quarta-feira, 12 de julho de 2023

Ver Vermeer (Parte 3 de 5)

 

 

Falo pela terceira vez sobre o artista holandês Johannes Vermeer. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A rendeira. Aqui é a dedicação e a concentração, numa pessoa se dedicando de fato a algo nobre e produtivo, ao contrário de uma pessoa que se prostitui, uma pessoa que nada está construindo e a lugar nenhum está chegando – vá arrumar um emprego decente, rapaz! É a questão da dignidade, numa pessoa decente e trabalhadora, uma pessoa que se dá ao respeito. A coluna curvada é tal pose de esmero, nas palavras de minha falecida avó materna, a qual me mostrava suas velhas mãos e dizia: “Essas mãos foram úteis ao Mundo, pois com elas lavei, passei, costurei e cozinhei!”. É a questão de se ter uma vida produtiva e positiva, encontrando um norte nobre, uma meta nobre, sabendo que qualquer trabalhinho conta, na grande construção da carreira espiritual, num pai orgulhoso em ver um filho se formando na faculdade, fazendo metáfora com a “formatura” que é o Desencarne, num momento em que o “filme” da vida da pessoa passa, mostrando o quanto aprendemos e crescemos em tal encarnação, no eterno retorno ao Lar Verdadeiro, fazendo da Terra tal lar de passagem, um lugar no qual ninguém está para sempre, no glorioso dia de soltura, o qual sempre chega, meu amigo. O cabelo da moça está absolutamente aprumado, como uma moça que vi certa vez num shopping, impecavelmente arrumada, batalhando por um emprego numa livraria de grande porte em Porto Alegre, no modo como é importante que um vendedor tenha uma boa aparência, no peso de um bom atendimento, como na excelência de atendimento na rede Magazine Luiza, ao contrário de um certo estabelecimento caxiense, no qual o atendimento é antipático, arredio e até grosseiro – seja fino, rapaz! Aqui temos uma ironia de metalinguagem, pois é o labor de Vermeer falando sobre o labor da rendeira, tal como num filme em que uma atriz interpreta outra atriz, como brilha Goldie Hawn em O Clube das Desquitadas, interpretando uma atriz, numa atriz que, assim, ficou muito à vontade no set. Aqui é a paciência, como num paciente ator desdobrando o personagem, como me disse certa vez Gloria Pires, a qual disse que é necessária paciência para que se entenda e ame-se o personagem. O cabelo arrumado é a disciplina, numa pessoa com autoestima, chegando arrumada e perfumada para mais um dia de labor, na delícia que é a pessoa se sentir útil ao Mundo, no modo como o Plano Metafísico é o paraíso para os que gostam de se manter produtivos, ao contrário do Umbral, a dimensão sem qualquer mínima produtividade, no modo como pode ser um inferno a vida de uma pessoa rica e improdutiva, num vazio existencial que só pode ser preenchido pelo labor, nas sábias palavras de Leo DiCaprio: “Não pode faltar trabalho”, num ator que MUITO teve que ralar para receber, finalmente, um Oscar, numa Hollywood que pode ser tão dura, sendo duas coisas: A terra do sucesso e a terra do fracasso, na lei de que ninguém está por cima o tempo todo, havendo o deboche que é a Framboesa de Ouro, debochando de quem está num momento fraco da carreira, como num oscarizado Jared Leto, sendo o Coringa que não deu certo – fazer o quê? O importante não é sacudir a poeira e seguir em frente? Como Madonna, a qual sempre se fode como atriz, com o perdão do termo chulo, disse: “Eu fiz álbuns dos quais as pessoas não gostaram. Está ok. Pois você acorda no outro dia e a vida continua”. Aqui é a vitória do trabalho, do esmero e do talento, no modo como apenas puxar ferro em uma academia não é talento, pois tudo o que temos que mostrar ao Mundo não são músculos, mas talento para algo, no talento avassalador de uma Gisele numa passarela, na moça comum que se tornou princesa, numa pessoa realista, que sabe que não pode faltar trabalho, como no conto da lebre e da tartaruga, a qual venceu por ter sido subestimada pela lebre, como num jogador que sabe que não pode entrar em campo “de salto alto”. Aqui é uma tarde rendendo, na gloriosa sensação de dignidade que o trabalho traz. Aqui é como Tao criando um filho, depositando todo o Seu amor em tal filho, pois nada é pequeno demais para desmerecer Sua integral atenção.

 


Acima, Mulher com colar de pérolas. Aqui é esta paixão de Vermeer pela luz natural, num talento tão claro de ser observado. A mulher olha por uma janela – são as perspectivas, numa pessoa observando sua própria vida, como num senhor que conheci, o qual se desiludiu com a carreira de ator e tornou-se advogado, no modo como todo mundo tem o direito de sonhar com uma vida melhor, no modo como não são raros os casos de pessoas que mudam de carreira, como em Reagan, um ator que enveredou para a política. Vermeer gosta de tapetes e tapeçarias, pintando o desdobramento do tecido, como no majestoso manto de Maria na Pietà de Michelangelo, um manto digno de rainha, no modo como nossos entes queridos desencarnados nos cobrem com tal manto, protegendo-nos, querendo sempre nos ver pelo bom caminho, como uma pessoa que conheço, a qual está sendo feliz com um relacionamento amoroso, num casal discreto, o qual não permite ao Mundo dizer a este casal como este deve viver, no ato necessário de, de algum modo, mostrar para o Mundo o dedo do meio: Se você não gosta do modo como vivo minha vida, foda-se, com o perdão do termo chulo o qual pode ser tão útil às vezes! A moça aqui não é proletária, mas de casta nobre, como na burguesia rica contratando os serviços de Renoir, como no célebre quadro no MASP das duas meninas, no modo como o Impressionismo, no início de tal movimento, foi visto como uma brincadeira e não como um estilo próprio de pintura, num estilo que levou algum tempo para ser absorvido pelo Senso Comum, como na evolução dos idiomas, num eterno processo de transformação, até a trema ser abolida da Língua Portuguesa, num caminho de simplificação, remetendo à Pedra da Roseta, a peça a qual foi a chave para que o Mundo Moderno decifrasse a língua morta que é o Egípcio Antigo, num grande professor linguista como Tolkien, o qual dotou sua obra de aspecto linguísticos, como no idioma dos elfos, dando uma base de verossimilhança a tal obra fantástica. O colar de pérolas é tal adorno, nas joias seduzindo as mulheres, na chic Audrey Hepburn comendo croissant em frente à vitrine de uma famosa loja de joias, como na personagem Amy em The Big Bang Theory, derretendo-se toda ao ganhar do namorado uma tiara de pedras preciosas, num adorno que faz com que a mulher se sinta uma princesa, uma moça especial, privilegiada, sustentada por uma forte e firma mão patriarcal, como vi certa vez um programa de TV num aeroporto, o qual mostrava moças um tanto vulgares, que iam para as noitadas de Ibiza para arrumar um marido rico, neste jogo de sedução entre riqueza masculina e glamour feminino. A moça aqui está arrumada com laços no cabelo, no esmero de uma mãe em arrumar a filha, arrumando esta para uma festa, enfurecendo o pai: Como pode uma menina tão jovem sair de casa maquiada e de salto alto? É no ato do baile de debutante, na moça sendo mostrada pelo pai para a sociedade, como já ouvi palavras de crítica de uma ex debutante: “Que machismo! É a menina sendo apresentada como um pedaço de carne!”. A cadeira vazia aqui é tal vão, tal carência, numa moça que quer muito casar e sair de casa, no mito do príncipe idealizado, como numa mulher que conheço, a qual, no momento do enlace, sentiu-se enlaçada com um príncipe, mas num marido o qual depois, no decorrer dos anos de casamento, revelou-se num grossão sem um pingo de romantismo, numa mulher que se decepcionou profundamente, no fato de que, em um casamento, todos os dias um tem que dar uma pequena reconquistada no outro, para que, assim, não se perca o calor da Lua de Mel, em coisas simples, que não valem um centavo, como um beijo e um abraço – o melhor da Vida é de graça ou custa pouco dinheiro. Aqui é o mito da Rapunzel encastelada esperando pela libertação do falo do príncipe, como no fim do filmão Uma Linda Mulher, com o homem em seu “cavalo branco”, que era uma limusine, empunhando o falo de libertação e realização, que era um guardachuva fechado. Aqui talvez é uma moça jovem demais, que acredita em contos de fada, na moça que um dia será mulher madura e adulta.

 


Acima, Mulher de azul lendo uma carta. A carta é uma revelação, e a mulher está absolutamente absorvida pela leitura, ao ponto de ficar alheia, cega e surda em relação ao que lhe envolve, num momento de alta concentração. A mulher não está sentada, mas em pé, sem relaxar muito, talvez por ser uma notícia muito séria, remetendo ao sério semblante de uma colega que tive no Ensino Médio, uma aluna altamente aplicada, tirando as melhores notas do colégio, uma queridinha dos professores, uma menina a qual, ao receber a prova corrigida e nesta não tirava nota dez, pegava o papel e perguntava para si mesma: “O que diabos aconteceu para eu não tirar dez?”, talvez um espírito que viveu a encarnação anterior de forma muito aleatória, sem se centrar e sem produzir algo de nobre, topando reencarnar filha de pais extremamente exigentes em relação a disciplina, num espírito partindo em busca do tempo perdido, como uma pessoa que abandonou uma faculdade, deu-se conta do erro e reentrou na academia para se formar, no modo como é triste a vida de uma pessoa que largou a faculdade e subestimou a importância de fechar um ciclo, como numa transa sem orgasmo, numa história de vida triste, vazia. Aqui as cadeiras vagas são a dúvida, numa moça confusa, que não sabe se vai casar com quem deseja, como em palavras que ouvi certa vez: “Mulher quer é casar. Se tiver filhos e carreira, melhor. Se não, está casada”, como numa Grace Kelly, que abandonou uma carreira brilhante para se casar e se tornar uma indolente dona de casa de luxo – é meio triste. Aqui são essas moças aprumadas de Vermeer, com seu cabelo arrumado, sem um único fio de cabelo fora do lugar, no modo como é importante, na vida pública, a aparência da pessoa, pois os que se arrumam ganham a confiança do povo, como uma certa senhora, a qual não se elegeu presidente por ter uma aparência ruim, remetendo a uma pessoa sociopata, a qual conseguiu se eleger por ter uma aparência acima de qualquer suspeita, como um senhor que vi certa vez na Rua, um senhor que usava tornozeleira eletrônica, um senhor com uma aparência acima de qualquer suspeita, como no discernimento de Tolkien: o maus têm uma aparência boa mas causam uma sensação desagradável; os bons têm uma aparência não tão boa mas causam uma sensação agradável. É como no garbo dos nazifascistas, ou na boa aparência das forças malévolas de Darth Vader em Star Wars – é um horror. Ao fundo da moça um Mapa Mundi, que é a acumulação de conhecimento, nos recentes casos de pessoas que creem que mundo é plano, no que insisto em dizer: Ignore os ignorantes. Mais uma vez aqui vemos a maestria de Vermeer em usar a luz natural, algo repetido depois por Paul Cézzane, o mestre impressionista. Neste quadro temos pontos de escuridão, de dúvidas, no filmão Dúvida, com a deusa Meryl Streep, numa freira que tinha certeza, em seu coração, da pedofilia de um padre, mas numa freira que, ao ouvir a cabeça, ficava em dúvida, talvez por falta de provas concretas da pedofilia de tal sacerdote, no modo como não podemos só ouvir o coração, como numa pessoa se apaixonando por outra – certifique-se de se trata de uma pessoa a qual, antes de tudo, respeita você, como uma certa senhora famosa, a qual certa época se relacionou com um sociopata manipulador, que usou tal senhora para se promover, nessa capacidade do sociopata em manipular as pessoas. Aqui é o modo como o papel teve tal importância na construção civilizatória da Humanidade, chegando hoje à era digital, remetendo à minha infância nos anos 1980, nas cartas pelo correio, no modo como, nos anos 1990, e-mail era uma coisa chic, algo que, hoje em dia, é algo banal e comum, numa época em que não se imaginava tecnologia mais avançada do que a mídia CD. A moça segura a carta com força, talvez com a vontade de amassar o papel, no modo como, no passado, ler e escrever era privilégio para poucos, algo que hoje é tão democratizado, com todo e qualquer cidadão sendo alfabetizado, nas palavras de um certo professor sábio: “O conhecimento tem que ser para todos”.

 


Acima, Mulher segurando uma balança. Aqui é a ponderação, em coisas sendo medidas na balança, numa pessoa avaliando custo e benefício, na imagem da justiça cega, punindo doa a quem doer, no modo como nenhum cidadão está acima da lei, no respeito pela lei, um respeito que é o que garante que o corpo social fique coeso. Aqui é uma mulher muito rica, frente a um portajoias cheio, na lição taoista: Quanto mais tesouros tenho, menos seguro estou, como num casal de amigos meus, o qual acumulou uma coleção de joias preciosas, um casal que foi assaltado brutalmente por bandidos profissionais, os quais renderam e ataram o casal, perguntando: “Onde estão as joias?”. É como na coroa imperial britânica, a qual vale tanto que sequer pode sair do cofre, havendo no monarca corado uma réplica, uma bijuteria, evitando o risco de assalto e roubo, na ilusão das joias, as quais nada mais são do que pedras fadadas à danação da matéria, pedras que giram em torno do que interessa, que é a vida eterna, este presente de Tao, o qual é o infinito, assim como creem os espíritas – existe poder maior do que o fato de que jamais findaremos? Aqui é como no filmão Cassino, com a personagem Ginger com suas inúmeras joias, uma personagem que mergulhou em depressão, na prova de que riqueza não traz felicidade, como na idosa Rose em Titanic, jogando no fundo do mar uma joia valiosa, na questão do desapego, como no Sam salvando Frodo na Montanha da Perdição de Tolkien: Você tem que se desapegar! É como numa Diana depressiva em meio aos privilégios de princesa, recebida como uma deusa no Taj Mahal, sentada e cabisbaixa, deprimida, querendo expressar aos fotógrafos sua sensação de vazio e infelicidade, talvez num marido que se tornou frio e indiferente, no modo como os casamentos acabam porque o romantismo da Lua de Mel murchou e ficou amargo, como um casal de amigos meus, num casamento que esfriou, resultando em divórcio. A moça aqui parece estar grávida, pesando na balança os prós e contras de ser mãe, na sabedoria popular: Ser mãe é padecer no paraíso. O nenê é a espera, como na leoa penetrada pelo leão, tendo que esperar o dia do nascimento chegar, no machismo patriarcal que reduz a mulher a um mero útero reprodutor, na misoginia de que a obraprima de Deus é Adão, havendo em Eva um mero arremedo com a função reprodutiva, no termo machista: Bela, recatada e do lar. É na coragem feminista de ir contra o vento do patriarcado, denunciando a grosseria de pessoas que pensam que as mulheres têm a obrigação de aturar os desrespeitos preconceituosos patriarcais. Ao fundo da moça uma pintura que mostra a ressurreição de Cristo subindo aos céus, quando que tal ressurreição nada mais foi do que o desencarne de tal homem notável, o maior intelectual da História do Homo sapiens, um homem cujo legado está até hoje sendo assimilado pelo Ser Humano, no conceito da Eternidade, sobre a qual não é possível que falemos. A ressurreição é como uma pessoa se encontrando na vida, encontrando um propósito nobre, no modo como não existe o substantivo “aposentadoria”, pois qualquer pessoa nunca pode parar de fazer algo de nobre, no modo como qualquer trabalho conta na construção da grande carreira espiritual, como num ator vivendo vários personagens; como numa pessoa vivendo várias encarnações. A barriga é o milagre da vida, no poder que a mulher tem em trazer vida ao Mundo, perpetuando este, um poder que resulta no patriarcado: A mulher já é poderosa demais, logo, o homem tem que assumir todo o resto, para compensar o poder de trazer vida ao Mundo, no modo como é difícil de imaginar que um dia teremos uma papiza, em ícones feministas de Elizabeth I, recusando casamento, o qual reduziria a rainha a uma mera dondoca com obrigações reprodutivas. As joias representam o ouro da vida, que são os amigos, sendo insuportável e desconfortável uma festa na qual não temos um só amigo, havendo no Umbral tal privação, num lugar tão desolado e solitário, um lugar habitado por nossos irmãos sofredores, as pessoas de pouco apuro moral.

 


Acima, O concerto. A aula é a disciplina, num mestre exigente, como uma professora de Filosofia que tive, a única cadeira na qual quase rodei em minha faculdade de PP, numa cadeira que deveria se chamar “Introdução à Filosofia Ocidental”, pois há filosofias de cunho oriental no Mundo, como Tao, um livro que, apesar de ter sido escrito há milênios, segue perfeitamente atual, na atemporalidade das questões humanas; na universalidade das bondades e mazelas do Ser Humano, algo que pode ser adaptado ao Facebook: “Há muita falação por aí. É bem melhor ficar quieto”. Aqui, na mescla entre aula de Música e as pinturas na parede, temos o fato de que as Artes estão umas dentro das outras, como no casamento perfeito entre Dança e Música, ou entre Cinema e Música, ou entre Cinema e Artes Visuais. Um instrumento repousa no chão, esquecido, que é o necessário descanso, num momento de pausa, pois a Vida precisa de pausa, pois até Ele descansou no sétimo dia, na questão do imigrante italiano no RS, um imigrante que abraçava uma vida de trabalho árduo, numa vida workaholic, num colono que só não trabalhava no Domingo porque o padre e a religião não permitiam, como na atriz Jodie Foster, a qual disse em entrevista que se obriga a NÃO trabalhar nos fins de semana, pois a Vida precisa um pouco de descanso e de contemplação, como numa Gisele passeando disfarçada no tradicional Parcão em Porto Alegre, sendo fotografada por pessoas que não compreendiam de que ali era uma cidadã no seu momento de folga e de descanso, como numa celebridade que simplesmente não pode sair na Rua sem um guardacostas – a fama nesse sentido pode ser uma prisão, num astro que não pode fazer em paz um piquenique no Central Park numa manhã de Domingo de Verão, pois a fama tem lá seu preço. O professor está alheio, de costas para o espectador, como na transgressão de Gretchen, rebolando de costas para o público para mostrar o bumbum, transgredindo a regra de que o artista nunca pode dar as costas ao público, como no protocolo de se encontrar com o monarca britânico, nunca podendo dar as costas a este, remetendo a Charles III, um homem que ocupa um trono poderoso de tradição milenar, reinando sobre um terço da Humanidade, mas um homem que não tem um pingo de carisma, muito ao contrário da bomba carismática que era Diana – na vida não se pode ter tudo. De forma discreta, ao lado do professor alheio, vemos um pau, uma vara, que é o falo, a praticidade do pensamento racional, o qual é libertador, ao contrário do coração, o qual é sempre traiçoeiro, nos levando pelos labirintos das emoções, no modo como é necessário que a pessoa ouça a cabeça e não o coração, numa pessoa que viu que não precisa ter medo, na libertação que é mandar, de certo modo, o Mundo à merda, com o perdão do termo que, apesar de chulo, é apropriado, como num artista em catarse, em vômito catártico, no poder libertador da Arte, expulsando de mim algo que não estava me fazendo bem, como num psicoterapeuta aconselhando o paciente a mandar tal Mundo à merda, pois que vida é esta na qual o Mundo decide por mim, castrando-me? As alunas são a disciplina, como num cão adestrado e treinado, como nos cães treinados para detectar drogas em aeroportos, neste poder destrutivo da droga, remetendo a um senhor que conheço, o qual está condenado a passar o resto de seus dias preso numa clínica psiquiátrica – é bem deprimente, numa vida destroçada sem qualquer chance de reconstrução, numa pessoa impedida de viver, trabalhar, realizar-se profissionalmente, namorar, casar, sair de férias, ir a um cinema, jantar fora etc. A moça de pé a tal atenção, um pouco tensa, talvez cantando, esforçando-se para não ser corrigida pelo tutor, em professores que podem ficar bem irritados com um aluno mal comportado, havendo em colégios o temido escritório do coordenador de disciplina, remetendo a uma senhora freira que foi diretora em um colégio o qual frequentei, uma diretora absolutamente rígida, dura, impositiva, beirando a grosseria, numa posição de poder dentro do estabelecimento, sentindo o peso da responsabilidade de manter crianças na linha.

 


Acima, Rapariga com brinco de pérola. Esta é, de longe, a obraprima de Vermeer, num quadro famosíssimo ao ponto de gerar o filme homônimo, com a moça interpretada por Scarlett Johansson, na ironia da similaridade entre os nomes. A modelo aqui não é uma princesa apolínea, mas uma criada, uma pessoa comum, na prova de que beleza não tem classe social; de que beleza não se compra. A pérola é a Lua, na magia do luar, nas marés libidinosas, na Lua insana e inconstante, ao sabor do vento, por assim dizer, ao contrário da garantia do Yang solar, sempre nascendo cada dia, firme, imutável. É no termo de dizer que é “de lua” algo que é excêntrico, misterioso, imprevisto, louco. É a Lua guiando os úteros sangrando nas cólicas, no modo como é duro ser mulher, com as cólicas menstruais, algo que faz com que as mulheres não sejam o sexo frágil, mas um sexo forte, aturando um pouco de dor na cadeira do dentista, ao contrário dos homens, os quais dão “pulos” na cadeira do dentista. A pérola é tal coisa singela, simples, linda, na magia de uma mulher elegante e arrumada, deixando seu perfume feminino no ar, no flerte em lugares públicos, como no flerte no colégio, com casais de namorados sendo formados, na época em que meninos e meninas começam a se interessar uns pelos outros, a salvo casos de homossexualidade, claro. A mulher aqui tem um olhar triste, “adestrado”, numa mulher que sofreu inúmeros tolhimentos, talvez no modo patriarcal de castrar a mulher, fazendo desta um cidadão de segunda categoria, numa mulher que tem que ser sempre respaldada por um homem, no modo como as freiras são respaldadas pelo Papa, aceitando seu papel feminino coadjuvante, no modo como é exatamente a pequenez coadjuvante que faz se sobressair o protagonista, pois quando digo que algo é grande, é porque conheço o oposto, que é pequeno, no discernimento: Liso e áspero são partes do mesmo trabalho. Aqui temos um jogo barroco de chiaro/oscuro, ou seja, claro/escuro, num contraste, na moça respaldada por um fundo negro, que faz sobressair a alva moça. É como na Primavera de Botticelli, quadro no qual as figuras humanas iluminadas se sobressaem exatamente por serem respaldadas por um fundo bem escuro, no jogo de sedução entre masculino e feminino. A moça está indecisa, talvez sem adivinhar as intenções do artista. A moça nos olha frágil, sabendo que, apesar do adereço precioso de princesa, é uma empregada, no conto da Cinderela, na moça sofrida que desposou o cobiçado príncipe, no mito de Gisele, a menina comum que se tornou princesa, numa Gisele que, de tão “tsunâmica”, conquistou o Mundo inteirinho sem que nós percebamos tal feito, numa mulher que está reinando incondicionalmente, ditando uma moda capilar – cabelos ondulados – por vários anos ao redor do planeta Terra, nesses fenômenos de popularidade que nos deixam perplexos, numa Gisele de cabeça forte, que não deixa a fama subir à cabeça, numa Gisele que sabe que, se parar de trabalhar, vai virar “peça de museu”, no modo como uma pessoa tem que ter sempre algo de nobre para fazer, havendo vazio numa vida indolente e improdutiva. O cabelo da moça está oculto, numa disciplina, num recato, como na polêmica burca islâmica, na ditadura patriarcal que impede a mulher de viver em liberdade, ao contrário da mulher ocidental, a qual pode aparecer nua numa fotografia ou numa cena de filme, em ícones feministas como a Mulher Maravilha, a mulher blindada que dá uma surra em qualquer marmanjo mal intencionado, no caminho da independência, ao contrário costume que perdura até hoje, que é a mulher adotar o sobrenome do marido, como se estivesse entregando ao marido o próprio Yang de tal mulher. O brinco é tal singeleza, tal gota cristalina de beleza e fragilidade, numa criada que está tendo um momento princesa. A boca está entreaberta, sensual, receptiva, rubra, vibrante, numa diva que sabe que o cenário fonográfico mundial é ultracompetitivo, com muitas divas maravilhosas concorrendo pela atenção do público.

 

Referências bibliográficas:

 

Johannes Vermeer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jun. 2023.

Johannes Vermeer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jun. 2023.

Nenhum comentário: