quarta-feira, 19 de julho de 2023

Ver Vermeer (Parte 4 de 5)

 

 

Falo pela quarta vez sobre o artista holandês Johannes Vermeer. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Alegoria da pintura. A cortina dá uma certa suntuosidade, um luxo, remetendo a uma sessão de autógrafos de Vera Loyola certa vez num shopping em Porto Alegre, no local decorado com tapetes nobres caindo sobre Vera, numa mulher que se tornou tal símbolo da classe emergente, numa pessoa que adora aparecer, como numa Diana, a qual, apesar de ter amado ser o bicho midiático que era, sentia-se muito invadida pelos fotógrafos ávidos por um clique. Claro que temos aqui uma metalinguagem, quando César fala de César, com um pintor pintando outro pintor. A moça posa pacientemente, bela, inspiradora, totalmente arrumada, como se estivesse pronta para um pomposo evento social, no modo como, para a mulher, a diversão não começa só no momento em que a mulher chega no local de festa, mas a diversão já começa no “ritual” de arrumação, incluindo banho, cabelo, unhas, maquiagem, roupa, sapato, perfume etc., no modo como já ouvi que uma mulher se arruma para as outras mulheres, numa “competição” para ver qual é a mais linda e deslumbrante no baile, nos versos da canção Maria do Socorro, de Maria Rita: “Ela vai pro baile funk de shortinho, top e gorro (...) E no baile só dá ela!”. Ao fundo vemos um mapa desbravador, como se o artista quisesse desvendar os mistérios femininos, numa exploração de terras virgens, enchendo de nomes e graças terras selvagens, como nos astrônomos enchendo de nomes cada pedaço da superfície de Marte, na sensualidade de um supertelescópio observando confins do Universo, nesse Cosmos tão vasto, tão misterioso, como na sensualidade de pegar um telescópio e observar os apartamentos de vizinhos, como no filme fracassado Invasão de Privacidade, num homem pervertido que encheu um prédio de câmeras escondidas, acompanhando a intimidade dos moradores, num filme que teve várias indicações ao infame prêmio/deboche Framboesa de Ouro. O livro com a moça é o acúmulo de conhecimento, na revolução digital, a qual usa cada vez menos papel, o que é bom, no problema do descarte de lixo plástico, em águas tão poluídas como a Baía da Guanabara, cheia de garrafas de plástico emporcalhando o que deveria ser uma terra deslumbrante e salubre. O chão do estúdio é em xadrez, neste jogo que tanto exige da cabeça do jogador, no assombro da inteligência artificial, num computador que pode derrotar até o melhor jogador de Xadrez do Mundo, em futuros apocalípticos como em Matrix, quando a inteligência artificial sai de controle e acaba por deflagrar uma guerra entre humanos e máquinas, com o glorioso final de vitória da Humanidade, gerando este filme sem sentido que foi Matrix Resurrections, nas bobagens que Hollywood é capaz de fazer para arrancar dinheiro do espectador, sinto em dizer, pois o final de último tomo da Trilogia, o Matrix Revolutions, foi altamente conclusivo. Aqui o artista está alheio, de costas, sem querer aparecer, como uma pessoa que não quer aparecer muito, não querendo perder os direitos do cidadão comum, como caminhar em paz por um shopping no fim de semana. Este artista alheio remete ao divertido e marcante clipe Too Funky, no gênio pop George Michael, que Deus o tenha, com deslumbrantes modelos numa passarela, como George num papel sutil e discreto, apenas operando a filmadora que capta grandes divas da Moda como Linda Evangelista, nessas modelos que adquirem o velho e bom glamour das divas hollywoodianas de antigamente, no modo como o Mundo é ávido por glamour, luxo, luz, leveza, características do que importa, que é a Dimensão Metafísica, a terra da beleza inabalável, com espíritos felizes e atuantes, emoldurados por uma aura deslumbrante, no manto sagrado que nos é colocado por nossos entes queridos desencarnados, entes que nos esperam no dia de nosso desencarne, o qual chegará – quanto a isso, não tenha dúvida, meu irmão. Aqui é este talento de Vermeer em captar a luz natural, num pincel tão sutil, tão genial, sendo duro compreender porque tal talento só foi reconhecido postumamente, como uma certa popstar, a qual só será devidamente reconhecida postumamente, sinto em dizer. Aqui é a vitória do talento, como numa Gisele ou numa Carmen Miranda.

 


Acima, Menina com chapéu vermelho. O vermelho é tal símbolo de feminilidade, no mito de Chapeuzinho Vermelho, caçada pelo Yang nu e cru, que é o lobo, na virilidade do Wolverine interpretador por Hugh Jackman, um ator que compreendeu tal hipermasculinidade, num personagem tão carismático. É como na campanha publicitária da clássica fragrância feminina Chanel número 5, com Chapeuzinho numa floresta fugindo do lobo, como no impacto visual de Michael Jackson se transformando num terrível lobisomem, num momento áureo de carreira onde o mestre pop abriu mão da vaidade, no modo como a Academia de Hollywood ama atores que se desfiguram para um papel, como no Oscar recente de Brendan Fraser, interpretando um homem de obesidade mórbida, ou como no orcarizado postumamente Heath Ledger, desfigurando-se para interpretar um Coringa tão assombroso, no caminho da humildade, que é abrir mão da vaidade e aceitar curvar-se perante um papel, num caminho de humildade e de pés no chão, pois a arrogância precede a queda, no modo como é importante que a pessoa se mantenha realista e humilde, imune a bons ou maus momentos, numa pessoa que percebe que, doce ou amarga, a página tem que ser virada. A moça aqui é pura como leite, como na cara de santa de Evita Perón, uma mulher que não imaginava a vida sem inimigos, partindo em busca de desafetos, abraçando o proletariado e rechaçando as classes média e alta, indo contra as palavras de Obama, que dizia que um presidente tem que governar para todos. Os brincos aqui são finos, como gotas puras de orvalho, numa mata fresquinha ao amanhecer, na beleza das cores de aurora, na deusa grega Eos, a responsável pela beleza do alvorecer, remetendo à terra da beleza eterna, na terra da Estrela da Manhã. Aqui temos a maestria das pinceladas de Vermeer, nas cores brancas que ilustram a luz da janela, entrando suavemente, branda, sutil, muito longe de um sol tropical de obras modernistas brasileiras, num momento de identidade brasileira, no desafio do Cinema Brasileiro em encontrar uma identidade, apesar da esmagadora influência hollywoodiana, nas palavras sábias de um grande homem brasileiro, o diretor Fábio Barreto: “O Brasil não pode só importar imagem; o Brasil tem que também exportar mais imagem”. A moça aqui espera incerta por algo, talvez esperando para se encontrar com seu amado, nas marés traiçoeiras do coração, um coração que tanto pode nos ludibriar e enganar, mostrando a suma importância da pessoa em ouvir a mente, a razão, como num rapaz que faz uma sólida proposta de casamento, ganhando o respeito dos sogros, como nos casamentos arranjados de realeza, como numa Maria Antonieta, forçada e deixar sua casa na Áustria e desposar o herdeiro do trono da França, numa mulher que nunca adquiriu o controle sobre sua própria vida, e que vida é esta na qual sou um prisioneiro, uma massa de manobra? Não, não dá para ser assim, meu irmão. O entalhe sofisticado da madeira aqui mostra que se trata de uma sala aristocrática, rica, neste gosto de Vermeer por elegâncias aristocráticas, como num Andy Warhol recebendo inúmeras encomendas, na felicidade de um artista em ser reconhecido ainda em vida, num artista pop o suficiente para aparecer no final do filmão A morte lhe cai bem, junto a ícones como Marilyn Monroe e Elvis Presley, na capacidade de certas pessoas em ir tão longe na carreira, deixando o Mundo perplexo frente a tal brilho. Os brincos da moça parecem balançar suavemente, numa delicadeza, e podemos sentir o olor do perfume da rapariga, nesta paixão de Vermeer por moças jovens, na pureza da noiva virgem ao altar, como na Arwen de Tolkien, entregue pura e casta ao marido rei no final da trilogia, numa sociedade patriarcal que castra a sexualidade da mulher – é um horror. Ao fundo vemos uma tapeçaria luxuosa, no poder transformador das mãos humanas, na capacidade do artista plástico em pegar elementos dissociados, associá-los e produzir algo novo, como na construção de uma joia ou bijuteria, no slogan de uma certa premiação: “Nada substitui o talento”.

 


Acima, Moça com flauta. A moça está tranquila, sem qualquer tensão, num relaxamento, como num ator que confia no diretor, fazendo com que este deixe o ator à vontade no papel deste, no processo de construção de personagem: é necessária paciência para desdobrar o personagem, entender como este se sente e colocar-se na pele deste, como na Nossa Senhora desatadora de nós, tendo toda a paciência, no modo como Tao é a paciência infinita, sempre nos dando novas chances de fazer certo, no caminho da Vida Eterna, o imensurável poder que faz com que jamais findaremos, pois, sem a Eternidade, não haveria sentido na Vida, no modo como a Ciência não consegue enxergar além do óbito do corpo carnal, sendo necessária a fé: eu nunca soube, mas eu acreditei. O chapéu é garboso, exótico, no modo como dá gosto de ver uma mulher elegante, como na geração de estrelas glamorosas da era do Cinema em preto e branco, no termo “tela prateada”, em atrizes portando majestosamente seus vestidos elegantes, fazendo das supermodelos “herdeiras” de tal glamour, no glamour de uma Gisele, a grande estrela que sabe que, se parar, virará “peça de museu”, na necessidade da pessoa em se manter humilde e com os pés no chão, sabendo que toda página tem que ser virada, no modo da pessoa em ter uma estrutura psíquica sólida para não deixar que o sucesso ou o fracasso subam à cabeça, como numa Alanis Morissette, a qual, num primeiro momento, fracassou retumbantemente, mas que, depois, deu a volta por cima e se tornou a esmagadora estrela que se tornou, no modo da pessoa em se manter sã, à prova de sucessos ou fracassos, pois por que o sucesso é complicado? É complicado porque todos visam obtê-lo: quem não o obtém, frustra-se, deprime-se e desnorteia-se; quem o obtém, adquire um problema, pois no sucesso nosso desejo é o de permanecer para sempre em tal momento doce, o que não é possível, na necessidade da pessoa em saber sobreviver, como numa guerreira Cher, sobrevivendo a décadas de luta pela carreira. A moça é pura como leite, e suas bochechas são rosadas e saudáveis, como na embalagem de aveia Quaker, no modo como um dos itens de maquiagem é o blush, o qual imita bochechas rosadas e saudáveis. A flauta aqui está discreta, coadjuvante, num caminho de discrição, de retiro, de humildade, como num camaleão “invisível”, sempre discreto, sempre surpreendendo a presa e nunca se expondo ao perigo de um predador, num instinto de sobrevivência, como num Tom Cruise, sobrevivendo há décadas nesta “selva” que é Hollywood, a terra do sucesso e a terra do fracasso, com tantos e tantos sonhos sendo despedaçados, no modo como um Oscar pode ser uma maldição ou uma bênção – o importante é sobreviver e tocar a Vida para frente, meu amigo. A flauta é o poder transformador da mão humana, extraindo melodia, fazendo da Arte algo tão indiscutivelmente humano, no caminho da sensibilidade e da inteligência emocional, como na filosofia taoista, a qual só pode ser compreendida instintivamente, à base de inteligência emocional, uma doutrina que é bloqueada para sociopatas, os quais, na sua fria falta de apuro moral, não entendem o que é a Humanidade e a universalidade do pensamento humano. A moça não sabe o que fazer com a flauta, como se fosse um objeto de uso desconhecido, como uma pessoa querendo se encontrar, querendo saber qual é o seu lugar no Mundo, no caminho do autoencontro, como num rapaz se tornando padre para que, assim, saiba qual é seu próprio lugar no Mundo, no processo de identidade da personagem Mulan, de Disney, a moça que se tornou guerreira, desenvolvendo o Yang, numa necessária pitada de agressividade, gerando ícones feministas, figuras femininas fortes que vêm a calhar tal qual um homem, no modo como ser homem ou ser mulher pouco quer dizer sobre o espírito encarnado. Aqui é esta luz pálida de Vermeer, numa Holanda pouco ensolarada, longe do sol tropical generoso no Brasil. A moça está com a boca entreaberta, receptiva, relaxada, numa pessoa simpática que resolver viver de coração aberto ao Mundo.

