O carioca Ivan Serpa (1923 –
1973) morreu jovem. Multipremiado, participou de muitas bienais em São Paulo, Veneza e
Zurique. O Museu de Arte Moderna do RJ já fez três retrospectivas sobre Serpa.
Uma obra de Ivan pode custar até quase meio milhão de reais. Os textos e
análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Composição. Um tabuleiro de Xadrez subvertido, num ponto em que o
clássico e o convencional se chocam com uma inovação, uma impetuosa agressão
cultural. O tabuleiro é um espaço frio, feito para a mentalização mortificada,
num contexto em que as emoções não têm vez, numa construção técnica, onde
emoções como Ódio e Raiva não têm vez, no inevitável caminho de depuração
mortificante, eliminando a construção de expectativas, pois quem não tem
expectativa, não se machuca com a triste desilusão, havendo na desilusão um
papel importante, pois a frustração serve para colocar os pés da pessoa de
volta ao humilde chão, rechaçando arrogâncias egocêntricas, na eterna tendência
do Ser Humano em colocar o Ego no centro de tudo, do tipo “não nasci para esperar;
nasci para ser esperado”, como um popstar que, ao pisar no palco, pisa horas
depois do prometido, buscando, assim, ser mais valorizado pela plateia, mas é
um tiro que sai pela culatra, pois pisar no palco com horas de atraso é um
desrespeito para com o cidadão que comprou o ingresso. Aqui, as faixas
retangulares são como uma pista de corrida, na diversão que é assistir a uma
competição, para ver quem merece mais vencer, numa competitividade que começa
logo cedo, no Ensino Fundamental, com alunos tirando notas diferentes, sendo
alguns poucos alunos os queridinhos do professor, pois um aluno aplicado dá
sentindo à Vida Docente. Aqui, o verde é vibrante, perfumado, numa Flora
exuberante, tropical, carioca, num Serpa que nasceu e cresceu em meio às
maravilhas naturais do Rio, com suas florestas, morros e praias, com corpos
bronzeados e pessoas vivendo a Vida ao ar livre. O verde é como uma esmeralda,
conciliando duas cores diferentes – o azul e o amarelo –, cores que estão em
guerra por causa de diferenças, havendo no verde a intermediação diplomática,
com esforços visando a manutenção da Paz, num verde que sabe que não curará os
problemas do Mundo, mas num verde que é a promessa de um mundo menos aguerrido,
ou seja, a Dimensão Metafísica, o lugar onde há Harmonia; um lugar onde os
medíocres caprichos do Ego simplesmente desaparecem, sendo o Umbral o destino
daquele indivíduo que insiste em desarmonizar – tudo em seu lugar. O fundo
cinzento deste quadro foi cuidadosamente composto, num trabalho paciente. O
cinza é a cor da prata, da Era Dourada do Cinema. Existe todo um charme ao
redor da imagem sem cores. Este fundo em preto e branco faz uma oposição à
vibração cromática do verde, combinando doçura com sisudez. O tabuleiro é então
o cenário desta guerra, e tanto o time branco quanto o time preto pode vencer,
uma acirrada disputa, numa pessoa que deixou de ser covarde e que decidiu
enfrentar alguém à sua altura, numa luta justa na qual um simples gol pode
definir o vencedor. Aqui, é como uma máquina de malharia, tecendo suas malhas,
suas roupas refinadas e belas, artesanais, charmosas, e estamos aqui num
momento de construção, em que o produto final ainda não tomou corpo. É o trabalho
de um costureiro, pegando um novelo e transformando em roupa, no poder
transformador das mãos artesanais, no prazer em produzir coisas novas, coisas
belas. Não temos curvilíneas liquidiscências neste quadro, e é um quadro duro,
cheio de arestas a serem aparadas. Podemos ouvir o barulho automático da
máquina de tear, num momento de pleno turno de trabalho, com coisas sendo fabricadas
e negociadas no Comércio, nas eternas relações de trocas dos Seres Humanos, num
contexto em que o dinheiro simplificou tal sistema de trocas. Aqui, é como a
fachada de um moderno prédio, nos sonhos de um bom arquiteto, como se este
quisesse reproduzir a fachada de um prédio do qual o próprio arquiteto quase se
lembra, num esforço de depuração visual.
