quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

O Tony Blair da Arte



Antes de ler esta postagem, saiba que, depois desta, o blog entra em recesso e retorna entre fevereiro e março de 2020. Boas férias!

Anthony Douglas Cragg, ou simplesmente Tony Cragg, é um artista plástico britânico que nasceu em 1949. Começou fazendo instalações com objetos descartados e ficou importante ao ponto de receber da Rainha Elizabeth II o título de Sir. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Blood Sugar. Esta formidável obra remete à Infância, num saco de balas coloridas, como jujubas ou as tradicionais balas Soft, encantando os olhos e o paladar das crianças, no modo como é necessário que a pessoa, por mais madura e experiente que seja, nunca deixe de lado esta certa candura infantil, fugindo de se tornar uma pessoa amarga a empedernida – as crianças têm muito o que ensinar aos adultos. Todos os vidros aqui são opacos, na metáfora espírita existencial de que só podemos observar a Vida através de um vidro opaco, muito opaco, tendo este vidro transformado em translúcido só após o Desencarne, nos inevitáveis mistérios da existência, dos labirintos da Vida, sendo tudo, porém, bem simples e fácil: o Bem é sempre agradável; o Mal, desagradável. Mas, como diz Tao, as pessoas estão constantemente sendo seduzidas por atalhos traiçoeiros, confundindo conceitos, ou seja, confundindo Bem com Mal. Esta obra é bem limpa e perfumada, e não podemos ver um só fiapinho de poeira, na limpeza bela que é a Dimensão Metafísica, um lugar em que a vicissitudes materiais se evanescem. Estas placas de vidro, perfuradas pelas garrafas, desfiam a Gravidade, e estão em completo equilíbrio. É o modo como o Vidro mudou para sempre o curso da Humanidade. Podemos ouvir aqui o tilintar de taças sendo brindadas, talvez numa virada de ano, no modo como um artista quer sempre nos brindar e encantar-nos, como num pólo turístico como Gramado, aprumando-se para encantar o turista, arrastando milhões de visitantes todos os anos, num poder magnético, numa economia especializada em encantar, como no deslumbrante complexo de parques temáticos em Orlando, EUA, num lugar mágico onde os adultos se sentem crianças novamente. Aqui, temos uma diversidade, como na diversidade racial, na ilusão que é o preconceito de cor, como vi, hoje mesmo, em uma livraria, para vender o infame livro psicopático hitlerista Minha Luta, um livro que deveria ser proibido em qualquer lugar do Mundo. O artista tem esta função, a de tocar as pessoas, tudo em nome da sensibilidade, da humanidade, do cavalheirismo e da candura fraternal de respeito. A função da Arte é atiçar as pessoas em nome do Bem, da Sensibilidade. As garrafas azuis são um majestoso Céu de Brigadeiro, com aviadores voando pelos Céus, vendo tudo ao redor, no modo como as colônias espirituais parecem ser terras serranas, elevadas, alheias aos orgulhos duros e cruéis do Mundo Material, sendo este sempre flagelado pelas ambições humanas, pois se estou o tempo todo querendo coisas, não posso ter Paz. As garrafas de cor leitosa são as tetas maternas, sempre alimentando e provendo, como um rio desembocando no Mar, como num Rio Nilo, sempre provendo o Egito levando embora as impurezas, lavando as terras dos faraós. É como o leiteiro de antigamente, deixando nas portas das casas as garrafas de leite, em tempos tranquilos, sem tanta violência nem criminalidade, numa época em que podíamos confiar uns nos outros, numa época áurea que nos remete à vizinhança plácida metafísica, no modo como só pode haver felicidade se houver Paz, havendo nas interrupções causadas pelas Guerras o infeliz motor que move a Humanidade, num Ser Humano sempre aguerrido e raivoso, pois, como dia Tao, a Paz é melhor do que a Raiva. A base desta obra é perfeitamente branca, na cor da bandeirinha da trégua, como dois amigos, que, depois de vários anos, decidem restaurar o relacionamento. Esta obra é toda muito leve e agradável, e as peças vítreas parecem pesar menos do que realmente pesam, na deliciosa sensação de flutuação onírica.


Acima, Distant Cousin. A forma parece ser uma motocicleta muito moderna e futurista, e podemos ouvir o roncar do motor, como numa moto na Rua, acordando-nos durante a noite, no modo como o artista quer nos “acordar” para que observemos o Mundo pela ótica deste mesmo artista, como num anfitrião recebendo convidados, numa espécie de “bem-vindos ao meu mundo”. Esta forma remete ao filme O Exterminador do Futuro II, no qual um vilão cibernético toma várias formas, com este aspecto de “prata líquida”, como um metal cromado, na capacidade do artista de pegar este barro primordial amorfo e produzir coisas novas, nesse poder transformação, reinventor de um grande artista, numa pessoa que tem a força para sobreviver e manter-se na crista da onda durante décadas de carreira, no grande desafio que é a reinvenção, pois, se obtenho sucesso, meu desejo básico é me manter em tal momento, sendo muito difícil de tal página ser virada, pois como posso me reinventar se quero permanecer o mesmo? Aqui, é um animal de várias patas, como um boi ou um inseto. Este aspecto metálico e refratário é como um espelho, no poder da reflexão, de uma pessoa meditando e pensando sobre o que é o Mundo, esta esfera tão enigmática, num lugar em que é tão difícil de se manter a Fé, num grande desafio. Aqui, é como uma flor cromada, como na gigantesca flor metálica em Buenos Aires, feita de restos de aviões que lutaram na Guerra das Malvinas, um monumento para nos lembrar das mortes em ambos os lados do conflito, na insensatez que é ceifar vidas em nome de vaidades estatais, pois, infelizmente, o Ser Humano é altamente vaidoso. Esta escultura é elegante, e os pés mal tocam o chão, num retiro, numa renúncia, num resguardo, como nos prédios no desenho Os Jetsons, com enormes estruturas futuristas sendo sustentadas por mínimos pilares delgados, nesse gesto de renúncia àquilo que é vulgar e mundano, numa interferência mínima da Matéria, interferência a qual, na Terra, nunca poderá ser totalmente banida, pois a Encarnação é assim mesmo – um eterno pontinho negro no Sol. Aqui é uma aranha de líquido mercúrio, sempre em processo de transformação, na lei da Dialética, que diz que tudo é processo, como no processo evolutivo espiritual, num espírito que desencarnou muito mais nobre do que encarnou, no modo como a Vida é incessante atividade de aprimoramento e crescimento, rechaçando orgulhosas estagnações do tipo “sou perfeito”. A parte superior lembra um vaso de flores vazio, esperando pelas flores, pela delicadeza, pela feminilidade, numa casa arrumada e perfumada. É o modo como a Vida nos dá um vaso vazio, cabendo a nós encher este vaso do modo como desejarmos, colhendo as consequências de tais livres escolhas, pois qual seria o sentido da Vida se eu não tivesse liberdade para escolher e, assim, crescer neste âmbito autodidata? Aqui, temos uma forma misteriosa, sempre fluindo, como um rio, sempre serpenteando, nas indefinições aquosas de transformação. É como um prato de aço inox sendo derretido, usado para outros fins, no modo como a Metalurgia de Caxias do Sul se desenvolveu com a II Guerra Mundial, num amargo progresso. Aqui, é como uma supernova explodindo para todos os lados, na ambição de um artista em estourar nesse sentido, estando catapultado ao status de estrela, como numa Rainha da Festa da Uva, tendo a cidade aos seus pés, fazendo metáfora com a apolínea hierarquia metafísica, num plano regido por uma rainha de dignidade de fazer inveja a qualquer governante sobre a face da Terra, no modo como tudo no Plano Físico gira em torno do Plano Metafísico, ou seja, só no Pensamento há Nobreza; não há Nobreza na Matéria. Aqui, é um ser misterioso, de forma indefinida, como é o mistério de Tao: você o encara, mas ele não tem face; você vai par atrás dele, mas não vê cauda. É como um peixe fluidio e estranho, sempre indefinido, sempre em processo fluidio, sempre crescendo.


Acima, Ferryman. A peça permite a circulação de ar, como numa agradável casa arejada, ou como numa mágica casa ao ar livre. A peça é leve, translúcida, deixando Tao circular e prover o Mundo, como num rio alimentando vales; como chuvas irrigando terras secas. Esta peça respira, vive, convidando o espectador a respirar fundo e curtir os aspectos mais simples da Vida, os quais nada custam. Aqui, é como se a peça tivesse sido avidamente alvejada, fuzilada impiedosamente, como numa pessoa que se frustrou, levando vários tiros da Vida, tendo que ter força para se reerguer e continuar tocando o baile. É como um artista polêmico e controverso, como Michael Jackson, um homem que sofreu inúmeros ataques em vida, chegando até os tribunais, num artista que, apesar de famoso, célebre e bem-sucedido, foi muito incompreendido. A peça remete à divertida letra de uma canção de Elis Regina: “De tanto levar ‘frechada” do seu olhar, meu peito até parece sabe o quê? ‘Táubua’ de tiro ao ‘álvaro’. Não tem mais onde furar”. É como num flerte entre namorados, com muita paquera visual antes de se chegar aos finalmentes. A peça é como uma esponja fofa, cheia de veios, espalhando espuma, no poder renovador que é um bom banho depois de um dia inteiro de transpiração e sujeira. Aqui, é como uma chapa metálica que foi feita para fabricar moedas, havendo na chapa restante um subproduto que é usado como elemento decorativo. Esta peça procura ser discreta, como num camaleão se adaptando ao ambiente externo, num bicho que parece saber a importância da discrição, pois como um camaleão poderá atacar e comer a presa se esta o ver? A peça nos convida a tocá-la, colocando nossos dedos nos furinhos, numa prazerosa agressãozinha, como na lembrança de infância que tenho do Mercado Público de Porto Alegre, quando eu fincava fundo a mão numa saca de feijão. Esta peça, com seu aspecto leve, parece que vai levantar voo ao menor ventinho que bater, no modo como um artista procura obter tal efeito de leveza, de agradabilidade, como na leveza visual numa capa de revista com o rosto de Gisele, uma estrela que conseguiu obter tal efeito apolíneo, no grande desafio que é a para a pessoa aprender a exalar tal efeito, no modo como todos temos que ser autodidatas, pois, afinal, somos livres, pois a Liberdade é um dos princípios de Tao, o Pai que quer nos ver crescer. Aqui, parece ser um ser marinho, com esse aspecto de esponja, ou como um coral, num Tony Cragg querendo imitar tal fascínio das criaturas as quais a Natureza nos traz, num ecossistema tão rico, tão farto, tão diversificado, fazendo da Terra uma pequena joia rara do Cosmos – como somos ricos neste sentido! Aqui, temos uma certa vulnerabilidade, uma passividade, como uma goleira, que tem que ser defendida por paladinos jogadores, como uma porta, que tem que ser trancada e bloqueada para evitar a entrada indesejada de ladrões e assassinos. Neste sensual vazio, nada pode ferir esta peça, pois uma lança que entrar vai atravessar o meio e chegar ao fundo, e este “coral” sairá ileso, sem sentir uma fincada sequer, no sentido de que o vazio é onde, precisamente, está a sensualidade, e este vazio indefinível é Tao, o copo vazio que pode ser usado para tomarmos água, ou seja, o Mundo é de quem serve a este, e Tao é assim, de suprema serventia, como numa zelosa Madre Teresa, dedicando-se ao serviço dos que necessitam, talvez num espírito, o qual antes de encarnar como madre, deve ter tido uma vida fútil e egoísta, desejando assim, na encarnação posterior, reparar tais erros egocêntricos, tornando-se uma grande altruísta, e Tao é assim, sempre nos dando novas oportunidades para passarmos a borracha em nossos próprios erros e equívocos, havendo em Tao um professor de paciência terna e imensurável, e ter paciência não é importante? Aqui, são como os furos numa bola de boliche, e são exatamente os furinhos o que dá utilidade à bola, convidando-nos a meter o dedo e mergulhar neste delicioso vazio, como no grande largo da beiramar de Capão da Canoa, um espaço vazio e amplo que serve de várias formas ao uso do cidadão.


Acima, I'm Alive. É uma cobra se enrolando, engolindo a própria cauda, formando um anel, um elo, e através de tal vazio central podemos ver a paisagem atrás, numa obra que respira, num Cragg que gosta tanto desses materiais cromados, prateados. É como um caramujo que foi expulso de sua casinha, no trauma que é o nascimento, no choque que é sair do quentinho da barriga materna para o Mundo frio e duro no qual vivemos. É numa busca existencial, num caramujo expatriado que, agora, precisa saber o que fazer da Vida, precisando obter um novo norte, uma nova missão, pois o norte anterior se revelou frustrante e sem futuro. É uma peça elegante, que toca o mínimo no chão, como na elegância do salto alto, como no salto alto de John Travolta dançando a Discomusic em um filme que marcou época. Este resguardo, esta reserva comedida é um espírito querendo se manter puro e sublime, negando os apelos materialistas da Sociedade de Consumo, num espírito querendo consumir o mínimo possível, na sabedoria de que, se não estou o tempo todo querendo coisas, posso ter Paz. Esta superfície espelhada é refratária, adquirindo as cores do ambiente ao redor, no camaleão se camuflando espertamente. Este espelho distorce a imagem, pois não é plano, mas tridimensional. É um espelho que revela o Mundo de forma atípica, como numa visão prejudicada, numa pessoa que está observando o Mundo de forma distorcida e ilusória, longe da fria realidade, como numa pessoa que se refugiou psiquicamente num mundinho de faz de conta para, assim, esconder-se da Vida – é possível fugir desta? Fugir da Vida é o caminho da Loucura, numa pessoa que se refugiou e não quis aceitar a encarnação pela qual a própria pessoa optou antes de encarnar. Aqui, é um elemento amorfo, em constante processo de reformulação, como na brincadeira infantil da massinha de modelar, atiçando a imaginação e treinando a capacidade humana de pegar materiais e fazer coisas, na missão inventiva do artista plástico, num constante caminho de crescimento e depuração, pois quem é mais agradável é superior. Aqui, é um vigoroso peixe nadando por águas familiares, águas que são seu lar. É uma pessoa confortável em sua própria pele, no positivo e necessário caminho da autoaceitação, pois como posso ser feliz se não me gosto? Aqui, é uma lombriga invadindo um intestino, espraiando sua malícia, seu malefício, como num ardiloso sociopata se esgueirando em minha vida, querendo me castrar, manipular-me e controlar-me – saia de perto de mim! Aqui, é um elegante golfinho ou baleia, fazendo seus majestosos nados para fora da água, em oceanos tão cheios de Vida, de vontade de viver, pois só alcança Tao quem o quer; quem tem vontade. É como uma pulseira, no prazer de uma mulher que gosta de se aprumar para o Mundo, saindo de casa impecavelmente arrumada e perfumada, ao contrário de uma professora que tive, a qual, hoje em dia, perdeu toda a autoestima, simplesmente parando de se arrumar, quando que idade não é pretexto para parar de se arrumar. Aqui é como um anel mágico de Tolkien, seduzindo e corrompendo as almas dos homens, os quais são fracos perante o anel, pois é próprio da mazela humana querer ter poder, muito poder. Esta obra é como uma vinheta do mestre digital Hans Donner, dotando a Rede Globo de toda uma identidade visual, num talento de artista plástico, sempre buscando as coisas de forma minimalista e limpa, como se suas obras fossem feita de puro cristal. Aqui, é uma onda desafiadora, desafiando um surfista a embarcar nela, mas talvez seja uma onda perigosa demais, talvez além do que o surfista poderia arcar, no sentido de que é próprio do sábio ter cautela e pensar muito, pensando se tal onda pode ser domada. É uma avassaladora onda de tsunami, deixando rastros de destruição, nas vicissitudes materiais, no modo como as tragédias acontecem para estimular a fraternidade e o altruísmo, como disse Streisand em um concerto: “Será que sempre precisaremos de uma catástrofe para lembrar de que somos pessoas que precisam de pessoas?”


Acima, Mean Average. Esta obra é muito representativa de Cragg, visto que este adora fazer esculturas que imitam a ação erosiva da Natureza, como em rochedos esculpidos por muitos e muitos anos de vento, num Cragg querendo imitar tais forças, na tentativa que qualquer artista tem em ser equiparado a uma força natural titânica, fazendo catarses que causem comoção. Esta majestosa escultura contrasta com a paisagem urbana ao redor, pois, no fundo, temos a ordem da vida cotidiana e, na obra de Arte aqui, temos a força da Natureza correndo solta. É um grande e exótico móvel, esculpido com muita paciência, como na paciência da Natureza, que leva milênios, quiçá milhões de anos para moldar alguma forma natural, como nos interiores de cavernas, moldados por milênios de gotejamento, fabricando esculturas pétreas. Aqui, é como um grande cocô, desculpe a comparação chula, mas um cocô psíquico, catártico, na gloriosa sensação de se colocar para fora todas as feridas de dentro de si, num momento de vômito e desabafo, seguido de alívio, refrescância e renovação. É como um grande cupinzeiro, numa complexidade inexistente em qualquer obra humana, num formigueiro repleto de labirínticos corredores, pelos quais somente as formigas e cupins sabem se locomover. É como na narração no romance brasileiro O Cortiço, com os moradores da favela acordando de manhã cedo, fazendo seus barulhos com as xícaras de café, formiguinhas despertando para uma nova jornada. Aqui, é como um exótico tronco de árvore, só que sem galhos, num tolhimento, uma limitação, numa ação de poda, nas intenções humanas em “domar” a Natureza, os bichos e as plantas. A árvore aqui está castrada, desiludida, frustrada, e tomou um soco psíquico na boca do estômago, como numa pessoa que se frustrou em relação a um projeto profissional ou em relação a um amor passageiro. É um cenário de devastação, como numa pessoa que está beijando o fundo do poço em sua vida, encarando um quadro de devastação existencial enorme, tendo que partir do zero em busca de um movimento de restauração e reconstrução, como nas riquezas descobertas em um sítio arqueológico, em esforços para a reconstituição de épocas que há muito passaram. Aqui, remete um tanto a colunas barrocas, tortuosas, no boom da Moda artística e cultural que foi o Barroco, nas vogues, nas ondas de novidade que varrem o Mundo. As colunas barrocas são como serpentes, gordas, sempre se retorcendo, vivendo sensualmente, esgueirando-se pela mata em busca de alimento. Aqui, é como se um retilíneo tronco de árvore estivesse tomando um terrível choque elétrico, no modo como a Vida vai, vez que outra, trazendo-nos tais choques de realidade, colaborando para que nos tornemos mais humildes e realistas, pois não é insuportável a pessoa arrogante, a qual se acha imune a cometer erros? Aqui, são como dunas verticais, por assim dizer, no modo como o vento da orla vai moldando as dunas, nas mágicas imagens de telenovela Tieta, na sensualidade das paisagens do Nordeste Brasileiro. Então, podemos ouvir aqui o poder sedutor dos ventos, das brisas, num corpo dinâmico que está sempre se movendo e mudando de lá para cá, no fato de que o bioma global está em constante respiro, em constante Vida, sempre respirando, sempre fluindo ciclicamente, como nas rotinas do dia a dia, como tomar banho e sair da cama. Ao fundo aqui nesta foto, um homem de bicicleta para observando a obra, a qual chama a atenção em meio a uma cidade tão normal e rotineira. É um momento em que a pessoa se dá ao direito de fazer uma contemplação, deixando um pouco de lado a insensível correria cotidiana. Aqui, é uma torre, um forte pilar. É como uma grande suruba voluptuosa. É como comida sendo mexida dentro da panela, sempre mexendo e cozinhando. É como um complexo de escadarias arredondadas, como nas traiçoeiras escadarias volúveis na franquia Harry Potter, com escadas traiçoeiras, as quais podem confundir o passante, desafiando este a chegar ao seu destino final, e a Vida pode ser, por vezes, uma escadaria assim, não?


Acima, The Articulated Column. Parecem pratos querendo se equilibrar numa coluna, a qual tem uma aparência frágil, parecendo que vai cair a qualquer momento. É a voluptuosidade de sensuais mulheres indianas no Met, com suas ancas fartas e seios generosos. É como um verme se contorcendo, procurando se movimentar com movimentos sensuais que afetam todo o seu corpo, como num verme que vi certa vez enquanto eu cortava uma berinjela: havia um furinho na berinjela, e de dentro saiu um verme se esgueirando. Mais uma vez aqui temos uma coluna um tanto barroca, e fica difícil para se assinalar algum epicentro aqui, algum centro vertical e retilíneo, ao contrário de colunas retas, nas quais podemos ver claramente onde deve estar o centro vertical. Aqui, é como uma dançarina da Dança do Ventre, encantando o Ocidente com a Cultura Oriental, como nas lendas árabes de tapetes voadores, ou como nos perfumes de especiarias indianas que foram conquistando o gosto do europeu, no enigmático perfume de canela, um perfume sem equiparação, sem similar, como no sabor da fruta como a manga, mandada da Índia para que a Rainha Victoria pudesse provar o gosto do Oriente. Aqui, é como o chocalho no rabo de uma cascavel, assinalando uma longa vida, com vários processos de troca de pele, como na carreira de um artista, acumulando itens curriculares, no termo “penteadeira de puta”, desculpe o termo, como na linha do tempo no Facebook, mostrando uma trajetória e contando uma história. Aqui é como o personagem Chaves equilibrando vários pratos e copos, só que de mentirinha, pois os pratos e copos estavam colados no pau de equilibrista! Aqui temos um desejo de equilíbrio e estabilidade, mas parece que está sendo difícil, pois se trata de um corpo muito dinâmico e fluidio, sem fabricar verdades perenes, permanentes, como no título de um dos álbuns de Marisa Monte: Verdade, uma ilusão. Aqui, a base é mais delgada do que outras partes da escultura, trazendo um enigma: como pode haver aqui equilíbrio? É como na enigmática obra de MC Escher, desafiando o espectador, brincando com as percepções deste, pregando peças bem-humoradas, como numa Ellen Degeneres, a entrevistadora americana que adora pregar peças em convidados, equipe e espectadores no estúdio, numa espécie de “moleque”, aquela porção infantil nossa da qual jamais podemos nos desfazer, pois a jovialidade é uma virtude, como num Leonardo da Vinci, o qual se manteve irreverente até o fim da vida. Com esses pratos empilhados, ficamos nos perguntando como é possível haver equilíbrio aqui. Parece que os pratos querem se libertar uns dos outros, num cenário competitivo, em que cada prato quer adquirir independência e identidade própria, como numa família numerosa, em que os irmãos trilham caminhos diferentes em suas vidas. Aqui, são como pneus de gordura em corpo de alguma obesidade, como no monstro de marshmallow Stay Puft, de Os Caçafantasmas, cheio de voluptuosidade, ameaçando Nova York. Aqui, é um tronco de árvore que foi sendo tolhido, com várias etapas de crescimento, até, depois de muito esforço, conseguir chegar a uma certa altura, no modo como temos que lutar muito para sermos reconhecidos e, chegando ao ponto de reconhecimento, precisamos continuar lutando, pois na Vida não há piloto automático, como numa Madonna, uma guerreira com décadas de carreira, numa artista que sabe que não pode parar, pois, se parar, sabe que virará peça de museu. É como grandes bandas longevas, como U2 e Rolling Stones, tendo que haver muita força e criatividade para que não haja autorrepetição. Aqui, é como uma linguiça, um salame sendo preenchido, numa boa combinação que é salame, queijo e vinho, nos prazeres mundanos os quais não podemos deixar de lado, no pecadinho gostoso da Gula. Aqui, é como uma fábrica de coisas, de vasos, de pratos, numa linha de produção incessante, como cabelo e unhas crescendo, como capim e mato nas estradas, mostrando se, naquele lugar, há uma boa ou má administração, remetendo-me aos impecáveis canteiros de Gramado, em contraste aos horrendos canteiros de uma cidade a qual não mencionarei.

Referência bibliográfica:

Tony Cragg. Disponível em <www.en.wikipedia.org>. Acesso 11 dez. 2019.

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