Nascido no Rio de Janeiro em
1925 e falecido na Alemanha em 2018, o pintor alemão de origem brasileira Almir
Mavignier adquiriu renome internacional na Arte Concreta e Op Art. Estudou Arte
na cidade natal e em 1951 fez sua primeira exposição individual, no Museu de
Arte Moderna de São Paulo, ano em que adquiriu uma bolsa de estudos em Paris. Fez centenas de
cartazes para exposições artísticas e culturais, e acreditava na Arte como meio
de terapia ocupacional. Teve obras expostas na Bienal de Veneza de 1964 e no
MoMA, em 1965. Em 1967, primeiras retrospectivas, em Munique e Hannover.
Naturalizou-se alemão em 1981, mas permaneceu importante em terras brazucas.
Fez várias mostras entre 1989 e 2000, como no Museu de Arte Contemporânea da USP.
Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, sem título. Uma
quadra de tênis toda calejada, com as marcas das furiosas bolinhas amarelas,
assim como fica calejada a mão do artista de longa carreira, já pegando a malandragem
e a manha. Aqui, as bolinhas parecem competir umas com as outras, num páreo
duro, pois todas são iguais em potencial, entrando numa disputa muito justa. É
um quadro que chama à organização, como pingos perfeitos de chuva, sem
irregularidades, sem acidentes, sem arestas. É o caminho de depuração do
espírito, fazendo com que este sinta a necessidade de aprimoramento, sentindo o
cheiro de estagnação e repetitividade. São as cores do Mar, da Mãe Mar. É uma
rede de pesca, farta, abençoada por Jesus, trazendo fartas pescas, alimentando
muitas bocas numa esfomeada família, como num ninho, em que irmãos passam a
competir pelo alimento e pela atenção dos pais, nos primeiros momentos em que a
Vida em Sociedade vai se revelando uma grande competição, no culto à vitória. É
como uma caixa com ovos, com tudo organizado, na gloriosa sensação de
organização que paira sobre a pessoa que está sabendo ter uma vida produtiva,
centrada. Aqui, são como muitas e muitas luas em torno do mesmo planeta, mas as
luas neste quadro estão devidamente organizadas e catalogadas, como no acervo
de um museu, expondo os itens de forma racional e pertinente, no prazer de se
entrar em contato com as obras de artistas, de pessoas com a capacidade de
criar coisas novas. Aqui, é como um vestido cintilante de paetê, no fascínio de
uma mulher arrumada e bela, pronta para um baile, um evento, um jantar, no
prazer de autoestima que se abate sobre a pessoa que quer se colocar da melhor
forma possível. Aqui, são como loucas luzes numa boate, num espaço em que a
Noite seduz os boêmios, lançando Música e luzes, tudo para seduzir, como um
empresário da noite, construindo uma nababesca casa noturna, tornando-se o Rei
da Noite, num contexto boêmio que pertence ao fervo da Juventude, pois as
pessoas mais experientes querem paz e quietude. Aqui, é como um numeroso
cardume de peixes azuis, camuflados para ser confundidos com a água,
protegendo-se assim dos predadores, no modo como a Discrição trata de proteger
a pessoa, pois a pessoa que atrai muita atenção sobre si mesma não é uma pessoa
muito respeitada... Aqui, é como um fio de fibras óticas cortado, e podemos
observar cada fio que compõe o conjunto, no modo científico de cortar e
dissociar as coisas, fazendo análises. É como um organismo vivo cortado ao
meio, revelando entranhas, como numa ecografia, revelando coisas que o olho
humano não vê. Aqui, temos uma árvore cortada no tronco, revelando os
mecanismos de transporte da seiva, como vias de uma cidade vibrante,
movimentada, no sonho da pobre camponesa Teresa, criada por José Clemente
Pozenato, em querer se mudar para São Paulo, para um lugar vibrante, com amplas
avenidas, teatros e cafés, com muitas conduções transportando coisas e pessoas.
Aqui temos um instinto grupal, com seres que sabem que estão protegidos se
ficarem unidos, como numa família, em que o membro adoentado é cuidado pelos
irmãos.
