasceu do assemblage de restos de carne e linguiça, no modo como tudo, no fim das contas, acaba se rendendo ao Senso Comum, como na evolução dos idiomas, em termos em Português, como, por exemplo, “tão pouco” virou “tampouco”. O tecido nobre é a delicadeza da Tao, no modo como a paz é maior do que a raiva, em conflitos tão desnecessários, como num Putin sendo reprovado internacionalmente, como num rei que nunca está feliz dentro de seu próprio território, sempre desejando anexar os reinos vizinhos por meio da força e da estupidez, indo contra o mandamento: “Não cobiçarás a mulher do próximo!”. O instrumento musical é a magia da Arte, esta força que faz com que só podemos compreender se tivermos instinto e inteligência emocional, como em Tao, a doutrina que de nós exige tal instinto, uma doutrina que está bloqueada para sociopatas, os quais, na sua pequenez moral, desdenham de Tao, o eterno, com sociopatas mundanos, que só pensam em vantagens sociais – é um horror. A moça está só, sem um tutor, no modo como cada pessoa tem que ser autodidata na Vida, aprendendo por si mesma, no modo como não há livro ou faculdade que nos ensine a viver. Este cômodo está repleto de obras de Arte, as quais são um grande investimento, como na estrela Madonna, a qual investe seu dinheiro em Arte, como pinturas de grandes mestres célebres, numa Nova York com um lado bom, que á Arte, e um lado ruim, que é dinheiro, como um certo cronista social, o qual só pensa em dinheiro, no modo como o melhor da Vida é grátis, e a Vida só é boa quando é simples, como sentar num gramado num parque e tomar chimarrão com amigos, os quais são o ouro da Vida, havendo a desolação do Umbral, cheio de espíritos sofredores e desnorteados, num lugar tão desagradável, para onde vão aqueles que quiseram nos enganar aqui na Terra – tenha lisura sempre! O querubim ao fundo é a inocência infantil, numa época da Vida em que as amizades não são de interesse, mas de pura afinidade e carinho, como manter o contato com coleguinhas, como o faço no Facebook, no modo como as amizades são imperecíveis, sobrevivendo a qualquer Eternidade, a qual é a prova do poder imenso de Tao, no grande e supremo presente que é a Vida Eterna, a qual é a explicação lógica para a Vida. O arco e flecha são a praticidade do pensamento racional, num foco, numa virtude, num objetivo, numa pessoa centrada que produz, tendo objetivo na Vida, como um homem sério e centrado, pés no chão, centrado na própria firma, dando à esposa uma sensação de estabilidade e segurança, como uma tábua bem firme no chão. As paisagens pintadas aqui são a contemplação, no modo como a Vida não é só labor, tendo que haver momentos de folga e lazer, pois até Ele descansou no sétimo dia.

 


Acima, Senhora diante do virginal II. Aqui é a disciplina, numa pessoa que sabe que tem que sentar e produzir, como em professores reunidos na sala dos professores durante o intervalo na aula, tocando o ruidoso sinal, na hora de voltar para a sala de aula e continuar tocando a Vida para frente, nas palavras de Gisele aos fãs: “Desculpe, gente, mas tenho que trabalhar!”, ou seja, humildade sempre, pois os arrogantes não vão longe. A moça aqui faz uma pausa e nos olha, num artista feliz se encontrando com seu próprio fã clube, em fenômenos de popularidade, com vídeos no Youtube com mais de um bilhão de acessos, em poderes esmagadores de um Michael Jackson, o qual foi a prova de que o sucesso é um problema, pois quando o sucesso vem, temos que ter uma estrutura psicológica muito forte para deixar que as coisas subam à cabeça, num artista que se torna prisioneiro de si mesmo, no caminho no ego, numa pessoa que tem que saber virar a página e reinventar-se, como uma certa estrela dos anos 1980, a qual definitivamente não soube se reinventar, vivendo até hoje em tal década – é uma pena. Sentada, a moça é a dedicação, numa pessoa centrada, ao contrário da pessoa sem norte ou chão, nunca se centrando, vivendo uma vida vazia, ao léu, como um saco plástico na Rua ao sabor do vento, numa sensação de que qualquer ventinho pode me afetar, numa vulnerabilidade, talvez num espírito o qual, para correr atrás do tempo perdido, escolhe reencarnar filho de pais extremamente exigentes em relação à disciplina, no modo como a sucessão de vidas vai nos aprimorando como espíritos, no sentido da Vida, que é a depuração moral, na vitória da verdade, que é eterna, sobre a mentira, a qual tem “pernas curtas”. As moças de Vermeer são assim, arrumadas, em vestidos suntuosos, dignas de estarem numa pomposa festa, no mito da Cinderela, na moça que teve que trabalhar arduamente para se tornar tal Cinderela apolínea, na ilusão dos contos de fadas, nos quais há final feliz, nas palavras de Carrie para a afilhada pequena em Sex and the City: “Você sabe que esses contos de fada são mentiras, não sabe?”. É na transição de menina para mulher, quando a moça passa a ter cólicas menstruais e também passa a ver que não há príncipe perfeito apolíneo, no modo como um certo senhor ODIOU a fim do filme Uma linda mulher, o qual nos disse que o casal viveu feliz para sempre, como se houvesse pessoas perfeitas. O instrumento ao lado é tal repouso, tais férias, no glorioso momento de férias de julho nas escolas, com duas semanas totalmente livres, de folga, talvez fazendo alguma viagem, nesta pitada de contemplação que deve haver na Vida, no modo como a Sociedade não recompensa o workaholic, aquele que só trabalha e não vive, nas palavras em O Iluminado: “Muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão!”. A partitura é tal decodificação de inteligência emocional, em cantores de excelência como Celine Dion, a qual até hoje busca sobreviver à canção famosa de Titanic, em outra prova de como o sucesso pode ser complicado, numa Celine que não tem lá um bom faro para detectar sempre um bom repertório, ao contrário de artistas como Marisa Monte, em escolhas felizes de canções, como no “faro” de Leonardo DiCaprio para detectar bons projetos, o qual, infelizmente, embarcou recentemente num projeto débil – ninguém está por cima o tempo todo. Este quadro respira Arte, numa casa rica, que pode bancar as pinturas, na ascensão da burguesia, deixando para trás o tempo em que só reis tinham acesso a tais artistas retratistas. Aqui é o termo em latim Carpe diem, que quer dizer Aproveita o dia, numa moça que está ocupada estudando, na delícia que é estudar, esforçando-se para fazer muito bem feitos os trabalhos que os professores exigem , deixando o professor orgulhoso de tal aluno, no modo como, ao final do semestre da faculdade, vemos em tal professor um amigo, na maravilha que é a construção de uma cartela de amigos, ao contrário do sociopata, em cujo coração podre não há espaço para qualquer amor. A moça é tal produtividade, sendo vazia a vida de uma pessoa improdutiva.

 


Acima, Senhora e criada. A crueldade dos abismos sociais. A porteira de meu prédio é uma pessoa doce e gentil – gente boa. Eu estava subindo de elevador para o meu andar, e ela perguntou se podia entrar no elevador comigo. Eu disse que claro que sim, e perguntei o porquê da pergunta, e ela me disse que há pessoas que não gostam de andar de elevador com o porteiro, o que é uma grosseria inominável, creio eu. A intenção nobre da urna democrática é eliminar tais abismos, num momento em que somos todos iguais perante a escolha democrática. Aqui é tal época em que ler e escrever era privilégio, como no Antigo Egito, onde o cidadão comum era analfabeto, cabendo ao privilegiado clero deter tal conhecimento, tal honra, na intenção nobre das cotas raciais, na democratização do conhecimento. Aqui temos um contraste de vestes, nas vestes simples da criada e nas vestes de rainha da patroa, no modo como panelas de barro não se juntam com panelas de ferro, na sabedoria popular: Manda quem pode; obedece quem tem juízo, remetendo a uma dondoca improdutiva que conheço, a qual está levando uma vida vazia e sem propósito, perdendo tempo em fazer fofocas sobre a vida alheia, numa dondoca desinteressante, que nada faz de nobre de seus dias aqui na Terra, sendo cocô a única coisa que produz, com o perdão da escatologia. A caneta é tal poder, no fino que se sobrepõe ao grosso, na sofisticação que se sobrepõe ao obtuso, na necessidade de bancos escolares na construção de uma nação, no ditado: Um país se faz com homens e livros, neste problema brasileiro que é a precária escolaridade, com muita evasão escolar, na importância de se produzir Cultura Erudita, numa cultura civilizatória, eliminando as trevas da ignorância, no modo como não me canso de dizer: Ignore os ignorantes. Aqui chegou um bilhete, uma carta para a patroa, numa notícia, remetendo à minha infância nos anos 1980, com muitas e muitas cartas sendo enviadas e recebidas pelo correio, no modo como hoje em dia o e-mail é algo absolutamente banal, em contraste com os anos 1990, numa época em que era extremamente chic dizer que recebeu ou enviou um e-mail, com amigos se encontrando na Rua e perguntando uns aos outros: “Qual é o seu e-mail?”. É este galgar louco das tecnologias, numa época em que qualquer um pode ter seu celular, na supremacia digital em dicionários e enciclopédias todos online, deixando para trás os tempos dos dezesseis volumosos tomos na tradicional Enciclopédia Barsa. Aqui temos esse jogo de Vermeer entre claro e escuro, num contraste, fazendo metáfora com o contraste entre as classes sociais aqui, no discernimento taoista de que liso e áspero são faces do mesmo trabalho, numa roseira que tem flores e espinhos. Aqui temos os modos humanos de hierarquia, impostos à força, ao contrário da hierarquia espiritual, a qual é irresistível, chegando ao ponto de eu fazer questão de obedecer a um espírito mais evoluído, na necessidade da produtividade, pois fora do labor não há salvação. O brinco aqui é delicado, fino, tremulando suavemente, na imposição do sutil sobre o óbvio, nas palavras divertidas em um dos filmes do mestre Allen: Subjetivo é objetivo, ou seja, a verdade vem à tona, e o sutil acaba se tornando terrivelmente claro. Vermeer adora esses sofisticados penteados de damas, na magia de uma mulher arrumada e elegante, em ícones como Jackie O., deslumbrando a América, numa mulher tão amante das Artes, tornando-se habitual no museu novaiorquino Met, que é uma bomba atômica de belo e fino. A estrela do quadro é a patroa, e a criada tem um papel sutil e coadjuvante, no discernimento: Quando digo que algo é belo, é porque conheço o oposto, que é feio; quando digo que há protagonismo, é porque conheço o oposto, que é o sutil. Então, o discreto coadjuvante é essencial para se fazer realçar o protagonista. Aqui é a sabedoria popular: Quem pode, pode; quem não pode, sacode-se. O preto é tal base para um quadro de luz nobre e fina. É o processo de esclarecimento do espírito autodidata, o qual aprendeu a ter um imenso instinto para viver e crescer.

 


Acima, Senhora escrevendo carta com sua criada. A senhora é a concentração, o mergulho em alguma atividade mental, concentrando-se para redigir algo. Já, a criada está alheia, pouco se importando, pensando em outra coisa, como nos afazeres do dia. A janela iluminada é a perspectiva, como num colono italiano, que veio para a América porque a vida na Itália não tinha perspectivas, numa Itália que jamais daria um pedaço de terra a um pobre, no modo como a Imigração Italiana no RS foi uma reforma agrária que deu certo – muito certo. Vermeer gosta desses ambientes suntuosos e luxuosos, num artista que pouco pintou a pobreza, no modo como já ouvi falar: Quem gosta de pobreza é intelectual, mas não sei se é bem isso... Ao chão um papel jogado fora, desprezado, como uma pessoa sendo subestimada, como uma certa senhora que conheci, a qual eu julgava ser uma dondoquinha sem eira nem beira, mas uma mulher que, ao se eleger vereadora, provou que eu a subestimava, no feito que é conquistar uma cadeira numa câmara de vereadores, vista a quantidade enorme de candidatos que almejam tal cadeira. O papel no chão é tal desleixo, como numa mulher que parou de se arrumar, perdendo contato com a autoestima, como me disse um sábio psiquiatra: Você tem que gostar de si mesmo! É o caminho de mostrar o dedo do meio ao Mundo, impedindo que as pessoas me digam como eu devo viver. A criada é a paciência, no trabalho paciente de um ator construindo o personagem, colocando-se na pele deste, entendo como este se sente, como neste trabalho que faço, que é analisar obras de Arte, exigindo que eu tenha a paciência para desdobrar a obra e compreender o artista que ali se depositou. Aqui é o persistente trabalho de professor, como numa grande amiga minha, que foi minha professora de Redação no Ensino Médio, uma mestre que tem o trato de professor, na paciência de exigir do aluno, tendo paciência para lidar com as dificuldades do aluno, neste árduo trabalho de professor, o qual, além de dar as aulas, tem que planejar estas em casa, na experiência que eu tive como professor de Inglês, no modo como um bom aluno traz sentido e realização à vida de um professor, remetendo-me a um certo professor que tive, o qual me subestimava, duvidando que eu algum dia mostraria algo de bom ao Mundo, como um ator subestimado, que dá a volta por cima e conquista um Oscar, como no recente Oscar de Brendan Fraser, o qual era naturalmente tido como mero ator de blockbusters comerciais, como na franquia de A Múmia. A cortina branca é a pureza da noiva sendo entregue pura e casta o marido no templo, no preconceito patriarcal: ou a mulher é santa, ou a mulher é puta, com o perdão do termo chulo, no conceito feminista de que a mulher é independente, dona de si mesma, com a liberdade de ter a vida sexual que quiser ter, como na personagem moderna Carrie em Sex and the City, na liberdade ocidental, rechaçando os modos islâmicos de castrar totalmente a sexualidade feminina, em grandes mulheres ícones fortes como uma Mulher Maravilha, dando uma surra em qualquer marmanjo mal intencionado, ao contrário de um certo pseudointelectual, a qual diz que a mulher tem que suportar os abusos patriarcais – que horror! A criada é a espera, acostumada a tal papel subalterno, como uma pessoa inteligentíssima que conheço, a qual mergulhou em empregos subservientes, que pouco exigem da cabeça do trabalhador, no modo como são tristes as histórias de vida de pessoas que iniciam uma faculdade, mas não a concluem, numa transa sem orgasmo, no equívoco que cometi ao abandonar um curso universitário, voltando atrás de minha fétida decisão, reentrando na academia e formando-se de uma vez por todas, como uma querida amiga minha falecida, a qual sempre me perguntava: “E aí, formaste-te?”. Aqui é uma rotina de estudos, como na rígida educação de herdeiros de monarcas, em príncipes educados a falar vários idiomas, fazendo de tais aulas uma saída para a monótona vida de realeza, como numa Grace Kelly, que abandonou uma carreira sólida para se tornar dona de casa.

 

Referências bibliográficas:

 

Johannes Vermeer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jun. 2023.

Johannes Vermeer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jun. 2023.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Ver Vermeer (Parte 4 de 5)

 

 

Falo pela quarta vez sobre o artista holandês Johannes Vermeer. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Alegoria da pintura. A cortina dá uma certa suntuosidade, um luxo, remetendo a uma sessão de autógrafos de Vera Loyola certa vez num shopping em Porto Alegre, no local decorado com tapetes nobres caindo sobre Vera, numa mulher que se tornou tal símbolo da classe emergente, numa pessoa que adora aparecer, como numa Diana, a qual, apesar de ter amado ser o bicho midiático que era, sentia-se muito invadida pelos fotógrafos ávidos por um clique. Claro que temos aqui uma metalinguagem, quando César fala de César, com um pintor pintando outro pintor. A moça posa pacientemente, bela, inspiradora, totalmente arrumada, como se estivesse pronta para um pomposo evento social, no modo como, para a mulher, a diversão não começa só no momento em que a mulher chega no local de festa, mas a diversão já começa no “ritual” de arrumação, incluindo banho, cabelo, unhas, maquiagem, roupa, sapato, perfume etc., no modo como já ouvi que uma mulher se arruma para as outras mulheres, numa “competição” para ver qual é a mais linda e deslumbrante no baile, nos versos da canção Maria do Socorro, de Maria Rita: “Ela vai pro baile funk de shortinho, top e gorro (...) E no baile só dá ela!”. Ao fundo vemos um mapa desbravador, como se o artista quisesse desvendar os mistérios femininos, numa exploração de terras virgens, enchendo de nomes e graças terras selvagens, como nos astrônomos enchendo de nomes cada pedaço da superfície de Marte, na sensualidade de um supertelescópio observando confins do Universo, nesse Cosmos tão vasto, tão misterioso, como na sensualidade de pegar um telescópio e observar os apartamentos de vizinhos, como no filme fracassado Invasão de Privacidade, num homem pervertido que encheu um prédio de câmeras escondidas, acompanhando a intimidade dos moradores, num filme que teve várias indicações ao infame prêmio/deboche Framboesa de Ouro. O livro com a moça é o acúmulo de conhecimento, na revolução digital, a qual usa cada vez menos papel, o que é bom, no problema do descarte de lixo plástico, em águas tão poluídas como a Baía da Guanabara, cheia de garrafas de plástico emporcalhando o que deveria ser uma terra deslumbrante e salubre. O chão do estúdio é em xadrez, neste jogo que tanto exige da cabeça do jogador, no assombro da inteligência artificial, num computador que pode derrotar até o melhor jogador de Xadrez do Mundo, em futuros apocalípticos como em Matrix, quando a inteligência artificial sai de controle e acaba por deflagrar uma guerra entre humanos e máquinas, com o glorioso final de vitória da Humanidade, gerando este filme sem sentido que foi Matrix Resurrections, nas bobagens que Hollywood é capaz de fazer para arrancar dinheiro do espectador, sinto em dizer, pois o final de último tomo da Trilogia, o Matrix Revolutions, foi altamente conclusivo. Aqui o artista está alheio, de costas, sem querer aparecer, como uma pessoa que não quer aparecer muito, não querendo perder os direitos do cidadão comum, como caminhar em paz por um shopping no fim de semana. Este artista alheio remete ao divertido e marcante clipe Too Funky, no gênio pop George Michael, que Deus o tenha, com deslumbrantes modelos numa passarela, como George num papel sutil e discreto, apenas operando a filmadora que capta grandes divas da Moda como Linda Evangelista, nessas modelos que adquirem o velho e bom glamour das divas hollywoodianas de antigamente, no modo como o Mundo é ávido por glamour, luxo, luz, leveza, características do que importa, que é a Dimensão Metafísica, a terra da beleza inabalável, com espíritos felizes e atuantes, emoldurados por uma aura deslumbrante, no manto sagrado que nos é colocado por nossos entes queridos desencarnados, entes que nos esperam no dia de nosso desencarne, o qual chegará – quanto a isso, não tenha dúvida, meu irmão. Aqui é este talento de Vermeer em captar a luz natural, num pincel tão sutil, tão genial, sendo duro compreender porque tal talento só foi reconhecido postumamente, como uma certa popstar, a qual só será devidamente reconhecida postumamente, sinto em dizer. Aqui é a vitória do talento, como numa Gisele ou numa Carmen Miranda.

 


Acima, Menina com chapéu vermelho. O vermelho é tal símbolo de feminilidade, no mito de Chapeuzinho Vermelho, caçada pelo Yang nu e cru, que é o lobo, na virilidade do Wolverine interpretador por Hugh Jackman, um ator que compreendeu tal hipermasculinidade, num personagem tão carismático. É como na campanha publicitária da clássica fragrância feminina Chanel número 5, com Chapeuzinho numa floresta fugindo do lobo, como no impacto visual de Michael Jackson se transformando num terrível lobisomem, num momento áureo de carreira onde o mestre pop abriu mão da vaidade, no modo como a Academia de Hollywood ama atores que se desfiguram para um papel, como no Oscar recente de Brendan Fraser, interpretando um homem de obesidade mórbida, ou como no orcarizado postumamente Heath Ledger, desfigurando-se para interpretar um Coringa tão assombroso, no caminho da humildade, que é abrir mão da vaidade e aceitar curvar-se perante um papel, num caminho de humildade e de pés no chão, pois a arrogância precede a queda, no modo como é importante que a pessoa se mantenha realista e humilde, imune a bons ou maus momentos, numa pessoa que percebe que, doce ou amarga, a página tem que ser virada. A moça aqui é pura como leite, como na cara de santa de Evita Perón, uma mulher que não imaginava a vida sem inimigos, partindo em busca de desafetos, abraçando o proletariado e rechaçando as classes média e alta, indo contra as palavras de Obama, que dizia que um presidente tem que governar para todos. Os brincos aqui são finos, como gotas puras de orvalho, numa mata fresquinha ao amanhecer, na beleza das cores de aurora, na deusa grega Eos, a responsável pela beleza do alvorecer, remetendo à terra da beleza eterna, na terra da Estrela da Manhã. Aqui temos a maestria das pinceladas de Vermeer, nas cores brancas que ilustram a luz da janela, entrando suavemente, branda, sutil, muito longe de um sol tropical de obras modernistas brasileiras, num momento de identidade brasileira, no desafio do Cinema Brasileiro em encontrar uma identidade, apesar da esmagadora influência hollywoodiana, nas palavras sábias de um grande homem brasileiro, o diretor Fábio Barreto: “O Brasil não pode só importar imagem; o Brasil tem que também exportar mais imagem”. A moça aqui espera incerta por algo, talvez esperando para se encontrar com seu amado, nas marés traiçoeiras do coração, um coração que tanto pode nos ludibriar e enganar, mostrando a suma importância da pessoa em ouvir a mente, a razão, como num rapaz que faz uma sólida proposta de casamento, ganhando o respeito dos sogros, como nos casamentos arranjados de realeza, como numa Maria Antonieta, forçada e deixar sua casa na Áustria e desposar o herdeiro do trono da França, numa mulher que nunca adquiriu o controle sobre sua própria vida, e que vida é esta na qual sou um prisioneiro, uma massa de manobra? Não, não dá para ser assim, meu irmão. O entalhe sofisticado da madeira aqui mostra que se trata de uma sala aristocrática, rica, neste gosto de Vermeer por elegâncias aristocráticas, como num Andy Warhol recebendo inúmeras encomendas, na felicidade de um artista em ser reconhecido ainda em vida, num artista pop o suficiente para aparecer no final do filmão A morte lhe cai bem, junto a ícones como Marilyn Monroe e Elvis Presley, na capacidade de certas pessoas em ir tão longe na carreira, deixando o Mundo perplexo frente a tal brilho. Os brincos da moça parecem balançar suavemente, numa delicadeza, e podemos sentir o olor do perfume da rapariga, nesta paixão de Vermeer por moças jovens, na pureza da noiva virgem ao altar, como na Arwen de Tolkien, entregue pura e casta ao marido rei no final da trilogia, numa sociedade patriarcal que castra a sexualidade da mulher – é um horror. Ao fundo vemos uma tapeçaria luxuosa, no poder transformador das mãos humanas, na capacidade do artista plástico em pegar elementos dissociados, associá-los e produzir algo novo, como na construção de uma joia ou bijuteria, no slogan de uma certa premiação: “Nada substitui o talento”.

 


Acima, Moça com flauta. A moça está tranquila, sem qualquer tensão, num relaxamento, como num ator que confia no diretor, fazendo com que este deixe o ator à vontade no papel deste, no processo de construção de personagem: é necessária paciência para desdobrar o personagem, entender como este se sente e colocar-se na pele deste, como na Nossa Senhora desatadora de nós, tendo toda a paciência, no modo como Tao é a paciência infinita, sempre nos dando novas chances de fazer certo, no caminho da Vida Eterna, o imensurável poder que faz com que jamais findaremos, pois, sem a Eternidade, não haveria sentido na Vida, no modo como a Ciência não consegue enxergar além do óbito do corpo carnal, sendo necessária a fé: eu nunca soube, mas eu acreditei. O chapéu é garboso, exótico, no modo como dá gosto de ver uma mulher elegante, como na geração de estrelas glamorosas da era do Cinema em preto e branco, no termo “tela prateada”, em atrizes portando majestosamente seus vestidos elegantes, fazendo das supermodelos “herdeiras” de tal glamour, no glamour de uma Gisele, a grande estrela que sabe que, se parar, virará “peça de museu”, na necessidade da pessoa em se manter humilde e com os pés no chão, sabendo que toda página tem que ser virada, no modo da pessoa em ter uma estrutura psíquica sólida para não deixar que o sucesso ou o fracasso subam à cabeça, como numa Alanis Morissette, a qual, num primeiro momento, fracassou retumbantemente, mas que, depois, deu a volta por cima e se tornou a esmagadora estrela que se tornou, no modo da pessoa em se manter sã, à prova de sucessos ou fracassos, pois por que o sucesso é complicado? É complicado porque todos visam obtê-lo: quem não o obtém, frustra-se, deprime-se e desnorteia-se; quem o obtém, adquire um problema, pois no sucesso nosso desejo é o de permanecer para sempre em tal momento doce, o que não é possível, na necessidade da pessoa em saber sobreviver, como numa guerreira Cher, sobrevivendo a décadas de luta pela carreira. A moça é pura como leite, e suas bochechas são rosadas e saudáveis, como na embalagem de aveia Quaker, no modo como um dos itens de maquiagem é o blush, o qual imita bochechas rosadas e saudáveis. A flauta aqui está discreta, coadjuvante, num caminho de discrição, de retiro, de humildade, como num camaleão “invisível”, sempre discreto, sempre surpreendendo a presa e nunca se expondo ao perigo de um predador, num instinto de sobrevivência, como num Tom Cruise, sobrevivendo há décadas nesta “selva” que é Hollywood, a terra do sucesso e a terra do fracasso, com tantos e tantos sonhos sendo despedaçados, no modo como um Oscar pode ser uma maldição ou uma bênção – o importante é sobreviver e tocar a Vida para frente, meu amigo. A flauta é o poder transformador da mão humana, extraindo melodia, fazendo da Arte algo tão indiscutivelmente humano, no caminho da sensibilidade e da inteligência emocional, como na filosofia taoista, a qual só pode ser compreendida instintivamente, à base de inteligência emocional, uma doutrina que é bloqueada para sociopatas, os quais, na sua fria falta de apuro moral, não entendem o que é a Humanidade e a universalidade do pensamento humano. A moça não sabe o que fazer com a flauta, como se fosse um objeto de uso desconhecido, como uma pessoa querendo se encontrar, querendo saber qual é o seu lugar no Mundo, no caminho do autoencontro, como num rapaz se tornando padre para que, assim, saiba qual é seu próprio lugar no Mundo, no processo de identidade da personagem Mulan, de Disney, a moça que se tornou guerreira, desenvolvendo o Yang, numa necessária pitada de agressividade, gerando ícones feministas, figuras femininas fortes que vêm a calhar tal qual um homem, no modo como ser homem ou ser mulher pouco quer dizer sobre o espírito encarnado. Aqui é esta luz pálida de Vermeer, numa Holanda pouco ensolarada, longe do sol tropical generoso no Brasil. A moça está com a boca entreaberta, receptiva, relaxada, numa pessoa simpática que resolver viver de coração aberto ao Mundo.

 


Acima, O astrônomo. Aqui é a sede humana por conhecimento, nos avanços tecnológicos, como na atual era digital, a qual nos deixa perplexos, com toda uma coleção de vinis e CDs cabendo em um pendrive, o qual é menor do que um dedo humano, fazendo com que as gerações mais recentes aceitem com naturalidade tais avanços digitais, não tendo ideia do que foi a era analógica, com os televisores de tubo, os canais de TV aberta, a ausência de controle remoto, o telefone de disco e a carta pelo correio. Aqui é o avanço de tal ciência, entendendo que o Mundo é redondo e que existem as forças gravitacionais, no modo como o Ser Humano tem que ser autodidata, descobrindo por si mesmo os segredos do Universo, em sonhos tecnológicos como colonizar Marte, fazendo do Cosmos algo tão hostil ao Ser Humano, o qual tem que cuidar de sua própria casa, a Terra, pois os bilhões de seres humanos no Mundo não têm para onde ir. A luz aqui entra tímida, num quadro um tanto sombrio, como nas trevas medievais, nas crendices supersticiosas, em tragédias como a Peste Negra, num Ser Humano o qual, então, não sabia da necessidade de hábitos de higiene e limpeza, como nas condições insalubres do Antigo Egito, com altos índices de mortalidade infantil e baixos índices de expectativa de vida, no modo como o Ser Humano, lentamente, vai melhorando e sofisticando-se, no caminho de crescimento do espírito, no modo como as amargas vicissitudes existenciais vão fazendo de nós pessoas melhores, como no crescimento do personagem Oscar Schindler, o qual começa o filme sendo um playboy fútil e acaba se compadecendo com os problemas do Mundo, em um filme tão impactante, digno de múltiplas estatuetas, num diretor se esforçando ao máximo em sua concepção, no modo como o saudoso Fabio Barreto deu toda uma matiz majestosa para sua obraprima, que é O Quatrilho. O astrônomo é tal curiosidade, como no envio de sondas ao espaço, ao frio e hostil espaço, num Ser Humano que ainda não tem provas da existência de vida fora da Terra, no modo como, de um modo e ou de outro, há dois absurdos: sermos a única vida no Cosmos ou sermos uma de inúmeras raças alienígenas no Cosmos. A luz aqui é o esclarecimento, a sofisticação, nos avanços da Medicina em fabricar medicamentos para muitas enfermidades, como a Depressão ou a Esquizofrenia, em passos para combater a Covid ou a Dengue, em milagres como as vacinas. O cientista aqui apalpa o globo, como se quisesse conquistá-lo, em sedes humanas por poder, no maldito Anel do Poder de Tolkien, corrompendo até o mais nobre dos homens, numa insana sede napoleônica por poder, num Vladimir Putin conduzindo uma guerra tão desnecessária; num ditador que mal se importa com os flagelos do Ser Humano, fazendo das guerras fontes de fome e destruição, na alcunha do vilão Esqueleto: “O senhor malévolo da destruição”. Vermeer gosta destes tapetes luxuosos sobre mesas, nas representações das Madonas renascentistas, com roupas de rainha, muito longe da humilde esposa de carpinteiro, pobre ao ponto de ter dado à luz numa simples manjedoura, remetendo a meu bisavô, o qual, apesar de ter morrido pobre, tornou-se um homem perfeitamente respeitado pela comunidade – um grande homem. O cabelo do astrônomo vai crescendo como no crescimento de apuro e conhecimento, na importância da Revolução Científica, no uso da fria razão para findar flagelos de ignorância, obscurantismo e preconceito, na frieza de se afirmar que negros são seres humanos, rechaçando um absurdo que seria dizer que beagle não é cachorro. O globo aqui gira em intermitente processo de crescimento e evolução, em teorias da Seleção Natural – os espertos sobrevivem e passam para a frente seus genes de instinto de sobrevivência. O globo é como se fosse uma pérola, algo perfeito em geometria, num Mundo o qual, apesar de vasto, é pequeno, na universalidade da questão humana, no embate moral entre Bem e Mal, sabendo que a Paz é maior do que a Raiva. A luz que entra aqui é tal bênção ao Ser Humano.

