quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Adoro Doran (Parte 10 de 11)

 

 

Falo pela décima e penúltima vez sobre o artista gráfico inglês David Doran. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (1). Aqui é foco e concentração, remetendo a um videogame, essa febre que iniciou nos anos 1980 com o célebre Atari, na década em que o Japão começou a se tornar o gigante econômico que é – e um anão político! É o modo como os games podem ser viciantes, ao ponto da pessoa ficar muito tempo do dia plugada, ainda mais em hoje em dia com a Internet, possibilitando que pessoas joguem juntas estando uma em cada canto do Mundo, no modo como esta meninada, que nasceu nos anos 2000, mal faz ideia do que foi a Era Analógica e o que foram os games como Pacman e Pitfall, ou o game dos Goonies, baseado no filme febre sobre a aventura de um grupo de crianças, havendo para a minha geração, que nasceu entre os anos 1970 e 1980, uma grande e profunda memória afetiva por tal época. Aqui podemos ouvir o som da explosão, no modo como deve ter sido terrível para os novaiorquinos que testemunharam o som estridente de vidros despedaçados no 11 de Setembro, este momento em que ficou evidente a sede humana por destruição, muito, muito longe de Tao, o construtivo, na construção moral da carreira espiritual da pessoa, almejando a perfeição moral, ao contrário de tantos encarnados, os quais perdem tempo com malícia e ambições fúteis, como usar joias preciosas – não é que você não pode usar joias, mas você não precisa ser “escravo” delas, na revolução de Coco Chanel, estabelecendo que o que conta é o efeito, e não o valor econômico da peça, trazendo, assim, a era das bijuterias, na sabedoria do mestre Li Mu Bai, de O Tigre e o Dragão, mostrando, em sua profunda simplicidade, que um graveto de árvore pode ser tão eficaz quanto uma espada cara e valiosa economicamente, na sabedoria da simplicidade, a irmã da elegância, nas palavras de da Vinci: A simplicidade é o mais elevado grau de sofisticação, remetendo-me a uma publicitária que conheci, a qual me dizia do valor da humildade e da discrição, numa pessoa sempre adepta a fonte de letras mais simples, sem serifas complicadas, simples como as fontes do tipo Arial, por exemplo. Aqui são dois canhões mirando no mesmo alvo, na potencialização da violência, numa crueldade ao ponto de trazer a genialidade de Einstein para fabricar bombas terríveis, amplamente fabricadas pela ameaçadora Coreia do Norte, uma ilha em que o Comunismo agoniza, na insanidade das ditaduras, pois como um cidadão controlado pode ser feliz? No centro do quadro, vemos um sinal de interrupção, como num divertido anúncio televisivo, no qual o rapaz, que jogava com amigos pela Internet, perdeu o sinal, sendo interrompido, num comercial que visa vender Internet mais rápida, no absurdo contemporâneo, no qual podemos falar em tempo real, pelo Facebook, com alguém que está no Japão – é muita tecnologia! Aqui é uma pausa, como na Vida, a qual precisa de pausa, num momento de silêncio e meditação consigo mesmo, numa pessoa que, em crença espírita, consegue conversar mentalmente com entes falecidos, na dádiva da sensibilidade. Aqui é como um ataque covarde, como um sociopata cruel e cagão, com o perdão do termo chulo, covarde ao ponto de acuar alguém e acuar este com muitos outros homens, como na tentativa do diabólico Merovíngio em tentar eliminar o herói Neo, em Matrix, esta trilogia que tanto marcou época, um manifesto em favor da Liberdade e da Paz, no poder libertador da Arte, esta força que nos faz tão humanos e evoluídos – Arte e grosseria não combinam uma com a outra. As nuvens negras são o horror da Guerra, com as sombras de Mordor, a terra sombria de Tolkien, numa terra tão miserável, regida por um ente tão cruel, tão sedento por Poder – não é assim o Ser Humano? Aqui é um ambiente inóspito, árido, miserável, num líder insensível e deselegante, que investe tudo em armistício. Era como nos comícios de Collor, incitando a raiva nas multidões. Aqui, em contradição, é um ato que visa terminar a guerra, humilhando a nação japonesa na II Grande Guerra, num trabalho de reconstrução, como formigas incansáveis reconstruindo o formigueiro devastado, numa pessoa que percebe que perdeu tempo na Vida, querendo partir em busca do tempo perdido.