quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Andanças de Andrew (Parte 3 de 4)

 

 

 Falo pela terceira vez sobre o pintor realista americano Andrew Wyeth. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Agitação na neve. Aqui é uma escassez, numa moderação taoista – tudo o que é demais, enjoa. Aqui é a necessidade de contentamento, numa pessoa que vê que tem que se contentar com o pouco que tem, ao contrário do rei ambicioso, sempre querendo anexar os reinos vizinhos, desrespeitando o mandamento: “Não cobiçarás a mulher do próximo!”. Aqui é como o brando inverno californiano, muito diferente dos invernos americanos em geral, cheios de neve, como numa Nova York, na qual, em dias de muita neve, a prefeitura orienta o novaiorquino a simplesmente não sair de casa. Aqui é um ermo, num momento de retiro, de reclusão, como num encarceramento ou numa encarnação, numa pessoa que tem que cumprir toda uma agenda antes de retornar ao Lar Primordial, no feliz modo como os vínculos de família não se dissolvem com o Desencarne, ao contrário dos outros animais, como num filhote, o qual, após crescer, abandona os pais, com nossos entes queridos nos iluminando do Céu, mesmo um bisavô o qual não conhecemos em vida, na Grande Família Metafísica, a qual inspira as cópias mundanas, que são as famílias de realeza, como uma bijuteria que imita uma joia, ou uma planta artificial – por mais bela que seja, não é planta de verdade, e sim uma cópia mundana. Aqui temos uma vastidão, no encanto que os campos exercem sobre quem é da “selva de pedra”, da cidade, na incrível vastidão cósmica, o exemplo do poder imensurável de Tao, com galáxias as quais, de tão distantes, sequer até hoje foram detectadas pelos telescópios humanos, na incapacidade humana em compreender o Infinito, no grande presente que é a Vida Eterna, no incrível fato de que jamais findaremos, nos preceitos dialéticos: Tudo é processo, tudo é transformação, tudo é crescimento, como num pai orgulhoso no dia da formatura do filho, no modo como todos estamos predestinados à excelência de Arcanjo, os espíritos perfeitos que gozam da suprema felicidade, espíritos que têm a nítida, sólida e indestrutível noção de que somos todos príncipes, filhos do mesmo Rei, no caminho de primar pela Paz, em incansáveis esforços diplomáticos para evitar as lamentáveis guerras, num Ser Humano tão aguerrido e infeliz, deixando cruéis rastros de fome e destruição, num Brasil paupérrimo, com milhões de cidadãos que passam fome – é um horror. Aqui é o momento em que a Vida hiberna, num urso acordando faminto após a hibernação, refestelando-se em saborosos salmões num rio, remetendo à Culinária Japonesa, da qual sou fã, fazendo da Gastronomia uma das provas da universalidade humana, no modo como a Pizza ganhou o Mundo. Aqui remete às modestas nevadas na Serra Gaúcha, as quais tanto fascínio exercem sobre o turista em Gramado, a cidade de excelência turística, sempre empenhada em encantar o visitante, como nos deslumbrantes parques temáticos de Orlando, EUA, em experiências emocionantes, que mexem com a mente do visitante, em lugares que fazem com que nos sintamos crianças novamente. Aqui a neve escassa cai como açúcar sobre um bolo, no gostoso pecadinho capital da Gula, no maravilhoso modo como, no Plano Metafísico, há confeitarias deslumbrantes, num pecadinho sem culpa, como no gostoso pecadinho da Preguiça, do qual nasceram grandes invenções humanas, como a Roda – por que sofrer carregando algo se posso movimentar tudo sobre uma carroça com quatro rodas? Aqui a neve é vestigial, como num detetive desdobrando um crime, querendo encontrar a verdade de evidências, num paciente trabalho de quebracabeça, como na Pedra da Roseta, pela qual os historiadores puderam decodificar uma língua morta, que é o egípcio faraônico. Muito ao fundo no quadro vemos uma colina alva, cheia de neve, por ser mais elevada, no fascínio exercido pela Serra do Rio de Janeiro, abrigando a Família Imperial, a qual foi humilhada e despojada de qualquer poder simbólico, uma lástima, pois o Brasil não foi encontrado numa “lixeira”; o Brasil tem uma história e uma proveniência. Aqui é a vastidão de um reino, no caminho de saúde de um rei, inspirando-nos a encher os pulmões de ar e agradecer por termos saúde.