 


Acima, O astrônomo. Aqui é a sede humana por conhecimento, nos avanços tecnológicos, como na atual era digital, a qual nos deixa perplexos, com toda uma coleção de vinis e CDs cabendo em um pendrive, o qual é menor do que um dedo humano, fazendo com que as gerações mais recentes aceitem com naturalidade tais avanços digitais, não tendo ideia do que foi a era analógica, com os televisores de tubo, os canais de TV aberta, a ausência de controle remoto, o telefone de disco e a carta pelo correio. Aqui é o avanço de tal ciência, entendendo que o Mundo é redondo e que existem as forças gravitacionais, no modo como o Ser Humano tem que ser autodidata, descobrindo por si mesmo os segredos do Universo, em sonhos tecnológicos como colonizar Marte, fazendo do Cosmos algo tão hostil ao Ser Humano, o qual tem que cuidar de sua própria casa, a Terra, pois os bilhões de seres humanos no Mundo não têm para onde ir. A luz aqui entra tímida, num quadro um tanto sombrio, como nas trevas medievais, nas crendices supersticiosas, em tragédias como a Peste Negra, num Ser Humano o qual, então, não sabia da necessidade de hábitos de higiene e limpeza, como nas condições insalubres do Antigo Egito, com altos índices de mortalidade infantil e baixos índices de expectativa de vida, no modo como o Ser Humano, lentamente, vai melhorando e sofisticando-se, no caminho de crescimento do espírito, no modo como as amargas vicissitudes existenciais vão fazendo de nós pessoas melhores, como no crescimento do personagem Oscar Schindler, o qual começa o filme sendo um playboy fútil e acaba se compadecendo com os problemas do Mundo, em um filme tão impactante, digno de múltiplas estatuetas, num diretor se esforçando ao máximo em sua concepção, no modo como o saudoso Fabio Barreto deu toda uma matiz majestosa para sua obraprima, que é O Quatrilho. O astrônomo é tal curiosidade, como no envio de sondas ao espaço, ao frio e hostil espaço, num Ser Humano que ainda não tem provas da existência de vida fora da Terra, no modo como, de um modo e ou de outro, há dois absurdos: sermos a única vida no Cosmos ou sermos uma de inúmeras raças alienígenas no Cosmos. A luz aqui é o esclarecimento, a sofisticação, nos avanços da Medicina em fabricar medicamentos para muitas enfermidades, como a Depressão ou a Esquizofrenia, em passos para combater a Covid ou a Dengue, em milagres como as vacinas. O cientista aqui apalpa o globo, como se quisesse conquistá-lo, em sedes humanas por poder, no maldito Anel do Poder de Tolkien, corrompendo até o mais nobre dos homens, numa insana sede napoleônica por poder, num Vladimir Putin conduzindo uma guerra tão desnecessária; num ditador que mal se importa com os flagelos do Ser Humano, fazendo das guerras fontes de fome e destruição, na alcunha do vilão Esqueleto: “O senhor malévolo da destruição”. Vermeer gosta destes tapetes luxuosos sobre mesas, nas representações das Madonas renascentistas, com roupas de rainha, muito longe da humilde esposa de carpinteiro, pobre ao ponto de ter dado à luz numa simples manjedoura, remetendo a meu bisavô, o qual, apesar de ter morrido pobre, tornou-se um homem perfeitamente respeitado pela comunidade – um grande homem. O cabelo do astrônomo vai crescendo como no crescimento de apuro e conhecimento, na importância da Revolução Científica, no uso da fria razão para findar flagelos de ignorância, obscurantismo e preconceito, na frieza de se afirmar que negros são seres humanos, rechaçando um absurdo que seria dizer que beagle não é cachorro. O globo aqui gira em intermitente processo de crescimento e evolução, em teorias da Seleção Natural – os espertos sobrevivem e passam para a frente seus genes de instinto de sobrevivência. O globo é como se fosse uma pérola, algo perfeito em geometria, num Mundo o qual, apesar de vasto, é pequeno, na universalidade da questão humana, no embate moral entre Bem e Mal, sabendo que a Paz é maior do que a Raiva. A luz que entra aqui é tal bênção ao Ser Humano.

 


Acima, O geógrafo. O compasso é a supremacia do pensamento racional, na beleza fria dos números, na beleza da lógica, no modo como não há final, mas uma eternidade de números, na glacial Galadriel de Tolkien, fria, porém belíssima, poderosa, nobre, um tanto intimidadora, como se fosse uma aranha de cristal. Aqui é uma época em que não existia qualquer previsão sobre a tecnologia digital, como hoje em dia a mídia digital está substituindo um tanto a mídia papel, na plena democratização das tecnologias, remetendo ao passado quando havia o filme fotográfico, tendo que haver a complicada revelação em laboratório – hoje em dia, qualquer dispositivo móvel cumpre tal função de modo muito mais prático, nas facilidades que reiteram a universalidade do Ser Humano, sendo a Internet uma das provas disso. Ao fundo no quadro, uma altiva assinatura do artista, como na assinatura de Michelangelo na Pietà, com seu nome expresso em latim numa faixa que cruza o busto da santa, havendo na Virgem Santíssima uma faca de dois gumes, no modo dialético como tudo traz em si sua própria contradição: a virgindade de Maria é o modo do Ser Humano entender que todos somos divinos, frutos de tal imaculada conceição; por outro lado, a Virgem é o modo patriarcal de castrar a sexualidade feminina, impedindo a mulher de ser livre e soberana de si mesma, em culturas que tanto reprimem a mulher, ou seja, a Virgem ajuda mas também atrapalha, no modo como o Ser Humano é tão fadado a fazer imperfeições. A luz esclarecedora entra suave, iluminando a mente do cientista, como no genial personagem Sheldon do seriadão The Big Bang Theory, um Sheldon de irritante inteligência, mas com certas dificuldades, como entender sarcasmo, na prova de que na Vida não se pode ter tudo, como no poderoso rei da Inglaterra, um senhor sem lá muito carisma – cada um com suas carências e buscas. O homem aqui é jovem, com uma vida de descobertas pela frente, na sede humana por conhecimento, enviando sondas a Marte, em sonhos de colonização, como no europeu desbravando as Américas, num ato de bravura e coragem, trazendo notícias ao seu soberano europeu, em raças americanas indígenas, em histórias que assombravam o europeu, como nas tribos canibais brasileiras, num estágio bem primário de sofisticação espiritual – existe algo mais medonho do que comer carne humana? É o caminho natural de depuração, num espírito que resolver reencarnar em meio a um mar de vicissitudes para, assim, crescer, no modo como o espírito desencarnado, na colônia celestial, sente a necessidade de aprimoramento, como numa pessoa se matriculando numa faculdade, passando por todo um périplo de curso, tendo que fazer diversos trabalhos exigidos pelos professores, chegando ao glorioso e libertador dia de formatura, quando a pessoa volta para casa, no lugar onde estamos entre amigos, pois eu já disse a um amigo meu: Os amigos são o ouro da Vida, havendo no Umbral o oposto, que é uma desolação total, sem almas amigas – é um sofrimento. Podemos ouvir o farfalhar das folhas de papel, no machismo que é proibir o acesso de meninas a instituições de ensino, como na famosa figura humanitária da garota Malala, na coragem de afirmar: Você pode ferir meu corpo, mas não pode ferir meus sonhos! Aqui é o modo como a pessoa tem que ser autodidata na Vida, na máxima taoista: As pessoas têm que aprender a simplicidade por si mesmas, no modo como não há vida sem crescimento, não havendo sentido numa vida sem vicissitudes, as quais são remédios amargos que surtem doces efeitos, como encarnar num contexto social paupérrimo, como crianças indígenas na Rua pedindo moedas. Acima vemos um globo, virando a página da crença de que o Mundo é plano, na coragem de um Colombo, desejando cruzar o globo para ir à Índia, não tendo a noção de que descobrira a América, na magia indiana sobre a Europa, no perfume de canela, por exemplo, em especiarias que causaram toda uma sofisticação culinária – os macacos não cozinham.

 


Acima, Retrato de uma jovem. Convenhamos – a moça aqui não é lá muito bela, talvez com alguma doença congênita, sinto em dizer, não chegando perto da beleza da moça com brinco de pérola, do próprio Vermeer. O fundo aqui é totalmente preto, num breu profundo, nos labirintos negros e traiçoeiros do submundo, num antro de animais perigosos e cruéis, como na tenebrosa toca da Laracna de Tolkien, num ser sempre faminto, insaciável, na fome por poder, querendo ter o poder pelo poder, sem apresentar propostas e ideias, como num ardiloso sociopata brincando com a cabeça das pessoas, no filme com o horrível Hannibal Lecter: Nunca dê informações pessoais a um sociopata, como uma pessoa que conheço, a qual tinha uma comadre sociopata, fazendo exatamente o que não se deve fazer, que é confiar num sociopata. O sorriso aqui é brando, sem uma alegria de mostrar os dentes, num sorriso de contentamento, numa pessoa contente com sua própria vida, gostando de morar na cidade onde mora, contentando-se com o que ocorre nesta cidade, como num casal de amigos meus, os quais atravessaram o Brasil para irem morar no Rio Grande do Norte, mas um casal que, infelizmente, terminou o relacionamento, no modo como num relacionamento é um aguentando os defeitos do outro, como um não fumante aturando por décadas um fumante – ela não é perfeita, mas é minha esposa, e eu a amo. A menina aqui usa um brinco, mas um acessório bem discreto, quase imperceptível, sutil, camuflado, por assim dizer, nos recursos de camuflagem de insetos numa mata, visando evitar predadores, no modo como a cidade do Rio é tão privilegiada, numa mescla mágica entre urbe e natureza, numa cidade que tanta vida exala, seduzindo turistas do Mundo inteiro, muito longe dos longos e depressivos invernos nórdicos, havendo, na contramão, as pessoas tropicais seduzidas pela neve em lugares mais frios, na eterna busca humana: Quem está no campo quer ir para a cidade, e viceversa. A pele da moça é imaculada, perfeita, na frivolidade do mundo da Moda, um mercado sempre ávido pelo frescor de rostinhos novos, num mercado volúvel, que tanto pode adotar quando desprezar, tudo girando em torno do que importa, que é a juventude eterna metafísica, numa colônia espiritual regida por uma rainha, a qual é bela e jovem para sempre, como na tradição da Festa da Uva: A cada edição, uma moça é eleita rainha, e as rainhas têm que ser jovens, para ilustrar tal beleza inabalável metafísica, havendo nessa sucessão de moças o sentido da beleza eterna da rainha metafísica, fazendo da Terra um mero arremedo do que  importa, que é o mundo espiritual, em cidades perfeitas onde não há sujeira, poluição, criminalidade ou fezes de pombos no chão – a Terra gira em torno do Céu, que é o lugar de perfeição, apesar de parecer o contrário, ou seja, tenha fé num mundo melhor, irmão! Aqui temos um recato, com o cabelo coberto pudicamente, no pudor charmoso virginal, e aqui a moça parece ser virgem, nos versos de Madonna: “Se você não é uma menininha (mas uma mulher), você entende quando eu coloco para fora minhas dores”. As vestes são nobres, de fino tecido, que é a delicadeza de toque de uma atitude nobre e benéfica, no papel de um psicoterapeuta em fazer com que nos sintamos bem e aliviados, no modo como o Bem é sempre agradável, havendo a ilusão das drogas, como na Cocaína, que faz com que a pessoa, no pico de euforia da droga, sinta-se um suprassumo, com o Mundo a seus pés, e quando mais alta é a euforia, mais profunda é a depressão pós pico, como me disse um amigo que é chegado num pó: Você acorda no outro dia se sentindo um merda, com o perdão do termo chulo. Aqui é um sutil sorriso de Gisele, sem mostrar os dentes, num Sol brando de meia estação, sem nos dar muito frio ou muito calor, numa época do ano tão prazerosa, no momento em que, no globo inteiro, dia e noite têm a mesma duração. Talvez aqui tenha sido uma encomenda feita para Vermeer, o qual topou pintar mesmo não achando a menina um deslumbre de beleza apolínea, no modo como beleza vem de dentro, numa mulher que, mesmo idosa, segue bela, numa aura de altivez e dignidade.

 

Referências bibliográficas:

 

Johannes Vermeer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jun. 2023.

Johannes Vermeer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jun. 2023.

Nenhum comentário: