Sua cidade natal é Natal,
RN, em 1928. O longevo Abraham Palatnik muda-se ainda nenê para Israel com a
família, onde, nos anos 40, estuda especialização em motores de explosão – será
que por causa da II Guerra? Ainda em Israel, estuda Arte e volta ao Brasil em
1948, para o Rio de Janeiro, fazendo amizade com diversos artistas. Em 1951,
recebe menção honrosa na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, tornando-se
pioneiro da Arte Cinética. Suas obras podem custar centenas de milhares de reais
cada. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa
leitura!
Acima, M 16. São como elegantes colunas em um templo, em um castelo, numa
elegância um tanto gótica, numa arquitetura depurada. São galerias um tanto
sombrias, como um templo subterrâneo. As colunas são o sustentáculo, a
estrutura sobre a qual uma sociedade se estabelece. É como um patriarca,
mantendo a família unida, pois depois do falecimento de tal patriarca, as
famílias se desintegram caso não surja alguém para assumir o posto vago. Vemos
bem ao fundo um vão negro, num lugar aonde a luz ainda não chegou, como nos
confins do Universo, com corpos tão distantes que os terráqueos sequer observam
com o mais avançado dos telescópios. Aqui não há cores vibrantes, mas cores mais
esmaecidas, no modo como um par de óculos escuros preservam o olho dos raios
nocivos, mostrando um mundo na penumbra, numa luz suave, que nunca fere as
vistas. Este sofisticado templo é o avanço intelectual humano, fazendo com que
as sociedades evoluam de rudes tribos neolíticas para nababescas civilizações,
como no Antigo Egito, um império então militarmente temido, na tendência humana
em se impor por meio da força e da ameaça, diferente de Tao, o pai que dá plena
liberdade aos filhos, fazendo metáfora com as democracias, sistemas que buscam
fazer com que o cidadão pertença somente a si mesmo, no pensamento liberal, do
qual sutilmente discordo, pois deve haver um discreto Estado Mínimo. Aqui, os
tons de rosa são a ternura, a cor do Amor e da delicadeza, ou a cor de um belo
filé grelhado, rosado no interior. É a Casa Rosada, havendo nas casas grandes
símbolos de Poder, na fúria do leão cobrando impostos, com povos fartos de
pagar tanto imposto, havendo uma trégua na Dimensão Metafísica, um lugar onde o
Leão vira um inofensivo bichinho de pelúcia. Estas elegantes colunas estão em
dança, como barras randômicas. É um sistema de fabricação têxtil, num momento
em que o Homem parou de se vestir com peles de animais e passou a se dedicar ao
trabalho de tear, no modo como há uma cafeteria que conheço na qual senhoras se
reúnem no meio da tarde para tricotar (no sentido literal e no sentido figurado).
Vemos aqui colunas verdes, que são os troncos das árvores, havendo nos campos e
nas florestas roupas majestosas de vegetação exuberante, no talento de Tao em
fazer coisas maravilhosas, num Ser Humano que, infelizmente, frequentemente só
aprecia os palácios e ignora a Flora. Aqui, parece água escorrendo, como chuva
numa janela de vidro, num Ser Humano tão submetido às intempéries climáticas,
havendo no Céu Metafísico um clima sempre agradável, sem os flagelos de Verão
ou Inverno. Aqui são como muitas e muitas páginas em um livro, em fartas
bibliotecas, no acúmulo de Conhecimento, dando a máxima distinção ao humanos na
produção de pensamento, derrotando as sombras ignorantes do preconceito. Aqui,
são como longos e finos braços com mãos que têm a missão proteger os filhos de
Tao, no modo como Aton protegia o faraó herege Aquenaton. As linhas delgadas
são a sofisticação da Vida em Sociedade, um plano no qual o indivíduo tem que
se arrumar, se limpar e ser polido, havendo naturais sistemas de punição àqueles
que faltam com a civilidade, num mundo que reprova a grosseria e o desamor.
Quando a civilidade é perdida, vem a Guerra, e Tao nada tem a ver com os
caprichos de crueldade do Ser Humano. Aqui, vemos uma dança entre linhas finas
e linhas mais grossas, como num código binário, o sistema em preto e branco que
traz a mortificação espiritual e faz com que o indivíduo pare de construir
tolas expectativas.
Acima, Pirâmide. Acrílica sobre madeira. Qualquer pirâmide é abrasiva e
agressiva, como setas apontando para o Céu, para a depuração moral na qual a
pessoa vai se desprendendo mais e mais dos bens terrenos, até chegar ao cume,
num ponto de sofisticação em que a pessoa se nega a ser uma escrava do Ouro e
de tesouros terrenos, rechaçando a filosofia sociopática do “poder pelo poder”,
pois tudo relacionado à Matéria não sobrevive à morte física, num ponto em que
a pessoa tem que deixar para atrás essas “roupas”, havendo no avarento uma
pessoa que simplesmente não aceita a morte do corpo físico, querendo, a todo
custo, voltar à Terra, quando o que deve ser feito é exatamente o contrário. Os
obeliscos são uma espécie de galo viril, pois os primeiros raios solares da
manhã começam a banhar a ponta fálica, iluminando por fim toda a estrutura, num
processo em que a Verdade é revelada aos poucos, num processo cognitivo
existencial em que a pessoa vai se dando conta de que a Matéria é uma ilusão
auspiciosa, havendo na mortificação psíquica e rejeição para tais auspícios,
como uma criança que vai se dando conta de que não existe Papai Noel. Aqui, é
uma estrutura muito sólida e estável, num paradigma arquitetônico universal,
com muitas pessoas crendo que a Terra, quando o Ser Humano era ainda muito
tosco, foi visitada e colonizada por seres extraterrestres evoluídos, havendo
na pirâmide essa arquitetura tão universal. Aqui, são como camadas geológicas,
revelando um lento processo geológico, com várias camadas sedimentadas, como
fatias em um bolo, no delicioso fato de que os doces metafísicos não engordam.
Aqui, uma bruta rocha foi quebrada, esculpida, no poder transformador das mãos
de um artista plástico, produzindo coisas novas a partir de elementos
subestimados. É como uma rocha de ametista sendo aberta e desbravada, revelando
toda a beleza interior de uma rocha exteriormente tão feia e subestimada, no
modo como a beleza metafísica nasce do que a pessoa é por dentro, havendo na
beleza física um mero auspício, com uma pessoa mortificada que mal se importa
se seu namorado é lindo ou não, rejeitando os conceitos obtusos, num caminho de
crescimento e desilusão, na poderosa luz da Aurora, a deusa dourada que faz da
Morte uma bobagem ilusória. Nas pirâmides, temos uma metáfora do corpo social
com muitos pobres e poucos ricos, havendo na base a classe que mais sofre
pressões, na promessa cristã de que os últimos serão os primeiros. No topo, o
faraó, o representante de Tao na Terra, na universalidade das hierarquias
humanas, como no sistema hierárquico militar, no qual a obediência é a chave
para o funcionamento de tal sistema, num corpo social que prevê todas as
punições cabíveis àqueles que desprezarem tal sistema, no modo como os presídios
terrenos são sucursais do Umbral, o amargo purgatório que flagela aqueles que
não têm depuração moral. Este espinho é um aviso expresso – mantenha distância.
É uma imposição de respeito, tendo juízo aquele que se recusar a dar murro
nesta ponta de faca. As pirâmides são como escadarias para o Céu, no túnel de
luz que nos acolhe após o óbito, com espíritos de paz nos guiando em direção a
tal luz, para que, assim, entendamos o que é o regresso ao Lar, à proveniência,
ao lugar onde somos depurados príncipes, havendo nas dinastias sanguíneas
terrenas uma tosca cópia da realeza espiritual, num nobre plano de puro pensamento,
no qual os vínculos de famílias não se desfazem. A pirâmide é o símbolo de
ambição, num trabalho tão árduo, de arquitetura tão depurada, num faraó construindo
o próprio túmulo, no enigma que é o pós-morte, no modo como o Ser Humano teme
muito a Morte, evitando lugares como cemitérios e capelas mortuárias. Aqui,
temos o formato de gota caindo, só que de forma retilínea, com um orvalho de
formando e pingando, na beleza de fenômenos como a geada, quando os gramados
parecem ser feitos de cristal. A pirâmide não tem timidez nem recato, e deixa
tudo de forma clara, no poder do esclarecimento científico, numa personalidade
imponente.
Acima, sem título. Temos
aqui um Abraham talvez catarseando um sentimento de melancolia, num lago
triste, cinzento, num frio e fechado dia de Inverno, num ambiente sem Vida, sem
graça, com peixes tristes nadando num purgatório, numa situação de pobreza e
desolação. Aqui, temos uma perturbação sísmica, como num terremoto, num abalo,
trazendo desgraça e destruição, instabilidade. É um momento de repentino choque
que se abateu em um cenário outrora plácido e estável. É o sentimento
depressivo de estar no fundo de um lago aprisionador, sem forças para se
reerguer e vencer tais vicissitudes, num processo de reconstrução que leva
vários anos. É o modo como as drogas trazem desestruturação à Vida da pessoa,
num quadro de dependência química em que a pessoa se torna um mero escravo de
uma substância, com traficantes ambiciosos e inconsequentes, que sequer querem
saber o que as drogas fazem ao indivíduo em particular ou à Sociedade como um
todo. Aqui, temos um choque elétrico, num dedo sendo colocado na tomada, como
no infame choque de Lasier Martins na Festa da Uva. É uma pessoa que se
acostumou com um mundinho de ilusões e subvalores, tendo que voltar ao Mundo
Real, sofrendo, assim, tal incômodo, num remédio amargo que acaba curando o
paciente, no inevitável modo como a Dor é típica de qualquer vida, de qualquer
encarnado, fazendo com que o indivíduo tenha que conviver e negociar com tal dor,
negando-se a sofrer por esta, na promessa cristã de que há um Mundo sem dor, um
Mundo que está garantido e que nos espera após o inevitável Desencarne. Portanto,
aguente aí. Neste quadro cinzento, tem um tom de vermelho querendo se destacar
e querendo trazer mais calor a tal desolador dia invernal, como, por exemplo,
nos seis meses de frio na Escandinávia, numa situação em que a depressão pode
aflorar. O vermelho de sangue tenta aqui trazer um pouco de calor e alegria,
como numa acolhedora lareira, secando e aquecendo uma casa, enquanto, lá fora,
o frio mostra as caras, fazendo com que o Ser Humano tenha que lidar com os
ciclos sazonais, encontrando peculiaridades e prazeres em casa estação, num ato
de contentamento, o qual combate o sentimento de vazio e de inquietação. Aqui,
temos ondas magnéticas, ou ondas de som, expandindo-se, explodindo como as
perturbações explosivas de uma supernova, ou nas explosões de aeronaves na
franquia Star Wars. Aqui, temos um quadro de interferência, numa perturbação,
talvez num indivíduo “sacudindo a poeira”, querendo dar uma guinada na Vida,
talvez abandonando uma carreira para abraçar outra, no modo como todos temos o
direito de querer uma vida melhor, sem tanta privação. Aqui, são as ondas
eletromagnéticas de calor solares, banhando o Sistema Solar. É como a energia
de uma pessoa, afetando tudo e todos ao seu redor, como na capacidade um
artista em tocar e inquietar as percepções das pessoas, na tarefa da Arte em
estimular a Inteligência Emocional, o instinto das pessoas, no modo como o
Taoismo, por exemplo, só pode ser compreendido instintivamente, estando
bloqueado para frios psicopatas. É a vitória do Bem sobre o Mal. Aqui, vigorosos
pingos de chuva perturbam a placidez deste lago, fazendo barulho, mexendo com
as pessoas, num artista provocador, apimentado, como uma caliente Scarlet
O´hara, a dama escarlate que tirou força do fundo d’alma para contornar os
horrores destrutivos da Guerra. Aqui, serpentes aquosas se liquefazem, fluindo
instintivamente, na força da Vida, das forças da Natureza, como na abertura
famosa do programa televisivo Fantástico, revelando Isadora Ribeiro. Então, o
artista observa a Natureza e quer ser como esta, influenciando as pessoas.
Aqui, um grande vento assola o cenário, talvez um terremoto, um tsunami, nas
vibrações que emanam de uma pessoa que tem o poder de unir as pessoas ao redor
de algo nobre e vibrante, como num bruxo em uma tribo, agregando as pessoas,
incluindo.
Acima, T 10. Vários delgados e elegantes prédios em uma vibrante
metrópole, numa cidade cheia de Vida e oportunidades, com gente – como diz em uma
canção – fina, elegante e sincera. Muitos elevadores sobem e descem para
atender a tal demanda urbana, com casas de suntuosas salas de visitas,
recebendo chiques convidados, numa agenda social de fazer inveja a qualquer
agenda na Terra. Os elevadores sobem e descem como em ondas, num lugar onde os
perfumes e cores são liquefeitos, em fragrâncias divinas, que revelam
personalidade de altíssima depuração moral, num lugar em que a vulgaridade, a
mediocridade e a mesquinhez nada significam. Abraham faz aqui um jogo entre
contrastes, dando um aspecto acetinado ao quadro, com finas roupas de tecido
maravilhoso, vaporoso, mais fino do que qualquer tecido na Terra. Este quadro
tem cores douradas, numa era dourada, em dias de felicidade em que a bondade
psíquica se revela ser uma versão aprimorada das riquezas mundanas, as quais,
por suas vezes, são cópias grotescas do ouro espiritual, pois este é eterno,
sendo condenada à danação qualquer coisa relativa à Matéria, como mundanas
pedras preciosas. Este deslumbrante complexo de prédios elegantes revela
refletir um entardecer monumental, dourado, enchendo de significado a Vida da
pessoa que busca agir da forma mais moral possível, uma pessoa que está
aprendendo a rechaçar o mundanismo, a ambição materialista, uma pessoa que está
reconhecendo e desprezando os maliciosos apelos da Sociedade de Consumo, pois, para
esta, as pessoas nunca têm o suficiente. Estas elegantes e aristocráticas
listras são a sucessão entre Dia e Noite, como na máscara mortuária de
Tutancâmon, nos ancestrais modos humanos de compartimentar o tempo por meio da
distinção entre claro e escuro, como no contraste barroco, como num código
binário, na construção técnica do espírito, tudo em nome da mortificação, da
destruição de tolas ilusões materialistas. Nesta urbe, há muita riqueza
existencial, e muitas coisas ocorrem ao mesmo tempo, num lugar em que o Tempo
não passa, pois, nesta cidade de sonhos, a Força da Gravidade desaparece, e as
influências da Matéria perdem toda a força. Aqui, temos muitas pistas de
corrida alinhadas, no costume humano de promover competições para ver qual é o
merecedor da taça vitoriosa, fazendo metáfora com a vitória do espírito que
desencarnou e está pleno, livre e feliz na Vida Metafísica. São como raias de
Natação, colocando os competidores lado a lado para haver uma claríssima
comparação, mostrando de forma clara quem é o melhor, o campeão. É a ambição
olímpica de bater recordes, como numa competição consigo mesmo, vendo o quanto
eu posso me aprimorar para me tornar uma pessoa que ama amplamente a Vida, pois,
quem não ama a Vida, não é feliz... Portanto, ama esta maravilhosa escola na
qual estás matriculado. Aqui, temos um ambicioso sonho de Arquitetura, com
obras que ficam impossíveis em nossa precária dimensão mundana. As cidades da
Terra precisam de gigantescos sistemas para a garantia de seu funcionamento,
como redes de esgoto, de água, de luz etc. E o Ser Humano é sempre ambicioso,
querendo construir prédios cada vez mais altos, numa competição, para ver qual
nação tem o fálico prédio mais alto do Mundo. Neste cenário tão tenso e
retilíneo, a dança dos elevadores traz liquidiscência. E lá estou no elevador,
indo visitar uma pessoa a qual amei muito na Terra, na vitória que é o fato de
que a Consciência sobrevive ao perecimento do Corpo Físico, no grande plano
divino para conosco. Estes elevadores subindo e descendo são como uma sensual
respiração, numa Vida que pulsa, com ondas à beiramar indo e vindo, respirando,
trazendo Vida e mais Vida a esta preciosa esferazinha na qual estamos
encarnados. Contentamento é encontrar beleza nesta prisão, tentando levar uma
Vida produtiva, com coisas sendo feitas e negócios sendo resolvidos.
Acima, Vertical ZVV. Uma furtiva gota de sangue é derramada, talvez um
herbívoro desavisado sendo vítima de um esfomeado carnívoro. Aqui é como um
vidro em dia de chuva, com as gotas caindo, num pranto, num dia fechado e
melancólico. Este quadro traz muito da marca registrada de Abraham, com o nome
do patriarca Abraão, numa sociedade machista na qual a mulher só é respeitada
se for absolutamente desprovida de livre arbítrio, numa prisão, numa mulher que
não pode escolher entre abortar ou não abortar um feto. Temos aqui a silhueta
de finíssimas taças de espumante, e podemos ouvir o divertido som dos tintins
num brinde, num momento de celebração e descontração, no fascínio que os
espumantes exercem sobre o Mundo, num gole que causa uma deliciosa sensação de
cremosidade na boca. Aqui, são cristais finíssimos, fragilíssimos, ameaçando
quebrar a qualquer momento, com colunas que, apesar de delgadas, cumprem a
missão de sustentação, no modo como o comportamento fino é mais forte do que o
grosso, ou seja, como diz Tao, fraco é forte; forte é fraco, numa lição
intuitiva de discernimento, numa pessoa que vive para aprender Tao, o Deus que
nos mostra, de forma limpa, perfumada e divertida, que menos é mais. No quadro,
predomina a retidão vertical, com pouca liquidiscência. São como gotas
condensadas em um vidro embaçado, nas inevitáveis Leis da Gravidade, uma lei
que, na Dimensão Metafísica, simplesmente não existe, pois o Pensamento está
livre da Matéria, ou seja, a Lei é Razão sem Paixão, sem sofrimento, no caminho
de mortificação do espírito – a Mente está sempre sobre o Corpo. Como Tao, que
vê o Mundo sem expectativas, podendo, assim, ter Paz. Neste quaro há um claro
predomínio de azul, no fascínio de mares e céus azuis, ou como no por do Sol em
Marte, na qual a estrela fica azulada. É a cor dos Céus, dos sonhos, da
abstração, da metafísica, num Jesus Cristo que trouxe uma mensagem muito à
frente de seu tempo, a mensagem de que vivemos abaixo de uma dimensão melhor,
havendo na Encarnação uma espécie de casa de passagem, uma casa fadada à ruína,
à decomposição, à finitude. Aqui são como cortinas sendo embaladas por doces
brisas de Verão, num lugar onde as temperaturas são sempre agradáveis, num
lugar em que ar condicionado e calefação são totalmente desnecessários. Aqui, a
pessoa acorda em um outro mundo, num lugar tão estranho e familiar, peculiar. É
um lugar que podemos chamar de Lar, pois lá estamos cercados de pessoas
queridas que já abandonaram seus respectivos corpos carnais. É um saudoso
abraço, com amigos se reencontrando, numa eterna festa de recomeço, num lugar
onde não há fadiga, fazendo metáfora com a Juventude terrena, havendo nesta uma
cópia vaga da plenitude dos desencarnados. Essas linhas elegantes parecem
querer passar pelo buraquinho de uma fechadura, como se fosse uma pessoa que
soubesse que, para passar, a pessoa deve ser delgada em seus pensamentos, em
sua moralidade, fazendo com que a grosseria seja absolutamente incapaz de
passar por tal portinhola. Essas elegantes barras querem passar por brechas tão
estreitas, na questão do desapego, pois, como diz Tao, se o que você tem você
acha que não é o suficiente, então você nunca terá o suficiente! São delgados
os dedos que se desfazem dos anéis. Aqui, é a grossura de um livro extenso, com
muitas páginas, no incrível trabalho que foi a constituição da Bíblia Sagrada,
uma espécie de colcha de retalhos, os quais, colocados juntas, fazem sentido em
termos gerais. Quase ao centro do quadro, uma brecha escura, imprevisível, nos
mistérios da Vida, com coisas as quais não nos é permitido descobrir, ao menos
não descobrir por enquanto, no modo como cada revelação tem seu tempo. É uma
brecha de porta que conduz a um quarto escuro, em algo que ainda está por vir,
por ser revelado. São os negros confins do Universo. É a discrição da cor do
luto, no modo humano de dar esta cor ao Desencarne, num Ser Humano que não tem
como saber cientificamente o que nos aguarda após o óbito. Estas linhas de
Abraham são como rastros numa pista de corrida, e podemos ouvir o som dos
carros correndo, numa pessoa competindo consigo mesma, tentando se superar.
Acima, Zebra. Resina de poliéster. A Seleção Natural faz com que os seres
desenvolvam mecanismos de sobrevivência, no modo como a estampa desta zebra a
ajuda a ficar discreta e camuflada, para, assim, ficar livre de predadores, no
modo como a Vida é sobrevivência, fazendo com que um artista, com décadas de
carreira, conserve a capacidade de se reinventar, esforçando-se para ser o mais
inédito e criativo possível, no modo como há tantos artistas talentosos que
simplesmente não souberam sobreviver a uma determinada década. Esta zebra
translúcida é Tao, o invisível, o imprevisto, aquele que sempre surpreende,
tramando uma surpresa em cada esquina, no senso de humor divino. Estas listras
são como impressões digitais, com o cidadão sendo registrado por meio das
digitais, no divertido modo como não há duas pessoas com as mesmas digitais,
desbravando uma cena do crime, cena na qual o criminoso deixa sua marca. É uma eterna
criatividade, com um Tao sempre criando, sempre elaborando, no modo como uma
pessoa só é feliz se laborar, inventar, criar. Esta simpática zebrinha nos
convida a embarcar nela, levando-nos para passear pela rica Flora Africana,
havendo na biologia da Terra uma prova do poder de criação de Tao, o criativo.
As linhas aqui não são tensas ou racionais, mas tortuosas, formosas, e podemos
ouvir o prazeroso som do vento beijando as folhas das plantas, como num Éden,
um lugar que nos convida ao descanso, fazendo com que nos despluguemos dos
estresses do dia a dia, só tendo Paz aquele que não for escravo das tensões,
negando se estressar. Estas listras são como barras em uma prisão, ou um código
de barras, uma impressão digital industrial, numa dança entre barras finas e
grossas, num código binário, em preto e branco, na magia glamorosa de fotos de
artistas em preto e branco, um charme que sobreviveu ao advento da foto
colorida, pois na imagem em P&B há mais simplicidade, e é belo e limpo tudo
o que é simples. São como dunas esculpidas pelo vento, numa areia imaculada,
convidando-nos ao desbravamento, à agressão, como uma bola entrando triunfante
em uma goleira, no prazer da desvirginação, num atleta motivado, que entra em
quadra querendo muito vencer, tendo garra, vontade, tesão, no modo como um bom
trabalho é aquele que a pessoa faz com tesão e motivação, pois, sem Amor, não
há prazer. Aqui, são muitos galhos de árvore, expandindo-se como veias ou raios
de tempestade, nas forças naturais, num artista querendo jogar um olhar
emocional e intuitivo sobre tais forças, num adulto que já foi criança,
observando deste pequeno as deslumbrantes forças da Natureza, numa prova do
poder de Tao, o onipotente. Esta zebrinha de Abraham não tem patas, como se não
precisasse fugir de um predador. É como um cavalo sendo calçado por ferraduras,
na imposição de Disciplina às forças tempestuosas do Ímpeto, como numa
cavalaria tendo que ser controlada pelo Juízo, pelo Siso, no caminho de
maturação que transforma criança em adulto. Estas listras fazem uma sensual transição
entre dia e noite, como uma Lua sendo engolida por um eclipse, como um dragão
esfomeado, sendo furado pela lança fálica da Racionalidade. É como uma pintura
ritualística de alguma tribo indígena, no modo humano de sair de vez em quando
da rotina e abraçar um momento especial de celebração, celebrando o Corpo
Social, num índio enfeitando-se para tal gesto de celebração, como numa pessoa
se arrumando para ir a um baile de gala, nos rituais sociais de interação,
imitando a limpeza e a beleza metafísica. Aqui, são como persianas as quais
deixam passar listras de luz, deixando um cômodo na penumbra, num dúbio momento
entre dia e noite. São como folhas de palmeira, escondendo um pouco daqui,
revelando um pouco dali, no jogo sensual de um striptease, atiçando o desejo
entre mostrar e esconder, nunca entregando completamente o jogo, nunca sendo
óbvio, nunca sendo tedioso. Aqui, são como entranhas de penhascos, com sulcos,
atraindo a água para o fundo de vales, numa Natureza que se autorregula.
Referências bibliográficas:
Abraham Palatnik. Disponível em <www.bolsadearte.com>.
Acesso 28 ago. 2019.
Abraham Palatnik. Disponível em <www.catalogodasartes.com.br>.
Acesso 28 ago. 2019.
Abraham Palatnik. Disponível em <www.enciclopedia.itaucultural.org.br>.
Acesso 28 ago. 2019.
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