quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Andanças de Andrew (Parte 2 de 4)

 

 

 Falo pela segunda vez sobre o pintor realista americano Andrew Wyeth. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Campos de Inverno. Um animal perdido, numa sensação de abandono, num terreno tão infeliz e inóspito, talvez num Wyeth fazendo a catarse de uma sensação de abandono, como ser rejeitado por alguém, no sinônimo entre “paixão” e “sofrimento”, no fato de que, para a pessoa se preservar e se proteger, tem que sempre ouvir a mente, a cabeça, nos versos de uma certa canção pop: “Lençóis de cetim são muito românticos, mas o que acontece quando você não está na cama?”. Aqui é como um pobre órfão, que veio ao Mundo sem pais, sem família, sem lar e sem proveniência, como se tivesse sido “encontrado numa lata de lixo”, como um rapaz órfão que conheci, o qual tentara se matar, numa pessoa tão paupérrima, só restando a ele se apegar à sua religião, a Umbanda, a religião dos socialmente renegados, como pobres, pretos e homossexuais, na exclusiva mescla brasileira, num país que tem toda uma pitada, toda uma matiz africana, ao contrário de uma Argentina racista, sinto em dizer, num país o qual, ao término da escravidão, reuniu todos os negros do país, todos mesmo, colocou-os em navios e os enviou de volta para a África, numa Argentina a qual, definitivamente, não tem matizes africanas em sua cultura popular, no modo como o tradicional Tango nada traz de tambores africanos, num conselho sábio: Se você é negro, não vá à Argentina! Aqui é tal hibernação invernal, num momento em que a Natureza repousa, nas noites silenciosas de Inverno, longe dos grilos ruidosos de noites de Verão, no momento em que as videiras hibernam para que ressurja, na Primavera, a floração que gerará as uvas, neste trabalho tão árduo que é a vitivinicultura, em investimentos em produção que impossibilitam que o Vinho seja um produto barato e acessível a todas as classes sociais, ao contrário da popular e acessível Cerveja. Aqui é como no filme espírita Nosso Lar, no início do filme em que o espírito acorda no Umbral, numa imunda poça de lama, num terreno inóspito, num espírito o qual, em enorme sensação de fome, comia miseráveis capins, na dimensão dos que ignoram a importância do apuro moral, nas noções civilizatórias dos Dez Mandamentos, nos conceitos inéditos de Cristianismo, na concepção democrática de que somos todos iguais perante a urna, sem a crença mística de que certas pessoas têm sangue estelar, azul e perfeito, como a Família Imperial Brasileira, a qual, apesar de ser descendente dos tempos gloriosos do Império Brasileiro, é uma família pobre, no desafio que é a pessoa provar ter “autonomia de voo”, na diferença entre de jure e de facto, como em Gisele, a menina comum, de uma família comum, filha de pais comuns, numa Gisele que adquiriu todo o carisma de princesa, deixando “no chinelo” muitas moças que nasceram em berço de sangue azul, na linha divisória clara entre teoria e prática. Aqui pode ser um filhote abandonado, vulnerável, talvez numa mãe morta por um predador, como na cena do filme de desenho Bambi, com a mãe do cervo morta por impiedosos caçadores, num Bambi que se viu em tal abandono, nas tantas crianças de Rua no Brasil, nascidas num contexto absolutamente pobre e desprivilegiado, num espírito corajoso, que optou por reencarnar em tal situação, para, assim, crescer enormemente como espírito, num curso universitário dificílimo e duríssimo, o qual, ao final, dá o doce diploma da vitória, no fato de que, por mais dura que possa ser uma encarnação, tudo acaba no Desencarne, no retorno ao Lar Verdadeiro, no qual somos todos produtivos à semelhança de Tao, o Grande Arquiteto, num Cosmos o qual, de tão vasto, nos obriga a crer numa Inteligência Suprema, num sentido para tudo isso, num Cosmos ainda tão além da compreensão humana. Aqui definitivamente não temos um quadro colorido e vivo como um baile de Carnaval, mas um terreno sisudo, discreto, quieto, na discrição japonesa, num povo de arte tão minimalista, na universalidade da sofisticação estética, na busca humana pela Beleza, este valor universal metafísico, na crença em um plano tão belo e sério, na seriedade da aquisição de apuro moral, num mentiroso que acaba desprezado pelo Mundo.

 


Acima, Espeto de areia. Aqui é um doce momento de férias de Verão, numa pausa, num descanso merecido, no fato de que a Vida não é só labor, mas contemplação também, no cidadão em seu momento de lazer, como num discreto Luis Fernando Veríssimo passeando num shopping, sendo assediado por pessoas tirando uma selfie com o escritor, ou seja, enchendo o saco do cara, na falta de discernimento entre a pessoa e o trabalho da pessoa, como numa Xuxa, a qual não pode se dar ao luxo de caminhar no calçadão no Rio de Janeiro – a fama é uma prisão. O momento aqui é de espera, de aguardo, talvez numa pessoa esperando o momento propício para agir, como uma pessoa que conheço, a qual esperou demais, uma pessoa sonhadora e sensível, de bom gosto, que nunca colocou tais predicados ao Mundo, nas palavras de Tom Cruise: “Tenho que mostrar algo”. Aqui temos esse traço talentoso realista de Wyeth, em pinturas que parecem fotografias, num pincel talentoso, de valor claro de ser observado. Aqui é um momento solitário de reflexão, no modo como tem que haver uma pitada de solidão na vida da pessoa, num momento consigo mesmo, momento que tem que ser respeitado, como no filme Dogma, no qual um anjo diz que Deus, em certos momentos, simplesmente desaparece, e ninguém sabe onde está o Criador, até Deus voltar de sua reclusão autoimposta e voltar ao trabalho, pois Tao é o sumo exemplo de como a pessoa não pode ficar improdutiva, ao contrário de pessoas aposentadas as quais simplesmente param completamente, mergulhando nesta jaula mental que é a inatividade, ao exemplo de minha querida avó Nelly, a qual, ao se aposentar como professora, passou a escrever Poesia para, assim, não parar completamente, em suas palavras: “Sem a Poesia, o que faria eu desta tarde brumosa?”. E a Vida é tal tarde brumosa, cinzenta, sisuda, na qual temos que decidir o que fazer, pois nenhum trabalho é em vão, fazendo tudo da parte da Grande Carreira Espiritual, até chegar ao ponto dos arcanjos, os espíritos perfeitos que gozam da Suprema Felicidade, pois como posso ser feliz se nada faço? O Plano Metafísico não é o Éden para os que gostam de se manter ativos? As roupas aqui são curtas de Verão, em dias mais longos e noites mais cálidas, no delicioso Verão da Serra Gaúcha, com noites amenas e fresquinhas, como na Região Serrana do Rio de Janeiro, deliciosa ao ponto de se tornar o lar da Família Imperial, em regentes iluminados como a princesa Isabel, vítima de um golpe de estado, talvez num mundo patriarcal para o qual é impossível receber ordens de uma mulher. Aqui podemos sentir a doce brisa de Verão, em memórias doces de brincadeiras com amigos na praia ou na piscina, nas palavras de uma amiga minha de adolescência: “Nós éramos felizes e sabíamos!”, e não são os amigos o ouro da Vida? Não estamos entre amigos no Plano Metafísico? Não é o miserável Umbral o lugar onde não encontramos amigos? O rapaz aqui é jovem, e tem toda uma trajetória pela frente, numa época em que a pessoa sente as durezas do Mundo, sem maturidade para enfrentar tais durezas, num adolescente que acredita em milagres, “acreditando em Papai Noel”, no caminho do crescimento e da mortificação, numa pessoa que passa a observar sem expectativas o Mundo, sabendo que o Mundo não muda, e que tudo continua a mesma merda de sempre, com o perdão do termo chulo. As mangas arregaçadas aqui são o labor, o batente, como num médico enfrentando todas as vicissitudes de um turno da emergência de um hospital, numa pessoa feliz em se colocar útil ao Mundo. Os pés descalços são o conforto e a simplicidade, na liberdade praiana, com todos andando de chinelos, à vontade, sem as exigências garbosas da vida na cidade, na selva de pedra. A vegetação aqui é tal majestade de Tao, nas roupas majestosas usadas pelas paisagens campestres, paisagens um tanto ignoradas pelo Ser Humano, o qual só aprecia joias e pedras preciosas, esquecendo-se das obras primas de Tao. O capim aqui é como um carpete, numa casa tão acolhedora, em invenções tão úteis como o aspirador de pó, no prazer de um bom banho tomado.

 


Acima, Jovem América. A bicicleta é a travessia existencial, na metáfora do filme A Rainha quando a monarca Elizabeth II, que Deus a tenha, empaca com um carro no meio de um córrego, fazendo metáfora com a morte prematura de Diana, numa pessoa que morreu jovem, ainda no meio da travessia, na monarca em tal momento de solidão, chorando pela morte da princesa do Povo, num momento de retiro e de discrição inglesa, como numa pessoa que começa um curso universitário, mas não o conclui, perecendo no meio do caminho, no meio do rio, afogada, na importância de finalizarmos o que começamos, no “orgasmo” fabuloso que é o diploma, no falo do canudo, na vitória da iluminação do obelisco sobre as refutáveis superstições, na vitória da iluminação sobre as sombras da ignorância, na formação de nossas elites que combatem as forças obscuras da ignorância – os ignorantes passam suas vidas sem ter consciência de suas próprias existências, na construção racional do espírito, angariando conhecimento e esclarecimento. Uma leve pluma desliza pelo vento, na leveza de um espírito agradável, civilizado, fino, num anfitrião fino nos recebendo numa sala de chiques lustres de cristal, fazendo metáfora com as cores alegres e finas dos salões metafísicos, num anfitrião que nos recebe bem, sempre nos oferecendo algo para beber – como é desagradável visitar alguém que nenhuma bebida nos serve! O anfitrião tem que saber fazer as honras da casa! O rapaz é a mocidade, numa idade em que a pessoa ainda não recebeu muitos golpes duros da Vida, talvez numa certa arrogância, numa pessoa jovem que acha que os percalços não lhe afetarão, no modo como os trancos e barrancos da Vida vão nos fazendo pessoas mais humildes, que sabem que não são o dentro do Universo. No guidão da bicicleta vemos fitinhas esvoaçantes, como fitinhas do Senhor do Bonfim, numa leveza ao sabor do vento, numa pessoa que aprendeu a surfar nas ondas da Vida, sabendo que precisa de ajuda, de alguma ajuda; sabendo que ninguém atinge o sucesso sem receber alguma ajuda, como pessoas poderosas que nos apadrinham, numa pessoa com tal assistência de poder, de intervenção, compreendendo a seriedade que é uma gravadora investir dinheiro em um certo artista, num seríssimo presidente de gravadora internacional: “Está sendo investido dinheiro em você. Portanto, dê o melhor do melhor de você”, num sério caminho de competência e de responsabilidade, numa pessoa que virou adulta muito cedo em sua vida, como um filho mais velho que tem que ajudar a cuidar dos irmãos mais novos, como uma moça que conheci, a qual foi adotada, já pré adolescente, para ajudar um casal a cuidar de uma menina mais jovem com Síndrome de Down, nesta pré adolescente a qual, desde muito cedo na vida, encarou tal desafio de responsabilidade e de seriedade. O rapaz aqui dirige distraído, num momento de contemplação, no modo como é necessário que a pessoa tenha momentos de desligamento, de prazer e de contemplação, como numa Gisele passeando pelo Parcão em Porto Alegre, disfarçada e, assim mesmo, sendo reconhecida e alvo de invasivas e desrespeitosas pessoas fotografando-a, remetendo a uma atriz que conheço, a qual simplesmente odeia tais situações, dizendo: “Estou virando uma atração de circo!”, no modo como a fama pode ser tão complicada. Wyeth nos traz tal paisagem cinzenta, na dúvida cinzenta entre preto e branco, entre luz e escuridão, numa travessia que tanto exige da fé da pessoa, tendo que acreditar que a luz e a beleza triunfam sobre as forças do Mal e da escuridão, num dilema moral se debatendo entre Bem e Mal, num Ser Humano que tem que aprender que o Bem é o único caminho, e não um dos polos numa bipolaridade, pois o Mal não é um polo, mas uma privação e uma falta de Amor. O menino é a condução, como na condução de uma carreira, numa condução adulta, responsável, num artista que vê a suma necessidade de assumir o integral controle sobre sua própria vida e carreira, na deliciosa sensação de liberdade, não mais se submetendo a ordens.

 


Acima, Minha jovem amiga. Aqui é uma cena invernal, com agasalhos. É a questão da proteção, numa pessoa que se prepara e agasalha-se para não sofrer com o frio, no caminho da proteção psíquica, no termo “ter o corpo fechado”, como me dizia uma amiga psicóloga. O sorriso aqui é mínimo e plácido, comedido, num brando sorriso de Nefertiti, sorrindo moderadamente, demonstrando altivez e moderação, numa sensação de bem estar, no modo como o busto de Nefertiti, apesar de ser uma obra de pedra comum e barata, é um dos dez principais artefatos de Arte entre todos os milhões e milhões de artefatos de Arte feitos pelos milênios de existência do Antigo Egito, num busto que fica palmo a palmo com a famosa máscara mortuária de Tut, feita de ouro maciço, na lição de humildade do mestre Li Mu Bai em O Tigre e o Dragão, no mestre ensinando à pupila que um simples graveto pode derrotar uma poderosa espada, no caminho de humildade e atitude de uma Coco Chanel, mostrando que um barata bijuteria pode ter o mesmo efeito glamoroso de uma joia cara. A moça aqui veste uma malha aconchegante, nas lojas caras de malharias finas, no trabalho do artesão, do tear, num trabalho paciente de mãos de artista plástico, em mãos que produzem coisas novas, num poder de transformação, no poder das mãos humanas a serviço da inteligência e da elegância, nos valores civilizatórios de Arte, esta força que tanto nos diferencia do restante do Reino Animal, pois um macaco, apesar de ser mais inteligente do que outros animais, é incapaz de pintar um quadro ou resolver uma equação matemática, no elo perdido entre animalidade e civilização, no mistério que fez com que tribos neolíticas se tornassem civilizações providas de uma escrita, fazendo da Letra a força suprema que nos tirou da animalidade. O cenário aqui é cinzento como em muitas obras de Wyeth, nas palavras da famosa canção California Dreaming: “Todas as folhas estão marrons, e o céu está cinza. Eu estou há algum tempo num dia de Inverno”, em contraste com a ensolarada Califórnia, o estado mais rico dos EUA, num Sol que predomina por quase sempre em tal terra costeira. O gorro aqui é feito de um animal, no ódio que os ecologistas têm em relação às pessoas que usam roupas feitas com peles de bichos, em ativistas que não gostam de ver pessoas vestindo roupas de couro, no posicionamento político vegano, condenando marcas de produtos que realizem testes em animais, numa certa razão, pois fora a Terra, para onde mais a Humanidade pode ir? A cor cinza aqui são as cinzas de uma lareira, legando os vestígios do dia anterior, nas cruéis execuções de pessoas hereges queimadas vivas em fogueiras, em líderes tão frios, duros, odiosos e cruéis como Mary Tudor, numa líder que estava a muita distância dos padrões democráticos de tolerância às diferenças, no modo como, não canso de dizer, nada mais humano do que ser desumano. Aqui é o conforto do lar, num lar aquecido, cheio de amor, numa mãe zelosa que deixa tudo limpo e organizado, havendo o “choque térmico” quando o filho sai de cada para morar sozinho, dando-se conta de tal impecável zelo materno, num processo de “desmame” e de readaptação, encarando uma nova vida. Aqui é esta grande invenção que foi a calefação, não sendo necessária a lareira tradicional, a qual tanto trabalho dá para ser mantida em funcionamento, no inevitável trabalho do dia seguinte em recolher as cinzas e limpar a lareira para mais um dia de fogo. Neste quadro vemos todo o zelo das pinceladas realistas de Wyeth, com os fios da malha e os pelos do gorro pintados meticulosamente, nesse aspecto de fotografia, num artista tão dedicado a seu trabalho, merecendo todo o sucesso que obteve. A parede atrás traz tal discrição cinzenta, numa cor discreta e sofisticada, como nos elegantes lençóis da heroína do filme Lara Croft, numa personagem de tal sofisticação londrina, nos valores ingleses de depuração e fineza, numa cultura que tanto rechaça as pessoas vazias e obtusas, os grossos, por assim dizer. Os olhos da moça são cinzentos e profundos, numa tarde brumosa que tem que ser útil para algo virtuoso, pois não há vida fora da produtividade.

 


Acima, No ar. Aqui remete ao clássico Os Pássaros, do imortal Hitchcock, numa fúria de Natureza como um terremoto devastador, na capacidade de uma pessoa em se tornar tal “tsunami”, causando comoções, no devastador talento de Diana, a qual se tornou uma estrela esmagadora e emancipada numa Inglaterra em que o máximo que uma pessoa pode ser é realeza. Aqui é o termo “penas soltas ao vento”, como numa pessoa em meio a uma bagunça existencial enorme, como no estopim de um grande escândalo com penas indo e vindo de todos os lugares e para todos os lugares, no momento em que Madonna resolveu publicar um livro de nu artístico, chocando uma América tão protestante, longe do modo grego em lidar com naturalidade em relação à nudez, nuns EUA em que o cidadão não é livre para se prostituir, logo nos EUA, que se dizem o paladino baluarte democrático da liberdade apolínea. Aqui remete a um colega de faculdade que tive, o qual produziu um pôster para o filme de Alfred, e o pôster era uma singela pena com o nome do filme escrito em cima, num efeito de leveza, minimalismo, sofisticação e talento, numa pessoa sendo feliz em suas concepções, em talentos tão esmagadores como num Michelangelo, obtendo um efeito tão assombroso, parecendo que suas esculturas estão vivas e respirando, no poder da Arte em causar tais perplexidades, num artista cuja obra é de cair o queixo. Aqui é um gélido vento minuano, no município gaúcho de Uruguaiana, num vento tão cortante que faz despencar a sensação térmica, num cenário de desolação e abandono, no poder terapêutico da Arte, talvez num Wyeth fazendo a catarse de tal sentimento de abandono e desolação. A casa ao fundo é o abrigo e o resguardo para tal dia desolador, talvez numa casa acolhedora, como uma lareira ou calefação, no modo como são deprimentes os rigorosos e longos invernos escandinavos, num cenário de frio e desolação, como num espírito cujo baixo apuro moral o leva às terras horríveis do Umbral, que é uma cidade deserta e desolada, deprimente, como uma pessoa que conheço, a qual saiu de casa para estudar numa faculdade em outra cidade, uma pessoa a qual, num desolado domingo de solidão, voltou de surpresa para casa em tal domingo, chorando por tal sentimento de abandono, no modo como é complicado a pessoa aprender a morar sozinha, cuidando da lavagem de sua própria roupa, longe dos doces cuidados maternos, os quais deixam a casa na mais perfeita ordem e limpeza, numa geladeira abastecida de supermercado. Podemos ouvir aqui a orla arrebentando, numa praia fria, como uma pessoa de minha família, a qual foi passar na praia um fim de semana invernal, numa pessoa que me disse que o cenário é deprimente, num vento cortante, numa orla erma, sem vida – a Vida não é só Verão. O verde aqui é musgo, discreto, na discrição de cores escuras, fechadas, remetendo à minha querida bisavó Antonieta Veronese, a qual, após enviuvar, só usou roupas pretas até o fim de sua vida, naquelas senhoras digníssimas, no modo como nossos bisavôs e bisavós, apesar de não terem nos conhecido aqui na Terra, estão nos iluminando lá de cima, no poder da Divina Providência, na imortalidade do Amor, o qual não pode ser comprado ou vendido – o melhor da Vida é grátis, no modo como eu teria um sobrinho neto como neto, na necessidade da pessoa ter um coração generoso e agregador. Nesta cena vemos um açude de água parada, que é a estagnação, como numa pessoa que se aposentou e nada mais passa a fazer da Vida, no modo como as aposentadorias podem ser deprimentes, pois ninguém pode parar de produzir, visto que o trabalho é a única coisa que pode manter sã a mente de uma pessoa, fazendo das pessoas ricas e improdutivas pessoas que vivem em um ilusório mundo paralelo. As penas aqui são como a polinização da Primavera, remetendo às sempre majestosas instalações dos artistas visuais Cristo e Jeanne-Claude, com centenas guardassóis distribuídos por áridas e nuas colinas e vales, num aspecto de polinização, na magia da Vida que renasce.

 


Acima, Paisagem da Pensilvânia. Podemos sentir no rosto tal brisa fria, num capim selvagem, sem ser “domesticado”, por assim dizer, como na dura vida de imigrante italiano na Serra Gaúcha, deparando-se com um lote de mata virgem, selvagem, no árduo trabalho de domesticação de tal terra, lidando com o perigo de animais selvagens, no modo como já ouvi dizer: “A Imigração Italiana no RS foi um reforma agrária que deu certo”, na complicada questão da terra no Brasil, um país o qual, apesar de tão vasto, importa muito alimento. Aqui é uma paisagem bicromática, num código binário entre um e zero, nas glamorosas fotos de astros hollywoodianos, artistas que nos conectam com a superioridade moral dos espíritos depurados, os quais, em sua elegância, amor e simplicidade, só nos respondem a questões dizendo “sim” e “não”, no jogo de contrastes e contradições da xilogravura, nas deslumbrantes criações de Escher, um desenhista de talento esmagador e imortal, deixando-nos perplexos com tais jogos entre preto e branco, num mago visual que nos testa com seus jogos de contraste, talvez num artista que sabia que tudo traz em si sua própria contradição, em dois lados para a mesma moeda: Por um lado, Diana adorava ser o monstro midiático que era; por outro lado, sentia-se muito invadida e desrespeitada pelos inclementes paparazzi. É como me disse uma amiga psicóloga: “Sempre vai ter uma coisa da qual não gostamos”, pois a encarnação é isto, sempre com uma manchinha negra no Sol, havendo a libertação do Desencarne, na letra da canção de O Senhor dos Anéis: “Os navios vieram para carregar você de volta para casa”, como numa miss voltando triunfante para sua terra, carregando seu título conquistado. Vemos um açude cinzento, digno do lendário monstro do Lago Ness, num imaginário fantástico para atrair os turistas, em espertas tacadas de Marketing, na questão da pessoa em ter tesão pela Vida, com vontade de vender um produto, ao contrário de um prostrado deprimido, o qual está completamente esvaziado de tesão de viver, ficando atirado dias numa cama, mal tendo forças para tomar um banho, no modo como, ainda bem, hoje em dia há medicação para tais transtornos, ao contrário de antigamente, quando a melancolia era confundida com traços de personalidade: “O Fulano? O Fulano é assim mesmo, triste”. O céu não é muito majestoso, ensolarado ou clemente, numa Londres cinzenta, em contraste com o vermelho vibrante das famosas cabines telefônicas, itens obsoletos frente ao democratizados dispositivos móveis, no galgar das tecnologias que deixa perplexa uma pessoa que viveu nos anos 1980, no fim da Era Analógica, havendo nas gerações mais recentes uma relação de naturalidade com tais tecnologias galopantes. Talvez o céu aqui esteja carregado, e podemos ouvir os agourentos trovões, anunciando uma chuva, em doces memórias de Verão na piscina, na água caindo do céu e se misturando na piscina, em doces lembranças de Infância com os amigos, os quais são o ouro da Vida, pois no Umbral não estamos entre amigos... As árvores aqui não parecem ser muito frutíferas, como numa videira hibernando no Inverno, pronta para renascer com a floração, em borboletas ensandecidas em meio a flores, na Primavera de Botticelli, no sopro de renovação que foi a Renascença, em meio às Navegações, no Oriente seduzindo o Ocidente com seus aromas e sabores exóticos orientais, num talentoso chef cheio de temperos mágicos, deixando a comida tão, tão saborosa, no modo como me sinto muito entretido ao ver os outros cozinhar, numa ação tão humana – os macacos não cozinham. Aqui remete à propriedade rural dos Irmãos Bertussi no interior de Caxias do Sul, com estes irmãos que foram ícones da Música Tradicionalista Gaúcha, naquele ar livre e naquele cheiro de bosta de vaca, algo fascinante para pessoas da “selva de pedra”. Aqui é a vida ao ar livre, na sensação de liberdade que se tem na orla, no olor de Mar, no prazer de se comer frutos do Mar. Aqui é um momento de retiro, numa pessoa que quer ficar alguns momentos sozinha consigo mesma, na necessidade de existir uma pitada de solitude.

 

Referências bibliográficas:

 

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.museum-exhibitions.colby.edu>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth, april wind. Disponível em: <www.thewadsworth.org>. Acesso em: 31 ago. 2022.

Andrew Wyeth obras. Disponível em: <www.google.com>. Acesso em: 31 ago. 2022.

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