De origem judaica e letã,
Mark Rothko (1903 – 1970) se naturalizou americano. Foi professor de Desenho
para crianças e, nos anos 60, obteve várias encomendas públicas. É conhecido
por seus tons indecisos. No ano de 2012, uma obra sua foi vendida na casa de
leilões novaiorquina Christie’s por 86,9 milhões de dólares. Uau. Os textos e
análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, No. 3 No. 13. Vários carimbos caindo sobre a mesma superfície. É
como se fosse uma tábua para testes de cores, ou como no prédio onde moro, no
qual três propostas de cores para a pintura do prédio foram feitas, cada
proposta com três tons diferentes. Mark gosta de combinações coloridas, de
diversidade, e suas formas tendem ao quadrado e ao retangular, sendo difícil
observarmos formas mais circulares, como nas bolas e nos círculos de Yayoi
Kusama. Só que estas quinas de Mark têm arestas um tanto aparadas, como numa
tábua lixada e polida, afim de não machucar as mãos do manuseador. Aqui, é como
se fosse uma hierarquia vertical, com órgãos ligados por vínculos de poder e
hierarquia, na metáfora piramidal das classes sociais, como no Egito Antigo, no
qual o faraó era simplesmente tudo, mantendo unido e coeso todo o corpo social,
como na hierarquia militar, com rígidos padrões de submissão, ou como no
Espiritismo, o qual afirma que há uma hierarquia muito forte entre os
espíritos, mas uma hierarquia que nunca é imposta de modo duro ou cruel, mas de
uma forma chique, tornando irresistível o poder que emana de um espírito de
alto grau de depuração moral. Vemos uma forma aqui de verde água, como numa
paradisíaca ilha caribenha, como no frasco azulado de um perfume refrescante,
nas cores do Mar Mediterrâneo, no casamento cromático entre céu azul e mar azulado,
no poder da harmonia, sem a qual não há Paz, Prazer ou Amor – como posso ser
feliz em uma vizinhança que está sempre em pé de guerra? O grande retângulo
negro é como um monitor de televisão, no incessante aprimoramento científico e
industrial, com novidades tecnológicas sempre surgindo, nos apelos da Sociedade
de Consumo, na qual uma pessoa pobre ou miserável é desprezada e deletada, na
crueldade de Matrix, o governo tirano que faz do próprio cidadão uma mera pilha
alcalina, numa escravidão a serviço de um estando insano e ambicioso, como num
rei que nunca está satisfeito dentro de seus próprios domínios, querendo sempre
mais – é a tradicional fome humana por Poder, uma fome que escraviza o espírito
do homem ganancioso, pois se amo e respeito meu vizinho, tenho um amigo, um
aliado, um irmão. Neste quadro há alguns traços mais claros, como numa bonança
que surge após um longo período de dor e indefinição. É um novo dia renascendo,
numa pessoa que encarou as vicissitudes e trilhou um longo, longo caminho em
direção ao retorno do autoencontro. É uma janela sendo aberta e banhando de luz
um quarto escuro, como um túmulo sendo aberto, numa pessoa que acorda de um
profundo sono e realmente não se sente morta – é a força imortal do Pensamento
versus a finitude vulgar da Matéria. No topo do quadro, uma tarja roxa, talvez
um hematoma, como numa pessoa se recuperando após uma cirurgia plástica, na
eterna busca humana por beleza eterna, uma beleza que só pode acontecer
metafisicamente, pois a Carne está, desde sempre, condenada à danação. Acima da
forma esverdeada, um breve traço negro, como uma nuvem negra que cai sobre o
indivíduo, fazendo este passar por um certo período escuro, mas uma nuvem que,
desde sempre, prometeu passar, como uma borracha apagando os erros a lápis do
aluno, no sentimento de voltar no tempo e reparar tais erros. É como um lugar
muito sujo e escuro que foi trazido à luz, convidando a um paciente trabalho de
limpeza e iluminação, como numa boate do submundo, fadada, cedo ou tarde, ao
esclarecimento, pois como posso ser feliz se não posso observar o Mundo ao meu
redor? Quem pode ser feliz longe da Luz? A cor laranja no fundo do quadro é uma
doce tangerina, no prazer de se comer um fruto maduro.
Acima, No. 1 Royal Red and Blue.
