quarta-feira, 26 de abril de 2023

Um Homem chamado Homer (Parte 7 de 8)

 

 

Falo pela sétima vez sobre o artista americano Winslow Homer. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A linha da vida. Aqui é no final de O Senhor dos Anéis – o retorno do rei, com águias da saúde salvando Sam e Frodo das diabólicas lavas da Montanha da Perdição. Aqui é um ato de amor fraternal, como num salvavidas fazendo um resgate, virando um herói que salvou uma vida, ou como um doador de sangue, sabendo que está fazendo a diferença na vida de alguém necessitado de uma transfusão, num ato de dedicação ao próximo, como numa Madre Tereza, num espírito tão útil ao Mundo, talvez antecedida de uma encarnação fútil e sem propósito, partindo, na encarnação seguinte, em busca do tempo perdido, como uma dondoca improdutiva que conheço, a qual vai desencarnar e ver o tempo que perdeu com malícia e fofocas, encarando uma nova encarnação a qual, cheia de vicissitudes, trará apuro e evolução espiritual – a Vida não tem sentido sem dificuldades, num Tao que quer nos ver na luta pela Vida, no espírito de guerreiro de Marte, na força do falo do Yang, a flecha do pensamento racional. Aqui o mar é revolto e hostil, violento, longe de ser doce e calmo, num cenário de plena dificuldade. Aqui remete a um sociopata que conheço, o qual amo, pois é meu irmão, mas um espírito com o qual, nesta encarnação, nunca mais me relacionarei, por medida de segurança, e tudo no Plano Superior gira em torno do Amor Incondicional, num sociopata irmão que amo, apesar deste me odiar – no coração podre de um sociopata, só há espaço para ódio, pois quem um odioso não odeia? Este sociopata passará por muitas encarnações, evoluirá e tornar-se-á um grande espírito de luz, e vou abraçá-lo como meu irmão querido. Aqui é a ilusão que este sociopata me causou, pois eu achei que ele iria me ajudar e dar uma volta por cima na vida, mas acabou sendo uma pessoa que, bem pelo contrário, estava interessada em minha ruína, sugando-me como um vampiro. Visitarei este irmão no Umbral com a intenção de tirá-lo de lá. Os fios aqui são tais ligações, tais links, em laços de amor e afetividade, como laços de família, no maravilhoso modo como os vínculos de família não se desfazem com o Desencarne, havendo na fabulosa Eternidade o tempo e a chance de qualquer desavença familiar ser resolvida, como dois irmãos que conheço, os quais estão de mal um com o outro, não telefonando um para o outro nem no dia do aniversário de um deles, numa família meio fragmentada e disfuncional, com a mãe deles lá no Céu, querendo a resolução de tal tola desavença, pois somos todos do mesmo sangue estelar, príncipes maravilhosos do rei Tao, fazendo das realezas mundanas uma cópia (tosca) do que importa, que é a divindade psíquica, fazendo das realezas mundanas cópias, “bijuterias”, por assim dizer – é como uma flor de verdade e uma flor de plástico. Aqui é uma pessoa precisando de um auxílio e uma ajuda, pois temos que ter a humildade de que precisamos de uma ajudinha, com aliados poderosos que podem nos ajudar a receber respeito do corpo social, como uma grande amiga que tenho, a qual foi minha professora de Redação no Ensino Médio, uma amiga que me defendia nos conselhos de classe quando algum professor falava mal de mim – amigo é quem nos defende. Neste quadro excelente de Winslow, é um ato nobre de ajuda, numa pessoa que precisa muito de um auxílio, como em atos simples, como ajudar um cego a atravessar a rua ou oferecer-se para jogar fora os sacos de lixo de uma pessoa bem idosa, nas simples cordialidades que fazem o nosso dia valer apena, pois o melhor da Vida é de graça. Aqui é como Neo de Matrix, sendo resgatado por amigos, irmãos, como no espírito Patrícia no clássico espírita Violetas na Janela, a moça que, desencarnada, pergunta onde está, e um espírito amigo lhe diz: “Entre amigos!”. É na sensação deliciosa de estar perto de alguém que nos conhece profundamente, pois os amigos são o ouro da Vida, havendo no Umbral a dimensão infeliz, pois é um lugar no qual, definitivamente, não há amor fraternal, e a Vida não é um inferno se não temos amigos? Quem gosta de ser um lobo solitário? Aqui é o ato de caridade, grátis, que faz o nosso dia valer a pena.

 


Acima, Claro velejamento. Ao contrário do primeiro quadro desta postagem, aqui temos uma placidez, num mar doce, trazendo angústia aos antigos navegadores exploradores dos mares, com antigas naus que ficavam imóveis quando não havia vento o suficiente, como num surfista prostrado em frente a um mar sem ondas, sem desafios, como um bom professor, que desafia o aluno, fazendo este dar o melhor de si, com professores excelentes que valem cada centavo da mensalidade. Os menininhos aqui sonham em ser grandes navegadores, brincando com barquinhos miniaturas, no espírito desbravador do falecido documentarista Eduardo Coutinho, com espírito de navegador explorador, encontrando histórias para serem contadas, entrevistando pessoas que, apesar de comuns e anônimas, têm boas histórias para contar, na capacidade de um bom escritor em saber contar histórias, como me disse certa vez o escritor José Clemente Pozenato, autor de O Quatrilho: “Quantas e quantas histórias há para serem contadas!”. Aqui temos toda uma placidez, e os barcos deslizam leves, como plumas, em águas deliciosas e plácidas. As velas são esse sonho de se jogar ao Mar, num espírito desbravador, como no espírito desbravador de Freud, inaugurando a Psicanálise, a qual, mais tarde, foi se aprimorando, num Freud trazendo a questão do falo, do pontudo, como um guardachuva fechado, pontudo como uma agulha, na divertida declaração do psiquiatra ao comer um pepino: “Às vezes, pepinos são só pepinos!”. Aqui é um glorioso dia de Sol, talvez num domingo de competição numa copa, em concorrentes excitados em ganhar, no desafio da competição, numa Vida em Sociedade tão repleta de competitividade, algo que começa cedo, já na Pré Escola, com os professores tendo os queridinhos estudiosos, tomando estes como construtivo exemplo, no modo como bons alunos enchem de significado uma carreira docente – sei disso, pois já fui professor. Aqui temos as maravilhosas pinceladas de Homer, com o barco refletido na água, com águas doces e pacíficas, como num bom banho de banheira numa água quentinha, remetendo-nos à delícia uterina, o lugar do qual fomos expulsos na hora do nascimento, no primeiro grande trauma, que é vir ao Mundo – por que tenho que ir embora de um lugar tão agradável? Aqui é como no rio Nilo no Antigo Egito, com os barcos velejando docemente, em obras faraônicas – na ironia de termo aqui – tocadas pelos faraós, deixando legados tão inestimáveis, gerando a inesgotável Egiptologia, na inauguração recente do Grande Museu do Egito, grandioso para ser digno da grandiosidade da era dos faraós, na vastidão artística de tal legado de milênios, em mistérios para se saber onde está a tumba de Cleópatra, na universal e atemporal ganância do Ser Humano, violando tumbas em busca de ouro e demais riquezas mundanas, destruindo tal legado de civilização egípcia, num Ser Humano tão escravo de tais riquezas. Os meninos aqui são o vislumbre das perspectivas, como num empreendedor querendo abrir um negócio, avaliando as possibilidades, sonhando, trabalhando em busca de tal sonho, como nos inúmeros empreendimentos do eixo Gramado-Canela, numa especulação imobiliária que acaba por inflacionar violentamente os aluguéis dos espaços comerciais de tais cidades turísticas. É como um talento empreendedor, observando oportunidades de negócios, em talentos como um Bill Gates, vindo do nada e construindo um império, como Steve Jobs, morrendo doente – o homem não obtém o que Tao não lhe permite, na perfeição das teias tecidas pela Divina Providência, a forma de poder que, de tão forte, é imperceptível. Aqui o rio parece um espelho, como na Ana Terra, personagem de Veríssimo, olhando-se na água do riacho, no princípio feminino do espelho, da vaidade feminina, como numa moça de minha família, a qual se diverte passando horas em frente ao espelho se maquiando, vendo maquiagem mais como prazer do que imposição social – nada mais gay do que considerar uma obrigação o comportamento heterossexual. O quadro aqui é doce, e os meninos querem muito ser homens, adquirindo o controle de suas próprias vidas, não sendo escravos das expectativas de outrem.

 


Acima, Dois meninos vendo as escunas. Aqui temos um companheirismo e um compartilhamento, como num casal indo morar junto, nas inevitáveis pequenas desavenças, pois, quando moro sozinho, tudo dentro de minha casa é do meu jeito, havendo no casamento a necessidade de paciência com um tolerando os defeitos do outro, pois quem neste Mundo é perfeito? É como uma senhora não fumante que conheço, a qual atura, por décadas e décadas, um fumante, para o qual nunca é o suficiente – sempre tem que ser aceso um novo cigarro. Aqui é uma conversa, com meninos compartilhando sonhos, na criancinha querendo ser grande e forte como um super herói, no dever do desenho animado de super heróis em ensinar à criança, desde cedo, o discernimento entre Bem e Mal: Na hora do sufoco, os bons ajudam os bons; já, os maus só salvam a si mesmos, carecendo de amor fraternal. A pedra é a solidez e a garantia do Yang, como numa garantia de algum produto, prometendo entregar um produto de impecável qualidade, no modo como o maior bem de um homem é a sua própria palavra. A rocha é um homem sério, centrado e pés no chão, com o sério labor de sua firma, sendo tal rocha firme à qual a esposa pode se abraçar com confiança, num homem que dá tal sensação de solidez e segurança, como num chão bem firme, forte, inabalável, no charme expelido pelos homens bem sucedidos, havendo um porém: além de seriedade, as mulheres gostam de um homem romântico, o qual não deixa esfriar o calor da Lua de Mel, como um homem que conheço, o qual já levou chutes de mulheres que tinham expectativas românticas em relação a ele, no modo como o romantismo está em coisas simples, como um beijinho inocente, carinhoso – não deixe tal calor esfriar! Esta rocha remete à Catedral de Caxias do Sul, erguida, no centro da cidade, sobre uma grande rocha, num ponto alto, sugestivo, para deixar clara a autoridade do Vaticano na cidade gaúcha, na ironia de ser Pedro, ou seja, pedra, a base de todo o Catolicismo Apostólico Romano, gerando o trono herdado pelos padres que chamamos de papas, na eterna imposição patriarcal de autoridade, enfurecendo as feministas que ousam pensar “contra o vento”, no irônico e doloroso modo como a Filosofia não muda o Mundo – só o que muda é meu modo de ver tal Mundo. Os barcos deslizam como rotas de comércio, como no início do episódio 4 de Star Wars, falando das rotas de comércio entre mundos de uma mesma galáxia, no modo incrível como o Universo é uma vastidão de mais e mais galáxias, num Cosmos tão imenso que é inútil querer catalogar cada estrela que existe, na mesma tarefa que seria catalogar cada grão de areia que existe no Saara, por exemplo. A leveza dos barcos são os sonhos, nos menininhos sonhando em guiar tais naus, num trabalho desbravador, como nos heróis navegadores renascentistas, nas vastas e selvagens terras americanas, com raças de indígenas canibais, muito longe do apuro moral europeu, o qual faltou com o apuro moral ao promover séculos de escravidão, debilitando as terras africanas, com pedras preciosas de tais mundos indo parar em coroas europeias, na máxima taoista: “Como são ricos! E roubaram tudo dos pobres!”. É como os recursos minerais brasileiros saíram do Brasil, remetendo ao infame episódio das joias sauditas sendo dadas ao ex presidente Bolsonaro, num Ser Humano que não entende que tais joias são apenas cópias da plenitude espiritual. Os meninos sonham com uma libertação, para embarcarem nos barcos e seguir viagem por terras desconhecidas, indo para terras exóticas e misteriosas, na fantasia francesa de ver o Brasil como uma terra selvagem, cheia de cobras e jacarés amazônicos, no modo como Elis Regina fez certa vez uma pequena turnê europeia, sendo apresentada como uma artista do exótico e misterioso Brasil, numa cantora que, se cuja vida não tivesse sido ceifada pelas malévolas drogas, teria alcançado renome internacional, gravando com Frank Sinatra, por exemplo.

 


Acima, Menina das meias vermelhas. Em muitos quadros, Homer faz a catarse de um sentimento depressivo, com céus cinzentos, tristes, como me narrou uma pessoa que foi à orla em pleno inverno: “É deprimente!”. E a Arte traz essa oportunidade catártica, no imenso poder terapêutico da Arte, nesse mistério: Afinal, o que é Arte? A moça se curva, como num ato de humildade, como numa briga, numa “queda de braço”: É melhor perder, pois, quem vence, entra em inferno astral, o que é horrível, pois, em tal instância psíquica miserável, tenho tudo para ser feliz e contente, mas não o sou. As cestas são a intervenção da mão humana, no artesanato, no que nos faz tão humanos, pois os macacos não produzem Arte ou artesanato, fazendo da Arte algo que nos faz tão humanos, desde os momentos mais remotos de evolução cerebral humana, na controvérsia dos que creem que fomos visitados, no passado, por alienígenas mais depurados do que nós, e que tais seres nos deram um “empurrãozinho” civilizatório, no mistério do elo perdido entre Neolítico e Civilização, no surgimento de algo tão essencial como a Escrita, em livros que servem de base a religiões e doutrinas, como no livro de Tao, o qual, apesar de ter sido escrito há milênios, permanece totalmente atual em pleno século XXI, num livro oracular como na misteriosa personagem Oráculo, de Matrix, falando previsões, dizendo: “Você não crê nessas bobagens de ‘destino’, pois é você quem está no controle de sua própria vida”, até chegar a um ponto em que não mais permito que o Mundo me diga como devo viver, como um certo rapaz, o qual se considerou obrigado a desposar uma pessoa – mostre o Mundo o dedo do meio, meu irmão. O rochedo aqui é árido e carente, duro, sem muita vida, e a moça tem lá seus afazeres do dia, na responsabilidade de voltar para a casa com o pão do jantar, como na irresponsabilidade de adultos que mandam seus filhos pequenos para vender coisas na Rua, em crianças que resolveram reencarnar num contexto social dificílimo, fazendo da vicissitude da pobreza uma ferramenta para a depuração espiritual, como em filhos de indígenas miseráveis pelas ruas de Caxias do Sul, paupérrimos, fazendo de tal dureza o ponto de depuração, numa vida que, de tão dura, causa à pessoa uma mortificação enorme, como num consultório de Psicologia, com o terapeuta nos mostrando a Vida do modo mais frio possível, na metáfora do remédio amargo que faz efeitos doces, como uma água gelada, a qual, apesar de tão incômoda, limpa e purifica. Aqui é um quadro solitário, talvez num Homer fazendo a catarse de um sentimento de solidão, no modo como cada pessoa tem que ter momentos consigo mesma, sozinha, ao contrário de um casal que conheço, o qual se separou porque ambos foram trabalhar na mesma firma, e lar e escritório são esferas diferentes – tudo o que é demais, enjoa, como cavalgar pelos campos por exemplo, algo que vai enlouquecer você se você cavalgar demais! É a questão taoista da moderação. Aqui é uma terra meio triste, desolada, como nos longos e deprimentes invernos escandinavos, com altas taxas de depressão, com seis meses inteiros de neve e frio, no encanto dos trópicos, em cidades tão deliciosas como Salvador, com o calorzinho durante o ano todo, muito longe dos senegaleses verões tórridos de Porto Alegre, ou, como diz o apelido, “Forno Alegre”! O cesto vazio é o fascínio de Tao, pois a sensualidade reside exatamente nos espaços vazios, como numa mesa de centro em uma sala de estar – o espaço tem que estar livre para os usos do dia a dia, na dignidade de um copo, o qual, em seu vazio, é útil ao Mundo, fazendo da Eternidade tal vazio poderoso, supremo, pois a Eternidade sobre a qual podemos falar não é a verdadeira Eternidade, na crença espírita de que Deus é o infinito, fazendo da Paz algo infinitamente maior do que a Raiva, pois só a harmonia é eterna no Plano Superior, e ninguém está no Umbral para sempre. A moça aqui parece exausta, depois de um dia de esforços, numa Scarlet O’hara, a qual, uma menininha fútil e mimada, tornou-se um mulherão forte e determinado – a Vida é crescimento.

 


Acima, Papai está chegando! Como diz o título, o patriarca está a caminho, tendo que trazer a comida do dia: Qualquer trabalho que garanta o pão de cada dia é essencial. Aqui as crianças são tal responsabilidade, tendo que ser providas financeira e moralmente, nos conselhos sábios que um senhor deu para mim: Se você quiser permanecer na sua vida do jeito que está, não tenha filhos, pois, se você os tiver, a sua vida nunca mais será a mesma. É como uma mulher que conheço, a qual era aventureira e passou a enfrentar o enorme desafio de criar duas meninas de pais diferentes, os quais, ao que sei, fogem da responsabilidade, não provendo em nada tais meninas. O mar aqui é tal placidez, numa pessoa tranquila, que não se estressa, sabendo que o estresse faz de nossas vidas um inferno, na sabedoria de que só a Paz é infinita, nos esforços diplomáticos em nome da Paz, buscando soluções para a insana guerra na Ucrânia, num Putin que está se saindo o ditador do milênio, num rei ganancioso que nunca está feliz dentro de seu próprio território, numa insana fome napoleônica, aterrorizando a corte portuguesa, a qual fugiu às pressas para o Brasil, num momento decisivo na história de nosso país, divertidamente narrado do clássico filme brasileiro Carlota Joaquina – a princesa do Brazil – isto mesmo, com z –, fazendo de Carla Camuratti tal heroína do cinema brazuca, num ato de coragem para ressuscitar tal arte em nosso país, nas palavras do saudoso Fabio Barreto, que dizia: “O Brasil não pode apenas importar imagem; o Brasil tem que também exportar mais imagem”, no desafiador caminho de identidade brasileira frente à força avassaladora do Cinema de Hollywood. O mar aqui está tomado de barcos, cheios de pescadores em busca do ouro do dia, na generosidade da Mãe Iemanjá, enchendo as redes de peixes, como num reino próspero, farto, em nações tão ricas e fartas como o Canadá, na magia simples da folha de plátano caindo dourada no Outono, tornando-se símbolo em uma bandeira nacional, na capacidade de se observar a majestade da Natureza, em países de forte biodiversidade como o Brasil, nos alarmes de desmatamento e garimpo ilegal, intoxicando a água dos vulneráveis povos indígenas, na irresponsabilidade de uma certa pessoa, a qual ignorou os flagelos de tais povos – não mencionarei o nome! Os barcos aqui, na areia, são a prostração, a decepção, como numa pessoa que se desiludiu na Vida, trocando de carreira para ver se, assim, melhora de vida, algo que é bem corriqueiro, como Reagan, um ator que enveredou para a Política, pois todos temos o direito de querer ter uma vida melhor, fazendo do insucesso algo positivo, no modo como as crises são positivas, pois as crises trazem “os pés ao chão”, assinalando um momento saudável de renovação e desilusão, no clássico do Jazz, a canção Boulevard dos sonhos despedaçados, na rua da tristeza, uma canção que, de tão boa, já foi regravada duas vezes por Diana Krall a princesa do Jazz, uma artista que tanto gosta de mesclar Jazz com Bossa Nova, gêneros “primos”, por assim dizer. A mãe aqui parece estar um pouco angustiada, com pressa para o marido chegar, angustiada se haverá hoje comida sobre a mesa, dando-se conta da enorme responsabilidade que adquiriu ao colocar filhos no Mundo, como nas famílias de antigamente, com vários filhos, em épocas em que não havia Televisão e outros tipos de entretenimento, fazendo do Sexo o passatempo predileto. Aqui temos um pai batalhador, ciente de suas obrigações de provedor, num homem que labora de Sol a Sol, como no árduo labor do colono italiano na Serra Gaúcha, desiludindo-se em relação à ilusão de que a vida na América era fácil, pois a Vida, você sabe, é difícil em qualquer lugar, ao contrário de uma pessoa que decide se mudar de cidade para só “trocar os ares”, numa pessoa que vai fugindo de si mesma, talvez cagona, com o perdão do termo chulo. O barco encalhado aqui é tal desilusão, numa pessoa que aprendeu que os carnavais não duram para sempre, na sisudez da Quarta Feira de Cinzas, nas cores sisudas cinzentas da urbe paulistana, a cidade do concreto e dos negócios.

 


Acima, Uma brisa refrescante. Aqui temos um trabalho em equipe, no ditado “Duas cabeças pensam melhor do que uma”, numa sociedade, numa soma de forças, como na conveniência de um casamento: Nós nos unimos e cada um faz uma parte do trabalho. É como no sistema dentro de uma empresa, com cada setor com sua responsabilidade. O vento aqui é forte, frio e inclemente, como no famoso “nordestão” no Litoral Norte Gaúcho, refrescando como diz o título desta obra. As ondas estouram impiedosamente; as ondas são o ímpeto, como num artista ousado, corajoso, que sabe que vai ser bonificado por tal coragem, em ousadias como a do casal famoso de artistas Christo e Jeanne-Claude, fazendo intervenções grandiosas, impossíveis de serem ignoradas, num esforço para fazer da Arte algo que nos faça “cair o queixo”, como na comoção mundial de Titanic, um manifesto antiinsensibilidade, ao contrário de brincadeiras por demais agressivas, pois sensibilidade é me colocar “nos sapatos do outro” e saber como este se sente, no caminho de caridade e compreensão, acolhimento, sabendo como meu irmão se sente, havendo no sociopata alguém que apenas quer nos ver sofrendo – é um horror. Bem ao fundo, de forma quase apagada, vemos um navio fumegante, como uma nau pesqueira, como no mar de noite, onde podemos observar, lá fundo, em altomar, as luzes de naus pesqueiras, como estrelinhas que repousam sobre a água. Aqui, as ondas são a força, o ímpeto, e podemos ouvir o som delas estourando, e podemos sentir as gotículas de água salgada em nossos rostos, nas águas sempre lavando as rochas, em praias tão exóticas e belas como as de Santa Catarina, em particularidades como a Praia Mole, o único local da ilha em que a areia sobre a qual é difícil de se caminhar, com nossos pés afundando, dando assim tal nome à praia. As cestas vazias são a miséria e o revés, talvez num dia duro, que nenhum abono trouxe, como em tragédias naturais que atingem os mais pobres, deixando estes ainda mais pobres, nas palavras de Barbra: “Sempre precisaremos de catástrofes para nos lembrar de que somos pessoas que precisam de pessoas?”. Os vestidos tremulam como bandeiras, na universalidade das bandeiras, como cada país com sua particularidade, como na minimalista e majestosa bandeira nacional japonesa, com alvas brancas envolvendo o rubro sol nascente, remetendo ao filmão O Império do Sol, num menino que se perde da própria família durante a II Guerra Mundial no Japão, um menino que, ao fim do filme, ao se reencontrar com a família, tornou-se homem frente às durezas naturais da Vida. As moças aqui são um certo desnorteamento, como uma pessoa que de certa forma se decepcionou, frustrada, vendo belos sonhos sendo esplendidamente estilhaçados, por mais belos que fossem tais sonhos, na máxima popular: “Beleza não põe à mesa”. A rocha aqui, escorregadia, é o perigo à espreita, num pai preocupado com a segurança dos filhos, com cuidados como bloquear com fita durex as tomadas elétricas da casa. As moças aqui parecem estar familiarizadas com tal ambiente, na capacidade humana de se adaptar, como dentro da casa de um acumulador compulsivo, num caos em que só o morador consegue se encontrar, no gostoso pecadinho capital da Avareza, num dinheirinho sendo escondido “debaixo do colchão”. As cestas vazias são a decepção, a pobreza, como uma família que conheço, a qual vive, de favor, num casebre improvisado em um estacionamento de carros, no modo como no Mundo há tanta riqueza e pobreza, desde a pompa de um monarca inglês até a fome em países da África, nos abismos sociais brasileiros, como nos moldes sociais baianos, nos quais o preto pobre trabalha para servir o branco rico, em moldes coloniais, fazendo de Salvador uma cidade tão interessante para quem estuda História do Brasil, como no Museu de Arte Sacra da cidade, um antigo mosteiro. As moças aqui parecem estar acostumadas com tal dureza da lida, entendendo a máxima: “Um dia da caça; outro do caçador”. Aqui definitivamente não há um Sol dourado de alegria.

 

Referências bibliográficas:

 

Winslow Homer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 30 nov. 2022.

Winslow Homer. Disponível em: <www.mutualart.com>. Acesso em: 30 nov. 2022.

Winslow Homer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 30 nov. 2022.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Um Homem chamado Homer (Parte 6 de 8)

 

 

Falo pela sexta vez sobre o artista americano Winslow Homer. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Cabeça de águia. Aqui remete ao clipe Cherish, de Madonna, com brincadeiras à beiramar e homens sereias, em doces memórias de diversão no Verão. O cachorrinho é a lealdade, como vi hoje na rua um morador de rua dormindo numa calçada fria e suja, com o mendigo acompanhado por seu cachorro, num amigo incondicional, que nos segue por todos os cantos, num animal que não tem a mínima noção da situação degradante de morador de rua. A moça está encoberta por seus próprios cabelos, como numa certa notória sociopata, escondendo-se dos flashes dos jornalistas, numa vergonha, como nos militares julgando uma então jovem e altiva Dilma Rousseff, com os militares escondendo os próprios rostos das fotografias tiradas no cruel tribunal militar, ou como no teto da igreja caxiense de São Pelegrino, com as almas indo ao inferno, escondendo-se com vergonha de suas próprias faltas de apuro moral, no modo como desperdiça uma encarnação a pessoa que passa a vida querendo enganar os outros e mentir, no modo como o sociopata tem uma compulsão incontrolável por mentir, na máxima taoista: Aqueles que mentem acabam desprezados e rejeitados. Os quadros praianos de Homer nos transmitem tal liberdade praiana, num lugar simples e acolhedor, com as pessoas de pés descalços, na delícia que é a simplicidade, como no estilo rústico, acolhedor e sem pretensões, como num CTG de tosca construção, chamando a atenção para o que importa, que são as terras belas do Rio Grande do Sul, em pinos altivos como a araucária, erguendo-se aos céus e trazendo, no outono, o delicioso pinhão – como é bom ser gaúcho! A moça torce o vestido, num ato de cuidado, como me disse um certo professor universitário: As gerações mais jovens não sabem o que é torcer roupa, como duas pessoas torcendo um lençol encharcado, com cada pessoa de um lado torcendo, no irônico modo como foi do pecado capital da Preguiça que surgiram as grandes invenções da Humanidade: Por que sair de casa para falar com o fulano se posso fazer isso por telefone, no conforto de minha casa? É como na crítica de Oscar Niemeyer na concepção da Catedral de Brasília, num templo iluminado, ensolarado, longe das cores negras do pecado e da culpa, no absurdo modo como o fiel tem que ir a um confessionário por ter se masturbado, quando que a sexualidade é natural no Ser Humano, remetendo a uma professora freira que tive no Ensino Fundamental, dando aulas de Educação Sexual para combater a malícia em relação a Sexo, pois como Tao pode ter vergonha de algo que Ele mesmo inventou? As duas outras mulheres estão de touca de banho, que são o resguardo, as regras de higiene, num nadador que só pode entrar na piscina se estiver com touca, no modo como a sociedade é feita de regras, como tomar banho e vestir roupas limpas, havendo no miserável morador de Rua uma pessoa que não quer saber de viver em sociedade, numa atitude refratária, pagando um preço alto por tal desinteresse pelo convívio social. As roupas das senhoras aqui são recatadas, antigas, no impacto que uma Carlota Joaquina em tomar banho de Mar no Rio de Janeiro, em uma época em que não se tomava banho de Mar, em saudáveis atitudes transgressoras, causando a evolução de uma sociedade, nos versos de uma canção famosa de Carly Simon: “Deixe que os sonhadores acordem a nação!”, como no sonho de uma menininha em ser rainha da Festa da Uva, no arquétipo universal ao redor da Suprema Dama, nas inevitáveis ritualizações na Vida em Sociedade, em rituais como num batismo. A praia aqui é calma e plácida, longe de um mar revolto que excita um surfista. Podemos ouvir o requebrar suave das marolinhas, num lugar doce, como no fim do filme Contato, numa experiência espiritual na qual o espírito não sonha, mas vai de fato a algum nível espiritual elevado, numa “amostra grátis” da glória que envolve os desencarnados, como numa certa rainha da Festa da Uva recém falecida, rejuvenescendo e vivendo linda para sempre como no dia de sua coroação – o Desencarne é a glória! As discretas gaivotas ao fundo são tal liberdade, na imagem do Espírito Santo, trazendo esperança.

 


Acima, Fim de dia em Leeps. Aqui é aquela melancolia de fim de domingo, no momento em que a sisudez da segunda-feira vai se mostrando, nos versos de uma certa canção pop: “Dias chuvosos e segundas-feiras sempre me deixam para baixo”. A vaquinha aqui é o sustento, gerando leite, carne e peles que podem servir de tapetes, numa memória minha de infância no sítio de amigos meus, quando bebemos o leite quentinho, recém saído da teta da vaca, no prazer de se mamar numa caixinha de leite condensado, num chef Jamie Oliver um pouco blasé, dizendo que não gostou do brigadeiro brasileiro por ser muito doce, como ouvi uma senhora dizer certa vez: “Sabes como é gosto – não se discute; só se lamenta”. Aqui as sombras avançam, e acaba mais uma jornada de trabalho e dedicação na roça, no termo “trabalhar de Sol a Sol”, num colono italiano workaholic que só não trabalhava no Domingo porque a religião não permitia. A vaca é tal paisagem bucólica, encantando quem é da cidade, da selva de pedra, do asfalto e do concreto. O pasto é tal alimento abundante, num Tao generoso, o qual nos diz para que não sejamos sovinas em relação a comida, nas palavras de uma sábia Dercy Gonçalves: “Você não vai morrer de fome de você for ator. Se algum dia você não tiver dinheiro para comprar comida, ninguém vai negar para você um prato de comida”, como vejo certos homens na Rua, dependendo de cordialidade e comiseração para ganhar um prato de comida grátis, numa das necessidades mais básicas de um ser vivo, que é a alimentação. A vaca é o elemento provedor, no modo mamífero de amamentação, na mãe provedora, amamentando, como numa cadelinha que tive, a qual, ao ter uma ninhada e dar de mamar, começou a ficar desnutrida por causa de tais filhotes mamando, fazendo-me dar suplemento alimentar a ela, no modo como uma mãe é capaz de tudo pelo filho, nas palavras de uma certa matriarca: “Eu não sei do que sou capaz de fazer para proteger um filho meu!”, num certo instinto materno de proteção, conhecendo a fundo o próprio filho. Aqui é o momento do dia em que nossas forças estão exauridas, com crianças voltando famintas do colégio, hipoglicêmicas, na cozinheira estelar inglesa Nigella, dando a receita de jantar para uma mãe exausta depois de um dia inteiro de labor. As árvores negras são tal dúvida, numa pessoa em processo evolutivo, não sabendo o que a Vida nos reserva, nas palavras de uma certa senhora que passou por um grande momento de sofrimento na Vida: “A Vida nos prepara cada uma...”. Aqui o Sol se despede, e logo a Estrela d’Alva aparecerá majestosa, desaparecendo no horizonte e ressuscitando na manhã seguinte, trazendo a esperança da beleza de Eos, a deusa grega da aurora, num verso de uma das árias mais famosas de todos os tempos: “Tu pura, ó princesa. A aurora venceu!”, no modo como a sociedade tanto tolhe a sexualidade feminina, enfurecendo as feministas, as quais são nossas elites, que pensam acima de ignorâncias e preconceitos. Aqui é o momento do happy hour, depois de um sisudo dia de labor, com gravatas sendo afrouxadas e drinques sendo tomados, no merecido descanso depois de um dia de dedicação ao labor e à firma. Podemos ouvir aqui as vacas mugindo, num boi castrado, como um transexual quer extirpar seus próprios testículos e ter uma neovagina, num intenso desejo de ser mulher, numa Sociedade tão dura e inflexível, como ouvi certa vez um homem dizer a um homem que virou mulher: “Não é mulher de verdade!”, no modo como respeito incondicionalmente casais gays na Rua, caminhando de mãos dadas – LOVE IS BEAUTYFULL. Aqui os pássaros melancólicos piam para anunciar o fim de mais uma jornada, numa hora de recolhimento, numa mãe tendo que botar ordem numa casa, mandando os filhos tomar banho, numa mãe já agilizando o que vai se comer de jantar. As árvores negras são tal dúvida, na noite que os notívagos querem, na boemia, no ditado “A noite é uma criança”, na noite que se esvai e dá lugar a um novo dia, numa criança que, em fim de domingo, tem que arrumar o material para ir à escola no dia seguinte – a Vida tem uma face séria.

 


Acima, Na praia. Num momento de identidade feminina, num grupo de mulheres reunidas na diversão à beiramar, como num chá de fraldas só de mulheres, numa gritaria incessante, como quando minha mãe e minhas tias se reúnem, até parecendo que estão brigando tal o volume da conversação. É claro que podemos ouvir aqui as ondas quebrando, num sono embalado pelas ondas da Mãe Iemanjá, trazendo os peixes às redes dos pescadores, no milagre cristão da multiplicação dos peixes, num Cristianismo primordial que acabou se derivando em muitas ramificações, na universalidade humana em acreditar numa Inteligência Suprema, como no filme Contato, no qual os seres humanos temem que as raças alienígenas não acreditem em Deus, pois quem criou a infinidade de galáxias espalhadas pelo Universo? É na máxima: “Alá é grande”, e como o Cosmos é grande, num Ser Humano tão aquém de desvendar tais segredos, fazendo de nossa galáxia uma anônima galáxia numa sopa infinita de galáxias, numa vastidão tal que é inútil querer catalogar cada estrela que existe no Universo. Nesta orla, é como conchinhas à beiramar, jogadas como galáxias, no libertador olor de mar, na sensação de liberdade e de simplicidade que a orla nos traz, em pessoas que decidem se mudar para cidades litorâneas, como alguém que conheço, uma pessoa que decidiu se mudar para Florianópolis para se tornar ratão de praia, esquecendo-se do fato de que a Vida é dura e difícil em qualquer lugar, como uma pessoa fujona, que vai de cidade em cidade para querer fugir da seriedade da Vida – se sou solitário aqui, serei solitário acolá. Aqui temos as majestosas pinceladas de Winslow Homer, com o reflexo das ondas na areia molhada, num efeito de movimento e ação, nas ondas respirando num vaivém de coito, no mito da sereia, o princípio feminino de cheiro de Mar, de peixe, como na franquia Piratas do Caribe, com sereias traiçoeiras, trazendo ruína aos homens seduzidos pelas belas sereias, num mito até um tanto misógino, como na menina em Lagoa Azul, não desejando sair da ilha deserta, rindo das tentativas do rapaz em construir veículos para fugir da paradisíaca e maldita ilha, no misógino mito de Eva, a qual trouxe ruína para o perfeito Adão, o qual é a obraprima de Deus, fazendo da mulher um arremedo em nome da necessidade de reprodução, no machismo de reduzir as mulheres a um mero útero reprodutor, como confessou Diana, a qual se sentiu um útero reprodutor à serviço de uma coroa, como numa rainha Vitória, dando à luz tantas vezes. Este quadro é tão excelente que parece que estamos à frente de uma televisão. Aqui, o frescor banha os pés das damas, num ritual de purificação, como num batismo, inocentando-nos do fato de termos nascido por meio do coito entre um homem e uma mulher, num traço cultural do baiano, para o qual é perfeitamente normal tomar dois banhos diários, quiçá três! As moças parecem aqui catar conchinhas, no trabalho feminino indígena de coleta da mata, trabalho análogo ao trabalho de compras de uma dona de casa, na missão de manter uma casa abastecida, como num zeloso mordomo, trabalhando de Sol a Sol para manter uma casa limpa, organizada e abastecida. Aqui é o fascínio que a orla exerce sobre as pessoas da cidade, como na sedução dos campos, das pastagens, como na região dos Campos de Cima da Serra Gaúcha, com vastos tapetes de pasto, na noção taoista de que os campos e florestas vestem roupas majestosas, num Ser Humano que ignora tal beleza natural, fixando-se em palácios mundanos, os quais são meras cópias da majestade arquitetônica do Plano Metafísico, em talentos como um Niemeyer, num Ser Humano que não entende que tudo na Terra gira em torno do Superior, do reino feito de pensamento, e não de matérias como pedras preciosas, no polêmico presente saudita ao então presidente Bolsonaro, como no redentor fim de Titanic, com a idosa Rose descartando uma joia cara, numa libertação.

 


Acima, O rapaz de azul. Aqui temos o vislumbre de um horizonte, numa pessoa avaliando as perspectivas, como num amigo inteligentíssimo meu, o qual sempre se sentiu forçado a cursar Medicina, numa pessoa que viu que não estava feliz em tal curso, mandando o Mundo se foder, com o perdão do termo chulo, ingressando no curso de Jornalismo – que vida é esta na qual sou prisioneiro das expectativas de outrem? O rapaz é atento, como uma sentinela, como um farol costeiro sinalizando aos marinheiros. Aqui temos o limiar entre menino e homem, numa pessoa passando por experiências as quais acabam por nos tornar pessoas melhores e mais depuradas, fazendo das vicissitudes um remédio amargo que surte doces efeitos, pois isso é indiscutível – as vicissitudes são amargas, como numa experiência de vida que tive, experiência que me mantém, até hoje, humilde e com os pés no chão, em acontecimentos que vão dissolvendo e eliminando toda nossa arrogância e presunção, pois o Mundo pertence aos que têm os pés no chão, ao contrário de uma pessoa rica e improdutiva, a qual vive num mundinho alienado e vazio, na miséria espiritual de um ganhador da loteria, na ilusão de que a Matéria é superior ao Pensamento, sendo cada um é prisioneiro de suas próprias convicções. Bem ao fundo vemos elementos constantes de Homer, que são as gaivotas. As gaivotas são a liberdade do pensamento racional, no símbolo de esperança do Espírito Santo, na promessa de libertação após a jaula encarnatória, fazendo do Desencarne o momento mais importante de nossas vidas, numa sensação de missão cumprida – desencarne e volte para casa, meu irmão! As flores silvestres aqui são delicadas, femininas, como no anúncio recente de um show da cantora Adriana Calcagnoto, com a cantora acariciada por uma flor, como na decoração de motivos florais do acústico de Cássia Eller, contrastando com a atitude masculina da cantora, numa cantora tão cheia de personalidade e atitude – se o Mundo não me curte como sou, o Mundo se fôda, com o perdão do termo chulo. Um menino aqui está tenso e atento; o outro, sentado e disperso, numa diferenciação, pois liso e áspero, fácil e difícil, são faces do mesmo trabalho, no discernimento taoista – se digo que algo é feminino, é porque sei qual é o oposto, que é masculino. Os chapéus são a proteção, como numa mãe zelosa passando protetor solar no filho, numa grande responsabilidade de zelo e proteção, como numa pessoa de minha família, uma pessoa que teve que amadurecer “na marra” ao colocar no Mundo duas filhas, tendo que criar estas moral e financeiramente, na sisudez das responsabilidades. Aqui são as doces cenas de Verão de Homer, na época das férias escolares, na libertação depois de um ano inteiro de obrigações e deveres, num ano inteiro frequentando a escola, na suprema coroação que é a formatura no Ensino Superior, fechando o ciclo de tantas e tantas manhãs geladas de Inverno, acordando para ir à aula nos ensinos fundamental e médio, no momento de sacrifício que é sair da cama e encarar a Vida, no início dos trabalhos diários de uma dona de casa laboriosa. Aqui é como no quadro Vênus e Marte de Botticelli, com a deusa atenta e desperta e o deus em profundo sono, numa fisionomia quase cadavérica – entenda a credibilidade do Yang, mas seja mais Yin dentro de você mesmo e dentro de casa, como na metáfora do astronauta indo à Lua, com sua esposa tranquilamente em casa, tirando uma caneca da armário da cozinha para fazer um café, no prazer do aconchego, no termo carioca “muvuca”, que quer dizer “conforto do lar”. A pastagem aqui farfalha calmamente como veludo, como no discreto farfalhar de veludo na cena inicial de L. A. Confidential, com a deusa Kim Basinger num momento de carreira digno de Oscar, numa Hollywood que tantos sucessos e tantos fracassos produz – hoje posso ganhar um Oscar; amanhã, uma Framboesa de Ouro. Os pés descalços do menino são tal simplicidade, como na Galadriel de Tolkien, na sofisticação da conversa por telepatia, numa personagem estranha, como se fosse uma aranha de cristal.

 


Acima, Pastora tratando as ovelhas. A moça é a responsabilidade, como uma prima minha, a qual tem toda uma responsabilidade de gerenciar uma marca de produtos de limpeza, uma prima que, ainda por cima, tem também a responsabilidade de criar e prover uma filha, no modo como um irmão mais velho tem as responsabilidades de ajudar a criar os irmãos mais jovens, numa pessoa que cresce cedo na vida. Podemos ouvir o bééé das ovelhas, numa cena tão campestre, num Homer que não se deixa seduzir muito por paisagens urbanas, rejeitando a “selva de pedra”, havendo no campo um cenário de libertação, com cheiro de bosta ao ar livre. Aqui é a metáfora do pastor guiando as pessoas, os fiéis de alguma religião, na frase: “Envio-te como ovelha no meio de lobos!”. As ovelhas são a disciplina, numa sala de aula silenciosa, remetendo ao brutal caso do assassinato de uma professora, morta a facadas pelo próprio aluno, no desafio de se impor uma autoridade, remetendo a uma enérgica freira, diretora de um colégio no qual estudei, uma pessoa terrível de tão dura, com o cargo de manter crianças e adolescentes na linha, uma diretora que eu tanto odiava ao ponto de eu fazer um boneco de vodu para espetá-la, numa descarga de consciência, como se fazer um despacho de Umbanda, remetendo a uma amigona minha a qual se converteu para tal religião, no ritmo contagiante de tambores, na riqueza da herança cultural africana no Brasil, em patrimônios inestimáveis como o Samba e o Pagode, remetendo a um certo país racista, com os escravos negros sendo colocados em barcos e enviados à África após a abolição da escravatura em tal país, num ato de claro racismo e limpeza étnica, num Hitler se recusando a aplaudir atletas negros, no mesmo absurdo de se dizer que chow chow não é cachorro. O dia aqui não é lá muito alegre ou ensolarado, na cor cinzenta do siso e da responsabilidade. O cajado aqui é o falo patriarcal, no formato intimidador do Código de Hamurabi, impondo leis ao cidadão, num exemplo claro: Se você não quiser entrar em desgraça, obedeça a lei! É como na execução pública de protestantes sendo queimados vivos sob a chancela da sanguinária Maria Tudor, sendo duríssimo imaginar uma forma de execução mais cruel, num monarca que diz agir em nome de Jesus, mas num monarca que definitivamente não ama seus irmãos, em Caim eternamente matando Abel. Aqui é um quadro de labor, pois a pastora não está necessariamente se divertindo, numa ironia de metalinguagem – ao WH trabalhar para pintar tal quadro, é labor falando de labor. Aqui é um certo quadro de solidão, como nos  deprimentes invernos escandinavos, com seis meses de neve ao ano, num povo com altas taxas de depressão, sonhando com terras quentes e exuberantes como o Brasil. Aqui é um momento de rotina, na faxineira chegando numa casa e começando a rotina de limpeza, como na rotina de se chegar em casa no fim do dia e tomar um banho, num homem laborioso que deixou murchar o romantismo num casamento, como num homem que conheço, o qual foi rechaçado pela própria esposa por frustrar esta ao faltar com o romantismo da Lua de Mel – mulheres gostam de homens centrados e, ao mesmo tempo, românticos. O pasto aqui é a necessidade primordial de alimentação, nas vergonhosas taxas de fome no Brasil, com cidadãos que mal têm um punhado de arroz para cozinhar, em contextos tão pobres, num espírito que topou reencarnar em tal contexto sofrido para, assim, crescer como espírito, no caminho da mortificação espiritual, até o ponto da pessoa desprezar bobagens e sinais auspiciosos, como tolas alas vips de boates, no modo como o Mundo pertence às pessoas dignas de respeito. Esta pastagem remete à belíssima estrada da Rota do Sol, que liga a Serra Gaúcha ao Litoral Norte do RS, com campos vastos cheios de gado pastando, com matas virgens de araucárias, no recorte geológico serrano ao se descer a Serra para o Litoral, no modo como Tao veste os campos com roupas majestosas.

 


Acima, Tarde quente. Claro que temos aqui um delicioso momento de languidez, na canção Lazy Afternoon, de Barbra, ou seja, Tarde Preguiçosa, na diva dizendo que, na maior parte do tempo, quer deitar sob uma árvore e nada mais fazer, no modo como, não canso de dizer, foi da Preguiça que nasceram as grandes invenções da Humanidade, como a Roda – para que me matar carregando coisas se posso colocá-las numa carroça? Aqui é um momento de ouro, num merecido descanso, como abandonar temporariamente o labor, num delicioso dolce far niente, num nada fazer, como deitar numa banheira morna, no acalentador útero materno, quentinho, agradável, no trauma que é vir ao frio e duro Mundo, no nenê chorando enquanto os outros riem em seu nascimento, no “choque térmico” que é voltar do submundo, encarando a Mundo, o velho e bom Senso Comum, no fato de que nossos pais não nos colocaram no Mundo para um submundo, mas para o Mundo, havendo no submundo tal ilusão, tal mentira, tal escuridão, num submundo preto, escuro, pestilento, com seus próprios subvalores que destoam do Senso Comum, pois o submundo, acredite em mim, é uma prisão para a mente, sendo raras as pessoas que conseguem se libertar de tal Alcatraz, o presídio de fuga impossível, como baratas sobrevivendo a hecatombes nucleares, como um artista sobrevivendo a décadas de carreira, na necessidade de reinvenção, tendo a força para virar as páginas e encarar novos desafios. A vida aqui descansa, e até as ovelhas descansam, como professores na sala dos professores, durante o intervalo no meio da manhã, fumando, tomando um café e conversando para que, vinte minutos depois, toque a sineta, assinalando o momento de se voltar para o sério labor, no termo “Vamos tocar o barco”, num intervalo necessário, como no descanso entre encarnações, na ironia de que o Céu, a Paraíso Celeste, é feito de tanto labor quanto na Terra, e ninguém pode ficar permanentemente inativo, no poder terapêutico do trabalho, a única coisa que pode manter sãs nossas mentes, na sábias palavras de DiCaprio: “Não pode faltar trabalho”. Aqui tudo transcorre com tranquilidade, no modo como a Preguiça nos remete ao comportamento limpo e minimalista, só sendo necessário que tomemos ação quando esta é imprescindível: Quando você precisa agir, só faça o que é necessário, pois as desnecessidades, as frescuras, por assim dizer, não como sujeira, como num bom publicitário concebendo um anúncio limpo, clean, leve, iluminado, perfumado, puro. O pasto aqui é um tapete, um carpete de sala de estar, com um anfitrião fino, que nos deixa à vontade, no modo como ouvi dizer de um certo psicoterapeuta na TV: “A Bem é sempre agradável; o Mal, desagradável”. Simples, não? E não é o Umbral a dimensão da grosseira e da infelicidade? Não pertence ao Umbral a pessoa que falta com o apuro moral? As ovelhinhas sentadas ao lado são a fidelidade e o companheirismo, num fiel cachorro que sempre segue o dono, nos golpes evolutivos que transformaram lobos em cachorros, nos mistérios evolutivos que desafiam a criação bíblica do Mundo, mas como no título de uma Campanha da Fraternidade Católica: “Preservar a criação”, ou seja, no ponto de concórdia entre ecologistas e padres, havendo na Concórdia a única força que pode reunir irmãos em torno do que importa, que é Tao, o presente da Vida Eterna – não é poder demais ver que jamais findaremos? É tanto poder que nos dá quase uma vertigem! Tudo aqui parece estar em ordem, e o pastor sabe disso, descansando ao ver que as coisas vão se ajeitando, como pedras se sedimentando no caminhar de um caminhão de carga, no modo como Tao é aquilo que acontece naturalmente, como no crescimento evolutivo moral de um espírito, pois a evolução moral é o sentido da vida, até chegar ao ponto dos arcanjos de perfeição e de autenticidade, num espírito que não quer enganar seus próprios irmãos, sendo um inferno astral a vida de uma pessoa que só quer enganar os outros, pois a felicidade só é de quem é digno desta. Aqui o pasto vai ondulando em morros vales, numa sensualidade curvilínea, feminina, como Monroe.

 

Referências bibliográficas:

 

Winslow Homer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 30 nov. 2022.

Winslow Homer. Disponível em: <www.mutualart.com>. Acesso em: 30 nov. 2022.

Winslow Homer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 30 nov. 2022.