quarta-feira, 19 de junho de 2019

O Gordo e o Magritte



O surrealista belga René Magritte (1898 – 1967) estudou Arte em Bruxelas, trabalhou numa fábrica de papel de parede e foi designer de cartazes e anúncios. Enfrentou o suicídio da própria mãe. A geração de Magritte viu a ocupação nazista de Bruxelas na II Guerra Mundial. A primeira mostra de RM foi em 1927, ano em que se mudou para Paris, tornando-se um vanguardista e amigo do célebre Marcel Duchamp – os semelhantes se agrupam. A partir de 1936, Magritte torna-se conhecido em Nova York, expondo no MoMA em 1965 e postumamente no Met em 1992. O surrealista veio a falecer de Câncer. Magritte teve ampla citação e homenagem no filme Thomas Crown, com Pierce Brosnan, e também em um clipe monumental de Michael Jackson. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Golconda. Uma chuva de cavalheiros, como uma agressiva chuva de granizo, trazendo transtorno aos agricultores, no modo como o Ser Humano é suscetível às intempéries da Natureza – são as vicissitudes materiais, um mundo imperfeito, muito abaixo de um mundo mais nobre, num mundo material em que o Ser Humano, infelizmente, trata de ser o mais cruel e duro possível, num mundo duro principalmente para um artista, para uma pessoa sensível. O cenário aqui é uma vizinhança apolínea, perfeita, com prédio de aparência imaculada, perfeitamente pintados e mantidos pelo zelo da pessoa que quer fazer com que este mundo se apreça ao máximo com a dimensão acima. Estes senhores estão indo trabalhar, talvez se espremendo dentro de um trem ou um ônibus, nas demandas do dia a dia, do labor, das obrigações diárias que trazem a rotina de sempre, num exercício de disciplina, no modo como, por mais sensibilidade uma pessoa possa ter, é necessário que haja disciplina na hora de sentar e produzir, nas duas faces de um mesmo trabalho – liso e áspero. Os telhados aqui são rubros como fogo, talvez sangrando, nos modos humanos de estabelecer os de “sangue azul”, fazendo nada mais do que separar as pessoas em castas, fazendo da pirâmide social uma ilusão, pois todos somos de sangue estelar, acima do sangue azul, e somos todos príncipes herdeiros do mesmo Rei, que é Tao, o grande regente de todas as dimensões do Universo, num Ser Humano ainda tão pequenino, ainda tão jovem apara entender o Cosmos ao seu redor. Estes senhores levitam como Mary Poppins, no livre arbítrio do espírito para levitar e voar na dimensão acima, desafiando as regras da Física, regras estas presas ao fato de estarmos presos na dimensão da matéria, da carne. Aqui, temos uma diversidade mas, ao mesmo tempo, todos os senhores são iguais, idênticos, e pode se tratar do mesmo homem, só que em momentos diferentes. O artista odeia ser apenas mais um, odeia ser medíocre, partindo em busca de sua identidade, de sua marca registrada, como nos círculos e bolas de Yayoi Kusama, numa identidade que faz com que as pessoas possam reconhecer e dar o devido valor à originalidade de um determinado artista. Mas, apesar disso, a reinvenção é necessária, pois a pessoa não pode ficar a vida inteira fazendo a mesma coisa, pois, se o fizer, parará no tempo e virará uma peça empoeirada de museu, um fóssil, algo morto que, um dia, teve glória mas que, hoje, não mais causa efeitos ou comoções. É o desafio de tocar a Vida para frente. Estes senhores estão de preto, a cor da discrição e da seriedade, do luto, do respeito. Todos estão devidamente usando um chapéu, pois o chapéu é a proteção, o resguardo, a preservação, no modo como uma pessoa tem que ter siso e juízo para se proteger de situações tóxicas ou de pessoas tóxicas, no inevitável modo como os sociopatas estão entre nós... Portanto, cuide-se, mas sem paranoias. O céu aqui está limpo, de Brigadeiro, na limpeza de percepções, como o espectador se sente de banho tomado ao apreciar algo que um bom artista fez, pois a indiferença do espectador é a maior dor que um artista pode sentir: “Por favor, lembrem-se de mim”, implora o artista. Todas as janelas aqui estão de cortinas fechadas, na separação entre público e privado, num ato de recato, de cuidado, de preservação. É o mistério que ronda a Vida, com verdades nem sempre escancaradas. Estes senhores estão discretos, como se soubessem que o showman, o exibido, nunca obtém respeito. E não é o respeito o cimento sobre o qual a Sociedade se sustenta?