 


Acima, Botas do mar. A pirâmide é a forma mais estável de estrutura que existe, de formato agressivo, abrasivo, mas palavras de um psiquiatra o qual aprendi a respeitar: “Tens que ter mais agressividade, pois vives num Mundo competitivo”, como nas palavras de motivação de um treinador esportivo, numa autoridade que tem que ser respeitada, como na figura central de um diretor num set de filmagem. A pirâmide parece furar o Céu, nas ambições da Torre de Babel, desafiando limites, em sonhos apolíneos de Engenharia, na competição fálica para ver qual país tem o prédio mais alto do Mundo. A pirâmide é essa simplicidade de sofisticação, nas palavras do mestre da Vinci: “A simplicidade é o mais alto grau de sofisticação”, na deslumbrante simplicidade da Brasília de Niemeyer, numa limpeza, no prazer de se estar numa sala limpa e perfumada, aproximando-nos da impecável limpeza metafísica, na beleza fria dos números, na frieza racional do Yang, a simplicidade que desconstrói e simplifica, como na resolução de uma equação, a qual, num primeiro momento, pode parecer complicadíssima, mas, na resolução, tudo é simplificado e colocado da forma mais clara e limpa possível, na força da aurora, na beleza da Terra da Estrela da Manhã, com um anjo amigo nos conduzindo para tal lugar, o qual faz com que não desejemos estar em qualquer outro lugar do Universo, na beleza de uma revista de decoração, no elegante Sol de uma região serrana, elevada, no conceito inédito do Reino dos Céus, de Jesus, um homem de pensamento poderosíssimo, na vitória da inteligência e da sofisticação sobre a brutalidade e a grosseria, num homem que dividiu a História em duas. Aqui é uma paisagem desértica, num Egito cuja fonte de Vida era o Nilo, tanto para beber água quanto para que as cheias enchessem as margens de material de adubo, no modo como a Água é como Tao: Sem cor, sem forma, sem cheiro, sem odor e, ainda assim, deliciosa, pois é eterna, pois os sinais auspiciosos parecem ser saborosos, mas nada são, no modo como é possível detectar claramente um quadro de sociopatia, numa pessoa que, simplesmente, identifica-se com o Mal, como dois professores que tive, dois sociopatas de marca maior – ignore tais mentes diabólicas, pois os sociopatas, apesar de estar em ter nós, não minoria. As pirâmides têm tal tom futurista, apesar de terem sido feitos há tanto tempo, alimentando as crenças de que a Humanidade recebeu, no passado, um “empurrãozinho” civilizatório de raças alienígenas mais evoluídas, numa espécie de colonização, assim, como as colônias britânicas ao redor do Mundo, num esforço civilizatório, de crescimento intelectual – a ancestral cidade de Teotihuacán, por exemplo, tem um incrível design futurista, remetendo à simplicidade da Arquitetura Modernista, com suas linhas simples, racionais e limpas, no modo como a Revolução da Escrita tirou o Ser Humano do Neolítico, como nas tribos amazônicas, sem escrita. As botas aqui são um abandono, algo deixado para trás numa contenção de despesas, remetendo a uma divertida pitada de irreverência do pintor italiano Aldo Locatelli, num dos quadros da Via Sacra que pintou, com Jesus sendo surrado com um pé de sapatos, no fato de que, na época de Jesus, não existiam certos artefatos, como na transgressão do filme Maria Antonieta, num tênis da marca All Star no guardarroupa da monarca francesa. As botas são o abrigo, numa pessoa se agasalhando para sair de casa num dia frio, numa preparação, como num folião se preparando para um baile de Carnaval, caprichando em sua fantasia, no “mico” que são as festas à fantasia, num momento em que todos se sentem ridículos. As botas são uma longa caminhada, numa pessoa que sabe que não se vai de zero a cem num piscar de olhos, na sabedoria de quem vai a “passos de bebê”, num trabalho de construção, num prédio que não se faz da noite para o dia. As botas são o sinal de uma caminhada, num calçado calejado por tal travessia. As botas são como a vestimenta do gaúcho, na lei estadual gaúcha de que a pessoa “pilchada”, trajada tipicamente, pode entrar em qualquer lugar, até num baile de gala.

