quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Coroação da Arte



O casal de artistas plásticos Christo, búlgaro de 1935, e a marroquina Jeanne-Claude (1935 – 2009) é conhecido por suas extravagantes e grandiosas instalações, causando comoções. Conheceram-se em Paris em 1958, passando mais de meio século casados. A partir de 1994, passaram a assinar os nomes juntos. Rejeitaram patrocinadores e fundos públicos. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Cortina do Vale. Local: Rifle, Colorado, EUA. Uma represa buscando reter e acumular água, num vale tão árido como este. CJC buscam fazer interferências contundentes, as quais jamais desejariam passar despercebidas. Aqui, o laranja se destaca cromaticamente, pois está num local  com cores naturais que fogem de tal tom laranja. Imagina-se o quanto deve ter custado financeiramente tal instalação, e o quanto de trabalho que deve ter sido concretizar tal sonho plástico. É como uma boca sorrindo, na alegria de artistas que conseguiram atingir notoriedade, renome e respeito. É o formato de uma sunga, ou da parte debaixo de um biquíni, numa obra que busca contrastar com a aridez do estado americano do Colorado, pois é claro que a obra não atrairia tanta atenção se fosse da mesma cor das colinas ao redor, fazendo com que CJC queiram causar impacto, estranheza, instigando o espectador, desafiando este a imaginar conceitos primordialmente inimagináveis. É uma extravagância, é claro, com artistas que rejeitam ao máximo ser simplório, na tarefa da Arte em ser grandiosa, portentosa, desafiante, ambiciosa, com artistas que sabem que o reconhecimento só vem àquele que tem o dom de se expressar monumentalmente, pois não são todas as mentes que são tão sedentas por reconhecimento. Esta obra é como se fosse uma colina do vale, só que uma espécie de ovelha negra da família, num espírito que vê o que é comum e que decide gravitar acima de mediocridades, decidindo, como diz o termo chulo, “colocar o pau na mesa”, ou seja, mostrar ao que veio. Esta obra é como se fosse um marco, dividindo o Tempo entre antes e depois, numa agressão catártica, convidando o espectador a olhar mais alto, mais longe. Aqui, CJC querem ser uma força da Natureza, como as majestosas nuvens na foto, ou a voluptuosidade das colinas e vales. É algo que busca diferenciação, muita diferenciação, como se estes artistas tivessem mãos gigantes, como a mão de Deus, dando-nos a (falsa) impressão de que foi facílimo e rapidíssimo concretizar esta obra de Arte. As intervenções de CJC são temporárias, ou seja, convidam-nos a observar o máximo possível enquanto a obra ainda está exposta, marcando um certo momento, no frescor de um momento de transgressão, fazendo com que cresça a percepção do observador. A cor vibrante desafia Céu e Terra, como um pinto lutando para quebrar a casca do ovo e iniciar seu processo de identidade, fazendo com que CJC obtenham uma identidade, um estilo inconfundível, fazendo escola e servindo de referência a muitos outros artistas, no modo como é inevitável o grande artista fazer escola, nas inspirações mútuas entre artistas. A Arte quer ser grande como Tao, tentando desvendar os segredos deste. Aqui, é como se fosse uma poça de água laranja acumulada, como se fosse um vale cheio de um doce suco cítrico. À medida que vamos nos aproximando, vamos nos dando conta de que a obra fica maior e maior, ameaçando nos engolir, nos soterrar, com CJC dando um banho em nossos sentidos. É como se fosse um grande pássaro com as asas abertas, desafiando os limites do Céu, querendo Liberdade para pensar, no modo como a Liberdade do pensamento artístico perece frente a ditaduras, infelizmente. CJC querem tal libertação. O vento bate e os gigantescos pedaços de tecido tremulam como uma altiva bandeira, como se fosse a bandeira de um reino livre e feliz. São como cortinas desvelando um grande espetáculo, no modo como a Arte quer imitar a Inteligência Suprema que nos gerou.


Acima, Costa Embrulhada. Local: Austrália. Parece que CJC querem nos dar um presente majestosamente embrulhado. É como se estes impávidos rochedos, que resistem bravamente às ondas do Mar, tivessem se congelado e virado uma geleira. É como se fosse um grande bloco de mármore toscamente lapidado, talvez esperando por um trabalho de aperfeiçoamento, no modo como todos os espíritos estão na Terra em busca de aperfeiçoamento, de evolução, de melhoria moral, no fato de que a dureza da Vida faz de nós pessoas melhores, muito melhores – não éramos tolos décadas atrás? É a Vida se desdobrando em toda sua seriedade. Aqui, CJC desafiam a Natureza, as forças da Natureza, tentando domar tal selvageria, talvez como na intenção do Homem Europeu em civilizar e cristianizar as populações indígenas americanas, num claro ato colonialista, como nas intervenções que a Inglaterra fez antigamente na Argentina, numa espécie de Eurocentrismo, ou seja, o europeu como baluarte do Mundo Civilizado. É como se algo quisesse ser escondido aqui, nos segredos que uma pessoa pode carregar dentro de si, somente confiando tais segredos a amigos altamente próximos. É como se algo estivesse sendo feito sob tal disfarce, com tudo só sendo revelado num momento apropriado, como numa criança que espera avidamente pelo Natal, sonhando com um ambicionado presente ao pé do pinheirinho. É como se fossem gases, ataduras em um corpo muito machucado, no modo como a Vida exige que tenhamos Paciência, como numa pessoa não fumante, que tem que aguentar pacientemente um cônjuge fumante. É como um corpo de faraó sendo devidamente mumificado, nos modos humanos de entender a Vida Material, a Vida Imaterial e o Óbito, sendo este a poderosa vírgula que separa (momentaneamente) as pessoas. É um grande véu que caiu sobre tal rochedo, como no encanto de uma noiva toda de branco ao entrar triunfante em uma igreja, na vitória da Pureza sobre a Malícia. Aqui, é como se um gigantesco saco plástico, indevidamente descartado, tivesse rumado pelas águas e atracado no rochedo, nos inevitáveis modos como a poluição é tão inevitável no mundo em que vivemos, com as cidades físicas querendo, ao máximo, parecer-se com as cidades apolíneas. Aqui, uma parte das rochas está desvelada, exposta, como num provocante striptease, com umas partes reveladas e outras partes escondidas, num jogo de sedução. Aqui, CJC se depararam com as forças naturais, e as ondas e os ventos desafiam tal obra de Arte, ameaçando levar tudo embora, com as forças naturais dando as costas à Civilização, trazendo momentos como inundações e terremotos – são as vicissitudes materiais encarnatórias. Nesta foto, que foi extraída do ótimo site de CJC, podemos ouvir o som do Mar requebrando, e podemos sentir no rosto a brisa marítima. Unindo forças, CJC empenharam-se em intervenções muito, muito grandiosas, com duas mentes que estão absolutamente longe da Mediocridade. É como se fosse uma roupa sobre um corpo nu, num ato de recato e vergonha, como na vergonha sexual que acometeu Adão e Eva no momento em que a infame maçã foi mordida – é a Malícia versus Virtude, ou seja, é o pensamento tortuoso versus o pensamento racional. Os tecidos aqui tiveram que ser pacientemente costurados, e as rochas tiveram que sofrer perfurações para a fixação de tais tecidos, e ficamos imaginando o tempo que levou para a obra ser concretizada, e o trabalho que deu desmontar tudo isso. E depois, para onde foi o tecido? Será que foi usado em outra(s) obra(s)? E o custo financeiro de tudo isso? E de onde veio o dinheiro, já que CJC rechaçaram patrocínios e verbas públicas? Aqui, é como se fosse uma rede de pescador, querendo fisgar seus peixes, na luta diária pela Vida e pelos sagrados alimentos. É como se fossem grandes fantasmas, brancos, terríveis, assombrando alguma casa, como no hotel maldito de O Iluminado, com os resquícios de crimes horríveis pairando no ar, só podendo ser captados por mentes muito sensíveis. É o manto majestoso de Tao, aquele que veste a Natureza com vestes maravilhosas.


