quarta-feira, 26 de junho de 2019

São Paul



O surrealista britânico Paul Nash (1889 – 1946) passou pelas duas Guerras Mundiais e as retratou em boa parte de sua obra, na Sensibilidade versus Feiura. Nash é tido como um modernista inglês, e estudou na Slade School of Art. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Batalha Britânica. São os horrores da guerra pela ótica de um artista, em eventos que só deixam rastros de fome e destruição, na eterna vocação humana para a Raiva, o Ódio, a Discórdia. Aviões cruzam os Céus, jogando-se uns contra os outros, na insanidade que foi o Onze de Setembro, como é o título do vilão Esqueleto: O Maléfico Senhor da Destruição, puxando para os dizeres de Obama: “Você será lembrado pelo que você construiu, e não pelo que você destruiu”. O Céu aqui é até belo, anil, aberto, mas se trata de um dia com beleza zero, pois só existe beleza na Paz; o resto é fútil, na futilidade das raivas. Aqui há destruição no ar e na terra, num infame dia em que irmão derramou o sangue de irmão, como o ditador nortecoreano, mandando executar o próprio meio irmão, no poderoso fato de que os vínculos de família não se desfazem com o Desencarne, pois a Vida vence a Morte. Neste terreno tão desagradável e inóspito, um tortuoso rio corta a terra, na complicada tortuosidade dos conflitos, pois é só na Paz que existe a limpa simplicidade de Tao, o arrebatador perfume de harmonia e fineza, havendo na polidez uma virtude universal, como no gesto japonês de se curvar, em demonstração de respeito. O rio tortuoso é a serpente da malícia, envenenando laços diplomáticos, num posicionamento xiita, no qual não há espaço para a negociação, e sequer uma nação neutra é respeitada, num cego radicalismo, como na bipolarização brasileira entre pró e contra Bolsonaro, ou na divisão eleitoral americana que elegeu Trump. É um eterno filme de banguebangue, havendo no guerreiro a virtude de se respeitar o próximo, só podendo acontecer um conflito quando todos os meios diplomáticos foram esgotados, na civilizada questão do “sentar e conversar”, como dois civilizados cavalheiros, numa conversa de espírito depurado para espírito depurado. É claro que aqui podemos ouvir os sons das explosões, das bombas, dos gritos de ódio, com jovens vidas sendo ceifadas em nome das vaidades das elites de um país, no modo como as elites gaúchas manipularam o povo gaúcho em nome da Revolução Farroupilha, no fato de que, no exército americano, geralmente os rapazes que se alistam são pobres, provenientes de um contexto social ignorante e carente. Este era para ser um dia belo e ensolarado, próximo da beleza plácida metafísica, mas não. É como um leite que se estragou, não mais prestando para ser bebido. Mais à direita neste céu, vemos um numeroso grupo de aviões, ensaiando uma investida, no modo como as guerras consomem muito dinheiro, acabando por maltratar os honestos pagadores de impostos, na humilhante derrota que a Invencível Armada Espanhola sofreu na guerra com a Rainha Virgem, a mulher feminista com o estômago de um rei – é a questão da coragem, e a confusão reina plena nas guerras, como a Europa ficou muito confusa da II Guerra Mundial, e toda a ordem lógica ficou perdida, com países sendo brutalmente invadidos em nome da vaidade de um governante absolutamente psicopata, assim como são os seguidores deste... Aqui, a terra é bela e dourada, mas é uma beleza que fica abafada pela ordem do dia, que é atacar. Vemos aqui rastros de aviões sendo abatidos, com os jatos caindo, no modo como a Guerra das Malvinas ceifou vidas em ambos os lados, na pergunta feita em uma canção da extinta banda Deee-Lite: “Quem é o vencedor na Guerra?”. Aqui, a fumaça das explosões se mescla com as nuvens no céu, no modo como ficou arruinada a consciência da pessoa que executou a bomba de Hiroshima, num trauma, numa sequela, num espírito que simplesmente se brutalizou, nunca mais acreditando na Beleza e na Harmonia. É o empedernimento, num coração que se fechou para sempre para o Mundo. As linhas confusas no céu são como um covil de cobras maliciosas, num momento em que a sociopatia encontra terreno para reinar. Talvez amanhã seja um dia melhor.


