quarta-feira, 22 de março de 2023

Um Homem chamado Homer (Parte 2 de 8)

 

 

Volto a falar sobre o artista americano Winslow Homer, um dos mais importantes pintores dos EUA. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A colina verde. Aqui é um saudável momento de solidão, na necessidade de uma pessoa em ter tais momentos a sós consigo mesma. É como na cena do filmão A Rainha, na qual a monarca está sozinha num campo, e, ali, envolta em extrema privacidade, faz seu choro oculto pela morte da ex nora, a monstruosa Diana. O cabelo arrumado em trança é tal garbo e autoestima, no modo como cada pessoa tem que ter amor próprio, ao contrário de um amigo depressivo que tenho, cuja autoestima está lá, no fundo do poço, por assim dizer, numa pessoa que sequer curte seus próprios predicados. A moça aqui parece se espreguiçar, saindo de um profundo sono, nos misteriosos códigos oníricos, partes de nosso self projetadas, na análise de sonhos em consultórios de Psicologia, neste importante acompanhamento existencial terapêutico, como já ouvi dizer: Uma psicóloga é uma comadre bem paga! O campo aqui é um majestoso carpete, num conforto de andar de pés descalços dentro de casa, em terras deliciosas como a Bahia, sem o risco de pegarmos resfriados ao andarmos de pés descalços, em particularidades baianas em se tomarem de dois a três banhos diários, diferente do padrão cultural gaúcho, que é apenas um banho diário. A menina é jovem, e não parece ter maturidade para tomar decisões importantes, como decisão de carreira profissional, como um jovem rapaz que conheço, o qual está meio perdido, sem saber se quer de fato cursar o curso universitário que está cursando. As nuvens brancas aqui são os sonhos, como num sonho de uma menininha em ser rainha da Festa da Uva, no momento de celebração social, num momento especial, de garbo e beleza, unindo toda uma comunidade em torno de algo nobre, que é a celebração da Vida, da vindima, fazendo da Itália o país das vindimas, com inúmeras festas municipais de norte a sul do país em forma de bota. O chão aqui é selvagem, sem pavimento, num chão de terra, selvagem, numa região campeira, longe da poluição asfáltica das urbes grandes, num Homer que viveu em grandes centros urbanos, sempre preferindo as cenas campestres, praianas, Aqui, parece que nada abalará tal paz, nos anseios da canção de Elis: “Eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor!”. É um desejo por paz e sossego, num líder que sabe que tem que respeitar o sossego do cidadão comum, nunca interferindo no dia a dia pacato do cidadão, num líder que respeita o povo e por este é respeitado, na máxima popular: “Respeito é para quem tem!”. As árvores ao fundo fincam fundo suas raízes, numa segurança, como num marido sério e centrado no trabalho, na firma, sendo uma rocha firme que dê à própria esposa a sensação de segurança e estabilidade, mas numa mulher que gosta, no mesmo homem, de um pouco de romantismo e cavalheirismo, como nos sermões que a personagem Genoveva dá no marido grossão Radicci, no talento do cartunista gaúcho de Carlos Iotti, o cartunista genial que, não sei por quê, foi desligado de suas funções no Grupo RBS – vai entender? Aqui é o maravilhoso silêncio do campo, muito longe dos barulhos urbanos, ao contrário da personagem Teresa de O Quatrilho, a qual, camponesa, ansiava em morar em grandes urbes como São Paulo, apaixonando-se por um homem que passou a representar todos os anseios da sensível sonhadora Teresa, a qual se desiludiu com um marido pouco romântico. O vestido da moça e o chão formam um continuum, talvez numa pessoa que nasceu e cresceu em tal ambiente rural, remetendo ao excelente restaurante gramadense Sabor Rural, num buffet de comidas campeiras, dentro de uma casa de madeira, ao modelo das antigas casas de imigrantes italianos. As colinas aqui se mostram majestosas, no conceito taoista de que os campos e florestas vestem roupas majestosas, como numa suntuosa fantasia carnavalesca, no momento em que a cidade do Rio de Janeiro se torna o maior espetáculo da Terra, em meio a tanto esplendor tropical que tanto seduzia o compositor lendário americano Cole Porter.

 


Acima, Menina na rede. Que deliciosa languidez, no gostoso pecadinho capital da Preguiça, pois até Deus descansou ao sétimo dia, num colono italiano que só não laborava nos domingos porque o padre e a religião não permitiam. Aqui é este modo indígena de repouso, numa rede balançando como no delicioso e morno líquido amniótico, com conforto do lar da barriga materna, na particularidade mamífera em nutrir de leite as crias, no prazer de se mamar numa caixinha de leite condensado, rechaçando o pecadinho da Gula, no modo como no Plano Metafísico há doces deliciosos para serem degustados, no perfume de chocolates ao entrarmos numa chocolataria gramadense, num Éden para os gulosos, que sabem o valor de tal pecadinho, rechaçando a culpa religiosa. Aqui é um momento de absoluta paz, de leitura tranquila, e podemos ouvir o gostoso canto dos pássaros e talvez das cigarras, numa cena de agradável Verão, a estação das férias e do descanso, em brincadeiras aquáticas no mar e na piscina, agregando os amigos em lindas recordações, como me disse uma amiga de adolescência: “Nós éramos felizes e sabíamos!”. Aqui é um vaivém de respiração, de vida, como nas ondas do mar indo e vindo, respirando, como no calçadão de estampa tortuosa da beiramar carioca, ao som do mestre Tom Jobim, nesta grande invenção que tomou o Mundo – a Bossa Nova, num casamento sofisticado com o Jazz, em gênios jazzísticos como a canadense Diana Krall, tranquilamente combinando os dois estilos numa voz discreta e minimalista, como manda a Bossa Nova. As árvores fortes, que sustentam a rede, são tal força de sustento, na responsabilidade de um pai em nada deixar faltar dentro de casa, nessa enorme responsabilidade de formar uma família, pagando mensalidades escolares e vacinando direitinho os filhos, querendo prover de carinho os filhos mas também não querendo mimar estes demais, numa certa senhora que tem um neto, nela dizendo: “Este vou mimar bastante porque vejo que será meu único neto!”. É a imortalidade dos vínculos de família, os quais não se desfazem com o desencarne, como num certo finado ator pornô, o qual levou uma vida de descaminho, sem construir algo de positivo e talentoso, morrendo de AIDS, sendo sepultado junto do próprio pai num cemitério, no bom filho que à casa retorna. Aqui é uma pessoa que conhece o valor da reserva, do retiro, encontrando paz numa leitura, como num Luis Fernando Veríssimo, meu ídolo, sedento por leitura, numa pessoa que, apesar de discretíssima, sofre assédios na Rua, com pessoas querendo tirar selfies com o escritor que tanta reserva tem – temos que respeitar a privacidade de qualquer cidadão. Nenhuma outra vida humana há aqui, na virtude da quietude, em ironia rímica. Podemos ouvir aqui o aveludado farfalhar das folhas na brisa de Verão, num ruído tão delicioso, num processo intermitente de renovação, no mistério da Vida Eterna, onde tudo é processo, no modo como no Plano Metafísico o desencarnado se depara com o fato de que temos sempre que nos manter produtivos, estando ou não encarnados, no modo como a tal Plano Espiritual não existe a palavra “aposentadoria” – sempre mostre ao Mundo teu talento! É como um Pelé, mostrando tal talento monstruoso, num homem que transcendeu cor e raça. Aqui são os necessários momentos de descanso, na importância em uma nação desenvolver Cultura Erudita, a qual começa nos disciplinados bancos escolares, num país formando suas elites, pois para qualquer do Mundo em que vamos, e ali entramos em contato com os intelectuais locais, damo-nos de que a Ser Humano é tão universal, na necessidade da pessoa em mostrar ter talento artístico, científico ou desportivo, na universalidade olímpica. Aqui é uma saudável vadiagem passageira, com a rede ondulando ao sabor do vento, como num saco plástico na Rua, ao sabor do vento, num surfista que sabe surfar na onda, numa pessoa que aprendeu a tarefa de “surfar”, fazendo da vicissitude uma delícia, num surfista prostrado perante um mar sem ondas. Aqui precisamos respeitar tal momento de retiro, pois a moça está absolutamente inofensiva, sem fazer mal a uma mosca. “Deixe-me em paz”, diz a moça.

 


Acima, No estilo. Aqui é o momento transitório entre infância e maturidade sexual, quando a criança naturalmente começa a se desinteressar pelos brinquedos, até o momento em que a mãe decide guardar tais brinquedos para talvez encaminhar os objetos para doação – pelo menos foi assim comigo. A paisagem é de um doce verão, na gloriosa época de férias, em brincadeiras com amigos junto à água, numa época em que a vida é mais simples, pois a criança se contenta com pouco, longe do leque de exigências de um adulto. Os garbosos chapéus são não só a elegância, mas a proteção, como na logomarca de uma certa firma de seguros, com uma pessoa protegida por um guardachuva, no ditado popular: “O seguro morreu de velho!”. A delicada fita do chapéu da moça é tal frágil feminilidade, numa mulher que gosta de homens românticos e cavalheiros, que abrem a porta do carro para uma dama, ou carregam as sacolas de compras desta no shopping, numa passividade: A dama tem que ter um papel passivo, inspirando o homem a fazer a gentileza, pois a partir do momento em que a dama impõe o tratamento de dama, deixa de ser dama! É como numa gentileza que fiz hoje na Rua, quando eu, ao observar uma senhora bem idosa, ela com bengala, com sacolas de lixo na mão, ofereci-me para colocar tais sacolas no container de lixo, um gesto que me deu prazer em fazê-lo, numa pessoa que quer ser generosa, gentil. Aqui, o casalzinho pula uma cerca, que são os limites, as normas e as regras de convívio social, no imprescindível papel do transgressor, chocando uma sociedade e fazendo esta evoluir, na máxima de Dalí: “Feliz daquele que provoca o escândalo!”. A cerquinha aqui é um ato oculto, longe dos olhos dos pais da menina, numa confidência erótica, talvez num caso secreto, o qual, por ser secreto, é cálido. As mãos dadas são tal confiança, tal liga, em uma amizade sólida, cheia de intimidade, talvez no primeiro namoro da vida dos dois jovens aqui, na letra de uma canção de Laura Fygi, que diz que a infância da menina acaba quando esta arranja seu primeiro namoradinho, neste limiar transitório, numa meia luz, luar, quando a pessoa começa a sentir os próprios hormônios ferverem, numa época da vida em que é normal se masturbar dez vezes por dia, conforme ouvi em uma palestra da imponente Marta Suplicy, uma mulher que, definitivamente, não é tola nem simplória, imponente como um prédio elegante em estilo neoclássico, em construções que nos fazem “cair o queixo”. Aqui o casal está isolado do resto do Mundo. Talvez o rapaz queira levá-la para um lugar oculto, onde possam se beijar e talvez fazer algo mais, numa confidencialidade, numa cumplicidade, como num casal que, em segredo, decide experimentar maconha, só por curiosidade, e não com intenções perenes de puxar tal fumo. As rendinhas da roupa da moça são a feminilidade, a fragilidade que excita o menino, como uma princesa criada “debaixo de sete chaves”, resguardada, sendo entregue pura e casta ao marido na igreja, o qual pode, tranquilamente, iniciar a vida sexual com uma prostituta – são os preconceitos do patriarcado, no qual a mulher não pode ser livre, irritando as intelectuais feministas, que lutam para ir contra tal vento patriarcal. É como no final feminista do filmão Thelma e Louise, com as duas se jogando em um precipício, rechaçando os preconceitos misóginos do patriarcado. Podemos aqui sentir o delicado perfume da moça, nos encantos de feminilidade, no encanto de uma mulher perfumada, dando título ao filme Perfume de Mulher, como um rapaz homossexual que certa vez conheci, o qual usava perfume de mulher, no ícone máximo de Marilyn Monroe, a qual dizia dormir nua, apenas usando duas gotas da fragrância Chanel número cinco. As mãos dadas são tal link, tal ligação, tal intimidade, e a moça confia no menino, o qual a leva para um lugar desconhecido, reservado longe de um pai autoritário, que acha que as mulheres não podem ter sexualidade. Aqui é uma superação de obstáculos e de percalços.

 


Acima, O trevo de quatro folhas. Aqui é um momento de espera, de resguardo, numa pessoa esperando por um momento propício para agir, pois, se você esperar, você poderá agir, nas sábias palavras de que Deus não fez tudo num dia só. A janela é o vislumbre, numa contemplação, numa pessoa num momento de folga e espairecimento, não querendo ficar o dia inteiro dentro de casa, na pessoa que quer si de casa e relacionar-se com o Mundo, cumprimentando as pessoas, em relações que fazem com que nossa vida não seja tão solitária, ao contrário de uma pessoa ociosa, a qual não usa os atributos que Deus lhe deu, o que é um grande desperdício, pois cada um tem que encontrar a si mesmo, no patinho feio que se descobriu cisne, num processo cognitivo, no grande desafio existencial que é o autoencontro, como uma pessoa perdida, sem autoestima, sem força para viver, no desperdício que é a vida de uma pessoa financeiramente rica e espiritualmente vazia, como uma senhora improdutiva que conheço, a qual perde tempo fazendo fúteis fofocas, uma senhora a qual, ao desencarnar, vai se dar contar de tal vazio, topando reencarnar para levar uma vida produtiva e construtiva, “partindo em busca do tempo perdido”, pois uma nova vida é sempre uma nova chance e uma nova folha em branco, no aluno que aprende e cresce, num eterno recomeço, como na fabulosa comédia Feitiço do Tempo, na qual o personagem de Bill Murray acorda todos os dias no mesmo dia, só se libertando ao aprender a fazer tudo direitinho, no modo como o poder imenso e infinito de Tao sempre dá novas chances aos seus filhos, numa paciência inesgotável, sabendo que a Eternidade é tempo para qualquer reencontro, em laços de amizade desapegada, ao contrário do amor doente, fixado e obsessivo, pois somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai, ou seja, não há motivo para idealizações ou demonizações de pessoas, pois atire a primeira pedra quem nunca pecou. Aqui as flores são tal vida e beleza, na natureza lasciva reprodutiva, no cio primaveril de recomeço, de renovação renascentista, no sopro de frescor renascentista, remetendo a Europa a novas dimensões e percepções, pois os novos movimentos sempre vêm, e cada geração tem seus ídolos, como para mim, por exemplo, Mulhergato é Michelle Pfeiffer, com o respeito a todas as outras Mulhergatos. Aqui, o gramado é como um carpete, como numa sala de visitas ao ar livre, fresca, saudável, bela e viva, na vitória da vida primaveril que recomeça, rechaçando as pessoas grossas, vazias e obtusas, as quais não têm como entender, sem malícia, o que é classe e sensibilidade, em ícones colossais como uma Jackie O., envolta na vida artística de Manhattan, numa mulher que sabe que classe vem de dentro, pois a Arte é o que há de humano, pois qual macaco pinta ou esculpe? Nesta cena tão plácida, podemos ouvir os “colírios” sonoros que são os cantos de pássaros, como nas arborizadas ruas de Porto Alegre, com o canto plácido de bem te vis, em um momento de paz nos quais temos uma amostrinha da paz inabalável do Plano Superior Metafísico, na letra do músico gaúcho Duca Leindecker: “Sonhei que as pessoas eram boas em um mundo de amor!”, e é para lá que vamos, meu irmão. A menininha segura um singelo trevo de quatro folhas, o símbolo da sorte, algo tão raro de ser encontrado, como um artista de raro talento como Barbra, remetendo à ocasião em que minha irmã, em nossa casa de Caxias do Sul, encontrou no gramado um trevo de quatro folhas, algo realmente inusitado. A menina aqui é delicada e comportada, contente com seu trevo, no modo como paisagens campestres exercem tanto fascínio sobre crianças da cidade, como nos passeios campestres que eu fazia com minha família em propriedades rurais nos Campos de Cima de Serra, RS, em pastagens que vestem roupas tão bonitas, na contemplação do gaúcho frente tal riqueza, num homem simples, o qual não fica contemplando só os palácios, na majestade de Tao, o indecifrável e, assim, maravilhoso. O vestidinho branco é tal paz.

 


Acima, Ponto de luz ao leste. Aqui é a magia que a Lua exerce sobre o Ser Humano, no alinhamento dos ciclos menstruais, num símbolo de feminilidade e de loucura, por assim dizer, no termo “ser de Lua” algo imprevisível. É como em uma cena de Os Dez Mandamentos, com uma linda princesa egípcia com o Rio Nilo ao fundo à noite, banhado da luz prateada de uma Lua tão sexy, no símbolo dos enamorados. É como no monumental quadro A Noite, de Pedro Américo, na deusa enluarada, vestida pelas lingeries sexy da grife feminina Victoria’s Secret, num símbolo de feminilidade, sedução, numa Cleópatra seduzindo grandes homens, num filme com Liz Taylor que quase quebrou o estúdio, como se a rainha tivesse seduzido tais executivos! Vou falar algo que parece ser óbvio, mas não deixa de ser irônico: Não importa para qual lugar do Mundo você vai – a Lua sempre será a mesma, fazendo da Lua tal símbolo da universalidade humana, na sedução de um lobo uivando, solitário, sexy no seu caminho solitário, na pele macia em contraste com os dentes afiados, numa Mulhergato, que combina suavidade de veludo com agressividade. Os solitários barcos aqui estão em suas missões pelo Mar, em marinheiros desbravando terras virgens, tomadas de selvagens canibais, em um choque de civilizações, no homem europeu dizimando os indígenas, cujos descendentes paupérrimos ficam nas calçadas de Caxias do Sul pedindo esmolas, indígenas descendentes de quem foram, no passado, donos e senhores das terras das Américas, na capacidade humana em se impor da forma mais brutal e cruel possível, resultando na escravidão, ou seja, irmão chicoteando irmão, e isso não é horrível? O quadro aqui é praticamente bicromático, apenas com um azul marinho profundo e um luar branco, num azul tão profundo, na cor da discrição, da seriedade, em discretos ternos de executivos e congressitas em Brasília. Muito ao fundo, quase imperceptível, vemos um paladino farol rubro, guiando os navegadores, tendo que ter listras contrastantes que atraiam tal visão dos marinheiros, num símbolo de resistência, como na icônica fotografia de um militar beijando ardorosamente a namorada ao fim do conflito, numa paz mundial restabelecida, numa paz tão frágil, incapaz de solucionar conflitos resistentes, como no atual embate Rússia/Ucrânia, na prova de que o Ser Humano é infeliz, num rei nunca contente dentro de seu próprio reino, pois se sei que tenho o suficiente, tenho sabedoria, no caminho do contentamento, na pureza das crianças, as quais se contentam com pouco, crianças que têm muito a ensinar aos considerados “adultos”, nas eternas palavras de Jesus: “Vinde a mim as criancinhas, pois é delas o Reino dos Céus!”, como na doce infância em Cidadão Kaine, no trenó Rosebud que lembrava de tempos mais simples, com brincadeiras na neve, numa época da Vida em que a pessoa traz um residual do Plano Metafísico, o reino da paz eterna, delicioso para quem gosta de produzir de alguma forma. Os barcos aqui lembram a canção de Bossa Nova: “Um barquinho a deslizar no profundo azul do mar”, numa geração que tanto sofreu com a Ditadura Militar, como a geração de meus pais, pontuada por gênios artísticos que eram a vitória da classe sobre a obtuosidade, numa resistência elegante e silenciosa, prometendo uma reabertura democrática e uma volta do exílio. Aqui é o reconfortante barulho do mar, incessante com suas ondas indo e vindo, acalentando o sono, como dormir ao som do mar, aos braços de Mãe Iemanjá, a deusa poderosa e sensual que traz fartura às redes dos pescadores, como no milagre cristão da multiplicação dos peixes, na fartura de um reino rico, onde o cidadão é feliz, na contradição japonesa, num Japão economicamente rico e, ainda assim, detentor de altos índices de suicídios entre os cidadãos japoneses. Aqui é a independência e a soberania da Lua, a qual tem suas fazes sui generis, ao contrário do sisudo Sol, o homem trabalhador que acorda todos os dias, na infalibilidade do Yang, a garantia diária do labor. Aqui, a Lua é a mãe, e os barcos são seus filhos, guiados pelo caminho do Amor, numa Madona com o filho.

 

Referências bibliográficas:

 

Winslow Homer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 30 nov. 2022.

Winslow Homer. Disponível em: <www.mutualart.com>. Acesso em: 30 nov. 2022.

Winslow Homer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 30 nov. 2022.

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