quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Agora é Auguste (Parte 2 de 2)

 

 

Volto a falar sobre o pintor francês Auguste Toulmouche. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A carta de amor. Aqui é uma surpresa sendo revelada. O desdobramento do papel é o desdobramento de fatos, num origami, num mistério sendo revelado, na moça com uma certa tensão. Ela está tensa, em pé, preparando-se para o pior, nessa grande decepção que é “tomar um pé na bunda”, neste grande golpe na autoestima que é ser rejeitado amorosamente, fazendo com que nos sintamos um lixo, um ranho de uma ameba. A lareira é o calor na relação, no calor de uma lua de mel, num calor que pode esfriar no dia a dia de um casamento, no sexo que vai ficando mecânico e perdendo o erotismo, numa mulher, centrada no casamento, que viu que o marido na verdade é centrado no labor, no trabalho, na firma, numa decepção, num conto de fadas ao contrário: o príncipe se transforma em sapo. A grande e suntuosa saia é a sustentação, em algo que sustenta o casamento, numa mulher dotada de norte, querendo casar, constituir família a ser uma matriarca, num arqueiro mirando bem no meio do alvo, ao contrário de uma pessoa depressiva e sem norte, não sabendo qual é o seu lugar no Mundo, como um amigo meu, o qual se tornou padre para saber qual é o seu próprio lugar no Mundo, neste grande desafio de identidade. As flores são a poesia, numa boa refeição com vinho, em pequenos prazeres gastronômicos, no inocente pecadinho da Gula, no prazer de um bom brigadeiro de panela, na magia de uma mesa de festa de aniversário, cheia de docinhos e delícias, numa mãe tão zelosa quanto a minha, organizando tais festinhas, no modo como as crianças crescem e se desinteressam por tais festinhas, na máxima: “Crianças crescem”. A moça aqui é cheia de pudor, de decência, com o vestido abotoando até o pescoço, sabendo que o Mundo não pertence às mulheres vulgares e promíscuas; sabendo que uma amante vem sempre depois da esposa oficial, no caminho da dignidade: Se é para ser a fulana de um homem, é melhor não ter qualquer homem. A poltrona é o descanso depois de um dia tão duro, na gloriosa sensação de se chegar em casa, calçar chinelos e tomar um merecido drinque depois de um dia de siso e labor, no glorioso happy hour, nas gravatas afrouxadas, relaxando as tensões do dia. O espelho é a vaidade, o cuidado, da mulher cuidadosamente se aprumando para um acontecimento social, no “ritual” de aprumação, desde o básico banho até o momento de retoque final, que é o perfume, no modo como a diversão da mulher começa cedo, desde o momento do banho, no fato de que uma mulher, de fato, só se arruma para ser apreciada pelas outras mulheres, no Clube da Luluzinha, por assim dizer. O detalhe é o envelope rasgado e jogado ao chão, num desprezo, numa mulher que quer saber das novas avidamente, no jogo de flerte e amor, querendo tanto desposar tal cavalheiro, num sonho de noiva entrando na igreja, sendo a estrela da festa, em tal mulher limitada pelo Patriarcado, fazendo com que a vida de tal mulher gire em torno da vida de um homem, mantendo limpa e organizada a casa deste, levando as cuecas deste e alimentando os filhos deste, numa máxima machista, sendo um homem o norte de uma mulher; sendo o norte de um homem o trabalho deste. A lareira é o calor da relação, num casal sexualmente feliz, trepando bem, com o perdão do termo chulo. A lareira é tal ardor, tal paixão, numa mulher decidida a dar tudo pelo marido, como na dama coxinha de A Época da Inocência, querendo casar e ter carreira de matriarca, no modo como é capital a aquisição de norte existencial, pois uma pessoa sem norte é uma pessoa sem vida, na questão da virilidade – como minha vida pode estar organizada se não tenho um norte, uma meta, algo para me dedicar? Aqui são esses cenários aristocráticos de Auguste, retratando a burguesa parisiense, em cenários de luxo e de charmosa superficialidade. A carta são os sonhos de uma mulher, querendo ardorosamente se casar e dedicar-se a um homem, indo violentamente contra uma feminista, a qual vai contra os ventos do Patriarcado, desafiando os “caciques” por meio da dignidade intelectual. Aqui é um ponto crucial de revelação, no qual a moça vai para o “tudo ou nada”.

 


Acima, A noiva relutante. Aqui é um momento de dúvida, nos versos de uma certa canção: “É ok você, às vezes, duvidar de si mesmo”. A noiva é tal alvo de bajulação, no nojento modo como a bajulação corre solta no Mundo, pois não sei quem é pior: quem oferece a bajulação ou quem a aceita, ou seja, a corrupção ativa ou a corrupção passiva, como no filmão Celebridades, no qual o genial Woody Allen destila todo o seu desprezo por tal stablishment, mostrando como o ego de tais celebridades é sistematicamente massageado, como numa Liz Taylor, a qual ao reservar uma suíte de hotel, reservava também as suítes acima e abaixo, pois era certo que estrondosas brigas com seus maridos aconteceriam. A noiva aqui tem um ar de Bette Davis, farta de tanta superficialidade burguesa, querendo, de certa forma, libertar-se disso tudo, no caminho feminista da independência, no qual o centro da vida de uma mulher é a vida desta mesma mulher, não sendo a mulher submissa que gira em torno de um homem, vivendo a vida de outra pessoa, no modo como as próprias mulheres são machistas, fazendo questão de girar em torno de um homem – é muito machismo. As aias bajulam a noiva, encorajando esta, em paparicos num séquito de damas, como no filme Elizabeth, com a monarca sempre cercada de aias, numa mulher sem segredos ou mistérios, numa pessoa que cresceu acostumada em estar cercada de pessoas, como numa certa popstar, uma pessoa insegura que vai a uma entrevista cercada de todo um séquito, composto de empresário, guardacostas, secretária pessoal, estilista, maquiador etc. – a vida é boa quando é simples, pois o prazer está em pequenos detalhes impagáveis, como num ato de carinho, sem valer um só dólar. Uma das aias está alheia ao impasse, enfeitando-se com flores e olhando-se no espelho, que é a vaidade, numa aia que sonha em um dia ser a noiva a brilhar no púlpito, no dia em que a moça vai direto dos braços do pai para os braços do marido, sem um desenvolvendo norte ou virilidade, sempre vivendo a vida de outra pessoa, morrendo modestamente, ao contrário da célebre e notória morte do marido, cercado de honrarias fúnebres. A luminosidade dos quartos de Auguste é assim, pálida, suave, nunca num dia de Sol irradiante e poderoso, mas uma luz suave, de um ambiente fechado, numa sala de estar. O detalhe do relógio é a passagem do tempo, numa mulher que tem medo de que o tempo passe e de que ela se torne uma solteirona, temendo que nenhum outro homem vá lhe propor casamento, como uma certa moça, a qual aceitou um convite de casamento mesmo sabendo que, no fundo, seria um casamento sexualmente infeliz, na frase da qual jamais me esquecerei: “Mulher quer casar!”. Os vestidos das moças de Auguste são sempre suntuosos, luxuosos, do poder aquisitivo de uma mulher que pode contratar os serviços de Auguste, num privilégio social, num artista que atingiu renome comercial ainda em vida. A noiva está farta de tudo isso, e está a um ponto de mandar tudo à merda, com o perdão do termo chulo. É uma mulher sem ilusões ingênuas, a ilusão de que o casamento fará com que sua vida seja perfeita, como na triste jovem dama de O Tigre e o Dragão, dizendo para si mesma, antes de casar: “Nada vai mudar!”. O vestido branco tem aqui efeito de destaque, na tradição que não pode ser desrespeitada, numa noiva que sempre deverá entrar de branco no templo, ao contrário da noiva cigana, vestida de vermelho, em contraste na cena de uma certa telenovela dos anos 1980, na transgressora noiva de preto, no modo como as diferenças culturais são, no frigir dos ovos, superficiais. A paciência da noiva está por um fio, e a noiva está prestes a ter um ataque de nervos, uma catarse, sentindo que, de certa forma, está sendo socialmente pressionada, observando que tem que mostrar o dedo do meio ao Mundo, pois que vida é esta na qual sou prisioneiro das expectativas de outrem? A noiva está desiludida e com os pés no chão, muito longe de uma moça ingênua que crê que o casamento será um apolíneo e indefectível conto de fadas. É a mortificação.