Acima, Porto e Sala. O fálico mastro do barco resiste bravamente a uma intempérie, numa pessoa com a capacidade e o controle emocional para se manter calma em uma situação tensa ou difícil, na dádiva que é ser uma pessoa calma, que dorme tranquilamente. Aqui, é uma cena escura e instável, talvez no meio de uma grande tormenta, grande ao ponto de transformar o dia em noite, com densas nuvens negras, impedindo o esclarecimento se expressar. Aqui, temos um jogo surrealista, com elementos, antes dissociados, sendo associados, brincando com a percepção espacial do espectador, dando um nó na mente deste, como num MC Escher, o mago ilusionista. Esta sala pode ser um porto, e o Mar invade a cena, ameaçando inundar o quadro. Vemos um espelho, que significa a vaidade, na representação do sexo feminino por meio de um espelho, e este significa a reflexão, de uma pessoa que está aprendendo a se ver de fora, observando suas próprias ações e entendendo as impressões que gera em outrem – é o popular termo “enxergar-se”, no modo como há pessoas que, basicamente benéficas, passam uma impressão ruim, tal a dificuldade de se enxergar por completo. Esta sala é elegante e neoclássica, e a lareira, que deveria estar ardendo e gerando calor e acolhimento está apagada em uma escuridão profunda, significando a incerteza, numa janela que se abre para o nada, como no Umbral onde são perdidas as noções de Tempo e Espaço, numa punição aos arrogantes, pois a arrogância precede a queda, ou seja, curva-te e reinarás. Vemos edificações portuárias ao fundo do quadro e no lado direito inferior, com janelas que derramam luz para o cais, na narrativa liquidiscente de Moby Dick, quando temos a sensação de flutuação aquática. São os mercados de peixes e frutos do Mar, com seu cheiro de oceano, de peixe fresquinho, no hálito primordial de Iemanjá, a Mãe que nos trouxe das entranhas oceânicas para a face da Terra, nos caminhos evolutivos, no modo como tudo é processo, tudo é dinamismo, e a Verdade é uma busca incessante de humildade e reconstrução. É claro que podemos ouvir o som do Mar, com suas ondas requebrando, no barulho reconfortante de ondas quebrando, quando durmo de janela aberta quando veraneio em Capão da Canoa, embalando-me pelo som marítimo. É gloriosa a sensação liquidiscente, e os barcos atracados dançam indefinidamente por esse útero agradável, no conforto de um lar, no modo como é difícil sair de casa e ir morar sozinho, quando estamos, desde sempre, acostumados com as benesses confortáveis do lar materno. Este mar não é muito revoltoso, e suas ondinhas são brandas e modestas, discretas e tímidas, como na tímida Vênus de Boticcelli, no jogo erótico entre timidez e exibicionismo, no jogo provocante entre mostrar e esconder. Nesta cena, vemos construções, com muitos arcos, com a sedução de suas janelas abertas, deixando o ar entrar, fluir e sair, como um honesto cidadão no seu direito de ir a vir, no desconfortável modo como uma celebridade não pode caminhar em paz na Rua, sofrendo assédio desrespeitoso, como vi certa vez, num shopping, pessoas parando Luis Fernando Veríssimo para tirar selfies com este – deixem o cara passear em Paz! Este céu é dúbio, e não sabemos se está amanhecendo ou entardecendo, na discrição dos tons de cinza, na profundidade do luto respeitoso. Esta sala tem papel de parede listrado, num símbolo de elegância aristocrática, no modo como os franceses simplesmente defenestraram suas próprias elites de aristocracia, em um agressivo momento de ruptura, causando escândalos internacionais, como no assassinato da família real da Rússia, na dureza dos cursos da História, na amargura de um Ser Humano tão embrutecido, cético em relação às belezas da Vida, como tomar café da manhã sentado no colo do cônjuge – o Amor é tudo. Este espelho traz a reflexão prateada, entrando para um pódio, no modo como Caxias do Sul é o segundo polo metalmecânico do Brasil, numa cultura enaltecendo o árduo labor. Nesta cena, temo um Nash querendo conciliar coisas primeiramente dissociadas, na capacidade do artista plástico em fazer associações nunca antes imaginadas por outrem, no caminho inventivo da Originalidade.


Acima, Paisagem do Iden. As toras empilhadas são a organização, numa mente saudável, que organiza e categoriza os objetos, ao contrário do acumulador, que vai estocando objetos sem critério algum organizacional, num ambiente insalubre e degradante. As toras são a força econômica, e têm uma clara finalidade, que é produzir calor e energia, nas demandas sociais de um país, num mundo tão pragmático, no qual um artista enfrenta uma grande dificuldade para se estabelecer e ser considerado digno de respeito e relevância – é um desafio. Aqui, as árvores estão todas nuas, empobrecidas, fracas e feias, como se uma guerra tivesse ocorrido neste campo de batalha, num ambiente inóspito, estéril, como um homem que já tentou ter filhos biológicos com muitas mulheres, tendo que aceitar tal vicissitude e dar amor incondicional a filhos adotivos, no modo como a Vida está aí, exigindo o máximo de todo mundo, no modo como a vida sem vicissitudes não tem sentido. Talvez estas árvores estejam no Inverno, permitindo que o Sol penetre entre os galhos nus, na inteligência que criou as árvores que ficam caducas no Outono. Vemos uma espécie de barquinho com algumas toras. O barco é o sonho de um artista, num barco navegando e aventurando-se por águas nunca antes navegadas, no modo como um artista tem que se empenhar para trazer coisas que nunca foram antes trazidas, no modo como, desculpe-me, não vejo mérito em artistas galgando caminhos que já foram galgados por outrem, ao contrário do momento áureo de Ray of Light, de Madonna, quando esta tratou de ser criativa e original. Este cenário tem um infeliz aspecto de campo de concentração, talvez num Nash debruçado sobre o fedor nazista, num mundo perplexo frente a tanto ódio por parte de um sociopata que desejava destruir o Mundo. Podemos ouvir aqui um melancólico e doente canto de pássaro, num choro, numa lamentação, num cenário tão pobre e arrasado. Não vemos uma viva alma aqui, numa tristeza desértica, num Nash catarseando um sentimento de desolação e lamúrio. Apesar disso, aqui temos uma cena limpa, muito limpa, e o chão está impecavelmente varrido, no empenho de um sociopata em ter uma aparência impecável, para, assim, poder lançar suas ardilosas teias maléficas, na questão de O Senhor dos Anéis: os personagens do Bem têm uma aparência tosca, mas causam uma boa sensação; os do Mal, uma aparência impecável, mas causam uma sensação desagradável. Talvez, isto aqui seja um campo de treinamento militar, com uma rígida disciplina, num dia a dia de trabalho e terror, assim como é o dia de Mordor, a terra negra do Mal tolkienense, num termo que remete ao termo murder, em inglês, que quer dizer assassinato, no modo como, em O Iluminado, um menino clarividente que previu uma tragédia sangrenta – um bárbaro homicídio. É o hálito negro do Umbral, a dimensão da grosseria e do sofrimento, com espíritos maltratando uns aos outros, esquecendo-se de que são irmãos; de que são iguais. Aqui, a luz do Sol é pálida, fraca e triste, muito longe de um radioso Sol num Céu de Brigadeiro. Apesar do Céu aqui estar limpo e com belas nuvens, é ainda assim um Céu melancólico, e esta cena traz pouco conforto ou contentamento, numa pessoa com demasiada agressividade, infeliz ao ponto de dar o cabo da própria vida, como num Getúlio Vargas, um homem incapaz de imaginar a Vida sem Poder, no apego humano ao Poder, ao mundano. Vemos aqui colinas ao fundo, mas também parecem ser estéreis. Aqui, temos um cenário no qual a Beleza luta para sobreviver e manter-se, numa disciplina demasiada que vai se revelando sem sentido, no modo como o Nazifascismo acabou sendo desmascarado e rechaçado, numa herança maligna que a Humanidade, até hoje, está tentando esquecer. Na porção direita do quadro, vemos um muro, que é o percalço, o impedimento. É uma proibição. Então, o artista tem que ter força olímpica para vencer tal muro, dando um salto de vara e estabelecendo-se paladinamente, erguendo a cabeça e sendo digno, como num altivo Leonardo DiCaprio recebendo seu Oscar, fazendo com que acabemos tirando o chapéu para um artista.


