quarta-feira, 17 de junho de 2020

Dá-lhe, Dalton!



Brasiliense de 1982, Dalton Paula reside em Goiânia, sendo bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás. Já ganhou três prêmios, fez sete exposições individuais e mais de sessenta coletivas, tendo sido indicado por duas vezes ao Prêmio Pipa. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Boiadeiro. Óleo e folha de prata sobre tela. Temos aqui uma preocupação simétrica, num equilíbrio muito claro de ser observado. O cabide é a serventia, a utilidade, no modo taoista no qual só a pessoa útil é feliz, fazendo algo dos dias de sua vida, pois a pessoa improdutiva tem os pés fora do chão, e o Mundo pertence aos realistas. O cabide está vazio, vago, como num hotel em baixa temporada. É o vazio do copo, sempre útil ao ser preenchido com água. São os incríveis vazios do Cosmos, grandes demais para a compreensão humana – por que tudo é tão vasto? Neste quadro temos tons terrosos, das entranhas da terra da qual vem o vinho. É como num desfile de Moda que vi uma vez, com o chão todo coberto de terra, num sabor muito particular e marcante. Temos aqui dois quadros azuis, como dois olhos fitando o espectador, como se o quadro soubesse que está sendo vigiado. Os olhos são a Consciência, como nos olhos abertos numa máscara mortuária egípcia, numa pessoa que tem a nítida noção de que não mais está ligada ao corpo carnal, como no funeral de uma parente minha, no qual respirava-se o ar de consciência do Desencarne, o capítulo mais glorioso da vida de qualquer pessoa, exceto para os sociopatas, os quais nem aceitam a morte do corpo físico, nem querem se libertar, num prisioneiro que não celebra o dia da soltura. Nestes quadros, há um céu perfeito, sem qualquer nuvem, no simples ato de encher os pulmões de ar e contemplar tal vastidão azul. Em cada quadro há um chapéu cinzento, da cor dos vestígios de uma lareira, na revolução humana que foi o controle do Fogo. O chapéu é um elegante cavalheiro, tirando-o para saudar elegantemente uma dama, no modo como hoje em dia perdeu-se o glamour de outrora, com homens beijando as mãos de mulheres. O chapéu é a masculinidade, num homem responsável, que tem que sair para trabalhar para não faltar o pão em casa, na enorme responsabilidade que é ser chefe de família, talvez num homem para o qual está sendo difícil acumular patrimônio. De cada lado desta obra de Dalton Paula, um cristalino copo de água. A Água é a nutrição essencial, o líquido da Vida, tão sem graça, se comparado a outras coisas, e, ainda assim, a Água é como Tao, sem cor, sem gosto, sem cheiro, e maravilhosa, eterna, infindável, no mistério da invisível Matéria Escura que permeia o Cosmos, numa espécie de cola, no talento de um patriarca em agregar a família toda em uma noite de Natal, com as crianças avidamente rasgando os papéis de presente. Este chão terroso está impecavelmente preparado para o cultivo, na extremamente árdua vida de imigrante italiano no Rio Grande do Sul, deparando-se com um lote selvagem, calejando completamente suas mãos, sonhando com uma farta mesa de galeteria. O cabide aqui está respaldado por pedras, como numa âncora, na garantia de que o barco não será levado embora pelo traiçoeiro Mar. As pedras são a segurança, a garantia, no ditado: “O seguro morreu de velho”. É a noção de uma pessoa que protege a si mesma, sempre se preservando, sempre hesitante, como se soubesse dos perigos à espreita, como num animal cuidadosamente cruzando um rio, como se soubesse do poder das águas. Tao é assim, cauteloso, cuidadoso, sempre cuidando de seus filhos, como num berço cheio de segurança, num lar cheio de segurança, com pais zelosos ao ponto de tapar com fita adesiva as tomadas elétricas, na garantia de que a criança não colocará os dedinhos ali. Os copos são limpos e translúcidos, como um prisma, carregado de cores múltiplas, na magia de peças de cristal, no fascínio do arcoíris, trazendo um gostinho da inabalável alegria metafísica, nos seus clubes de suntuosas escadarias, com espíritos belos plainando pelos degraus, numa vida mais glamorosa do que qualquer evento luxuoso mundano.


Acima, Cabra e cadeira. Óleo sobre tela. Certamente, DP adora Simetria. A cadeira é a receptividade, no modo como o Feng Shui recomenda que uma cadeira, poltrona ou sofá seja a primeira coisa a se observar ao entrar-se num cômodo. A cadeira é o descanso, depois de um dia laborioso, na gloriosa hora da happy hour, no momento em que as gravatas são afrouxadas, como frequentadores habituais de um pub da vizinhança. A cadeira é o entronamento, na imagem de Deus, após o Apocalipse, sentando-se numa cadeira para dar continuidade aos trabalhos. Aqui, o trono está vazio, talvez numa crise de sucessão, no modo como o início do reinado de Elizabeth I foi conturbado e controverso, com muitos a considerando uma mera bastarda, no modo como a pessoa tem que saber se impor, mas com delicadeza, pois quem gosta de grosserias? Esta cadeira tem um vime translúcido, como num sensual striptease, no jogo provocador entre mostrar e esconder, como numa Monroe nua, coberta só por um véu translúcido, numa artista que, definitivamente, sabia provocar o público, numa das estrelas mais sensuais da História, quiçá a mais sensual, num talento tamanho que, até hoje, as pessoa creem que Monroe era, de fato, aquela loira burra e sonsa. Temos aqui muito do estilo de Dalton, com o chão terroso, e podemos sentir o cheiro de terra, como gotas de chuva em uma lavoura. A terra é o chão, a referência, a segurança de estarmos pisando em um lugar firme e confiável, forte, sólido, como num possante Super Homem, salvando o Mundo, na figura do homem fisiculturista sustentando o Globo Terrestre, como no homem provedor chefe de família, gozando, dentro de casa, do status de rei, com seus chinelos ou pantufas aguardando-o depois de um dia de luta pela Vida. O “trono” aqui é ladeado por duas cabras, como num adorno simétrico, clássico, como guardiãs de algo, de um lugar, de um lar, talvez num sítio rico, cheio de vida, cheio de animais e vegetais, numa fartura, num reino farto e rico, como o Canadá. As cabras são mansinhas, subservientes, e estão ladeando, girando em torno do que importa, que é o lar, a cadeira, que é o receptáculo. As cabras são como os serviçais dentro da casa, nas árduas demandas diárias de um mordomo, acordando bem cedo para aprontar o café da manhã, não parando em algum momento do dia, numa casa na qual sempre há algo a ser feito. As cabras são a garantia da carne, do banquete, do churrasco. As cabras são a carne alimentando a carne, no cheiro de churrasco, de gordura queimada num domingo, com as famílias agregadas, como tenho um tio meu, que é exímio churrasqueiro. Ao fundo na cena, uma farta cortina, e talvez estejamos aqui num palco, pronto para o espetáculo, no excitante burburinho da plateia nas poltronas, na magia do teatro assombrado de O Fantasma da Ópera, como bastidores escuros e assombrados, atiçando a imaginação e a sensibilidade de um bom espectador, num dos musicais mais bem sucedidos da História do Teatro Americano, no mito em torno de Andrew Lloyd Webber. As cortinas se abrem e o público é trazido para dentro da cena, num momento em que a peça é o centro do Universo, numa plateia silenciosa, no escuro, sendo envolvida pelo mágico hálito da Arte. As cortinas são o segredo, pois cobrem algo que ainda não pode ser visto, talvez porque não seja o momento revelador apropriado, como num sonho que tive, no qual me deparei com uma farta cortina, e eu tentava abri-la, mas sem sucesso, pois o mistério eu não pude desvendar, no modo como pouco do futuro pode ser previsto. Podemos sentir aqui o cheiro de terra, de zona rural, de bosta de vaca, algo atípico para uma pessoa da cidade como eu. Podemos ouvir as cabras emitindo seus sons característicos, nos sons da Natureza, e, ao fim do espetáculo, o orgasmo dos aplausos, para, logo depois, a plateia ir embora e o teatro voltar ao seu som silencioso habitual, como num artista que, depois de ruidosamente ovacionado, vai para seu quarto de hotel num silêncio mortal, contrastante, num Mundo sempre sedento.


Acima, Caprinos e o Pasto. Óleo sobre tela. Aqui, a simetria sofre um leve abalo, pois os animais têm cores diferentes. O quadro traz duas garrafas – elas são o Alcoolismo, a dependência química, numa pessoa que está abusando de tais substâncias, tais drogas, tendo que ter sempre perto de si uma garrafa com alcoólicos, na frase célebre dos Alcoólicos Anônimos: “Se você quer beber, o problema é seu; se você quer parar, o problema é nosso”. As garrafas são o encanto do mundo das bebidas, as quais, se apreciadas com moderação, são fascinantes. Imagina-se o momento que foi o da Lei Seca nos EUA, no qual beber era um ato clandestino, digno de ser punido pela Lei. As garrafas estão vazias, e já cumpriram sua missão, sua função, virando lixo seco, no modo como a separação do lixo tomou conta do Mundo, ao contrário de eras em que tudo era colocado na mesma lata. Os caprinos estão de costas um para o outro, talvez num casal que esteja brigando, num momento que revela como são difíceis e delicados os relacionamentos amorosos, exigindo que o casal tenha muita paciência e maturidade, como numa pessoa que conheço, cuja paciência admiro, pois ela não é fumante; o cônjuge, é. A garrafa vazia é o esgotamento, como num deserto na sua pobreza, na sua miséria árida, como num cenário apocalíptico, como numa cidade de Gramado com todos os estabelecimentos fechados, num cenário de morte, em contraste com o habitual vaivém de turistas no tradicional destino turístico brasileiro. Aqui, Dalton nos traz novamente as cortinas, como num quarto em penumbra, com luxuosas cortinas de veludo que vão até o chão, num ambiente em que a pessoa desencarnada se sente muito bem acolhida, com muito sono, tendo que descansar para se adaptar à vida de recém desencarnado. A cortina é o aconchego do Lar; é o controle da luminosidade, evitando inclementes raios solares, a luz que pouco convida ao descanso, como num quarto frente Leste, invadido, desde cedo, pelo inclemente Sol de Verão, numa espécie de despertador. Aqui, os caprinos devem ter bebido o conteúdo, estando embriagados, no modo como o álcool é universal na Humanidade, com várias culturas tendo seus próprios produtos alcoólicos, uma das inúmeras provas da universalidade do Ser Humano, como numa pessoa que tem a ilusão de que sua vida mudará completamente ao se mudar de cidade, pois, em Caxias do Sul, deparo-me com o mesmo Ser Humano com o que me depararia em São Paulo... Aqui, os caprinos estão entorpecidos, numa frase que ouvi em um seriado: “Ninguém gosta do gosto de Álcool; as pessoas gostam dos efeitos do Álcool”. As obras simétricas de DP parecem um papel dobrado ao meio, como se as tintas tivessem se distribuído igualmente à esquerda e direita, trazendo tal claro equilíbrio. A imagem me remete a um livro de Martha Suplicy chamado Sexo para Adolescentes, pois, na página introdutória do capítulo Homossexualidade, havia um homem e uma mulher, de costas um para o outro. Aqui, é como um jogo dos sete erros, e um dos caprinos tem um rabo; outro, não. São detalhes discretos, mas que, a nível geral, deixam que a simetria predomine. O chão terroso é como argila, úmida, pronta para ser moldada pelas devotadas mãos de um artesão, como ouvi certa vez: “Fazer Cinema, no Brasil, não é industrial; é artesanal”, num homem cuja memória respeito integralmente – Fabio Barreto, o diretor. Talvez esses caprinos estejam tão alheios por causa de sua diferença de cor, num quadro de Racismo, no “talento” humano em ficar atento às diferenças, sem perceber a universalidade das raças – é tão patético quanto dizer que tal raça canina não é cão... Como na recente proibição de veiculação digital televisiva do clássico ...E o Vento Levou, precioso filme que mostrou o Escravismo nu e cru, ou seja, dois lados para a mesma moeda, numa divertida contradição dialética: O filme enaltece ou condena o Escravismo? Então, as garrafas aqui trazem esse vazio, essa falta de inteligência e de coragem. Aqui, são como dois times na quadra, no modo como o Ser Humano se sente entretido para ver qual dos dois é o melhor, num Brasil se unindo do Oiapoque ao Chuí nos jogos da Seleção Brasileira.


Acima, Pedrinha Miudinha. Óleo sobre tela. A pedra se estabelece bem no meio, no célebre poema “No meio do caminho há uma pedra”. A pedra é como uma bosta de dinossauro, descomunal, nas demandas orgânicas, num ciclo de Vida que se desfecha com maestria, nas maravilhas das quais Tao é capaz, dando-nos sempre uma lição, pois Tao é este artesão que está sempre criando, sempre produzindo, dando-nos o exemplo de que Produtividade é capital, essencial, pois felizes são as mãos que servem ao Mundo, como uma costureira, concentrada em seu atelier, ocupando o tempo livre, pois que Vida é esta na qual só há contemplação? É como um célebre restaurante caxiense, o qual não abre nos fins de semana, na filosofia: “Temos que ter tempo para curtir o trabalho de outrem”. Que Vida é esta na qual só trabalho e nunca me divirto? É como uma pessoa que trabalhou comigo uma época, uma pessoa que me deu uma lição de Dignidade, pois era uma pessoa que se dava ao respeito, esforçando-se, porém nunca se submetendo à vida degradante de workaholic, uma pessoa que acabou deslanchando na profissão, em contraste com outra pessoa que conheci, uma pessoa sofredora, que só trabalhava, num ciclo masoquista, sem amor próprio – respeitar a si mesmo é muito, muito importante. Aqui, mais uma vez, vemos os tons terrosos de Dalton, numa paixão pela terra, pela Natureza, na sensação deliciosa de se pegar um quilo de argila e transformá-la em um vaso ou prato, como a idosa Rose, de Titanic, sempre fazendo com que suas velhas mãos fossem úteis e produtivas. Esta pedra é como uma pedra de Crack, na lembrança que tenho de um rapaz que entrara no terreno letal do Crack, um rapaz que, meses depois de me conhecer, morreu ao tentar fugir de casa, pois vivia prisioneiro dentro do próprio lar, um guri alto e bonito, com toda a vida pela frente, com o pai dele declarando ao repórter do jornal: “Foi um alívio meu filho ter morrido...”. Ladeando esta montanha rochosa, inóspita e árida, dois copos de água, talvez para trazer um pouco de hidratação a tal aridez, como num milagroso oásis no meio de um inclemente deserto, no modo como todos temos que encontrar, na dureza da Vida, um lugar de prazer, de descanso, numa pessoa que decidiu viver seus dias com discrição, produtividade e tranquilidade, na metáfora do Clark Kent/Super Homem: seja pacato e serás um colosso, na questão do discernimento taoista: não há algo de errado em se sentir uma tesoura cega, em ser modesto e humilde; o problema é quando a pessoa, em arrogância, quiçá narcisismo, sente-se como um bisturi de afiado – a Arrogância precede a queda, e como o Ser Humano tem talento para ser arrogante! Acima da pedra terrena, temos uma pedra metafísica, como o Olimpo dos deuses acima do Olimpo físico, numa cidade espiritual, ideal, bela, limpa, bem amada e bem administrada, no fato de que são as imperfeitas cidades terrenas que tentam, a todo custo, imitar as cidades metafísicas, pois nestas não há problemas como escoamento de esgoto ou risco de terremotos, secas e enchentes, no modo como o incômodo do novo Coronavírus mostra claramente a distância entre Físico e Metafísico. Abaixo desta pedra metafísica, vemos uma renda muito fina e sofisticada, delicada como uma perfeita teia de aranha, com formas que parecem uma aura sagrada radiante, no amor de nossos entes queridos falecidos, sempre nos iluminando e nos amando aqui na Terra, naquele amor imortal de vó, sempre cobrindo os seus netos com uma majestosa capa estrelada, sempre abençoando seus entes encarnados, nesse mundo tão difícil que é a Terra. A pedra flutuante é um sonho, uma idealização, num mundo sem extremos climáticos, sem o problema da poluição, da miséria, das doenças, num mundo em que o Amor Incondicional é a regra eterna, como amar e ter pena de psicopatas, sendo estes pessoas que não veem além do Físico, além da pedra no meio do caminho de uma existência. A pedra é o percalço. Os copos de água são dois irmãos, ladeando um tesouro, como dois dobermans, ladeando algum tesouro cobiçado, como amigos meus, os quais colecionavam joias, e foram assaltados, com o ouro mundano que mais atrapalha do que ajuda.


Acima, Vassourinha. Óleo e folha de prata sobre tela. Aqui, temos vários “fantasminhas”, como no clássico videogame Pacman, com espectros perseguidores em um claustrofóbico labirinto, num jogador que tem que se preservar em meio a uma selva tão inóspita, nos desafios de qualquer game – qual o sentido de um jogo onde tudo é facílimo? É o espírito olímpico, aceitando desafios, esforçando-se ao máximo para vencer em meio a tantas vicissitudes, pois as dificuldades são o sabor da Vida, no áureo desafio que é a Encarnação, o que me remete a uma participante de um programa de competição do SBT, uma mulher que se chamava, de fato, Encarnação. Os fantasmas são como teias de aranha numa casa mal assombrada, como na formidável Mansão Assombrada num parque da Disney em Orlando, EUA, na candura do cartunista Mauricio de Souza em conceber personagem de terror, mas personagens que não assustam a criança, como o fantasma Penadinho, num adulto que consegue se expressar para as crianças, para as quais ou algo é do Bem, ou do Mal. No centro do quadro aqui, uma cruz, no cenário da morte épica do espírito mais avançado que já encarnou na Terra, um homem cujo legado mora nos conceitos, nos pensamentos que propagou, numa Humanidade que levou séculos para compreender tal importância, no poder de um homem em dividir a História em duas, no conceito do Amor e da Paz, acima da Raiva e da Guerra, pois nenhum homem de Tao simpatiza com armas, com bombas atômicas etc. A cruz é a passagem, é a migração interdimensional, na tentativa humana em compreender tal passagem, tal mudança, numa dimensão onde tudo é pensamento, tudo é conceito. Vemos aqui tesouras, que são a limitação, o tolhimento, como numa época de minha vida em que me permitir cercar de pessoas que me tolhiam, as quais, hoje, rechaço – vá tolher a sua avó, hehehe! A tesoura é a limitação do destino, como um grande costureiro tecendo as vidas, as existências. A tesoura limitadora é o fato de que todos estamos de passagem por este mundo, havendo um Lar, de fato, só a nível metafísico, nobre, duradouro, no poder imenso da Eternidade, como um presente de altíssima qualidade, o qual jamais perecerá. Então, prepare-se – você nunca vai findar. Não é um poder absurdo? As tesouras são a castração, no fato de que ninguém pode fazer absolutamente o que deseja, com a pessoa se deparando com uma certa dureza, como num material de divulgação do meu blog, material o qual enviei para seis jornalistas/colunistas – apenas um publicou a divulgação... São as limitações inevitáveis, fazendo com que a pessoa desenvolva contentamento, aceitando tais durezas como naturais na Terra. Vemos aqui dois copos fincados por duas facas. A faca é a Agressividade, a vontade incisiva de marcar, de se tornar visto, numa fome que deve ser constante, na questão da pessoa ter tesão de viver, sempre batalhando, nunca se atirando nas cordas do ringue da Vida. Estes paus que sustentam os fantasmas são o falo patriarcal, no qual a mulher sempre tem que estar num nível abaixo, como por exemplo o Monumento Nacional ao Imigrante, em Caxias do Sul, com o colono mais alto, forte e poderoso do que a colona – os gêneros são uma ilusão. Aqui, as facas repousam sobre um pouco de água, como aromatizantes de ambientes, no fascínio que as fragrâncias exercem sobre as pessoas, no prazer de estar perto de alguém cheiroso, como dizem que o médium Chico Xavier exalava tal perfume espiritual, no modo como as fragrâncias mundanas giram em torno de tal perfume comportamental – de que adianta uma moldura maravilhosa que emoldura um quadro ruim? As tesouras, então, cortam fora o que não é essencial, na limpeza minimalista, onde menos é mais. A cruz reina soberana, nas dúvidas existenciais cinzentas, num Jesus que, na dor da crucificação, creu ter sido abandonado por Tao, o Pai que jamais nos abandona.


Acima, Dalton Paula Enfia a Faca na Bananeira. Óleo e folha de prata sobre tela. A simetria aqui é quebrada pelo cigarro que imita um galho de árvore. O cigarro é o vício, numa pessoa que tece uma relação de Amor e Ódio com algo ou alguém. É como uma certa personalidade caxiense, a qual disse ter uma relação de Amor e Ódio com Caxias do Sul – querida, você tem uma relação de Amor e Ódio consigo mesma, pois Caxias do Sul não tem culpa. Vemos uma frondosa bananeira, exuberante como uma chamativa estrela, querendo chamar o máximo possível de atenção, como numa certa personalidade portoalegrense, uma pessoa autoassumida exibida. A bananeira é a Vida imponente, como num ecossistema tropical, vibrante, fascinando partes menos exuberantes do Mundo. É como uma exuberante cabeleira afro, no orgulho racial da pessoa aceitar a si mesma, na beleza de mulheres como a âncora televisiva Maju Coutinho, uma verdadeira Barbie negra. Ladeando a bananeira, dois cachos de bananas, no boom estelar de Carmen Miranda ao redor do Mundo, enchendo de cor e alegria um Mundo mergulhado nos horrores da II Grande Guerra, fazendo da sessão de Cinema um breve momento de fuga, no qual a Vida não era tão descolorida ou sofrida. As bananas são o produto da terra, a nutrição; são o objeto de consumo, num lar farto, onde nunca falta comida na mesa. As bananas são fascínio que a Tropicalidade exerce sobre o Mundo, como florestas tão cheias de Vida, tão exóticas, no poder das forças da Natureza, numa mão que, do mesmo modo que acaricia, agride, havendo tal contradição no Plano Físico, um lugar onde, definitivamente, nem tudo são flores, numa encarnação que tem que ser encarada com coragem, com coisas que só uma vida, só uma existência na Terra pode ensinar. Esta bananeira tem raízes fortes, que entranham na terra, como numa vida sólida, enraizada, numa pessoa realista, com os pés no chão, havendo só no Trabalho a fonte para tal discernimento, tal sensatez, no modo como, já ouvi falar, uma pessoa rica só pode se manter sã se trabalhar de algum modo, pois que Vida é esta em que nada faço? É como uma pessoa improdutiva que conheço, uma fofoqueira de marca maior, alguém que descuida de si mesma, e como posso ser feliz se não me cuido nem me gosto? Ladeando esta árvore, dois machados, talvez prontos para o abate, para o desmatamento, e o destino do vegetal está selado, num Ser Humano ainda tão dependente dos recursos naturais, nos esforços ambientais para a regulamentação, como no Casarão dos Veronese em Otávio Rocha, Flores da Cunha, RS, numa edificação restaurada na qual foi usada madeira nobre apreendida – só para constar, e casa de pedra foi construída por meu tataravô, o imigrante italiano Felice Veronese. Os machados estão aqui repousando, talvez angariando forças para o trabalho que segue; estão embebidos em água, talvez para que sejam limpos, como uma pessoa tomando banho e se arrumando para ir ao trabalho, numa pessoa com autoestima, uma pessoa que está a milênios luz de se tornar morador de rua, havendo neste uma pessoa que refratou a Vida em Sociedade, refugiando-se numa vida desregrada e indisciplinada – fugir da Vida tem um preço alto demais. O cigarro é a finitude, em algo que foi consumido e descartado, como nos hábitos de consumo humanos, numa demanda laboriosa que, para não cair na mesmice sem sentido, tem que ter uma pitada de sonho, de ambição, pois ninguém merece ser apenas dona de casa, como uma pessoa que conheço, uma pessoa fina e de bom gosto, mas que não tem uma atividade extralar, o que é um desperdício, como Andrea Bocelli cantando Atirei o Pau no Gato. Os cachos de bananas são majestosos cocares indígenas, no modo humano de encontrar na festa, na celebração e no extraordinário uma breve fuga das durezas diárias da rotina, como levar e buscar os filhos no colégio. A festa é um momento de desligamento, mas um momento que não pode ser perene, pois como há propósito numa vida em que só há balada?

Referências bibliográficas:

Dalton Paula. Disponível em: <www.premiopipa.com>. Acesso em: 10 jun. 2020.
Sobre. Disponível em: <www.daltonpaula.com>. Acesso em: 10 jun. 2020.

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