quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Diga Oi para Oiticica



Simpatizante do Anarquismo, o carioca Hélio Oiticica (1937 – 1980) era artista multimídia, envolvendo-se em várias Artes. Em 1954 estudou no Museu de Arte Moderna do RJ, trazendo em sua arte questões sociais – passou pelo período ditatorial brasileiro. Nos anos 70, obteve bolsa na Fundação Guggenheim, de Nova York, fazendo uma mostra no Museu de Arte Moderna da urbe americana, tendo várias de suas obras hoje pertencentes ao arquivo deste museu. Hélio é considerado um grande pintor do Brasil, tendo em 1996 seu trabalho reverenciado pela Secretaria Municipal de Cultura do RJ, que fundou o Centro de Artes Hélio Oiticica, com acervo de HO e mostras. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Bloqueado. As linhas delgadas fazem diálogo com as linhas mais grossas, num diálogo entre fácil e difícil; entre liso e áspero, faces do mesmo trabalho, pois, como disse Caetano, cada um sabe a dor a delícia de ser o que é. O discreto azul marinho é a Discrição, uma pessoa produtiva que não quer aparecer muito pela Mídia, uma pessoa que não quer ser incomodada ao caminhar na Rua, nunca perdendo o direito de ir e vir do cidadão comum. Aqui, é como um painel arquitetônico de um prédio comercial ou residencial, no modo como as tendências estéticas se constituem em poderosas ondas de estilo, varrendo tudo e todos, quase nos obrigando a seguir tais tendências, como na Moda, na vogue atual de jeans rasgados, como se fossem sobreviventes de uma hecatombe nuclear, na ideia de força, de sobrevivência, como um artista com décadas de carreira, tendo que se reinventar para não virar peça de museu. Aqui, duro e mole se encontram, e as linhas são tanto racionais quanto instintivas. As linhas curvas são como serpentes se esgueirando pela imaginação do espectador, com animais fortes, que sobrevivem a condições semidesérticas, na força que a pessoa tem que ter para sobreviver e tocar a Vida para a frente. Temos um certo siso neste quadro, um recato, em algo que não quer chamar atenção sobre si mesmo, no necessário discernimento entre pessoa e trabalho – ter o trabalho exposto ao máximo é positivo; ter a própria pessoa exposta, nem tanto. Não deve ser fácil ser uma supercelebridade, uma pessoa que simplesmente não pode sair na Rua tranquilamente, ou ter que andar cercado de guardacostas, como pessoas ricas, sempre com medo de sofrer agressões como roubo e sequestro. Aqui, é como um vitral, com um respiro mínimo, com a luz só podendo entrar através das vias mais delgadas, num minimalismo, uma limpeza, como Tao, o limpo. Então, a Simplicidade entra como sinônimo de Limpeza, Pureza e Beleza, num ambiente mais do que limpo – higienizado. É o prazer de se deitar numa cama com lençóis muito limpos e perfumados, num anfitrião generoso, que recebe seus convidados da melhor forma possível, fazendo com que estes se sintam verdadeiros reis – é o prazer de receber. Não temos aqui uma explosão carnavalesca de cores vibrantes, mas cores discretas, puxando consideravelmente para o cinzento, como um quarto escuro iluminado pela fraca luz dos postes na Rua, fazendo com que o cômodo obtenha tons de cinza, desafiando-nos a descobrir quais cores seriam se o cômodo estivesse inundado pela luz solar. A Discrição é a invisibilidade, no modo como o Cosmos é incrivelmente translúcido, proporcionando que observemos galáxias nos confins cósmicos. É Tao, a cola invisível que mantém unida este grande família que somos todos. É como na foto de uma turminha de pré-escola, havendo na figura da professora a força gravitacional invisível que mantém a classe unida e coesa. Tao, nosso professor. Podemos ouvir aqui o som de Bossa Nova, num artista carioca, que sabe o valor de uma bela orla. Aqui, as linhas curvas remetem aos célebres calçadões do Rio de Janeiro, com a sensualidade das ondas indo e vindo, respirando, vivendo sensualmente, numa garota fina e discreta passeando, inspirando artistas. É a vitória da virtude sobre a vulgaridade.