Acima, Embalagem de 5,600 Metros Cúbicos. Local: Kassel, Alemanha. É claro que temos aqui um elemento fálico, como um obelisco paladino, como um galo viril anunciando o início de um novo dia, numa questão de liderança, de macho alfa. Os falos fazem metáfora com a Verdade, na exposição claríssima de fatos, de questões irrefutáveis, como poderosas provas científicas, marcando épocas e ampliando as percepções do Ser Humano em geral, num caminho evolutivo do Conhecimento, numa Medicina em constante trabalho de depuração para desvendar a cura de doenças, como já me disse um inesquecível professor: Ciência é descobrir como funciona um relógio sem abrir ou examinar o mesmo por dentro. Esta forte coluna estável parece estar enraizada, com profundas raízes, estruturas que, fincadas fundo na terra, proporcionam a estabilidade necessária, na metáfora taoista: Aquele que tem raízes fortes, nunca cai. As raízes são as referências, a discrição, a seriedade, numa pessoa que sabe que a Mentira tem raízes fracas, que acabam perecendo, tal a falta de firmeza e estabilidade. Esta torre desafia os Céus, como se quisesse tocar nos limites; como se quisesse encontrar um atalho para o Reino dos Céus, na dificuldade humana em apreender o metafísico, o espiritual, pois como a pessoa pode ter a certeza de que há um Reino Superior se, ao olhar para cima, nada vê? É o desafio da Fé. Este falo é o porrete do policial, numa autoridade que se impõe, e, se somos sábios, jamais desafiaremos tal liderança, nas regras sociais e morais que regem quaisquer grupos humanos, havendo severas punições aos que não obedecerem tal autoridade, no modo como a Sociedade exige que o indivíduo seja manso e comportado, uma imposição que se torna excessiva nas ditaduras, pois o ditador não é um líder, e sim um carcereiro. Esta espada de CJC desafia tudo e todos ao seu redor, como se fosse um competidor, na excelência de um Senna na pista, ou de uma Gisele em outra pista, numa pessoa que se deu conta da alta competitividade que permeia a Vida em Sociedade, e nisso se encaixam CJC, uma equipe que sabe que não pode fazer coisas simplórias ou inexpressivas, num esforço em se destacar entre tantos outros artistas que querem ser também reconhecidos. É a competição para ver qual país ergue a maior torre do Mundo, nas brincadeiras agressivas em que todos os falos são comparados para que o maior seja eleito o líder. Esta estrutura de CJC tem o respaldo de muitas fortes cordas, talvez cabos de aço, como uma aranha construindo tranquilamente sua ardilosa teia, seduzindo insetos desavisados. Ficamos nos perguntando como CJC mediram com exatidão quantas cordas, de quanta resistência, seriam necessárias para tal obra suntuosa. Os falos são marcos, no modo como um artista quer se tornar tal marco, numa ambição, ou quase numa obsessão, nas obsessões humanas em busca de poder. Este falo se ergue maior do que qualquer coisa ao seu redor, e só poderia ser assim, pois como o falo poderia se destacar se fosse menor e simplório? É o desafio da autoexpressão, num casal que soube trabalhar em harmoniosa dupla. É como se fosse uma embalagem de biscoitos redondos, na missão da Arte em alimentar os olhos do espectador, como disse certa vez o patriarca Luiz Carlos Barreto: “Para se fazer Cinema, é necessário ser megalomaníaco”. É o ímpeto, aquela força que desafia limites paradigmáticos. É como se fosse uma múmia fálica, ressuscitando no novo mundo, no desafio que é compreender que a Mente não se vai com a Carne no Desencarne. É como se fosse um grande balão inflável, só que em forma fálica, com o ar quente sendo bombeado, no calor de um coração sonhador, cheio de ímpetos, intenções e projetos. É como o Sagrado Coração de Jesus, no tesão que é a vontade de viver, fazendo da Arte um sinal de tal desejo, de tal tesão pela Vida, pois já ouvi dizer: “Sem tesão, não há solução”. É como se fosse um casamento sólido, com duas pessoas felizes juntas, trabalhando em equipe, num casal maravilha como CJC.


Acima, Ilhas Cercadas. Local: Miami, EUA. As ilhas assinaladas com uma farta margem em cor de rosa. CJC desafiam os poderes da Natureza, numa obra que teve que ser pensada para resistir às forças das marés, na sensual cidade Miami, a pontinha tropical dos EUA. São como grandes manchas de óleo rosa boiando, numa tragédia ecológica do Bem. São como abas de chapéu, no modo como a Arte é tal proteção, trazendo saúde mental ao Corpo Social, com estranhos se reunindo numa sala de Cinema para ver uma película, no poder da Arte em unir as pessoas, fazendo com que a Paz se mostre mais forte do que a Guerra. Aqui, as embarcações têm que se cuidar para não cruzar os limites dessas ilhas artificiais cor de rosa. O rosa é a cor da Feminilidade, como no Outubro Rosa, a campanha que visa alertar as mulheres em relação ao Câncer de Mama. É a cor da candura, da doçura, com todos os encantos perfumados da Feminilidade. São como praias de areia cor de rosa, como se fosse uma praia exótica em algum estranho planeta alienígena. É como se as ilhas estivessem sangrando, espalhando seu sangue pela água, causando influências, no modo como o artista quer ser agente de influências, afetando os rumos do Mundo, como numa canção que se torna um megahit, entrando na Moda e se tornando um agente de comoção, como na história de amor de Titanic, um manifesto contra as insensibilidades do Mundo Material. Aqui, são como barcos estáveis, que pouco parecem sofrer influência das águas ao redor. É como uma canetinha colorida destacando algum trecho de um texto, frisando algo importante, em CJC querendo frisar a si mesmos. Imagina-se a batalha que foi para o casal convencer governos e prefeituras a sediar tais mostras, num Mundo tão insensível em relação aos ímpetos da Arte, esta força inteligente que traz o sopro de renovação a uma Sociedade, na capacidade de uma obra em marcar uma década. É como se estas águas cor de rosa estivessem prestes a se diluir com as águas escuras ao redor, como cubinhos de gelo, lentamente derretendo, lentamente se integrando, como numa pessoa que vai, aos poucos, encontrando um lugar no Mundo, permitindo a si mesma se entregar, confiar nas pessoas ao redor, numa espécie de autoentrega, num artista dando o melhor, o ultramelhor de si mesmo. São como grandes pranchas de Surf boiando, ou como algum lixo boiando, na inevitabilidade da poluição ambiental, um mal necessário, pois, na Terra, não há cidades metafísicas perfeitas... Bem ao fundo nesta foto, vemos uma terceira ilha, também cercada pela aura cor de rosa. Esta terceira ilha está do outro lado da ponte, talvez numa intenção de CJC em desafiar limites, rejeitando os ranços tolhedores, as medíocres faltas de imaginação, numa dupla de artistas que teve que ralar muito até ser atingida a notoriedade. Podemos ouvir o delicioso barulho aquoso de coisas boiando, em doces memórias de Verão, numa Miami que é tão quente nos meses veranis. É como se um grande contagotas tivesse pingado essas manchas cor de rosa, no apelo cromático de CJC, com cores que visam, de fato, quebrar a monotonia cromática, usando uma cor que não se vê no resto da paisagem. É claro: esta obra se destacaria se fosse da mesma cor do que o Mar? É como se essas ilhas estivessem emergindo, saindo do fundo da água, erguendo-se altivamente, numa revelação, como na lendária Atlântida emergindo e revelando-se por inteiro, no modo como a Dimensão Metafísica se revela ao recém-desencarnado – é o Plano Divino para conosco. É como uma saia rodada em volta de uma formosa mulher, com saias e vestidos justos, desafiando os limites do pudor, no desafio que é fazer o sexy sem ser vulgar. São como grandes bandejas servindo as ilhas, no privilégio que é o do ator estelar em optar por algum projeto, tendo um “buffet” de propostas frente a si. São como discos vinis coloridos, rodando e reproduzindo Música. É como um ralo entupido, produzindo um vazamento de água cor de rosa, numa obra de Arte que visa ser tal tsunami do Bem, “destruindo” tudo e todos, na gíria do termo “arrasar”.


Acima, Muro de Barris de Óleo - A Cortina de Ferro. Local: Paris. Parece um maço de cigarros amontoados. É um acúmulo, uma obstrução, como uma artéria acometida por uma cardiopatia. É uma interrupção, num beco sem saída. É quando a pessoa se depara com um percalço, tendo que ter garbo olímpico para contornar tal vicissitude, tal desafio. É como o alpinista aceitando o desafio de conquistar alguma montanha, num terreno duro e inóspito, numa dureza que faz com que a pessoa cresça existencialmente, tornando-se uma pessoa melhor e mais depurada, num caminho de aperfeiçoamento, como cursar uma faculdade. Os barris estão estocados e acumulados, como na casa de um acumulador compulsivo, com objetos e mais objetos, no caminho do apego material, numa pessoa que não sabe a verdade taoista – menos é mais. É como uma mão repleta de anéis, com dedos que sequer podem ser dobrados, tal a quantidade de joias, na ilusão que é a possessão material, sendo difícil o Desencarne para uma pessoa que não quer se desapegar das riquezas mundanas. Aqui, temos que escalar este monte se quisermos continuar nosso trajeto. É como uma queda de árvore ou de uma rocha sobre uma pista ou estrada, fazendo com que os viajantes busquem rotas alternativas para contornar tal impedimento, na necessidade de se ter imaginação e criatividade, fazendo uso da inteligência emocional, como um jogador persistente de futebol, que faz o gol num rebote, aproveitando ao máximo as oportunidades. É como no videogame Tetris, com pecinhas caindo do céu e se acumulando, desfiando o jogador a encaixar as pecinhas cadentes, numa corrida contra o Tempo, no encanto que os desafios exercem sobre o Ser Humano. Aqui são como várias colunas deitadas, talvez estocadas, esperando por uma oportunidade para ser utilizadas. São como vários lápis, numa coleção, no paciente e extenso trabalho de colecionador, com muita paciência e persistência, como no acúmulo de peças num museu de Arte, no encanto de galerias com grandes e célebres obras de Arte, no caminho oposto à acumulação, a qual é o acúmulo de objetos inúteis ou insalubres. Aqui, são como vários potes de pepino, como no estoque de um supermercado, ou como latinhas em conserva. São como vários flocos coloridos de neve acumulados, formando um terreno branco e fascinante, fazendo metáfora com a imaculada pureza da maravilhosa Dimensão Metafísica, o lugar em que quaisquer doenças desaparecem. Aqui, é como se estas paredes fossem um aparelho de compressão de lixo, apertando os barris, esmagando-os, compactando-os. Aqui, CJC nos dizem que não há como contornar tal problema, fazendo com que a pessoa tome outras rotas, rotas alternativas. É como o desafio científico em descobrir a cura de doenças como Câncer e AIDS, num Tao desafiador, que exige que evoluamos, como um professor rigoroso, o qual, ao término do curso, mostra-se um grande amigo, tornando-se inesquecível e lembrado com carinho. Este beco é escuro e misterioso, com tantas dúvidas que a Ciência ainda não consegue elucidar. Os barris enferrujados mostram a passagem de Tempo, na cor do sangue oxidado, como numa ferida há tempos curada, deixando apenas vestígios. É o inevitável sangramento, como na Coroa de Cristo, com as cruéis gotas de sangue caindo sobre um homem então incompreendido. Esta obra tem um certo colorido e uma certa diversidade, pois os barris não são todos da mesma cor. São como festivos confetes num salão de Carnaval, como uma neve multicolorida que não gela, mas acolhe. São como várias árvores cortadas e empilhadas, na inevitável exploração que o Ser Humano faz da Natureza, num conflito – quero crescer, mas não quero esgotar a Natureza. É como um caminhão cheio de mercadorias e riquezas, nos caminhões que cruzam diariamente as terras vastas de um país de dimensões continentais, no modo como o Brasil nada é sem seus caminhoneiros. Aqui, é como um artista produzindo e acumulando obras, vendo-se forçado a vender ou doar, como uma torneira que jamais para de fluir.


Acima, Os Portões. Local: Nova York, EUA. É claro que CJC escolheram a dedo a época do ano para fazer essa suntuosa e vasta instalação no icônico Central Park. Esses portões alaranjados, enfileirados tortuosamente pela extensão do espaço público, contrastam muito com os tristes tons cinzentos de neve no inverno novaiorquino. Vários e vários portões, com seus esvoaçantes panos, cortaram o parque, num ato que virou notícia internacional, talvez na instalação mais famosa do casal. A instalação faz metáfora com o passar por etapas, numa pessoa que vai acumulando experiências de Vida e vai se tornando mais sábia e prudente. Os portões aqui dão um certo agouro, num caminho depurativo repleto de aprendizados. Os panos esvoaçam como bandeiras de nobres e belos países, talvez remetendo às bandeiras internacionais em frente ao prédio da ONU, na mesma cidade. É como se o vento fosse um agente artístico, como um escultor, agitando os panos e trazendo fluidez e leveza ao empreendimento de CJC. É como um túnel, um longo túnel, numa encarnação extensa e intensa, com nada em vão. Essa cor vibrante desafia o frio da neve, trazendo um pouco de calor a uma cidade na qual o Inverno é bem rigoroso, com dias de tanta neve que a Prefeitura aconselha os novaiorquinos a não sair de casa. É uma obra que convida a um prazeroso e inocente passeio, numa obra que visa se integrar à mágica grandiosidade da cidade que é tida como a Capital do Mundo, cenário do maior atentado terrorista da História. Os panos acariciam e acolhem o espectador, fazendo com que o pálido e descolorido Sol invernal tome ares de um vibrante Sol tropical, como o canto de pássaros exóticos, o sabor de doces frutas exóticas e praias de areia macia e convidativa. CJC querem aquecer uma cidade que, apesar de respirar Arte, é um lugar onde tudo gira em torno de dinheiro... Nada mais americano! Como toda obra de CJC, imagina-se o trabalhão que foi montar toda essa estrutura, com artistas que sonham a obra e, então, trabalham ensandecidamente para concretizar tal sonho artístico, na clara vírgula entre pensar e concretizar. É como se fosse uma grande muralha da China, na intenção o artista em se sobressair frente à selvagem Natureza, fazendo coisas que, definitivamente, não se veem por aí. É como um túnel de luz, quando a pessoa desencarna e entra em tal duto, sendo guiada por espíritos amorosos, por irmãos, até a pessoa ter a plena consciência de que seu corpo físico ficou irremediavelmente para trás, para sempre. É uma obra que nos convida ao passeio, curtindo a pujança artística da Big Apple, com seus ousados museus e recantos de lazer. À noite, tal obra adormece, sem iluminação própria, para, no dia seguinte, renascer dourada como o Sol, irradiando ouro, fartura, no modo como tosco ouro físico é mera metáfora da Vida Eterna que nos espera após o óbito – os metais físicos não sobrevivem ao Desencarne, no modo como poder ser infeliz a vida de um ganhador da loteria. Você duvida? Esses panos de CJC tremulam deliciosamente, como num mar cheio de peixes coloridos. É como se fosse sempre o mesmo portal, só que repetido, na tentativa de se compreender a permanência, a imortalidade daquilo que realmente importa. É uma permanência. É como se fosse um caminho protegido, feito por alguém que nos ama, como um professor empenhado em nos alfabetizar. É claro que esta instalação foi temporária. Portanto, CJC nos convidam a curtir tal obra, aproveitando e passeando por esta enquanto esta ainda dura. Esta é a tristeza de um artista – desmanchar uma mostra ou uma instalação, havendo nos museus a intenção de contornar tal transitoriedade, eternizando obras célebres. Podemos ouvir o som dos panos farfalhando, acariciando quem por ali passar, no modo como as coisas agradáveis são do Bem, como a Liberdade. Esses panos são a liberdade de pensamento, a liberdade para um artista imaginar e concretizar, havendo nos sistemas ditatoriais um desconfortável e desprazeroso tolhimento em relação ao artista. Tao abençoe as terras livres.

Referências bibliográficas:

Artworks/Realized Projects. Disponível em <www.christojeanneclaude.net>. Acesso 23 out. 2019.
Christo e Jeanne-Claude. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 23 out. 2019.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Talento Invicto



Com obra vasta e rica, o ultracriativo Victor Vasarely merece mais análises aqui no blog, como hoje. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Geométrico. Placas tectônicas se remexendo e reacomodando-se, causando o caos dos abalos sísmicos, no poder de um artista em causar metáfora com o fenômeno natural, causando comoção por meio de obras de arte catárticas, na libertação do vômito catártico, “lavando” a alma do artista. O fundo negro são os confins da Eternidade, na enorme incapacidade humana em apreender tal poder infinito. O preto é como a sujeira das mentiras do submundo, com espíritos sofredores arrastando-se, sofrendo por sua própria maldade e malícia, imundos como mendigos, a anos luz de entrar no chuveiro e tomar um banho de renovação espiritual, pois limpeza rima com beleza. Estas formas de VV parecem girar, como um relógio, como no ciclo das estações climáticas, no poder que a Op Art tem em brincar com o espectador, na ironia de que vemos movimento em algo que, a princípio, é inerte. Os círculos são dois grandes olhos, olhos ávidos por uma explicação que elucide os porquês da Vida. São como olhos de um animal faminto, farejando comida pelo mato. São como os olhos noturnos felinos, totalmente dilatados, conseguindo ver o que o Ser Humano não vê. A figura remete ao brinquedo Genius dos anos 80, exigindo uma memória enorme da parte do jogador, e posso até ouvir o barulhinho do brinquedo, com sons lúdicos. A sisuda moldura é cinza, sóbria, em harmonia com o sério fundo negro, na profundidade do luto, um momento de recolhimento e tristeza, num stress pós-traumático, quando a pessoa começa a perceber a totalidade de tal perda, de tais consequências. O preto é a cor da sujeira, e a pessoa começa a sentir a necessidade de se desapegar de alguns aspectos, rumando assim para a limpeza de Tao, o essencial, o perfumado, aquele que só atende ao que é necessário e vital, rechaçando as frivolidades inúteis, rechaçando os sinais auspiciosos que seduzem e iludem, sinais que tiram do chão os pés da pessoa. Aqui, é como uma vista aérea de um grande ciclone, como numa foto de satélite, no olho do furacão causando todas as suas comoções, mexendo com as vidas de todos, como num filme que se tornou um grande blockbuster, num sucesso esmagador, no modo como o sucesso é uma maldição, fazendo com que a pessoa bem-sucedida tenha uma monumental força para sobreviver e continuar tocando a Vida para frente, como nos seis protagonistas da série televisiva Friends, na força que exige para que a página seja virada, pois se tenho sucesso, quero ficar para sempre neste momento, o que não é possível. Aqui, as formas arredondadas sofrem com as quinas agressivas, como no paciente trabalho de um escultor, lapidando calmamente até atingir o nível sonhado de excelência, como numa Pietà de Michelangelo, dando-nos a divertida impressão que aquela duríssima pedra é macia como veludo, com magistrais detalhes, como as veias protuberantes na mão do Salvador. É a capacidade da Arte em nos transportar para outros mundos, outras dimensões, como na longínqua galáxia de Star Wars. Esta forma cíclica é como água escorrendo pelo ralo, nos mistérios astronômicos – o que há no dentro de nossa galáxia? É o enigma de Tao, o centro de tudo, enigmático em sua máxima força de união, concebendo o Universo e dando coesão a este, como no talento de um patriarca em agregar, como numa noite de Natal, com crianças abrindo seus presentes e uma farta mesa de pratos natalinos. Esta engrenagem cíclica de VV me remete aos salões de bailes de carnaval, nos quais, instintivamente, as pessoas dançam pelo salão no formato cíclico, formando tal redemoinho. Aqui, é como uma casa com criança pequena, com tudo girando em torno do infante, do bebê, na ciumeira que acomete um irmão mais velho, o qual se dá conta de que não mais é o pequenino da casa.


Acima, Planetary Folklore Participations nº 1. Uma festiva explosão carnavalesca, na alegria de um pulsante baile de Carnaval, com as pessoas vestidas ridiculamente com suas fantasias, num momento em que toda a sisudez da Vida é colocada de lado, num momento da pessoa sair um pouco de sua velha rotina séria. Aqui, é um objeto vibrante, muito pulsante, numa abundância, numa fartura, como num reino mágico, onde só há bem estar e fartura, beleza, no modo como uma cidade como Gramado, num destino turístico que está sabendo muito bem como se vender ao turista. Aqui, é um painel divertido, e os quadrados são como se fossem homens; os círculos, mulheres. É uma alma sensível, receptiva aos estímulos externos. É como o “louco” sistema de luzes de uma boate, num ambiente glamoroso, cheio de cores e estímulos, no mágico momento de interação social, na explosão das discotecas nos anos 70, uma época que adquiriu muita identidade própria, no gênero que nasceu na época – a Disco Music. Aqui, é uma joia de valor inestimável, cheia de pedras de várias proveniências. É a diversidade, com, várias raças, crenças, cores, sabores. E tal colorida diversidade só é possível por meio do respeito, pois se a diferenças não são respeitadas, como poderemos ter tal paleta multicolorida? A ilusão de ótica de VV dá a impressão de que as formas estão trocando de lugar umas com as outras, como inquilinos se mudando de apartamento. É um momento de mistura, reunião e assembleia, como num pomposo baile de gala, quando as pessoas buscam ter a melhor aparência possível, fazendo metáfora com os elegantes acontecimentos da Dimensão Metafísica, com bailes coloridos em que a polidez e a irmandade tomam força, muito longe de brigas entre rivais em eventos sociais na Terra. Aqui, são como vários peixinhos vindo à superfície para fisgar alimentos e presas. É como um biossistema farto, com criaturas exóticas, na exuberância de Fauna e Flora que encantou a Europa na Era das Navegações, na descoberta de novos mundos, com indígenas canibais, em níveis básicos e toscos de evolução moral. Aqui, uns vão entrando no lugar dos outros, numa fluidez constante, no fato de que tudo é processo, e a reorganização denota evolução e aprendizado, como num quadro negro escolar, o qual cujo giz está constantemente sendo apagado para dar espaço a novos aprendizados, no incessante e paciente labor docente, numa dedicação em relação às crianças – estas são o nosso futuro. São como borbulhas de um espumante, na deliciosa sensação cremosa na boca, no polido momento de brinde, desejando concórdia e amizade, tentando, assim, compreender a inabalável Paz Divina Metafísica, o nosso destino final, no modo como tudo acaba bem. Aqui, é uma feira de hortifrutigranjeiros, com frutas fresquinhas e coloridas, numa abundância tropical de sabores tão exóticos, como uma manga. Podemos ouvir aqui o som de videogame, cheio de estímulos visuais e sonoros. As cores misturadas são um prazer, num acontecimento em que todos somos irmãos, somos iguais, na ironia de que os vínculos de família resistem ao Desencarne – sempre teremos parentes, os quais são importantes referências na Terra. Aqui, são bandeiras nacionais de vários países, das cores de bandeiras em frente ao prédio da ONU, na nobre intenção diplomática em estabelecer harmonia entre os povos, uma harmonia a qual, infelizmente, parece ser difícil de ser imposta, mas a Humanidade tem futuro. Aqui, é um saco de doces balas coloridas, encantando a criança, como num rico vitral de igreja, banhando de cor a fé do frequentador, na magia que as cores exercem. É um desfile alegórico, encantando com a alegria do momento de união e celebração. É uma dança dinâmica, num baile onde os pares estão constantemente sendo trocados, numa divertida “suruba”. São pessoas conhecendo umas às outras, como numa tribo, em que todos se conhecem, como índios fazendo pinturas em seus próprios corpos, na magia de um momento extraordinário, que foge das obrigações do dia a dia.


Acima, sem título (1). Uma barriga de mulher grávida, inchada, prestes a parir, nas inevitáveis dores, no modo como as dores existenciais são inevitáveis, pois fazem parte do aprendizado do indivíduo. Aqui, é como uma catarse prestes a ser deflagrada, como numa explosão de supernova, afetando tudo e todos ao seu redor, como um artista sendo revelado ao Mundo, numa revelação, como Gisele no ano 2000, mostrando que, por exemplo, uma rainha da Festa da Uva tem que ter alma de artista, de diva, pois, do contrário, não será um reinado marcante. Aqui, VV nos traz distorções gráficas, dando a impressão de que estamos olhando para algo em três dimensões, como se o quadro estivesse extrapolando os limites da moldura e tentando nos tocar, nos afetar, nos escandalizar, na tarefa artística de tocar a percepção do espectador. É um quadro absolutamente simétrico, e, bem ao centro, uma perfeita esfera, um círculo vazio, no enigma taoista da serventia, numa pessoa nobre, desprovida de vaidades de Ego, uma pessoa que se torna alguém com o poder de unir as pessoas em torno de algo em comum, como no incrível poder de liderança que teve o diretor Fabio Barreto, um cineasta que uniu inúmeras pessoas no heróico esforço para produzir sua obraprima – foi uma inenarrável aventura, amigo Fabio! Aqui, é uma protuberância, um movimento, um esforço, como se a figura quisesse se libertar, no modo como o Ser Humano quer isso, libertar-se, mas, no entanto, temos que abraçar os nossos dias de encarnados, de prisioneiros, chegando o Desencarne no momento em que a Divina Providência decidir, como num grande tribunal, mas um tribunal amoroso, sem as duras arestas das grosserias mundanas do Ser Humano. Este quadro joga com tons de azul, tons limpos, refrescantes, como uma refrescante colônia, na busca de metáforas que busquem nos fazer entender o frescor metafísico da eterna juventude, pois a Vida não cessa; as pessoas não morrem, ou seja, a Velhice e a Morte são meras ilusões, ilusões que, para o psicopata, são reais, pois os espíritos toscos não aceitam a morte do corpo físico. Aqui, é como uma esfera, um planeta. Temos a impressão de que, nos quatro cantos na diagonal, esta estrutura está sendo puxada, tensionada, testada, tendo que apresentar muita resistência, como algo industrial sendo testado, como um produto de higiene ou limpeza. São as provações da Vida, sempre nos testando, sempre querendo que cresçamos e evoluamos, deixando par atrás a frívola tolice dos sinais auspiciosos. Aqui, há uma hierarquia, pois temos círculos maiores e menores, havendo ao centro, no topo de tal pirâmide orgânica, o maior círculo de todos, como no modo do egípcio antigo em organizar o Universo com o faraó ao centro, ao topo, nas inevitáveis hierarquias do Mundo, como na diferença de idade, com noções civilizatórias de reverência e respeito. Aqui, é como um chiclete, uma borracha, muito flexível, como o poder da sobrevivência, numa pessoa que passou por um episódio muito escuro e pesado, conseguindo sobreviver e continuar tocando a Vida para frente. Esta forma é como a tradicional pichorra nas festas mexicanas, um boneco gordo, cheio de doces no interior, com uma pessoa, de olhos vendados, querendo acertar a pichorra com um porrete, libertando os doces e trazendo fartura e riqueza ao Mundo. É a violação, o prazer da violação, da agressão, na sensação gloriosa de descarrego ao batermos num saco de pancadas, libertando as tensões e as mágoas. Aqui, é uma preciosa estrela brilhando para todos os lados, no poder fascinante que as estrelas no céu noturno exercem desde sempre sobre o Ser Humano. Aqui, temos um quadro voluptuoso, que nos convida ao toque, como disse certa vez LF Verissimo sobre uma escultura de um certo artista, chamando tal obra de “bolinável”. É o poder das obras de Arte que convidam à interação, à intervenção do espectador, na tentativa de um artista em arrastar o espectador para dentro da mente deste mesmo artista.