Acima, Paisagem de um Sonho. O pássaro se olha num espelho, num momento de autocontemplação, no modo como os espelhos, trazidos pelos navegantes europeus, causavam fascínio nos indígenas, fazendo com que estes considerassem mágicos tais espelhos. O pássaro é a Liberdade, num feliz cidadão em um estado em que as liberdades são respeitadas, no modo como são toscos os estados ditatoriais, causando desconforto ao próprio cidadão, pois só há Prazer e Bem na Liberdade, fazendo com que a desagradável ausência de Liberdade se mostre uma sucursal do Inferno, a dimensão desagradável. Podemos ouvir o som de Mar, com suas ondas rítmicas banhando a beira, como numa respiração, nas ondas indo e vindo, no enigma que ainda persiste na Humanidade: Há Vida fora da Terra? Então, o Ser Humano se sente navegando um pequenino barco em um oceano tão vasto, vasto demais. Céu e Mar unem-se aqui num continuum azul, como ouvi numa certa canção: “Eu descobri que são azuis as paredes da Casa de Deus”, no modo como o espírito desencarnado, na Colônia Espiritual, ache lá o Céu mais azul do que na Terra, quando, na verdade, é o mesmíssimo Céu aqui ou acolá. Neste quadro, vemos as armações de um biombo, só que um biombo nu, translúcido, que permite que enxerguemos através dele, assim como é Tao, o Senhor invisível que faz com que observemos com clareza, como no enigma da Matéria Escura, o “cimento” invisível que mantém o Cosmos unido, como um só, no modo como Tao é um só, sem infelizes caminhos alternativos, ou seja, sem submundos. A praia está deserta, como me disse um parente: “É deprimente vir para a praia fora do período de veraneio”. Aqui, as ondas se chocam violentamente com as rochas, desafiando a dureza pétrea, num longo trabalho de persistência, pois nunca ouvimos dizer que “água em pedra dura, tanto bate até que fura”? Este biombo projeta uma sombra azulada, num por do Sol marciano, azulado, no pontinho azul que é a Terra vista de outros pontos do Sistema Solar. Aqui, este espelho não revela o artista, o qual desaparece, numa prova de discrição e recato, num Nash que sabe que o artista não deve aparecer mais do que a própria obra, num Mundo que naturalmente desrespeita o showman, o exibidinho, o homem que quer aparecer pelo puro fetiche de aparecer, num certo vício ilusório, pois uma celebridade não ama aparecer? E se, depois, não poderei caminhar em paz na Rua? Tudo tem seu preço, numa supercelebridade que simplesmente não pode sair na Rua, como num presídio. Vemos um pássaro voando, no prazer onírico de volitar, o termo espírita que fala sobre quando conseguimos voar, numa sensação deliciosa de força, vida e prazer – é a leveza de um espírito que consegue voar como um pássaro, na força do Espírito Santo. Neste reflexo, é tudo mais vermelho, na cor de sangue de um Sol sendo assassinado, ressuscitando no dia seguinte, renascendo como a Fênix, na força que faz com que o espírito jamais morra, na grande lei universal: O espírito é único, indivisível e imortal. Dá para imaginar presente maior do que a Eternidade? É o nobre presente, que nunca perece, estraga ou caduca. Doces nuvens brancas cruzam estes céus, como algodão doce, em doces memórias de infância, a fase da Vida em que tudo é mais simples, fazendo com que as crianças ensinem aos mais velhos a lição da Simplicidade, pois, quando criança, o espírito recém saiu da Dimensão Metafísica, trazendo resquícios de tal vida maravilhosa. Neste quadro, vemos algumas esferas, como numa mesa de sinuca, no prazer de jogar algum esporte, na memória que tenho de ganhar uma bola de aniversário, na simplicidade do prazer de fazer um gol, no termo “bola dentro”, que fala de alguma atitude feliz, que atingiu seu objetivo, no gosto da realização, rechaçando as frustrações e dando a volta por cima. Essas bolas são como um colar de pérolas desmantelado, numa Iemanjá distribuindo as pérolas a seus filhos navegantes, no talento da distribuição.