Acima, Metaesquema. Uma sensual veneziana, deixando entrar o ar quente de uma tarde de Verão, ventilando, na sensualidade de algo que vive e respira, como no beijo de dois apaixonados. Aqui, a luz luta para entrar entre frestas mínimas. É como uma faixa de segurança, fazendo do contraste um recurso para se chamar a atenção, no modo claro e expresso de placas de trânsito, fazendo da mensagem simples e limpa uma mensagem forte, expressa, clara. É a lição da Simplicidade, na qual não há livro ou faculdade que ensine, no sentido de que cada um tem que aprender pro si só, fazendo com que a existência exija que o indivíduo seja autodidata. São como listras de zebra, num processo evolutivo de sobrevivência que dá certas características cromáticas aos bichos, como um urso polar branco, na metáfora de sobrevivência ao redor do camaleão, o bicho esperto que fica “invisível” não só para pegar vítimas como também para se proteger de predadores. É como a camuflagem militar, no soldado que tem que ficar invisível para pegar o inimigo de surpresa, no modo como não é interessante uma pessoa cujas pretensões podemos observar claramente, pois se sou antevisto, não poderei agir. São como serpente tensas, retilíneas, num covil, numa suruba, com todas as cobras se enroscando, como em um dos filmes da franquia Alien, em um momento em que Ripley, ao fazer parte da família alienígena, joga-se confortavelmente no meio das criaturas, na sensação de lar, de invólucro, de pertencimento, num lugar em que somos conhecidos e em que nos sentimos à vontade para sermos quem realmente somos, na questão da aceitação, no modo como a primeira pessoa a me aceitar tem que ser eu mesmo. Aqui, é o poder do contraste. São como fitas isolantes coladas, numa folha de papel. São como documentos com vetos, censuras, tolhimentos, num estado totalitário que não permite que os próprios cidadãos vejam a Verdade. São como tarjas sobre um corpo nu, havendo na proibição a raiz para a excitação, no termo striptease, ou seja, as tiras que provocam e instigam, num erotismo que se dissipa quando as tiras são eliminadas, na pureza da nudez, o modo como Tao nos concebeu, e Tao não pode sentir vergonha de algo que o próprio Tao criou, como na inocência de anjinhos barrocos. Aqui, as tiras são colocadas lado a lado para que seja feita uma comparação, e todas aqui estão palmo a palmo, e nenhuma é mais ou menos do que a outra, como numa excitante competição, em que os competidores têm as mesmas aptidões e fraquezas, num confronto justo, entre iguais em força. Então, o jogo começa e nações inteiras assistem para ver quem é o melhor, como num ringue, em que vence o que tiver mais vontade de vencer, entrando em campo de forma competitiva, agressiva, enérgica, sonhando em erguer a taça. São como pistas de uma mesma estrada, com uma hierarquia de velocidade – quanto mais rápido, mas à esquerda tenho que trafegar, deixando em paz aqueles que têm menos pressa, o que me remete a um acidente de carro que sofri com minha família há alguns anos, num baque fenomenal, digno de explosão de airbags, num momento de choque e ruptura imprevisíveis, tal qual neste contraste entre claro e escuro, ou seja, de um momento de passeio e prazer para um momento de dor e susto – felizmente, sobrevivemos todos. Aqui, é a marca que um trator faz numa lavoura, colhendo os preciosos grãos, alimentando nações ao redor do globo, nas competições mercadológicas que ocorrem naturalmente, remetendo a Adam Smith – o Mercado se regula por si só, havendo, porém, a necessidade de um estado mínimo. Aqui, temos a Disciplina de um cabelo recém penteado, devidamente com gel fixador, num momento de garbo e interação social, uma interação que exige impositivamente que nos aprumemos antes de sair de casa, num ato de autoestima, ao contrário de pessoas, que, por não amar muito a si mesmas, não se arrumam muito. Aqui, é a marca de serrinhas mínimas de uma faca sem ponta, passando manteiga no pão, no poder de Tao em distribuir, prover, alimentar e zelar. – sim, temos um Pai Supremo.


Acima, Metaesquema. Flores rompendo na Primavera. Explosões de campos magnéticos. Bombas explodindo simultaneamente. Pingos perturbando uma água plácida, no modo como um artista quer “perturbar”, quer provocar as pessoas, no poder apimentado da Arte, instigando calorosas recepções, provocando os corações e as percepções das pessoas, causando comoções no espectador, mostrando que a Arte é mais do que só beleza e contemplação. São os manifestos políticos no tapete vermelho da última edição do Festival de Cinema de Gramado. Aqui, são como estrelinhas ninjas, absolutamente afiadas e perigosas, num ato agressivo, de marcar algo, de causar cicatrizes, num artista que não suporta a ideia de ser ignorado, de passar em branco pelos olhos do espectador. Aqui, o fundo é de um papel pardo, ecológico, como se soubesse que a fabricação do papel branquinho causa dano ambiental. O papel pardo é cru, natural, recém extraído da Natureza, numa Humanidade que está fortemente vertendo para o discurso ambiental, nos quatro cantos do Mundo, como mais uma prova da universalidade do Ser Humano. Aqui, são como conchinhas à beiramar, nos pequenos presentes que Iemanjá nos envia, na generosidade da Grande Mãe, de Tao, a grande mesa farta de galeteria, no sonho de fartura que se passava pela mente do pobre imigrante italiano, o qual enfrentou tanta dureza na chegada à América. Aqui, é uma frota de aviões, ou óvnis ameaçadores, tramando um ataque, uma ofensiva, cujas preliminares tiveram que acontecer sob sigilo absoluto, fazendo metáfora com Tao, sempre agindo quietinho nos bastidores, como se soubesse que falharia caso sua intenção fosse revelada antes do tempo, ou seja, nunca deixe que vejam sua pretensão, pois se prevejo você, você não me surpreenderá. Aqui são rótulas de um sistema viário complexo, quase confuso, no qual só um habitante da própria cidade pode se locomover tranquilamente. São as rótulas de uma engrenagem industrial, consumindo muita energia elétrica e força de trabalho, numa empresa pujante, bem sucedida, como na Metalúrgica Eberle na II Guerra Mundial, no modo como tais conflitos acabam por envolver cada canto de um planeta, com alienígenas avançados nos observando e nos reprovando, achando-nos arcaicos e medíocres. Aqui são como naves num clássico videogame Atari, na época em que a tecnologia digital começou a se alastrar pelo Mundo, e quem viveu tal época pode ouvir os efeitos sonoros desses jogos, numa época infantil na qual a Vida era mais simples. Aqui são vários helicópteros armando um ataque, uma ofensiva, ou uma manifestação pacífica sob os céus de uma nação pacífica, em um dia de celebração cívica. Podemos ouvir o som dos aviões cortando o Céu, com a multidão bradando animadamente, com crianças encantadas com as máquinas voadoras. Aqui, é como uma reunião, com uma hierarquia – há os grandes e há os pequenos, como numa família. São morcegos voando em bando, na escuridão, apenas se guiando sonoramente, num instinto em busca de comida, uma das funções mais básicas da Natureza. Esses xadrezes são como tabuleiros modificados, passando do formato plano para uma torção, com algo em duas dimensões sendo revertido para três dimensões. São como árvores num pé, esperando pela colheita, a qual não pode demorar para acontecer, sob a pena da fruta apodrecer no pé. São como moscas, ou abelhas num enxame, como se soubessem que da União nasce a Força. São luas de diversos tamanhos orbitando o mesmo planeta pai, como no encanto exótico das luas de Júpiter, num Ser Humano ainda tão ignorante em relação ao que nos cerca. São mosquitinhos orbitando a mesma lâmpada mãe, amamentando-se das mesmas tetas, num ato de compartilhamento, no modo como é positivo compartilharmos o que temos, pois quanto mais egoísta, mas infeliz.


Acima, Seja marginal, seja herói. Um manifestante jogado no chão, sangrando, tolhido por um sistema político no qual o cidadão é vigiado e controlado, na especialidade ditatorial. O vermelho é a cor do Comunismo, numa época no Brasil em que o cidadão sequer podia caminhar calmamente na Rua com um livro de capa de vermelha, pois, se o fizesse, um policial o abordaria e pediria para examinar o livro – caso fosse um livro marxista/comunista, o cidadão era encaminhado a uma delegacia para se explicar. Aqui, o homem está numa posição de crucificação, só que de cabeça para baixo, num país virado de cabeça para baixo, numa época em que os porões da ditadura não eram visíveis ao cidadão comum. O quadro traz gritos de ordem, convidando o indivíduo a se rebelar, a ser uma anomalia em um sistema doente, heroificando aquele que ousar de opor ao sistema, em um ato que exige muita coragem, numa pessoa sendo presa e torturada – se eu tivesse vivido aquele período, eu me “faria de morto”, e não soltaria um piu, pois quem não cutuca o tigre com a vara curta, não é mordido. Como Tao diz, é melhor ficar quietinho. O quadro é da cor do vestido da então primeira dama nacional Marisa, na primeira posse de Lula – é claro que não foi aleatória a escolha da cor da roupa. É a capa de Drácula, sedento por ingênuos pescocinhos, na malícia de um sociopata pedófilo, que se aproveita da inexperiência das crianças e adolescentes. O homem abatido aqui parece estar sendo arrastado pelos pés, seja por um amigo ou por um policial, ou seja, sendo salvo ou sendo preso, no modo como a Morte acaba salvando a Vida de uma pessoa! O homem aqui está entregue, passivo, inconsciente, sendo arrastado por uma onda, talvez sendo severamente punido pelo crime de desobediência civil, num quadro que certamente seria proibido e censurado na época da ditadura, pois as palavras de ordem seriam consideradas subversivas, conclamando os cidadãos à desobediência – o ditador tem medo, como um certo país, cujo nome não mencionarei, um país que é uma ditadura disfarçada, ditatorial ao ponto de permitir que sejam exibidos filmes que são tranquilamente exibidos no resto do Mundo. O ditador tem muito medo da produção intelectual, das elites intelectuais, como num sofisticado Chico Buarque, com uma sutileza e uma ironia, que expunha a ignorância ditatorial, no modo como Elis Regina chamou os militares de “gorilas”. Podemos ouvir aqui o som de bombas de efeito moral e tiros de balas de borracha, talvez balas de verdade, no modo como a repressão a certos cidadãos serve de exemplo par assustar o restante dos cidadãos, como num Tiradentes, esquartejado, com seu cadáver exposto, com o objetivo de assustar o cidadão comum. Opressão e Terror. O Ser Humano é assim mesmo, atrelado ao Poder, sempre ao Poder, muito distante de Tao, o dirigente no qual sabemos que podemos confiar. Jesus Cristo foi considerado marginal, sendo rigorosamente processado e executado, tornando-se, depois, herói, na promessa de que um pouco de sacrifício pessoal pode ser vantajoso, pois nunca ouvimos que vem antes o dever e depois vem o prazer? Ou será que vivemos um mundo cruel onde o prazer, o inocente prazer, é visto com maus olhos? O que o Mundo quer de nós afinal? Aqui, é a filosofia do “hoje eu me ferro, mas amanhã colho os doces frutos”. Será tais frutos virão ou será que estou me ferrando em vão? Onde está meu autorrespeito? É positivo sofrer tanto? Aqui, corre por água abaixo o sangue do Salvador, um espírito que trouxe conceitos e pensamentos que até hoje o Ser Humano tem dificuldade em assimilar, num espírito muito, muito avançado e depurado, um espírito que rejeita veementemente pedras preciosas, bens que não sobrevivem ao Desencarne – nunca ouvimos que vão-se os anéis e ficam os dedos? Como na maravilhosa cena de uma cinebiografia de Tina Turner, com a cantora tirando todas as joias, abraçando uma vida mais simples e menos sofrida.


