quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Respirando o Ar da Arte



O francoamericano Arman (1928 – 2005) nasceu Arman Pierre Fernandez, desde cedo adquirindo intimidade com os objetos da loja de antiguidades do pai. Aos dez anos de idade já começa a pintar, e, em 1961, depois de expor na Europa, faz sua primeira mostra em solo novaiorquino. O site de Arman preserva tal legado. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Brush Stokes. 1992. É como se os pincéis estivessem competindo entre si, para ver quem deixa a marca mais indelével, no modo como a mediocridade pode ser competitiva, pois, se sou único e original, ninguém pode competir comigo. As pinceladas vermelhas são como sangue, como numa pessoa altruísta doando sangue, num verdadeiro gesto de fraternidade, numa pessoa que observa que há pessoas precisando de tal doação, numa pessoa que realmente precisa de um ato de caridade, numa dúvida – devo dar esmola? Essas pinceladas rubras são como vinho tinto, no fascínio que o álcool exerce sobre tantas culturas diferentes, na universalidade do Ser Humano – vamos tomar um trago? A tinta aqui, apesar do quadro estar sequinho, parece estar bem fresca, bem nova, bem prematura, quase escorrendo pela tela, ameaçando nos melecar se tocarmos a obra com os dedos. É a liquidiscência de Tao, aquele que sempre flui, sempre ruma, em um infindável processo de depuração, pois pobre daquele que acha que já aprendeu tudo, ou seja, é necessário desenvolver humildade, pois não é insuportável uma pessoa arrogante e presunçosa? As pinceladas douradas parecem enriquecer o quadro, na universalidade do Ouro, este metal tão cultuado em tantas civilizações diferentes, como no Egito Antigo e na América Pré Colombiana. Os pincéis parecem dançar juntos, numa certa concórdia, como numa valsa fluindo majestosamente em um garboso salão de festas. As pinceladas parecem querer concórdia, numa vizinhança pacífica, ou num reino bem governado, atendido por um líder que sabe que a Paz é o que há de melhor para qualquer reino. As hastes dos pincéis são furadinhas, como numa orelha com um brinco – este vazio é Tao, o reservado, o subestimado, pois tal furinho é uma utilidade, uma conveniência, possibilitando que o instrumento seja dependurado num prego na parede. É o enigmático Vazio, sempre respirando, sempre fluindo, na dica de decoração – a sensualidade reside, precisamente, nos vazios, pois estes atendem às demandas do dia a dia, visto que aquilo que não tem utilidade é deletado da mente das pessoas, no desafio que é um artista se mostrar útil a um Mundo tão insensível, duro e cruel, na tentativa do artista em provocar e sensibilizar. Podemos ouvir aqui uma valsa de concórdia, e os pincéis dançam juntos como irmãos numa barriga, com no recente caso caxiense de um nascimento de quadrigêmeos. É a lição de que somos irmãos, logo, não devemos brigar, na incansável intenção de Tao em estabelecer a Paz em um reino tão aguerrido, nas nobres intenções diplomáticas. Este quadro é um espaço vazio que quer ser pintado, preenchido, numa força gravitacional. Estes pincéis dançam conforme a imaginação permite, e é como um grupo de amigos, curtindo, dentro do carro, a mesma música, numa das maiores riquezas que podemos ter – amigos. A junção deste dourado com este vermelho resulta em laranja, uma cor quente, numa fruta cítrica, com aquele pequeno toque de acidez necessário, num toque abrasivo, agressivo, na sensação de se tomar, pela primeira vez na Vida, um espumante brut. Estas ferramentas estão em plena atividade, ocupadas, fazendo obras, como numa esteira industrial, sempre suprindo o Mundo, num capim que cresce incessantemente. Aqui, são como prédios curvilíneos, desafiando a Lei da Gravidade, em sonhos de arquiteto, colocando o melhor de si em folhas de papel, ou num computador. São como cachecóis envolvidos, tremulando como bandeiras. São fitas de um presente de Natal, fazendo metáfora com as fitas que mantêm uma família unida, mesmo com distâncias geográficas – os vínculos de família não se dissolvem com o Desencarne.


Acima, Les Chaussures. 1964. O fascínio da Feminilidade, numa mulher que vê graça e diversão em usar salto alto, algo diferente para mulheres mais masculinas, que veem salto alto como imposição social. Aqui, são sapatos de diferentes cores, numa variedade, num convívio entre diferentes. É um cardume multicolorido, como salmões batalhando para subir rio acima e, ao chegar ao destino, morrem no orgasmo. O sapato preto é a cor do luto, no modo como nos anos 90 o preto entrou na moda para nunca mais sair, deixando de ser exclusivamente a cor do luto. É a cor da dúvida, nos negros confins do Universo, na incapacidade humana em apreender o Infinito – somos pequenos demais. Já, o rosa é a cor da Barbie, do doce perfume feminino, na letra de uma canção em inglês: “Lábios como açúcar. Beijos de açúcar”. O rosa é a cor da pele virgem, da candura. Neste quadro, podemos ouvir o toctoc dos sapatos, no prazer que a mulher tem em sentir tal barulho, na imposição daquilo que é considerado feminino e agradável, como no fascínio exercido pela marca Victoria’s Secret, como diz o personagem heterossexual de Woody Allen ao filho: “As mulheres são a melhor coisa que você vai ter na Vida”. Como no filme Perfume de Mulher, na icônica cena do tango dançada por um personagem cego. O amarelo é a cor da recompensa, do prêmio, como numa taça dourada, na conquista que vem após um longo período de esforço e dedicação. É a cor do Sol que nos banha, no modo como a Vida seria impossível sem o astro no meio de um sistema. É como o artista busca ser, um astro rei que aglutina para si mesmo um grande poder, uma grande influência gravitacional, nas ancestrais tentativas humanas de um artista querer ser tal força, pois é insuportável a um artista ser ignorado ou esquecido. O fundo cinzento tem um aspecto aveludado, e é a cor de um dia encoberto, invernal, cobrindo o esplendor solar, jogando dúvidas existenciais, no modo de uma pessoa querer descobrir o propósito da Vida, da existência, da encarnação, e o propósito é crescimento, numa pessoa que morre estando melhor do que como era ao nascer. Estes sapatos de Arman parecem estar num redemoinho, num quadro com um certo movimento, girando, como num centro galáctico, exercendo muito poder, poder o suficiente para comover uma infinidade de estrelas e sistemas solares. É o poder de um furacão, na contradição do olho de tal furacão, num olho que, apesar de estar no centro de tal distúrbio, está plácido, na capacidade de uma pessoa em se manter realista, humilde, com os pés no chão, pois o Poder e o Sucesso podem facilmente subir à cabeça de uma pessoa – se queres conhecer alguém, dê poder a este alguém. Aqui, são como roupas em uma máquina de lavar, num carnaval, numa mistura, como numa paella, ou numa salada de frutas, numa sociedade justa, na qual cada cidadão se sente respeitado, pois não é insano um governante que quer que todos sejamos indistintos tijolos numa parede, em um sistema que suga a vida do cidadão? Aqui, cada cor de sapato compõe uma camada, como nas várias camadas de segurança que povoam o momento de eleições no Brasil, com urnas eletrônicas à prova de fraude. São como várias peças de roupa sobrepostas, numa composição que, apesar de carregada, tem um aspecto leve, como um nariz respirando normalmente, e não é Tao tal arejamento? É a Vida, que deve sempre fluir, nunca num ponto final cadavérico. Aqui, é como uma sopa de letrinhas, fascinando as crianças. São como várias setas confusas, apontando para todos os lados, proporcionando uma escolha, uma opção, um caminho alternativo. É como um labirinto sendo solucionado, como num dia que vai amanhecendo, humilhando e neutralizando as incertezas negras do Submundo, o qual tem prazo de validade, sempre. São como grandes grupos de aves voando, migrando, na minha lembrança de ver aves migratórias em um parque da Disney, em Orlando. São as demandas de várias estações, como num pássaro que só pode ser ouvido em determinada época do ano.


Acima, L'Heure de Tous. 1985. Os relógios olham para todos os lados, talvez querendo marcar a hora de todos os cantos do Universo. São como ovas de caviar, ou numa Nossa Senhora cercada de anjinhos aos seus pés, numa deusa de fertilidade, abençoando os campos de plantio e trazendo bebês às famílias. Esses relógios estão em discordância, pois cada um marca uma hora diferente. É como numa grande e caótica discussão, e cada um quer impor sua respectiva ordem. São os relógios derretidos de Dalí, fracassando na missão apolínea de marcar o Tempo; na missão de trazer ordem ao caos. É como numa briga de família, onde cada um fala o que quer, nas catarses das discussões de família, discussões nas quais tudo acaba em harmonia, concordância e reconciliação. Aqui, é uma demanda crescente, como numa Inglaterra tendo um boom de crescimento na Revolução Industrial. É uma esteira de indústria fabricando mais e mais bens, na explosão capitalista, numa sociedade de consumo que nos dita o que devemos cobiçar, como último e mais avançado aparelho de telefonia móvel, numa sociedade que nos diz que seremos infelizes se não consumirmos... Aqui, são como os diferentes compromissos de várias pessoas, cada um com sua ordem do dia, com seus afazeres, no modo como a Dimensão Metafísica é cheia de afazeres, mas afazeres que são feitos com prazeres, nunca tendo o labor como uma fonte de estresse ou sofrimento. Aqui, é uma rosa dos ventos apontando para todas as direções, como numa estrada com placas confusas, apontando para muitas direções, trazendo dúvida existencial: Qual é meu lugar no Mundo? Quem sou eu e para onde vou? Qual é o sentido da Vida? Aqui, temos uma perda de noção de Tempo e Espaço, como numa pessoa que se perdeu na Vida, tendo que empreender um esforço titânico para se reerguer e reencontrar-se, como numa pessoa que passou por um gradual processo de empobrecimento existencial, talvez perdida em um ambiente de subconceitos os quais nada têm a ver com a realidade, com o Senso Comum. Aqui, é uma casa maluca, sempre pregando peças, numa pessoa que quer me iludir e me desnortear, num amigo falso, que definitivamente não quer me ajudar a me reerguer – os sociopatas estão entre nós. Estes relógios nos mostram que o Sol nunca se põe nas terras de Sua Real Majestade, e o Mundo nunca está completamente adormecido, na ironia do fuso horário, pois enquanto alguém dorme, outro alguém está atuante e desperto, como na ironia das estações climáticas – enquanto aqui há calor, lá há frio. Como na mente genial que inventou os plátanos, aquecendo no Inverno e refrescando no Verão. Este conjunto caótico e vibrante de relógios discordantes faz um profundo contraste com o relógio atrás na cena, o qual está, de fato, marcando a hora certa, num paralelo entre Razão e Loucura, no fato de que tudo tem duas leituras, sendo uma a contradição da outra, ou seja, se digo que algo é belo, é porque conheço o oposto, que é feio, no modo como o Mal existe exatamente para sabermos identificar e reconhecer o Bem, no discernimento taoista. Estes relógios parecem querer concorrer entre si, para ver quem tem a razão; quem está marcando a hora certa. É como a correria de espermatozoides em busca do óvulo, nas inevitáveis rivalidades orgânicas, como plantas lutando por um espaço ao Sol, no termo “luta” empreendido por uma professora minha, uma antropóloga, ou seja, de fato, a Vida é sonhar e lutar por tais sonhos. Estes relógios olham para todos os lados, numa pluralidade, numa diversidade, com vários pontos de vista sobre um determinado assunto, como nas várias religiões sobre a Terra, religiões que carregam o fato da universalidade do pensamento humano, trazendo o fato de que, no fundo, somos todos iguais, irmãos, espírito encarnados em um Mundo tão duro e fascinante. Estes relógios parecem estar em pleno processo de ordenamento, parecendo querer se organizar, talvez numa torre hierárquica, na imposição de sentido a algo aparentemente sem sentido.


Acima, The Secretary is Fired. 1963. O título significa “A Secretária está demitida”. Parece que uma bomba estourou dentro do escritório, e que pouco restou da máquina de datilografar. É como nos lamentáveis destroços da Guerra, com lindos palácios sendo destruídos, tudo em nome da cobiça humana, da insaciável sede de poder. Não há beleza na Guerra, e todos ficam desolados e esfomeados. Esta obra é como no termo “estouro” aplicado a algum artista que, de alguma forma, conquistou reconhecimento e valorização, como num Andy Warhol, artista reconhecido ainda em vida, recebendo muitas e muitas encomendas, como num Leonardo brilhando na Renascença. Aqui, não sobrou pedra sobre pedra, talvez num movimento de Vanguarda, detonando com velhos padrões, assinalando a vinda de um novo tempo, uma nova época, nas inovações de movimentos que abalam estruturas e trazem novos parâmetros de Arte e beleza, como na transgressão impressionista ou modernista, em sopros de renovação, na tarefa da Arte em assinalar tais refôlegos, tais reinvenções, como num artista “camaleão”, adquirindo, durante a carreira, muitas formas e estilos, nunca sendo repetitivo, sabendo que, se repetitivo, entediaria o público. Aqui, o fundo rubro é o sangue derramado nesta explosão, talvez nos destroços que restaram do Onze de Setembro, num escritório que, antes ordenado e organizado, virou puro caos de destruição, com tantas vidas inocentes ceifadas em um episódio tão macabro, na prova de que a mente humana pode alcançar níveis altos de maldade e ambição, nas palavras de Obama: “Você será lembrado pelo que você construiu; não pelo que você destruiu”. Aqui, temos um sonho confuso e desordenado, talvez esperando para ser entendido e solucionado sob a supervisão de um bom psicólogo. Aqui, é como um trabalho de análise e desconstrução, como num objeto de estudo científico, sendo desmantelado para ser compreendido, estudado. É como na função científica da Medicina, dividindo o Ser Humano em partes, em aparelhos, em sistemas, buscando entender a criação de Tao e trazer tratamento e cura para terríveis doenças, como AIDS e Câncer. É como na construção de um carro, num processo industrial longo, com cada peça sendo pacientemente anexada, num trabalho de paciência e persistência. É como no conserto de um relógio – é necessário desmontar tudo e remontar tudo. Aqui, é como uma terra devoluta, pronta para ser colonizada e ser repleta de graças, de nomes, estes talvez em honra de grandes homens. Este quadro traz a decadência da Era Analógica, em nome da forte ascensão da Era Digital, numa suplantação de tecnologias, como na trilogia Matrix, na transição entre analógico e digital. É como nos carros atuais, cujo sistema de som simplesmente não mais suporta tocar CD... É um galgar tecnológico muito rápido e avassalador, talvez na percepção de um artista em compreender tal cavalgar frenético. Aqui, é como se tal instrumento tivesse sido jogado de uma janela, espatifando-se em mil pedaços, num grande desafio de conserto – será que tem conserto ou é perda total? Algumas teclas da máquina ainda persistem bravamente, como num gesto de resistência, no modo como as coisas na Era Analógica parecem ter sido tão mais simples – como é simples a Infância! Aqui, temos um intrincado trabalho de montagem e desmontagem, com peças nos desafiando para que saibamos qual é a função de cada uma, buscando encontrar lógica no funcionamento do Corpo Humano, como num Leonardo, dissecando cadáveres, tudo em nome do Conhecimento. Aqui, é como se tivessem sido dissociadas as partes do Aparelho Digestivo, na intenção humana em encontrar sentido em enigmas, delegando uma importante função a cada órgão, com tudo chegando a um ponto em que temos que admitir a existência da Inteligência Suprema, no difícil caminho da Fé. Podemos ouvir o barulho do objeto caindo e se espatifando, como num barulho de trovão, ou de uma bomba. É um artista querendo chamar a atenção do Mundo, renovando percepções e trazendo o Novo, sempre.


Acima, sem título. 1958. Um cacho de uvas, numa explosão de Vida durante a Vindima, na celebração da fartura e da felicidade, num momento de reunião comunitária em torno da Vida. Este cacho aqui não uniformiza os bagos, bem pelo contrário – diversifica. Vemos lâmpadas opacas, claras e azuis. A lâmpada azul é como um oceano, seduzindo os descobridores por terras longínquas, no fetiche de desbravar terras virgens, intocadas, nas aventuras que foram a Navegações. É o globo terrestre, numa esfera que se autossustenta, com seus sistemas biológicos, no ar, terra e água, numa riqueza a qual, aparentemente, inexiste em qualquer outro lugar do nosso sistema solar. Podemos ouvir aqui o tilintar das lâmpadas se tocando, num quadro de encontro e atrito, de reunião, talvez numa tensa reunião de condomínio, com moradores frequentemente discutindo sobre problemas no prédio, numa certa tensão, como nesses dias, em que reclamei a um gerente bancário sobre o barulho do alarme intermitente do banco, numa agência ao lado de onde moro. É a certa tensão numa partida de Futebol, com discussões que podem resultar em baixaria, como ofensas e socos. Aqui, temos uma reunião, um engajamento comunitário, como numa Festa da Uva caxiense, num momento em que a comunidade esquece de suas diferenças e une-se em torno da celebração, no forte papel representativo da Rainha, num arquétipo de feminilidade, doçura e beleza, valores que norteiam a sagrada Dimensão Metafísica. No topo desta obra de Arman, um forte cabo mantém o grupo coeso, unido, como no talento de uma matriarca ou de um patriarca, reunindo a família numa noite de Natal, com crianças abrindo avidamente seus presentes, pois o Natal não é das crianças? Nesta reunião de diferentes esferas, há uma simplificação, uma limpeza, pois todos estão no mesmo “saco”, numa hora de comunhão, como numa missa, no momento em que absolutamente todos – homens e mulheres, ricos e pobres, negros e brancos – estão no momento da transubstanciação. A reunião é esta simplificação, pois são todos bebês do mesmo útero, na simples e limpa questão de Irmandade – somos todos filhos de Tao, o grande patriarca. Então, cada uma dessas lâmpadas tem algo em comum com as demais, num cenário de Liberdade, pois, apesar de sermos todos irmãos, cada um tem suas características, as quais devem sempre ser respeitadas, pois quando não há Respeito, há Guerra... Então, irmão derrama sangue de irmão, em algo sem sentido, sem propósito, sem beleza, sem validade, pois o Ódio não é uma invenção de Tao; o Ódio é um capricho humano. Aqui, são como ovas de caviar, numa grande ninhada, como ovos comprados no supermercado, na eclosão do ovo de chocolate, como na eclosão da sepultura de Jesus, o qual passou para um mundo melhor, pois ninguém é capaz de resolver os problemas do Mundo. Mas o sábio, o homem de Tao, pode ser a promessa de um amanhã melhor. É como um farto ninho de tartaruga, depositando seus ovos na areia, no fato de que, conforme a seleção natural, apenas poucos filhotes atingem a idade adulta, como na baixa expectativa de vida no Egito Antigo. Aqui, são como bolhas num sedutor espumante geladinho, encantando os enófilos, num momento de verão, de virada de ano, na deliciosa sensação cremosa que o espumante deixa na boca, num momento de prazer, de curtir a Vida. Aqui, é como um professor adquirindo a atenção e o controle sobre os alunos, num trabalho árduo, sempre querendo mostrar às crianças a importância da Disciplina, pois quem vive “ao sabor do vento” não tem Disciplina, não conseguindo, assim, fazer algo produtivo. Aqui, são vários feudos formando uma só Europa, no árduo trabalho de unificar a Itália, com regiões tão distintas, como no Brasil, no qual a Bahia é um país a parte. É como na mesma Língua Espanhola, falada em diversos países, só que cada região tem seus próprios sotaques e gírias, no indecifrável modo como os sotaques de constituem. Aqui, temos um majestoso lustre, numa abundância, como em países ricos, proporcionando qualidade de Vida ao cidadão.


Acima, sem título. 1994. Uma competitividade, na qual cada pincel quer deixar sua marca. Um aspecto de tinta fresca, e temos a impressão de que nos sujaremos se tocarmos nesta obra. Aqui há um entroncamento, pois pinceis passam uns pelos outros, como em pistas de estrada, com veículos indo e vindo. Aqui, são como carros numa corrida, numa competição, na inevitável competitividade mundana. É como num estojo de maquiagens, com suas cores vibrantes e sedutoras, numa mulher que, de tão feminina, pode passar horas se maquiando. O preto delineia os olhos, destacando o rosto da mulher, num exercício de fascínio, no universal ato de autoestima, como numa índia, pintando-se para seu casamento na tribo. O vermelho é a cor do batom, em bocas sedutoras e brilhantes, destacadas, como na aprumação de uma gueixa, maquiando-se para seduzir e encantar os homens, agindo da forma mais doce e feminina possível, contrastando com a dureza do mundo dos homens. O amarelo traz o ouro, num baú de piratas sendo aberto, ou na caixaforte do Tio Patinhas, no empreendimento de acumulação de riquezas, num reino inseguro, pois quanto mais ouro tenho, mais pessoas vão querer roubá-lo – um tesouro pode ser uma prisão, pois o que importa mais: tua imagem ou tua felicidade? Vemos aqui cândidas marcas de cor de rosa, na parte interior de uma carne bem cozida, feita por quem entende do riscado, pois comida boa não é comida sofisticadíssima, mas comida simples e bem feita, como um feijão com arroz bem feito. O rosa é a cor dos bebês, numa zelosa mãe trocando fraldas, no trabalho gigantesco que é a maternidade, sem falar na depressão pós parto. Todos os pinceis parecem ter começado juntos o momento de pincelada, como crianças apostando uma corrida, na sedução que é um jogo de tênis ou de futebol disputado por titãs do Esporte. Aqui é uma casa alegre, com crianças peraltas, sujando as paredes e fazendo bagunça, nas brincadeiras que têm como função introduzir o Mundo à criança, pois somos todos crianças em nossos inevitáveis erros, no sentimento de se querer voltar no Tempo e reparar tais erros, como numa inscrição a lápis sendo apagada pela borracha. Aqui, é como na fabricação de uma estampa, e as listras representam a retilinidade do nobre pensamento racional, pensamento frio e matemático que rechaça as malícias, como numa água gelada que, apesar de desconfortável e fria, é uma água que limpa e cura, como num remédio de amargo sabor, ou como num amigo que, apesar de tecer críticas rígidas ao outro amigo, acaba esclarecendo a mente deste. Claro que te perdoo, amigo! Estas cores remetem à bandeira nacional alemã, na universalidade das bandeiras, com cada um querendo ter uma identidade inconfundível, remetendo-me aos pavilhões dos países em um parque da Disney, tendo eu adquirido uma bandeirinha de cada país ali representado, num esforço diplomático pelo diálogo, evitando ao máximo a Guerra, e Tao é assim, um polido e sofisticado diplomata, mantendo em Paz a Dimensão Metafísica, a plácida vizinhança onde dá gosto morar. Aqui, temos uma certa alegria, talvez numa nação comemorando um grande título, como numa Copa do Mundo de Futebol. Estas listras parecem ser serpentinas num salão de baile, numa divertida sujeira na qual podemos, ao menos por um instante, ser novamente as crianças bagunceiras que fomos um dia. Aqui, são as cores delimitando placas e sinais de Trânsito, havendo no Respeito a base para que tais formas façam valer, como na Inglaterra, onde há a impressão de que a Rainha comanda tudo, desde a menor sinaleira à maior guarda militar. Estas linhas sublinham algo, talvez palavras importantes num texto, como num aluno lendo e tendo que crescer para passar na cadeira universitária, no modo como quase rodei na cadeira de Filosofia em minha faculdade, topando-me com uma professora exigente, à qual dei uma pincelada de Taoismo. Aqui, é o prazer do artista em pegar um pincel e produzir algo, como Tao, o grande artista, sempre produzindo, sempre sendo útil ao Cosmos.

Referências bibliográficas:

Arman. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 20 nov. 2019.
Artworks. Disponível em <www.armanstudio.com>. Acesso 20 nov. 2019.

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