Acima, A Estrada Menin. Um melancólico cenário de devastação e destruição, talvez num momento de devastação existencial, numa vida que se transformou numa fábrica de frustrações, num indivíduo que, de uma forma muito repentina, deparou-se com um quadro de devastação, beijando o fundo do poço, tendo que empreender um esforço gigantesco para se reerguer. É um quadro triste, sem muitas cores, na beleza que inexiste nos conflitos da Terra, algo muito longe da beleza eterna metafísica, num Ser Humano com uma ancestral vocação para a infelicidade, num talento para a violência. Aqui, há um amplo lamaçal, e as poças d’água são paradas, estagnadas, e nada flui, nada vive, nada se renova, e há apenas esta água suja e pestilenta, imprópria para uso, para consumo, e é uma água enlameada, tóxica, que faz mal a quem a beber, como um veneno, no modo como a Guerra envenena as relações diplomáticas, sem espaço para conversa civilizada, sem espaço para uma polida conversa entre dois cavalheiros. Podemos ver poucos homens na cena, talvez os sobreviventes de uma batalha sangrenta, com pessoas que passaram por uma experiência traumática, arrastando, para o resto de suas vidas, uma sequela, um trauma irreversível. As guerras são grandes funerais coletivos, e rapazes, na flor da idade, com toda uma vida pela frente, são ceifados como gado no matadouro, banalizando a vida humana – é claro que Tao não gosta da Guerra nem da Raiva. As árvores aqui estão decepadas e mortas, talvez intoxicadas com armas químicas, na crueldade humana em fazer o máximo de Mal possível. Aqui, não há Vida, e há só ausência e privação, como uma pessoa padecendo de fome na Rua, num contexto em que se perdem as noções de Tempo e Espaço, numa pessoa jogada numa calçada fria, enfrentando a inevitável indiferença do Mundo. Porém, aqui, há uma nesga de esperança, pois alguns raios de luz, retilíneos, caem do Céu para abençoar esta terra são arrasada e coitada, tão desprivilegiada. É a esperança de que os percalços serão contornados e de que um belo dia novo virá, jorrando luz e cura, curando feridas e fazendo com que uma pessoa dê a volta por cima, no grande desafio que é se reerguer, numa pessoa que não tem outra escolha, senão enfrentar o trabalho e seguir adiante. Essas poças são reflexivas, como espelhos, num momento em que Nash faz um reflexão sobre as guerras, questionando se é necessário tanto sangue sendo jogado fora, numa lamentação, num Nash que se vê impotente para curar as feridas do Mundo, pois o Mundo não muda, e a preciosa Filosofia também não muda o Mundo, mas pode mudar o modo particular de uma pessoa observar tal Mundo, numa questão íntima e pessoal, particular, numa cabeça que gravita acima das mediocridades, fazendo do sábio a promessa de uma dimensão melhor, muito melhor – é a Terra Prometida, o Reino dos Céus anunciado pelo espírito mais depurado que já encarnou na Terra, num Jesus Cristo absolutamente alheio a violências. Os céus aqui lutam para que a luz penetre e cure, nos poderes miraculosos que o Evangelho atribui a Jesus. Este cenário luta para se reerguer, encarando um longo percurso pela frente, numa demanda que exige uma Vida. Aqui, temos um silêncio cemiterial, morto, com cadáveres apodrecendo, com rapazes que sequer terão a honra de ser sepultados juntos aos falecidos de suas próprias famílias. Aqui, é como um grande depósito de lixo, cheio de entulho inútil, na inutilidade das vaidades humanas, dos orgulhos arrogantes humanos, num rei ambicioso, num rei que não está contente nem satisfeito com suas próprias terras, pois a ambição é inimiga da Paz, e se você não está o tempo todo querendo, você poderá ter Paz, pois se o que você tem, você acha que não é o suficiente, então você nuca terá o suficiente – é a simplicidade de Tao, o contentador. Este quadro é muito distante do conforto acolhedor de um lar limpo e com mesa farta. É uma miséria, com seres humanos megalomaníacos, empenhados em anexar mais e mais terras a seus mundanos domínios. Se estou contente com o que tenho, estou bem, num mundo em que o consumismo traz a sensação de vazio espiritual.

Referências bibliográficas:

Paul Nash. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 19 jun. 2019.
Paul Nash Obras. Disponível em <www.google.com>. Acesso 19 jun. 2019.

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