Hércules Barsotti (1914 –
2010) foi um artista paulistano que, a princípio, visava ser químico
industrial. Começou a pintar por volta de 1940, fazendo desenho têxtil e
ilustrações de revistas. Teve sua primeira mostra individual em 1959. A partir dos anos 60,
participou de bienais em São
Paulo, época em que também lançou mão de muitas gamas de cores.
Em 2004, teve uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de SP. Entrou para a
Associação Brasileira de Desenhistas Industriais. Os textos e análises
semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Clara Formação. Acrílica sobre tela. Aqui, é uma nova perspectiva,
uma nova vida que se abre, numa pessoa desencarnando e deparando-se com uma
nova vida, um novo plano, uma nova realidade. É uma avassaladora aurora, a
deusa da luz que vem para nos levar a um lugar de muita beleza, limpeza e paz,
como um anjo nos guiando, talvez nosso próprio anjo da guarda, a alma zelosa
que nos acompanha em qualquer momento de nossa travessia encarnatória, na ideia
reconfortante de que não estamos sozinhos, e até a pessoa mais aparentemente
perdida tem seu próprio anjo, mas, infelizmente, não é sempre que ouvimos nosso
próprio anjo, e caímos, assim, no sofrimento... A base desta obra é de um
pacífico branco, a cor da Enfermagem, da Medicina e do Espiritismo, no modo
como conheci a história de um jovem médico, recém formado, que morreu num
acidente de carro e, no momento da tragédia, salvou a vida de um bebê que
estava em seu colo, e o jovem médico foi enterrado de jaleco branco, tal a
honra de seu desencarne, doando-se ao máximo por um irmão, no modo como tudo,
na Dimensão Metafísica, gira em torno desse tipo de Amor, o Amor Incondicional,
no qual o perdão é regra eterna, pois como poderemos evoluir sem sermos
perdoados? No quadro há um brando azul bebê, da cor do bebê cuja vida foi
heroicamente salva, e traz um perfume celestial, brando e agradável, no
irresistível apelo das fragrâncias, as quais nos hipnotizam, dando uma ínfima
amostra daquilo que nos espera após a cova ser esvaziada... Mais ao centro do
quadro temos uma explosão dourada, numa dourada cornucópia, como na rica
cozinha de um palácio aristocrático, numa mesa farta, como numa galeteria, num
imigrante italiano que, ao se deparar com a dura vida de colono, sonhava com
uma mesa farta, cheia de carne, polenta, queijo e vinho, no modo como vi o
espanto de uma italiana frente à fartura de uma galeteria, pois a cultura da
fartura não é do italiano que permaneceu na Europa. Aqui, são como cartas sendo
embaralhadas, ou uma máquina de contar cédulas, numa ânsia por diversidade, por
alegria, em um mundo tão cinzento e sisudo, como a sisuda rainha Elizabeth II,
em seu longevo reinado, e a longevidade serve para nos dar uma ideia (vaga) do
que é o Eterno, pois o infinito é muito poder, e passaremos a Eternidade
contemplando o poder de Tao, o incessante criador e inventor. Neste quadro não
há liquidiscência, mas linhas retas e racionais, num HB fã de formas
geométricas e explosões cromáticas. Este quadro tem movimento, e é uma estrada
infindável que se desdobra sob nossos pés, num caminho de depuração, de
processo incessante, um caminho que visa a feliz perfeição dos arcanjos, nossos
irmãos moralmente ultraevoluídos. Aqui, é como uma boca se abrindo para o Mundo,
recebendo as energias e vibrações ao redor, como um coração se abrindo a outra
pessoa, num momento de entrega, de confiança, como cair sobre uma cama
absolutamente fofinha, confortável, limpa e perfumada. São como novos
horizontes se desdobrando, no espetáculo cromático de um amanhecer, como um prisma
de arcoíris em fidalgos lustres de cristal, na arrebatadora beleza dos clubes
mundanos, que imitam os clubes metafísicos. Aliás, tudo na Terra busca imitar a
dimensão acima. Aqui, é um balão de São João, ardente, iluminado, num momento
de interação social ao redor de uma festividade, havendo nas festas o momento
de união em torno de um bem comum, como Caxias do Sul se une para celebrar a
uva, o vinho e a indústria em
geral. E é esta energia de labor o que move o Superior.
Acima, Cores Perfiladas. Acrílica sobre tela. Temos uma explosão
cromática, como um prisma, encantando com seu leque sedutor de cores. É como
abrir um figo e ver seu delicado e fascinante interior, na tendência humana
eterna em buscar explicações para a Natureza e o Universo, na curiosidade que
move mentes, num Tao desafiador, que nos desafia a fazer uso da inteligência e
decodificar tais mistérios, no sentido de que Tao não joga, mas fiscaliza.
Aqui, é um arco-íris retilíneo, com suas quinas agressivas que chocam e nos
avisam para mantermos distância. Barsotti gosta de losangos e outras formas
geométricas. Aqui, é como um presente sendo aberto, no prazer da violação, da
rasgação do papel de presente, no prazer violador do desbravamento, como
exploradores que vieram explorar as selvagens terras do Novo Continente. Temos
aqui um esquema de proteção, de garantia, e há várias camadas de segurança, de
proteção, como nas várias camadas de proteção em torno das urnas eletrônicas,
garantindo o funcionamento da máquina eleitoral, como uma casa devidamente
gradeada, com cercas elétricas, para garantir a segurança, a Paz, no sentido de
que uma consciência sem paz, sem mente tranquila, sofre o diabo, como uma
pessoa que enganou o próximo, o irmão. Então, essa pessoa de má fé se depara
com o Umbral, com o inferno astral, no modo como só os de mente pacífica têm
estabilidade e Paz. A mente que mente é demente, e o mentiroso, que mente
sempre, é naturalmente rechaçado pelo corpo social. Aqui, temos vários invólucros,
como nas várias camadas no caixão de um faraó, garantindo a integridade do
monarca no pós-vida, na tentativa humana em entender o Desencarne, buscando ter
fé para entender o que nos espera metafisicamente, no modo como Tao nos diz que
não precisamos temer a Morte, pois a consciência sobrevive à Morte, e só os de
mente tranquila conseguem abraçar uma nova vida, uma vida maravilhosa em que o
feliz desencarnado não só é feliz como também o sabe. Aqui, temos um pouco das
cores da bandeira gaúcha, num povo que, de forma trágica, desafiou o Império
Brasileiro e sofreu humilhante derrota, na tragédia que acabou por moldar os
traços típicos de uma cultura regional – o Gaúcho. E o artista é assim,
desafiando limites e transgredindo paradigmas, com os vários movimentos
artísticos que vieram após a consolidação da Arte Acadêmica, fazendo da Arte um
verdadeiro transformador social, essencial ao progresso de uma sociedade,
havendo em seus artistas o vento renovador vanguardista, numa sociedade que
precisa evoluir, no trajeto de depuração moral da Humanidade, pois adquirir
apuro moral é tudo em uma encarnação, e aquele que me engana, que me passa par
atrás, não tem como ter acesso à dimensão das mentes tranquilas, e, fora da
Paz, realmente não há salvação. A cor verde é a cor da Natureza, como uma
recente Campanha da Fraternidade, que tinha um viés ecológico, dizendo para
preservarmos a Criação de Deus, e, ironicamente, numa Igreja que não aceita os
fatos evolucionários darwinianos, numa certa contradição... Então, temos aqui
também o vermelho, na cor do sangue derramado do grande Messias, trazendo à
Humanidade mensagens civilizatórias de Amor, derrubando por terra a ideia de
que Tao é um patriarca rígido, desconfiado e, por vezes, cruel. Então, Jesus nos
traz o fato de que tudo se resume a Amor, ou seja, se amo meu irmão, não
tentarei o sacanear. A cor amarela é o ouro dos majestosos cabelos de Gisele,
um dos maiores monstros da história do Brasil, mostrando que a cabeça está
acima da bunda. O tom marrom terroso é a fertilidade de uma mente imaginativa,
criativa, como uma fonte que jamais seca, jamais se esgota, como em grandes
artistas como Carlos Iotti, fazendo da imaginação um recurso que jamais
abandona o artista, no mistério mental – o que faz de uma pessoa ser criativa?
O tom alaranjado é como um salmão correndo rio acima, reproduzindo-se e
morrendo, nos ciclos da Natureza, no modo como a Vida é feita de ciclos, de
fases, com nascimento, plenitude e decadência, e cada cor destas de Barsotti é
uma nova fase que se desdobra sob os pés dos corajosos.
Acima, Projeto. Guache e grafite sobre papel quadriculado. O quadriculado
e os números remetem a um ambiente técnico, na construção técnica do espírito,
uma evolução que visa a mortificação psíquica e, consequentemente, a
erradicação de sofrimento, ou seja, das paixões, no modo como uma pessoa
apaixonada sofre em um verdadeiro calvário. Aqui temos a paixão de Barsilotto
por Geometria, por Matemática, fazendo uma união entre a Áreas de Humanas e Exatas,
no modo como todo e qualquer conhecimento humano vem da mesma fonte, que é o
Esclarecimento. Aqui, temos a verdade nua e crua dos números, na fria razão,
como uma água que, apesar de gelada, é limpa e purificadora, como na benigna
frieza da Galadriel de Tolkien, uma espécie de feiticeira que é uma aranha
iluminada, elucidada, mapeada e conhecida, jogando a luzes da mente sobre um
terreno negro e misterioso, no esforço kardecista em nome da decodificação do
Espiritismo. Aqui, temos duas naves alienígenas pairando sobre nosso exótico
planetinha, buscando entender nosso modo de vida, quiçá querendo nos mostrar
que o Cosmos é repleto de Vida, e de Vida Inteligente. Aqui, temos uma
hierarquia, e a navemãe gera a nave menor, talvez enviando um de seus filhos em
uma missão exploradora, no modo como a Espiritualidade é repleta de hierarquia,
mas uma hierarquia amorosa e fraternal, baseada numa escala de apuro moral –
não é uma hierarquia imposta de forma brutal, como a Escravatura. As cores
preta e amarela são as cores de abelhas numa colmeia, num organismo de
incessante labor, no trabalho árduo que gera o doce mel dos resultados, como um
urso esfomeado, devorando uma colmeia, sem se importar com as inúmeras
ferroadas que levará como punição. Aqui, o preto e o amarelo formam um contraste,
querendo chamar a atenção, no modo como as boas obras de Arte chamam sempre
muita atenção, não suportando a ideia de passar despercebidas, pois é difícil
imaginar algo pior para um artista do que ser ignorado, com obras que não
chamam a atenção. Ser ignorado é amargo, mas num remédio que vem para ajudar...
Só que a Vida exige que a mente esteja aberta. Aqui, temos pontas de flechas,
na universalidade da Guerra, da discórdia, do conflito, num Ser Humano que, ao
ter conflitos consigo mesmo, carrega tal ódio para fora de si, provocando
outros povos, outras tribos, provocando o vizinho, vizinho o qual tem que ser
respeitado e amado, ou seja, vizinho é algo que tem que ser levado com toda a
delicadeza, e aí entra a delicadeza do cavalheiro diplomata. Este papel
quadriculado é como uma rua ladrilhada, no labor lento e incessante para que
uma cidade seja pavimentada, no progresso chegando a uma comunidade, na
reviravolta que foi a pavimentação de cidades como Caxias do Sul. Esses
ladrilhos são como grades numa prisão, num presidiário contando os dias para
ser libertado, tendo que fazer algo com o tempo encarnatório que lhe é dado. O
losango mais abaixo no quadro parece estar girando como um catavento, e podemos
ouvir o som do vento uivando suavemente. Aqui, as linhas retas são o pensamento
racional, abreviando etapas e racionalizando, como um avião faz uma viagem
muito mais rapidamente do que um trem, no irônico modo como algo tão rápido
como a Luz pode ser, em termos de medidas cósmicas, uma velocidade ridiculamente
lenta, num Cosmos de eterno mistério, com seus confins negros inexploráveis.
Aqui, são como escudos aristocráticos, altivos, na elegância de um artista, uma
pessoa que, apesar de ter uma atitude transgressora, tem muita classe e
polidez, fazendo da Arte esta flecha de percepções, penetrando fundo na mente
do espectador, como um cupido, fazendo com que uma pessoa ame este ou aquele
artista, na construção de numerosos fãclubes ao redor do Mundo. As formas se
encaixam como um quebracabeça, elucidando um enigma que parecia ser tão
indecifrável e duro de ser compreendido. São formas simples e modernas,
buscando fazer da Simplicidade um canal de comunicação entre Seres Humanos de
culturas aparentemente tão diferentes uma da outra.
Acima, sem título. Guache e
grafite sobre papel. Mais uma vez, a paixão de HB pelas Ciências Exatas, no
modo como todas as formas humanas de conhecimento se interligam, resultando no
mesmo destino, que é Tao, o grande esclarecedor. O cubo abaixo tem um
movimento, e parece ter sido jogado para cima, como num sorteio no início de
uma partida de futebol, deixando a sorte e o acaso decidir quem tem o chute
inicial na partida. É a sorte sendo jogada, e o indivíduo se depara com um
Mundo duro, com tantos sonhos e projetos naufragando diariamente, no modo como
é comum haver tantas e tantas pessoas fodidas – desculpe o termo baixo. É a
magia da Racionalidade, como dizia um sábio grego: “A Lei é Razão livre de
Paixão”, ou seja, livre de sofrimento. São como os olhos frios da Mulher
Maravilha, com seu laço mágico o qual, ao envolver alguém, faz com que este
alguém só diga a Verdade. A Mentira são os meandros da Malícia, meandros que
não levam a lugar algum, numa irracionalidade, uma falta de sentido, de Tao, de
nobreza, como uma pessoa que, por alguns pilas, falta com a Ética e com a Moral
e se transforma na serpente sendo esmagada pelos alvos pés de Nossa Senhora –
não vale a pena se transformar nisso. Este cubo é o cubo mágico desafiando a
inteligência, numa brincadeira sofisticada que só mentes brilhantes conseguem
desvendar. E este cubo tem uma natural dualidade, uma contradição, pois não
sabemos se ele é côncavo ou convexo, como nas ilusões geniais de MC Escher, o
mago desenhista que brinca com nossas percepções, numa obra divertida e inesquecível,
como nos desafios de um quebracabeça, exigindo a fria Razão e rechaçando os
meandros traiçoeiros das emoções. Este cubo levita livre no espaço, livre, leve
e solto, como uma consciência limpa, como um Céu de Brigadeiro, num cenário de
certeza, de alguém que encontrou o fio da meada e, finalmente, parou de “se
atirar nas cordas” e passou a encarar o fato de que a Vida é luta renhida, como
dizia minha falecida vó Nelly, um espírito amoroso, muito amoroso. O pentágono
acima é como o Pentágono norteamericano, com o número 5 interpretado de três
formas diferentes: é um complexo predial com cinco faces, sendo que no interior
há cinco pentágonos concêntricos e num complexo que tem cinco andares de
altura. É o prédio sendo vitimado pela violação do 11 de Setembro, o dia em que
a discórdia imperou no Globo. Este pentágono é predominantemente dourado, mas
tem uma parte mínima negra, no fato de que, na Encarnação, sempre haverá uma
manchinha negra sobre o Sol, e a pessoa encarnada nunca pode “baixar a guarda”
completamente. É como uma noite se insinuando e tomando conta de metade de uma
esfera, no modo como ouvi certa vez uma pessoa dizer: “Depois da noite mais
escura, sempre vem um belo dia”. Ou seja, é preciso ter força para virar as
páginas, sejam elas doces ou amargas. O pentágono aqui é otimista, pois a luz
toma a maior parte da estrutura, como dizia a personagem benévola Feiticeira no
filme de He-Man: “A Escuridão pode abraçar a Luz mas nunca eclipsar esta”. Ou
seja, é a Esperança, numa fé que precisa se sedimentar intuitivamente, no modo
como a enigmática Dimensão Metafísica é tão além da compreensão humana. É como
uma maçã com uma parte podre, e não devemos jogar fora o fruto, mas apenas
desprezar a parte que não presta, no modo como todas as pessoas têm defeitos,
e, como me disse alguém, casar é aguentar os defeitos do outro. A parte negra é
a vicissitude material, num corpo carnal que precisa se alimentar e descansar,
sempre sujeito à fadiga, no modo como estar desencarnado é não estar mais
agrilhoado a tais fatores como fome, sede e fadiga, até que a pessoa se adapte
a sua nova vida. E o papel quadriculado são as linhas retas de uma apolínea
cidade, num lugar disposto racionalmente, celebrando as luzes do Iluminismo,
fazendo da Ciência uma aliada da Humanidade, desvendando os mistérios de
doenças como a AIDS. A Vida é um desafio.
Acima, sem título. Serigrafia
sobre papel. Um registro de ondas sonoras, no modo como o artista vai
projetando ondas que vão lavando o espectador, como em filmes com uma catarse no
final, numa sensação de alívio, fazendo com que saiamos da sala de Cinema
pairando como gaivotas à beiramar, numa sensação de libertação, de alma lavada.
São duas espirais que estão em conflito, talvez concorrendo pela supremacia do
quadro, na altas doses de competitividade que tomam conta de qualquer corpo
social, como na Escola, quando o indivíduo concorre com os próprios colegas
pelas notas mais altas. É um fundo negro como os confins do Universo, com
corpos tão distantes, num Ser Humano ainda extremamente imaturo, tal qual um
feto, numa Humanidade que sequer nasceu ainda. São como duas coroas de Cristo,
no modo como as coroas, apesar de trazerem poder e respeito, pesam sobre a
cabeça do soberano, num tomada de responsabilidades, muita responsabilidade,
numa pessoa que praticamente se vê forçada a crescer e amadurecer, como numa
rainha da Festa da Uva, que inicia o reinado como menina e termina como mulher
madura, tal qual as uvas maduras nos parreirais em tempos da Festa. São como
ouriços e arames farpados, demarcando um território, exigindo respeito,
ameaçando machucar aquele que não mantiver respeitosa distância, como o
agressivo herói Panthro, dos Thundercats, com um colete de espetos, como um
animal que desenvolve espinhos para manter predadores à distância, num
desenvolvimento de táticas de sobrevivência, no modo como qualquer artista tem
que sobreviver, mesmo sobreviver ao sucesso em si, o qual pode ser uma prisão,
pois como é duro continuar tocando a Vida depois de um doce mel de sucesso! Ou
seja, Humildade sempre. E o Mundo não é dos humildes pés no chão? É a força da
Simplicidade, abreviando a inutilidade e atendo-se, limpamente, ao essencial,
como um chefe de estado, um chefe que só deve agir quando é bem necessário,
pois ações desnecessárias são sujeira, e o sujo se afasta de Tao, o perfumado,
o minimalista, o saudável. Aqui, são como terríveis raios de tempestade,
rasgando os céus, amedrontando, na forma como o artista quer ser isso, uma
força natural, um terremoto benéfico. É uma caligrafia desconhecida,
enigmática, na possante inteligência de quem soube decodificar o idioma do
Egito Antigo – é um trabalho de quebracabeça, um esforço descomunal e
persistente, otimista, obstinado, empenhado. Aqui, é um copo trincado e
quebrado, com suas traiçoeiras quinas cortantes, num bisturi cortando o
paciente, no zelo imparcial de um cirurgião no momento da anestesia, numa
pesada carga de responsabilidade. Aqui, é como uma grande mandíbula de
predador, com seus dentes afiadíssimos, adaptados para a caça, para a agressão
em nome da fome, muita fome, no modo como Agressividade tem a ver com essa
fome, e aquele que não tem qualquer Agressividade, perece no campo de batalha,
atirando-se nas cordas e esperando que chegue um príncipe que jamais chegará. É
o sorriso diabólico do vilanesco Venom, algoz do Homem-Aranha, um vilão que é a
força irracional da Escuridão, da Malícia, da intenção de malefício, num pobre
coração sofredor, cheio de raiva, cheio de ódio, cheio de antipaz. É como uma
vigorosa roda de caminhão, de tanque militar, numa estrutura fortíssima, feita
para ter muita resistência, como uma casca de tartaruga, moldada para
sobreviver a um mundo tão perigoso, tão cheio de gente mal intencionada. É uma
tática de sobrevivência. Aqui, é como a torre de Orthanc, de Tolkien, um lugar
que, antes do Bem, rendeu-se ao Mal, traindo amigos fiéis e fazendo da ambição
megalomaníaca o combustível para a autodestruição, pois o Poder corrompe a alma
do Homem, pois este é fraco, sempre fraco. E não foi Jesus resistente às tentações?
As tentações perecem sob a luz da Razão. Aqui, é como um tubo de produto, nos
apelos consumistas que levam à acumulação e destroem a Simplicidade, a vida
limpa.
Referências bibliográficas:
Hércules Barsotti. Disponível em <www.escritoriodearte.com>.
Acesso 29 mai. 2019.
Hércules Barsotti. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 29 mai. 2019.
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