 


Acima, O geógrafo. O compasso é a supremacia do pensamento racional, na beleza fria dos números, na beleza da lógica, no modo como não há final, mas uma eternidade de números, na glacial Galadriel de Tolkien, fria, porém belíssima, poderosa, nobre, um tanto intimidadora, como se fosse uma aranha de cristal. Aqui é uma época em que não existia qualquer previsão sobre a tecnologia digital, como hoje em dia a mídia digital está substituindo um tanto a mídia papel, na plena democratização das tecnologias, remetendo ao passado quando havia o filme fotográfico, tendo que haver a complicada revelação em laboratório – hoje em dia, qualquer dispositivo móvel cumpre tal função de modo muito mais prático, nas facilidades que reiteram a universalidade do Ser Humano, sendo a Internet uma das provas disso. Ao fundo no quadro, uma altiva assinatura do artista, como na assinatura de Michelangelo na Pietà, com seu nome expresso em latim numa faixa que cruza o busto da santa, havendo na Virgem Santíssima uma faca de dois gumes, no modo dialético como tudo traz em si sua própria contradição: a virgindade de Maria é o modo do Ser Humano entender que todos somos divinos, frutos de tal imaculada conceição; por outro lado, a Virgem é o modo patriarcal de castrar a sexualidade feminina, impedindo a mulher de ser livre e soberana de si mesma, em culturas que tanto reprimem a mulher, ou seja, a Virgem ajuda mas também atrapalha, no modo como o Ser Humano é tão fadado a fazer imperfeições. A luz esclarecedora entra suave, iluminando a mente do cientista, como no genial personagem Sheldon do seriadão The Big Bang Theory, um Sheldon de irritante inteligência, mas com certas dificuldades, como entender sarcasmo, na prova de que na Vida não se pode ter tudo, como no poderoso rei da Inglaterra, um senhor sem lá muito carisma – cada um com suas carências e buscas. O homem aqui é jovem, com uma vida de descobertas pela frente, na sede humana por conhecimento, enviando sondas a Marte, em sonhos de colonização, como no europeu desbravando as Américas, num ato de bravura e coragem, trazendo notícias ao seu soberano europeu, em raças americanas indígenas, em histórias que assombravam o europeu, como nas tribos canibais brasileiras, num estágio bem primário de sofisticação espiritual – existe algo mais medonho do que comer carne humana? É o caminho natural de depuração, num espírito que resolver reencarnar em meio a um mar de vicissitudes para, assim, crescer, no modo como o espírito desencarnado, na colônia celestial, sente a necessidade de aprimoramento, como numa pessoa se matriculando numa faculdade, passando por todo um périplo de curso, tendo que fazer diversos trabalhos exigidos pelos professores, chegando ao glorioso e libertador dia de formatura, quando a pessoa volta para casa, no lugar onde estamos entre amigos, pois eu já disse a um amigo meu: Os amigos são o ouro da Vida, havendo no Umbral o oposto, que é uma desolação total, sem almas amigas – é um sofrimento. Podemos ouvir o farfalhar das folhas de papel, no machismo que é proibir o acesso de meninas a instituições de ensino, como na famosa figura humanitária da garota Malala, na coragem de afirmar: Você pode ferir meu corpo, mas não pode ferir meus sonhos! Aqui é o modo como a pessoa tem que ser autodidata na Vida, na máxima taoista: As pessoas têm que aprender a simplicidade por si mesmas, no modo como não há vida sem crescimento, não havendo sentido numa vida sem vicissitudes, as quais são remédios amargos que surtem doces efeitos, como encarnar num contexto social paupérrimo, como crianças indígenas na Rua pedindo moedas. Acima vemos um globo, virando a página da crença de que o Mundo é plano, na coragem de um Colombo, desejando cruzar o globo para ir à Índia, não tendo a noção de que descobrira a América, na magia indiana sobre a Europa, no perfume de canela, por exemplo, em especiarias que causaram toda uma sofisticação culinária – os macacos não cozinham.

 


Acima, Retrato de uma jovem. Convenhamos – a moça aqui não é lá muito bela, talvez com alguma doença congênita, sinto em dizer, não chegando perto da beleza da moça com brinco de pérola, do próprio Vermeer. O fundo aqui é totalmente preto, num breu profundo, nos labirintos negros e traiçoeiros do submundo, num antro de animais perigosos e cruéis, como na tenebrosa toca da Laracna de Tolkien, num ser sempre faminto, insaciável, na fome por poder, querendo ter o poder pelo poder, sem apresentar propostas e ideias, como num ardiloso sociopata brincando com a cabeça das pessoas, no filme com o horrível Hannibal Lecter: Nunca dê informações pessoais a um sociopata, como uma pessoa que conheço, a qual tinha uma comadre sociopata, fazendo exatamente o que não se deve fazer, que é confiar num sociopata. O sorriso aqui é brando, sem uma alegria de mostrar os dentes, num sorriso de contentamento, numa pessoa contente com sua própria vida, gostando de morar na cidade onde mora, contentando-se com o que ocorre nesta cidade, como num casal de amigos meus, os quais atravessaram o Brasil para irem morar no Rio Grande do Norte, mas um casal que, infelizmente, terminou o relacionamento, no modo como num relacionamento é um aguentando os defeitos do outro, como um não fumante aturando por décadas um fumante – ela não é perfeita, mas é minha esposa, e eu a amo. A menina aqui usa um brinco, mas um acessório bem discreto, quase imperceptível, sutil, camuflado, por assim dizer, nos recursos de camuflagem de insetos numa mata, visando evitar predadores, no modo como a cidade do Rio é tão privilegiada, numa mescla mágica entre urbe e natureza, numa cidade que tanta vida exala, seduzindo turistas do Mundo inteiro, muito longe dos longos e depressivos invernos nórdicos, havendo, na contramão, as pessoas tropicais seduzidas pela neve em lugares mais frios, na eterna busca humana: Quem está no campo quer ir para a cidade, e viceversa. A pele da moça é imaculada, perfeita, na frivolidade do mundo da Moda, um mercado sempre ávido pelo frescor de rostinhos novos, num mercado volúvel, que tanto pode adotar quando desprezar, tudo girando em torno do que importa, que é a juventude eterna metafísica, numa colônia espiritual regida por uma rainha, a qual é bela e jovem para sempre, como na tradição da Festa da Uva: A cada edição, uma moça é eleita rainha, e as rainhas têm que ser jovens, para ilustrar tal beleza inabalável metafísica, havendo nessa sucessão de moças o sentido da beleza eterna da rainha metafísica, fazendo da Terra um mero arremedo do que  importa, que é o mundo espiritual, em cidades perfeitas onde não há sujeira, poluição, criminalidade ou fezes de pombos no chão – a Terra gira em torno do Céu, que é o lugar de perfeição, apesar de parecer o contrário, ou seja, tenha fé num mundo melhor, irmão! Aqui temos um recato, com o cabelo coberto pudicamente, no pudor charmoso virginal, e aqui a moça parece ser virgem, nos versos de Madonna: “Se você não é uma menininha (mas uma mulher), você entende quando eu coloco para fora minhas dores”. As vestes são nobres, de fino tecido, que é a delicadeza de toque de uma atitude nobre e benéfica, no papel de um psicoterapeuta em fazer com que nos sintamos bem e aliviados, no modo como o Bem é sempre agradável, havendo a ilusão das drogas, como na Cocaína, que faz com que a pessoa, no pico de euforia da droga, sinta-se um suprassumo, com o Mundo a seus pés, e quando mais alta é a euforia, mais profunda é a depressão pós pico, como me disse um amigo que é chegado num pó: Você acorda no outro dia se sentindo um merda, com o perdão do termo chulo. Aqui é um sutil sorriso de Gisele, sem mostrar os dentes, num Sol brando de meia estação, sem nos dar muito frio ou muito calor, numa época do ano tão prazerosa, no momento em que, no globo inteiro, dia e noite têm a mesma duração. Talvez aqui tenha sido uma encomenda feita para Vermeer, o qual topou pintar mesmo não achando a menina um deslumbre de beleza apolínea, no modo como beleza vem de dentro, numa mulher que, mesmo idosa, segue bela, numa aura de altivez e dignidade.

 

Referências bibliográficas:

 

Johannes Vermeer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jun. 2023.

Johannes Vermeer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jun. 2023.