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (2). O passaporte é a identidade, numa pessoa que quer se encontrar na Vida, nas palavras de Madonna sobre si mesma: “Quero descobrir quem sou”. E é no Plano Metafísico que atingimos tal ápice de identidade, na sensação fortíssima de que estamos construindo uma carreira indestrutível e maravilhosamente lógica e acalentadora, na questão do contentamento: Se estou feliz onde estou, estou bem. É como uma pessoa que tem que encontrar tal contentamento. Neste divertido passaporte, temos um “espião”, uma pessoa disfarçada, infiltrada em algum cambalacho mundial, querendo burlar os sistemas de segurança, metendo-se numa fria, pois ao ser flagrado com passaporte falso, é prisão na certa – não é um grande crime se fazer passar por outra pessoa? Que identidade tem um trambiqueiro em falsidade ideológica? Não é o apuro moral que nos mostra quem somos de fato? Não é bom andar sempre na linha? Aqui é um passaporte da União Europeia, na ironia de ser feito por um Doran inglês, ou seja, cidadão de um país que deixou ruidosamente a Zona do Euro. Esta obra de Doran, remete aos programas televisivos de traficantes de drogas sendo presos em aeroportos em flagrante, os chamados “mulas”, pessoas aliciadas pelas forças sombrias do tráfico internacional de drogas, tudo pela promessa de dinheiro fácil, com traficantes que dizem aos mulas que tudo ficará bem e que as drogas jamais serão detectadas pelos controles aeroportuários, havendo no traficante de drogas a grande expressão de sociopatia, num traficante que, acima de tudo, quer dinheiro, não importando os meios de se obter tal dinheiro, num traficante que pouco de importa com os danos irreparáveis das drogas nos usuários e nas vidas desses usuários, numa pessoa que, absolutamente sem Amor em seu sofredor coração egoísta, mal se importa com o bem estar do usuário, num traficante que realmente não entende que são operações ilícitas e passíveis de rigoroso punição judicial, num crime inafiançável. Esta pessoa aqui é a discrição, numa pessoa que está descobrindo o valor de não ser um showman, um exibidinho, pois ninguém, no fundo, respeita do showman. Aqui é nessas pessoas as quais, apesar de públicas, são tão discretas, como num Luis Fernando Verissimo, o qual vi certa vez passeando num shoppping em Porto Alegre, pacatamente passeando, sendo assediado por pessoas querendo tirar uma selfie com o célebre escritor – eu, por outro lado, respeitei Verissimo, sem assediá-lo. O pulso do controlador de entrada de passageiros é firme, rígido e extremamente sisudo, sempre procurando detectar pessoas de má fé, as quais usam documentos falsos e subestimam a inteligência dos controladores de fronteiras. Este passaporte é “furado” e transparente, pois o fundo da fotinho entra em harmonia com o fundo da parede atrás, num efeito de leveza, de harmonia cromática, numa pessoa que aprendeu a serventia de ser como um camaleão, bem discretinho, sempre sem ser visto por predadores, sempre sem ser visto pelas presas, na capacidade de reinvenção de grandes artistas, atores que se “desfiguram” para ver fazer um papel, abrindo mão das mundanas vaidades, em atores que, ficando assim irreconhecíveis, são invisíveis perante o personagem, ganhando o respeito da Academia de Hollywood – quando vemos um ator bom na tela, não vemos o ator, mas o personagem. Aqui é como uma pessoa famosa, como um príncipe inglês, tendo que caminhar na Rua escoltado por seguranças, nas palavras da Rainha da Inglaterra: “Meus netos não irão alugar algum sem guardacostas”. É o modo como a fama pode ser tal prisão, numa pessoa que, de tão famosa, mal pode passear na Rua em paz. Aqui é como uma discreta Meryl Streep, num estilo de vida tão pacato, muito longe da frivolidade do mundo de vaidades das celebridades, num genial Woody Allen, tendo este expressando todo o seu próprio desprezo pelo stablishment das celebridades – que classe, que cabeça.