Acima, sem título (2). As almofadas buscam fazer metáfora com a deliciosa sensação de liberdade da Dimensão Metafísica, numa confortável sala de estar com um anfitrião fino, que faz com que os convidados se sintam muito bem. Este quadro é pulsante e dinâmico, típico da Op Art. Vemos um jogo dinâmico entre côncavo e convexo, numa vibração musical, com os opostos se unindo e formando uma só moeda, com o discernimento entre público e privado. Este azul é discreto e nobre, no termo “sangue azul”, uma tentativa milenar humana em, por meio da Aristocracia, mapear a apolínea e fina beleza imaterial, na virtude que é o desapego em relação ao mundano, ao vulgar. Aqui temos tabuleiros de Xadrez sendo manipulados, como se fossem feitos de um material bem flexível, como borracha ou plástico mole. É a necessidade que a pessoa sente em se adaptar, em se adequar a alguma realidade ou contexto. É o discernimento entre matriz vazia e cópia cheia, no modo como Tao tem que se esvaziar para, assim, poder produzir e ser útil ao Mundo. É o curioso link existente entre opostos que parecem estar tão distantes um do outro, na relação de união e continuidade que mantém unido todo o Universo, com astronautas da NASA vendo, no espaço, pelas janelas da Estação Espacial Internacional, objetos voadores estranhos... Na extrema direita superior, vemos um velho monitor de televisão, sutilmente convexo, como se quisesse entrar em nossas casas e tocar nossas mentes, no modo como a televisão se tornou uma das maiores invenções humanas, indo além do Rádio e mostrando-se um aliado do Cinema, para, depois, desenvolver-se na Internet, no inocente pecadinho da Preguiça, pois grandes invenções nascem deste pecado – porque sair de casa se posso falar com você pelo telefone ou mandar um e-mail para o outro lado do Mundo? Aqui, há um jogo entre ligar e desligar, no controle remoto obediente, no modo como a pessoa tem que adquirir tal controle sobre sua própria vida, mas sem a ilusão de querer retroceder, adiantar ou pausar... Aqui, é um piso em Xadrez, no complexo exercício mental de prever movimentos no tabuleiro, na forte noção hierárquica entre as peças, fazendo metáfora com as hierarquias mundanas, como no sistema militar, cujo combustível é o respeito aos limites hierárquicos. Aqui, temos um som de algo inchando e murchando, como numa respiração, como no vaivém das ondas do Mar, no sopro de vida de Tao sobre o Adão feito de barro, ou como Zeus transformou um pedaço de barro na Mulher Maravilha, no poder das mãos humanas em pegar algo e transformar, algo que, mesmo os inteligentes macacos, não conseguem fazer, fazendo da Arte uma das maiores provas do brilho da mente humana, buscando inspiração nessa fonte dourada de nobreza que é o Reino dos Céus, a Matriz de Tao. Aqui, é o jogo entre claro e escuro da xilogravura, como um carimbo, como um nobre carimbo com o brasão do Vaticano em correspondências antigas, no discernimento taoista – se quero vencer, tenho que, antes, ser derrotado... Como no fato que a Física traz – se quero ir para a frente, tenho que, antes ir par atrás, pois o pensamento raso e arrogante não entende o que é nobreza metafísica. Aqui, são como estrelas coruscando, como numa vibração de Código Morse, como se fossem os poetas no Céu, querendo ser compreendidos por nós na Terra. Este quadro é como uma caixa toráxica respirando, num simples mistério – o que é Vida? É como uma casa arejada, com as janelas abertas para que o Sol entre e para que tal ar renove o lar, na beleza de raios de Sol inundando um lugar, na celebração da Vida e da Beleza, no maravilhoso renascimento que é o Desencarne, na metáfora da Ressurreição de Cristo – o corpo fica par trás; a mente sobrevive. É como o termo “vão os anéis, ficam os dedos”. E ser precioso é exatamente não se deixar levar por pedras preciosas! É a contradição do Cosmos, em divertidas lições de Tao, o professor adorado. Aqui, são dois olhos – um conservador e outro moderninho.


Acima, sem título (3). Um labirinto mágico, com VV nos guiando numa viagem, ou num truque traiçoeiro. A Op Art usa o fato de que tudo traz em si sua própria contradição, ou seja, os dois lados da moeda convivendo pacificamente, no fato que cada um enxerga o que quiser enxergar. O fundo á dourado, áureo, nos júbilos em cima de um artista que conseguiu, ainda em vida, conquistar fama, prestígio e reconhecimento. É o fascínio humano pelos metais preciosos, fazendo do Ouro um símbolo, na Terra, do rei Sol que nos banha todos os dias. Observar a contradição é o mesmo do que observar o céu noturno estrelado de duas formas: uma forma é observar com você em pé, vendo o Céu como algo que está acima; a outra forma é virar de cabeça para baixo e ter a impressão de que o Céu está caindo sob seus pés. Os modos humanos de medir Tempo e Espaço são inúteis frente à totalidade do Cosmos, no qual, na verdade, não há Norte nem Sul, e não há hoje nem amanhã, fazendo da Terra uma ínfima esfera em meio ao infinito. Aqui, o vermelho é como um rubi sangrento, no vinho da missa que se transforma no sangue do Salvador. É a sede do vampiro pela jugular alheia, querendo sempre se aproveitar de outrem para, na sua insignificância, obter vantagens em relação a seus irmãos. Esta joia colorida de VV paira no ar, flutuando, como se tivesse os meios para se autossustentar, como uma estrela no Céu, ou como um artista que soube provar ser independente em seu brilho, atingindo o ambicionado plano dos grandes, dos célebres, em meio a tantas e tantas pessoas comuns, na inevitável luta do “cresça e apareça”. É o desafio da Vida, com pessoas que nasceram no nada e, depois de muita luta, conquistaram seu espaço, havendo pessoas que, mesmo com o apoio de uma mãe poderosa ou um pai poderoso, jamais deslancharam nem provaram ter autonomia de voo. Este cubo mágico parece girar ludicamente, como um gato brincalhão. É como se fosse a brincadeira de ciranda, ou o brinquedo num parquinho de diversões que gira, ou como num carrossel, num fluxo majestoso, régio, que guia tudo e todos na mesma direção, no prazer da comunhão, do fazer parte de algo e ter algo em comum com o próximo, como um irmão. É a comunhão na missa, no momento em que somos todos absolutamente iguais, filhos do mesmo Tao, plantas do mesmo vaso. VV faz com que nossos olhos deslizem pela tela, como num simulador de voo, num fluxo intermitente, como um rio que jamais seca. Aqui, são como azulejos, colocados com tempo e paciência, mostrando como a Arte pode ser mágica e inquietante. Este cubo pulsa, inspirando e expirando, no calor de um beijo entre dois apaixonados, num momento de entrega, em que um confia ao outro todas as suas tristezas existenciais, suas dores de Vida. Aqui, é como um jogo de videogame, num palácio mágico e traiçoeiro, cheio de divertidos corredores confusos, numa espécie de “casa maluca”. VV nos surpreende em nossa noção ótica, e mostra que o buraco é mais embaixo, rejeitando os medíocres, os medianos, estabelecendo que o artista tem que ter algo de válido para mostrar. São os azulejos azuis de uma piscina, no momento delicioso de férias de verão, com as brincadeiras na água, com felizes lembranças de juventude. São como as luzes loucas de uma boate, explodindo numa fartura, tocando fundo na mente de uma pessoa sensível, produzindo estímulos, sendo o Mundo um lugar um tanto duro para quem tem alta sensibilidade, na necessidade da pessoa criar uma espécie de “escudo” para se proteger eventualmente. São caminhos confusos que levam para o nada, numa brincadeira de VV. É como uma sala de espelhos, cheia de truques e ilusões, no modo como pode ser difícil para a pessoa estabelecer um Norte na própria vida. Aqui, o Mundo é uma esfera só, e Norte e Sul fazem uma dança, como se estivessem namorando. É um relógio que gira e que acaba voltando ao ponto inicial, no eterno recomeço.


