quarta-feira, 3 de abril de 2024

Depois de Desportes (Parte 2 de 7)

 

 

Falo pela segunda vez sobre o pintor francês Alexandre-François Desportes. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Panteras de Baco comendo uvas. Baco é um velho conhecido da Humanidade, na magia alcoólica, no termo popular em que no vinho há a verdade. As onças são a beleza natural, como as onças pintadas brasileiras, encantando a Europa com as terras exóticas devolutas, como me disse uma professora, quando esta falou que, na Itália, brasileiro é sinônimo de casas com palafitas cheias de jacarés em volta. No topo, as aves, que são a liberdade do pensamento racional, cerebral, frio, como na personagem Feiticeira do universo de He-Man, uma mulher que se transformava em águia, conversando por telepatia, numa enorme capacidade de transcendência, como na Galadriel de Tolkien, depuradíssima, resistindo às tentações do Anel do Poder e mantendo-se humilde e íntegra, no caminho de humildade, pois tudo o que preciso fazer para me dar mal é ser arrogante, como na modelo Naomi Campbell, a qual deu uma cuspida na cara de uma aeromoça certa vez, com Naomi condenada a prestar serviços comunitários como pena, na ferrenha crítica de Woody Allen contra o frívolo e insano stablishment das celebridades, no modo como eu mesmo já presenciei – de perto, o mundo das celebridades é altamente desinteressante, opaco, limitado, medíocre. As onças são a ferocidade competitiva do Mundo, como num rápido momento no filmão O Advogado do Diabo, numa tapeçaria com lobos enfurecidos, devorando uns aos outros, na ferocidade agressiva mundana da competição no âmbito do Direito, no filme que traz o mundano como obsessão, como uma certa popstar, uma mulher um tanto mundana, gostando das regalias da vida de celebridade, uma mulher que, em contradição, irrita-se quando se sente percebida como tal mundana, na relação de amor e ódio de Diana em relação à Mídia, numa mulher que, por um lado, amava aparecer midiaticamente, mas que, por outro lado, sentia-se muito desrespeitada por tal Imprensa, no modo como fácil e difícil, ou seja, liso e áspero são faces do mesmo trabalho. Aqui há um banquete, no modo como a Natureza oferece alimento tão abundante para os herbívoros, com folhas e ervas sendo devoradas, remetendo ao veganismo, numa posição radical em relação a tudo o que é de origem animal. As suculentas, doces e deliciosas uvas remetem à Festa da Uva, num momento de engajamento comunitário em torno de uma menina que é eleita rainha, como na simpática e desenvolta Tatiane Frizzo, rainha da edição do ano de 2010, uma rainha marcante, que sabe que uma rainha da Festa tem que ter alma de artista, alma de diva, para encantar e inspirar a comunidade num momento de expressão de Cultura Popular Brasileira, remetendo a uma certa senhora arrogante, a qual, por motivos desconhecidos, achava-se dona e senhora da Festa, quando que esta pertence ao povo de Caxias do Sul. Aqui temos uma cornucópia, um banquete, numa farta mesa de galeteria, quando comemos como reis, numa mesa tão farta, como em países ricos, abundantes, regidos por um líder sob Tao, um líder que “desaparece”, por assim dizer, num vazio que serve ao corpo social, como no incrível vazio da Vida Eterna, no imensurável poder do Infinito, no fato descabido de que jamais findaremos, na noção espírita de que Deus é o Infinito, na paciência infinita, num grande plano divino para conosco, e não é incrível o fato de que jamais morreremos? A flora aqui brota em majestade primaveril, na força da Vida, a qual é o nervo da Arte, nas matizes africanas, quando os tambores fazem menção às batidas cardíacas, no grande mistério da Vida, pois o que é que faz o coração bater e, em um certo momento, parar de bater? Qual a origem da Vida? Aqui há abundância, e todos estão alimentados, num espírito de matriarca, como uma certa senhora, já falecida, a qual exigia que seus filhos fossem extremamente bem sucedidos, ascendendo socialmente, numa mãe dura e exigente, exigindo um canudo de formatura universitária do filho. Neste quadro, há harmonia, nunca raiva ou competição, pois há comida para todos, como uma pizza no centro de uma mesa, sendo Tao isto, este alimento, este “nada”, este vazio, numa lacuna sexy, pronta para ser preenchida, num poder distributivo, agregador, de união e comunhão, como na comunhão em um certo momento da missa, na igualdade democrática da Revolução Francesa.

 


Acima, Papagaio com cães. Aqui é uma cena de labirinto, como no primoroso filme cult Labirinto, de Jim Henson, num caminho de desnorteamento, num lugar cheio de pistas falsas, numa pessoa que precisa resolver tal enigma, tal traiçoeiro lugar, para se encontrar e achar o centro do labirinto, num caminho existencial de autoconhecimento, na dádiva que é uma pessoa fazer o que ama e amar o que faz. É o labirinto com o amedrontador Minotauro, um monstro que quer nos devorar em tal falta de norte, num aspecto de deus egípcio, quando aspectos da Natureza eram o rosto em um corpo humano, como em deuses com cara de gato, de crocodilo, de escaravelho etc., na transgressão monoteísta, derrubando tal paganismo, na noção de que há um só Deus, que é Infinito, e que não há deuses, mas nossos irmãos depurados, que passaram por muitas vidas em tal caminho de depuração de caráter, na importante aquisição de apuro moral, pois, no Plano Metafísico, ninguém quer enganar ninguém, e todos vivem honestos, produtivos, sabendo que nunca deve faltar trabalho, como numa Gisele, a qual, apesar de ter alcançado tanto sucesso, fama, popularidade e dinheiro, mantém-se humilde, dizendo: “Desculpem, gente, mas tenho que trabalhar!”, nas sábias palavras de DiCaprio, dizendo que não pode faltar trabalho, em ícones de esmagador carisma. As flores são a beleza libidinosa da Vida, na chuva que faz crescerem as plantinhas, na chuva que faz amor com a terra, fertilizando esta, no poder avassalador da Vida, impondo-se em toda a sua força, como nas explosões de cores nos anos 1960, como na nostalgia décadas depois, no início anos 1990, com flores psicodélicas desabrochando no Mundo inteiro, com borboletas ensandecidas em flores coloridas, numa suavidade feminina, delicada, num Fábio Jr. dizendo a uma jornalista mulher: “Cansei de tentar entender as mulheres! Vocês são loucas!”, no modo como tudo traz em si sua própria contradição, no jogo de sedução entre Razão e Loucura, no modo como, no casal heterossexual, é inevitável que, em público, a mulher represente o Yin e homem e o homem represente o Yang da mulher, no modo como, ao se cumprimentar um dos cônjuges, o casal já está cumprimentado, numa universalidade, como na cultura japonesa, com o homem fechado, carrancudo, grosso e antipático, ao lado da mulher simpática, receptiva e doce. A grande ave rubra é a força do sangue em nossas veias, despertando a cobiça de vampiros de almas, sádicos que buscam por um masoquista, uma pessoa esta que vê prazer em ser vampirizada, como um certo senhor, uma pessoa que adora fazer com que os outros façam escolhas cruéis – é um horror. Os cãezinhos aqui estão hipnotizados e entretidos pelo papagaio, como uma stripper num palco, hipnotizando os homens na plateia, remetendo a um divertido caso, quando tive, na faculdade, uma colega que levava vida dupla: De dia, era uma pacata estudante de Comunicação; de noite, uma stripper numa casa de shows da cidade. É como um certo senhor, o qual tem duas famílias, duas vidas, duas esposas e duas proles, um caso triste, pois é um senhor que está “em cima de um muro”, não estando nem 100% aqui, nem 100% acolá, e a Vida não exige que sejamos unos, íntegros e honestos? Tenha uma vida só, rapaz! A tartaruga aqui está discreta e coadjuvante, na sábia figura folclórica do Preto Velho, quietinho no seu humilde canto, só observando os egos ascendendo e descendendo, nas palavras de um certo comercial de TV: “Já vi estrelas aparecerem e desaparecerem”. O vaso da flor é o receptáculo feminino, na garrafa de refúgio do televisivo clássico Jeannie é um Gênio, na mulher se refugiando em seu mundinho privado, quietinha do seu canto, fazendo as unhas ou tomando um chá, na máxima de O Mágico de Oz: “Não há lugar como a casa da gente!”. As garras do papagaio são a vontade tenaz, o empenho, o desejo ardoroso, pois o que quero ardorosamente posso obter.

 


Acima, Papel de parede de Stag Hunting Dussy baseado em pintura de Alexandre-François Desportes. Aqui é a magia de uma floresta que parece ser uma extensão da sala de visitas, numa espécie de floresta domesticada, limpíssima, numa sala que tanto nos acolhe, como um anfitrião fino, com o perfume de limpeza pairando no ar, numa sala limpa, num perfume de óleo de peroba, no fascínio de uma casa limpa e confortável, como acordar em uma cama com lençóis suavemente perfumados, num tom de lar, de casa, de um lugar que nos recebe de braços abertos. Aqui temos uma cena nua e crua da Dimensão Material, na cadeia alimentar, com os carnívoros capturando e devorando avidamente os herbívoros, no modo como, ao comermos um sofisticado filé num restaurante, mal pensamos no sofrimento do animal abatido, na carne que alimenta a carne. Aqui é como um artista sendo deglutido e mastigado pelo público, pelos membros de um fãclube, nos versos da canção: “Vamos comer Caetano”, no sentido da obra de Veloso, um brasileiro que se exilou nos Anos de Chumbo, numa Londres cinzenta e melancólica, muito diferente do Brasil quente e ensolarado do qual veio o notável baiano, no modo como o megaclássico O Bêbado e a Equilibrista se tornou o hino da anistia, com as pessoas voltando do exílio, no modo como minha geração, que nasceu nos fins da ditadura, não faz ideia de como foi tal fase, com artistas frustrados com a censura, como me disse uma certa senhora, que viveu tal época: Só obtinha problemas com as autoridades quem partia em busca de tais problemas, pois, na época, tudo o que se devia fazer era nunca falar mal, em público, do governo militar, remetendo a tantas pessoas presas, numa caminho de martirização, em pessoas que “cutucavam o tigre com a vara curta”. Aqui temos uma acirrada competição, e ninguém pede licença a ninguém, como vi certa vez fotógrafos num evento social, com três ou quatro senhores acotovelando-se degradantemente para fazerem seus cliques, numa cena patética, pois quando sou único, ninguém pode competir comigo, ao contrário da subversão dos ensinamentos de Jesus: “Devorai-vos uns aos outros!”. Aqui é como na selva que foi a Florença renascentista, com muitos artistas sonhando com o estrelato, numa competição acirrada, como num da Vinci sendo alvo de conspirações de um concorrente, como nas baixarias que podem ocorrer numa eleição, com as fake news sendo difundidas para atingir o oponente, na vitória a qualquer custo, numa frase com a qual não concordo: “Os fins justificam os meios”, como vi certa vez, em Porto Alegre, um debate público entre os aspirantes ao cargo de prefeito municipal, com agressões sendo proferidas contra os oponentes – é uma baixaria! Podemos ouvir aqui os latidos e grunhidos dos cães e os gritos de agonia da presa, como numa cruel execução numa Santa Inquisição, com pessoas sendo queimadas vivas numa fogueira, uma crueldade feita por pessoas que diziam agir em nome de Jesus, mas fazendo uma coisa que Jesus jamais faria! Aqui é uma das sensações mais básicas, que é a Fome, nesses pobres coitados catadores de lixo seco, que mal sabem se terão um pedaço de pão no estômago no fim do árduo dia de labor, no abismo social paulistano, onde convivem o Primeiro e o Quarto Mundo, em problemas brasileiros como os menores abandonados, pessoas que resolveram reencarnar em tal contexto duríssimo para, assim, evoluírem como espírito, fazendo do crescimento o sentido qualquer existência – morrer melhor do que como nasceu. A mata aqui é fechada, com raízes profundas, como num relacionamento amoroso envolvente, num ponto de intimidade no qual deixamos que o outro nos veja nu, de forma verdadeira, num relacionamento que, apesar de não ter sido eterno, fica na memória como uma eternidade. Aqui é uma fome, uma ambição, um desejo ardoroso, como na secretária ambiciosa de Uma Secretária de Futuro, entendendo o poder do trabalho, da construção de algo, de uma carreira, no oásis para os que gostam de trabalhar.

 


Acima, Patos, faisão e frutas perto de uma fonte. A fonte é a força da Vida brotando e lutando para sobreviver, como um artista lutando para alcançar renome e sucesso, como em Hollywood, a terra dos sonhos despedaçados, das frustrações, na terra que é do sucesso e do fracasso, em vidas tão repletas de percalços e durezas, como um certo senhor, o qual se frustrou como ator e abraçou outra carreira, longe do Showbusiness, no modo como todos temos o direito de sonhar com uma vida melhor. A decoração é neoclássica, digna dos palácios imponentes dos reis sóis, na riqueza da França, na riqueza de Paris, num inacreditável Louvre, o qual exige que passemos, pelo menos, um ano inteiro dentro do museu, tal a complexa riqueza, como na rica oportunidade que tive para conhecer o novaiorquino Met, um lugar para lá de deslumbrante, num Oásis para quem ama a força da Arte, aquilo que nos faz seres civilizados – os macacos não fazem Arte. As frutas doces e maduras estão deliciosas, tentadoras, dispostas casualmente, no modo como o rústico é acolhedor, sem pretensões ou frescuras, como numa parede de tijolo rústico, acolhendo-nos, na simplicidade de uma mesa vazia, servindo às demandas do dia a dia, no modo como a sensualidade reside, precisamente, nos espaços vazios, pois estes são úteis ao Mundo, numa pessoa que entende o poder no nada fazer, numa atitude clean, fazendo só o que é estritamente necessário, como num surfista sabendo surfar numa onda, como o ator Orlando Bloom, o qual soube usar muito bem a trilogia de Peter Jackson, num ator que soube surfar em tal onda, pegando impulso, pois Hollywood é assim: Uns se tornam grandes astros; já, outros, nem tanto, numa espécie de hierarquia, no modo como a Vida exige que a pessoa tenha tal instinto, sabendo surfar nas ondas da Vida, em talentos empreendedores como o de Luiza Trajano, uma mulher independente que soube obter sucesso comercial, no modo como não há livro ou faculdade que nos ensine a brilhar – cada um precisa aprender por si mesmo, num caminho autodidata. Podemos ouvir o som das aves em vida, como nos patos no parque Parcão, de Porto Alegre, numa cidade com tanta qualidade de Vida, com seus parques vastos, na delícia de um fim de tarde com amigos, com um tapete estendido no gramado, com as pessoas tomando chimarrão, no modo como a Vida é boa quando é simples, fugindo desse luxo excessivo de Versalhes, um mundinho à parte, isolado da realidade do povo francês, o qual sofria com o preço do pão, como num russo Romanov deposto, um rei que pouco se importava com o próprio povo – o líder que despreza o povo deixa de ser líder, como um certo senhor sociopata, o qual foi destituído de suas funções mandatárias, um senhor que conseguiu se eleger porque tinha uma aparência acima de qualquer suspeita, e isso ganha a confiança do povo, no modo como há tantas pessoas que não vão longe na vida pública exatamente porque são pessoas de aparência desleixada, como uma certa senhora, a qual precisa urgente de um design de sobrancelhas, de maquiagem e de joias, como uma Elizabeth I, a qual levava extremamente a sério o se arrumar na hora de vir a público, numa regente que dividiu em duas a História da Inglaterra, um verdadeiro ícone feminista, superando muitos e muitos homens, no trabalho feminista de ir contra os ventos do patriarcado, no título de uma certa canção pop: “Papai, não dê sermão!”. Num detalhe no quadro vemos um pedaço de cortina de veludo, nobre, macio, digno de rei, nas regalias do poder, em homens tão viciados em poder, como um Putin, condenado por toda a Comunidade Internacional, um homem que perdeu a dourada oportunidade de ficar quietinho no seu canto. Vemos uma melancia fatiada, que é como no método científico de desdobrar o Corpo Humano, num trabalho de foco e análise, como nas especialidades médicas, cuidando de cada setor do corpo, inclusive o psiquiátrico, no modo ocidental de dissociar para compreender.

 


Acima, Pêssegos e perdizes. Podemos sentir o perfume dos pêssegos, nestas grandes invenções de Tao que são as frutas, em delícias como manga, uva etc., em fascínios tropicais como abacaxis. As aves mortas são o sacrifício, na lida da caça, no modo como a Vida exige que lutemos nesse sentido, nas sábias palavras de uma certa senhora médium espírita: “Deus não quer que nos atiremos nas cordas!”, como numa humilde Gisele, a qual sabe que não pode parar de trabalhar pois, do contrário, virará “peça de museu”, em artistas como Cindy Lauper, a qual vive até hoje nos anos 1980, só tendo pertinência para quem foi jovem em tal época, uma pena, pois se trata de uma artista talentosa, só que sem pertinência para esta meninada que nasceu nos anos 2000 ou 2010, no modo como a Vida exige que tenhamos a força para virar as páginas e encarar novos momentos e novas lutas, como num animalzinho silvestre, lutando para viver até o fim, sem reclamar da Vida. As folhagens são exuberantes, abundantes, como numa vistosa cabeleira de mulher, na beleza de uma mulher arrumada, escovada, aprumando-se para a interação social, numa mulher com autoestima, que sabe que ser idosa ou estar acima do peso não são pretextos para a mulher parar de se arrumar, como na personagem Gunilla, interpretada por Maggie Smith no filmão O Clube das Desquitadas, uma mulher altamente elegante, fina, discreta, agradável, sabendo que não pode sair de casa com qualquer roupa ou com o cabelo de qualquer jeito, no ato de autoestima que é o se perfumar e agradar as pessoas na Rua com tal olor fino. As aves aqui parecem estar repousando, no modo de se posicionar o cadáver no caixão, numa posição de sono, numa pessoa privilegiada, pois está desencarnando, deixando para trás as vicissitudes de encarnação, acordando no Plano Metafísico e deparando-se com amigos, muitos amigos, num lugar onde ninguém quer enganar ninguém, num lugar nobre e produtivo, no qual a pessoa observa a necessidade de não parar de trabalhar, pois até Tao é tal ser trabalhador, sempre criando e deixando-nos perplexos frente a tal perfeição, como num fãclube ávido para ver o mais recente trabalho de seu ídolo, como no álbum icônico Ray of Light de Madonna, abocanhando um Grammy de álbum pop do ano, no modo como qualquer carreira é assim: Ninguém está por cima o tempo todo, na metáfora do livrão As Horas: Doce ou amarga, esta página passará, e uma nova página em branco virá, num eterno trabalho de recomeço e aprimoramento, sabendo que tudo é processo intermitente, ao contrário do suicida, que acredita num ponto final, o qual não existe, pois é o caminho da Vida Eterna, o imensurável poder muito, muito além da compreensão humana, neste formidável presente, nobre, duradouro, fazendo metáfora com móveis feitos de madeira nobre, fortes, duráveis, numa madeira nobre, imune a cupins ou à passagem do tempo. As frutas aqui remetem a uma gentil e doce vizinha que minha família e eu tivemos, uma senhora generosa, que gostava de presentear as pessoas com coisas de seu pomar, como figos, caquis e chuchus, num caminho de generosidade, uma senhora já desencarnada, indo direto par ao Céu, a morada dos que amam seus irmãos, sendo o Amor a cola que une todos os filhos de Tao, num Universo o qual, de tão vasto, é infinito, sendo impossível que o Ser Humano catalogue todas as estrelas que existem no Cosmos. As aves aqui vão virar almoço, como num almoço especial de Domingo, num bom galeto, no cheiro delicioso de carne no ar na hora do almoço, na oportunidade da reunião de família, em certos talentos de patriarca e matriarca em manter um grupo coeso, como um senhor casado com minha tia avó, que Deus os tenha, um senhor que tinha tal força para manter a família unida, nesta capacidade de certas pessoas em serem um Sol no meio de um sistema solar, agregando as pessoas, como num fantástico Papa Francisco, agregador, clemente, civilizado, respeitoso, um papa muito além de outro certo papa, cujo nome não mencionarei. A pedra aqui é a vida sólida, firme, num homem centrado no trabalho.

 


Acima, Pompee e Florissant, os cães de Luís XIV. Aqui repito: a frivolidade de Versalhes, num rei gastando dinheiro para retratar animais, num artista que caiu como uma luva nas vaidades da corte francesa, nesta enfadonha vida de nobreza, como no filmão Ligações Perigosas, na personagem da deusa Glenn Close perdida em intriguinhas e fofoquinhas, numa vida desperdiçada em tais frivolidades, sendo rechaçada ao final da trama, sofrendo a reprovação da mesma corte em que atuou maliciosamente. O cachorro é o instinto, como em cães treinados para detectar drogas em bagagens, num momento que o cão não vê como trabalho, mas como diversão, como numa Marisa Monte, a qual diz trabalhar com enorme prazer, mas há, em todo trabalho, a face fácil e a face difícil, na delícia e no esforço, como num popstar fazendo exaustivos ensaios para um show de turnê, encarando o trabalho de viajar pelos quatro cantos do Mundo, num espírito de mambembe, como no road movie Priscila, com as drag queens encontrando gente boa e gente não tão boa, fazendo um show para aborígenes australianos, para os quais as drags tinham poder de magia, nessa coisa tão inofensiva que é um homem vestido de mulher, como certa vez o cantor Bono Vox, vestindo-se de mulher e maquiando-se, no modo como homens gays e mulheres femininas veem maquiagem e salto alto como diversão, ao contrário da lésbica, a qual acha um saco se maquiar e usar salto alto, vendo estes como imposições sociais e não como diversão, como uma menina que conheço, a qual fica horas na frente do espelho se maquiando, numa sensibilidade de artista, como nas icônicas maquiagens da banda Secos e Molhados, no artista no camarim, preparando-se para o momento de se encontrar com a plateia, na figura do palhaço, maquiado, lúdico, artístico, numa Dercy Gonçalves, fugindo de casa moça para se juntar a uma trupe circense, num momento de ruptura, abraçando a persona escandalosa que construiu na carreira. Os pássaros aqui são a superioridade, numa pessoa que pensa acima de mediocridades, como num Woody Allen desprezando amplamente o stablishment das celebridades, como astros destruindo suítes de hotel, sendo bajulados e perdoados pelo gerente, no modo como não em canso de dizer que, de perto, as celebridades são desinteressantes, nessa fogueira de vaidades, com um querer aparecer mais do que o outro, como no baile de gala da revista Vogue Brasil, na competição para ver qual é a mulher mais deslumbrante da noite, como na frivolidade de Versalhes, numa nobreza nada mais tinha para fazer de seus dias cárcere aqui na Terra, talvez espíritos desencarnando e dando-se conta do estilo de vida fútil que levaram, querendo reencarnar em busca de tal tempo perdido, quem sabe reencarnando num contexto social paupérrimo, fazendo das vicissitudes tal força motriz de evolução e aprimoramento, como crianças pequenas de indígenas mendigos atirados nas calçadas frias de Caxias do Sul, descendentes de indígenas que eram donos e senhores de tais terras antes da chegada do Homem Branco. Os cães aqui estão com seus nomes escritos na tela, como se fossem seres superiores, mais importantes do que o súdito pobre numa Paris suja e pobre, guilhotinando Maria Antonieta, como na execução da família real russa, matando crianças, algo que, sinto em dizer, não apoio, nessa capacidade humana em ser o mais cruel possível. Aqui é o glamour de cachorros de raça, os quais, no frigir dos ovos, são animais geneticamente debilitados, frágeis, ao contrário do cão viralata, o qual é forte, suportando fome, sede e frio, como nos casamentos cossanguíneos no Antigo Egito, num Tutancâmon casando com a própria meia irmã, a qual deu à luz natimortos, algo que o egípcio antigo acreditava ter sido vontade dos deuses. Aqui são os caprichos do rei, como num insano Calígula, ou num amedrontador Napoleão, forçando a família real portuguesa fugir para o Brasil, em homens de terror, oprimindo o cidadão, na metáfora de Matrix, onde o indivíduo é um escravo cego de um sistema, no modo como o consumismo nos faz escravos do sistema capitalista.

 

Referências bibliográficas:

 

Alexandre-François Desportes. Disponível em: <www.meisterdruke.pt>. Acesso em: 20 mar. 2024.

Alexandre-François Desportes. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 20 mar. 2024.

Nenhum comentário: