Seu nome é sinônimo de
Vanguarda. Marcel Duchamp (1887 – 1968) foi um pintor e poeta francês, mas foi
como escultor que definitivamente se destacou. Morando nos EUA a partir de
1955, foi precursor da Arte Conceitual e do Dadaismo, destruindo os velhos moldes
acadêmicos, tendo sido um tanto incompreendido de início pelo Mundo. Boêmio,
Duchamp usava em seu trabalho objetos da vida cotidiana. Os textos e análises
semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Chocolate Grinder (No. 1). Uma antena virada para todos os cantos
do Universo, na ânsia humana em explorar e conhecer, pois esta pequenina esfera
azul não pode ser o único recanto de Vida no Universo. Aqui é como um tronco de
árvore cortado em várias fatias, na intervenção humana em pegar algo e produzir
algo novo, na tarefa artística que é pegar objetos primeiramente dissociados e
associá-los, algo muito bem compreendido por Duchamp. As toras são como um
organismo sendo desconstruído e analisado, como na Medicina, em que há
especialistas para várias partes do corpo, como um médico do coração, outro do
estômago, outro da psique etc. É o trabalho humano de pegar um mundo caótico e
impor alguma ordem, pegando caóticos troncos de árvore e transformando em
móveis, no modo como a Dimensão Material proporciona esse desafio, o desafio de
encontrar Ordem no Caos, como um capim alto que é cortado por uma máquina, num
trabalho incessante, como o trabalho de limpeza, como limpar um apartamento –
daqui uma ou duas semanas, está na hora de limpar novamente, como no incessante
trabalho policial para detectar e desmantelar quadrilhas produtoras e
vendedoras de drogas, no trabalho incessante do artesão, que pega a argila para
transformar em vaso, pegando depois a mesma argila e transformá-la em outro
vaso, no eterno retorno à estaca zero, partindo novamente do nada e fazendo
coisas novas, nas demandas sociais, num mundo sempre ávido por novidades, num
campo de trabalho inesgotável. Essas “fatias de pão” são como antenas difusoras
de rádio, apontando para todas as direções, querendo atingir o máximo possível
de ouvintes, no modo como o artista quer atingir o máximo possível de
espectadores, na ambição de se tornar muito célebre e famoso, havendo no
artista obscuro uma pontinha de inveja em relação ao artista célebre, pois é
claro que nenhum artista quer passar despercebido ou ser ignorado, fazendo com
que o artista lance mão de uma certa agressividade para chamar a atenção. A
mesinha é o suporte, a base, a referência, no modo como é importante a família
na vida da pessoa, pois se trata de nossas raízes, nosso Norte no Mundo, no
modo como, segundo o Espiritismo, os vínculos de família não se dissolvem com o
Desencarne, ou seja, a família é algo importante. Aqui, é como um carrossel
sempre girando, na dança cíclica da Natureza, como galáxias girando como discos
de vinil, no imenso poder de Tao em fazer algo tão vasto como o Cosmos. Aqui,
são como pipas de vinho, armazenando o precioso líquido, líquido obtido com
tanto labor, esforço e dedicação. A mesa aqui é a sustentação da Dignidade, da
Decência, dum artista que sabe que tem que, antes de mais nada, respeitar a si
mesmo, evitando a raiva perante um Mundo tão duro em relação a almas sensíveis.
Aqui, temos uma luz unidirecional, como um Sol brilhando para todos os lados,
no talento distributivo de Tao, o distribuidor, o generoso. A luz aqui não é
difusa, mas dura, como na luz fria de uma sala de cirurgia, numa intenção
científica em deixar tudo o mais claro possível, numa Ciência que ainda não
explicou a imortalidade da consciência, ou seja, o fato de que a Vida não
cessa. Aqui, é como um aparelho de laboratório processando sangue para ser
analisado. É nesta ciranda em que o artista se vê nascendo, vivendo e morrendo,
nos inevitáveis ciclos da Vida Material. São como bobs de cabelo, na tentativa
estética de arrumar um cabelo, rechaçando o caos e disciplinando os fios em um
penteado coerente e harmonioso. A Vida é uma cabeleira a ser arrumada, numa
pessoa que tem autoestima, saindo arrumada na Rua, havendo no indigente uma
alma malguiada, que esqueceu há muito o que é gostar de si mesmo.
Acima, Fonte. Este urinol causou muito impacto, e é certamente a obraprima
de Duchamp. O artista colocou os dedos do Mundo na tomada elétrica. “Mutt” é o
nome do fabricante da peça. Podemos ouvir o barulhinho de água correndo pelos
orifícios, num símbolo de purificação, de renovação, no modo como a Dimensão
Metafísica é plena em frescor e novidade, e o papel do artista é trazer ao
Mundo tal frescor, tal novidade, tal saudável transgressão, pois não é
insuportável um artista que simplesmente fica bitolado e repetitivo? A Arte
exige coragem do artista, muita coragem, para assim enfrentar um Mundo tão duro
e insensível, tão cruel, um Mundo que tacha o artista de “vagabundo”, “louco”
ou até “doente”. O urinol representa a Vida em Sociedade, com seus sistemas de
encanamento e eletricidade, provendo demandas urbanas gigantescas, em cidades
que não param de se desenvolver, e cada vez mais precisamos de mais, num Mundo
em que há um crescente mercado por Arte, fazendo desta um sinônimo de Dinheiro,
numa contradição, pois apesar do artista rechaçar o materialismo e o
mundanismo, este mesmo artista quer ser reconhecido e valorizado, na relação
difícil entre Razão e Sensibilidade, entre material e espiritual. O urinol
limpa a si mesmo, num Mundo pragmático, em que ideias fáceis e práticas tratam
de conduzir a Vida em um
Mundo repleto de vicissitudes. Aqui, temos a guerra entre
Caos e Ordem, pois há um duplo sentimento – podemos sentir o cheiro da urina,
do dejeto fisiológico, e podemos também sentir o cheiro da naftalina ou do
cloro, para assim aniquilar os resquícios orgânicos e fazer com que o Mundo
Material se pareça ao máximo com um Mundo melhor, com o prometido Reino dos
Céus. Hábitos de Higiene são parâmetros universais civilizatórios, pois se
estamos num mundo imaterial, é claro que tudo é absolutamente limpo,
esterilizado, perfumado, puro, imaculado. O cheiro da urina remete ao Mar, à
Grande Mãe Primordial da Terra, no revigorante hálito marinho, com o ar
puríssimo invadindo a Terra e trazendo renovação aos pulmões. Os furinhos no
urinol são como braile, na vicissitude se estar privado do sentido da Visão, no
modo como qualquer um de nós é privado de algo, deparando-nos com uma falha e
um esforço para contornar tal falha, pois a Vida sem vicissitudes não tem
sentido – se é para eu não enfrentar percalços, então é melhor que eu nem
encarne, pois do obstáculo nasce o crescimento, e crescer é o sentido da Vida.
Este urinol está limpinho e brilhando, na tarefa que a Arte tem em fazer
faxinas em nossas mentes, purificando nossas percepções e sensibilizando-nos a
observar o Mundo de uma forma mais humana e sensível. Os encanamentos são como
veias, como seiva em galhos de árvore, no modo como o Ser Humano, de forma
inevitável, imita Tao, o grande arquiteto. O Mundo Urbano tenta imitar um
biossistema, num contexto em que cada um é um agente; cada um tem uma
finalidade, função e dignidade, na metáfora de Matrix: Os programas que não têm função, são deletados. E esse é o
grande desafio na vida do artista – ser levado a sério, como uma Meryl Streep,
uma pessoa respeitada e reconhecida. Este urinol está alienado de suas origens,
de suas raízes. Ele foi desmembrado do sistema hidráulico, e está aqui como um
coração prestes a ser transplantado, ou como um pé de algum vegetal, pronto
para ser plantado, havendo no transplante uma metáfora para o Amor Fraternal:
mesmo tendo eu morrido, uma parte de mim continua a viver, trazendo vida ao meu
irmão. O urinol está exposto como um exótico animal num zoo, condenado a uma
vida de cativeiro, a uma prisão, no modo como um artista pode se sentir, às
vezes, como um bicho enjaulado, apresentado ao Mundo como um bicho exótico, na
falta de respeito para com a sensibilidade artística. Na cor branca da pureza,
o urinol é limpo, como alguém saído recém de um banho, no banho perceptivo que
a Arte dá em nós, no poder renovador e fortalecedor das catarses, os vômitos
que trazem Saúde ao Mundo. Apesar de ser um produto feito em série industrial,
este urinol é único, graças a uma mente visionária e desafiadora, que é
Duchamp.
Acima, Roda de Bicicleta. Aqui, Marcel leva a cabo a definição básica do
que é ser artista plástico: associar elementos originalmente dissociados e, assim,
criar algo novo. Aqui, temos uma ideia bem simples – pegar um banquinho e
anexar a uma roda de bicicleta. O banco é o amparo, o suporte, e remete-me ao
anúncio em revista de uma designer decoradora portoalegrense, pois esta estava
sentada em um banquinho, simbolizando a depuração, a elegância, a limpeza, a
superioridade em qualidade, como na metáfora do salto alto, o queridinho da
mulherada, pois o salto é esta diferenciação, esta elevação, numa mulher que
encontrou um homem que a ergueu a um patamar elevado, numa espécie de escalada
social, numa ascensão, como um produto sendo muito bem vendido, numa campanha
publicitária de sucesso. O salto alto é uma elevação a uma dimensão melhor, em
que a mulher sobe ao status de rainha, de grande dama. O banquinho aqui é a Simplicidade,
como num cantor de Bossa Nova, e um singelo banquinho no palco, na Simplicidade
deste gênero musical, na sua sutileza, no seu minimalismo, na sua discrição
sussurrante, na prova de que menos é mais, e Tao é essa prazerosa voz sussurrante,
calma, relaxante, como numa boa piscina térmica. Tao é esse líquido amniótico,
esse lar seguro e gostoso, pois não é infeliz a pessoa que não encontra prazer
na Vida? O banquinho é o ritual de sentar à mesa, no momento de comunhão em que
membros de uma mesma família se sentam à mesa, numa casa farta, onde não faltam
alimentos para os filhos. O banquinho é a depuração espiritual, como quando
subimos nele para alcançar algo que está lá em cima, distante. O banquinho pode
servir como mesa. O banquinho é feliz em sua dignidade servente, na felicidade
de uma pessoa que se vê útil ao Mundo, no descomunal desafio ao artista, para
que este se sinta útil e imprescindível. O que faz um artista ter sucesso e
outro não ter? Agressividade? Simplicidade? É Tao. É um mistério, e um desafio.
O banquinho nos mostra que podemos subir, só que temos que usar nossas próprias
perninhas, nunca esperando subir pelas pernas de outrem – cada um tem que
aprender Tao por si mesmo, pois nem o Livro do Taoismo sabe o que é Tao! A roda
é a roda gigante, num prazeroso parque de diversões, num momento de diversão,
de entretenimento. A rosa gira como a roda do tempo, como os planetas em torno
de um astro, como os astros em torno do centro galáxico. A roda marca o tempo
de forma cíclica, no modo como tudo gira em torno de nascer, viver, morrer e
renascer, na eterna renovação de Tao, o frescor irresistível. Esta roda está
impiedosamente anexada ao banco, num artista com vontade de vencer, nos
milagres que uma pitada de Agressividade pode fazer. Aqui, é como um impetuoso
falo enterrado em uma cavidade, em uma caverna, iluminando esta, promovendo
esta, fazendo esta ascender a um patamar melhor. A roda é como um catavento
girando ao vento, como num parque eólico, numa fonte de energia renovável, como
os moinhos de Don Quixote, nos ciclos das estações, nas épocas do ano, com suas
frutas e flores características, na generosidade da Mãe Terra, sempre trazendo
alimento abundante à Fauna e à Flora. O banquinho aqui tem a função de
sustentar a roda, pois esta não se sustenta por si só. É uma associação, um
casamento, um trato, uma união, pois do modo como o banquinho ergue a roda, a
roda agradece ao banquinho, numa junção de forças, como na pragmática
personagem Pierina, do escritor Pozenato, diz ao novo marido: “Nós dois juntos
vamos longe”. A roda é um engenho, uma força processadora, no termo “fazer
girar a roda da Economia”, numa sociedade dinâmica, numa cidade moderna e
vibrante, cheia de Vida Cultural. Aqui, temos um quadro de estabilidade e harmonia,
equilíbrio, e nem o mais poderoso dos vendavais poderá fazer a peça tombar.
Enquanto o banquinho tem a missão de sustentar, a roda tem a missão de girar e,
assim, compor um clube no qual cada sócio tem um papel decisivo, numa união de
forças.
Acima, Para ser visto (do outro lado do vidro) com um olho, próximo, por quase
uma hora. O vidro quebrado é a transgressão, a agressão, num ímpeto de
ultrapassar limites e chegar aonde ninguém nunca chegou, no modo como Duchamp
foi essa força transgressora, rebelde, como no rock, um estilo musical que,
quando surgiu, causou frisson e frescor de novidade, na atitude jovial roqueira
de ignorar parâmetros rançosos e ultrapassados, como no Modernismo Brasileiro,
que rechaçou a tradicional Arte Acadêmica. O vidro é como um acidente de carro,
violento, impactante, poderoso. É uma criança travessa jogando bola, dando um
chute e destruindo uma janela. É a feiura que se olha no espelho, rachando
este. É o espelho destruído, abrindo mão da vaidade, como uma pessoa usando óculos
ou bengala, deixando a vaidade de lado e abraçando uma vida mais realista e
pragmática, evitando afetações frívolas. O vidro quebrado é um marco, como uma
bomba atômica, afetando tudo e todos, trazendo tudo consigo como num tsunami.
No topo do quadro vemos uma apolínea pirâmide, num sonho de arquiteto. A
pirâmide é a razão, a ética, a exatidão matemática, o pensamento nobre, a
retidão, como retilíneos raios de Sol que caem no Céu, abençoando os filhos de
Tao, o pai que quer que evoluamos moralmente, a mãe que quer ter orgulho de
nós. A pirâmide é a ascensão, como uma escada, num caminho de depuração, com
suas linhas racionais, num artista que raciocina e encontra seus meios de
inteligência para levar a cabo o que é Arte, e o poder desta de tocar as percepções
das pessoas espectadoras. O vidro é um espelho sendo quebrado, dando sete anos
de azar. Os trincos vítreos são sequelas, traumas, com cicatrizes que jamais
sararão totalmente enquanto a pessoa estiver encarnada, num grande trauma o
qual a pessoa leva ao túmulo, nunca conseguindo dar totalmente a volta por cima,
no modo como a pessoa tem que pegar esta sacola e ter a força para carregá-la
até o fim do trajeto, num carma, num fardo, numa carga, sentindo o peso das
forças gravitacionais físicas, num mundo material no qual é um grande desafio
ter a fé para crer em uma dimensão superior. Este quadro tem formas
geométricas, matemáticas, na fria beleza dos números, na beleza do pensamento
racional, numa matéria que tantos de nós odiavam na escola. É a beleza da
retidão, da construção técnica do espírito. Vemos algumas esferas, como
planetas em danças gravitacionais. Uma esfera emite ondas, mensagens, sinais,
como uma gota d’água caindo em uma plácida superfície d’água, numa obra de Arte
exercendo seu fascínio, na capacidade de um artista em afetar o Mundo, tocando
nos nervos deste, na missão renovadora do artista, no desafio de se tornar uma
estrela, brilhando como um diamante. Vemos no quadro uma espécie de gangorra,
nos altos e baixos da Vida, numa dança cíclica desestabilizadora, incerta, numa
Vida da qual pouco podemos prever, e é neste mistério que está tal riqueza,
pois se soubéssemos tudo o que nos acontecerá, será que assim nos aconteceria?
Há uma razão forte para tal mistério. Estes círculos, estes mundos, estas
esferas estão ligadas por linhas retas, na questão de haver objetividade, indo
direto ao ponto, direto ao que interessa, abreviando frivolidades e atendo-se
ao que é importante. A vara da gangorra parece uma régua, no termo inglês
“ruler”, que também pode ser traduzido por “legislador”, como no fálico Código
de Hamurabi, amedrontando o cidadão, ameaçando este, prevenindo o cidadão e
dizendo a este que o melhor é se comportar. É um rígido professor, batendo nos
alunos com uma régua, impondo violentamente a hierarquia, numa cópia grotesca
da hierarquia espiritual, a qual é doce, suave e irresistível, num espírito
superior que inspira um inferior a fazer o Bem. Neste quadro há um sistema
complexo, como num fliperama, com várias partes, como num aparelho digestivo,
com vários órgãos, como numa linha de montagem industrial, num processo feito
de várias etapas. Onde está o artista nisso tudo?
Acima, Why Not Sneeze, Rose Sélavy? Essa obra me remete a um camundongo
ramster de estimação que eu tinha. Aqui, temos uma jaula, uma prisão, talvez
num Duchamp catarseando um sentimento de limitação, de cárcere, de penitência,
de purgação. Os cubinhos dentro parecem ser de açúcar, e vemos aqui a amargura
contendo a doçura, num impedimento, como alguém que se recusa a ter prazer,
qualquer prazer, como nos bons pecadinhos da gula, da luxúria, da preguiça etc.
Aqui, o predomínio é da cor branca, como alguém clamando por Paz e Harmonia, em
um mundo tão aguerrido, tão cheio de atritos e desconfortos, num Ser Humano
dotado de um ancestral talento para a Guerra, para a discórdia entre povos,
entre vizinhos, entre irmãos. Esses cubinhos são como doces marshmallows, na
doçura da Infância, com memórias afetivas muito fortes, em uma época da Vida em
que as coisas eram mais simples, mais sinceras e mais autênticas. Podemos ouvir
aqui o canto de um pássaro aprisionado. As grades aqui são o corpo carnal, a
prisão em torno do espírito, como num louco sendo atado por uma camisa de
força, limitado antes que faça mal a si mesmo ou a outrem, no modo como estar
encarnado é, de certo modo, vestir tal camisa – desculpe pelo meu pessimismo. Dentro
da janela vemos alguns poleiros, talvez para abrigar pássaros, no canto triste
do cárcere, numa pessoa com saudades de uma vida da qual mal se lembra. A jaula
é a escravidão, como numa pessoa viciada em alguma droga, seja álcool, seja
crack. A jaula é uma condenação, uma maldição, como numa pessoa malfalada,
amaldiçoada, vítima do antigo e tradicional apego humano às fofocas maliciosas,
fúteis e perniciosas – como o Ser Humano perde tempo! Dentro da jaula, vemos
uma forma que parece ser uma mamão, e na obra toda há a cor parda e a branca,
talvez numa tentativa de se obter harmonia e diálogo, nos esforços diplomáticos
para evitar ao máximo a Guerra, pois quando se perde a conversa civilizada,
perde-se tudo. Nesta gaiola, tenho uma portinhola pequena, fechada, numa
esperança – a de que não ficaremos neste Mundo para sempre, numa espécie de
contagem regressiva, pois quando fazemos aniversário, não é um ano a mais, mas
um ano a menos... É como um presidiário contando os dias para se ir embora, no
modo como todos temos que encontrar algum prazer e algum sentido nesta gaiola
de rasmters, no aspecto do convívio entre os detentos – se eu sou bom com a
mamãe, a mamãe é boa comigo. Aqui, os cubinhos têm uma ambição de construir
grandiosos prédios, mas estes sonhos são castrados pela limitação das barras de
prisão, no sentido de que ninguém pode fazer absolutamente tudo o que quer
fazer, tendo que existir na Vida um tanto de contentamento: como posso estar
feliz na cidade X se estou odiando a cidade X? Como posso ter Paz assim? A
gaiola é como um cãozinho viajando de avião no compartimento de carga viva, num
momento de angústia, em que o bichinho acha que seu próprio dono o esqueceu. É
como na angústia de uma mãe que se perdeu de seu próprio filho pequeno em um
shopping movimentado, numa angústia, fazendo-nos ficar compadecidos com a dor
de outrem, pois amar é isso – colocar-se nos sapatos do outro. Se sou
insensível, mal quero saber como o outro se sente, num egoísmo sem sentido, sem
propósito, num aspecto de loucura que cerca o sociopata egoísta. Esta gaiola,
apesar de ser uma cela, é arejadinha, e faz com que o detento não perca contato
com o ventinho de renovação metafísica, dando ao detento uma pequenina amostra
da Vida que o espera após a luz ser desligada... Esta prisão é doce e
reconfortante, apesar de ser uma prisão, e tal doçura busca trazer algum
contentamento ao detento, pois alegria é encontrar contentamento, no modo como
nenhum de nós está livre de tal cordão umbilical, de tal corda a qual, por um
determinado período, prende-nos a este útero carnal. Aqui, os cubinhos são como
uma casa de acumulador compulsivo, num caos insalubre, havendo no desapego
material o caminho para que a pessoa se sinta rica mesmo não tendo muito
dinheiro.
Referências bibliográficas:
Marcel Duchamp. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 17 jul. 2019.
Marcel Duchamp Obras. Disponível em <www.google.com>.
Acesso 17 jul. 2019.
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