quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Arte Marcante



De origem judaica e letã, Mark Rothko (1903 – 1970) se naturalizou americano. Foi professor de Desenho para crianças e, nos anos 60, obteve várias encomendas públicas. É conhecido por seus tons indecisos. No ano de 2012, uma obra sua foi vendida na casa de leilões novaiorquina Christie’s por 86,9 milhões de dólares. Uau. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, No. 3 No. 13. Vários carimbos caindo sobre a mesma superfície. É como se fosse uma tábua para testes de cores, ou como no prédio onde moro, no qual três propostas de cores para a pintura do prédio foram feitas, cada proposta com três tons diferentes. Mark gosta de combinações coloridas, de diversidade, e suas formas tendem ao quadrado e ao retangular, sendo difícil observarmos formas mais circulares, como nas bolas e nos círculos de Yayoi Kusama. Só que estas quinas de Mark têm arestas um tanto aparadas, como numa tábua lixada e polida, afim de não machucar as mãos do manuseador. Aqui, é como se fosse uma hierarquia vertical, com órgãos ligados por vínculos de poder e hierarquia, na metáfora piramidal das classes sociais, como no Egito Antigo, no qual o faraó era simplesmente tudo, mantendo unido e coeso todo o corpo social, como na hierarquia militar, com rígidos padrões de submissão, ou como no Espiritismo, o qual afirma que há uma hierarquia muito forte entre os espíritos, mas uma hierarquia que nunca é imposta de modo duro ou cruel, mas de uma forma chique, tornando irresistível o poder que emana de um espírito de alto grau de depuração moral. Vemos uma forma aqui de verde água, como numa paradisíaca ilha caribenha, como no frasco azulado de um perfume refrescante, nas cores do Mar Mediterrâneo, no casamento cromático entre céu azul e mar azulado, no poder da harmonia, sem a qual não há Paz, Prazer ou Amor – como posso ser feliz em uma vizinhança que está sempre em pé de guerra? O grande retângulo negro é como um monitor de televisão, no incessante aprimoramento científico e industrial, com novidades tecnológicas sempre surgindo, nos apelos da Sociedade de Consumo, na qual uma pessoa pobre ou miserável é desprezada e deletada, na crueldade de Matrix, o governo tirano que faz do próprio cidadão uma mera pilha alcalina, numa escravidão a serviço de um estando insano e ambicioso, como num rei que nunca está satisfeito dentro de seus próprios domínios, querendo sempre mais – é a tradicional fome humana por Poder, uma fome que escraviza o espírito do homem ganancioso, pois se amo e respeito meu vizinho, tenho um amigo, um aliado, um irmão. Neste quadro há alguns traços mais claros, como numa bonança que surge após um longo período de dor e indefinição. É um novo dia renascendo, numa pessoa que encarou as vicissitudes e trilhou um longo, longo caminho em direção ao retorno do autoencontro. É uma janela sendo aberta e banhando de luz um quarto escuro, como um túmulo sendo aberto, numa pessoa que acorda de um profundo sono e realmente não se sente morta – é a força imortal do Pensamento versus a finitude vulgar da Matéria. No topo do quadro, uma tarja roxa, talvez um hematoma, como numa pessoa se recuperando após uma cirurgia plástica, na eterna busca humana por beleza eterna, uma beleza que só pode acontecer metafisicamente, pois a Carne está, desde sempre, condenada à danação. Acima da forma esverdeada, um breve traço negro, como uma nuvem negra que cai sobre o indivíduo, fazendo este passar por um certo período escuro, mas uma nuvem que, desde sempre, prometeu passar, como uma borracha apagando os erros a lápis do aluno, no sentimento de voltar no tempo e reparar tais erros. É como um lugar muito sujo e escuro que foi trazido à luz, convidando a um paciente trabalho de limpeza e iluminação, como numa boate do submundo, fadada, cedo ou tarde, ao esclarecimento, pois como posso ser feliz se não posso observar o Mundo ao meu redor? Quem pode ser feliz longe da Luz? A cor laranja no fundo do quadro é uma doce tangerina, no prazer de se comer um fruto maduro.


Acima, No. 1 Royal Red and Blue. A faixa azul traz um Céu de Brigadeiro, em um belo dia, num momento em que olhamos para o profundo céu azul, enchemos nossos pulmões de ar e agradecemos por estarmos apreciando a obra de uma Inteligência Suprema. Este quadro traz uma candura infantil, como coloridos pirulitos expostas em um mercadinho, enchendo de cor os olhos das crianças, numa idade simples, em que as amizades são puras, com amizades que, depois, tornam-se adultos relacionamentos. Podemos sentir aqui um perfume tutifruti, na lembrança de infância que tenho, com tênis que eram fabricados com perfume de chiclete, no encanto de se abrir uma embalagem e encontrar tal apelo odoroso de Marketing. Aqui, são como três blocos de concreto empilhados, numa estrutura sólida, resistindo aos ventos e à passagem de Tempo. É como uma vida sendo (re)construída, com anos de muito labor e dedicação, na disciplina que faz com que a pessoa entenda que é necessário produzir; é necessário centrar a Vida em torno de algo nobre e positivo. Aqui, são como as cores de uma sorveteria, com seus doces sorvetes, fazendo metáfora com os salões metafísicos, elegantes, cheios de gente bela e gentil, em profundo contraste com o Umbral, no qual reina a grosseria... A faixa azul é um grande mar sendo observado, num planeta onde terras são minoria – estamos cercados de água. É a força de um tsunami, mas um tsunami do Bem, gentil, produtivo, num artista que encontrou uma forma de se relacionar com o Mundo, como um certo escritor, cujo nome não mencionarei: ele é um esquisitão esquizofrênico que, quando escreve, consegue se expressar claramente ao Mundo, no termo “fazer do limão uma limonada”. Ou seja, cada um tem que encontrar seu “fio terra”, seu cordão de ligação com o Mundo. O bloco rosado, quase ao centro do quadro, é o quadro da boneca Barbie, dos encantos perfumados da feminilidade e da delicadeza, como na personagem Elle Woods, de Reese Witherspoon, uma personagem que é a própria encarnação de tais valores de encanto feminino, uma verdadeira boneca feita de carne e osso. É um perfume adocicado, muito doce, como um item de confeitaria, exposto irresistivelmente numa vitrine, atraindo a atenção das “moscas”. O quadrado vermelho, mas acima, é a cor do sangue, dos vínculos de família, vínculos que não se desfazem com o Desencarne, fazendo com que os vínculos materiais, de sangue, transformem-se em vínculos metafísicos, na eternidade dos laços de Amor, o qual é a força que mantém unida uma família tão, mas tão grande. Este quadrado é como um grande bloco de gelatina, como no clipe California Girls, de Katty Perry, em que irresistíveis e doces meninas são mescladas a item de confeitaria, como um pirulito. É um quadro que cairia muito bem sobre um sofá que leve algum dos tons do quadro, como num sofá azul ou rubro. É como o termo “abajur cor de carne”, que designa o prostíbulo, com cores que remetem ao Sexo. É como o luxuoso tapete vermelho reunindo as celebridades, no sabor de frutas vermelhas. O fundo do quadro é mais sisudo e discreto, num tom vinho acinzentado. É como um vinho envelhecido, conquistando apreciadores, como no vinho à vontade na Festiqueijo, em Carlos Barbosa. Aqui, são como roupas colocadas ao lado em cima da cama, numa pessoa que quer compor um look legal, sensual, belo. É como vi num filme de James Bond, no qual o sofisticado inglês colocava as roupas sobre a cama para se certificar de que se tratasse de um bom look, digno de lorde inglês. Isso é um exercício de harmonia, pois um look só pode ser bom que trouxer tal harmonia, tal paz, pois só há beleza na placidez, fazendo da Guerra uma fábrica de horrores. Estes três blocos de Mark estão em estágios diferentes de desenvolvimento e crescimento, com cada um crescendo ao seu tempo, sem se preocupar se o fulano está mais à frente ou mais atrás. É como um arco-íris retilíneo, que se esqueceu das outras cores, como num arco-íris fashion, da busca por atitude, por impacto, fazendo do Mundo da Moda uma academia na qual tais impactos são constantemente ensaiados.


Acima, No. 5 No. 22. Uma explosão dourada, como numa fonte de luz que nunca cessa. Aqui, é como uma revista com folhas parcialmente rasgadas, proporcionando que vejamos folhas que estão mais à frente ao folhear. Uma grande faixa rubra cruza o quadro, no encanto de uma mulher de vermelho, na cor da maçã do pecado, no modo como é misógino o mito de Eva, aquela que trouxe ruína a Adão e ao Mundo, havendo no contraponto a Virgem Santíssima, uma figura feminina desprovida de más intenções, de malícia, esmagando a serpente com seus alvos pés intocados. Esta faixa é como uma ponte unindo dois reinos, num acordo de boa convivência, num trato entre dois cavalheiros, no respeito mútuo, como num acordo de cessar-fogo, na singela bandeirinha branca da Paz, apelando por um fim aos conflitos, pois na Guerra tais pontes são destruídas, cortando o diálogo e reprimindo a troca de produtos e riquezas entre as nações em guerra uma com a outra. Sobre esta faixa rubra vemos delgadas linhas brancas, no virtuoso apelo por Paz, só que um apelo que é sempre tão subestimando neste mundo aguerrido no qual vivemos. São bravos laços que lutam para não se perder em meio a tantos conflitos. É como uma pessoa cessando os conflitos consigo mesma, adquirindo Paz e autorrespeito, relacionando-se harmoniosamente com o Mundo ao redor. É o caminho da Paz, pois é claro que não pode ser feliz a pessoa em pé de Guerra com o Mundo ao redor. Essas linhas delgadas lembram dos traços do mestre Niemeyer, com as linhas que conceberam Brasília, no poder do demiurgo em imaginar, cabendo ao restante a coragem, a empreitada para concretizar tais sonhos arquitetônicos, pois na Dimensão Metafísica é tudo Pensamento, e sequer há um único tijolo nas estruturas metafísicas, ou seja, lá, o demiurgo está livre para sonhar, sem as vicissitudes materiais. A predominância neste quadro é de um majestoso dourado, como num belo dia nascendo, encantando nossos olhos com tanta cor, no poder da Luz sobre a Escuridão, numa estrela venusiana que morre ao entardecer e renasce depois, na Fênix que ressuscita das cinzas, dando-nos esperança para que possamos contornar as vicissitudes de nossas próprias vidas. É no majestoso Sol egípcio, banhando de dourado as grandes imagens de faraós, mesclando Política, Arte e Religião, tudo na figura do Faraó, o descendente direto dos Deuses. Aqui, a tarja rubra faz uma divisão entre antes e depois, como em Jesus, que dividiu a História em duas. É o discernimento entre Público e Privado, no pudor de não se sair de casa nu. Este quadro é a dourada bandeira de uma terra maravilhosa, onde o Metafísico parte de promessa para realidade, na Terra da Estrela da Manhã, a deusa que traz Luz e Vida, nas majestosas carruagens douradas que nos levam de volta ao Lar, à Paz. Este tom de âmbar me remete à casa onde cresci, com vitrôs alaranjados, dourados, fazendo com que as janelas frente Leste enchessem a casa de tal luz dourada, na memória que tenho da cozinha assim dourada, com minha mãe comendo mamão no café da manhã. É uma terra toda banhada de dourado, num lugar livre das misérias mundanas, com dias novos se revelando produtivos, numa energia de trabalho, de ânimo e de significado, pois, se quero dar sentido à minha vida, tenho que trabalhar. Esta tarja rubra é como um impedimento temporário, no sentido em que ainda não é a hora de minha passagem para o Mundo Metafísico. Quando chegar a hora, terei que aceitar a morte no meu corpo físico e abraçar o corpo metafísico, no retorno ao Lar e aos braços de grandes amigos, como minhas avós, as quais estão rejuvenescidas e felizes com a agenda metafísica – o Labor é sempre capital. Esta tarja é como um faixa na linha de chegada duma corrida, com atletas exaustos, dando o melhor de si, em forte esforço. Então, a faixa é rompida e a missão está cumprida, por mais comprida que tenha sido. Apesar de retas, as linhas de Mark são indecisas, no natural sentimento de insegurança, pois, na Vida, não há muitas garantias de que um sonho poderá ser concretizado, no sentido de que ninguém faz tudinho o que quer fazer, nas inevitáveis limitações.


Acima, No. 61 (Rust and Blue). Aqui, temos um quadro mais sério, sóbrio e fechado. Os tons de azul são um luar sensual, numa noite tropical, com as palmeiras tremulando em uma enluarada noite na Bahia, o estado brasileiro que, na prática, é um país a parte. É como um segredo, algo trancado debaixo de sete chaves. É como um quadro alegre encoberto pela escuridão noturna, como numa misteriosa casa, com todas as janelas fechadas. Na porção superior do quadro, um grande bloco escuro, quase negro, num vinho muito forte e concentrado, quase negro, com um fortíssimo teor alcoólico. Talvez temos aqui um Mark catarseando uma sensação de tristeza e abandono, como uma velha igreja abandonada, jogada à própria sorte, com um telhado desmoronando e capim crescendo no interior do templo esquecido. Os blocos de Mark buscam viver em harmonia, empilhados, organizados hierarquicamente, como um totem, cheio de faces místicas, na milenar tendência humana em recorrer ao Divino para explicar o Mundo e o Universo, chegando a um ponto em que fica difícil não crer em uma Inteligência Suprema, no trabalho da lógica espírita: Qual seria o sentido de tudo se nós nos extinguíssemos no momento da morte do corpo carnal? É um frio e matemático trabalho de lógica, de pensamento racional, nas frias lições matemáticas nos quadros das escolas. Aqui, temos um quadro noturno, só que num céu encoberto, sem estrelas para enfeitar o firmamento. A moldura do quadro é de um azul marinho discreto, num quadro que não quer ser muito berrante ou escandaloso. É uma sisuda Quarta-Feira de Cinzas, sepultando a alegria carnavalesca e trazendo todos de volta à dura realidade diária, num belíssimo circo que, cedo ou tarde, levantará a lona e irá embora, não importando a beleza que este circo exalou – nunca ouvimos que beleza não põe à mesa? É o lado sério da vida, o lado adulto, na produção de juízo, deixando para trás as bobagens infantis, adolescentes e pós-adolescentes, no caminho de crescimento do espírito, no sentido que absolutamente todos nós temos lições de suma importância a ser aprendidas. Aqui é como uma janela revelando tal misteriosa noite tropical, na sensação irônica de viajarmos ao redor do Mundo: não importa aonde vamos, a Lua sempre será a mesma para todos nós, numa sensação de comunhão, de compartilhamento, como gêmeos compartilhando um útero, uma casa, uma família; como primos compartilhando avós. Esta noite sem estrelas não nos convida a contemplar a beleza cósmica, e temos que dormir nos preparando para o dia seguinte, para a jornada seguinte, como na vida dura de um colono alemão ou italiano no Brasil, num colono que, em meio a uma vida tão dura, ia dormir de noite sonhando com uma mesa farta, gerando assim a cultura da fartura nas galeterias ou nos cafés coloniais. Cada um desses blocos de Mark tem uma espessura própria, como se fossem pessoas em estágios diferentes de aprendizado, como numa escola, que abriga alunos de várias idades, ou como na pirâmide social, com contas bancárias de todos os tamanhos, nas inevitáveis desigualdades sociais do Mundo, no elixir que é o Desencarne, o momento de luz em que as classes sociais se evanescem por completo. Aqui, é como um sanduíche cortado ao meio, revelando camadas, como camadas geológicas no solo, revelando uma história, uma carreira, uma trajetória, como no ato de se esmiuçar a carreira de um artista, no termo engraçado “penteadeira de puta” – desculpem o palavrão. É como a timeline no Facebook, mostrando todo um caminho percorrido, com percalços em cada passo, no trabalho de construção que é a encarnação, como num paciente incorporador, erguendo aos poucos, no espaço de anos, um empreendimento imobiliário, no termo “passos de bebê”, no incessante e lento trabalho de formiguinha.


Acima, sem título. Uma grande janela se abre para um belo dia de Sol, e o visual convida para um dia proveitoso, desfrutando com muita energia e vontade, como me disse uma médium: “É necessário que haja muita vontade”. Ou seja, coragem para encarar o Mundo. É como acordar, lavar o rosto e tomar café da manhã, nos rituais diários que exigem disciplina para que a pessoa resista ao sedutor apelo de Morfeu, ou seja, à sonolência, como disse certa vez Moacir Scliar – é necessário disciplina para sentar e produzir. A porção mais superior do quadro parece uma parede mofada, com o mofo sendo desafiado pela limpeza, pela luz do novo dia, no ritual das faxinas, fazendo com que uma casa física se pareça ao máximo com uma limpíssima, uma higienizada casa metafísica. É o eterno retorno, o refazer, o reviver, no ritual diário de renovação, com pais incutindo na cabeça dos filhos a importância de tomar banho e escovar os dentes, na eterna busca por Saúde, a força que permeia todo o teor metafísico, fazendo das doenças as vicissitudes da Matéria, com um professor exigente, que faz com que o aluno supere a si mesmo, no caminho de crescimento, no significado da marca de brinquedos Grow, ou seja, “cresça”. As pinceladas de Mark são incertas, indecisas, nas inevitáveis dúvidas que nos acometem todos os dias, no desafio que é manter viva a Fé em uma dimensão melhor, pois pouco consolo há na Matéria, no Dinheiro. Estas incertezas de Mark catarseiam um sentimento de insegurança, de miopia psíquica, como num desfoque, ou num paciente que, ao consultar o oftalmo, percebe que precisa de um par de lentes para ver o Mundo do jeitinho que este é, pois o Mundo não muda; o que muda é nosso modo de se relacionar com tal Mundo. A porção mais inferior do quadro traz um dourado alaranjado muito alegre e festivo, vibrante, num desejo de diversão, de descontração em meio a um Mundo tão sério e exigente. É como um período de férias, de descanso, como nas gloriosas férias de julho no colégio, com os jovens simplesmente se desligando do colégio por duas semanas. Esta cor vibrante é como uma viçosa casca de laranja, no sabor cítrico, perfumado, com renomados chefs obtendo extração de rico sabor a partir de cascas de laranja, nas dádivas que são as frutas, frutos concebidos por Tao, fornecendo doçura e sabores irresistíveis, como um figo, uma bergamota, uma manga, um morango e uma vastidão de sabores, num Pai zeloso, que quer o melhor para os filhos, tratando estes como príncipes e princesas. Este janelão se abre faminto por um novo dia, com tesão de viver, numa pessoa que aceita os desafios e que tem a humildade para reconhecer que precisa crescer como espírito. É como um olho sendo aberto, percebendo o Mundo, testemunhando as obras da criação de Tao, numa pessoa que recebeu a dádiva de testemunhar tal primor de criação, sendo Tao o grande cientista e o grande artista. As cores de Mark são como joias, bijuterias, brilhando e enfeitando elegantes senhoras, no encanto de ver da Rua uma mulher elegante, com seus sapatos impecáveis, deixando no ar pairando um perfume doce, nos doces fascínios da Feminilidade, como num busto de Nefertiti, abraçando a sofisticação de artistas visionários, que observam o Universo querendo embelezar este; ou querendo ver sentido e beleza neste Universo. Aqui, é como uma janela de uma prisão, só que sem barras, ou seja, é uma pena que foi cumprida, libertando o detento e levando este para o Lar, o sonhado Lar, como no encanto de, ao morarmos com nossas mães, ver estas colocando sobre nossas camas uma roupa quentinha, recém saída da secadora, com perfume de amaciante. As barras foram extintas e a pessoa vê um caixão sendo aberto em um jardim tão plácido e ensolarado, num momento em que a pessoa quer descansar, descansar muito, para depois pedir por um emprego e continuar tocando a seriedade da Vida, uma seriedade que se põe frente a encarnados e desencarnados – a Vida é jogo que segue. Um certo contorno negro cerca esta janela, como um lápis de maquiagem, realçando a beleza, num ato de autoestima, em uma mulher que se arruma, não importando a idade.


Acima, Yellow Blue Orange. Aqui, é como se a força da gravidade tivesse arrastado para baixo este bloco de pedra cinzenta, como no choque que é a sensação de um astronauta voltando à Terra, um astronauta antes acostumado com a falta de gravidade, agora de volta ao solo, com a sensação de que há pedras amarradas em torno de si. É o choque térmico de uma pessoa que, antes imersa no miserável e ilusório submundo, retorna ao Mundo, sentindo o peso de tal “gravidade”. É o termo “colocar os pés no chão”, no realismo necessário para que a pessoa observe o Mundo do jeitinho que este é, sem filtros ou lentes que distorcem. As pinceladas incertas de Mark dão a impressão das obras serem antigas, corroídas pela passagem do Tempo, ou como na pintura degradada de um prédio, depois de anos de chuvas, ventos e Sol escaldante, no trabalho que é repintar um prédio, evitando que este fique com um aspecto de abandono e degradação, no modo como é sujo e degradado o Umbral, com espíritos maltrapilhos que não aceitam o Desencarne, o que é insano, pois o Desencarne é a maior libertação na vida de uma pessoa. Temos aqui um azul marinho muito profundo, como nas profundezas oceânicas, com seres que vivem com pouca ou nenhuma luz, no modo como a Vida encontra meios de prosperar até nos ambientes menos prováveis, na força da Vida; na força da vontade de viver. Este alaranjado traz um por do Sol ardente, californiano, prometendo muita luz e tempo seco no dia seguinte, na sedução de Los Angeles, na Terra do Cinema, o lugar que fez e faz com que o Mundo sonhe por meio dos olhos de artistas visionários, como numa genial Marilyn Monroe, marcando épocas, no modo como o Cinema marcou o Século XX. Aqui, é como um poço, ou uma caixa de água, com a água sedimentada. Ou é um barril de vinho, com o vinho decantado, envelhecendo na quieta escuridão do barril, no fascínio enológico, no modo como a Arte é este “vinho”, este canto sedutor, este líquido precioso que faz com que relaxemos, no relaxamento mental necessário para se apreciar uma obra de Arte em toda totalidade desta mesma Arte. É como uma haste de caneta esferográfica, com a tinta quase acabando, na revolução que foi a Escrita, no poder da caneta, que impera até hoje. Este é o poder que um artista busca ter, querendo influenciar o Mundo, mudando rumos da História, como na revolução promovida por um da Vinci, trazendo o Mundo para novas ondas, novas vogues, na tarefa da Arte em trazer frescor e novidade, ineditismo, transformação. Aqui, é como no termo “fundo do poço”, no momento de miséria existencial na vida da pessoa, no momento em que a pessoa tem que dizer a si mesma: “Calma. Você vai se reerguer”. É o poder da Esperança, o qual tem que se alimentar da Força de Viver, pois, dos fracos, a história nada conta. São as exigências que a Vida faz sobre nós, exigindo que tenhamos coragem, muita coragem. É como um filho, querendo sair da sombra dos pais, como um ator que, apesar de ter tido uma ajuda de um pai poderoso, provou, mais tarde, ter “autonomia de voo”. Aqui, é como uma água parada, tóxica, num momento em que a pessoa percebe a estagnação e a necessidade de colocar tal água em movimento e renovação. Aqui, é como uma reserva de água, como um dinheiro sendo acumulado numa conta bancária, como na fábula da formiga, a qual trabalhou no Verão para ter a provisões no Inverno, ensinando à cigarra a tarefa da seriedade e da disciplina. Esta tarja escura é como um texto sendo sublinhado, como num professor querendo chamar a atenção do aluno, num árduo trabalho de paciência. E ser artista é isto – convidar o espectador para que este veja pelos olhos do artista, num momento de comunhão. Aqui, é como um copo quase vazio, no melancólico final de festa, com um salão imundo para ser limpo, pois, amanhã, a vida continua. Aqui, é como uma caixa de água sendo lentamente preenchida, num paciente trabalho de acumulação, numa pessoa sábia, que sabe que saber esperar é uma virtude.


Acima, um selo letão em homenagem a Mark.

Referências bibliográficas:

Mark Rothko. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 6 nov. 2019.
Paintings. Disponível em <www.markrothko.org>. Acesso 6 nov. 2019.

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