Acima, Formas Diferenciadas. Em meio a tantas linhas retas e ângulos
retos, o quadro traz uma breve curva, como se fosse um momento de lazer em meio
a uma espartana rotina de trabalho e esforço. É como se fosse uma caçapa nua
mesa de Bilhar, e podemos ouvir o som de uma partida de Sinuca, com as bolas
batendo umas contra as outras, num jogo de tensão, no qual há o prazer de
defloração do buraco da caçapa. Aqui, é como se houvesse um piso quadriculado,
com as marca da passagem de um veículo, havendo então uma breve curva, um momento
doce e liquefeito, num momento de fluidez macia e prazerosa, como se sentar em
uma privada e fazer as necessidades fisiológicas. Aqui, temos um quadro escuro,
como se fosse num quarto em penumbra, numa luminosidade ideal para quem quer
descansar, numa penumbra que não quer ferir os olhos mas que, ao mesmo tempo,
não quer encarar um breu total, como no momento dúbio do dia em que a luz do
dia vai se rendendo à escuridão noturna. Este quadro é como um brasão
aristocrático, conotando poder e nobreza, havendo nos sangues azuis mundanos a
metáfora com o sangue estelar que corre nas veias de todos nós, mas,
infelizmente, nem todos nós nos damos conta disso, e então o Ser Humano fica
deslumbrado com as dinastias terrenas, ignorando a Mãe Nobre de todos nós; a
Virgem Mãe Metafísica. Aqui, duas longas linhas retas cruzam em diagonal o
quadro, num rastro, num vestígio, numa impressão digital, como se fossem
evidências encontradas na cena do crime. Nessa curva em forma de C, parece que
a pessoa teve que enfrentar um percalço, um contratempo, fazendo com que a
pessoa adquirisse um certo atraso, uma certa desvantagem para com o oponente
que não precisou fazer curvas de contorno. São os inevitáveis percalços,
exigindo que a pessoa tenha a calma e a paciência para lidar com tais
obstáculos, os quais, por suas vezes, tratam de deixar o caminho mais rico e
educativo, no prazer olímpico em vencer etapas, como nas fases de um jogo de
videogame, num caminho cheio de obstáculos a serem vencidos com elegância
olímpica, pois qual seria o sentido de uma vida absolutamente desprovida de
vicissitudes? Nenhum. Esta curva é como um anzol, numa paciente posição
passiva, num paciente e calmo pescador que sabe que, cedo ou tarde, a isca será
mordida, numa posição de espera, como um caçador armando sua emboscada. Aqui, é
como se fosse uma foice fazendo seu árduo labor, nas mãos calejadas de um
agricultor, como meu tataravô Felice Veronese, imigrante italiano. Esta curva
traz sinuosidade a um cenário tão pragmático e direto, como no pensamento de um
jogador de algum esporte, cujo objetivo é pura e simplesmente vencer, num
ambiente técnico, absolutamente desprovido de glamour ou de emoções. A curva é
como um receptáculo, talvez armazenando água da chuva, num paciente trabalho de
reserva, talvez num animal fazendo uma reserva, uma despensa para os duros dias
de Inverno, num investimento. Esta curva é a sinuosidade de uma estrada
sedutora e perigosa, num “canto de sereia” que pode ser traiçoeiro, como num
feitiço, havendo no Pensamento Racional um ambiente no qual as emoções são
submetidas a uma impiedosa luz desbravadora, esclarecedora, mortificante. É um
quadro com tons terrosos, na Mãe Terra que gerou a Vida, num piso muito
simples, de terra mesmo, como numa aldeia indígena, com os pés nus dos índios
pisando em bosques e florestas. A terra é a base, no termo “pés no chão”, ou
seja, é a referência, no modo como não devemos cortar laços com nossas próprias
famílias, pois os laços familiares são importantes ao ponto de não se
dissolverem com o Desencarne. Esta grande reta delgada é como um mastro de
bandeira, nos rituais patrióticos de içar um pedaço de pano, tentando incutir
nas crianças o amor à Pátria, ao chão, fazendo com que o cidadão se sinta
pertencente a um lar, uma proveniência, uma Mãe. É a fálica lança pescando, na
eterna luta pela Vida, pelo sustento, e a curva é como se fosse um túnel,
trazendo-nos para as entranhas de um mundo tão estranho e familiar.
Acima, Máquina de escrever e guache sobre papel. Um painel de muitas
pastilhas, composto com paciência. É como na recepção de um prédio dos anos 60
ou 70, num luxuoso hall que conota dinheiro e poder. É como hoje, na Era
Digital, com muitos pixels formando imagens digitais, sepultando para sempre o
uso de filme fotográfico, no galgar veloz das tecnologias, num Mundo que muda
rapidamente, facilmente abortando tecnologias as quais, em certa época, eram o
chuá da novidade, no modo como as gerações de pessoas vão se sucedendo, isso
para fazer metáfora com as novas gerações de aparelhos eletrônicos, no modo
como, um dia, Patrícia será nome de idosa: “Olá, dona Patrícia!”. Aqui, temos
um discreto azul marinho, com as entranhas aquosas do planeta, uma esfera tão
singular e rica em Vida, num Ser Humano que envia sondas a outros planetas, só
encontrando, até agora, mundos inóspitos, áridos, ou muito quentes, ou muito
frios, numa busca que vai durar para sempre, como um náufrago emitindo sinais
de SOS – será que estamos a sós? Aqui, é como uma malha tecida, com fios se
entrelaçando, assim como na demanda existencial, com pessoas passando umas
pelas vidas das outras. Aqui, temos a inevitáveis imperfeições da Vida, pois há
lugares em que não há pastilha alguma, pixel algum. São como lacunas, enigmas,
numa pessoa que tem que tentar entender uma vida tão enigmática e hermética.
São as lacunas do caráter, numa pessoa que está vivendo para aprender e, assim,
tornar-se uma pessoa de maior apuro moral, pois os de pouco apuro moral sofrem,
hipnotizados pelos ilusórios sinais auspiciosos da Matéria, das coisas. Apesar
da predominância de azul aqui, temos partilhas vermelhas, da cor do sangue, nos
laços de sangue de família, os quais sobrevivem ao Desencarne. Este painel
parece ter sofrido um débito, um dano, uma agressão, e está um tanto debilitado,
avariado, como se tivesse voltado de uma guerra, de um embate, com pixels sendo
perdidos ao longo do caminho, atendo-se apenas aos pixels mais necessários e
vitais, atendo-se ao que importa, que é o Amor à Vida. Aqui, é a complexa dança
dos cubos mágicos, com quadrados indo para cá e para lá, desafiando o jogador a
resolver um enigma. Os pixels aqui estão em trânsito, e não estão estáticos,
num cenário em constante processo de desenvolvimento e crescimento. As lacunas
nos falam das inevitáveis lacunas da Vida, numa existência que está sempre
longe de ser perfeita, como num tecido puído, danificado, velho, cheio de
cicatrizes de lutas e aprendizados. Aqui, temos alguns pixels mais escuros e
imprevisíveis, no modo como, definitivamente, a pessoa não tem como saber tudo
o que lhe acontecerá, num jogo de charadas e surpresas, num momento em que nos
acontece aquilo que menos esperávamos, na sensação de se colocar o dedo numa
tomada elétrica. Este quadro traz uma grande imperfeição, propositalmente, na
beleza dos processos infindáveis, na fluidez da Eternidade, numa vida que
jamais cessará, algo que está extremamente além da compreensão humana. Aqui, há
um cenário de deterioração, num processo de degradação que levou muito tempo
para avançar, como descobrir a tumba do rei Tut, com objetos que desafiam a
passagem do Tempo, havendo no Ser Humano esta intenção perene em fazer o Tempo
parar, como se tivesse na mão um controle remoto, na ilusão de que podemos
controlar a Vida, acelerando ou evitando etapas, ou querendo eternizar um momento
de prazer. Aqui, é como se uma bola de futebol tivesse acidentalmente atingido
o painel, no desenvolvimento de Agressividade, na essencial pitada de Yang.
Este painel pede um trabalho de restauração, como um paciente arqueólogo
juntando peças de um infindável quebracabeça, no esforço para reproduzir um
momento que já passou. Aqui, temos um momento passando. As partes azuis formam
um oceano, e as partes de outras cores formam terras, ilhas, num complexo de
ilhas, desafiando o Ser Humano a batizá-las e categorizá-las, enchendo de nomes
e graça um mundo tão sem nome.
Acima, sem título. Uma flor
se abrindo de forma igual para todos os lados, simetricamente. Aqui, temos um
aspecto de que o quadro passou por um cristal muito puro e translúcido, assim
como na atual identidade visual do canal Globonews, com a logomarca do canal
sendo distorcida pela passagem de linhas diagonais que dão esse efeito de
cristal. Neste quadro, temos um claríssimo centro, com tudo girando em torno
deste. Este “cristal” traz um certo contraste, fazendo com que estas linhas
horizontais não sejam as mesmas ao atravessar o quadro no sentido
esquerda/direita. São as aristocráticas listras da famosa máscara mortuária do
rei Tut, em uma estética universal e atemporal, nas intenções humanas de
estabelecer um sentido ao Mundo Metafísico, havendo nas tradicionais sucessões
dinásticas de sangue um modo de compreender o fato de que, na Dimensão
Metafísica, não há a passagem de Tempo. As listras são a sucessão entre dias e
noites, e têm um charme masculino, racional, não muito liquidiscente. Cortando
o quadro de cima para baixo, bem ao centro, vemos que essas rígidas listras
sofrem uma sutil deformação aquosa, como se tivessem sido passadas por um
pincel, trazendo um pouco de fluidez aquosa a listras tão rígidas e
disciplinadas. É o recreio, a pausa, o momento de descanso em meio a um mundo
que exige tanta, tanta disciplina do indivíduo, como nas punições aos alunos
indisciplinados, num indivíduo o qual, desde muito cedo, é cobrada na questão
da Disciplina e do bom comportamento, nas punições expressas que são os
presídios e as sentenças judiciais. Este quadro não é todo bicromático, pois
vemos duas barras horizontais centrais – uma em marrom e outra em azul marinho.
A marrom parece ser de madeira, no talento plástico de se cortar uma árvore e
transformar esta em um móvel, no modo humano de encontrar serventia em uma Natureza a qual
nada entrega de graça, como no trabalho tribal de caça e coleta. A barra marrom
parece estar banhada de óleo de peroba, no prazer de se entrar numa sala de
visitas perfumada, limpa, acolhedora, com um anfitrião polido e agradável, na
beleza das salas metafísicas, um lugar de fineza e gentileza, na esmagadora vitória
da Classe sobre a Vulgaridade. A barra azul é discreta, como se não quisesse
chamar muito a atenção do espectador, querendo passar despercebida, invisível,
sem querer ser prevista ou detectada, como se soubesse que tem que passar
despercebida para vencer. Aqui, vemos uma dança entre dourado e rosa, na
obsessão humana em obter ouro, em obter as riquezas mundanas, esquecendo-se do
propósito moral da existência, falhando, assim, em se tornar alguém melhor,
deixando o próprio caráter ficar corroído e empobrecido por tal obsessão
materialista, pois quando mais tenho, mas longe da Simplicidade estou, e a Vida
só é boa quando é simples, como nos doces momentos de Infância, quando o
indivíduo ainda não aprendeu sobre os defeitos humanos. Este quadro é como uma
grande estrela, uma supernova estourando e de espalhando igualmente por todas
as direções. É o modo do artista em querer ser uma estrela, virando referência aos
navegadores, brilhando para sempre num céu de fino cristal, com finos copos,
com um delicado tilintar, conotando Limpeza e Beleza. É o sonho de um artista, como
numa rainha da Festa da Uva, uma moça que tem que ter alma de artista para,
assim, brilhar e marcar época. Aqui, é uma perturbação contundente, causando
comoção e tumulto, como uma bomba atômica, no momento de consagração de um
artista. Este quadro fala da invisibilidade de Tao, o pai de todos nós, o ser
que nunca se coloca na frente dos outros, deixando aparecer e transparecer a
sua Grande Família, sendo a cola primordial que une as pessoas, como no poder
unificador de um patriarca ou uma matriarca, como numa família reunida em uma
véspera de Natal. As listras douradas aqui ficam mais claras ao centro do
quadro, como se fosse no romper de uma aurora, a deusa dourada que nos leva a
uma dimensão melhor, no modo como tudo de material gira em torno do imaterial,
numa hierarquia.
Acima, sem título. Uma
tapeçaria indígena, com formas geométricas com arestas, com agressivas pontas
de faca, ou injeções de agulha. É um quadro totalmente simétrico, equilibrado,
como se um espelho tivesse sido colocado no meio da obra. O fundo é um bege
neutro, na discrição das cores neutras, como numa Suíça, diplomaticamente
neutra, formando uma necessária casa de diálogo entre tribos que não se
entendem diretamente. É o trabalho pela Paz, pois esta é um valor universal,
havendo na Dimensão Metafísica muita Paz, com pessoas vivendo suas vidas de
forma tranquila e calma. Este quadro remete às tapeçarias indígenas que decoram
o hotel mal-assombrado de Stephen King, um lugar construído em cima de um
cemitério indígena, como os índios estivessem se vingando em relação ao modo
como o Homem Branco destituiu o Índio, o qual era, por muito tempo, dono e
senhor das terras das Américas – o Ser Humano é cruel e ambicioso. A maioria das
formas aqui é triangular, na universalidade do formato piramidal, com potências
militarmente temidas, no jogo de forças aguerrido que, infelizmente, rege o
Mundo, para ver quem tem o falo maior, fazendo com que as guerras deixem
rastros de fome e destruição – beleza zero. Há aqui poucas formas negras, como
grandes morcegos batendo asas pela escuridão, em busca de comida. O preto é um
submundo, um subconjunto com seus próprios subvalores, num mundinho à parte que
faz com que a pessoa, ali imersa, comece a perder contato com valores
fundamentais como gentileza, polidez, discrição, sutileza e cavalheirismo. É
uma negra porta estreita que leva ao nada, à destruição, numa vida devastada
pelas drogas, numa devastação sem qualquer chance de reconstrução. São os anjos
negros da noite, angariando escravos, semeando sofrimento. É um negro túmulo
fechado, sem qualquer raiozinho de Sol. As formas cinzentas são os dias cinzas
de incerteza, a incerteza que permeia a Encarnação, como se fosse um castelo
sendo disputado pelo Bem e pelo Mal, na liberdade que o indivíduo tem em optar
por seu próprio caminho, havendo aqueles que mergulham na escuridão e perdem-se,
jamais voltando para contar uma história de sobrevivência. Vemos uma pequenina
forma vermelha, no sangue disputado pelos vampiros, fazendo metáfora com os
psicopatas, que são vampiros de almas. O vermelho é a sensualidade, a
feminilidade, na sedução de uma mulher de vermelho, no interior perfumado das
lojas Victoria’s Secret, como no interior rubro de um bordel, com tudo
cheirando a sexo, no pecadinho da Luxúria. Vemos uma pequena forma em azul, na
promessa de dias ensolarados, sem a incerteza cinzenta encarnatória. O azul é a
cor do sonho, da elevação, num majestoso Céu de Brigadeiro, sem qualquer sinal
de nebulosidade, numa certeza, na certeza de quem teve Fé enquanto encarnado,
pois este é o grande desafio – crer sem provas científicas. Este quadro é como
um Santo Sudário aberto e revelado, no modo cristão de cultuar coisas, e não
pensamentos, pois a riqueza de Jesus está no pensamento que o Salvador
propagou, e não nos objetos relacionados a Ele. Aqui, temos uma cruel coroa de
espinhos, cheia de espinhos de dor e sofrimento, fazendo metáfora com o
regente, com um rei ou uma rainha, na responsabilidade de guiar um povo,
sentindo um enorme peso de responsabilidade, assumindo suas obrigações, sempre
se colocando de lado em nome da coletividade – é o sacrifício. Aqui, é como se
fosse um totem alargado no sentido horizontal, na magia de tribos em torno de
suas divindades, tentando compreender as poderosas forças naturais, na evolução
da Humanidade, a qual, apesar do irrefreado crescimento científico, sempre terá
a necessidade de acreditar numa Inteligência Suprema. Aqui, é como uma planta
espinhosa, expandindo-se por todos os sentidos, dando-nos o aviso para que não
cheguemos muito perto, no termo “murro em ponta de faca”. Aqui, é como a vista
aérea de um vale, com tudo se rendendo à força gravitacional, que é Tao, o
grande vale que nos guia.
Acima, sem título. Olhos
jorrando suas lágrimas, e podemos ouvir os lamúrios de dor e pena. O fundo azul
é limpo e plácido, no dia ideal para um passeio. Os falos aqui vêm de todas as
direções, encontrando-se mais ao centro. Ao centro do quadro, duas pistas
opostas se entrecruzam, como numa estrada movimentada, e podemos ouvir o som
dos carros de Fórmula 1. É a frágil ordem automobilística, e um pequeno deslize
pode fazer com que um motorista invada a pista contrária, causando um grave
acidente. Uma pista é a consequência da outra, e tudo tem seu retorno, sua
reação, seu preço. Aqui, é uma compensação, um equilíbrio, pois enquanto um
vai, outro vem, buscando manter uma harmonia. Aqui, é como se fosse a capa de
um disco de vinil, em pura abstração. Nas extremidades do quadro, mais uma vez
o equilíbrio, e temos uma metalinguagem, pois é um entrecruzamento dentro de outro
entrecruzamento, ou seja, César falando de César. O fundo azul é perfumado como
lavanda, no poder sedutor das fragrâncias, numa pessoa que tem a autoestima de
se arrumar e se perfumar, preparando-se para o polido momento de interação
social. É a cor de uma certeza, na forma como os espíritos desencarnados têm a
impressão de que o Céu Metafísico é mais azul e intenso do que o Céu Físico,
quando, na verdade, são o mesmo Céu, ou seja, quando estou feliz, dou valor às
pequenas coisas, como encher os pulmões de ar e agradecer por estar vendo tal
Céu bonito. Este quadro busca um equilíbrio, como se estivesse intermediando
uma situação de indisposição entre partes, ou entre nações, na sofisticação
diplomática, que sabe observar a universalidade do Ser Humano, vendo nas
diferenças culturais uma fininha casca superficial – somos irmãos. O vermelho
aqui é a cor da advertência, do alarme, do perigo, no risco de nos machucarmos
e vertermos sangue. É a cor das placas de trânsito, buscando alertar da forma
mais simples, forte e expressa possível, no poder das mensagens claras e
simples, havendo na pretensiosa complicação um fator subtrativo, um fator que
complica a mensagem e, a partir disso, encontra dificuldade em expressar algo –
menos é mais, no modo como é limpo o Mundo acima. Os falos maiores, nas
extremidades diagonais do quadro, são vazados, deixando o ar passar, pois só é
feliz quem deixa o ar passar deixando, assim, o Mundo respirar, no talento
estadista de um líder que conduz como Tao, num líder benevolente que respeita
ao máximo seu próprio povo, nunca se colocando entre o povo e a vida que este
quer ter. Os falos vazados são humildes e discretos, e não querem se apoderar
do quadro, num comedimento, uma frugalidade, um discreto retiro, como se soubesse
do poder poluidor do Ego, como tantas e tantas pessoas que se acham o centro do
mundo, só sabendo falar de si mesmas. Aqui, a cor branca tem uma função de
contraste, contrastando tanto com o preto quanto com o vermelho, na pura cor do
algodão, das nuvens de sonhos, numa página em branco querendo ser preenchida,
numa pessoa que se depara com tal folha, tendo que escrever algo nela, e como é
existencialmente miserável a pessoa que nada escreve em tal folha! Aqui, são
como furos de brincos, na universalidade da Beleza, no aprumo, como um salão de
baile sendo enfeitado para um pomposo evento social, havendo nos clubes
terrenos a metáfora com os clubes metafísicos, sendo estes instituições de
tanto brilho e beleza, na dádiva da eterna juventude e do eterno vigor. Aqui,
são como rastros de um cupim, devorando avidamente a madeira, sempre com fome,
nos meandros labirínticos de um formigueiro, no modo como a Vida pode ser um labirinto,
tendo este que ser solucionado com muita paciência, na dádiva que é a pessoa
conseguir centrar sua própria vida em algo produtivo – a pessoa que não produz
é miserável, por mais rica financeiramente que seja tal pessoa. Então, o
desencarnado vê que a Vida continua, e que o labor não pode cessar, havendo no
Umbral a dolorosa inutilidade de uma vida desperdiçada, improdutiva. Aqui, os
opostos se encontram, como duas tribos estabelecendo a Paz e o respeito mútuo,
pois sem respeito, tudo rui.
Referências bibliográficas:
Ivan Serpa. Disponível em <www.bolsadearte.com>.
Acesso 11 set. 2019.
Ivan Serpa. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 11 set. 2019.
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