Acima, sem título. Barras de uma prisão, ou como os uniformes de prisioneiros de campos de concentração, no modo como a crueldade humana pode alcançar patamares vertiginosos. A luz vem entre as barras como um sinal de esperança, num detento contando as longas horas de exílio, numa espécie de purgatório, como uma pessoa que se suicidou e, ao desencarnar, vê a bobagem que fez, pois a Vida é um bem inestimável, em oportunidades plenas de aprendizado, pois a depuração moral é o sentido da Vida. Aqui, são como prédios de Arquitetura ousada, em urbes modernas e vibrantes, cheias de demonstrações de inteligência e bom gosto, no modo como é feliz aquele que faz um trabalho bem feito, com cuidado e competência, amando, cuidando, pois sem Amor, não há coisas boas... Aqui, o contraste é a ordem do dia, e não vemos incertezas de dúbios tons de cinza, mas uma mensagem expressa e clara, como faixas de segurança, com a finalidade de chamar a atenção em torno de cuidados, e aí vem o Amor de novo. Este é um quadro repleto de linhas tensas, retas, sem espaço para linhas tortuosas ou duvidosas, ou insinuantes. Hélio faz uma brincadeira com tais contrastes, numa espécie de arco-íris em preto e branco. Aqui, temos o brilho de uma superfície prateada, num metal cromado, na cor que por tantos anos marcou o Cinema, no termo silver screen, ou seja, tela prateada, com joias de estrelas brilhando e encantando o Mundo, espalhando glamour e beleza, no apaixonante poder da Arte em encantar e transportar o espectador a outros mundos, outros lugares, na missão do artista em ser o guia dessa viagem. Aqui, a luz entra por janelas venezianas, na sensualidade de uma tarde de Verão, em um jardim plácido e verde, com a doce brisa fazendo farfalhar a vegetação, num período de férias, de descanso, com o doce cheiro de flores de plátanos no Verão, nas frutas da estação, como abacaxis ou figos. Então, crianças brincam na piscina, de férias, no merecido descanso dos que se esforçaram durante o ano e foram aprovados para o ano seguinte. Na porção mais inferior do quadro, vemos um discreto retângulo cinzento, num ponto de exceção, de discordância, uma parte da obra que não quer fazer parte do truncado jogo de contrastes. Esse retângulo é o livre arbítrio, numa pessoa que tem a liberdade para escolher de que lado quer estar, numa pessoa que pensa diferente, que pensa acima de mediocridades, tendo a liberdade para alçar seus voos, em busca de uma identidade, não suportando ser apenas mais um medíocre tijolo em uma parede de indistintos tijolos. É a vitória da Sofisticação sobre a Mediocridade, no modo como dá gosto conversar com uma pessoa cuja cabeça vai muito além da esquina... Aqui, são hastes de um cesto de vime, no poder transformador do Artesanato, na capacidade plástica de pegar elementos e, com estes, fazer algo novo. Aqui, é um aviso expresso, como se quisesse alertar para o risco de choque elétrico, alertando-nos para que mantenhamos respeitosa distância, sob a pena de morrermos eletrocutados. Se amo alguém, alerto esta pessoa sobre os perigos, querendo preservar as pessoas, com puro amor fraternal, amizade, no modo como, no fim das contas, tudo se resume aos amigos que fizemos em vida, sejam eles parentes ou não. Aqui, é como uma tabuleiro de Xadrez alongado, distorcido, como se estivesse sofrendo a influência de fortes ondas gravitacionais, nas forças cósmicas que regem um Cosmos tão enigmático, cabendo aos cientista sonhar e lutar para explicar cientificamente tais sonhos, com criancinhas pequenas, olhando para as estrelas no Céu noturno, querendo saber mais e mais. Aqui, as linhas são desobedientes, e ficam invadindo umas às outras, e não temos um puro e simples tecido estampado com comedidas listras, mas listras rebeldes, que não se conformam com o espaço que habitam, no natural desejo do encarnado em desencarnar, pois pergunte a um prisioneiro se este gosta da prisão. Podemos ouvir o som de grades sendo fechadas, num prisioneiro que tem que decidir o que fazer com o tempo vago.


Acima, sem título. Vemos aqui um tanto de Mondrian, só que com mais cores do que as cores básicas deste. É um kilt, com linhas se entrecruzando, com pessoas passando umas pelas vidas das outras. É como uma cidade de crescimento não organizado, não planejado, com quarteirões de tamanhos e formatos diferentes, com quadrados e retângulos, sem linhas tortas. É como um vitral moderno, no encanto de luzes coloridas banhando o interior de alguma estrutura, no modo como as cores sempre fascinaram o Ser Humano, algo que me remete a um colega de aula que tive, um homem com uma espécie de daltonismo no qual só podia enxergar o Mundo em preto e branco. Aqui, é como a vista aérea de alguma cidade ou clube, com amplas piscinas azuis, num Éden sintético, construído pelo Homem, nos encantos de um lugar paradisíaco, como num sedutor resort, ou num luxuoso navio de cruzeiro, no período de férias, num casal em lua de mel, desfrutando de mordomias. São como as ruas e avenidas de Manhattan se entrecruzando, num tecido urbano complexo, numa malha viária. Aqui, são como fios de malha sendo entrecruzados para que sejam concebidas luxuosas peças de roupa, no poder transformador de transformar um novelo e um suéter, e temos aqui uma roupa alegre e carnavalesca, num Hélio que acreditava na doçura da Vida, sem tanta sisudez. Aqui, são como confetes retilíneos jogados aleatoriamente. Vemos várias partes em dourado, como nas cores amareladas da superfície de Vênus, como numa aurora terrena, banhando de ouro os céus, na cor amarela das rochas que compõem o legado arquitetônico egípcio, na ancestral ambição humana de acumular metais preciosos, havendo nos metais nobres uma metáfora com a nobreza da Eternidade Psíquica, sendo o ouro material uma mera cópia grotesca, assim como uma fotocópia é uma cópia grotesca de uma fotografa colorida. Aqui, são como as várias canchas de tênis de um complexo esportivo, num torneio, com várias partidas sendo disputadas ao mesmo tempo, com a plateia disputando por assentos em jogos entre dois grandes tenistas, havendo na competitividade uma inevitabilidade social, num Ser Humano querendo sempre ver quem é o melhor nisso ou naquilo. Aqui, é como um tabuleiro de Xadrez que enlouqueceu, explodindo em cores e em distorções geométricas, negando o preto e o branco e negando também a Simetria. Aqui, temos um quadro que odeia Simetria. Vemos formas em verde, como impecáveis gramados de futebol, prontos para serem “desvirginados” pelas furiosas chuteiras dos jogadores, no prazer da violação, do “estupro”, como uma chave entrando numa fechadura e abrindo uma porta, num ato de libertação, de êxito, num campeão erguendo sua taça, fazendo metáfora com o constante sentimento de vitória que toma conta da Dimensão Metafísica, o lugar onde a Carne perece perante o Desencarne. Aqui, as formas rubras são como tijolos, no paciente trabalho de formiguinha de empilhar peça por peça, numa paciência, de quem sabe que de grão em grão o papo se enche. É a crueldade humana em empreender o trabalho escravo, fazendo da Terra um odioso lugar onde a impolidez é regra... E vemos aqui formas mais claras do que o restante, com formas que parecem ser um respiro, canais por onde a luz pode passar, tornando-se vitoriosa, como no sentimento de uma cerimônia de formatura, num aluno que concluiu aquilo que começou, havendo o sentimento de desconexão naqueles que não concluíram os estudos. Aqui, são barras randômicas, sempre dançando num baile entre latitude e longitude, num corpo dinâmico, com portas sendo abertas e fechadas, como num jogo de adivinhações, num corpo que não pode receber definições definitivas. É um quadro que nos mostra que tudo é processo, e a que a Inteligência é um corpo dinâmico, que nunca traz um ponto final. É a Eternidade, esta varanda pela qual podemos observar que jamais morreremos, fazendo da Imortalidade o maior presente que Tao pode nos dar.

Referências bibliográficas:

Hélio Oiticica. Disponível em <www.bolsadearte.com>. Acesso 21 ago. 2019.
Hélio Oiticica. Disponível em <www.escritoriodearte.com>. Acesso 21 ago. 2019.
Hélio Oiticica. Disponível em <www.moma.org>. Acesso 21 ago. 2019.
Hélio Oiticica. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 21 ago. 2019.

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