 


Acima, Dentro da biblioteca. Aqui é um retiro de erudição e discrição, numa moça letrada, inteligente, alheia às futilidades da Paris burguesa, buscando um marido que seja, antes de tudo, inteligente. A moça está curiosamente alheia ao pintor e ao espectador, retirada. É uma renúncia, dispensando frivolidades, sabendo que uma pessoa tem que ser de respeitável inteligência, numa frase que li certa vez: “A única coisa que tens que mostrar é tua própria inteligência!”. Os livros aqui, talvez com discos, são uma espécie de companhia, nos versos da famosa canção: “Eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor!”. Aqui é como a senhora minha mãe, uma pessoa que simplesmente devora livros, numa inteligência impressionante, captando as coisas “no ar”, nas palavras de meu pai ao meu sobrinho: “Tua avó é uma das pessoas mais inteligentes que você conhecerá na vida!”. A azul aqui é “del rey”, discreto, no termo “sangue azul”, numa França que tanto negou a própria aristocracia, no paradigma democrático, no qual somos todos absolutamente iguais, na igualdade democrática perante a urna eleitoral, num presidente que um dia deixará o cargo, muito longe das sucessões monárquicas, fazendo do Canal da Mancha uma metáfora da distância ideológica entre França e Inglaterra, sendo esta a nação blasé que negou entrar na Zona do Euro, num ato de soberania, numa rivalidade estatal que perdura até hoje. O azul é uma profundidade oceânica, num planeta tão rico e curioso, cheio de Vida, num Cosmos ainda tão longe de ser conhecido pelo Ser Humano, numa Humanidade que ainda é um “feto”, com tanto ainda porvir, como numa pessoa que conheço, em crise duradoura de Depressão, no modo como a Vida vai nos mostrando que não existem “passes de mágica” para que a pessoa se encontre. O chão aqui está impecavelmente limpo e encerado. É a limpeza de Tao, o minimalista que só age quando há necessidade, numa ação limpa, num nobre norte na Vida, pois como pode estar em paz uma pessoa que não tem norte na Vida? É na metáfora do labirinto, num desnorteamento, sem a virilidade de ter um target, um alvo, pois, na Depressão, a pessoa está “de pau mole”, com o perdão do termo chulo, estando tão desanimada, achando a Vida tão sem propósito, numa Vida que vai se desdobrando em toda a sua seriedade, em toda a sua complexidade, como num professor exigente, que acaba fazendo com que cresçamos muito, como um certo professor, o qual, de início, odiei, mas, no fim do semestre da faculdade, acabei achando ele um dos melhores professores que tive, ao ponto de eu ter votado nele nas últimas eleições. O cabelo da moça está aprumado, disciplinado. É o garbo para o momento de interação social, no modo como, já ouvi dizer, uma mulher se arruma não para os homens, mas para as outras mulheres, resultando em mulheres elegantes, arrumadas, no ato de autoestima em sair de casa perfumado, inebriando o Mundo com tal olor, como num amigo meu, já falecido, o qual era fanático por fragrâncias, deixando no ar um vigoroso rastro de perfume. As costas da moça estão sensualmente expostas, como num provocante decote, numa elegante Diana, a mulher que tanto encantou o Mundo, numa contradição: Diana adorava aparecer e, ainda assim, sentia-se desrespeitada pelo assédio da Imprensa. A estante de porta aberta é uma perspectiva sendo aberta, numa pessoa que está pensando seriamente em se mudar de cidade ou país, num momento em que a pessoa observa a necessidade de dar uma volta por cima, observando que o autoencontro é sempre dentro da pessoa, no equívoco de eu crer que minha vida mudará drasticamente se eu simplesmente me mudar de cidade – um carma nos persegue como nossa sombra! As linhas retas da estante são tal retidão disciplinada, aristocrática, no modo como a Realeza destituída só veio a dar espaço a outra elite, mesmo não sendo esta uma elite monárquica. Numa cadeira, que é tal repouso de leitura, vemos livros abertos, numa fartura, numa riqueza, numa farta mesa de galeteria. Aqui, o astro da pintura é o vestido, e não a moça alheia, no pincel genial de Auguste.

 


Acima, Jovem mulher num interior. Aqui temos uma cena trágica, da donzela esperando por um príncipe encantado que nunca virá, numa pessoa que não percebe que ela mesma é a protagonista de tal encarnação, ao contrário de uma mulher que se centra no marido, numa mulher que, no frigir dos ovos, não tem direção na Vida, dizendo ao terapeuta: “Eu não sei quem sou!”. O biombo é tal sensual pudor, na moça se aprumando, pairando no ar o perfume de talco, em cavalheiros curiosos para saber sobre o que as mulheres conversam umas com as outras, no jogo de sedução cósmico entre Yin e Yang, arrastando multidões aos cinemas em filmes sobre tal eterno flerte, na sedução estatal de uma Cleópatra, a qual se dizia a encarnação da deusa Ísis, no filme com Liz Taylor que tanto fracassou e que quase quebrou um estúdio, no modo como Hollywood é a terra do sucesso e a terra do fracasso, na gangorra da Vida, num Mel Gibson, o qual já este no topo da cadeia alimentar hollywoodiana e enterrou-se com o controverso filme sobre Jesus Cristo – ninguém está por cima o tempo todo. A cintura da moça está em harmonia com os misóginos padrões de beleza, escravizando a mulher em espartilhos opressores e machistas, mal permitindo que a moça respeite ou alimente-se propriamente, como hoje em dia, ano de 2022, numa época em que só é considerada sexy uma mulher na antessala da Anorexia, com um peitoral seco, marcado por ossos de costela – é um horror. A moça aqui está um tanto oculta, misteriosa, numa fase de Lua em que nem tudo é revelado, num jogo provocante de striptease, com a tarja preta ocultando o Sexo, no eterno mistério de Tao – removida a tarja, percebemos que não é bem o Sexo o que buscamos. O decote da moça é também provocante, num peito alvo, impecável, revelando o mínimo do formato dos seios, nas palavras de Costanza Pascolato às mulheres: “Mostre que você tem vida em dobro!”. A moça aqui leu um bilhete que segura, e não sabemos qual é a notícia – se é boa ou ruim. O bilhete é tal mensagem existencial. Aqui temos este pincel impecável de Auguste, como no majestoso manto de Nossa Senhora de Caravaggio, de Aldo Locatelli, o artista italiano que marcou para sempre um dos principais templos de Caxias do Sul – visite São Pelegrino, pois vale a pena. O piso aqui é confortável e acarpetado, num lar rico e privilegiado, no modo como Auguste não pinta cenas de pobreza. O carpete é tal acolhimento, numa pessoa educada, “aveludada”, por assim dizer, no bálsamo que é se deparar com uma pessoa de fino trato, pois nem todas as pessoas são finas... As flores são tal feminilidade, tal vida, tal beleza, tal naturalidade, na explosão de flores silvestres na Primavera, como nas ruas de Porto Alegre, nas calçadas cobertas de flores – é muito encantador. Ao fundo na cena vemos uma pintura, numa ironia de metalinguagem – pintura falando de pintura. É um cômodo privilegiado, decorado com tanto bom gosto, tentativa humana em se assemelhar às salas apolíneas metafísicas, as quais, apesar de belas, são simples, sem afetação burguesas de rococós, frufrus ou babados, como na frivolidade das cortes francesas pré Revolução Francesa – menos é mais, no “abismo” que existe entre simples e pobre, pois simples é limpo; pobre, privação. Aqui é esta luminosidade branda de Auguste, entrando suavemente na sala, num artista que caiu nas graças do endinheirados parisienses. O vestido é suntuoso, talvez num Auguste meio estilista de Moda. O vestido se arrasta, num discreto som de farfalhar de veludo, como em árvores suavemente farfalhando numa sensual noite amena de Verão. Aqui não é uma pose formal, mas natural, curiosa, incomum, como na desenvoltura de uma Gisele, criativa, posando de forma tão incomum, “devorando” as lentes dos fotógrafos, na menina comum que adquiriu status e ares de princesa. Num detalhe vemos uma garrafa com água e flores – é o líquido da Vida, na água escorrendo, nutrindo, hidratando, no modo como a Arte se torna tal necessidade, tal “ouro”, por assim dizer.

 


Acima, O beijo. Aqui é tal mágica dos enamorados, num rei com sua amante, numa bipolarização, numa pessoa que está em cima de um muro – não estou feliz aqui; não estou feliz acolá. É triste. É o modo como a pessoa tem que ser digna e íntegra para, assim, ser respeitada, nas noções norteadoras morais dos Dez Mandamentos, na autoridade patriarcal num Deus que, sendo homem, escalou outro homem, Moisés, para a imposição de tais missões moralizantes. As frutas no meio da mesa são tal delícia de beijo, num nível de intimidade, no modo como conheci pessoas que têm medo de intimidade, não se permitindo beijar na boca – é muita brutalização. O rapaz está de pierrot, de palhaço circense, na princesa de Mônaco que resolveu se casar com um artista de circo, tendo o “DNA artístico” da mãe Grace, a mulher que abandonou tudo por um caralho coroado, com o perdão do termo chulo. A moça aqui é avantgarde, com um vestido que revela as pernas, longe dos fartos e pudicos vestidos de outras moças retratadas por Auguste. É o valor da transgressão, nas palavras do diretor Fabio Barreto, um grande brasileiro: “Uma sociedade só evolui mediante a transgressão de alguns de seus membros”, nas palavras de Dalí: “Feliz daquele que provoca o escândalo”, na inevitável transgressão feminista, revolucionária, na figura de uma Madonna, uma das mulheres mais provocantes da Historia da Humanidade, em comoções de uma Helena de Troia ou de uma enigmática Nefertiti, a “Monalisa” do Museu Egípcio de Berlim, no pomo de discórdia entre nações competindo pela posse do busto sem preço, um pedaço de pedra comum que se tornou mais valioso do que as cobiçadas joias da Bvlgari, na eterna obsessão humana pelo material, pelo palpável, pelo fetiche da apoderação. Aqui é uma refeição entre os pombinhos, mas a comida e a bebida viram coadjuvantes entre dois indivíduos tão apaixonados, deixando o Mundo lá fora, curtindo um momento tão tórrido, nas palavras de uma personagem de Barbra: “Um relacionamento amoroso, enquanto dura, é bom pra cacete”, com o perdão do termo chulo. Aqui, primeiro vem o Sexo, e só depois a refeição, em pombinhos que não querem perder tempo, como na letra romântica da banda Aerosmith, de um homem apaixonado que, ao estar ao lado da amada na cama, não quer dormir, para curtir ao máximo cada momento com a amada. É na letra de outra canção pop: “A noite pertence aos amantes”. O cômodo em si, aqui, fica em segundo plano, sendo apenas detalhes, como ao vermos um filme novamente e captarmos detalhes que anteriormente tinham nos passado despercebidos, na frase da franquia cinematográfica de fantasia História sem fim: “Quando você lê um livro novamente, ele muda!”. Aqui é algo recíproco, pois ambos estão inclinados em direção a um ao outro, ao contrário de uma canção de um apaixonado reclamando à pessoa amada: “Eu sempre tive que ‘roubar’ os beijos de você!”. Aqui são como fantasias de Carnaval, no momento mágico da eufórica interação social no salão colorido, preenchido pelo som frenético dos tambores, num Brasil que é tão privilegiado por ter tido tal herança cultura rítmica africana, no modo como os negros norteamericanos também dão tal tonalidade à cultura daquele país, ao contrário de um certo país, onde pessoas negras não são bem quistas, no mesmo absurdo de se dizer que azaleia não é flor! Aqui é tal momento de embriaguez, nas pessoas portando suas fantasias, no “mico” que é ir a uma festa à fantasia, como eu, fantasiado de faraó, expondo-me ao ridículo, num momento lúdico, como num baile carnavalesco, como uma Vera Fischer recentemente entrevistada num baile carioca, com a diva em nítida embriaguez – deixemos ela em paz! Aqui é aquele amor à primeira vista, num enamorado que acaba se tornando uma das pessoas mais importantes de toda a nossa Vida, no modo como a Vida sem amigos é tão ruim, numa pessoa que acha que vai mudar de vida só porque se mudou de cidade. Aqui é um amor jovem, adolescente, na dama de O Tigre e o Dragão se enlaçando com um “vagabundo”, na mágica junção de opostos.

 


Acima, O olhar de admiração. Aqui é na famosa canção dançante dos anos 1990 I’m too sexy, ou seja, Sou sexy demais, no narcisismo de uma pessoa que realmente se acha Deus, no “abismo” que existe entre altivez e arrogância – altivez é dignidade e autoestima; arrogância, grosseria. Repito que aqui é este pincel mágico de Auguste nos vestidos acetinados das damas, numa suntuosidade, num artista que definitivamente aprendeu tal técnica, fazendo valer as várias encomendas que recebeu em vida. O rosa é tal cor de feminilidade, como no Outubro Rosa, que serve para alertar a mulher brasileira sobre o Câncer de Mama. As elegantes luvas repousam sobre o assento neoclássico, na dama se preparando para ir ao mágico baile, sabendo que sua beleza causará alvoroço entre os rapazes, como no divertido filme A morte lhe cai bem, com uma poção mágica que devolve a juventude à pessoa, tornando-se a juventude eterna, fazendo metáfora com o rejuvenescimento do Desencarne, quando a pessoa, no Plano Metafísico, é jovem, bela, sábia, produtiva e vigorosa, numa Vida cheia de norte e sentido, fazendo metáfora com a deliciosa sensação de ser um estudante num curso universitário, fazendo com que o estudante centre sua vida nos estudos, com o magno objetivo de se formar. Porém, acabado o curso e ganhado o diploma, a pessoa tem que aceitar o desafio de que uma nova fase começa e de que um novo norte tem que ser adquirido, tudo para que a pessoa evite ficar como “mosca tonta” ou ao sabor do vento, como num saco plástico na Rua, sem direção, sem pés no chão e sem nobre propósito – como posso ser feliz sem Yang, sem masculinidade, sem foco e sem objetivo? Não pode faltar Yang. A moça sorri suavemente, como num sociopata que conheci certa vez, uma pessoa narcisista, dançando em frente a um espelho, achando-se nada menos do que o centro do Universo – é o suprassumo do egoísmo. Sobre a mesa repousa um agasalho, tão elegante quanto o vestido e o cômodo. O agasalho é tal proteção, tal resguardo, numa pessoa que está aprendendo sobre a noção de perigo, como numa pessoa atravessando hesitantemente um rio, como se soubesse que ali há perigos. As flores na mesa são como uma suntuosa decoração de baile de gala, com uma banda no palco e senhoras e senhores elegantes, nas palavras de um amigo meu do Ensino Médio: “Baile de gala, de verdade, é no salão principal com a banda ao vivo”, como no casamento de um parente meu em Salvador, Bahia, com uma banda similar à famosa Olodum, com seus tambores vigorosos e contagiantes, numa energia vibrante, numa pessoa que sabe provocar outrem, na sedução da Arte. Aqui é o ato de autoestima de se sair de casa usando perfume, nas moças exalando seus perfumes sobre os rapazes, como eram antigamente dois colégios particulares de Caxias do Sul, ao lado um do outro, sendo um para moças e o outro para rapazes, havendo, na hora da saída, os rapazes indo flertar com as moças, no jogo de sedução de opostos entre liso e áspero – facilidade e dificuldade são faces do mesmo trabalho, diz Tao. A moça aqui gosta de si mesma, e adora o modo como seu cabelo foi ajeitado, querendo eternizar esse momento de beleza e autoestima, como num ator em um filme interpretando o mestre compositor jazzista Cole Porter, com Porter em frente a um espelho antes de ir arrumado para um baile de gala, com Cole dizendo a sim esmo: “Como eu gostaria de eternizar este momento!”. É a glória dos desencarnados, os quais têm a aparência que desejar, como uma amiga minha obesa, a qual, no Plano  Metafísico, é magra e gostosinha, numa gracinha de bunda e em cabelos belos, dignos de comercial de xampu. O espelho é tal símbolo de feminilidade, no espelho mágico da Galadriel de Tolkien, revelando coisas do passado, presente e futuro, no modo como, num jogo de Tarô, os conselhos existenciais só terão validade se a cartomante for nossa amiga íntima, pois, do contrário, as informações serão abrangentes e impessoais. Aqui é na autoestima de uma amigona minha, a qual foi a uma festa de formatura com cabelos ao estilo Rita Hayworth!

 

Referências bibliográficas:

 

Auguste Toulmouche. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 12 out. 2022.

Auguste Toulmouche. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 12 out. 2022.

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