Acima, sem título (4). Uma avalanche de cubos, como numa furiosa chuva de granizo, deixando um rastro de destruição e prejuízo. Há cubos iluminados, vistos e reconhecidos; outros, mergulhados na obscuridade, lutando para conquistar um espaço ao Sol. Os cubos formam escadas intermitentes, que levam a uma infinidade de lugares. Podemos ouvir o som dos passos pelas escadas, como nas mágicas escadas da escola de Harry Potter, com tais escadas mudando constantemente de lugar, pregando peças em quem busca subir e descer, num constante trabalho de remanejo e reajuste. Aqui, é um ambiente técnico, frio, na construção técnica do espírito, na construção do Pensamento Racional, da Razão, da Objetividade precisa, no modo como o Espiritismo abraça incondicionalmente a Ciência, pois se o Ser Humano é universal, também é universal o Conhecimento, pois este é obra do Ser Humano. Aqui, é a construção de um grande prédio, ou a aglomeração de vários barracos em uma favela, numa ocupação desordenada, trazendo riscos de deslizamentos em tempestades. É o aconchego da vizinhança, no modo como dá gosto visitar de pantufas um vizinho, na sensação de conforto e familiaridade, numa pessoa que está feliz e confortável dentro da própria vizinhança, encontrando Paz em seus dias na Terra, pois se não tenho Paz, como posso ser feliz? Esta construção é ambiciosa, ilimitada, como a Torre de Babel, desafiando Deus e desafiando os limites, limites que o Ser Humano sempre busca cruzar, em sonhos de Engenharia futurista do desenho Os Jetsons. Aqui, é uma foto de microscópio, mostrando cada célula sanguínea, no furioso fluxo venal e arterial, na eterna demanda do corpo em renovar o sangue, como na filtragem dos rins. Aqui, é como uma infecção em pleno desenvolvimento, com a reprodução bacteriana desordenada, numa doença que só cresce, como num câncer, no constante esforço da Medicina em desvendar os segredos que cercam o Ser Humano. São como fartos cachos de uva, na fartura das vindimas, com tantas e tantas festas na Itália, o país da vindimas. É a celebração da Vida e da Fartura, como se vivêssemos num mundo perfeito, num mundo jamais tocado pelas vicissitudes da Matéria. É a promessa da Ressurreição, um caminho que exige Fé, pois nada pode ser provado... Aqui, é como uma pedra preciosa cheia de arestas de lapidação, num majestoso e paciente trabalho de aprimoramento, no caminho eterno de aprimoramento espiritual, no modo como os Espíritos Perfeitos gozam da Felicidade Suprema, recebendo as ordens diretamente de Tao. Aqui é uma grande queda de uma geleira, ou num esquiador sendo soterrado abaixo de toneladas de neve brutal. É como um prédio ruindo num terremoto, com vários tijolos sendo dissociados e jogados ao chão. É como um chão de cascalhos num estacionamento. É uma molécula altamente complexa, composta por muitos cubos. Talvez sejam as células de defesa imunológica do corpo, unindo-se para cercar e eliminar o agente infeccioso. É uma cena de engajamento comunitário, para fazer acontecer uma Festa da Uva, ou qualquer outra celebração comunitária, num momento (raro) em que as pessoas esquecem suas diferenças e unem-se. É um punhado de areia, muito farto, na abundância absurda de galáxias no Cosmos, ficando impossível que o Ser Humano faça uma catalogação completa. É um depósito cheio de caixas empilhadas, como num tesouro no túmulo de um faraó, com os bens empilhados, bens que serão necessários no pós-vida. É como se cada cubinho fosse um pixel, podendo, assim, constituir formas complexas, no modo como os princípios da Computação trouxeram formas com arestas e degraus, sendo altamente possível observar tais pixels. É como uma farta plantação esperando para ser colhida, com tratores separando os grãos de soja. É a sadia brincadeira infantil de empilhar blocos e formar edificações, no desenvolvimento do intelecto. São pipocas estourando na panela, na explosão de Vida que ocorre em nosso lindo planetinha.

Referências bibliográficas:

Victor Vasarely. Disponível em <www.catalogodasartes.com.br>. Acesso 16 out. 2019.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A Vitória do Talento



Monstro sagrado das Artes Plásticas, o húngaro de nascença Victor Vasarely (1906 – 1997) é Pai da Op Art, o estilo que brinca com as ilusões de ótica do olho humano, um estilo que revolucionou a relação artista/espectador. VV estudou Arte e foi designer gráfico numa agência de Publicidade. Começou fazendo quadros em preto e branco e, mais tarde, coloridos. Artista multipremiado, radicou-se na França. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Haaz. É impossível não encontrar um link entre Victor Vasarely e MC Escher, ambos mestres que abusam da ilusão de ótica, brincando com o espectador. Aqui, temos um engenhoso jogo de cubos, como no tradicional brinquedo do Cubo Mágico, exigindo o máximo da inteligência do jogador, num grande desafio, como uma página de Palavras Cruzadas, no modo como, se não houver desafio, perde a graça, assim como a Vida, a qual seria enfadonha e insuportável se não desafiasse o vivente, ou seja, verás que filho teu não foge à luta. Aqui é como um limpo ambiente de banheiro, com reverberação, e podemos ouvir o barulho de chuveiro aberto, ou de alguém cantando durante o banho, no ato de ritualística renovação que é um banho, no modo como, na Dimensão Metafísica, estamos sempre limpos e perfumados, como se estivéssemos recém saído de uma revigorante ducha. No apelo da Op Art, não podemos saber o que é definitivo, num jogo que nos mostra que tudo traz em si sua própria contradição. O azul é a cor do pensamento, do sonho, da abstração, no modo como Tao nos brinda com tal céu azul anil, o mesmo céu em duas dimensões diferentes, no modo como há uma relação de continuidade entre tais dimensões, e no fato de que não cessa a luta pela Vida, ou seja, no dito Reino dos Céus, ainda assim, sentimos a necessidade de trabalho e depuração, crescimento, havendo uma tediosa estagnação em uma pessoa que não quer progredir, como uma pessoa que sente pena de si mesma, e acha que é uma vítima da Vida, sentindo-se injustamente maltratado por esta, como me disse certa vez uma sábia espírita: Deus não quer que nos atiremos nas cordas, quando o próprio Tao é um guerreiro, sempre produzindo. Neste “banheiro” de VV, há diferenças, e os azulejos não são todos da mesma cor, talvez numa tentativa de estabelecimento de respeito à diversidade, às diferenças. Há azulejos mais clarinhos, azulejos mais negros e azulejos mais vibrantes. A porção inferior do quadro, mais clarinha, dá um efeito de estar preenchida de água, como numa caixa de água, enchendo devagarzinho, num trabalho manso e persistente, com gota a gota sendo somada à parede, num trabalho de acumulação, de carreira, na força que a pessoa tem que ter para persistir, até que os dourados frutos apareçam, com a ressalva de que, sem talento nem potencial, a persistência é infrutífera, como numa pessoa que conheci, uma pessoa que não se dava ao respeito, fracassando na profissão e trocando de carreira. É o direito de cada um em observar a própria vida e chegar à conclusão de que não está saindo do lugar, frustrando-se, nos inúmeros sonhos que perecem todos os dias no Mundo. Aqui, temos o paciente trabalho de um arquiteto, com sua régua, seu pensamento matemático e racional, na beleza do pensamento lógico, na fria beleza de uma água gelada que cura. Temos aqui quinas, arestas, como esquinas numa cidade planejada, como uma Brasília, na revelação do sonho de um arquiteto. Alguns desses azulejos estão com um aspecto sujo e mofado, talvez precisando de um trabalho de limpeza, na sensação revigorante que é cortar o cabelo e sair de alma leve no cabeleireiro, no caminho da autoestima, no fato de que a primeira que tenho que amar sou eu mesmo. Este quadro traz um bom gosto de combinação cromática, com tons que têm um pouco de azul em comum, trazendo-nos azul bebê, azul turquesa, verde pastel e um verde musgo, todas cores que trazem um pouco de azul em sua constituição. É o estabelecimento da Paz entre nações, sonhando com um Mundo onde a Santa Paz Divina reina inabalável.


Acima, Quasar-Paal. Temos aqui um inevitável formato de cruz, no símbolo cristão, num poderoso ramo religioso, dono de muitas e muitas igrejas, havendo no Vaticano tal raiz, tal ponto de partida. Aqui, temos um aspecto metálico, como uma chapa de aço fabricada em algum estabelecimento, e podemos ouvir o som do maquinário industrial, no esforço do expediente, no momento de disciplina e dedicação que permeia o labor, como numa Caxias do Sul, lugar que revelou e revela muitos talentos industriais. É um entrecruzamento, como duas pessoas que se conhecem, passando uma pela vida da outra, e despedem-se, no inevitável “adeus”, havendo nos vínculos de família uma exceção, sem “adeus” e, ainda por cima, o fato de que os laços de família sobrevivem ao Desencarne. Aqui é como um espelho em um belo banheiro, com a beleza de sons reverberados e perfume espalhado. É como o X da bandeira suíça, na nobreza da neutralidade diplomática, numa polida nação que se revela na crença do diálogo e da cordata negociação, no modo como, quando se perde o diálogo, perde-se tudo, e o sangrento conflito toma corpo, na infeliz tendência humana à violência. Quando a diplomacia se perde, tudo se perde junto, e os xiitas são tão radicais que requer respeitam a casa neutra, no pensamento de que, se não é idêntico a mim, não presta. É uma infantilidade, como dois senhores que, apesar de ter cada um uma boa experiência de vida, ainda assim estão em atrito, agindo como uma criancinha: “Eu gosto de batata frita, mas ele não gosta”. Nesses poros, nessas perfurações de VV, temos formas ovais e formas retangulares, só que sempre na diagonal. É como se o centro fosse um grande altar, um lugar que pode ser igualmente acessado pelos quatro lados, lados que têm um efeito de escadaria, como se tivéssemos uma vista aérea de tal altar. É como no poderoso paradigma arquitetônico piramidal, uma estrutura universal que nos convida à elevação e ao crescimento. Aqui, é como um vitral de igreja jorrando uma mágica luz colorida para dentro do templo, num extremo bom gosto de harmonia cromática. Esses ovos de VV são a fertilidade, o pensamento que brota de alguma elaboração, de um conceito, de alguma pista lógica. Os retângulos são cartas de correio, na importância da comunicação para a manutenção da Vida em Sociedade, pois quando perdemos os vínculos, tal Vida perece. De forma geométrica, temos aqui muita simetria, numa tentativa de equilíbrio, no modo como uma pessoa pode se desequilibrar e cair, visto que a arrogância precede a queda, no modo como, se quero ser reduzido ao mínimo, tenho que me achar o máximo... É a divertida contradição de Tao, uma diversão que a Op Art tenta perpetuar e compreender. Do ponto de vista das cores, temos aqui uma simetria diagonal, como num estacionamento oblíquo, nas inúmeras regras de convívio social, regras que devem ser respeitadas, pois de nada serve um rei que não é respeitado, ou seja, dignidade é tudo, pois se não mereço obter algo, não há Cristo que me faça merecer. VV nos traz um efeito degradê que, hoje, é facilmente obtido com o programa Corel Draw e afins. Aqui, é uma cruz mística, brilhando e encantando com suas cores finas e perfumadas. É uma fonte que jamais seca, sempre nos dando Vida, sempre nos dando uma nova oportunidade, pois se não perdoo os erros, como pode haver Vida Eterna? Então, Jesus traz o conceito inédito de Amor e Perdão, numa sofisticação psíquica que, até hoje, segue maravilhosa e enigmática, num espírito que encarnou em um mundo tão aquém, num mundo tão obcecado pela Matéria. O fundo deste quadro é negro e imprevisível, e as formas geométricas deixam que passe um respiro por tais buracos, pois Tao está sempre respirando, sempre provendo, na imortalidade bela do pensamento matemático. É um ambiente técnico, frio, que traz vida e crescimento mental ao encarnado, com lições importantes que só podem ser aprendidas por meio encarnatório.


Acima, Soleil K5. Um acalentador Sol nos convida a uma tarde de sesta e preguiça. O Sol explode em todo seu esplendor, em toda sua majestade, o Rei do Sistema Solar, a fonte de luz que faz com que a Vida seja possível. É uma linda joia dourada, numa vitrine de joalheria que nos encanta e nos emociona, nos apelos da Sociedade em Consumo, pois quanto mais tesouros temos, menos seguros estamos, numa grande ironia – ao comprarmos algo por lasciva ambição, sentimo-nos vazios; quando nos desapegamos, sentimo-nos ricos! Este Sol é feito de vários círculos concêntricos, numa dança de linhas orbitais gravitacionais, numa comoção em cadeia sendo feita, como num divertido jogo de bambolê, na diversão de crianças na Rua. Aqui, os anéis estão organizados em hierarquia, pois os menores estão mais perto do centro. Aqui, a força gravitacional realiza uma organização, no modo como um sistema solar é organizado, com uma estrela ao centro. O centro é o vazio, o poderoso centro gravitacional que guia seus filhos. O centro é Tao, o senhor que nos guia. Aqui temos algo centrado, equilibrado e estruturado, como numa feliz pessoa que encontrou um Norte para a própria vida, centrando-se em algo positivo e produtivo, pois uma vida que não é centrada é uma vida cheia de amarras, como numa prisão, só que sem barras, invisível. Este Sol é de um formato de túnel, no termo “uma luz no fim do túnel”. É a esperança de um dia melhor, na crença de que a Vida na Terra é um passageiro aprendizado, como numa faculdade, a qual inicia, desenrola-se e acaba, chamando seus filhos para férias, para um doce descanso de Verão neste Sol tão radiante. Neste Sol, podemos ouvir o som de pássaros alegres em uma plácida rua. Este Sol é como o termo “olho do furacão”, no modo como uma pessoa pode causar comoções, verdadeiros abalos sísmicos de Arte, mexendo com todo o corpo social, na capacidade do grande artista em unir as pessoas em torno de algo, chamando aqui, novamente, a metáfora do sistema solar com seus planetas. O Sol é a mente radiante que produz, que inventa, que gera, que labora. O Sol é esta pérola dourada, mais valiosa do que qualquer pedra preciosa. É a força de um buraco negro, sugando tudo para si. É o maligno olho fascista do vilão Sauron, de Tolkien, nas ambições humanas em controlar a Vida, controlar o cidadão, num estado opressor, que faz que um cidadão, antes livre e produtivo, torne-se um escravo, uma mera bateria alcalina que serve para alimentar um sistema perverso e sem sentido. É a metáfora do vampiro. Ao redor de tal Sol de Verão, um brando fundo cinza, ao invés de um azul Céu de Brigadeiro. O cinza é o vestígio de algo que antes foi uma vibrante lareira, um fogo que ardeu dourado, trazendo calor e desumidificação a um ambiente desconfortável e odioso. O cinza é a discrição, numa cor que não visa chamar muita atenção sobre si. É a metáfora da Quarta-Feira de Cinzas, quando a alegria do Carnaval é sepultada e o cidadão volta à velha, árdua e séria rotina de trabalho, na metáfora do circo levantando a lona e indo embora. O cinza aqui tenta cercar e aplacar o Sol radioso, mas é um esforço infrutífero, e o Sol, ou seja, a Fé, permanece soberana, mesmo em meio a uma vida tão amarga, feia e sisuda – é a Esperança, um sentimento que não pode ser cientificamente detectado ou controlado, no desafio de crer sem provas científicas. Este quadro é separado em duas partes. A parte inferior é totalmente branca, pura e casta, como numa imaculada areia de uma praia branca, num chão nunca antes pisado por alguém, como no prazer desbravador do europeu descobrindo a América. O branco é doce como açúcar. E por que tal divisão? Talvez seja porque o branco, que é a Paz entre vizinhos, sustenta-se por si só, não mais precisando da mensagem de esperança do Sol-Rei. A esperança é para quem está encarnado, como na esperança trazida pelo Espírito Santo, numa promessa de Liberdade e Plenitude.


Acima, Song. A destreza de VV faz com que as formas geométricas pareçam dançar, trocando de lugar umas com as outras. Aqui, temos um jogo de extremidades de pilhas de bateria, pois há objetos “furados” e há objetos maciços, numa dança entre opostos, ou seja, Yin e Yang. Os retângulos aqui estão alguns deitados, alguns em pé, na necessidade o descanso, de férias. É como nas danças lunares, com a Lua por vezes em pé, por vezes deitada. Aqui, é como um tabuleiro de Xadrez, no jogo barroco entre claro e escuro, no poder visual dos contrastes, na magia de imagens em preto e branco, na simplicidade dos códigos binários entre um e zero, entre vazio e preenchido, no charme em preto e branco de estrelas e astros do Cinema, encantando o Mundo com glamour, na beleza, na sedução e no poder do grande astro em encantar pessoas e conquistar numerosos fãclubes. Aqui, é como uma panela cheia de pipocas estourando, e podemos o ouvir o barulho dos estouros. É como um suntuoso vestido de paetês ou pedras bordadas, na magia de uma mulher arrumada em um baile de gala, numa ocasião social que visa reproduzir o indescritível glamour dos bailes da Dimensão Metafísica, o plano em que somos todos jovens e eternos – a Vida na Terra é um mero arremedo. Esses retângulos de VV são como monitores de TV, celular ou computador, na “magia” das tecnologias, varrendo o Mundo com o frescor de novidades, num Ser Humano impetuoso, que está em constante processo de crescimento e aprimoramento, encantando o Mundo com os mais recentes gritos de novidade, tentando imitar o frescor metafísico, onde cada momento é novo. Aqui, é como um labirinto, numa pessoa que está perdida e solitária na Vida, enganando-se várias vezes, com muita dificuldade para encontrar um ponto central, uma referência, um Norte. Então, esta pessoa se sente num submundo, uma situação existencial a qual trará uma surpresa agradável, o Amor, tocando corações e descongelando amarguras. É o desafio de não nos tornarmos empedernidos, como um certo amigo que conheço, uma pessoa que está se tornando amarga... Aqui, é como um carimbo, como um carimbo de xilogravura, na ironia que exige concentração da parte do artista na hora da confecção do carimbo, num jogo traiçoeiro e confuso entre côncavo e convexo; entre positivo e negativo. Aqui, são como poros respirando, num tecido de roupa, deixando a transpiração passar, sem sufocar a pessoa, na metáfora do sociopata, o qual quer sufocar e escravizar as próprias vítimas. Aqui, são como nuvens retilíneas, no simples e fácil ato de prazer em olhar para o Céu e encontrar beleza e majestade nas obras de Tao, o grande trabalhador que está sempre produzindo, inspirando-nos a fazer o mesmo, numa Vida voltada à produtividade proveitosa, pois não é insuportável uma vida ociosa, numa pessoa que não se coloca para o Mundo? Aqui, são como confetes, só que não redondos, numa espécie de “carnaval sério”, juntando a responsabilidade com a candura, numa pessoa que jamais poderá perder o senso de humor, visto que a obra de Tao está repleta de Ironia, de jogo de humor. Aqui, é como uma malha têxtil, com fios se entrecruzando, interagindo, produzindo algo novo, na beleza de uma bela malha produzida por quem entende do riscado. Aqui, é o vaivém das ondas do Mar, como no célebre calçadão de Ipanema, uma obra que busca imitar e compreender a dança das ondas respirando, evocando aqui, novamente, o jogo entre vazio e preenchido. Aqui, é como uma vitrine de loja de eletrônicos, com os televisores querendo chamar a atenção, na sedução de renovação que as novas tecnologias trazem. É como no fundo de um programa de telejornalismo, com monitores exibindo canais do Mundo inteiro, como na respeitada CNN, na ânsia humana em acompanhar o que está acontecendo no Mundo agora, na sede jornalística pelo frescor de notícias, de boletins de atualização, como numa Marília Gabriela, a qual se diz intermitentemente sedenta por notícias. Aqui, são como escamas de um camaleão, fazendo da Discrição uma arma de sobrevivência e autopreservação.


Acima, Totem. Aqui, temos uma joia complexa, um objeto dinâmico que vai se desdobrando ante nossos olhos. É algo com vida própria, com uma estampa ao estilo Oriente Médio. VV usa e abusa das cores, trazendo-nos um verdadeiro prisma, na magia das cores decompostas por cristais. É como se fosse uma flor exótica, realmente fora do comum, no encanto que as florestas tropicais provocam ao redor do Mundo. O colorido é a diversidade, no modo como é imprescindível o respeito ante tais diferenças, como num país feliz, livre e democrático, ao contrário dos estados que têm medo de dar liberdade ao cidadão, resultando em refugiados, pessoas que estão fugindo de degradantes situações de miséria e opressão, buscando refúgio em países mais livres, como o Brasil, como na letra de uma canção em Inglês: “Não há Amor sem Liberdade; não há Liberdade sem Amor”. Ou seja, a situação de bem estar do cidadão depende de como este se sente confortável e à vontade para viver, trabalhar e entreter-se. Aqui, temos uma vibração carnavalesca, num contagiante ritmo que toma conta de um salão de baile. São coloridos confetes que caem como uma neve festiva, no momento em que os sofrimentos são esquecidos e a festividade trata de unir os cidadãos em meio ao mesmo ritmo, como no Brasil em época de Copa do Mundo, num momento de união que deveria existir sempre no Brasil, e não só em tempos de Copa. Aqui, temos um brilhante impecavelmente lapidado, com suas quinas e arestas geométricas. É um objeto truncado, com linhas tensas, e não vemos liquidiscência aqui. Podemos ouvir um divertido som de trilha sonora de videogame, numa espécie de “emoção racionalizada”, ou seja, o fato de que a direção a ser tomada é a mortificação, o desapego a ilusões, mas, ao mesmo tempo, deve permanecer a candura infantil e a irreverência. É uma divertida contradição, pois ao mesmo passo em que há fria racionalidade, há amor fraternal. O fundo do quadro tinha mesmo que ser branco, pois é uma base poderosa e contrastante, visto que não há partes brancas neste joia de VV. O branco é o infinito, num universo infinitamente vasto, com as luz de todas as galáxias chegando a nós, numa comunidade cósmica, ao mesmo som carnavalesco. Esta obra vibrante do artista é como o sistema de luzes de uma frenética boate, num espaço mágico, em que a dança liberta, no valor em ficar molhado de suor de tanto se mexer numa pista de dança, num momento de (necessária) diversão. Aqui temos um pouco de Cubismo, pois é como se fosse uma joia desdobrada, oferecendo ao espectador todas as suas faces coloridas, como um origami desdobrado, mostrando-nos todas as suas faces. É como se fosse uma borboleta alçando voo, no processo de transformação, de uma feia lagarta em um belo ser alado. É a libertação do Desencarne, e o casulo, o corpo físico, é deixado par atrás, com esta “borboleta” abraçando uma nova vida, uma vida melhor e menos dolorida. É a sobrevivência da Consciência, na vida eterna, pois qual seria o sentido da Vida sem a Eternidade? Faça um exercício – tente imaginar o Infinito. Poderoso, não? Dá até um frio na barriga. Aqui, o verde é a Mãe Terra, com suas majestosas florestas. Podemos sentir o cheiro de mato, de Flora. Parece que esta joia de VV está em constante processo de transformação e aprimoramento, num processo infindável, como numa faculdade que jamais cessa. Aqui, essas linhas retas fazem um fascinante baile, e linhas retas e diagonais se entrelaçam, na vocação da Op Art de pregar peças em nossos olhos, num jogo divertido. São as irônicas e inevitáveis contradições da existência, na lei de que tudo traz em si o próprio oposto, na dança de sedução entre Razão e Loucura. Aqui, é como um objeto científico sendo estudado, desconstruído e decomposto, a fim de ser analisado, como numa pessoa analisando uma obra de Arte, encontrando sentido na mente do artista, reconhecendo este. Aqui é como uma explosão de beleza, nas mágicas cores de um caleidoscópio, no enigma de beleza e placidez do plano onde Matéria é nada e Pensamento é tudo.


Acima, Zaphir Positif. O quadro remete ao tradicional Jogo da Velha, numa competição de raciocínio lógico. Isto remete a uma brincadeira infantil de encaixar peças, ajudando no crescimento da criança. Aqui, há um jogo dinâmico, pois as peças parecem estar fazendo uma dança e trocando de lugares, num infindável processo de evolução. Vemos quadrados, círculos e triângulos, nas formas geométricas mais básicas, visto que Simplicidade e Elegância andam juntas. Vemos um círculo negro, como num olho mágico que leva ao nada. É um túnel escuro, e não podemos ver, ao menos agora, aonde o buraco leva. É como mergulhar num escuro submundo, numa sub-realidade, com valores que destoam do Senso Comum, numa escuridão que acaba se apoderando da mente da pessoa, sendo necessário um processo de desintoxicação que pode levar anos. É um ponto final, assinalando uma nova época, num submundo que se esgotou. Aqui, é como um jogo de diagramação de espaços, no trabalho de um arquiteto, e, qual for a diagramação, sempre haverá um ponto negativo, negro, em algo que ouvi de uma amiga psicóloga: “Sempre haverá algo de que não gostarás”. É a inevitável imperfeição do Plano Material, imperfeições que acabam proporcionando crescimento, numa mortificação que acaba varrendo tolas ilusões. É o caminho do realismo, da consciência. As cores azuis remetem a uma deliciosa piscina, nas doces lembranças infantis e adolescentes de férias de Verão. Podemos ouvir o som de crianças pulando na água, numa época da Vida em que tudo é mais simples e autêntico. Estes triângulos são como painéis de chamar o elevador, sinalizando a direção a ser tomada, no modo como cada um de nós tem que tomar esse elevador, optando por caminhos, como numa faculdade. São as escolhas, e a Vida não é feita de escolhas? Podemos ouvir o som do “plim” quando o elevador chega no andar, com a porta se abrindo e fazendo com que saiamos, terminando um processo e abraçando a próxima etapa, numa Vida que não cessa. Os quadrados são a sisudez, o compartimento, a organização entre gavetas, como em pastas de conteúdo em computadores, fazendo metáfora com a nossa organização mental, colocando tudo em seu devido lugar, numa pessoa que busca se centrar no trabalho, adquirindo um Norte positivo e nobre em meio a um Mundo tão caótico e confuso – é o “conhecer a si mesmo” de Matrix, pois se minha vida está carecendo de Norte, como posso viver em Paz? No centro do quadro temos um grande círculo verde, dando-nos uma noção norteadora, talvez numa sala em que tudo gira em torno de algo imprescindível e capital, como numa casa em que tudo gira em torno da televisão. Este código geométrico de VV é como um hieróglifo, num Ser Humano que, evoluindo, passou a representar os sons por meio de figuras. Aqui, é como uma avenida de mão dupla, como veículos indo e vindo, talvez com uma ciclovia ao centro. São os encontros e desencontros, talvez com amigos passando uns pelos outros, estabelecendo relacionamentos, deixando par atrás os moldes imaturos de amizade. Aqui, são como várias janelas, como no prazer voyeur de espiar nas janelas dos outros, no prazer sensual de observar sem tomar parte. Aqui, é um tabuleiro de um jogo complexo, um jogo cujas regras só a Maturidade pode desvendar, talvez numa pessoa que tenha crescido o suficiente para ver o que é positivo e o que é inválido, no resultado de décadas de processo e de maturação, como um uísque que envelheceu por anos. É como na vista aérea de uma cidade, ou em chips dentro de um produto eletrônico, numa arquitetura diversificada, com vários prédios sendo feitos por arquitetos diferentes, resultando na carnavalesca diversidade. É um jogo de encaixe e organização, onde cada coisa tem seu lugar apropriado, no modo como, desde cedo, a Sociedade trata de causar o crescimento infantil, pois não são os pequenos o nosso futuro? Este quadro traz a ironia do incessante processo, como me disse certa professora – assim que saímos de algo, entramos em outro algo.

Referências bibliográficas:

Victor Vasarely. Disponível em <www.bolsadearte.com>. Acesso 9 out. 2019.
Victor Vasarely. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 9 out. 2019.