 


Acima, Filho de Albert. O rapaz é a juventude, uma inexperiência, numa idade em que ainda não levamos muitos tombos na vida, numa natural “arrogância”, num jovem que acha que percalços são só para os outros. A camisa desabotoada é um bem estar, algo reconfortante, numa pessoa se sentindo à vontade, talvez na casa de um bom anfitrião, remetendo às socialites, pessoas que, no frigir dos ovos, não trabalham e nada produzem, no modo como uma Paris Hilton pode ser tão desrespeitada, apesar de rica e aparentemente feliz, nas palavras de Woody Allen sobre uma personagem socialite: “Ela é fútil! Ela é burra! Ela é louca!”, como um certo rapaz socialite, cujo nome não mencionarei, uma pessoa que é um “robert”, ou seja, na gíria, uma pessoa que quer, acima de tudo, aparecer, sem necessariamente mostrar algo de produtivo, no grande engano de se acreditar de que se pode conquistar, sem trabalho, o Mundo, no termo “perua”, para designar mulheres as quais não merecem o profundo respeito de outrem, como em Sex and the City, desculpe se vou ser blasé agora, mulheres dondocas e loucas, só pensando num grande guardarroupa, nas palavras do cantor Fábio Jr.: “Cansei de tentar entender as mulheres. As mulheres são loucas!”. Ao fundo vemos uma grade, uma prisão, na prisão de carne que é uma encarnação, numa prisão, é claro, temporária, mostrando-nos que temos que fazer algo de produtivo aqui na Terra, sendo equivocada uma pessoa que nunca se centrou na Vida, uma pessoa tal qual um saco plástico na Rua, ao sabor do vento, numa sensação de fragilidade e vulnerabilidade, ao contrário de um homem que conheço, o qual é um homem pragmático e centrado no trabalho, mas um homem que foi rejeitado pela própria esposa, a qual se deu conta de que se casou com um homem pouco romântico, um “Radicci”, o personagem grossão do genial cartunista Carlos Iotti, sendo este um artista que foi injustamente desligado de suas atividades no Grupo RBS, ao qual pertence o jornal Zero Hora – que mundo duro! Aqui é como um prisioneiro contando os dias para a soltura, remetendo a uma roupa de Madonna no set quando a estrela resolveu ser diretora de Cinema, uma roupa com os tradicionais riscos verticais riscados por um risco diagonal, no prisioneiro contando os dias para sair da indesejada prisão – se queremos que algo passe logo, é porque não estamos encontrando muito prazer ali, numa Madonna que não foi longe na carreira de diretora, pois cada um com suas carências. O rapaz contempla um vasto campo, talvez num sonho de herança, nas vastas terras dos Pampas, como se o capim fosse um vasto carpete cobrindo planícies e colinas, na beleza dos campos, uma beleza ignorada pelo Ser Humano, que só contempla os palácios, num Ser Humano eternamente hipnotizado pelos sinais auspiciosos, como numa tediosa e insignificante ala vip de boates, quando que a festa acontece, de fato, longe dali, no coração da pista de dança. O cabelo quase raspado é a disciplina, talvez na rigorosa disciplina militar, talvez num rapaz que foi pego para servir num quartel, na rigorosa hierarquia militar, brutal, seca, por vezes desumana, muito distante da hierarquia espiritual, a qual nunca é imposta com o emprego de força, numa hierarquia baseada em apuro moral, fazendo com que façamos questão de obedecer. A cena aqui é de Verão, ao contrário dos tantos cenários invernais de Wyeth, em doces lembranças de praia e piscina, no doce momento de férias, na magia do último dia de aula, como num momento de merecido desencarne e descanso, num dia ensolarado, cheio de amigos, numa criança sem estudar, apenas com seus brinquedinhos, no fechamento de um ciclo, numa sensação de dever cumprido, de missão cumprida, como no velório de uma pessoa de elevação espiritual, num velório em que se sente no ar o clima de missão cumprida, como no funeral de minha querida avó Nelly, um dos corações mais amorosos que já vi em vida, no maravilhoso modo como tais entes nos iluminam lá de cima, sempre, na imortalidade das famílias. O menino é a juventude eterna, numa vida plena, sem as vicissitudes terrenas.

 


Acima, Henry Teel. Aqui é um momento de solidão saudável, de retiro, num momento silencioso, num homem num dado momento de contemplação, no modo como a Vida não pode ser só labor, mas um pouco de contemplação também, como num cidadão passeando por um shopping no fim de semana. A mesa é o momento da refeição, da alimentação, no momento em que fazemos algo tão básico, que é a alimentação, essa coisa tão comum aos seres vivos, como num restaurante fino, dentro do qual realizamos algo tão básico à Vida, no prazer de uma refeição bem servida. Aqui a casa está em ordem, apolínea, limpa, no esforço de uma dona de casa em manter a casa na mais perfeita ordem, confrontando o marido dizendo a este: “Eu me matando para manter esta casa limpa e organizada!”, no momento em que o Yin se sobrepõe ao Yang, na Vênus entorpecendo Marte, na vitória da Paz sobre a Guerra. A luz entra suave na cena, no talento de um diretor de fotografia num filme, deixando a luz entrar da forma mais bela possível, na capacidade de certos filmes, em obter tal efeito de beleza, na etérea luz dourada da Argentina, nos louros cabelos de Evita, a primeira dama que provou ser algo além do que uma mera dondoca, numa carreira vertiginosa, tornando-se tudo o que se tornou em apenas cinco anos de vida pública, numa Evita aguerrida, a qual não conseguia imaginar a vida sem inimigos, numa figura tão controversa, amada pelo proletariado e odiada pelo resto da sociedade, numa Evita que cultivava inimigos tais quais repolhos em horta. O homem aqui é a experiência de vida, em rugas que contam uma história, nos padrões femininos de beleza, nos quais qualquer ruga em mulheres seja perniciosa, no machismo de exigir que uma mulher não carregue traços de experiência de Vida, ao contrário do Homem, no qual rugas, cicatrizes e marcas de expressão são consideradas interessantes e pertinentes, no mito da Virgem Maria, a mulher sem história, jovem e virgem para sempre, na capacidade do Patriarcado em castrar qualquer sinal de sexualidade na mulher, enfurecendo as feministas, as quais provam que uma mulher pode ser tão boa quanto qualquer homem, na capacidade de uma feminista em ir “contra o vento” e desafiar os preconceitos patriarcais. Aqui a mesa está recolhida, sem pratos ou copos, num momento de saciez, no qual a pessoa não quer ser alimentada, mas num momento de retiro e contemplação, numa pessoa com seu direito de ir e vir, passeando em paz num parque, sentando na grama e tomando um chimarrão, no redentor momento da happy hour em que gravatas são afrouxadas e um drinque é bebido depois de um dia de sisudez e obrigações, num relaxamento que nos mostra que a Vida não é só labor, com o próprio Deus repousando no sétimo dia da Criação, no colono italiano no RS, o qual só não trabalhava no Domingo porque a religião não permitia, no modo como a Vida não recompensa o laborador obsessivo, o qual só trabalha e não vive, num caminho masoquista no qual a pessoa simplesmente não se permite ter prazer, na escura culpa católica em relação aos prazeres da Vida, como a Preguiça ou a Gula, num Niemeyer que projetou a Catedral de Brasília fugindo das cores escuras da culpa e do pecado, no modo como a Vida não é só sisudez, mas um pouco de prazer também, como tomar um doce vinho do Porto após uma refeição. Aqui as cortinas esvoaçam-se suavemente na brisa que vem da Rua, num momento de placidez e de doçura, na capacidade da pessoa em contemplar a Vida de tal forma simples e desapegada, na languidez de uma tarde preguiçosa, no desejo de fugir do Mundo, deitar sob uma árvore e nada fazer, no modo como as durezas da Vida podem ser tão estafantes. O cômodo está limpo e organizado, numa vida colocada em ordem, centrada, em algo centrado no trabalho, na necessidade da pessoa em se centrar, encontrando um norte existencial, no modo como é miserável a vida de uma pessoa que não é centrada. Aqui é um doce nada a fazer, na canção: “Que tal nós dois numa banheira de espuma?”. A Vida não é só siso.

 


Acima, Planície de inundação. Temos um acidente, um imprevisto, como num terrível acidente de carro que sofri certa vez com minha família, num choque tenebroso, impactante, traumático, na lamentável modo como são comuns os acidentes automobilísticos. Aqui temos esta paixão de Wyeth pelo Inverno, e podemos sentir o frio nas telas, num vento cortante que faz despencar a sensação térmica, no frio que tantos turistas atrai para o eixo Gramado-Canela, num frio tão inusitado para quem vem de partes mais setentrionais do Brasil, como certa vez vi em Gramado moças de Manaus, AM. O caminho aqui é a trilha, numa pessoa que percebe que tem que colocar nos trilhos sua própria vida, no modo como não pode acontecer algo chamado “aposentadoria”, pois ninguém pode parar e ficar ocioso, no ditado popular: “Cabeça vazia é oficina do Diabo”, no modo como é somente o trabalho o que pode manter a sã a mente de uma pessoa, na questão da pessoa ser realista e ter os pés no chão, pois o Mundo pertence aos que não têm ilusões em relação ao Mundo, no caminho espírita da mortificação – desprenda-se de expectativas, pois a Filosofia não muda o Mundo, o que é uma noção encorajadora, no termo “continua tudo a mesma merda”, com o perdão do termo chulo. Ao fundo é o refúgio do lar, do invólucro indispensável de lar, num lugar onde somos mais Yin do que Yang, deixando lá fora a lida diária pela Vida, no espírito de guerreiro que a pessoa tem que ter, como uma pessoa sensível, a qual tem que entrar em contato com seu próprio Yang, na diferença enorme que faz uma pitadinha de agressividade, num Mundo que é tão competitivo, como uma certa cantora, cujo nome não mencionarei, a qual quis obter sucesso mundial com um clipezinho bem medíocre e desinteressante, pois o Mercado Fonográfico Mundial é ultracompetitivo, com muitas divas maravilhosas concorrendo pela atenção do público, na pessoa que sabe que tem que ser competente e merecedora de admiração e respeito, como numa respeitável Lady Gaga, a qual, além de ter uma voz excelente, tem um estilo e uma atitude monstruosos, arrebatadores, numa artista de uma originalidade gigantesca, produzindo Arte com A maiúsculo. Neste quadro temos um acúmulo, um depósito, uma acumulação, nos transtornos de acumulação compulsiva, no apego humano à Matéria, ao fetiche do objeto, da coisa palpável, num apego obsessivo por riquezas mundanas, como no personagem Tio Patinhas, nadando com as montanhas de dinheiro em sua caixaforte, no pecadinho da Avareza – qual o mal de se guardar um dinheirinho debaixo do colchão? Aqui, a trilha remete ao lar, no ponto mais baixo, atraindo gravitacionalmente, no modo como a água escorre para os pontos mais baixos, como em rios desovando em oceanos, nesse perfeito mecanismo autossustentável que é a Terra, reciclando a si mesma, nos mistérios – porque há água doce em contrapartida à água salgada? Aqui temos uma vegetação invernal pobre, “morta”, por assim dizer, uma vida esperando pelo milagre de renascimento da Primavera, na explosão primaveril de Botticelli, na explosão em cio dos adolescentes, na época da Vida em que somos “escravos” de nossos próprios hormônios, no modo como a Igreja Católica vê com maus olhos a masturbação – se você não se masturbar em excesso, está tudo bem. Aqui o céu é de sisudo cinza, nos vestígios da lareira do fogo da noite anterior, no termo “Quarta-Feira de Cinzas”, assinalando o fim da bela euforia colorida carnavalesca, como em professores no intervalo da Escola, na Sala dos Professores, com o sinal batendo no fim do intervalo, nos professores dizendo uns aos outros: “Vamos trabalhar!”. A madeira azul aqui é a esperança de dias mais ensolarados e quentes, num majestoso Céu de Brigadeiro, no hino nacional: “O Sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da patroa neste instante!”. Aqui é um cenário que pede por uma organização, uma faxina, numa demanda, no prazer de um banho bem tomado. A neve é escassa, talvez assinalando a Primavera, na esperança do Reino dos Céus, a única morada.

 


Acima, Venda pública. Aqui os homens estão reunidos, num momento de interação social, num mundo misógino de homens, no qual à mulher não é permitida liberdade de expressão, como uma certa popstar, a qual paga um preço alto por ser uma mulher num mundo de homens, no preconceito de se colocar a mulher sempre num nível abaixo ao do homem, sendo Adão a obraprima de Deus; sendo Eva um arremedo fadado a ser um mero útero reprodutor; sendo culpa da mulher pelos pecados do Mundo – Jesus, é muito machismo, machismo quebrado pelo genial filme Dogma, no qual Deus é uma mulher, num filme que acaba não sendo um insulto, mas um enaltecimento da fé. O carro aqui é a evolução tecnológica da Humanidade, suplantando o uso de cavalos, numa simplificação, numa facilitação, como uma complexa equação sendo resolvida e os mistérios sendo esclarecidos, como no fim de um romance policial, com a Estrela da Manhã trazendo sua luz e beleza, banhando a Terra com suas luzes de esperança, derrotando a escuridão fétida e sofredora do Umbral, no qual os espíritos se arrastam em sofrimento, como uma certa boate portoalegrense, um antro de escuridão, malícia e mentiras – é um horror. Aqui a estrada corta o capim, em rotas de comércio internacional, como na saga Star Wars, num filme o qual, apesar de tão futurista, traz as velhas e boas rotas de comércio entre povos, na universalidade que faz comércio entre as nações, como na potência chinesa, exportando para o quatro cantos do Mundo, num comunismo que acaba sendo capitalismo. Aqui as terras são vastas, com um rei avistando o próprio reino, sabendo que o dever de um rei é nunca interferir no dia a dia pacato do cidadão, ao contrário das guerras, as quais deixam rastros de fome e destruição – vide a Ucrânia, meu amigo. Esta estrada é tal quadro de devastação, com tropas impiedosas passando, destruindo qualquer beleza, em experiências bélicas que deixam sequelas terríveis nos rapazes que prestam tal serviço militar, num caminho de empedernimento e brutalização. Aqui temos um grande acontecimento, com um público prestigiando o acontecimento, como em eventos comunitários, numa Festa da Uva, na manifestação que pertence ao povo de Caxias do Sul, no momento em que a comunidade se vê projetada por si mesma, na figura universal da Rainha, a qual encarna a beleza e o pertencimento do Plano Superior, no qual temos a certeza de que a única família que existe é a Grande Família Estelar Metafísica, sobrepondo-se às vicissitudes terrenas, as quais são passageiras e necessárias, como num estudante se matriculando em cadeiras numa faculdade, na importância da Cultura Erudita na formação de um país, em nações tão nobres como a Suécia, valorizando a Inteligência Humana, que é o maior bem que temos. Aqui remete às paisagens dos Campos de Cima da Serra, no RS, na estrada Rota do Sol, cercada de planícies vastas de pasto verde e altivas araucárias, na beleza das paisagens campestres, o maior bem que um reino pode ter, num Ser Humano que tanto ignora as luxuriantes roupas vestidas pelos campos e florestas, como na cidade do Rio de Janeiro, cheia de Vida, numa mescla deliciosa entre Natureza e concreto, com suas praias e morros monumentais, no modo como, já ouvi dizer, os cariocas não gostam de dias nublados. Aqui vemos uma casa, na capacidade de uma pessoa em se tornar matriarca ou patriarca dentro de uma família, num poder agregador, de reunir todos numa noite de Natal, remetendo a meu querido avô falecido Ibanez, uma pessoa com tal talento agregador, num divertido Amigo Secreto entre as pessoas da família reunida. Aqui remete aos pampas gaúchos, nas terras vastas de Uruguai e Argentina, nações que estão começando a ser “seduzidas” por Gramado. É como na vastidão das terras de Scarlet O’hara, no drama que mostra a perniciosidade bélica, numa Scarlet a qual vai de menininha mimada a mulher forte, tendo que ter as forças para se reerguer, como numa pessoa em fundo de poço existencial, tendo que reagir de alguma forma para se reerguer.

 

Referências bibliográficas:

 

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.museum-exhibitions.colby.edu>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth, april wind. Disponível em: <www.thewadsworth.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth obras. Disponível em: <www.google.com>. Acesso em: 31 ago. 2022.

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