Acima, sem título. Um grande
prédio se erguendo, com um topo em forma triangular, numa cidade cheia de Vida,
com uma grande necessidade de fornecimento de energia elétrica. O verde oliva é
a floresta, a reserva ambiental, no modo como o Mundo se debruça sobre o
Brasil, exigindo a tomada de medidas antidevastação. É o verde do azeite de
oliva, numa deliciosa harmonização com um vinho. As cores verde e rosa remetem
à tradicional escola de Samba Mangueira, no modo como os artistas brasileiros
acabam sendo muito influenciados pela cultura popular nacional, numa mescla
cultural muito única e rica, fascinando o Mundo pela sua sensualidade e força
vibratória. O rosa é o aconchego, o acolhimento, como um morador de Rua sendo
recebido em um abrigo, recebendo alimento e cobertas para dormir, no esforço
caridoso de fazer algo de bom para o próximo, na questão da pessoa se colocar
nos sapatos do outro, entendendo como este se sente – amar é compreender. Almir
gosta muito de suas inúmeras bolinhas, fazendo com que elas componham uma forma
geométrica, num trabalho paciente e meticuloso, como um pai zeloso, cuidando do
ninho. É algo que remete a um certo artista plástico, o qual usa tampinhas
plásticas para compor cenários coloridos. Aqui, são como ponteiros de relógio,
num ângulo querendo completar 360 graus, querendo fechar um ciclo, no modo como
os produtos comercializados, por exemplo, têm um ciclo de vida, surgindo como
novidade e tendo tal novidade, depois de um certo tempo, esgotando-se, virando
um “abacaxi” e acabando por “morrer” mercadologicamente. É como o ciclo de um
ser vivo, fadado à Morte, como num inevitável prazo de validade, num espírito
que tem que ter o que fazer neste espaço de tempo que lhe é dado na Terra. É a
inevitabilidade da passagem do Tempo, com forças orgânicas trazendo o
envelhecimento e, em compensação, trazendo ponderação e sabedoria à pessoa
vivida. São os ciclos lunares regendo a Terra, nas magnéticas forças
gravitacionais que regem o Cosmos físico, trazendo a influência da Matéria. É o
ciclo das estações, esquentando e esfriando, numa cômica dança, pois enquanto é
frio no hemisfério de cima, é calor no de baixo, numa prova do senso de humor
de Tao, aquele que tudo planejou, pois Tao está sempre trabalhando, elaborando,
tirando também um tempinho para descansar. Aqui, são gotas rosas de uma doce
chuva de verão, na brincadeira de crianças tomando chuva na quente estação, no
modo como uma chuvarada veranil traz alívio a um dia abafado. É a contagem
regressiva para entrar no ar um programa de televisão, numa contagem regressiva
para algum lançamento de veículo, como um foguete. É o fato de que todos temos
dentro de nós uma contagem regressiva, pois, cedo ou tarde, deixaremos a Carne
para trás, abraçando a vida metafísica. Aqui, são como asas de anjo batendo,
ansiosas por Liberdade, no modo como é abençoado o cidadão que vive num país
livre. Temos aqui um bailarino abrindo os braços, numa onírica obra de Arte, no
momento mágico de uma cortina teatral abrir, revelando a imagem do sonho de um
diretor de Teatro, na suntuosidade do Theatro São Pedro, de Porto Alegre. Aqui,
temos um Almir trabalhando com espécies de pixels, colocando pontinho por
pontinho. É o rastro de uma brusca freada, deixando uma marca, uma cicatriz,
como num rosto envelhecido, mostrando todo um caminho já percorrido, no modo
como a pessoa é educada sempre a respeitar os mais velhos. Esta porosa
estrutura rosa não é egoísta nem narcisista, pois não quer desesperadamente se
apossar do quadro, tendo uma estrutura translúcida, sempre deixando respirar,
sempre deixando o ar passar, nunca asfixiando ambiciosamente, como se soubesse
que temos que deixar uns aos outros livres. É como o Ar, sempre invisível,
sempre subestimado, num artista que aprendeu o valor de ser como o Ar. Esta
estampa de bolinhas deixa o fundo transparecer, na beleza transparente de uma
peça de cristal. É uma majestosa ave voando livre.
Acima, sem título. A
habilidade de Almir em construir pacientemente com tantas bolinhas. Dá um
efeito degradê, ou gradiente. Bolas de diferentes cores e dimensões se
intercalam, formando uma comunidade harmônica, em que cada agente é uma parte
importante dos elos sociais, talvez num Almir nos ensinando a lição de que o
Corpo Social deve ser recheado com mais respeito e menos egoísmo. O fundo
rosado é cândido, como num picolé sabor morango, em felizes memórias de
infância, na piscina ou na praia, numa época deliciosa na qual a única
obrigação da criança era estudar. Podemos sentir a brisa suave de Verão
embalando sensualmente as folhas das árvores, como num dia de hoje, 9 de
setembro, um dia atipicamente quente em Caxias do Sul, com as ruas da cidade
varridas por ventos vigorosos. Almir nos traz algo um tanto cintilante, como
num vestido de lantejoulas, na magia colorida de um baile de gala povoado por
mulheres em seus múltiplos vestidos coloridos, quebrando a sisudez bicromática
dos smokings dos cavalheiros, no choque entre Razão e Loucura, entre Yin e
Yang, no momento social de flerte. São como várias estrelas em uma paisagem
galáctica, com esfera de vários tamanhos, havendo aqui uma organização
astronômica da NASA, na árdua tarefa de nomear e catalogar as muitas e muitas
estrelas, e as muitas e muitas galáxias, numa tarefa inacreditável que equivale
a catalogarmos cada grão em um punhado farto de areia, na ainda incompreensível
vastidão cósmica. Vendo este quadro de longe, vemos o efeito gradiente, como
uma superfície metálica reflexiva, como uma peça metálica sendo fabricada, no
modo como o artista se sente esta “fábrica”, tendo que desovar as obras,
distribuir e vender as obras, como uma fêmea colocando seus ovos ou parindo
seus filhotes, numa explosão de criatividade produtiva, no modo como a obra do
artista, mesmo se vendida, continua pertencendo ao artista, assim como um
filho, apesar de casar e sair de casa, continua sendo um filho. Vemos aqui uma
tela de proteção, cheia de furinhos, como na proteção de apicultores, ou uma
pessoa passando protetor solar, no positivo instinto de preservação, numa
pessoa que aprendeu a amar a si mesma, no caminho cognitivo da autoestima, pois
como posso amar o Mundo se, a princípio, não amo a mim mesmo? Esta tela é como
uma prisão, retendo animais num zoológico, e é o cárcere encarnatório, a
inevitável e bela prisão, num artista que tem que resolver o que fazer com o
tempo que lhe é jogado nas mãos. É uma rede protetora nas janelas de um
apartamento, com pais zelosos que querem prover aos filhos um ambiente seguro,
transmitindo valores e estimulando a criança a se centrar desde cedo. É como um
filtro, não deixando passar certos elementos. É uma purificação, um processo
industrial de filtragem, ou um controle ecológico, numa indústria que trata
seus próprios dejetos antes de jogar estes na rede de esgoto. É a teia da
aranha, filtrando o ar e não deixando passar um inseto desavisado, numa posição
passiva, como um sociopata, que tece suas ardilosas teias para manipular e
explorar outrem. Aqui, é como um abrasivo ralador, talvez ralando queijo ou
cenoura, processando alimentos. Aqui, é como uma esteira industrial, com vários
biscoitinhos passando e sendo embalados. São como várias moedinhas catalogadas,
no trabalho de um artista plástico, agregando elementos primordialmente
dissociados, mostrando uma visão, um ponto de vista, uma sensibilidade, com
mãos transformadoras, de artesão, metendo a mão no barro e jogando-se ao prazer
de produzir, pois não é desinteressante a Vida de uma pessoa que não produz?
Aqui, são várias explosões em série, com um bombardeio planejado e premeditado,
nos horrores bélicos que assassinam crianças, na infeliz tendência humana à
estupidez. Aqui, são como bolhas numa garrafa de espumante, no fascínio de um
espumante geladinho na noite de virada de ano. É a vitória de um corredor de
Fórmula 1, havendo na vitória mundana uma metáfora com a vitória de sobreviver
à morte do próprio corpo carnal.
