O francês Yves Klein (1928 –
1962) nasceu filho de pintores. Pouco antes de falecer, fundou um movimento
chamado Novo Realismo. O site de YK é de boa qualidade. Os textos e análises
semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Globo Azul. Parece que o Mundo foi todo inundado, e que sequer
sobrou o monte Everest para contar a história. É como na inundação de Noé,
quando Deus ficou furioso com a falta de apuro moral do Ser Humano, na ira
patriarcal, como num islâmico radical, sem a fineza diplomática para respeitar
as diferenças, no eterno e perene talento do Ser Humano para a briga e para o
desentendimento. É como na caótica e recente inundação da cidade de Veneza,
trazendo caos e desalento, ou como na grande enchente de 1941 que assolou a
cidade de Porto Alegre, no modo como a Dimensão Material é exigente na forma
como tragédias formam oportunidades para que haja solidariedade, com
voluntários que decidem ajudar de alguma forma, no sentido da Caridade, que é
ajudar sem ambicionar receber algo em troca. Porém, a gratidão é uma virtude; a
ingratidão, um problema. Por exemplo: no ano de 1985, eu cursava a segunda
série do Ensino Fundamental. Um coleguinha meu, destro, caiu de um cavalo e
quebrou o braço direito, ficando impedido de ir à aula. A cada dia de aula, um
coleguinha levava para casa o caderninho do acidentado para transcrever a
matéria do dia, e eu fui um dos colegas que fez este ato de amor fraternal.
Nove anos depois, em 1994, quando eu era colega desta pessoa no Ensino Médio,
este colega me agradece me insultando... Este globo é uma referência ao estudo,
à produção de Cultura Erudita, esta ferramenta tão necessária para fazer um
país culto, educado e sábio. É a Disciplina, este ingrediente tão fundamental
para quem quer fazer algo de destaque benéfico. O globo aqui está respaldado,
enaltecido, erguido, reverenciado e destacado, como uma mulher que foi
desposada para ser tratada como uma rainha. É a metáfora do salto alto, esta
febre permanente entre mulheres, erguendo a mulher a um patamar superior, numa
mulher que se dá ao respeito e que quer o melhor, nunca aceitando migalhas,
como ser a mera amante extraoficial de um cara. A fita métrica arredondada é o
modo humano de medir as distâncias e estabelecer referências organizacionais,
na forma de contar o Tempo ou de traçar limites entre terras, enchendo os
lugares de nomes e graças, na tarefa de catalogar e classificar uma Natureza
tão confusa e caótica. Abaixo do globo, vemos um globinho negro, como se fosse
a versão em miniatura, numa metalinguagem – globo falando de globo. É como se
fosse a versão sisuda do globo azul, exercendo uma sisuda atração
gravitacional, no termo “colocar os pés no chão”. É o juízo, a responsabilidade
de adulto, no modo como tenho um amigo alcoólatra, que não se trata e nem quer
adquirir responsabilidade sobre sua própria vida. As varetas negras que
sustentam toda a estrutura são como patas negras de aranha, amedrontadoras,
ameaçadoras, num quadro agudo de aracnofobia. É como uma pessoa que vai chegando
devagarzinho, sempre invisível, sempre subestimada, para, enfim, dar o “bote”.
E este globo nunca para de girar, nos incessantes dias e noites se revezando,
no modo humano de reservar algo apropriado para cada etapa do ciclo rotacional
terrestre. Este azul é nobre e discreto, nas majestosas vestes de um rei,
ganhando o respeito do povo, sempre agindo de forma minimalista, sempre
evitando afetar o pacato dia a dia do cidadão comum, pois o próprio rei tem que
viver em simplicidade, nunca supervalorizando o palácio nem subvalorizando a
beleza dos campos de seu reino, no modo como elementos da Natureza podem se
tornar símbolos de determinados reinos, como na flor de lis ou no lótus. É a
necessidade humana de abraçar a Natureza e encontrar beleza e propósito na
criação de Tao, o Rei dos reis, numa inevitável hierarquia. A Geografia tenta
trazer Lógica ao Caos, demarcando Tempo e Espaço, no ainda imaturo modo humano
em compreender algo tão vasto, tão ambicioso.
Acima, Relief Portrait of Arman.
O amarelo e o azul formam um contraste,
que chama a atenção do olho. O homem está sem pernas, limitado, impedido de
caminhar, como se tivesse sofrido um acidente que acabou fazendo com que as
pernas fossem amputadas. São as inevitáveis limitações da Vida, no sentido de
que ninguém pode fazer tudinho o que quer, fazendo com que, na “luta”, muitos
“anéis” sejam perdidos, deixando os dedos nus ou quase nus. O homem aqui não
olha para o espectador, talvez ignorando este. O homem para o Céu, talvez
almejando um sonho, um ambicioso projeto, no modo como os projetos de artistas
são esses sonhos, essas ambições, no desejo antissimplório de promover
comoções, impedindo que a Arte passe despercebida ou ignorada. O fundo amarelo
é dourado como o ouro saqueado por ladrões em tumbas de faraós, na avidez de
bandidos que roubam até placas de bronze de monumentos públicos. É a obsessão
humana por matéria, por coisas, por dinheiro, por referências mundanas, na
vulgaridade medíocre de mentes que simplesmente ignoram o que vale, que é o Metafísico.
Este amarelo é um reconfortante amanhecer, banhando de ouro campos e
parreirais, num momento que nos dá ideia da perene beleza das terras
metafísicas, as quais nos esperam após o Desencarne, com entes queridos já
falecidos, entes que nos recebem belos e felizes, no meu intenso desejo que
conhecer, lá no Céu, meu bisavô Joaquim Pedro Lisboa – um dia encontrar-me-ei
com ele, sim. Este tom de azul é representativo nas obras de Calvin Klein,
digo, Yves Klein, num tom que traz discrição e nobreza, no deleite que é
interagir com uma pessoa que tem polidez no fundo de seu coração, como num fino
lustre de cristais, hipnotizando-nos com seus miniarcoíris, numa transparência
que faz metáfora com a transparência das intenções de pessoas com crescente
apuro moral, ou seja, gente fina, mas não no sentido materialista. Esta obra
tem um intencional charme, como se estivesse inacabada, fazendo metáfora com o
fato taoista de que tudo é processo, tudo é depuração, tudo é crescimento, e
todos somos obras inacabadas, sempre havendo espaço para uma nova lição, num
caminho do termo “cada vez melhor”. Este homem é atlético, como num Jesus
crucificado, na beleza dos corpos que tanto inspiram artistas, havendo no porte
atlético a intenção de saúde e disposição, num Tao que quer o melhor para nós.
Este homem não é um gurizote, mas aparenta ser um homem maduro, adulto, apesar
do corpo jovial. Ele tem um olhar sério, num homem vislumbrando obstáculos e
vicissitudes, nos percalços que vão nos fazendo pessoas melhores, pois qual seria
o sentido de uma tediosa vida sem lições ou desafios? Portanto, coragem! Esta
nudez é inocente, e não chega a agredir, no modo como a Arte é o caminho
antimalícia. Este homem paira no ar, como um fantasma, ou uma aeronave, e ele
se sustenta sozinho, sem precisar de um suporte. É como uma alma de consciência
tranquila, que sabe que nada fez de Mal, na sensação de desapego e alívio em
torno de um coração que não agiu com dolo, pois entre errar sem querer e errar
de propósito existe um “abismo”, numa linha divisória muito clara entre
espíritos bons e espíritos não tão bons. Este homem está solene, como num busto
de algum digníssimo cidadão, enfeitando praças, no modo humano de ver na virtude
e no respeito o enfeite para praças materiais que buscam se parecer ao máximo
com as praças metafísicas, sendo estas lugares de Paz inabalável. Este homem
está aprumado, de cabelo cortado e barba feita, como se estivesse preparado
para um momento de interação social, como inaugurar algum monumento ou placa,
como num príncipe presidindo algum evento inaugural em seu reino, representando
toda a família real, havendo nesta um poder simbólico forte. É engraçado, pois,
apesar de estar num evento social solene, o homem está nu, havendo na nudez a
metáfora com a Transparência, num cidadão que é visto sem “roupas”, sem “maquiagens”,
sem esconderijos, revelando-se digno e respeitável.
Acima, Sculpture tactile. Aqui, é como um radar, sempre girando para dar
conta dos acontecimentos dentro de um vasto reino. São quatro faces, como as
quatro estações do ano, ou como os quatro elementos primordiais. É como um ser
com quatro olhos, multifacetado, como numa visão de 360 graus de abrangência,
num desejo de onisciência, onipotência, como numa casa de Big Brother, repleta
de câmeras, microfones e espelhos traiçoeiros, com subcelebridades que, em
geral, são completamente esquecidas após o término da temporada do televisivo.
Aqui, é como um robô programado para captar tudo, como numa tecnocracia de
ficção científica, com estados totalitários nos quais o cidadão é integralmente
vigiado e controlado, quando que, na verdade, o cidadão só é feliz se é livre,
fazendo com que tantas pessoas queiram morar numa perfeita democracia como os
EUA. Aqui, é como se fosse um tacape, uma ferramenta que mete medo e impõe
respeito, no falo patriarcal, dizendo para que o cidadão mantenha distância e
comporte-se (se este mesmo cidadão quiser evitar ser severamente punido). Aqui,
é uma torre de observação, olhando para todos os pontos cardeais, como numa
torre de controle num presídio, numa constante vigilância, num olho que nunca
dorme, como no terrível olho de Sauron, o grande tirano que quer controlar tudo
e todos, pois quanto menos Tao tenho, mais controle desejo obter... Aqui é como
uma caixa de correspondência banhada de neve, na magia branca de gramados que
amanhecem cobertos de neve, como se fossem feitos de açúcar, na raridade que
são as nevadas no Brasil. Aqui, é uma casa com quatro janelas, com cada janela
para uma etapa específica do ano, com os encantos de cada época, de cada
estação, de cada fase da Vida, no modo como é maravilhoso o fato de que, na
Vida, não existe retrocesso, mas apenas progresso, fazendo com que a pessoa se
desencante com os meros sinais auspiciosos, adquirindo sobriedade, em oposição a
uma pessoa bêbada, a qual faz metáfora com o vício em tais auspícios ilusórios.
Este forte pilar sustenta algo, como num altivo pescoço de Nefertiti, na força
de um pescoço que tem que sustentar uma pesada coroa, um pesado papel
representativo, no peso que cai sobre a cabeça coroada, numa pessoa que, no
papel de líder, tem que se colocar sempre por último, pois se sou um autocrata
vaidoso e arrogante, como poderei ser bom rei? Aqui, é como uma caixa de
passarinhos, só que com várias portinholas de entrada, talvez num ninho
compartilhado, com mais de um pai ou uma mãe. Podemos ouvir o som do canto dos
pássaros, como num pássaro sazonal, que só traz seu canto em uma época específica
do ano, no reconfortante som de bem te vis, trazendo paz a uma vizinhança arborizada
com casas bem mantidas, bem cuidadas, bem amadas. Estas “janelas” negras
contrastam com a caixa branca. São olhos de pupilas dilatadas, próprias para se
ver no escuro, no instinto de um animal que aprendeu a se adaptar à noite, no
modo como o Ser Humano tem uma grande capacidade para a adaptação. Na base
desta obra de Yves Saint Laurent, digo, Yves Klein, temos o responsável
suporte, a base sobre a qual as noções civilizatórias são edificadas, no modo
como o caminho da Humanidade é o crescimento, e o advento do Humanismo, a noção
de que todos somos filhos legítimos de Tao, só que uma noção que nem sempre é
contemplada... E de que adianta eu ir à missa no Domingo se, ao colocar o pé
para fora do templo, esqueci de tudo o que o padre disse lá dentro? A Vida é um
incessante trabalho de autovigilância, e esta torre de observação está sempre
atenta às menores insinuações de malícia e de maldade, como num poderoso
antivírus de computador, sempre atento à menor insinuação de vírus digital,
vírus programados por mentes brilhantes, mas mentes que não amam o Mundo nem
amam seus irmãos, num poder usado para o Mal. E é neste ponto que entra o
Coração: se tenho inteligência e bom coração, usarei uso de tal ferramenta para
o Bem.
Acima, sem título. A
delicada flor se sustenta por um fragilíssimo caule, o qual parece que vai ruir
a qualquer momento, na contradição da delicadeza – o delicado se impõe sobre o
rude, sobre o grosso, sepultando este. É o discernimento taoista – fraco é
forte; forte é fraco. É uma lição que só pode ser entendida intuitivamente,
pela mente de pessoas de bom coração, numa doutrina bloqueada para sociopatas,
os quais zombam de Tao, do Bem, da Paz, e isso é muito fácil de se observar – o
sociopata acha, expressamente, que o Mal é mais interessante. Este caule é
sinuoso, como nas curvas de uma topmodel, como na sinuosidade da logomarca da
Unisinos, imitando as curvas do Vale dos Sinos, o qual é, quase obviamente,
sinuoso. É a sensualidade da serpente, a qual em muitas culturas é associada à
Fertilidade, à Fecundidade, seja do solo, seja do útero. É o poder da
liquidiscência, impondo-se sobre o que é duro e inflexível. É o frágil e
feminino pescoço de Nefertiti, sustentando uma coroa tão descomunal. Esta flor
de YK tem um aspecto esponjoso, e é de uma cor que traz um tom tão predileto de
Yves. Esta flor parece uma complexa colmeia, e podemos ouvir o zunido das
abelhas em incessante labor, como numa pessoa trabalhadora, laboriosa, que sabe
que os frutos só vêm com trabalho, numa espécie de alimentação, como um
artista, constantemente alimentando o Mundo com Arte. Esta flor está um tanto
inacessível, retirada, desafiando alpinistas. É um doce fruto de vitória que só
pode ser conquistado por alguém muito competente e persistente, como numa
mulher difícil, que impõe vários obstáculos aos vários pretendentes, visando,
assim, valorizar-se perante estes, na questão de que não dá para a pessoa se
“vender” por um e noventa e nove. O caule é um longo caminho, talvez numa
pessoa que trabalhou muito em vida, conquistando uma gorda aposentadoria, como
num maratonista chegando, exausto, à linha de chegada, exaurido, quase morto,
mas vivo para desfrutar da glória vitoriosa. É uma linha condutora que nos guia
em meio a um traiçoeiro labirinto, levando-nos ao centro do labirinto, na
resolução de um mistério, num grande desafio, numa pessoa que se vê tão
motivada frente a tantos percalços. Este caule é uma fina coluna de fumaça,
anunciando algum incêndio, algum sinistro. É como a cordinha que prende um
balão volátil. A cordinha é o porto seguro, a âncora, o juízo, no termo “ter os
pés no chão”, no fato de que um artista deve, é claro sonhar; mas deve também
ser realista na hora de tirar os projetos do papel, no desafio que é a um
artista concretizar sonhos de Arte, como nos rabiscos de Christo e
Jeanne-Claude, planejando suas majestosas instalações, num casal que, apesar de
tantas glórias alcançadas, nunca conseguiu concretizar todos os seus projetos.
Esta flor é como uma fumaça azul, numa colorida supernova explodindo, nas
vestes oceânicas de azul, remetendo-me à imagem de Iemanjá no calçadão de Capão
da Canoa, no modo como os astronautas, na Lua, veem a Terra como uma esfera
azul; no modo como, vista do espaço, a Terra é um pontinho azul na escuridão
cósmica. Aqui, são como esponjas na tarefa de limpar, no modo como uma boa obra
de Arte, como um bom filme, tem a capacidade de dar um banho revigorante na
mente do espectador, como naqueles filmes maravilhosos que fazem com que
saiamos do Cinema com a alma leve, como uma livre gaivota à beiramar. Este
caule, na sua forte finura, busca prender a flor volátil, impedindo que a
pessoa viva ao sabor do vento, no modo como é importante que qualquer pessoa
não viva tão ao sabor das incertezas, como pessoas que passam suas vidas sem construir
algo... Aqui, são como explosões azuis, como numa bomba atômica azul. É como
uma couveflor azul, recém extraída da horta, fresquinha, no frescor de
renovação que são as escolas de Arte, como no impacto que o Modernismo
Brasileiro teve na Sociedade Brasileira, num corajoso e heróico gesto de
transgressão, mostrando que a Arte não é um cadáver imutável.
Acima, sem título. Escadas
que levam ao nada, como numa vida sem sentido, de uma pessoa que,
existencialmente vazia e improdutiva, passa seus dias fazendo fofocas, numa
atitude desinteressante. Esses degraus parecem ter brotado da parede. São como
barba ou pelos crescendo, brotando de uma raiz forte, como as fortes raízes de
uma árvore que manteem esta fixa ao solo. São como goteiras na parede, com gotas
pingando incessantemente, como numa mente artística, sempre elaborando, sempre
inventando, no modo como Tao é assim, um criador incessante, sempre criando com
sua Suprema Inteligência, deixando-nos perplexos ante tanta fertilidade genial,
perfeita. Aqui, são como cabides, na sua serventia de dependurar roupas, no
modo como todos temos que ser “varais”, “cabides”, tornando-nos úteis ao Mundo,
o qual só acolhe aquele que contribui de alguma forma. Portanto, como diz a
letra de uma canção de Macy Gray: “Levante-se; faça algo. Como você vai vencer
se você nem tenta?”. Aqui, são como tijolos rebeldes, que querem se subtrair do
sistema vigente, querendo se libertar da parede, da prisão, num espírito que,
no fundo, está louco para desencarnar, mas tendo que aceitar que ainda não é a
hora... É como um prisioneiro marcando na parede da cela quanto de tempo falta
para a tão esperada libertação. Portanto, temos que fazer algo desses nossos
dias de “presidiários”, como dizia minha querida vó Nelly: “Sem a Poesia, faria
eu o que desta tarde brumosa?”. Esses tijolos azuis rebeldes são como
refugiados, fugindo de sistemas opressores, temendo morrer se forem enviados de
volta ao país de origem. É como se o vizinho ao lado estivesse pregando na
parede pregos muito longos e grossos, invadindo minha casa, violando meu lar,
no modo como um artista nunca deve ser narcisista para se achar o melhor de
todos, ou seja, o trabalho de outrem sempre tem que ser respeitado, como no
relacionamento entre dois atores: um ator é famoso; o outro, nem tanto. Aqui,
são como tachões na pista da estrada, querendo chamar atenção do condutor,
visando a integridade deste. Esta combinação entre branco e azul traz algo de
mediterrâneo, grego, na beleza de casas brancas em meio a um oceano azul. É como
no aspecto limpo como uma estampa listrada, como listras brancas e azuis. Esta
parede é como uma esteira de produção, e os produtos são os tijolos,
incessantemente fabricados, numa demanda enorme, num país de mercado consumidor
amplo, com sua demanda titânica, como na exportação de carne brasileira ao
Exterior, nos vínculos de Mercado que unem o Mundo, na utopia (improvável) de
Adam Smith – os estados devem deixar de existir? É como nas rotas de Comércio
entre sistema solares na saga Star Wars – o Materialismo é inevitável. Esses
tijolos de YK são como treinamento de alpinistas, trepando em paredes que
simulam as vicissitudes de uma escalada, numa pessoa que vai instintivamente
desbravando seu caminho, num instinto que não pode ser ensinado em um livro ou
em uma faculdade, na necessidade de, alguma forma, sermos autodidatas. Aqui,
são como espinhos, grades, que têm a função de impor respeito, distância. É
como uma pessoa que quer ser respeitada – eu tento respeitar todos, sempre. Por
exemplo, em nunca piso nas mercadorias de ambulantes nas calçadas da Rua. Aqui,
são como prateleiras vazias, prontas para exercer seu papel útil, sua
serventia, na sensualidade do Vazio – a beleza está, exatamente, nos espaços
vazios, pois estes são úteis, sempre prestando ao Mundo de alguma forma, pois
como posso usar um copo que não tem uma boca aberta para o uso? Tao é assim, o
subestimado Vazio, sempre útil, sempre servindo. Aqui, são como arestas prontas
para ser aparadas, num diário trabalho de limpeza e manutenção. São como as
farpas da madeira sendo lixadas para evitar que nos firam. Aqui, são como cinco
grandes arranhacéus, só que dispostos de uma forma assimétrica, um tanto
aleatória. São como prédios planejados, como na Esplanada dos Ministérios em
Brasília.
Acima, sem título. Tiros
sendo dados, como numa parede sendo alvejada, talvez num atentado terrível, no
alvejamento da casa de uma pessoa, como nas ameaças de um traficante ou um
mafioso. É como na famosa cena de Odete Reutman, vivida por Beatriz Segall,
sendo assassinada com vários tiros, no mistério da telenovela: Quem matou Odete
Reutman? Aqui, é como um vândalo danificando alguma parede na raiva que existe
no coração de um vândalo, o qual é uma pessoa magoada que, de alguma forma, se
sente rejeitada pelo Corpo Social. Então, as pichações pingam, como sangue
sendo derramado, ou como gelo derretendo, pingando. É como se uma grande onda
de calor estivesse atuando, castigando com suas temperaturas tão extenuantes.
São como os relógios de Dalí derretendo, mostrando com é insignificante o modo
humano de medir Tempo e Espaço. A tinta preta luta com a tinta rosa, como se
fossem oponentes num octógono, decidindo, de forma muito agressiva, qual dos
dois é o melhor, ou como num concurso de beleza, numa “carnificina”, sepultando
tantos e tantos sonhos, como numa menina que, desde pequenina, sonha sem ser
Rainha da Festa da Uva. O fundo aqui é pardo, no papel pardo, cuja fabricação
polui menos do que o papel branquinho, no modo como a mentalidade humana está
em franca transformação, na noção de sustentabilidade. O pardo é o ouro, pois é
uma linda combinação embrulhar um pacote com papel pardo e enrolá-lo em uma
fita dourada, numa questão de simples harmonia cromática, numa pessoa que sabe
o que senta e o que não senta com determinada cor, num trabalho de
sofisticação, de elegância, na elegância que nos diferencia dos demais símios,
num espírito que, desencarnado, nada tem de símio, mas sangue estelar. Esta
parede alvejada nos permite ver além dela, e vemos pelos buracos uma imensidão
negra, como no Cosmos, numa vastidão que dá uma ideia de como Tao,
definitivamente, não é simplório ou tolo. Aqui, são como gotas em um dia de
chuva, sobre um vidro, no modo como tantas pessoas se sentem um tanto tristes
em dias chuvosos. Essas gotas são os estalos criativos na mente do artista,
numa pessoa que vai seguindo certo raciocínio, certa lógica, resultando assim
em um trabalho único, inconfundível, como nas bolas e círculos de Yayoi Kusama,
ou como nos gordinhos de Bottero, ou como nas cândidas cores de Romero Britto,
com marcas registradas que fazem com que o público reconheça tal “impressão
digital”. Estes pontos negros são como aranhas, tecendo silenciosamente suas
teias, como num incorporador, construindo aos poucos um prédio, sabendo que os
processos levam um tempo, nunca querendo acelerar etapas, num papel paciente,
numa pessoa sábia que sabe que o Tempo deve passar. Aqui, são como gotas de
“lágrimas” de uma vela, numa vela que, a partir de seu desgaste, revela sua
idade e seu tempo de serviço, como no chocalho de uma cascavel, narrando uma
carreira, uma trajetória, uma proveniência, uma linha condutora, a qual, quanto
mais longa, mais perceptível, como num artista que foi, durante décadas,
construindo uma carreira, pois os fracos não têm a capacidade de persistir, de
continuar lutando, pois o Mundo não é dos fortes? Aqui, são arbustos num
jardim, num sonho de paisagista. É um jardim plácido, muito pacífico, só
havendo Beleza e Prazer na Paz, pois a Guerra não deixa tudo devastado e destruído?
São como estrelas num mesmo “berçário”, numa mesma proveniência, como irmãos de
sangue iguais, que foram criados sob os mesmos valores. Aqui, são como
fantasmas negros, no modo a Depressão é tida como “o fantasma do meio-dia”.
Esta tábua está toda perfurada, talvez no coração de uma pessoa que passou por
algumas decepções, talvez decepções amorosas, tendo que se reerguer e retomar e
boa e velha rotina, sempre crendo na regeneração espontânea dos sentimentos.
Aqui, são como fogos de artifício estourando ruidosamente numa virada de ano,
numa agressão sonora, que marca um momento de passagem e transição, como jogar
arroz em nubentes.
Acima, o cara.
Referências bibliográficas:
Works. Disponível em <www.yvesklein.com>.
Acesso 13 nov. 2019.
Yves Klein. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 13 nov. 2019.
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