quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O Gosto de Rosa



O paulista Gustavo Rosa (1946 – 2013) já desenhava aos 3 anos de idade, um sapeca que pintava paredes e os próprios caderninhos escolares! Entrou em 1964 em um curso de Desenho e Pintura, impressionando os professores e fazendo uma primeira mostra, tendo carreira consolidada ainda jovem. Foi amigo do ícone modernista Di Cavalcanti. A partir de 1970, Rosa foi fazendo várias mostras individuais, recebendo muitas encomendas. Morreu de Câncer. Há um instituto que leva o seu nome. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Figura. GR nos remete um pouco a Bottero, com seus gordinhos característicos. A mulher corre em busca de uma borboleta, na busca por uma recompensa, por um ganho, na luta do dia a dia para se ganhar o pão sagrado. A borboleta é o espírito livre, a Liberdade do desencarnado. A rede é a prisão, o corpo carnal, nos horrores de lugares como o Presídio Central de Porto Alegre, o qual, dizem, é uma sucursal do Inferno. A rede é o Umbral, o purgatório, um lugar pouco produtivo onde só há ócio, na vida difícil de uma pessoa que simplesmente não produz. Podemos ouvir os passos pesados da mulher sobre o chão, sofrendo o peso do próprio corpo, nas forças gravitacionais que inexistem metafisicamente. É um belo dia de Céu de Brigadeiro, e a grama á intocada e saudável, linda, virgem, na beleza intocada de terras que não estão submetidas às Leis da Natureza. Apesar de obesa, a mulher aqui é ágil, e tenta acompanhar o passo do inseto voador. A mulher usa óculos escuros, que são a proteção, o resguardo, numa pessoa que aprendeu que tem que cuidar de si mesma e da própria vida, evitando fofocas, ou seja, evitando cuidar de uma vida que não é a sua, evitando deixar a própria vida ficar descuidada, no verdadeiro veneno ocioso que é a Fofoca, uma perda de tempo enorme, pois na nobreza metafísica, as fofocas ficam reduzias a nada – fofocar é desrespeitar. O vestido da mulher é florido, e temos aqui uma cena primaveril, arejada, saudável, na saúde da Vida a ar livre, como um caixão que foi aberto e deixou o espírito sair para raios dourados de um dia agradável e produtivo. Aqui, temos simplicidade, pois a mulher está de pés descalços, podendo ter o prazer de sentir a grama sob seus pés, como os pés desnudos de Nossa Senhora, esmagando inevitavelmente a serpente da Malícia, o vírus do Éden, o vírus de computador que é um sociopata tóxico. Este quadro tem movimento, como num monitor televisivo. Ficamos torcendo pela borboleta, para que ela tenha a elegância olímpica e não se deixe prender por mentiras mundanas, por luxos fúteis, e ficamos torcendo para que a Simplicidade prevaleça. A borboleta dourada é o Sol, o astro, a grande pérola sem a qual não haveria Vida na Terra, no prazer de se sentir um raio de Sol em um dia frio e desalentador, na retidão dos raios solares, convidando-nos a produzir o pensamento lógico, sempre primando pela Verdade, iluminando os labirintos da mentira e trazendo um novo dia para quem deixou o corpo carnal para trás. Este gramado tem uns espinhozinhos, como na Coroa de Cristo, nos inevitáveis espinhos da Dimensão Material, no modo como a pessoa, enquanto encarnada, tem que aprender a viver com tais dorzinhas, aprendendo a conviver com tais espinhos nesta roseira tão bela, pois as roseiras de Nossa Senhora não têm espinhos, pois no mundo acima não há predadores. Os lábios da mulher são verdes como a grama, e de verde se vestem os campos e as florestas, em gramados macios que parecem carpetes, nas florestas luxuosas que são as salas de estar superiores. O cabelo da mulher está se movimentando ao vento, e aqui a mulher se esforça muito para acompanhar o pique da borboleta. A mulher é a ambição, e está obcecada em capturar o belo bichinho, nas eternas ambições humanas, sempre querendo mais, nunca estando contente, num rei que nunca está contente com o próprio reino. A borboleta e a mulher ameaçam sair do quadro, num afã por Liberdade.