Acima, sem título. Uma
coluna vertebral quebrada, dissociada, talvez por uma mente científica ávida
por dissociar e analisar por partes, no modo como são compartimentadas as
especialidades médicas. São como gavetas sendo abertas e fechadas, e podemos
ouvir o barulho do dia a dia de uma casa, com barulhos de portas sendo abertas
e fechadas. Vendo a obra de longe, o efeito que se tem é de quatro latas
metálicas empilhadas, desafiando a Lei da Gravidade, nos ambiciosos sonhos de
Engenharia, querendo construir prédios que pareçam desafiar as regras que regem
a Dimensão Material, querendo se parecer ao máximo com os prédios futuristas de
Os Jetsons. Essas latas coloridas dão
cor a um profundo fundo negro, imprevisível, com mistérios que só serão
elucidados no devido tempo, com surpresas sendo preparadas, como amigos
organizando uma festa surpresa. Aqui, é como uma fila inquieta, com pessoas
inquietas, impacientes, mexendo-se e vendo quando serão atendidas. São como
carros frenéticos, querendo ultrapassar uns aos outros, como numa concorrência
empresarial ou industrial, numa corrida em nome de inovação, em nome de invejáveis
concepções de Marketing, com empresários concorrendo para ver qual deles cai
mais nas graças do Povo. Podemos ouvir o som dos carros acelerando, numa
competição acirrada. É como um videogame, na tensão competitiva de dois ou mais
jogadores, no modo como os games podem ser viciantes. Aqui, são como bobs de
cabelo numa mulher se aprumando, nos rituais de aprumação, numa pessoa com
autoestima, querendo se colocar da melhor forma possível para um momento de
interação social, talvez visando chamar a atenção de algum pretendente. É o
garbo, nas memórias de Infância que tenho, com meus pais saindo para algum
compromisso social, deixando seu perfume se espalhar pela casa logo antes de
sair. Aqui, é como cilindros de um pujante motor, como numa cidade de pujança
industrial, agropecuária ou turística. É como a força de um atleta
superpreparado, treinado, sabendo que tem que entrar no jogo sem subestimar o
oponente, pois, se subestimo, sou pego de surpresa. Aqui, é como se um grande
cilindro fosse cortado em cinco partes, num processo dissociativo, de
desconstrução, como pegar um muro e dissociar cada tijolo. É como mapear uma
região, classificando em áreas de Serra, de Litoral, de Depressão etc. São como
unidades federativas que formam um só país, e, apesar de tal dissociação, há
uma certa unidade, num poder federal que busca respeitar as particularidades de
cada região. São como muitos carretéis de linha, como na paixão de Iberê
Camargo por carretéis, com fios enrolados, como a cobra preparando o bote, como
se a cobra soubesse que, se quero vencer, tenho que antes me submeter, numa
pessoa que, ao parecer que anda para trás, na verdade está andando para frente,
no discernimento taoista de agir sem chamar a atenção, pois se podem observar
minhas pretensões, serei fracassado. Este jogo de Almir entre bolinhas
pacientemente colocadas lembram um trabalho de serigrafia, ou até uma
xilogravura, como “carimbos” numa esteira de produção, dando riqueza cromática
ao clichê, como num Andy Warhol, produzindo diferentes imagens em meio a um
mesmo “carimbo”. Aqui, é um jogo de xadrez colorido, num jogo entre Luto e
Vida, na negra gruta que temos que desbravar, trazendo cor e contentamento a
uma Vida tão séria e exigente. Os cilindros se colocam no centro do quadro,
talvez querendo galgar um “antes” e um “depois”, no modo como grandes
personalidades marcam época, tendo em Jesus Cristo o maior astro de todos os tempos e
que, mesmo assim, não é unanimidade, ao menos para os islâmicos, os judeus e os
chineses... Aqui, temos uma unidade que não é exercida por meio da força, por
meio de estados totalitários e opressores. É uma união leve e arejada, num
líder que sabe que tem que respeitar o pacato dia a dia do pacato cidadão.
Acima, sem título. Uma
cidade perfeitamente quadriculada, sem curvas sensuais ou insinuantes, mas
quarteirões altamente planejados, como os circuitos dentro de um aparelho
eletrônico. É uma estampa, num estofado, ou num papel de parede. Pode ser um
tapete felpudo, e podemos ouvir o som do aspirador limpando o carpete, nos
rituais por trás das sessões de faxina, numa rotina de limpeza e purificação
que faz com que as casas limpas se pareçam ao máximo com as casas metafísicas,
pois a limpeza de Tao rejeita o desnecessário e repudia a sujeira, fazendo da
preguiça o meio para se atingir o minimalismo, atendo-se ao básico necessário,
sem frescuras nem excessos, pois se o que tenho não acho que é o suficiente,
então nunca terei o suficiente; se não estou o tempo todo querer mais e mais,
posso ter Paz – e não é infernal a Vida sem Paz? Aqui, temos uma total
disciplina e organização, com as bolinhas sendo ordenadas, numa vida centrada,
com cada coisa guardada na apropriada gaveta, no modo como os meios de
organizações de computadores, com suas pastas, fazem metáfora com a organização
mental da pessoa. Aqui, são vários olhinhos nos olhando, ávidos por um
espetáculo, por uma demonstração da fé em Tao, a Pai que é doce e delicado como
uma azaleia florescendo, anunciando a renovação do frescor de Primavera, pois
Tao é o renovador, o banho tomado, o perfume comportamental. É uma grande caixa
de ovos, com os produtos organizados, opondo-se ao caos das fúrias naturais, na
intenção humana em “domar” as forças do Id, do Inconsciente, da gaveta
instintiva animal. Temos aqui uma cidade na qual é absolutamente simples de se
locomover, em oposição a cidades que não foram planejadas, a cidades que
cresceram de forma desordenada, no inevitável caos urbano que faz com que só os
nativos saibam se locomover perfeitamente. É como uma plateia totalmente cheia,
na expectativa de se assistir um bom e esperado espetáculo, como num show de um
grande popstar, de uma grande dama do Teatro, como numa Marília Pêra, que dizia
ficar contente com um teatro cheio e ficar triste com um teatro vazio, na
decadência de certos artistas, cujos ingressos de show encalham, no modo como a
seriedade da Disciplina tem que existir, pois só terei sucesso se eu for
competente, como me disse um grande amigo. Aqui, é como a grade de um ralo,
filtrando as impurezas e só deixando passar o líquido, no diário ritual de
banho renovador, no modo como na Dimensão Metafísica estamos sempre limpos e
perfumados, emoldurados por uma luz, na prova do poder imenso e infinito de
Tao, a razão de tudo. Aqui, é como uma grade de prisão, no termo “ver o Sol
nascer quadrado”, na infelicidade de um presidiário, pois estar na cadeia é a
prisão dentro da prisão, pois mesmo quem não está na cadeia já é um pouco
prisioneiro... Aqui, são como verdes limões organizados, num dia de feira, com
senhoras donas de casa com seus carrinhos, fazendo as compras para abastecer o
Lar, como uma índia ianomâmi coletando coisas na floresta, na universalidade da
divisão de tarefas – homem faz isso e mulher faz aquilo, como nas brincadeiras
de infância, nas inevitáveis imposições sociais entre brincar de boneca e
brincar de carrinho, pois a Sociedade tem certas expectativas em relação ao
gênero da criança, tolhendo o comportamento considerado anormal. Aqui, temos um
sistema perfeito, sem anomalias, sem arestas, num contexto de ponto pacífico,
em relação a algo que a pessoa bateu veementemente o “martelo”, adquirindo
certas verdades inabaláveis como, por exemplo, querer se relacionar
amorosamente com pessoas que tenham o mínimo de maturidade. É um sistema
inclusivo, onde ninguém fica de fora, pois Tao é o Pai que jamais se esquece de
filho algum. É como uma peça de Teatro na qual todos têm papel de igual peso e
importância, fazendo com que o indivíduo se sinta feliz e satisfeito em ter um
papel tão relevante e essencial, na sensação de pertencimento, de Lar, de
família, de carinho.