Acima, Os Amantes. Aqui, há uma proibição, um percalço social entre duas pessoas, num amor impossível, talvez num Magritte catarseando o sentimento de despertencimento social, num amor que contraria regras e conveniências, talvez com dois amantes que levam vida dupla, debatendo-se entre Amor e Dever. Talvez esses dois amantes estejam já casados com outrem, mas num casamento frio, de conveniência social, como nos casamentos arranjados, como acordos entre duas famílias aliadas, numa vida social cruel, que pouco se importa se o indivíduo está feliz, como na popular Diana, a qual, ao se deparar com um casamento frio e infeliz, decidiu mandar tudo para lá, abraçando a felicidade e ganhando o carinho e a identificação do Povo, num caminho de transgressão, por ninguém merece ter um cônjuge frio, que pouco se importa com a felicidade e o bem estar do outro cônjuge. Aqui, os sacos são uma proibição, talvez fazendo metáfora com preservativos, camisinhas, talvez num amor nunca consumado, como na avassaladora paixão entre Ellen e Newland em A Época da Inocência. Aqui, é como chupar bala com a embalagem, num amor que nunca se realiza de fato. Os amantes aqui estão cegos, e não conseguem ver ao outro, e o beijo é somente uma fantasia, algo que não tem como se realizar, no modo como uma pessoa estrutura a própria vida ao ponto de simplesmente não poder visualizar algo dentro desta cilada autoestruturada, ou seja, somos reféns de nossos próprios medos. Esses dois amantes têm medo de se envolver, e é algo que fica só na fantasia, na imaginação, e nunca um relacionamento de fato. Podemos ouvir a respiração ofegante dos amantes, num fervoroso desejo de se envolver, e eles têm um romance que não se adéqua aos limites sociais, como no romance proibido de Anna Karenina, uma mulher que sofreu todas as punições por ter desafiado regras sociais, tornando-se malvista, como uma Maria Madalena, ou uma Eva no Éden, tornando-se maldita, malfalada, sem ter como saber como é o sabor do Respeito. Este é um quadro sombrio, no qual pouco podemos observar, e o céu noturno ao fundo é bem fechado, muito distante num dia claro de Brigadeiro, muito distante de um contexto onde tudo está elucidado e esclarecido, num romance sem pé nem cabeça, numa ilusão que pouco tem como se adequar às demandas do dia a dia – é uma ilusão, uma falácia, uma mentira. Os amantes aqui estão ensacados e não podem ver um ao outro, ao contrário de um casamento socialmente aprovado, no qual os cônjuges se adaptam perfeitamente à vida social um do outro, formando um casal, a entidade dupla que tem peso ritualístico, fazendo do homem o representante dos homens e fazendo da mulher a representante das mulheres, no fato de que, depois do Desencarne, os casamentos não são mais necessários, e os cônjuges, desencarnados, tornam-se puramente amigos, mas só se souberam se respeitar reciprocamente durante a Encarnação – no fim das contas, tudo se reduz a Amizade, ou seja, Amor Fraternal. E talvez não haja Amor Fraternal entre esses dois amantes, pois eles não conseguem vislumbrar a vida um do outro, não podendo, assim, entrar em harmonia com a vida do seu amante. É a dança entre Razão e Sensibilidade, entre Yang e Yin, e ambos precisam estar em harmonia para que a pessoa tenha Paz em seus dias na Terra. Este amor de Magritte é um amor que nunca se realizará. Podemos ouvir a respiração ofegante dos enamorados, mas é algo além de ser concretizado, pois talvez esses dois amantes tenham muito medo de entrar em conflito com o corpo social ao seu redor; medo de se tornar maldito; medo de ser excluído. Aqui, é um ambiente fechado e claustrofóbico, num romance que, ao invés de libertar, aprisiona. Então, o siso entra em cena com toda sua dureza habitual, fazendo com que a pessoa faça um esforço enorme para conciliar o Liso com o Áspero, num caminho do meio, equilibradinho – não é impossível ser feliz.


Acima, O Espelho Falso. Uma pessoa sonhadora. A íris aqui é como o Céu, numa mente produtiva, sempre inventando, num artista em busca de meios para se expressar da forma mais forte, grandiosa e arrebatadora possível. Este olho arregalado é um momento de revelação, com algo sendo claramente descortinado, revelado, solucionado. É um olho sem cílios, sem os pelos que nos fazem primatas, como se fosse uma raça alienígena, de outra proveniência, de outra raça, algo que nada tem a ver com o Homo sapiens. Este olho não pisca, não tem interrupções, como num programa de TV sem intervalos comerciais, como um espírito desencarnado, que não sente fadiga nem necessidade de se deitar para descansar, da glória de juventude eterna, o grande presente que nos espera incondicionalmente, certamente, fazendo da Fé um espectro fora do alcance da Ciência – temos Fé, mas não certeza, no grande desafio que é ter Fé. Este quadro olha nos olhos do espectador, num momento de identificação, de compaixão, com um ser humano se colocando nos sapatos de outro ser humano, fazendo do compadecimento a estrada que leva ao Amor Incondicional, o combustível que move toda a Dimensão Metafísica, ao contrário da Terra, onde tudo gira em torno de arrogante dinheiro... Como é tosco o Ser Humano! Esta pupila é o mais próximo que podemos entrar em alguém, fazendo com que muitas pessoas tenham medo de contato visual, achando este uma invasão, uma indecência, um desconforto. Este pupila é o olho do furacão, pois quando tudo ao redor está no mais perfeito caos, a pessoa tem o controle emocional para se sentir estável e tranquila. A pupila é um portal, um túnel, e nunca ouvimos dizer que os olhos são o espelho d’alma? É como dois grandes amigos, amigos de verdade, que estão há décadas sem trocar palavra, e quando se encontram por acaso na Rua, olham nos olhos um do outro, com a sensação de que foi ontem ou anteontem a última vez em que se falaram, ao contrário dos amigos fúteis, com os quais estamos há décadas sem falar, e quando nos encontramos, parece que fazem décadas, como dois estranhos olhando no olho um do outro, não podendo ali reconhecer um amigão de fato. A pupila é um portal interdimensional, na teoria dos Buracos de Minhocas, portais que cortam o tecido de Tempo e Espaço, abreviando distâncias e fazendo da Luz uma velocidade lenta como uma minhoca. O entorno deste olho, as pálpebras, parece ser feito de argila, na atividade do artesão, sempre produzindo coisas novas, na satisfação de uma vida produtiva, como Tao, sempre criando, no poder terapêutico do labor, como a idosa Rose em Titanic, rechaçando as riquezas mundanas e abraçando uma vida simples, estável e maravilhosa. Este céu, nesta íris, está estável, de bom humor, com estabilidade invejável, na dádiva que é uma pessoa calma, que não se desespera, que não perde o controle. Podemos ouvir o canto de pássaros neste belo dia de Sol, na dádiva que é um fim de semana de tempo estável. Podemos sentir a leve brisa que carrega as nuvens lentamente, enchendo nossos pulmões de ar, simplesmente ar, na alegria de momentos em que tudo de que precisamos é de nosso coração batendo, no modo como a Vida é preciosa e inigualável, num momento de harmonia entre Físico de Metafísico, neste portal que interliga as duas dimensões, fazendo de tudo a grande obra de Tao, o Oscar Niemeyer de todo o Universo. Este quadro é um portal que nos convida a entrar na mente do artista, como entrar na casa de outra pessoa, como na interessante visita guiada à casa de Jorge Amado, em Salvador, entrando na casa de outrem e sentindo o hálito do lar alheio, o cheiro do vizinho, como um cão na Rua farejando o xixi dos outros cães. É um olho belo, portal de uma alma bela, num impecável azul anil. É como uma perfumada cama de hotel, com lençóis limpinhos, no prazer de se deitar numa cama limpa e perfumada. É um olho sensível e contemplador, muito puro e inocente, na inocência de um artista que quer simplesmente fazer com que as pessoas vejam as coisas do modo como o próprio artista vê, num convite, numa sedução, como se “render” a um professor e permitir que este dê lições preciosas.


Acima, O Filho do Homem. Certamente, esta é a obra mais célebre de toda a carreira de Magritte, fazendo com que o quadro desse uma inconfundível identidade ao autor. A maçã é verde porque é imatura, e ainda é azeda, num espírito jovial, que não se sente velho ou ultrapassado, na dádiva que é uma alma jovial, que não perde a irreverência, o precioso senso de humor. A maçã tapa o rosto do homem, como se quisesse tomar conta do quadro e ser a grande estrela, nas ambições humanas em obter dinheiro e influência, nada a ver com o líder sábio, o homem ultrapolido que nunca se coloca contra o próprio povo. A maçã busca ter identidade, para quem sabe um dia, quando estiver vermelha e madura, possa saber como viver e como se expressar. É a maçã do Éden, na transgressão de Eva ao colher um fruto proibido, fazendo da serpente os inocentes pecadinhos como a Gula, no modo como há fabulosas confeitarias na Dimensão Metafísica, segundo o Espiritismo. O casacão do homem é elegante, sem qualquer amasso, e representa a elegância de um senhor que respeita outrem, fazendo pequenas e valiosas gentilezas como segurar a porta para um idoso passar. A gravata vermelha remete a Trump, o truculento que comprou briga com a CNN e com meio Mundo, num líder um tanto longe de Tao, pois este se revela um grande líder, pois Tao não tem as vaidades do Ego humano. As mãos do homem estão calmas, recatadas e discretas, e não são rudes ou calejadas, mas mãos de um homem que exerce trabalho de labor mental, como criar Arte ou experimentar Ciência. A camisa branca faz contraste com a gravata sangrenta, e traz um pouco de respiro e Paz, no modo como muitos espíritas julgam que uma roupa branca é uma bela imagem, uma bela tonalidade, entrando em harmonia com a Medicina, nos jalecos brancos dos médicos – o Ser Humano é universal. Dois botões aqui estão abotoados; o terceiro não. É o botão rebelde e desajustado, na porçãozinha transgressora que qualquer artista tem, fazendo uso do falo agressor, erguendo um imponente obelisco, na altivez de uma diva como Barbra Streisand, uma mulher falo, imponente, quase intimidadora. Ao fundo, um plácido e doce oceano, num mar perfumado e calmo, algo difícil de se ter na Dimensão Material, fazendo com que as praias paradisíacas da Terra sejam uma mera fotocópia de algo melhor e mais perfeito. É a vastidão oceânica, que sempre desafiou tanto os navegadores da Renascença, com lendas de horríveis monstros oceânicos que engoliam barcos e tripulações, na imaginação humana frente ao desconhecido. Acima do mar plácido, um céu dúbio e cinzento, prestes a cair em tormenta, ameaçando com suas trovoadas e perigosos raios elétricos, no martelo de Thor, na tendência humana em deificar a Natureza. O céu cinzento é o sentimento dúbio entre dor e prazer, como uma bela rosa com espinhos, num sabor total de agridoce. Uma forte mureta separa o homem do fundo do quadro. A mureta é o discernimento de que o Ser Humano não pode tudo, pois o que Tao faz, o Homem só faz uma rude fotocópia. A mureta é a consolidação, a força de uma fortaleza, com tijolos pacientemente sendo construídos, num homem se fazendo na Vida, construindo uma carreira, um legado, com o prazeroso sentimento digno de fazer algo em prol do Coletivo, da Sociedade. Este homem está muito sério, e é difícil o imaginar sorrindo, numa sisudez, nos pepinos que vão surgindo durante um ordinário dia de trabalho. O chapéu coco é elegante e protetor. O chapéu é o resguardo, a força acolhedora do Lar, o espaço em que temos muita Paz, ouvindo na Rua o reconfortante canto de bem te vi, em ruas plácidas, absolutamente desprovidas de violência ou feiura, no modo como é frágil e Paz da Dimensão Material. Podemos ouvir aqui o som do Mar em suas doces ondinhas requebrando, no odor libertador que é a brisa da beiramar, no sentimento de libertação, como um prisioneiro que conta os dias para ser solto, tendo que fazer algo de seus dias na Terra – e algo produtivo.


Acima, O Terapeuta. A bengala é o sustentáculo, o apoio, a estrutura mantenedora. É o falo da Lei, assustando aquele que estiver pensando em cometer algum crime ou infração. É a simplificação do pensamento racional, abreviando meandros e indo direto ao ponto, como um preciso diagnóstico médico, apontando a patologia e indicando tratamento e medicação – é o dever da Ciência, o ambiente universal de pensamento lógico. A gaiola aberta é a Liberdade, com os pássaros não mais mantidos em cativeiro, tendo o livre arbítrio de entrar ou sair, como é a libertação do Desencarne, no momento em que a pessoa cumpre a sua missão na Terra – hora de voltar para casa, como na vida da política gaúcha Nega Diaba, que foi prostituta e presidiária, superou as vicissitudes, deu a volta por cima e morreu com dignidade. Esta gaiola não é mais uma prisão, mas um lar onde todos convivem em Paz e Harmonia, e podemos ouvir o doce canto dessas aves, cantando alegremente pelas ruas pacíficas da Divina Dimensão. São os pombos do Espírito Santo, trazendo alento aos que vivem na Terra, prometendo uma vida (muito) melhor – não poderemos resolver os problemas do Mundo, mas poderemos ser a promessa de outro dia. Aqui, o Céu é de Brigadeiro e o Mar é doce e plácido, num Magritte desejoso de Paz, para poder produzir em Paz em seu estúdio, na tranquilidade diária do labor, em momentos produtivos em que a pessoa esquece do Mundo lá fora. Este homem não tem face, e não sabemos se é um homem ou uma gaiola, num apelo surrealista, mesclando elementos, na missão do artista plástico em combinar elementos diferentes e produzir algo novo. O manto é da cor do vinho, do sangue de Jesus bebido na Última Ceia, no fascínio que a bebida exerce há séculos, na sensação de relaxamento e embriaguez, fazendo metáfora com a deliciosa sensação de Paz e Liberdade do Mundo Acima, no modo como o vinho é apenas uma (deliciosa) cópia... O ar circula tranquilamente por esta cena, alimentando os seres vivos, provendo como Tao provê, alimentando com Ar, Água, Terra e Fogo. A impressão que temos é de que, aqui, trata-se de um senhor idoso aposentado, tranquilamente sentado num banco de praça, proseando com outros senhores, na identificação que existe em um grupo de amizade onde os membros têm mais ou menos a mesma idade. Na outra mão deste senhor, um saco marrom escuro, num mistério: O que a Vida nos trará nas próximas esquinas? Pouco se sabe. O saco tem um rasgo que está costurado, como se tivesse sofrido uma facada, como na facada de Bolsonaro, num momento público de agressão e dor intensa. São as cicatrizes da Vida, ensinando-nos que os percalços são não só inevitáveis como também necessários, no modo como uma pessoa não pode ficar no “mimimi” nem ficar reclamando da Vida. Este saco é a reserva, como na fábula da Formiga e da Cigarra, com a Formiga trabalhando o Verão inteiro para ter suas reservas no Inverno, na lição de Responsabilidade e Realismo – temos que pensar no futuro e em uma aposentadoria. Esta cena é praiana, pois o chão é arenoso, no hálito primordial oceânico, na Mãe Iemanjá que trouxe Vida à Terra, nas pérolas submersas dos mistérios aquosos, na sensação deliciosa e gloriosa de liquidiscência, num momento em que um filho se entrega nos braços de Tao, o Pai caridoso e clemente. Podemos ouvir o som do Mar, e a brisa desta beiramar é doce e suave           , dando o prazer de libertação a esses pombos, no modo como são grandiosas as nações que propõem Liberdade aos seus cidadãos, pois Liberdade dá prazer, e tudo o que é agradável é do Bem. Este senhor surrealista usa um chapéu, talvez para proteger do Sol inclemente. O chapéu é o telhado da casa, do invólucro, da estrutura, no gesto de respeito ao se tirar o chapéu para outra pessoa, no próprio termo “tirar o chapéu”, denotando reverência, no modo como uma pessoa que não é respeitada é uma pessoa que tem uma certa lacuna existencial, na desafiadora missão de se obter respeito. Este senhor está esperando por esta libertação, por este recreio, por este retorno. Cedo ou tarde, a porta da gaiola se abrirá.

Referências bibliográficas:

René Magritte. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 12 jun. 2019.
René Magritte Obras. Disponível em <www.google.com>. Acesso 12 jun. 2019.

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