Falo pela terceira vez sobre
o artista francoamericano Arman. Os textos e análises semióticas a seguir são
inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Arsenic and Old Lace. 1999. A cena parece toda com um sapato de salto
alto, na sedução que os sapatos exercem sobre as mulheres femininas. Aqui,
temos um corte, uma interrupção, como na divisão do Globo Terrestre em latitude
e longitude, nas tentativas humanas em impor Ordem ao Caos. Esta poltrona é como um
trono, ocupado por um monarca que soube marcar época, em reinados célebres,
lembrados para sempre pela História. É como no Meridiano de Greenwich,
dividindo tudo entre oriental e ocidental. É o reinado de Elizabeth I,
catapultando uma Inglaterra pobre a uma potência rica e respeitada, com ares de
excelência que são respirados até hoje pelos ingleses, na altivez da cabeça que
usa a coroa, num cargo pesado, como num Obama, o presidente que, no decorrer
dos anos de governo, foi adquirindo acentuados cabelos brancos, no provável estresse
que é a função representativa, com o Mundo inteiro pressionando o líder para
que este seja simplesmente perfeito, como nas expectativas em torno de
Elizabeth II, pressionada a trazer uma nova era de ouro à Inglaterra, como o trouxe
a antecessora de mesmo nome. Esta peça tem um suporte negro, estabelecendo uma
classificação, uma proveniência, dando-nos o aviso de que não devemos chegar
muito perto, e que devemos prestar respeito, pois, do contrário, teremos sobre
nós a ira de um rei, algo que não desejamos... Podemos ouvir aqui um som de
serra elétrica, cortando a poltrona ao meio. A estampa é elaborada, com motivos
florais, trazendo uma certa feminilidade à obra, como numa governante que,
apesar de ter que ser firme e por vezes fria, nunca poderá perder a delicadeza
feminina, pois não queremos como líder uma mulher que não seja mulher. Esta
base negra, imprevisível, é como um altar de igreja, sustentando imagens, e é o
suporte governamental, nas prerrogativas que cercam a regência de um líder.
Este suporte tem como objetivo acentuar algo hierárquico, colocando o líder em
uma posição de irmão mais velho, de irmão maior, mais alto, tomando conta dos
irmãos menores, nos pais depositando nos filhos mais velhos o poder, a
hierarquia para governar os mais jovens, os pequenos. Na base desta estampa
estão formatos de aves de asas abertas, no modo como é só em uma terra livre na
qual o cidadão é feliz. O bom líder tem que tomar cuidado para não ferir a paz
diária do cidadão comum, ao contrário de um certo político, o qual, em clara estupidez,
ferrou cidadãos pacatos e trabalhadores. A ave voando é a mente livre, como o
arbítrio livre, sentindo-se confortável dentro de si mesmo, pois só há a
bondade do prazer e do conforto quando estamos livres. É a liberdade do Pensamento
Racional, rechaçando malícias ideológicas, no maior poder que uma pessoa pode
ter – o Pensamento, pois os que não pensam passam suas vidas sem ter
consciência de suas próprias existências, no modo como os ditadores temem muito
a Liberdade, pois como posso explorar e vampirizar um povo que não tem a
obrigação de me oferecer a jugular? As ditaduras são perversas e desprezíveis,
sendo realmente desinteressantes. O equipamento que corta este “trono” pode ser
uma harpa ou uma máquina de tear, e podemos ouvir o som musical do instrumento;
podemos ouvir o barulho da máquina tecendo. A poltrona é o trono dentro da casa
de cada pessoa, num momento de lazer e descanso, com o cidadão confortavelmente
sentado, de pantufas, talvez tomando um drinque relaxante, no merecido descanso
depois de um dia de trabalho e estresse. Aqui, é como um pão sendo repartido ao
meio para alimentar duas pessoas, no ato de caridade no qual devo ajudar uma
pessoa que, realmente, está necessitando. As flores da estampa são perfumadas, no
modo como os reinados adquirem para si símbolos pertencentes à natureza de tal
reino, como no panteão egípcio antigo, no qual o egípcio via divindades em
crocodilos, cobras, escaravelhos, abutres, chacais, gatos etc.
Acima, Diminution du Comfort. 1999. Temos uma progressão, e, conforme
vamos olhando para o lado direito da obra, a cadeiras vão ficando mais
destruídas. Podemos sentir o som de marcenaria, o cheiro de madeira nova, e
podemos ouvir o som do maquinário na empresa. Podemos ver a serragem espalhada
pelo chão. É como no carpinteiro São José, pai de Jesus – o Natal está
chegando! Aqui, é sempre a mesma cadeira, só que em momentos diferentes. Temos
uma dissociação, uma análise que decompõe o objeto, como numa dissecação de
cadáver, como cada órgão sendo catalogado. É um trabalho de análise de algum
objeto de Arte. É como analisar um filme, analisando cada cena em separado
para, por fim, contemplar o objeto em sua totalidade, encontrando traços que
permeiem toda a obra. Aqui, é como num caminho de destruição, num descaminho,
com a cadeira, antes íntegra e digna de sua função de móvel, sendo destruída,
talvez danada aos processos de tempo, talvez num móvel lenta e progressivamente
consumido por persistentes cupins. É como se a cadeira estivesse caindo de uma
certa altura, espatifando-se ao chão, e é como se tivéssemos aqui uma foto de
cada momento do processo de desmantelamento, como num filme. É como uma aranha
ou algum inseto sendo morto por um matamosca, livrando o lar de visitantes
indesejados. São as vicissitudes da Matéria, pois, enquanto encarnados, estamos
cercados de biologia, de bactérias, de muitos bichos e vegetais, de diversos
tamanhos, desde microscópicos até de grande porte. Aqui, é um altivo trono
sendo desmantelado, como numa Revolução Francesa, destituindo um rei,
guilhotinando cabeças, num momento violento de ruptura, com uma longa tradição
monárquica sendo suplantada pela forma mais digna de governo que hoje
conhecemos, que é a Democracia. É como uma pessoa sendo assassinada, como no chuveiro
de Psicose, com vários cortes, numa
agressão que se certifica de que o agredido não sobreviverá. Aqui, as cadeiras mais
à esquerda estão menos agredidas e mais preservadas, enquanto as da direita
estão muito, muito agredidas, talvez num cenário de Guerra, no qual os “peões
do tabuleiro”, na posição mais humilde na hierarquia, são colocados na linha de
frente, com a função de proteger o rei, o qual está na posição mais resguardada
e preservada, nos privilégios em torno dos líderes, privilégios que seduzem
aqueles que buscam ter muito poder em vida. É como na ótima e perturbadora
letra de uma canção, que diz: “Por que sempre mandamos o mais pobres à
Guerra?”. Aqui, é um cenário apocalíptico, como numa Chernobyl, e apenas o rei
sobreviveu, acumulando dentro de si o próprio povo, conduzindo este à terra
plácida dos desencarnados, a terra mais linda e acolhedora que existe, fazendo
da Terra uma cópia tosca e atrasada. Aqui, é como numa festa: a pessoa chega
toda a arrumada e, depois de muitos drinques e muita dança, fica toda suada e
desarrumada, na sensação gloriosa de suar na pista de dança, no fervo da
juventude, no modo como todos precisamos de alguma diversão em meio a um Mundo
que tanta disciplina exige de nós. Aqui, é a inevitável danação material, com
todas as coisas materiais sendo condenadas a um prazo de validade, no modo como
a Matéria não pode ser equiparada à Eternidade Metafísica, à Vida Eterna, que é
o maior presente que pode ser dado, numa poderosíssima perspectiva – você já de
deu conta de que você jamais findará? É muito poder, e passaremos a Eternidade
tentando desvendar o indesvendável Tao. Aqui, é um ciclo, com a cadeira íntegra
sendo progressivamente destruída, e, depois da Morte, vem o Renascimento, e a
pessoa desencarna com o poder de rejuvenescer e viver jovem para sempre, na
danação do corpo físico, na metáfora “vão-se os anéis e ficam os dedos”. O que
você prefere ter: anéis ou dedos? O que é mais importante para você: ter boa imagem
ou ter felicidade? Você decide. Aqui, é como uma pessoa pegando no sono,
desligando-se gradativamente da vigília e se rendendo à necessidade de
descanso.
Acima, Maldoror. 1998. O piano está comprometido, avariado, como se os
postes fossem árvores que, na força de seu tronco e suas raízes, tivessem invadido
um duro muro de pedra. As luminárias são o esclarecimento, a razão, no intento
científico de encontrar sentido e razão em coisas as quase jamais foram
explicadas, e cada época da Humanidade tem suas próprias definições. O poste
vence o jogo contra o piano, o qual se mostra fraco e suscetível, sensível,
frágil, no termo “água mole em pedra dura”, ou seja, quem de fato é o vencedor
na cena – quem cede ou quem ocupa? Podemos ouvir a dor piano destoando, numa
sinfonia confusa e caótica. É como o Modernismo Brasileiro agredindo
(elegantemente) os moldes acadêmicos conservadores, num momento que ampliou o
leque de percepções do espectador brasileiro. São como as revoluções, como na
trágica Revolução Farroupilha, na intenção de desafiar um poder indesafiável, em
atos de muita coragem, havendo no cagão – desculpe o termo – a incapacidade
para tais desafios, pois a Vida não nos exige coragem? O poste aqui é altamente
impositivo, altivo, pouco se importando com o piano ao chão. É o ímpeto, o
ímpeto do artista, no modo como a evolução da Arte é altamente dependente de
tais transgressões, pois qual seria o sentido de uma Arte que jamais será transgredida?
Não é para frente que se anda? Aqui, é como se uma bomba tivesse sido detonada
no piano, no termo “boom” para classificarmos artista, ou astros em geral, que
tiveram um impulso muito forte, num sucesso muito avassalador e inignorável, no
modo como, por exemplo, uma Gisele se impôs frente ao globo inteiro. Aqui, o
poste conquistou seu espaço ao Sol, na luta pela Vida, num artista que sabe
que, se tiver talento e potencial, precisa ter a força para persistir em uma
estrada que parece ser tão inóspita. Aqui, o piano está derrotado, e teve que
se curvar ao poste, como num jogador que sabe reconhecer que perdeu a partida
para um oponente melhor e mais preparado. O piano está humilhado e destruído,
no modo como Arman gosta de tecer tais cenários de devastação, havendo no
sucesso de um a infelicidade do outro, numa espécie de canibalismo, num mundo
tão competitivo, com tantos e tantos sonhos sendo frustrados todos os dias ao
redor do Mundo. As luminárias aqui estão desligadas, talvez repousando e
esperando pela noite, na hora em que são úteis. É o avanço das tecnologias, no
surgimento da Energia Elétrica, ou no boom da Internet, com as velhas tecnologias
virando peças de museu, como na geração que nasceu nos anos 2000, uma geração
totalmente digital. É como se este poste estivesse se alimentando, parasitando
o piano, como na intenção maliciosa do psicopata, um vampiro de almas que nunca
está feliz se os outros estiverem felizes, na pequenez da serpente da malícia,
com a víbora sendo esmagada pelos alvos pés de Nossa Senhora. Aqui, temos
vitória e derrota lado a lado, no cenário final de uma guerra, com o perdedor
admitindo a derrota, havendo ao vencedor a discrição para nunca espezinhar o
oponente derrotado, pois, na gangorra da Vida, por vezes estamos por cima, por
vezes estamos por baixo, pois não é o Sucesso um amante infiel? Aqui, temos a
estrutura piramidal de classes sociais, com impostos sendo pagos pelo cidadão
trabalhador, sustentando a máquina governamental com tal dinheiro de impostos,
na imposição de punição àqueles que não estão em dia com o “leão”. É como numa
pessoa pobre, a qual só consegue pagar as contas, nunca conseguindo acumular
algo para concretizar sonhos, como um carro ou a casa própria. É como numa
cruel e implacável ditadura, numa nação miserável que investe tudo em
militarismo, na insana busca humana por Poder, em orgulhos ascendendo e
descendendo a todo minuto ao redor do Mundo, pois um homem de Tao jamais busca,
infantilmente, o Poder pelo simples Poder. Aqui, temos uma reviravolta, pois,
de um momento para o outro, o então subestimado poste ascende na cena,
impondo-se. E o piano jamais pensou que as coisas pudessem ter chegado a tal
ponto, e esta é a conduta do homem de Tao, um homem sempre subestimado e
imprevisível.
Acima, Parts Conversation. 1999. Arman adora fazer essas progressões, com
um objeto sendo gradualmente destruído. É a ruptura entre Era Analógica e Era
Digital, nas suplantações tecnológicas, sendo apenas uma questão de tempo até
que o Homem pise em Marte (e retorne são e salvo). Aqui, é a curiosidade
científica, num corpo sendo aberto e analisado, nos mistérios que desafiam
incessantemente a curiosidade dos cientistas ao redor do Mundo, pois a Ciência
é altamente universal. Podemos ouvir aqui o som do telefone tocando, atiçando
minhas memórias de infância, quando tínhamos que discar o disco pacientemente,
trazendo à tona o modo como as grandes invenções humanas nasceram da Preguiça,
numa tecnologia que não mais nos exige discar ou digitar sempre que quisermos
fazer contato com alguém. O fio é um cordão umbilical, unindo as pessoas, na
constante necessidade de comunicação, havendo na Internet uma sofisticação da
tecnologia telefônica, num galgar tecnológico muito rápido e frenético,
incessante, com novidades senso trazidas constantemente ao público consumidor,
nos apelos da Sociedade de Consumo – se você quer ser feliz, tem que
consumir... Aqui, temos alguém furioso, dotado de um grande facão, dando golpes
vigorosos, raivosos, como se quisesse sepultar as tecnologias obsoletas, pois
qual é o uso, hoje em dia, de um videocassete, de um tocafitas, de uma máquina
de datilografar? E o artista tenta entender as mudanças de tempos, essa marcha
incessante, levando-nos a perguntar até onde o Homem irá – será que ao
Infinito? Aqui, é como um biscoito água e sal sendo partido e comido, num
fracionamento, no modo humano de fracionar o Tempo em horas, dias, anos etc.
Aqui, não há quatro telefones, mas apenas um, num processo autodestrutivo,
talvez num suicídio, numa pessoa que não ama a si nem ao Mundo. Nesta cena tão
cinzenta, vemos alguns fiozinhos vermelhos, como se quisessem trazer algum
calor, alguma persistência de brasa a uma lareira morta e desativada,
agonizando para sobreviver, no modo como todos precisamos sobreviver ao sucesso
e ao fracasso, na inevitabilidade das vicissitudes, numa Vida que exige coragem
de nós. Os fios encaracolados são como serpentes férteis, sensuais, numa forma
de Vida tão minimalista e elegante que é a serpente. O fio é a Comunicação que
interliga os seres humanos, pois sem Comunicação, o Mundo acaba. É um cordão
que limita, havendo um máximo de tensionamento, como o fio que liga o Corpo à
Mente, no período de Tempo o qual nos cabe neste linda e ínfima esfera azul. A
Internet faz metáfora com a grande rede metafísica, que é a rede que interliga
todos os espíritos, todos os irmãos, havendo em Tao a força invisível que serve
como um fio, sempre interligando, na sexy ideia de que somos todos conectados,
num Universo sensual, liquidiscente e delicioso, no termo “smooth operator” da
cantora Sade, ou seja, “operador suave”, como num telefonista que estabelece os
contados Universo afora, pois se Tao não fosse eterno, não seria Tao. Aqui, é
como se o telefone tivesse dado um grande espirro e desorganizado-se,
precisando se recompor, se recolocar, nos inevitáveis espirros da Vida, fazendo
com que caiamos e tenhamos a necessidade de reerguimento, num trabalho de força
e perseverança, num enorme esforço existencial a ser empreendido. Aqui, é como
se o telefone estivesse se despindo, chegando à sensual simplicidade da nudez,
numa beleza que não é exatamente sexual, mais, ainda assim, sexy. Aqui, é como
um alimento sendo mastigado, processado e digerido, num longo processo de
assimilação, como numa esteira de fábrica, montando um carro em várias etapas.
Mas, aqui, temos uma “desfabricação”, pois o objeto é partido e desmantelado,
ou como se fosse um grande bloco de mármore sendo dinamitado e bipartido para
servir para a fabricação de bens de consumo. É como uma nuvem carregada
descarregando-se.
Acima, The Spirit of Yamaha. 1997. As motos vêm chegando de modo
avassalador, implacável, dividindo o piano em três partes, talvez entre
passado, presente e fururo. Podemos ouvir o som dos motores, remetendo-me aos
motoboys de São Paulo, numa demanda urbana que faz com que os motoqueiros sejam
intermináveis, um atrás do outro, sendo respeitados pelos condutores de
veículos que não são motos. É como se estas motos estivessem apostando uma
corrida, na inevitável competitividade da Sociedade, num Mundo sempre querendo
saber quem é o melhor, quem é o merecedor da glória eterna. Ao contemplar este
magnífico trabalho de Arman, perguntamo-nos como ele conseguiu partir o
instrumento musical, numa obra de Arte que certamente custou muito dinheiro
para ser feita, pois o trabalho exigiu que fossem adquiridos um piano e duas
motos. E também pensamos da dificuldade de transporte da obra. Aqui, Arman
expõe a função do artista plástico, que é pegar elementos primordialmente
dissociados e, depois, associá-los e produzir algo novo. Os faróis das motos
são como dois olhos aberto, sempre atentos, iluminando caminhos, no modo como
cada um de nós precisa dessa “luz” para que enxerguemos a caminho à nossa
frente. É como se uma das motos tivesse se bipartido, como numa ameba se
reproduzindo partindo-se ao meio, na velocidade incessante da Vida, numa Vida
que se impõe tão poderosamente, como numa ninhada de cachorrinhos nascendo.
Aqui, é como se as motos estivessem paradas num semáforo, roncando
vigorosamente, num condutor provocando o outro a disputar uma corrida, nos
acontecimentos sociais que são os campeonatos, envolvendo nações inteiras, como
no Brasil em época de Copa, no Mundo girando em torno do Esporte e da Saúde.
Estas motos são como duas lâminas de bisturi, afiadíssimas, no que me remete a
um amigo de infância meu, o qual, ao brincar com bisturis, acabou se cortando
gravemente. E isso é a Vida – temos que manusear com calma e com cuidado essas
“lâminas”, pois quem descuida de sua própria Vida, sofre. Aqui, são como motos
que servem de prêmio a algum concurso ou sorteio, nos bens de consumo que se
tornam obsessões materialistas, ambições mundanas, pois se não estou o tempo
todo querendo, posso ter Paz, ao contrário de uma pessoa que nunca está
satisfeita, querendo sempre mais e mais, como num rei infeliz em seu próprio
reino, sempre querendo anexar os reinos vizinhos, na estupidez da insensível
violência humana – não é virtuoso o homem que prima pela Paz? Como ouvi em um
coral no Natal Luz de Gramado: “Jesus é o Príncipe da Paz”. Aqui, é um caminho
sem volta, pois o piano jamais poderá ser restaurado e reconstituído, como numa
pessoa que faz suas escolhas existenciais, colhendo as “flores” consequentes,
pois, como me disse uma grande amiga, a Vida é feita de escolhas. Essas motos
são como dois louva-a-deus, comendo avidamente vegetação, servindo de comida a
camaleões, na engraçada Cadeia Alimentar, onde todos viram comida de todos,
como num baile em que todos bailam na pista de dança, pois Tao é o grande
agregador, como num patriarca reunindo a família numa noite de Natal, no nobre
poder unificador de Tao, o grande anfitrião. Estas motos passarão e deixarão
para trás sua trilha destrutiva, deixando um vestígio nefasto, como numa tropa
que passa por uma terra e só deixa rastros de fome e destruição. Este piano é
como um óvulo fecundado por três espermatozoides, gerando trigêmeos na barriga
da mãe, num convívio familiar que se originou antes mesmo do nascimento. É a
fartura da Vida, com muito pasto para o gado, na generosidade de Tao, o
alimentador, a teta – somos todos filhos Dele, e Ele nos ama incondicionalmente,
sempre desejando o melhor para nós. As motos são como lâminas numa fábrica,
cortando madeira, ou papel, no poder transformador dos processos industriais,
sempre guarnecendo o Mundo, no prazer de uma pessoa que se sente útil a um Mundo
por vezes tão duro.
Acima, sem título. 1999.
Mais uma vez, os processos destrutivos de Arman. Aqui, temos no regador o agente
renovador da Vida, como numa merecida chuva depois de um longo período de seca.
O material metálico é como uma armadura, uma roupa bélica, na proteção de
armadura em torno de uma pessoa que sabe dizer “não” e que adquire o controle
sobre a própria Vida, adquirindo luz própria, no enorme desafio que é para uma
dona de casa se tornar alguém sem ser representada por um homem, na força que
as lésbicas têm em se expressar por si mesmas, sendo a estas insuportável ser as
“escravas” de alguém. O regador aqui, em sua dureza, é uma arma, remetendo-me a
um episódio de Chaves no qual o menino molhar os outros com um regador, só que
“sem querer querendo”, como diz o personagem. É como no homem de lata em O
Mágico de Oz,
ou como o robô C3PO de Guerra nas
Estrelas, no modo como o escritor Harari nos alerta para o avanço da
Inteligência Artificial, nos prognósticos pessimistas de Matrix, trama na qual as máquinas acabam escravizando e condenando
a Humanidade. É a armadura dos arcanjos, espíritos extremamente forte que
rechaçam qualquer faca ou bala de arma de fogo, na necessidade de que a pessoa
tenha alguma Fé, sempre acreditando na Ressurreição após uma vida cheia de
labor e desafios. É a armadura da Mulher Maravilha, blindando a heroína e
rejeitando lanças maliciosas ou dolosas, na capacidade da pessoa em ver o Mundo
como este realmente é, na clara visão de uma pessoa que trabalha e, de algum
modo, mostra ao Mundo alguma inteligência, pois já ouvi dizer: “Tudo o que você
precisa mostrar é Inteligência”. Aqui, temos algo muito prateado, na beleza da
luz do luar, como um grande prato de prata iluminando noites claras de luar.
São como moedas, trazendo gravado o perfil do governante, nos sistemas humanos
de trocas, no modo como o Mundo é estruturado em volta de tal dinheiro, na
inacreditável infelicidade que se assoberba sobre alguém que é considerado
materialmente feliz na Terra, pois, a nível metafísico, não há dinheiro. Aqui,
é como uma cortina, com partes ficando mais abaladas do que outras. Aqui, temos
uma cena de destruição e, no sentido contrário, reconstituição, num eterno
recomeço, no modo como, depois de um momento de trabalho, vem outro momento de
trabalho, como num chef de cozinha, cuja “obra de Arte” está fadada à
destruição do ato de comer. Aqui, é como num degradante processo de estresse,
numa pessoa, gradualmente, perdendo a calma e a esperança, tendo que trilhar um
caminho inverso, rumo ao restabelecimento da Fé. Aqui, temos pessoas fortes e,
ao lado, pessoas não tão fortes, e é como se um furacão tivesse passado,
abalando os regadores mais frágeis, como na história dos Três Porquinhos, com uma casa forte de tijolos, uma casa não tão
forte de madeira e uma casa muito frágil de palha, na lição de que precisamos
ter os pés no chão e sempre construir uma casa segura, respeitável e forte.
Aqui, temos um processo de empobrecimento e desconstituição existencial, num
regador que, aos poucos, foi perdendo o controle da situação, chegando a um
ponto de miséria, numa vida tão miserável ao ponto da pessoa se refugiar num
mundinho de faz de conta, buscando, assim, “enterrar a cabeça” e não ver a
realidade, na dureza que é um processo de reconstrução, num longo e enorme
processo de reerguimento. Aqui, temos um ciclo intermitente, pois há auge,
decadência, morte e renascimento, como me ensinou uma professora mercadológica,
a qual disse que os produtos têm um ciclo de vida, num produto que fez muito
sucesso mas que, depois, não soube se manter e acabou morrendo, como no Orkut,
o site de rede social que teve um boom mas que, depois, acabou morrendo.
Podemos ouvir o barulho metálico das peças sendo partidas, num artista que teve
que ir a uma fábrica e solicitar o corte dos regadores, nos incríveis esforços
que podem ser empreendidos por um artista obstinado em sua Arte, em provas públicas
de talento e dedicação.
Referência bibliográfica:
Artworks. Disponível em <www.armanstudio.com>.
Acesso 27 nov. 2019.
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