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (3). A costura é o trabalho paciente, como numa grande atriz que conheci pessoalmente, e quando a ela perguntei qual era sua técnica para compor os personagens, a atriz me disse: “Paciência para ir desdobrando o personagem”. É o trabalho delicado de cozer, com esses czares da Moda, pessoas que tanto ditam estilo ao redor do Mundo, causando comoções em mulheres que gostam de se sentir belas e elegantes, no fato de que beleza vem de dentro – é a completa contramão do estilo achar que só posso estar bem se vestir roupas caras, e é tudo uma questão de critério e simplicidade, sem afetações fúteis e pernósticas. As delicadas mãos da costureira estão já “calejadas” e adaptadas ao labor, numa pessoa perfeitamente adaptada. Há dois tipos de artistas cantores: para uns, é uma questão de vida ou morte escolher o que vestir para pisar no palco; para outros, como o roqueiro Eddie Vedder, é só colocar uma roupa com a qual o artista se sente confortável – como as pessoas são diferentes umas das outras! É o caminho de identidade, até a pessoa ver que, como espírito, é única, uma joia eterna, muito além de qualquer joia mundana, as quais são cópias da plenitude da Vida Eterna. O botão costurado aqui é um smiley, um famoso rostinho sorridente, que é o contentamento, numa pessoa que quer encontrar paz em seus dias na Terra, pois como posso estar feliz e em paz se odeio a cidade na qual vivo? A pontuda agulha aqui é o foco, o objetivo científico, o estabelecimento de escopo, algo ensinado na Academia de qualquer curso universitário, formando nossas elites, as pessoas cujas inteligências pairam acima das mediocridades ignorantes, como alunos excepcionais, respeitados pelos professores, alunos aplicados e esforçados, que fazem bons trabalhos e enchem de orgulho o professor. A camisa aqui está impecavelmente passada e engomada – é a disciplina, como num atleta, o qual se exercita com disciplina, mesmo se naquele dia seu coração não estiver disposto ao exercício rotineiro, e também a disciplina alimentar, num atleta que raramente se dá ao luxo de comer uma deliciosa e tentadora caixa de bombons, os quais, convenhamos, são divinos pecadinhos, nos deliciosos doces metafísicos, os quais não engordam – Jesus, que milagre! Aqui, a sala, a oficina de costura está imersa num total e absoluto silêncio, num momento de concentração, e mal podemos ouvir um farfalhar das roupas, num barulho tão mínimo, como um apartamento de Gramado, RS, que conheço, o qual, apesar de ficar a uma quadra e meia do movimento da vibrante urbe turística, é um apartamento retirado e silencioso, com uma formidável vista para um mata atlântica virgem, algo inusitado para mim, um cidadão de uma “selva de pedra”. Aqui é minha falecida avó materna, a qual, na parte da tarde, costurava em seu pequeno atelier, e nunca vou esquecer a palavra da querida avó, a qual mostrava a mim seus velhos dedos dizendo: “Estas mãos foram úteis ao Mundo, pois com elas lavei, passei, costurei e cozinhei!”, e o Mundo não pertence aos trabalhadores e dignos? Cada trabalhinho não faz parte da construção da grande carreira espiritual? Esta carinha sorridente é excepcional, e está feliz, diferente dos outros sisudos botões, no modo como, infelizmente, não são todas as pessoas que são felizes, como num Getúlio Vargas, o qual, apesar de ter tido tamanho poder mundano, tirou a própria Vida, num ato de desamor completo; num ato de autoestima destruída. Como posso ser feliz e ter paz se quero me matar? Aqui, o bolso da camisa é a reserva, como numa pessoa persistente, que vai juntando um dinheiro para realizar algum sonho de consumo, como um carro ou um aparelho eletrônico, no conto da formiguinha e da cigarra, na formiguinha que passou o Verão fazendo suas reservas, ao contrário da cigarra, a qual cantou o Verão inteiro, sendo acolhida pela formiga, a qual considerou que o canto da cigarra trouxe alegria à estação mais quente, na busca da cigarra por identidade.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (4). As linhas pontilhadas são as regras e a disciplina, num professor chamando a atenção de um aluno para um assunto sério, numa caneta de tinta vermelha, caneteando provas e corrigindo erros, no modo como um aluno aplicado é o que dá sentido à carreira de qualquer docente. O cenário aqui é nosso sistema solar, nosso lar físico, a Natureza cósmica, na forte hierarquia gravitacional: luas giram em torno de planetas, que giram em torno de estrelas, que giram em torno de centros galácticos. É o modo como o Ser Humano, em infância, está muito longe de desvendar os segredos do Universo, pois a velocidade da luz, apesar de parece tão veloz – dá sete voltas ao redor da Terra em um segundo –, é absolutamente vagarosa em medidas cósmicas, e só num futuro muito distante a Humanidade encontrará meios de manipular Tempo e Espaço para dar mais velocidade a viagens cósmicas. Aqui é como uma família heterogênea, como na unificação de um país tão heterogêneo como a Itália, com cada região tão singular, tão cheia de cultura própria. O fundo escuro aqui é o Universo Inobservável, ou seja, corpos celestes que, de tão longínquos, estão a bilhões de anos até fazer com que sua própria luz chegue aos supertelescópios humanos na órbita terrestre. É um mistério, no mistério da Vida, no mistério como a Vida surgiu na Terra, no modo como o Universo Físico é tão escuro, vasto e frio, em vazios de vácuo que fazem com que o Universo seja absolutamente translúcido e relativamente observável. Vemos aqui Marte, o deus da Guerra, do sangue derramado, com Caim matando Abel, numa sede insana de um Napoleão, louco em sua sede, querendo dominar Tao, na arrogância do Ser Humano em se achar mais do que o próprio Pai, num Napoleão sem sentido, sem nexo, num ser humano que perdeu a oportunidade de ficar quieto no seu canto e viver em Paz e humildade, rejeitando o maldito Anel do Poder de Tolkien – é a sedução do Anel, do Poder, numa sede que não faz sentido, pois fere a Paz, e como posso ter prazer em morar em uma vizinhança na qual os vizinhos estão sempre em pé de guerra? Aqui a Terra é a singularidade, talvez num planeta que não tenha igual em todo o Universo, num planetinha tão ínfimo e maravilhoso, um lindo pontinho azul se visto à distância no Espaço. Aqui é a questão da personalidade, do espírito, em famílias que tem filhos tão heterogêneos, tão diferentes uns dos outros, apesar de serem filhos que vieram da mesma barriga, dos mesmos genitores, filhos criados debaixo do mesmo teto, sob os mesmos valores – há características que são figura da pessoa, pois é a questão do espírito, e Tao nunca faz um filho igual ao outro, amando todos incondicionalmente, no título do hit da formidável Gaga, uma das artistas mais notáveis da História: “Nascido assim”. As linhas aqui são a intenção humana em estabelecer ordem e encontrar lógica no caótico Universo, como nas Leis da Física, em leis gerais, como a Seleção Natural, com seres lutando para sobreviver e legar sua genética aos descendentes, como num pássaro o qual, se não for esperto para fugir de predadores, não legará genética a pássaros descendentes. Num dos cantos, vemos um balãozinho de pensamento, no modo como Pensamento é tudo e Matéria é nada. Vemos aqui então um pulso de pensamento, numa pessoa inteligente e questionadora, gravitando acima de irracionais mediocridades, mostrando que os ignorantes vivem suas vidas sem ter noção de suas próprias existências – preciso saber de mim mesmo. As reticências no balão são essa dúvida, num Ser Humano cuja ciência ainda tem tantos questionamentos, num questionamento que diz que Alá é grande: Por que o Universo é tão, mas tão vasto? E um espírita dirá: “Deus é o infinito”, e o infinito está MUITO ALÉM da compreensão humana. É como um certo padre transgressor, o qual teve inocentes intenções sincréticas na universalidade das religiões, talvez num padre com alma de artista. Aqui é o caminho sapiente humano, rejeitando o terraplanismo, no respeito que temos que ter pela Ciência e pela inteligência das pessoas.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (5). A fascinante cultura popular chinesa, com seus dragões. O dragão é vida, é algo que pulsa e arde junto à Arte, fluindo sensualmente como os quadris de uma topmodel, no poder da água fluindo, alimentando o Mundo, nesta fascinante máquina autossusutentável que é a Terra. O dragão é o termo “monstro”, para designar pessoas notáveis, de brilho avassalador, bruxos, por assim dizer, pessoas que causam perplexidade e são consideradas fenômenos, algo muito raro na Terra, pois a pessoa fenomenal é desinteressada, e é blindada em relação às vulgares ambições mundanas e humanas, e, infelizmente, tais bruxos são exceção, raríssima exceção, pois o Ser Humano, em geral, quer uma única coisa: PODER. O fundo rosa aqui é sensual e feminino, como me disse um senhor amigo que frequentava bordéis, narrando as cores da decoração do cabaré, com cores carnais, “cheirando a sexo”, nas palavras deste senhor. É a icônica foto de uma jovem Monroe nua deitada em cetim rosa, nas pétalas de rosa rubras de Beleza Americana, na líder de torcida seduzindo um senhor de meia idade, na sedução de um homem apaixonado dando rosas rubras à amada, talvez num casamento em que os cônjuges não permitem que tudo caia na rotina e que o calor na relação esfrie, pois casamento é assim – todos os dias, com coisas simples, como um beijinho ou um abraço, temos que reconquistar tal cônjuge, pois o melhor da Vida é de graça. O dragão aqui arde como uma cruel fogueira de Mary Tudor, queimando vivos os protestantes, numa regente absolutamente sem a capacidade de entender o que é respeito à diversidade, fazendo algo cruel o qual Jesus JAMAIS faria. As garras do dragão são incisivas, precisas, num psicoterapeuta fazendo um dolorido e preciso diagnóstico, vendo com clareza o que aflige o paciente, nessa capacidade da pessoa em enxergar dentro da pessoa, como um bom e velho amigo, o qual sabe pelo que nós passamos, no Amor expresso na compreensão. O dragão flui fortemente como uma musculosa serpente, neste animal tão minimalista e elegante, numa gata em cio se contorcendo, louca para acasalar, como num adolescente com os hormônios à flor da pele, masturbando-se ensandecidamente, nas palavras de Marta Suplicy: “É perfeitamente normal o adolescente que se masturba dez vezes por dia!”. Aqui é como uma centopeia, caminhando tortuosamente, na sabedoria popular: “Deus escreve certo por linhas tortas”, ou seja, não há bola de cristal para sabermos exatamente como as coisas acontecerão em nossas vidas; só podemos ter uma ideia vaga, com surpresas que nos aguardam nas “esquinas”. Num detalhe discreto, uma águia voando, que é a liberdade, num cidadão feliz em um país civilizado, no qual o regente respeita a inteligência de seu súdito, nunca querendo reprimir este – como pode ser respeitoso um líder que me oprime e que me trata como lixo? A águia é a simplificação da racionalidade, com abreviações e charadas sendo friamente desvendadas, na beleza fria dos números, e Tao é simplesmente isso, o Pensamento Lógico, em toda a fabulosa sofisticação matemática, esta matéria que os alunos na escola tanto odeiam, uma matéria que deveria ser adorada pela Humanidade, partindo do simples princípio: depois de 1, vem 2 etc. O dragão e a águia estão aqui conversando, numa espécie de negociação, na capacidade do diálogo, da ponderação e do trato diplomático entre cavalheiros, na elegância no fio do bigode, pois quando a polidez de Tao se perde, a insanidade bélica toma o controle, gerando confusão, com países em plena paranoia, elocubrando o que o inimigo fará, numa experiência sequeladora, com rapazes que, ao voltarem do serviço militar, não conseguem se ressocializar completamente. A águia é esta deliciosa libertação, na sensação redentora de se chegar em casa e retirar a máscara higiênica, numa sensação de lar, de liberdade, nas palavras do hino americano: “Terra dos livres; lar dos corajosos”. O dragão me remete a um par de dragões que tive, os quais não mais me pertencem: vão-se os anéis...

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (6). Aqui remete ao formidável Festival de Balonismo na cidade serrana gaúcha de Bento Gonçalves, numa variedade colorida de máquinas subindo aos céus, algo não recomendado para quem tem vertigem, é claro. Aqui é tal efeito de leveza, como num avião, o qual voa apesar de ser mais pesado do que o ar. É uma competição, no modo como as competições promovem tal espetáculo público, algo muito universal, como nas lutas entre homens em tribos amazônicas, na universalidade humana em torno de ritualizações de Yin e Yang – os homens fazem coisas mais agressivas; já, as mulheres fazem coisas mais delicadas, como coletar alimentos na floresta, é claro, cuidar das crianças, na universalidade do patriarcado, o qual sempre considera uma mulher um cidadão de segunda categoria, tendo que ser sempre representada e respaldada por um homem, como Eva, a segunda ação, a ação secundária de Deus, cuja obraprima é Adão, no termo feminista crítico: “O segundo sexo”, ou seja, na coragem de uma feminista em pensar “contra o vento”, como numa jovem moça feminista que conheço, a qual diz: “Que machismo estas festas de quinze anos de moças, nas quais o pai exibe a filha como se esta fosse um pedaço de carne!”. Os balões aqui são os sonhos, numa pessoa que sonha com uma carreira brilhante, como um senhor que conheço, o qual se frustrou como ator, sepultando quinze anos de persistência na carreira de ator, considerando que não chegara nem perto do que sonhava chegar, abraçando, assim, uma carreira de advogado, e tudo o que eu desejo é que este senhor seja feliz com a escolha que fez – todos temos o direito de “dar uma sacudida na poeira” e dar uma guinada na vida. E não há, todos os dias no Mundo, sonhos e sonhos que se despedaçam? As coisas não são frequentemente uma avenida de sonhos despedaçados, na qual vagamos frustrados e deprimidos? Desculpe a sinceridade que aqui expresso. Uma pessoa humilde, com os pés no chão, nunca de frustra, pois, não canso de dizer, a arrogância precede a queda. O céu aqui é perfeitamente limpo e azul, num céu de sonhos, num céu de colônia espiritual, sempre radiante, limpo e inspirador, no modo como a orla, o veraneio na praia, no sensual vazio da areia da beiramar, pode tanto nos inspirar, na magia do vazio de Tao, aquele sobre o qual não é possível falar, por mais que falemos dele! É como um cometa, um gelo gigantesco largando lenta e gradualmente seu rastro no céu. Os balões aqui têm estampas, e eles procuram por este processo de identidade, de diferenciação, como a personagem Mulan, de Disney, a qual resolve ir à guerra e assim traçar uma identidade, no modo da pessoa saber quem a mesma é, podendo, finalmente, viver em paz consigo mesma e com o Mundo, e o Mundo não é dos calmos e ponderados? Não é um inferno não gostar de si mesmo? Entre estes balões, há um distanciamento respeitoso, como num trato entre regentes, num rei que nunca cobiça o território alheio, no famoso mandamento moral: “Nunca cobice a mulher do próximo”, um mandamento que, apesar de machista, é sábio. Aqui é um desafio à Lei da Gravidade, esta força que rege os corpos celestes e organiza o Cosmos, em algo tão simples, mas que levou milênios para ser entendido pelo Ser Humano. Os balões, em sua competitividade, são como espermatozoides lutando pelo cobiçado óvulo, como numa taça de torneio, com competidores sedentos por tal vitória, no divertido filme de Woody Allen sobre Sexo, em que o próprio cineasta interpretava um espermatozoide em tal ambiente de alta competição, como no mercado de trabalho, ou no “canibalesco” mercado de modelos de Moda, numa competição atroz, com poucos trabalhos para muitos pretendentes, com um querendo “devorar as tripas” do outro, como disse um divertido professor meu no Ensino Médio, num mandamento que acaba sendo mandamento na prática: “Devorai-vos uns aos outros!”. Aqui é um mágico domingo ensolarado, no dia de descanso no qual até Ele descansou, no modo como, em fins de semana e feriados, a pessoa deve se obrigar a NÃO trabalhar – não seja workaholic.

 

Referência bibliográfica:

 

David Doran. Disponível em: <www.ba-reps.com/illustrators>. Acesso em: 29 set. 2021.

Nenhum comentário: