O paulista Gustavo Rosa
(1946 – 2013) já desenhava aos 3 anos de idade, um sapeca que pintava paredes e
os próprios caderninhos escolares! Entrou em 1964 em um curso de Desenho e
Pintura, impressionando os professores e fazendo uma primeira mostra, tendo
carreira consolidada ainda jovem. Foi amigo do ícone modernista Di Cavalcanti.
A partir de 1970, Rosa foi fazendo várias mostras individuais, recebendo muitas
encomendas. Morreu de Câncer. Há um instituto que leva o seu nome. Os textos e
análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Figura. GR nos remete um pouco a Bottero, com seus gordinhos
característicos. A mulher corre em busca de uma borboleta, na busca por uma
recompensa, por um ganho, na luta do dia a dia para se ganhar o pão sagrado. A
borboleta é o espírito livre, a Liberdade do desencarnado. A rede é a prisão, o
corpo carnal, nos horrores de lugares como o Presídio Central de Porto Alegre,
o qual, dizem, é uma sucursal do Inferno. A rede é o Umbral, o purgatório, um
lugar pouco produtivo onde só há ócio, na vida difícil de uma pessoa que
simplesmente não produz. Podemos ouvir os passos pesados da mulher sobre o
chão, sofrendo o peso do próprio corpo, nas forças gravitacionais que inexistem
metafisicamente. É um belo dia de Céu de Brigadeiro, e a grama á intocada e
saudável, linda, virgem, na beleza intocada de terras que não estão submetidas
às Leis da Natureza. Apesar de obesa, a mulher aqui é ágil, e tenta acompanhar
o passo do inseto voador. A mulher usa óculos escuros, que são a proteção, o
resguardo, numa pessoa que aprendeu que tem que cuidar de si mesma e da própria
vida, evitando fofocas, ou seja, evitando cuidar de uma vida que não é a sua,
evitando deixar a própria vida ficar descuidada, no verdadeiro veneno ocioso
que é a Fofoca, uma perda de tempo enorme, pois na nobreza metafísica, as
fofocas ficam reduzias a nada – fofocar é desrespeitar. O vestido da mulher é
florido, e temos aqui uma cena primaveril, arejada, saudável, na saúde da Vida
a ar livre, como um caixão que foi aberto e deixou o espírito sair para raios
dourados de um dia agradável e produtivo. Aqui, temos simplicidade, pois a
mulher está de pés descalços, podendo ter o prazer de sentir a grama sob seus
pés, como os pés desnudos de Nossa Senhora, esmagando inevitavelmente a
serpente da Malícia, o vírus do Éden, o vírus de computador que é um sociopata
tóxico. Este quadro tem movimento, como num monitor televisivo. Ficamos
torcendo pela borboleta, para que ela tenha a elegância olímpica e não se deixe
prender por mentiras mundanas, por luxos fúteis, e ficamos torcendo para que a
Simplicidade prevaleça. A borboleta dourada é o Sol, o astro, a grande pérola
sem a qual não haveria Vida na Terra, no prazer de se sentir um raio de Sol em
um dia frio e desalentador, na retidão dos raios solares, convidando-nos a
produzir o pensamento lógico, sempre primando pela Verdade, iluminando os
labirintos da mentira e trazendo um novo dia para quem deixou o corpo carnal
para trás. Este gramado tem uns espinhozinhos, como na Coroa de Cristo, nos
inevitáveis espinhos da Dimensão Material, no modo como a pessoa, enquanto
encarnada, tem que aprender a viver com tais dorzinhas, aprendendo a conviver
com tais espinhos nesta roseira tão bela, pois as roseiras de Nossa Senhora não
têm espinhos, pois no mundo acima não há predadores. Os lábios da mulher são
verdes como a grama, e de verde se vestem os campos e as florestas, em gramados
macios que parecem carpetes, nas florestas luxuosas que são as salas de estar
superiores. O cabelo da mulher está se movimentando ao vento, e aqui a mulher
se esforça muito para acompanhar o pique da borboleta. A mulher é a ambição, e
está obcecada em capturar o belo bichinho, nas eternas ambições humanas, sempre
querendo mais, nunca estando contente, num rei que nunca está contente com o
próprio reino. A borboleta e a mulher ameaçam sair do quadro, num afã por
Liberdade.
Acima, Melancia. Aqui, a “bandeira” está a meio mastro, ou seja, em luto
oficial, numa melancia pela metade, perguntando se ela está meio comida ou meio
inteira. As sementes são a fertilidade da mente artística, sempre buscando ser
original, sempre evitando o óbvio, o lugar comum. É a melancia da Magali de
Mauricio de Souza, a personagem comilona que nunca está saciada, na “fome” de
um artista que quer ir muito longe, numa sede de carreira, numa constante
busca, sendo sempre necessário virar a página e encarar uma nova folha em
branco, num eterno trabalho de recomeço, num aprendizado existencial enorme – o
cineasta nunca deve achar que atingiu a perfeição e que não mais precisa
produzir. Aqui, é como uma pista de skate, com os jovens ascendendo e
descendendo, no prazer de se pegar uma onda, ou um cipó, tomando impulso e
embarcando em uma grande aventura, abraçando oportunidades e sabendo surfar na
onda, sem ser engolida por esta, pois às vezes pegamos ondas maiores do que
realmente podemos pegar. A melancia é deliciosa, doce e colorida, como numa
doce lembrança de infância, com as brincadeiras com os amiguinhos, num Cidadão
Kane lembrando, em sue leito de morte, de seu esqui de neve Rosebud, numa época
em que a Vida era simples e divertida, sem as amargurar da Vida adulta. Vemos
uma pequena uvinha solitária, jogada por acaso na cena. A uva está deslocada e
desconfortável, não sabendo ao certo qual é o seu próprio papel na história. A
uva é o despertencimento, e desconforto existencial, numa pessoa que ainda não
se encontrou por completo, batalhando para obter algum espaço em um mundo por
vezes tão insensível à Arte, aos impulsos sensíveis de uma pessoa que quer ser
vista como artista, na verdadeira guerra que é conquistar um lugar ao Sol. A
toalha desta mesa é listrada, discreta. É a retidão, a elegância aristocrática,
o perfume fino que paira no ar. A toalha é a proteção, como uma mãe trocando as
fraldas do filho, no trabalho zeloso de se debruçar sobre uma tela e produzir
algo pertinente, algo que vá despertar o interesse público. A cor rubra desta
melancia parece ser um vitral, na magia de cores variadas penetrando num templo,
na magia de moradas coloridas e alegres, como um cristal desdobrando as cores,
oferecendo-nos um leque de opções, como na variedade de cursos universitários,
num indivíduo que se vê frente a tantos caminhos que podem ser trilhados. Esta
melancia é uma forma de Niemeyer, com suas curvas de Bossa Nova encantando o
Mundo, com as belezas de um Rio de Janeiro que seria muito mais belo sem tanta
violência ou narcotráfico, no Rio metafísico que paira sobre a cidade física,
na promessa de um Brasil no qual não há grades, ou seja, não há a prisão do
corpo carnal. O fundo deste quadro é bem escuro, numa sala escura na qual só
podemos ver o que está mais à frente. O fundo escuro e a uvinha formam um
continuum, e são a indefinição, um desfoque, uma pessoa “míope” que está com
dificuldades para tocar a Vida para frente, num momento em que a Divina
Providência, na sua sabedoria, não permite que a pessoa anteveja, havendo nessa
proibição um gesto de muito amor e cautela, pois tal Providência vem de Tao, o
amor infindável, no imenso poder que reside na Vida Eterna – jamais haverá fim.
Forte, não? Esta melancia é uma doce gangorra, no parquinho de diversões, num
Michael Jackson criança que, em nome da própria carreira, simplesmente não
podia brincar com as outras criancinhas, pois tinha que ensaiar, gravar e
apresentar-se, nos certos sacrifícios que existem na Vida. Esta melancia é
suculenta e doce, numa doce tarde de verão na piscina com os amigos, numa fruta
tão cheia de sabor e hidratação. Aqui, há um comedimento, pois quem comeu
metade da fruta não quis o resto, numa refeição frugal, com uma certa
castidade, um certo pudor, uma moderação. É uma reserva, talvez para guardar o
resto “para o Inverno”. A uvinha observa solitária a cena, e está esquecida,
procurando um lugar, um lar, uma família.
Acima, Mulher. Esta modelo é um tanto andrógina, pois não sabemos dizer ao
certo se é ele ou ela. Ela, ou ele, tem traços minimalistas e elegantes. Seu
cabelo está impecavelmente cortado e penteado, numa pessoa com autoestima,
arrumando-se para sair de casa e fazer interação social, no modo como qualquer
psicoterapeuta fala sobre a importância da pessoa gostar de si mesma, sem
narcisismos. A mulher tem um estilo marinheiro, usando um pequeno chapeuzinho
da cor do Mar. O chapéu é a identidade, numa pessoa que tem algo para se
apegar, sentindo-se pertencente a algo, no importante processo de identidade
que ocorre para qualquer pessoa, estando muito mal existencialmente a pessoa que
não sabe quem ela própria é, talvez numa anônima dona de casa, como me disse
uma psicoterapeuta: “É desinteressante uma pessoa que é só dona de casa”, ou
seja, ninguém merece viver na sombra de outra pessoa; ninguém merece ficar
vivendo a vida de outra pessoa, no machismo social generalizado – se é uma
mulher sustentada por um homem, pode; se é um homem sustentado por uma mulher,
não pode. O pescoço da mulher aqui é firme, como numa Nefertiti, no modo como
alguns historiadores cogitam a possibilidade desta rainha ter reinado como
faraó por alguns anos, depois de enviuvar. O pescoço é a força de sustentação,
a força de uma mão forte, que ergue uma mulher ao patamar de rainha. O pescoço
é o tronco de uma árvore, como um patriarca sustentando uma família, mantendo
esta unida, como em noites de Natal, no talento agregador de um patriarca, com
uma força gravitacional que une as pessoas, como Tao, a força gravitacional que
rege o Cosmos físico, atraindo a água ao lugar mais baixo, na humildade de uma
pessoa que aprendeu a mortificar suas próprias expectativas, bloqueando a
frustração, este sentimento amargo de desilusão, a qual é positiva, pois as
desilusões são, no fim das contas, esclarecedoras, portanto, não tenha medo de
se desiludir. A gola aqui está perfeitamente limpa e engomada, representando os
rituais diários de limpeza e purificação, no poder da água, este fluido tão
essencial, com astrônomos ávidos por informações que levem a descobrir Vida
fora da Terra. O fundo deste quadro é de um Céu de Brigadeiro, límpido,
perfeito, numa terra abençoada que está livre da tristeza e da melancolia de
dias chuvosos ou brumosos, rechaçando a cor cinzenta das incertezas
existenciais, na promessa de um lar ensolarado e agradável. O rosto desta
mulher é delgado e oval, como se esculpido por um zeloso artista, no ato de
Amor que é colocado em cada obra, com um artista que tem a sensação de estar
gerando um filho de suas entranhas, na sensação de vazio que acomete um artista
cujas obras são doadas ou comercializadas, como na sensação de uma mãe que vê a
própria filha casar e sair de casa, numa mãe com a sensação de que foi levado
embora um de seus próprios braços. Esta mulher é corada, com lábios rubros e
bochechas rosadas, representando a Saúde, o bem impagável em torno do qual tudo
gira, na saúde perfeita da Dimensão Metafísica, a dimensão onde as chagas
orgânicas nada representam, havendo na Encarnação o momento do espírito encarar
certas vicissitudes necessárias, resultando em precioso progresso espiritual,
como um policial cumprindo uma missão, como um mandado de busca e apreensão. Os
olhos da mulher estão bem despertos, e são cada um de uma cor. Essa diferença
simboliza as inevitáveis diferenças entre as pessoas, pois cada pessoa é única,
fazendo com que as diferenças sejam irrefutáveis – não quero que você concorde
comigo; quero que você me respeite. Maturidade é entender tal pluralidade, como
em ricas cores carnavalescas num grande baile iluminado. Os olhos fitam
profundamente o espectador, e são duros, mortificados, dignos dos olhos da
famosa máscara mortuária de Tutancâmon, num olhar frio, no qual não podemos
sentir a sensação de empatia ou familiaridade. Os cabelos loiros são o ouro da
Amazônia, ambicionado por potências mundiais, como o território americano sendo
disputado por nações europeias durante as Navegações.
Acima, O Turista. O charuto é o falo, numa pessoa impositiva, que se
coloca para o Mundo, desafiando este a aceitá-la. A mala cheia de adesivos de
outras viagens é a trajetória de várias encarnações, com um espírito que já
passou por muitos lugares em nome da depuração moral, o sentido de toda
existência terrena. A mala é a reserva, os apegos, aquelas coisas muito
essenciais que não podem ser deixadas de lado, nas cargas materiais, na
necessidade de termos casa, comida e roupa lavada – é o peso encarnatório. A
mala é como a carreira de alguém, numa pessoa que já fez muitos trabalhos, como
um ator, que já interpretou muitos personagens, fazendo metáfora com a
“carreira” de um espírito, que já viveu várias vidas na Terra. A mala são as
cicatrizes, mostrando que temos história, contando uma história, um trajeto,
como no currículo de um pretendente a uma vaga de trabalho, mostrando
experiência e, assim, conquistando o emprego. O turista aqui está de alto
astral, muito entusiasmado com a viagem na qual está logo a embarcar, na
sensação gostosa de fuga, de conhecer outras terras, saindo um pouco do lugar
familiar e rotineiro. O turista está nos abanando, despedindo-se, talvez num
espírito desencarnando, pronto para voltar ao Imaculado Lar Primordial. Não é
um “adeus”, mas um “até logo”, no modo como vínculos afetivos não se desfazem
com Desencarne; também no modo como os vínculos de família não se desfazem com
o Desencarne, pois, na perspectiva de Vida Eterna, haverá sempre tempo e espaço
para o Perdão, o grande elixir que cura feridas d’alma. O turista está de
bermudas, muito à vontade, das cores do Brasil, um país tão repleto de destinos
turísticos, tão promissor quanto a destinos ainda por serem descobertos, com
destinos como o Rio de Janeiro, Gramado ou o Nordeste, no modo como há
perfeitamente agências de Turismo na Dimensão Metafísica, agendando visitas por
colônias espirituais ao redor da Terra, na relação de continuidade entre Físico
e Metafísico, fazendo uma transição suave entre uma dimensão e outra. O turista
ainda veste uma gravata, como se tivesse recém saído do escritório, do lugar de
labor. O nó da gravata é a Disciplina, o labor, a missão de trabalhar de Sol a
Sol para encontrar a dignidade e a produtividade, na importância da produção de
Disciplina. O bolso do paletó traz a palavra “renaissance”, ou seja,
desencarnar é ressuscitar seguindo os passos de Jesus, no sopro de novidade que
foi o Renascimento na Europa, lançando toda uma onda, toda uma vogue de
tendências culturais, num grande momento para o Homem Europeu. O artista
renasce a cada nova obra que produz, e a dignidade do labor traz renovação
diária ao indivíduo, fazendo este se sentir pertencente ao Mundo. As meias do
turista parecem dois cálices de vinho tinto, no prazer da degustação, de um
happy hour, na hora de fazer uma pausa da sisudez e relaxar um pouco, desafrouxando
a espartana gravata, numa hora de descontração e contação de piadas, como Tao,
o grande palhaço. Este homem é corpulento e generoso, como um anfitrião
recebendo convidados, no prazer de acolher e receber, como entrar num quarto de
hotel bem limpo e confortável. O azul da camisa são os sonhos, num viajante que
não vê a hora de sair pelo Mundo, numa viagem dos sonhos, como conhecer lugares
como Paris e Egito. O boné verde é a fertilidade de terras fecundas como a
Amazônia, fascinando o Mundo com sua natureza exótica e misteriosa, no fascínio
que Carmen Miranda exerceu sobre a Terra, “vendendo” o Brasil, um país que tem
que exportar mais imagem, e não só importar. Os óculos escuros estão prontos
para majestosas terras ensolaradas, num Sol que, apesar de intenso, não chega a
ofuscar os olhos. Este turista remete a Jô Soares, o comediante que surpreendeu
a todos como entrevistador e escritor, no talento de sempre entrevistar com bom
humor, no verdadeiro dom que é o da pessoa engraçada, uma pessoa que causa
empatia e “arranca” gargalhadas dos outros. Tchau, meu amigo. Boa viagem.
Aproveite. Divirta-se.
Acima, Séries Caras. O cabelo parece uma minhoca, numa dúbia confusão,
pois não sabemos onde é a cabeça e onde é o bumbum. É um cabelo encaracolado de
anjinho barroco. É uma minhoca lutando para sobreviver na horta, sendo
impiedosamente caçada por um pássaro faminto, na luta que é a Vida, na
necessidade prima de se obter Disciplina. Este quadro é cândido, e parece ter
sido pintado por uma criança, num Gustavo Rosa que, mesmo depois de adulto,
nunca perdeu sua porção criança, na importante necessidade da pessoa nunca
envelhecer demais, sempre conservando uma pontinha de doçura e irreverência. O
pescoço aqui parece ter confetes, na deliciosa guloseima Confete, cheia de
drágeas coloridas de chocolate, numa época em que a Vida era mais simples, sem
as amarguras que acabam por acometer tanta gente. O pescoço tem uma estampa de
pacote de presente, quando a criança, desde pequena, ao ir aos aniversários dos
amiguinhos, conhece os rituais de interação social, fazendo do presente um
gesto de carinho e generosidade, enquanto o anfitrião recebe a todos com muitos
doces, balões e brincadeiras – é a festa da Vida Eterna, em salões tão finos,
tão aristocráticos, cheios de gente polida e paciente, que sabe que a
Eternidade dá tempo para absolutamente tudo, havendo no nobre presente um
símbolo de tal infinitude, um presente feito de material nobre, que dura muito
tempo, como produtos fabricados com materiais muito bons, que desafiam a
passagem do tempo, trazendo a qualidade acima da quantidade, como um prédio bem
construído, que dura por séculos. O sorriso do lábio aqui parece um bumerangue,
na lei do eterno retorno, no fato de que Joãozinho colhe o que Joãozinho planta,
e se tenho uma vida produtiva, a vida é boa para mim; se fico perdendo tempo
com fofocas, qual esperança há para mim? A pele aqui é rosada e saudável,
impecável, como é a pele metafísica, sem qualquer ruga ou sinal de expressão,
sequer com um poro, imaculada como uma folha de papel branco, numa mulher idosa
que desencarnou e está vivendo eternamente, linda como no dia de seu casamento!
É o rejuvenescimento pós-desencarnatório. Este quadro é bem iluminado, limpo,
numa pessoa que decidiu pegar um pano e fazer uma boa limpeza, aproximando-se
de Tao, o limpinho cheiroso. Na bochecha vemos um doce círculo rosado,
representando a inocência daqueles que agem com apuro moral, pessoas que, ao
ver que uma pessoa perdeu a carteira na rua, avisam esta pessoa, ao invés de
catar silenciosamente a carteira para si – a Vida dá oportunidades constantes
de apuro moral, no impecável apuro dos arcanjos, os espíritos que gozam da
suprema felicidade, regendo os anjos, que são os espíritos que já compreenderam
perfeitamente que a Moralidade vem acima de tudo, ao contrário da Dimensão
Material, tão assoberbada de ambiciosos orgulhos egoístas. Aqui, o olho parece
ter a pupila vazando, querendo se libertar, num desejo de se libertar, no
presidiário que acordou no dia de sua libertação, sendo reinserido no convívio
social, recebendo uma segunda chance, um voto de confiança. A Infância é uma
época em que tudo é mais simples, e as amizades de Infância são eternas. Este
perfil aqui transmite lisura e honestidade, numa pessoa que não pensa em burlar
seus irmãos, seus companheiros de caminhada, havendo no sociopata uma pessoa
mesquinha que está o tempo todo em busca de vantagens em relação a tais
companheiros, num sociopata que não entende os conceitos de Irmandade, que são o
sentimento de se colocar nos sapatos do outro e saber como este se sente. Aqui
é como um perfil em uma moeda, só que um dinheiro metafísico, sem as obsessões
terrenas em adquirir mais e mais dinheiro, numa impiedosa Sociedade de Consumo,
a qual está sempre empenhada em nos empurrar produtos e serviços que não são
tão importantes assim, afastando-nos da Simplicidade, do dia a dia de Tao, o
Pai que despreza riquezas mundanas. O cabelo aqui é como de um palhaço, na
beleza de um circo que, por mais belo que seja, levantará a lona e irá embora.
Acima, Surfista. Este quadro dá a sensação de Liberdade que se tem na
beira da praia, um ambiente extremamente democrático, em que as diferenças são
suavizadas e todos são filhos da mesma mãe Iemanjá. É uma orla bela e plácida,
e podemos ouvir o acalentador barulho das ondas estourando, no barulho do
Oceano, sempre chiando, sempre fluindo, com o delicioso odor de Mar, no puro
hálito primordial que trouxe Vida à Terra. A fálica prancha aqui parece um
pepino, na hilária colocação de Freud: “Às vezes, um pepino é apenas um
pepino”, querendo dizer que vem tudo em formato de vara representa algo fálico.
A bermuda aqui é alegre festiva, como se quisesse celebrar a diversidade, num
mundo que, quanto mais diversidade tem, mais alegre e colorido fica. A bermuda
traz um pouco de Mondrian, com seus retângulos dançando entre si, como um
prisma que traz tantos tons, na magia das cores, como numa bandeja repleta de
frascos coloridos de perfumes, numa bandeja banhada pelo Sol que entra pela
janela do banheiro. É hilária aqui a obesidade do rapaz, muito longe do corpo
atlético, num Gustavo Rosa irreverente. O homem aqui está muito tranquilo, sem
pressa, sabendo que a Mar não fugirá. É a sensação libertadora de pisar na
areia quentinha, banhada pelo Sol de Verão, numa areia pura e clara como
açúcar, num lugar civilizado, onde as pessoas não jogam lixo na areia, nem
jogam tocos de cigarro na areia, no infeliz fato de que há muitas pessoas que
não respeitam a limpeza da areia... E Tao é assim, limpinho, civilizado, sempre
primando pela ordem e pela organização. As ondas aqui requebram docemente, e a
água parece ser doce como um suco de fruta. O Céu está intocado, absolutamente
aberto, receptivo, na luta que é para um artista ser recebido e compreendido
pelo resto das pessoas. O surfista aqui está plácido como o Mar à sua frente,
na diversão que é pegar ondas, num momento de simplicidade em que os orgulhos
materialistas nada significam, pois a Vida é boa quando é simples, em doces lembranças
de brincadeiras de crianças. Os tons de azul aqui remetem a alguma fina
fragrância, nas cores mediterrâneas, ou em orlas gregas, nas imensidões
oceânicas, com tanta água ao redor do Globo, na explosão de Vida que é nosso planeta,
no crescente discurso ecológico sobre o Aquecimento Global. Uma grande “cinta” verde
envolve o surfista. O verde é a cor da vegetação, com pessoas que decidem se
tornar veganas, rejeitando tudo de origem animal, num posicionamento mais que
alimentar, mas político, recusando-se a usar produtos que foram testados em animais. Uma parte da
bermuda é vermelha, na cor da sedução, da luxúria, nas cores de lojas como a
Victoria’s Secret, exaltando os mistérios da Feminilidade, como uma mulher
inebriando os homens com doce perfume feminino, no jogo de sedução entre
namorados, no segredo de tal vitória – é o lado Yin da Vida, como dentro de um
confortável lar, o útero acolhedor que com que nos sintamos em casa. A porção dourada da
bermuda tem uma estampa que se parece com aves voando em bando, emigrando, nas
forças sazonais, com as épocas do ano com temperaturas diferentes, na dança
sazonal que rege tudo, inclusive vinhedos. Uma pequena faixa da bermuda é de um
azul que entra em contato com o azul ciano e o azul marinho, num continuum de
harmonia cromática, pois é só na Harmonia que há Paz, havendo na Guerra uma
ruptura entre cores que não dialogam entre si, sem um ponto de predominância,
sem negociação diplomática. O Mar aqui é retilíneo, como se concebido com uma
régua e lápis, como no design dos anéis de Saturno, no modo como a Natureza
extrapola os domínios terrestres e se alastra por todo o Cosmos, com galáxias
jogadas na infinitude cósmica, como conchinhas à beiramar, numa praia deliciosa
e sedutora, com namorados à luz do luar. Os pés descalços do surfista são a
Simplicidade, como certos artistas que sobem no palco com os pés descalços,
representando a Humildade, ou seja, os pés no chão. E o falo corta a cena de
ponta a ponta, impondo-se altivamente, como um imponente templo clássico.
Referências bibliográficas:
Gustavo Rosa. Disponível em <www.catalogodasartes.com.br>.
Acesso 14 ago. 2019.
Gustavo Rosa. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 14 ago. 2019.
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