O surrealista belga René
Magritte (1898 – 1967) estudou Arte em Bruxelas, trabalhou numa fábrica de
papel de parede e foi designer de cartazes e anúncios. Enfrentou o suicídio da
própria mãe. A geração de Magritte viu a ocupação nazista de Bruxelas na II
Guerra Mundial. A primeira mostra de RM foi em 1927, ano em que se mudou para
Paris, tornando-se um vanguardista e amigo do célebre Marcel Duchamp – os
semelhantes se agrupam. A partir de 1936, Magritte torna-se conhecido em Nova York, expondo no
MoMA em 1965 e postumamente no Met em 1992. O surrealista veio a falecer de
Câncer. Magritte teve ampla citação e homenagem no filme Thomas Crown, com Pierce Brosnan, e também em um clipe monumental
de Michael Jackson. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente
meus. Boa leitura!
Acima, Golconda. Uma chuva de cavalheiros, como uma agressiva chuva de
granizo, trazendo transtorno aos agricultores, no modo como o Ser Humano é
suscetível às intempéries da Natureza – são as vicissitudes materiais, um mundo
imperfeito, muito abaixo de um mundo mais nobre, num mundo material em que o
Ser Humano, infelizmente, trata de ser o mais cruel e duro possível, num mundo
duro principalmente para um artista, para uma pessoa sensível. O cenário aqui é
uma vizinhança apolínea, perfeita, com prédio de aparência imaculada, perfeitamente
pintados e mantidos pelo zelo da pessoa que quer fazer com que este mundo se
apreça ao máximo com a dimensão acima. Estes senhores estão indo trabalhar,
talvez se espremendo dentro de um trem ou um ônibus, nas demandas do dia a dia,
do labor, das obrigações diárias que trazem a rotina de sempre, num exercício
de disciplina, no modo como, por mais sensibilidade uma pessoa possa ter, é
necessário que haja disciplina na hora de sentar e produzir, nas duas faces de
um mesmo trabalho – liso e áspero. Os telhados aqui são rubros como fogo,
talvez sangrando, nos modos humanos de estabelecer os de “sangue azul”, fazendo
nada mais do que separar as pessoas em castas, fazendo da pirâmide social uma
ilusão, pois todos somos de sangue estelar, acima do sangue azul, e somos todos
príncipes herdeiros do mesmo Rei, que é Tao, o grande regente de todas as
dimensões do Universo, num Ser Humano ainda tão pequenino, ainda tão jovem
apara entender o Cosmos ao seu redor. Estes senhores levitam como Mary Poppins,
no livre arbítrio do espírito para levitar e voar na dimensão acima, desafiando
as regras da Física, regras estas presas ao fato de estarmos presos na dimensão
da matéria, da carne. Aqui, temos uma diversidade mas, ao mesmo tempo, todos os
senhores são iguais, idênticos, e pode se tratar do mesmo homem, só que em
momentos diferentes. O artista odeia ser apenas mais um, odeia ser medíocre,
partindo em busca de sua identidade, de sua marca registrada, como nos círculos
e bolas de Yayoi Kusama, numa identidade que faz com que as pessoas possam
reconhecer e dar o devido valor à originalidade de um determinado artista. Mas,
apesar disso, a reinvenção é necessária, pois a pessoa não pode ficar a vida
inteira fazendo a mesma coisa, pois, se o fizer, parará no tempo e virará uma
peça empoeirada de museu, um fóssil, algo morto que, um dia, teve glória mas
que, hoje, não mais causa efeitos ou comoções. É o desafio de tocar a Vida para
frente. Estes senhores estão de preto, a cor da discrição e da seriedade, do
luto, do respeito. Todos estão devidamente usando um chapéu, pois o chapéu é a
proteção, o resguardo, a preservação, no modo como uma pessoa tem que ter siso
e juízo para se proteger de situações tóxicas ou de pessoas tóxicas, no
inevitável modo como os sociopatas estão entre nós... Portanto, cuide-se, mas
sem paranoias. O céu aqui está limpo, de Brigadeiro, na limpeza de percepções,
como o espectador se sente de banho tomado ao apreciar algo que um bom artista
fez, pois a indiferença do espectador é a maior dor que um artista pode sentir:
“Por favor, lembrem-se de mim”, implora o artista. Todas as janelas aqui estão
de cortinas fechadas, na separação entre público e privado, num ato de recato,
de cuidado, de preservação. É o mistério que ronda a Vida, com verdades nem
sempre escancaradas. Estes senhores estão discretos, como se soubessem que o showman, o exibido, nunca obtém
respeito. E não é o respeito o cimento sobre o qual a Sociedade se sustenta?
Acima, Os Amantes. Aqui, há uma proibição, um percalço social entre duas
pessoas, num amor impossível, talvez num Magritte catarseando o sentimento de
despertencimento social, num amor que contraria regras e conveniências, talvez
com dois amantes que levam vida dupla, debatendo-se entre Amor e Dever. Talvez
esses dois amantes estejam já casados com outrem, mas num casamento frio, de
conveniência social, como nos casamentos arranjados, como acordos entre duas
famílias aliadas, numa vida social cruel, que pouco se importa se o indivíduo
está feliz, como na popular Diana, a qual, ao se deparar com um casamento frio
e infeliz, decidiu mandar tudo para lá, abraçando a felicidade e ganhando o
carinho e a identificação do Povo, num caminho de transgressão, por ninguém
merece ter um cônjuge frio, que pouco se importa com a felicidade e o bem estar
do outro cônjuge. Aqui, os sacos são uma proibição, talvez fazendo metáfora com
preservativos, camisinhas, talvez num amor nunca consumado, como na
avassaladora paixão entre Ellen e Newland em A Época da Inocência. Aqui, é como chupar bala com a embalagem, num
amor que nunca se realiza de fato. Os amantes aqui estão cegos, e não conseguem
ver ao outro, e o beijo é somente uma fantasia, algo que não tem como se
realizar, no modo como uma pessoa estrutura a própria vida ao ponto de
simplesmente não poder visualizar algo dentro desta cilada autoestruturada, ou
seja, somos reféns de nossos próprios medos. Esses dois amantes têm medo de se
envolver, e é algo que fica só na fantasia, na imaginação, e nunca um
relacionamento de fato. Podemos ouvir a respiração ofegante dos amantes, num
fervoroso desejo de se envolver, e eles têm um romance que não se adéqua aos
limites sociais, como no romance proibido de Anna Karenina, uma mulher que
sofreu todas as punições por ter desafiado regras sociais, tornando-se
malvista, como uma Maria Madalena, ou uma Eva no Éden, tornando-se maldita,
malfalada, sem ter como saber como é o sabor do Respeito. Este é um quadro
sombrio, no qual pouco podemos observar, e o céu noturno ao fundo é bem
fechado, muito distante num dia claro de Brigadeiro, muito distante de um
contexto onde tudo está elucidado e esclarecido, num romance sem pé nem cabeça,
numa ilusão que pouco tem como se adequar às demandas do dia a dia – é uma
ilusão, uma falácia, uma mentira. Os amantes aqui estão ensacados e não podem
ver um ao outro, ao contrário de um casamento socialmente aprovado, no qual os
cônjuges se adaptam perfeitamente à vida social um do outro, formando um casal,
a entidade dupla que tem peso ritualístico, fazendo do homem o representante
dos homens e fazendo da mulher a representante das mulheres, no fato de que,
depois do Desencarne, os casamentos não são mais necessários, e os cônjuges,
desencarnados, tornam-se puramente amigos, mas só se souberam se respeitar
reciprocamente durante a Encarnação – no fim das contas, tudo se reduz a
Amizade, ou seja, Amor Fraternal. E talvez não haja Amor Fraternal entre esses
dois amantes, pois eles não conseguem vislumbrar a vida um do outro, não
podendo, assim, entrar em harmonia com a vida do seu amante. É a dança entre
Razão e Sensibilidade, entre Yang e Yin, e ambos precisam estar em harmonia
para que a pessoa tenha Paz em seus dias na Terra. Este amor de Magritte é um
amor que nunca se realizará. Podemos ouvir a respiração ofegante dos enamorados,
mas é algo além de ser concretizado, pois talvez esses dois amantes tenham
muito medo de entrar em conflito com o corpo social ao seu redor; medo de se
tornar maldito; medo de ser excluído. Aqui, é um ambiente fechado e claustrofóbico,
num romance que, ao invés de libertar, aprisiona. Então, o siso entra em cena
com toda sua dureza habitual, fazendo com que a pessoa faça um esforço enorme
para conciliar o Liso com o Áspero, num caminho do meio, equilibradinho – não é
impossível ser feliz.
Acima, O Espelho Falso. Uma pessoa sonhadora. A íris aqui é como o Céu,
numa mente produtiva, sempre inventando, num artista em busca de meios para se
expressar da forma mais forte, grandiosa e arrebatadora possível. Este olho
arregalado é um momento de revelação, com algo sendo claramente descortinado,
revelado, solucionado. É um olho sem cílios, sem os pelos que nos fazem
primatas, como se fosse uma raça alienígena, de outra proveniência, de outra raça,
algo que nada tem a ver com o Homo sapiens. Este olho não pisca, não tem
interrupções, como num programa de TV sem intervalos comerciais, como um
espírito desencarnado, que não sente fadiga nem necessidade de se deitar para
descansar, da glória de juventude eterna, o grande presente que nos espera
incondicionalmente, certamente, fazendo da Fé um espectro fora do alcance da
Ciência – temos Fé, mas não certeza, no grande desafio que é ter Fé. Este
quadro olha nos olhos do espectador, num momento de identificação, de
compaixão, com um ser humano se colocando nos sapatos de outro ser humano,
fazendo do compadecimento a estrada que leva ao Amor Incondicional, o
combustível que move toda a Dimensão Metafísica, ao contrário da Terra, onde
tudo gira em torno de arrogante dinheiro... Como é tosco o Ser Humano! Esta
pupila é o mais próximo que podemos entrar em alguém, fazendo com que muitas
pessoas tenham medo de contato visual, achando este uma invasão, uma
indecência, um desconforto. Este pupila é o olho do furacão, pois quando tudo
ao redor está no mais perfeito caos, a pessoa tem o controle emocional para se
sentir estável e tranquila. A pupila é um portal, um túnel, e nunca ouvimos
dizer que os olhos são o espelho d’alma? É como dois grandes amigos, amigos de
verdade, que estão há décadas sem trocar palavra, e quando se encontram por
acaso na Rua, olham nos olhos um do outro, com a sensação de que foi ontem ou
anteontem a última vez em que se falaram, ao contrário dos amigos fúteis, com
os quais estamos há décadas sem falar, e quando nos encontramos, parece que
fazem décadas, como dois estranhos olhando no olho um do outro, não podendo ali
reconhecer um amigão de fato. A pupila é um portal interdimensional, na teoria
dos Buracos de Minhocas, portais que cortam o tecido de Tempo e Espaço,
abreviando distâncias e fazendo da Luz uma velocidade lenta como uma minhoca. O
entorno deste olho, as pálpebras, parece ser feito de argila, na atividade do
artesão, sempre produzindo coisas novas, na satisfação de uma vida produtiva,
como Tao, sempre criando, no poder terapêutico do labor, como a idosa Rose em Titanic, rechaçando as riquezas mundanas
e abraçando uma vida simples, estável e maravilhosa. Este céu, nesta íris, está
estável, de bom humor, com estabilidade invejável, na dádiva que é uma pessoa
calma, que não se desespera, que não perde o controle. Podemos ouvir o canto de
pássaros neste belo dia de Sol, na dádiva que é um fim de semana de tempo
estável. Podemos sentir a leve brisa que carrega as nuvens lentamente, enchendo
nossos pulmões de ar, simplesmente ar, na alegria de momentos em que tudo de
que precisamos é de nosso coração batendo, no modo como a Vida é preciosa e
inigualável, num momento de harmonia entre Físico de Metafísico, neste portal
que interliga as duas dimensões, fazendo de tudo a grande obra de Tao, o Oscar
Niemeyer de todo o Universo. Este quadro é um portal que nos convida a entrar
na mente do artista, como entrar na casa de outra pessoa, como na interessante
visita guiada à casa de Jorge Amado, em Salvador, entrando na casa de outrem e
sentindo o hálito do lar alheio, o cheiro do vizinho, como um cão na Rua
farejando o xixi dos outros cães. É um olho belo, portal de uma alma bela, num
impecável azul anil. É como uma perfumada cama de hotel, com lençóis limpinhos,
no prazer de se deitar numa cama limpa e perfumada. É um olho sensível e
contemplador, muito puro e inocente, na inocência de um artista que quer simplesmente
fazer com que as pessoas vejam as coisas do modo como o próprio artista vê, num
convite, numa sedução, como se “render” a um professor e permitir que este dê
lições preciosas.
Acima, O Filho do Homem. Certamente, esta é a obra mais célebre de toda a
carreira de Magritte, fazendo com que o quadro desse uma inconfundível
identidade ao autor. A maçã é verde porque é imatura, e ainda é azeda, num
espírito jovial, que não se sente velho ou ultrapassado, na dádiva que é uma
alma jovial, que não perde a irreverência, o precioso senso de humor. A maçã
tapa o rosto do homem, como se quisesse tomar conta do quadro e ser a grande
estrela, nas ambições humanas em obter dinheiro e influência, nada a ver com o
líder sábio, o homem ultrapolido que nunca se coloca contra o próprio povo. A
maçã busca ter identidade, para quem sabe um dia, quando estiver vermelha e
madura, possa saber como viver e como se expressar. É a maçã do Éden, na
transgressão de Eva ao colher um fruto proibido, fazendo da serpente os
inocentes pecadinhos como a Gula, no modo como há fabulosas confeitarias na
Dimensão Metafísica, segundo o Espiritismo. O casacão do homem é elegante, sem
qualquer amasso, e representa a elegância de um senhor que respeita outrem,
fazendo pequenas e valiosas gentilezas como segurar a porta para um idoso
passar. A gravata vermelha remete a Trump, o truculento que comprou briga com a
CNN e com meio Mundo, num líder um tanto longe de Tao, pois este se revela um
grande líder, pois Tao não tem as vaidades do Ego humano. As mãos do homem
estão calmas, recatadas e discretas, e não são rudes ou calejadas, mas mãos de
um homem que exerce trabalho de labor mental, como criar Arte ou experimentar
Ciência. A camisa branca faz contraste com a gravata sangrenta, e traz um pouco
de respiro e Paz, no modo como muitos espíritas julgam que uma roupa branca é
uma bela imagem, uma bela tonalidade, entrando em harmonia com a Medicina, nos
jalecos brancos dos médicos – o Ser Humano é universal. Dois botões aqui estão
abotoados; o terceiro não. É o botão rebelde e desajustado, na porçãozinha
transgressora que qualquer artista tem, fazendo uso do falo agressor, erguendo
um imponente obelisco, na altivez de uma diva como Barbra Streisand, uma mulher
falo, imponente, quase intimidadora. Ao fundo, um plácido e doce oceano, num
mar perfumado e calmo, algo difícil de se ter na Dimensão Material, fazendo com
que as praias paradisíacas da Terra sejam uma mera fotocópia de algo melhor e
mais perfeito. É a vastidão oceânica, que sempre desafiou tanto os navegadores
da Renascença, com lendas de horríveis monstros oceânicos que engoliam barcos e
tripulações, na imaginação humana frente ao desconhecido. Acima do mar plácido,
um céu dúbio e cinzento, prestes a cair em tormenta, ameaçando com suas
trovoadas e perigosos raios elétricos, no martelo de Thor, na tendência humana
em deificar a Natureza. O céu cinzento é o sentimento dúbio entre dor e prazer,
como uma bela rosa com espinhos, num sabor total de agridoce. Uma forte mureta
separa o homem do fundo do quadro. A mureta é o discernimento de que o Ser
Humano não pode tudo, pois o que Tao faz, o Homem só faz uma rude fotocópia. A
mureta é a consolidação, a força de uma fortaleza, com tijolos pacientemente
sendo construídos, num homem se fazendo na Vida, construindo uma carreira, um
legado, com o prazeroso sentimento digno de fazer algo em prol do Coletivo, da
Sociedade. Este homem está muito sério, e é difícil o imaginar sorrindo, numa
sisudez, nos pepinos que vão surgindo durante um ordinário dia de trabalho. O
chapéu coco é elegante e protetor. O chapéu é o resguardo, a força acolhedora
do Lar, o espaço em que temos muita Paz, ouvindo na Rua o reconfortante canto
de bem te vi, em ruas plácidas, absolutamente desprovidas de violência ou
feiura, no modo como é frágil e Paz da Dimensão Material. Podemos ouvir aqui o
som do Mar em suas doces ondinhas requebrando, no odor libertador que é a brisa
da beiramar, no sentimento de libertação, como um prisioneiro que conta os dias
para ser solto, tendo que fazer algo de seus dias na Terra – e algo produtivo.
Acima, O Terapeuta. A bengala é o sustentáculo, o apoio, a estrutura
mantenedora. É o falo da Lei, assustando aquele que estiver pensando em cometer
algum crime ou infração. É a simplificação do pensamento racional, abreviando
meandros e indo direto ao ponto, como um preciso diagnóstico médico, apontando
a patologia e indicando tratamento e medicação – é o dever da Ciência, o
ambiente universal de pensamento lógico. A gaiola aberta é a Liberdade, com os
pássaros não mais mantidos em cativeiro, tendo o livre arbítrio de entrar ou
sair, como é a libertação do Desencarne, no momento em que a pessoa cumpre a sua
missão na Terra – hora de voltar para casa, como na vida da política gaúcha
Nega Diaba, que foi prostituta e presidiária, superou as vicissitudes, deu a
volta por cima e morreu com dignidade. Esta gaiola não é mais uma prisão, mas
um lar onde todos convivem em Paz e Harmonia, e podemos ouvir o doce canto
dessas aves, cantando alegremente pelas ruas pacíficas da Divina Dimensão. São
os pombos do Espírito Santo, trazendo alento aos que vivem na Terra, prometendo
uma vida (muito) melhor – não poderemos resolver os problemas do Mundo, mas
poderemos ser a promessa de outro dia. Aqui, o Céu é de Brigadeiro e o Mar é
doce e plácido, num Magritte desejoso de Paz, para poder produzir em Paz em seu
estúdio, na tranquilidade diária do labor, em momentos produtivos em que a
pessoa esquece do Mundo lá fora. Este homem não tem face, e não sabemos se é um
homem ou uma gaiola, num apelo surrealista, mesclando elementos, na missão do
artista plástico em combinar elementos diferentes e produzir algo novo. O manto
é da cor do vinho, do sangue de Jesus bebido na Última Ceia, no fascínio que a
bebida exerce há séculos, na sensação de relaxamento e embriaguez, fazendo
metáfora com a deliciosa sensação de Paz e Liberdade do Mundo Acima, no modo
como o vinho é apenas uma (deliciosa) cópia... O ar circula tranquilamente por
esta cena, alimentando os seres vivos, provendo como Tao provê, alimentando com
Ar, Água, Terra e Fogo. A impressão que temos é de que, aqui, trata-se de um senhor
idoso aposentado, tranquilamente sentado num banco de praça, proseando com
outros senhores, na identificação que existe em um grupo de amizade onde os
membros têm mais ou menos a mesma idade. Na outra mão deste senhor, um saco
marrom escuro, num mistério: O que a Vida nos trará nas próximas esquinas?
Pouco se sabe. O saco tem um rasgo que está costurado, como se tivesse sofrido
uma facada, como na facada de Bolsonaro, num momento público de agressão e dor
intensa. São as cicatrizes da Vida, ensinando-nos que os percalços são não só
inevitáveis como também necessários, no modo como uma pessoa não pode ficar no
“mimimi” nem ficar reclamando da Vida. Este saco é a reserva, como na fábula da
Formiga e da Cigarra, com a Formiga trabalhando o Verão inteiro para ter suas
reservas no Inverno, na lição de Responsabilidade e Realismo – temos que pensar
no futuro e em uma aposentadoria. Esta cena é praiana, pois o chão é arenoso,
no hálito primordial oceânico, na Mãe Iemanjá que trouxe Vida à Terra, nas
pérolas submersas dos mistérios aquosos, na sensação deliciosa e gloriosa de
liquidiscência, num momento em que um filho se entrega nos braços de Tao, o Pai
caridoso e clemente. Podemos ouvir o som do Mar, e a brisa desta beiramar é
doce e suave , dando o prazer de
libertação a esses pombos, no modo como são grandiosas as nações que propõem
Liberdade aos seus cidadãos, pois Liberdade dá prazer, e tudo o que é agradável
é do Bem. Este senhor surrealista usa um chapéu, talvez para proteger do Sol
inclemente. O chapéu é o telhado da casa, do invólucro, da estrutura, no gesto
de respeito ao se tirar o chapéu para outra pessoa, no próprio termo “tirar o
chapéu”, denotando reverência, no modo como uma pessoa que não é respeitada é
uma pessoa que tem uma certa lacuna existencial, na desafiadora missão de se
obter respeito. Este senhor está esperando por esta libertação, por este
recreio, por este retorno. Cedo ou tarde, a porta da gaiola se abrirá.
Referências bibliográficas:
René Magritte. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 12 jun. 2019.
René Magritte Obras. Disponível em <www.google.com>.
Acesso 12 jun. 2019.
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