Acima, Melancia. Aqui, a “bandeira” está a meio mastro, ou seja, em luto oficial, numa melancia pela metade, perguntando se ela está meio comida ou meio inteira. As sementes são a fertilidade da mente artística, sempre buscando ser original, sempre evitando o óbvio, o lugar comum. É a melancia da Magali de Mauricio de Souza, a personagem comilona que nunca está saciada, na “fome” de um artista que quer ir muito longe, numa sede de carreira, numa constante busca, sendo sempre necessário virar a página e encarar uma nova folha em branco, num eterno trabalho de recomeço, num aprendizado existencial enorme – o cineasta nunca deve achar que atingiu a perfeição e que não mais precisa produzir. Aqui, é como uma pista de skate, com os jovens ascendendo e descendendo, no prazer de se pegar uma onda, ou um cipó, tomando impulso e embarcando em uma grande aventura, abraçando oportunidades e sabendo surfar na onda, sem ser engolida por esta, pois às vezes pegamos ondas maiores do que realmente podemos pegar. A melancia é deliciosa, doce e colorida, como numa doce lembrança de infância, com as brincadeiras com os amiguinhos, num Cidadão Kane lembrando, em sue leito de morte, de seu esqui de neve Rosebud, numa época em que a Vida era simples e divertida, sem as amargurar da Vida adulta. Vemos uma pequena uvinha solitária, jogada por acaso na cena. A uva está deslocada e desconfortável, não sabendo ao certo qual é o seu próprio papel na história. A uva é o despertencimento, e desconforto existencial, numa pessoa que ainda não se encontrou por completo, batalhando para obter algum espaço em um mundo por vezes tão insensível à Arte, aos impulsos sensíveis de uma pessoa que quer ser vista como artista, na verdadeira guerra que é conquistar um lugar ao Sol. A toalha desta mesa é listrada, discreta. É a retidão, a elegância aristocrática, o perfume fino que paira no ar. A toalha é a proteção, como uma mãe trocando as fraldas do filho, no trabalho zeloso de se debruçar sobre uma tela e produzir algo pertinente, algo que vá despertar o interesse público. A cor rubra desta melancia parece ser um vitral, na magia de cores variadas penetrando num templo, na magia de moradas coloridas e alegres, como um cristal desdobrando as cores, oferecendo-nos um leque de opções, como na variedade de cursos universitários, num indivíduo que se vê frente a tantos caminhos que podem ser trilhados. Esta melancia é uma forma de Niemeyer, com suas curvas de Bossa Nova encantando o Mundo, com as belezas de um Rio de Janeiro que seria muito mais belo sem tanta violência ou narcotráfico, no Rio metafísico que paira sobre a cidade física, na promessa de um Brasil no qual não há grades, ou seja, não há a prisão do corpo carnal. O fundo deste quadro é bem escuro, numa sala escura na qual só podemos ver o que está mais à frente. O fundo escuro e a uvinha formam um continuum, e são a indefinição, um desfoque, uma pessoa “míope” que está com dificuldades para tocar a Vida para frente, num momento em que a Divina Providência, na sua sabedoria, não permite que a pessoa anteveja, havendo nessa proibição um gesto de muito amor e cautela, pois tal Providência vem de Tao, o amor infindável, no imenso poder que reside na Vida Eterna – jamais haverá fim. Forte, não? Esta melancia é uma doce gangorra, no parquinho de diversões, num Michael Jackson criança que, em nome da própria carreira, simplesmente não podia brincar com as outras criancinhas, pois tinha que ensaiar, gravar e apresentar-se, nos certos sacrifícios que existem na Vida. Esta melancia é suculenta e doce, numa doce tarde de verão na piscina com os amigos, numa fruta tão cheia de sabor e hidratação. Aqui, há um comedimento, pois quem comeu metade da fruta não quis o resto, numa refeição frugal, com uma certa castidade, um certo pudor, uma moderação. É uma reserva, talvez para guardar o resto “para o Inverno”. A uvinha observa solitária a cena, e está esquecida, procurando um lugar, um lar, uma família.


Acima, Mulher. Esta modelo é um tanto andrógina, pois não sabemos dizer ao certo se é ele ou ela. Ela, ou ele, tem traços minimalistas e elegantes. Seu cabelo está impecavelmente cortado e penteado, numa pessoa com autoestima, arrumando-se para sair de casa e fazer interação social, no modo como qualquer psicoterapeuta fala sobre a importância da pessoa gostar de si mesma, sem narcisismos. A mulher tem um estilo marinheiro, usando um pequeno chapeuzinho da cor do Mar. O chapéu é a identidade, numa pessoa que tem algo para se apegar, sentindo-se pertencente a algo, no importante processo de identidade que ocorre para qualquer pessoa, estando muito mal existencialmente a pessoa que não sabe quem ela própria é, talvez numa anônima dona de casa, como me disse uma psicoterapeuta: “É desinteressante uma pessoa que é só dona de casa”, ou seja, ninguém merece viver na sombra de outra pessoa; ninguém merece ficar vivendo a vida de outra pessoa, no machismo social generalizado – se é uma mulher sustentada por um homem, pode; se é um homem sustentado por uma mulher, não pode. O pescoço da mulher aqui é firme, como numa Nefertiti, no modo como alguns historiadores cogitam a possibilidade desta rainha ter reinado como faraó por alguns anos, depois de enviuvar. O pescoço é a força de sustentação, a força de uma mão forte, que ergue uma mulher ao patamar de rainha. O pescoço é o tronco de uma árvore, como um patriarca sustentando uma família, mantendo esta unida, como em noites de Natal, no talento agregador de um patriarca, com uma força gravitacional que une as pessoas, como Tao, a força gravitacional que rege o Cosmos físico, atraindo a água ao lugar mais baixo, na humildade de uma pessoa que aprendeu a mortificar suas próprias expectativas, bloqueando a frustração, este sentimento amargo de desilusão, a qual é positiva, pois as desilusões são, no fim das contas, esclarecedoras, portanto, não tenha medo de se desiludir. A gola aqui está perfeitamente limpa e engomada, representando os rituais diários de limpeza e purificação, no poder da água, este fluido tão essencial, com astrônomos ávidos por informações que levem a descobrir Vida fora da Terra. O fundo deste quadro é de um Céu de Brigadeiro, límpido, perfeito, numa terra abençoada que está livre da tristeza e da melancolia de dias chuvosos ou brumosos, rechaçando a cor cinzenta das incertezas existenciais, na promessa de um lar ensolarado e agradável. O rosto desta mulher é delgado e oval, como se esculpido por um zeloso artista, no ato de Amor que é colocado em cada obra, com um artista que tem a sensação de estar gerando um filho de suas entranhas, na sensação de vazio que acomete um artista cujas obras são doadas ou comercializadas, como na sensação de uma mãe que vê a própria filha casar e sair de casa, numa mãe com a sensação de que foi levado embora um de seus próprios braços. Esta mulher é corada, com lábios rubros e bochechas rosadas, representando a Saúde, o bem impagável em torno do qual tudo gira, na saúde perfeita da Dimensão Metafísica, a dimensão onde as chagas orgânicas nada representam, havendo na Encarnação o momento do espírito encarar certas vicissitudes necessárias, resultando em precioso progresso espiritual, como um policial cumprindo uma missão, como um mandado de busca e apreensão. Os olhos da mulher estão bem despertos, e são cada um de uma cor. Essa diferença simboliza as inevitáveis diferenças entre as pessoas, pois cada pessoa é única, fazendo com que as diferenças sejam irrefutáveis – não quero que você concorde comigo; quero que você me respeite. Maturidade é entender tal pluralidade, como em ricas cores carnavalescas num grande baile iluminado. Os olhos fitam profundamente o espectador, e são duros, mortificados, dignos dos olhos da famosa máscara mortuária de Tutancâmon, num olhar frio, no qual não podemos sentir a sensação de empatia ou familiaridade. Os cabelos loiros são o ouro da Amazônia, ambicionado por potências mundiais, como o território americano sendo disputado por nações europeias durante as Navegações.


Acima, O Turista. O charuto é o falo, numa pessoa impositiva, que se coloca para o Mundo, desafiando este a aceitá-la. A mala cheia de adesivos de outras viagens é a trajetória de várias encarnações, com um espírito que já passou por muitos lugares em nome da depuração moral, o sentido de toda existência terrena. A mala é a reserva, os apegos, aquelas coisas muito essenciais que não podem ser deixadas de lado, nas cargas materiais, na necessidade de termos casa, comida e roupa lavada – é o peso encarnatório. A mala é como a carreira de alguém, numa pessoa que já fez muitos trabalhos, como um ator, que já interpretou muitos personagens, fazendo metáfora com a “carreira” de um espírito, que já viveu várias vidas na Terra. A mala são as cicatrizes, mostrando que temos história, contando uma história, um trajeto, como no currículo de um pretendente a uma vaga de trabalho, mostrando experiência e, assim, conquistando o emprego. O turista aqui está de alto astral, muito entusiasmado com a viagem na qual está logo a embarcar, na sensação gostosa de fuga, de conhecer outras terras, saindo um pouco do lugar familiar e rotineiro. O turista está nos abanando, despedindo-se, talvez num espírito desencarnando, pronto para voltar ao Imaculado Lar Primordial. Não é um “adeus”, mas um “até logo”, no modo como vínculos afetivos não se desfazem com Desencarne; também no modo como os vínculos de família não se desfazem com o Desencarne, pois, na perspectiva de Vida Eterna, haverá sempre tempo e espaço para o Perdão, o grande elixir que cura feridas d’alma. O turista está de bermudas, muito à vontade, das cores do Brasil, um país tão repleto de destinos turísticos, tão promissor quanto a destinos ainda por serem descobertos, com destinos como o Rio de Janeiro, Gramado ou o Nordeste, no modo como há perfeitamente agências de Turismo na Dimensão Metafísica, agendando visitas por colônias espirituais ao redor da Terra, na relação de continuidade entre Físico e Metafísico, fazendo uma transição suave entre uma dimensão e outra. O turista ainda veste uma gravata, como se tivesse recém saído do escritório, do lugar de labor. O nó da gravata é a Disciplina, o labor, a missão de trabalhar de Sol a Sol para encontrar a dignidade e a produtividade, na importância da produção de Disciplina. O bolso do paletó traz a palavra “renaissance”, ou seja, desencarnar é ressuscitar seguindo os passos de Jesus, no sopro de novidade que foi o Renascimento na Europa, lançando toda uma onda, toda uma vogue de tendências culturais, num grande momento para o Homem Europeu. O artista renasce a cada nova obra que produz, e a dignidade do labor traz renovação diária ao indivíduo, fazendo este se sentir pertencente ao Mundo. As meias do turista parecem dois cálices de vinho tinto, no prazer da degustação, de um happy hour, na hora de fazer uma pausa da sisudez e relaxar um pouco, desafrouxando a espartana gravata, numa hora de descontração e contação de piadas, como Tao, o grande palhaço. Este homem é corpulento e generoso, como um anfitrião recebendo convidados, no prazer de acolher e receber, como entrar num quarto de hotel bem limpo e confortável. O azul da camisa são os sonhos, num viajante que não vê a hora de sair pelo Mundo, numa viagem dos sonhos, como conhecer lugares como Paris e Egito. O boné verde é a fertilidade de terras fecundas como a Amazônia, fascinando o Mundo com sua natureza exótica e misteriosa, no fascínio que Carmen Miranda exerceu sobre a Terra, “vendendo” o Brasil, um país que tem que exportar mais imagem, e não só importar. Os óculos escuros estão prontos para majestosas terras ensolaradas, num Sol que, apesar de intenso, não chega a ofuscar os olhos. Este turista remete a Jô Soares, o comediante que surpreendeu a todos como entrevistador e escritor, no talento de sempre entrevistar com bom humor, no verdadeiro dom que é o da pessoa engraçada, uma pessoa que causa empatia e “arranca” gargalhadas dos outros. Tchau, meu amigo. Boa viagem. Aproveite. Divirta-se.


Acima, Séries Caras. O cabelo parece uma minhoca, numa dúbia confusão, pois não sabemos onde é a cabeça e onde é o bumbum. É um cabelo encaracolado de anjinho barroco. É uma minhoca lutando para sobreviver na horta, sendo impiedosamente caçada por um pássaro faminto, na luta que é a Vida, na necessidade prima de se obter Disciplina. Este quadro é cândido, e parece ter sido pintado por uma criança, num Gustavo Rosa que, mesmo depois de adulto, nunca perdeu sua porção criança, na importante necessidade da pessoa nunca envelhecer demais, sempre conservando uma pontinha de doçura e irreverência. O pescoço aqui parece ter confetes, na deliciosa guloseima Confete, cheia de drágeas coloridas de chocolate, numa época em que a Vida era mais simples, sem as amarguras que acabam por acometer tanta gente. O pescoço tem uma estampa de pacote de presente, quando a criança, desde pequena, ao ir aos aniversários dos amiguinhos, conhece os rituais de interação social, fazendo do presente um gesto de carinho e generosidade, enquanto o anfitrião recebe a todos com muitos doces, balões e brincadeiras – é a festa da Vida Eterna, em salões tão finos, tão aristocráticos, cheios de gente polida e paciente, que sabe que a Eternidade dá tempo para absolutamente tudo, havendo no nobre presente um símbolo de tal infinitude, um presente feito de material nobre, que dura muito tempo, como produtos fabricados com materiais muito bons, que desafiam a passagem do tempo, trazendo a qualidade acima da quantidade, como um prédio bem construído, que dura por séculos. O sorriso do lábio aqui parece um bumerangue, na lei do eterno retorno, no fato de que Joãozinho colhe o que Joãozinho planta, e se tenho uma vida produtiva, a vida é boa para mim; se fico perdendo tempo com fofocas, qual esperança há para mim? A pele aqui é rosada e saudável, impecável, como é a pele metafísica, sem qualquer ruga ou sinal de expressão, sequer com um poro, imaculada como uma folha de papel branco, numa mulher idosa que desencarnou e está vivendo eternamente, linda como no dia de seu casamento! É o rejuvenescimento pós-desencarnatório. Este quadro é bem iluminado, limpo, numa pessoa que decidiu pegar um pano e fazer uma boa limpeza, aproximando-se de Tao, o limpinho cheiroso. Na bochecha vemos um doce círculo rosado, representando a inocência daqueles que agem com apuro moral, pessoas que, ao ver que uma pessoa perdeu a carteira na rua, avisam esta pessoa, ao invés de catar silenciosamente a carteira para si – a Vida dá oportunidades constantes de apuro moral, no impecável apuro dos arcanjos, os espíritos que gozam da suprema felicidade, regendo os anjos, que são os espíritos que já compreenderam perfeitamente que a Moralidade vem acima de tudo, ao contrário da Dimensão Material, tão assoberbada de ambiciosos orgulhos egoístas. Aqui, o olho parece ter a pupila vazando, querendo se libertar, num desejo de se libertar, no presidiário que acordou no dia de sua libertação, sendo reinserido no convívio social, recebendo uma segunda chance, um voto de confiança. A Infância é uma época em que tudo é mais simples, e as amizades de Infância são eternas. Este perfil aqui transmite lisura e honestidade, numa pessoa que não pensa em burlar seus irmãos, seus companheiros de caminhada, havendo no sociopata uma pessoa mesquinha que está o tempo todo em busca de vantagens em relação a tais companheiros, num sociopata que não entende os conceitos de Irmandade, que são o sentimento de se colocar nos sapatos do outro e saber como este se sente. Aqui é como um perfil em uma moeda, só que um dinheiro metafísico, sem as obsessões terrenas em adquirir mais e mais dinheiro, numa impiedosa Sociedade de Consumo, a qual está sempre empenhada em nos empurrar produtos e serviços que não são tão importantes assim, afastando-nos da Simplicidade, do dia a dia de Tao, o Pai que despreza riquezas mundanas. O cabelo aqui é como de um palhaço, na beleza de um circo que, por mais belo que seja, levantará a lona e irá embora.


Acima, Surfista. Este quadro dá a sensação de Liberdade que se tem na beira da praia, um ambiente extremamente democrático, em que as diferenças são suavizadas e todos são filhos da mesma mãe Iemanjá. É uma orla bela e plácida, e podemos ouvir o acalentador barulho das ondas estourando, no barulho do Oceano, sempre chiando, sempre fluindo, com o delicioso odor de Mar, no puro hálito primordial que trouxe Vida à Terra. A fálica prancha aqui parece um pepino, na hilária colocação de Freud: “Às vezes, um pepino é apenas um pepino”, querendo dizer que vem tudo em formato de vara representa algo fálico. A bermuda aqui é alegre festiva, como se quisesse celebrar a diversidade, num mundo que, quanto mais diversidade tem, mais alegre e colorido fica. A bermuda traz um pouco de Mondrian, com seus retângulos dançando entre si, como um prisma que traz tantos tons, na magia das cores, como numa bandeja repleta de frascos coloridos de perfumes, numa bandeja banhada pelo Sol que entra pela janela do banheiro. É hilária aqui a obesidade do rapaz, muito longe do corpo atlético, num Gustavo Rosa irreverente. O homem aqui está muito tranquilo, sem pressa, sabendo que a Mar não fugirá. É a sensação libertadora de pisar na areia quentinha, banhada pelo Sol de Verão, numa areia pura e clara como açúcar, num lugar civilizado, onde as pessoas não jogam lixo na areia, nem jogam tocos de cigarro na areia, no infeliz fato de que há muitas pessoas que não respeitam a limpeza da areia... E Tao é assim, limpinho, civilizado, sempre primando pela ordem e pela organização. As ondas aqui requebram docemente, e a água parece ser doce como um suco de fruta. O Céu está intocado, absolutamente aberto, receptivo, na luta que é para um artista ser recebido e compreendido pelo resto das pessoas. O surfista aqui está plácido como o Mar à sua frente, na diversão que é pegar ondas, num momento de simplicidade em que os orgulhos materialistas nada significam, pois a Vida é boa quando é simples, em doces lembranças de brincadeiras de crianças. Os tons de azul aqui remetem a alguma fina fragrância, nas cores mediterrâneas, ou em orlas gregas, nas imensidões oceânicas, com tanta água ao redor do Globo, na explosão de Vida que é nosso planeta, no crescente discurso ecológico sobre o Aquecimento Global. Uma grande “cinta” verde envolve o surfista. O verde é a cor da vegetação, com pessoas que decidem se tornar veganas, rejeitando tudo de origem animal, num posicionamento mais que alimentar, mas político, recusando-se a usar produtos que foram testados em animais. Uma parte da bermuda é vermelha, na cor da sedução, da luxúria, nas cores de lojas como a Victoria’s Secret, exaltando os mistérios da Feminilidade, como uma mulher inebriando os homens com doce perfume feminino, no jogo de sedução entre namorados, no segredo de tal vitória – é o lado Yin da Vida, como dentro de um confortável lar, o útero acolhedor que com que nos sintamos em casa. A porção dourada da bermuda tem uma estampa que se parece com aves voando em bando, emigrando, nas forças sazonais, com as épocas do ano com temperaturas diferentes, na dança sazonal que rege tudo, inclusive vinhedos. Uma pequena faixa da bermuda é de um azul que entra em contato com o azul ciano e o azul marinho, num continuum de harmonia cromática, pois é só na Harmonia que há Paz, havendo na Guerra uma ruptura entre cores que não dialogam entre si, sem um ponto de predominância, sem negociação diplomática. O Mar aqui é retilíneo, como se concebido com uma régua e lápis, como no design dos anéis de Saturno, no modo como a Natureza extrapola os domínios terrestres e se alastra por todo o Cosmos, com galáxias jogadas na infinitude cósmica, como conchinhas à beiramar, numa praia deliciosa e sedutora, com namorados à luz do luar. Os pés descalços do surfista são a Simplicidade, como certos artistas que sobem no palco com os pés descalços, representando a Humildade, ou seja, os pés no chão. E o falo corta a cena de ponta a ponta, impondo-se altivamente, como um imponente templo clássico.

Referências bibliográficas:

Gustavo Rosa. Disponível em <www.catalogodasartes.com.br>. Acesso 14 ago. 2019.
Gustavo Rosa. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 14 ago. 2019.

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