quarta-feira, 3 de julho de 2019

Ray of Light (Raio de Luz)



Man Ray (1890 – 1976), nome artístico para Emanuel Radnitzky, foi um pintor, fotógrafo e cineasta americano. Estudou Arquitetura, Engenharia e Artes Plásticas. Aliou-se ao célebre artista Duchamp, com quem fundou o Dadaismo, um movimento de vanguarda que visava causar o máximo de impacto – reza a lenda que a escolha do nome para o movimento foi absolutamente aleatória, com um dicionário sendo aberto e a palavra dada sendo escolhida ao puro acaso. Man Ray, que também flertou com o Surrealismo, dizia que pintava o que não podia ser fotografado; que fotografava o que já existia. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Como Você Gosta. A esfera é a Terra, na revolução cognitiva que foi a prova científica de que vivemos num planeta redondo, e não numa tábua reta, num Galileu Galilei ponta de faca, que fazia questão de bater de frente com a então poderosíssima Igreja Católica, como vi na peça teatral com Denise Fraga, num Galileu que foi punido com todo o vigor da Ignorância e da Estupidez, na eterna vocação humana para a Crueldade, para a Brutalidade, no modo como a Ciência veio se impondo implacavelmente, unindo o Ser Humano ao redor do planeta, com métodos científicos absolutamente universais, como num tratamento de Câncer, por exemplo. Esta esfera oferece uma ilusão, a ilusão de que há uma sucessão de dias e noites, o que é uma ilusão, pois o Sol jamais para de brilhar, num eterno dia, fazendo da escuridão da noite uma ilusão, na piada de que tudo traz em si sua própria contradição, com Tao, o bem humorado, no modo como a Comédia é algo puramente humano, no talento de encontrar ironia e graça nos aspectos da Vida, mesmo que aspectos aparentemente amargos ou infelizes, pois nunca ouvimos falar de que rir é o melhor remédio? Este quadro de Man Ray remete um pouco ao mestre Escher, com suas obras oníricas e cheias de mistério, e de ironia ilusionista. Aqui, a esfera está enquadrada e contida, nos compartimentos do Senso Comum em dividir os dias em gavetas distintas, uma etapa por vez, na convenção social de acordar e iniciar um novo dia, num novo desafio, na necessidade de se encarar tal Vida. Esta esfera é uma rocha sólida, talvez um planeta ou planetoide, feito de dura rocha, jogado às danças gravitacionais hierárquicas do Universo, com esferas menores girando em torno de esferas maiores, no modo como o Ser Humano está sempre submetido a tal gravidade; submetido ao ritmo da Dimensão Material, numa pessoa que nasce, cresce, envelhece e morre, na clara finitude da Matéria. Esta esfera é como uma lua sendo engolida por um eclipse, no modo como antigas sociedades humanas acreditavam que o eclipse era um dragão engolindo a Lua e a restaurando novamente, num Ser Humano que foi jogado no Mundo, jogado sem “eira nem beira”, tendo que recorrer a deificações para buscar encontrar ordem e significado na Terra e nos Céus, na tentativa de um artista em personificar uma força da Natureza, causando comoções catárticas que fazem metáfora com forças naturais, como os trovões, por exemplo. Apesar deste quadro buscar um equilíbrio simétrico, não é exatamente equilibrado, pois a esfera pétrea não está precisamente no centro da cena, como num ato de rebeldia, como se a esfera estivesse querendo se libertar de tais correntes, de tais opressões preconceituosas, querendo se libertar do quadro, adquirir autonomia e ir para o Mundo, para desbravar um caminho inédito, pessoal e autoral, na luta de um artista em se diferenciar, adquirindo uma identidade própria e marcante, como nos gordinhos de Bottero ou nos traços típicos de Romero Britto, na felicidade das pessoas que se encontram consigo mesmas. Esta bola, de grave densidade, é como uma arma de guerra, como se estivesse sendo carregada numa catapulta, pronta para ferir ou destruir o inimigo, nos horrores bélicos, como no sensível clipe da banda americana Thirty Seconds to Mars, clipe no qual os integrantes da banda estão todos irreconhecíveis com máscaras, e começam a lutar uns contra os outros, tirando depois as respectivas máscaras e vendo o absurdo que estavam fazendo em querer matar uns aos outros. Esta esfera se mantém estável, flutuante, num mundo pacífico, buscando estabelecer a divina Paz Imaterial num mundo tão instável.


Acima, Composição (Marchand de Couleurs). O célebre brinquedo Genius, dos anos 80, que desafiava a memória do jogador, com testes que cresciam em complexidade, vencendo, cedo ou tarde, até o mais brilhante dos jogadores, no modo como a Arte nos testa também; no modo como a função da Arte é nos tocar e estimularmo-nos. Aqui, há metalinguagem, pois é retângulo falando de retângulo, como um filhote no ninho, numa hierarquia, com o grande retângulo abrigando o retângulo menor. É uma obra que nos fala de alguém centrado, feliz por estar se encontrando, centrando a própria vida, e o pequeno círculo bem ao centro do quadro é o Norte, a noção, numa vida sendo organizada ao redor de algo nobre e produtivo, no modo como sofrem aqueles que não têm um norte sólido em sua própria vida. É a revolução da Bússola, guiando destemidos navegadores, na época em que a Europa se jogava com ímpeto para o Novo Mundo, numa competição entre potências para ver quem abocanharia a maior parte de terras americanas. Este pequeno retângulo ao centro é um tanto rebelde, e não está rigorosamente alinhado, mas querendo se mexer e libertar-se. Aqui temos uma pirâmide vista de cima, no clássico modo egípcio antigo de metaforizar a pirâmide social, com o faraó ao topo e os escravos na base, numa construção sólida, assim como deve ser sólida a dança social ao redor de Status e Poder, na eterna fome humana por Poder, num Ser Humano ávido por influenciar outrem, como uma paladina supercelebridade, ditando modas e conceitos ao redor do nosso pequenino globo – o Ser Humano é ainda um bebê. Aqui é como uma fechadura sendo girada, num segredo de senha, num cofre ultraprotegido, no modo como o dinheiro pode se tornar uma prisão, fazendo com que a pessoa rica fique trancada dentro de um cofre, junto ao seu próprio dinheiro, como no brutal crime recente de um pai que trancafiou por vários anos a própria filha, forçando-a a ter filhos com ele, no modo como a sociopatia nos choca profundamente, com espíritos dantescos absolutamente fora de qualquer parâmetro moral. Neste quadro temos uma certa dança cíclica, como nos ciclos das estações, como no sinal da reciclagem, convidando o Ser Humano, pela primeira vez na História deste, a vislumbrar perspectivas ambientais, algo inédito em toda a História da Humanidade. O círculo é o fundo do poço, bem lá no fundo, numa pessoa que beijou o fundo do poço e teve que empreender muito esforço para se reerguer e tocar a Vida para frente, no desafio que exige coragem e força, muita força, pois já ouvi dizer que o Mundo é dos fortes, como um artista com décadas de carreira e, mesmo assim, abraçando periodicamente o fato da necessidade de reinvenção e da necessidade de continuar tocando o barco da Vida. Aqui, são cores se expandindo para todos os lados, numa explosão, num vômito irrefreável, numa pessoa que dá uma porrada psíquica em todo o corpo social, fazendo do artista um necessário agente de mudança e evolução, ou até de revolução. Aqui, é como uma Cruz de Malta, o símbolo dos guerreiros cristãos, numa pessoa que entende que a Vida é luta, e que quem psiquicamente se aposenta, acaba ficando para trás, reduzido a uma peça de museu, no modo como há tantos e tantos artistas talentosos que simplesmente não sobreviveram aos anos 80, tornando-se fósseis de um momento que, apesar de maravilhoso, já passou, na necessidade de se virarem as páginas da Vida. Este pequeno retângulo tem um aspecto metálico e duro, como na pujança de um parque industrial metalmecânico, produzindo riqueza e produzindo o fato de que, realmente, não pode faltar labor, como num antepassado meu, que construiu um magnífico casarão de pedra em Otávio Rocha, Flores da Cunha, RS. Aqui são as quatro estações do ano, ou os quatro elementos primordiais, como num clipe das Spice Girls, em que cada uma representava um elemento, no modo como a Cultura Pop se estabeleceu no Mundo, abrindo novas perspectivas de Arte junto à Cultura de Massa.


Acima, Paisagem. Temos aqui uma vizinhança pacífica, plácida, e podemos ouvir o reconfortante som de bem te vis, num momento de tranquilidade, como nas pessoas que se mudam de grandes centros urbanos para cidades mais pequenas, buscando mais sossego e paz. Quase ao centro vemos uma frondosa árvore com frutos prontos para ser colhidos, e são frutos dourados, como na recompensa a alguém persistente, que está há muito tempo batalhando e fazendo por merecer, num momento em que a pessoa começa a colher frutos, num resultado, numa situação nítida de retorno. Esta é uma paisagem um tanto brumosa, parecendo uma montanhosa cidade japonesa, e em cada casa há uma família bem estruturada, numa vizinhança pacífica na qual há muito prazer, com pessoas convivendo harmoniosamente, no modo como um artista quer se harmonizar com o Mundo ao redor, num artista querendo fazer parte, querendo ter uma função importante, no desafio de se ver útil em um mundo tão pragmático, tão materialista, tão capitalista, num mundo em que dinheiro é tudo, muito diferente da Dimensão Metafísica, onde o dinheiro simplesmente não existe, pois nesta simplesmente não há matéria, nem pedras ou metais preciosos, sendo estes os responsáveis por agrilhoar mentes e construir obsessões materialistas, fazendo da ambição uma inimiga da Paz, pois se não estou o tempo todo querendo coisas, posso ter Paz. Aqui, as pinceladas negras delineiam os telhados das casas. O telhado é o porto seguro, a proteção, protegendo das intempéries climáticas, no desespero de pessoas que veem suas próprias casas sendo destelhadas em meio a grandes tormentas, num momento em que a Solidariedade entra em cena, numa pessoa que se vê dependente de caridade, pois já fui ajudado por muitos, logo, tenho que retribuir e fazer algumas ações de Caridade também, pois há um centro espírita em Caxias do Sul que se chama Fora da Caridade não há Salvação. Mas não devemos levar o termo Caridade ao pé da letra, como doar roupas usadas a instituições assistenciais – Caridade é fazer algo pelo prazer de fazer, sem esperar retorno ou agradecimento, pois a expectativa é a mãe da frustração, e ter expectativa é o oposto à Caridade, no modo como Tao é assim, sem expectativa, observando o Mundo sem esperar ser agradecido. É a questão da mortificação espiritual, numa pessoa que se vê na necessidade de parar de se deixar guiar por sinais auspiciosos. Fora os telhados negros aqui, este quadro tem tons pastéis, suaves, numa candura infantil, como coloridas balas em uma caixa de bombons, no modo como a criança, que recém encarnou, traz alguns resquícios da Dimensão Metafísica, dimensão na qual não há espaço para amarguras ou ressentimento, pois o Perdão é a força que limpa o Mundo, fazendo do Perdão algo inevitável e lógico: se temos a Eternidade à nossa frente, certamente chegará um ponto em que o Perdão se imporá poderosamente, com pessoas que têm a Eternidade para resolver suas desavenças – Jesus nos mostra o caminho lógico, na fria lógica matemática, fazendo do Pensamento Racional a força que combate a Malícia ilusória, nos retilíneos feixes de luz que caem do Céu, na limpeza metafísica, com Tao, o bonito cheiroso. Ao fundo nesta cena vemos colinas arredondadas, sem picos agressivos, sem arestas cortantes, no modo como tenho, na vista de uma das janelas de minha casa, uma longínqua colina, e eu a chamo de “minha colina”, e é o meu local de vida, o meu pacato vilarejo, pois não tem Paz aquele que está insatisfeito com o lugar onde vive, pois o contentamento combate as forças instáveis da ambição. Essas colinas da Man Ray dançam como nuvens volúveis, como se Céu e Terra estivessem namorando, e uma doce garoa cai sobre o solo, e as hortas são hidratadas, num artista que tem a Paz para contemplar as estações do ano indo e vindo, fazendo da contemplação a fonte de inspiração para se fazer Arte. Na porção mais superior do quadro, vemos algumas nuvens cinzentas, como nuvens de incerteza, mas são nuvens mínimas, discretas, e, apesar de inevitáveis, não são páreo para a pessoa que deseja ter Paz em seus das aqui na Terra.


Acima, Peixes. A mulher e o peixe convivem aqui pacificamente. Ambos são sensuais e voluptuosos. O peixe remete às feiras pascais de peixe vivo, com o hálito de oceano, o cheiro convidativo que nos remete às nossas origens aquáticas, na origem da Vida, no modo como todos viemos de Iemanjá, a Mãe dos Mares. O peixe está desperto e em movimento, movendo-se para comer e acasalar, nos instintos selvagens que guiam a Natureza. Abaixo do peixe vemos uma grande faixa azul anil, na junção do azul anil com o azul oceânico, fazendo da Terra o planeta azul, no prazer de se olhar para um Céu de Brigadeiro, dando a impressão de que as vicissitudes nunca são páreo para a pessoa que vive corajosamente. Estes dois elementos – a mulher e o peixe – cruzam o quadro de ponta a ponta, impondo-se majestosamente. O Peixe é um ser majestoso, com suas escamas brilhantes, como uma joia, ou como um fino tecido acetinado, no modo como as belezas naturais nos mostram muito de Tao, o criador do Céu e da Terra, o arquiteto da Divina Providência, guiando nossas vidas na Terra, fazendo com que passemos uns pelas vidas dos outros, com amizades sendo feitas e lições sendo aprendidas, num poder tão forte que é invisível, colocando na Terra o homem sábio, o homem de Tao, o líder saudável que conquista a fé das pessoas, num sábio impondo-se com minimalismo, só tomando ações em situações de extrema necessidade, numa limpeza de ações, pois o minimalismo, na sua simplicidade, é gêmeo siamês de Tao, a vassoura que limpa, fazendo com que as desnecessidades sejam vistas como suja frescura. Esta mulher está dormente, com se a cena fosse uma cena em um sonho, num delicioso momento de entrega a um sono reconfortante, numa cama deliciosa e confortável, na paz de um filhote dormindo no ninho. Seus seios são maravilhosos, dignos de revista Playboy, e sua nudez a entrega por completo, como se servida numa travessa aos olhos do espectador. É como uma sereia, nos encantos femininos de brisa do Mar, ou numa sedução, como nas traiçoeiras sereias da franquia Piratas do Caribe, com sereias que seduzem marinheiros e os arrastam para o fundo do Mar, com esses marinheiros jamais vistos novamente. A mulher está se espreguiçando, talvez acordando de uma boa noite de sono renovador, pronta para encarar um novo dia nas tarefas deste. O peixe tem um caminhar muito sensual, pois é ondulante, na prazerosa liquidiscência das Experiências Extracorporais, nas quais o espírito sai do corpo para se jogar em uma agradável piscina térmica, numa sensação de Paz e Liberdade, pois o Mal é inimigo da Liberdade, oprimindo os cidadãos de regimes ditatoriais, regimes nos quais a pessoa sequer tem o direito para ter o cabelo do jeito que quiser. A Liberdade é irmã do Respeito, e se os cidadãos respeitam uns aos outros, nada pode quebrar a Paz. Na porção superior do quadro, vemos nesgas de luz de aurora, num novo dia nascendo, numa nova vida, numa nova perspectiva, como nas pessoas que têm a consciência de que desencarnaram e que terão que encarar a nova vida que se estende à sua frente – a vida imaterial, curando as doenças materialistas e abraçando a vida em que tudo gira em torno de Amor. É uma nova vida, como num caixão sendo aberto e num Jesus ressuscitando, abraçando um novo contexto, uma libertação. Já, a porção mais inferior do quadro é mais negra e escura, num denso mar de incertezas, nas dúvidas que tanto persistem na Vida Material, com águas profundas demais para serem desbravadas por qualquer tecnologia humana, trazendo a negra dúvida de que se há Vida fora da Terra. Aqui, temos a transição entre noite e dia, e a Luz tem a incumbência de vencer e superar olimpicamente as vicissitudes. É como o túmulo de Tutancamon sendo descoberto e desbravado, fazendo o rei renascer e encantar o Mundo com as tradições de uma civilização extinta, numa orgulhosa e altiva linhagem faraônica que simplesmente se perdeu na noite dos tempos. Orgulhos ascendem e descendem, e tudo o que resta é a vontade de fazer o Bem, de fazer a coisa certa, num artista querendo ser uma tumba a ser descoberta e esclarecida.


Acima, A Dançarina de Corda com suas Próprias Sombras. Vemos roupas dependuradas em cabides, numa diversidade cromática, numa variedade, numa sociedade que evoluiu e produziu culturas diversas. Os cabides fininhos são a ditadura da magreza, com tantas moças que simplesmente não se alimentam, achando que magreza (patológica) é sinônimo de beleza, como conheci certa vez uma moça, muito bonita, que simplesmente parou de comer e teve que ser enviada ao hospital para tomar soro da veia. Aqui, essas cordas se entrelaçam como serpentes, como no monstruoso covil de víboras no qual caiu o herói do Cinema, Indiana Jones. Ou como a cobra é linkada à ideia de vício, como em um filme de outro herói, Conan. Estas serpentes de Man Ray são elegantes e minimalistas, como se soubessem que há virtude na invisibilidade, numa discrição máxima, num cidadão que pode caminhar em paz na Rua, sem ser assediado. Na porção superior do quadro vemos uma espécie de estrela, que brilha branca em meio a um fundo de incerteza cinzenta. É a Estrela de Belém, guiando os Reis Magos até a Manjedoura, como um ovni cruzando os Céus, na crença de numerosas pessoas de que estamos cercados de alienígenas, no modo como o próprio artista se sente um alienígena, um ser de outro mundo, tentando entender as regras do Mundo, querendo se adequar e se centrar, no infeliz modo como o Mundo é um vale de frustrações, com sonhos sendo impiedosamente destruídos diariamente, na colisão entre dois mundos – o idealizado e o real. Então, o real espatifa e pulveriza o idealizado, e a pessoa, de forma repentina, vê-se de mãos vazias, desnorteada, buscando entender o porquê de tanto fracasso, de tanta decepção, no modo como são decepcionantes os sociopatas, pessoas falsas que vão se aproximando de nós como se esses mesmos sociopatas fossem amigões. Mas o tempo passa e as máscaras caem, e o que era para ser um amigo se revela um inimigo, um inimigo interessado em nossa ruína – amizades falsas, tóxicas. São os vampiros. O fundo deste quadro é predominantemente cinzento, num céu incerto, sem nos deixar saber se vai chover o fazer Sol, nas prateadas telas do Cinema em preto e branco, numa época em que o Cinema viveu um boom esmagador, consolidando-se como genuína Arte, marcando para sempre o Século XX, no modo como Arte e Ciência são forças poderosamente humanas. Uma linha dourada ondulante cruza o quadro na porção superior, na forma de um toldo, uma proteção, um telhado, no modo como fica protegida a pessoa discreta, sem querer chamar muito a atenção sobre si mesma – uma coisa é meu trabalho ficar exposto; outra coisa é minha pessoa ficar exposta. Um desses “casacos” dependurados é bem negro, fúnebre, no modo como a cor preta entrou na moda desde o início dos anos 90, na cor da discrição, na sedução de mulheres vestindo seus pretinhos básicos. É como um morcego, pronto para agarrar sua vítima. Vemos uma roupa dourada, bem áurea, a que mais chama atenção no quadro, nos dourados cabelos de uma avassaladora Gisele, uma das brasileiras que mais souberam se vender em toda a História da Humanidade, como uma Carmen Miranda, ditando regras de vogues estilísticas. Vemos uma roupa rubra, da cor das folhas outonais, na majestade rubra de árvores caducando, na beleza que é a Dança das Estações, nas ondulações de Tao, o sempre arejado. Vemos uma roupa em azul marinho, outra cor discreta, profunda, num oceano imenso que engoliu facilmente o colossal Titanic. Vemos uma roupa em um verde cinzento, também discreto, como um verde musgo, num dia frio e úmido, no qual desejamos estar perto de uma lareira, no modo como a Arte pode ser tal lareira para nossas percepções. E vemos uma roupa de um laranja marrom, num tom terroso, no ventre da terra que traz a Flora e as lavouras, na fertilidade de uma mente artística que faz brotar flores na cabeça de Frida Kahlo.

Referências bibliográficas:

Man Ray. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 19 jun. 2019.
Man Ray Obras. Disponível em <www.google.com>. Acesso 19 jun. 2019.

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