Acima, Zero. Uma patente sendo aberta, no total momento de privacidade da
pessoa, num momento tão íntimo que sequer seu íntimo cônjuge pode ver. O zero é
a base, a referência, o ponto de eterno retorno, como no feto no fim de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, no
retorno ao Lar primordial, à barriga imaculada de Nossa Senhora, a Virgem
Concepção da Glória Metafísica. Aqui, são duas argolas dissociadas, perdidas, e
poderiam estar aliadas, formando algo novo, unindo forças, como a união de
forças entre marido e mulher, da conveniência da vida de um casal, numa divisão
de tarefas. Os zeros são buracos de fechadura, no fetiche de espiar a
privacidade de outrem, no pecado indiscreto da curiosidade. A palavra “zero”
está aqui escrita em tom bordô, ficando discretão à frente do fundo negro,
quase invisível, numa pessoa que não quer aparecer mais do que o próprio
trabalho, como um ator que opta por uma vida retirada e discreta, como se
soubesse que já está devidamente exposto devido ao trabalho como ator, estando
exposto nos Meios de Comunicação de Massa, como a Televisão – se sei quando
tenho o bastante, estou livre das instabilidades da Ambição. O zero é a
Disciplina, no espartano corte de cabelo do soldado, numa vida absolutamente
disciplinada, como fazer corrida em um rigoroso dia de Inverno vestindo uma
simples camisa regata. É o esforço de uma pessoa que sabe que tem que se doar
ao trabalho, mas sem aspirações de workaholic, na tênue linha que separa
autoestima de disciplina. Os zeros aqui ficam em evidência frente ao fundo
negro, num Almir querendo chamar nossa atenção para algo, no deleito que sente
o artista que vê que está recebendo a devida atenção, sendo insuportável ser
ignorado. O zero com o texto dentro é mais rico, mais privilegiado, nas
regalias sociais em torno de poder e dinheiro, sendo que os “bancos”
metafísicos só guardam uma coisa – Amor incondicional, havendo no dinheiro uma
cópia brutalmente tosca do Amor, pois o Ser Humano é obcecado em obter mais e
mais poder, e nisso se inclui o Dinheiro. O numeral zero sem o texto é mais
leve e elevado, como se soubesse do poder do desprendimento, no modo como o
Dinheiro pode trazer muita miséria existencial ao homem rico. Aqui, são dois
sistemas solares, duas galáxias, só que uma é rica e outra é pobre, nas
inevitáveis diferenças sociais, no modo como o Comunismo falhou em tentar
dizimar tais diferenças – sim, vivemos em um Mundo desigual, infelizmente. Então, a
depuração espiritual se torna necessária para o abrandamento, entrando em cena
a Hierarquia Espiritual – os de maior Moralidade regem os de menor, e é só
fazer o teste: finja que você deixou cair uma cédula de dinheiro na Rua, e se a
pessoa que viu o dinheiro cair não lhe avisar, essa pessoa não tem muito apuro moral.
É a seriedade da Encarnação. Aqui, temos uma conta bancária zerada, pobre, no
modo como o Desencarne despe a pessoa de todas as suas posses mundanas, havendo
no Umbral a pessoa que simplesmente não aceita o Desencarne, o que é um
absurdo, pois o desencarnado tem que estar absolutamente feliz com tal
libertação – quanto mais mundano sou, mais sofro, como um pobre diabo
sociopata, uma pessoa que não vê algo além da Matéria. Aqui, um zero está
horizontal e o outro está vertical, como se quisessem se diferenciar um do
outro, num esforço para se obter individualidade e identidade, diferenciação,
no fato de que não há duas pessoas iguais, pois qual seria o motivo de haver
mais de uma pessoa como eu? Um desses zeros é feliz; o outro, nem tanto. Um deles
é centrado; o outro, vazio. É como se fossem Yin e Yang, abraçando um ao outro,
na tradição social de casais heterossexuais dançando num baile, num momento
social de beleza e alegria, nas tentativas do Ser Humano em entender e magia
rica da agenda social metafísica, o lugar onde a Beleza é avassaladora e
irrefreável. Almir nos coloca opostos aqui, para que possamos ver a
contrastante oposição entre significado e a ausência deste.
Referências bibliográficas:
Almir Mavignier. Disponível em <www.bolsadearte.com>.
Acesso 28 ago. 2019.
Almir Mavignier. Disponível em <www.catalogodasartes.com.br>.
Acesso 28 ago. 2019.
Almir Mavignier. Disponível em <www.enciclopedia.itaucultural.org.br>.
Acesso 28 ago. 2019.
Almir Mavignier. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 28 ago. 2019.
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