A faixa azul traz um Céu de Brigadeiro,
em um belo dia, num momento em que olhamos para o profundo céu azul, enchemos
nossos pulmões de ar e agradecemos por estarmos apreciando a obra de uma Inteligência
Suprema. Este quadro traz uma candura infantil, como coloridos pirulitos
expostas em um mercadinho, enchendo de cor os olhos das crianças, numa idade
simples, em que as amizades são puras, com amizades que, depois, tornam-se
adultos relacionamentos. Podemos sentir aqui um perfume tutifruti, na lembrança
de infância que tenho, com tênis que eram fabricados com perfume de chiclete,
no encanto de se abrir uma embalagem e encontrar tal apelo odoroso de
Marketing. Aqui, são como três blocos de concreto empilhados, numa estrutura
sólida, resistindo aos ventos e à passagem de Tempo. É como uma vida sendo
(re)construída, com anos de muito labor e dedicação, na disciplina que faz com
que a pessoa entenda que é necessário produzir; é necessário centrar a Vida em
torno de algo nobre e positivo. Aqui, são como as cores de uma sorveteria, com
seus doces sorvetes, fazendo metáfora com os salões metafísicos, elegantes,
cheios de gente bela e gentil, em profundo contraste com o Umbral, no qual
reina a grosseria... A faixa azul é um grande mar sendo observado, num planeta
onde terras são minoria – estamos cercados de água. É a força de um tsunami,
mas um tsunami do Bem, gentil, produtivo, num artista que encontrou uma forma
de se relacionar com o Mundo, como um certo escritor, cujo nome não
mencionarei: ele é um esquisitão esquizofrênico que, quando escreve, consegue se
expressar claramente ao Mundo, no termo “fazer do limão uma limonada”. Ou seja,
cada um tem que encontrar seu “fio terra”, seu cordão de ligação com o Mundo. O
bloco rosado, quase ao centro do quadro, é o quadro da boneca Barbie, dos
encantos perfumados da feminilidade e da delicadeza, como na personagem Elle
Woods, de Reese Witherspoon, uma personagem que é a própria encarnação de tais
valores de encanto feminino, uma verdadeira boneca feita de carne e osso. É um
perfume adocicado, muito doce, como um item de confeitaria, exposto
irresistivelmente numa vitrine, atraindo a atenção das “moscas”. O quadrado
vermelho, mas acima, é a cor do sangue, dos vínculos de família, vínculos que
não se desfazem com o Desencarne, fazendo com que os vínculos materiais, de
sangue, transformem-se em vínculos metafísicos, na eternidade dos laços de
Amor, o qual é a força que mantém unida uma família tão, mas tão grande. Este
quadrado é como um grande bloco de gelatina, como no clipe California Girls, de Katty Perry, em que irresistíveis e doces
meninas são mescladas a item de confeitaria, como um pirulito. É um quadro que
cairia muito bem sobre um sofá que leve algum dos tons do quadro, como num sofá
azul ou rubro. É como o termo “abajur cor de carne”, que designa o prostíbulo,
com cores que remetem ao Sexo. É como o luxuoso tapete vermelho reunindo as
celebridades, no sabor de frutas vermelhas. O fundo do quadro é mais sisudo e
discreto, num tom vinho acinzentado. É como um vinho envelhecido, conquistando
apreciadores, como no vinho à vontade na Festiqueijo, em Carlos Barbosa.
Aqui, são como roupas colocadas ao lado em cima da cama, numa
pessoa que quer compor um look legal, sensual, belo. É como vi num filme de
James Bond, no qual o sofisticado inglês colocava as roupas sobre a cama para
se certificar de que se tratasse de um bom look, digno de lorde inglês. Isso é
um exercício de harmonia, pois um look só pode ser bom que trouxer tal
harmonia, tal paz, pois só há beleza na placidez, fazendo da Guerra uma fábrica
de horrores. Estes três blocos de Mark estão em estágios diferentes de
desenvolvimento e crescimento, com cada um crescendo ao seu tempo, sem se
preocupar se o fulano está mais à frente ou mais atrás. É como um arco-íris
retilíneo, que se esqueceu das outras cores, como num arco-íris fashion, da
busca por atitude, por impacto, fazendo do Mundo da Moda uma academia na qual tais
impactos são constantemente ensaiados.
Acima, No. 5 No. 22. Uma explosão dourada, como numa fonte de luz que
nunca cessa. Aqui, é como uma revista com folhas parcialmente rasgadas,
proporcionando que vejamos folhas que estão mais à frente ao folhear. Uma
grande faixa rubra cruza o quadro, no encanto de uma mulher de vermelho, na cor
da maçã do pecado, no modo como é misógino o mito de Eva, aquela que trouxe
ruína a Adão e ao Mundo, havendo no contraponto a Virgem Santíssima, uma figura
feminina desprovida de más intenções, de malícia, esmagando a serpente com seus
alvos pés intocados. Esta faixa é como uma ponte unindo dois reinos, num acordo
de boa convivência, num trato entre dois cavalheiros, no respeito mútuo, como
num acordo de cessar-fogo, na singela bandeirinha branca da Paz, apelando por
um fim aos conflitos, pois na Guerra tais pontes são destruídas, cortando o
diálogo e reprimindo a troca de produtos e riquezas entre as nações em guerra
uma com a outra. Sobre esta faixa rubra vemos delgadas linhas brancas, no
virtuoso apelo por Paz, só que um apelo que é sempre tão subestimando neste
mundo aguerrido no qual vivemos. São bravos laços que lutam para não se perder
em meio a tantos conflitos. É como uma pessoa cessando os conflitos consigo
mesma, adquirindo Paz e autorrespeito, relacionando-se harmoniosamente com o
Mundo ao redor. É o caminho da Paz, pois é claro que não pode ser feliz a
pessoa em pé de Guerra com o Mundo ao redor. Essas linhas delgadas lembram dos
traços do mestre Niemeyer, com as linhas que conceberam Brasília, no poder do
demiurgo em imaginar, cabendo ao restante a coragem, a empreitada para
concretizar tais sonhos arquitetônicos, pois na Dimensão Metafísica é tudo
Pensamento, e sequer há um único tijolo nas estruturas metafísicas, ou seja, lá,
o demiurgo está livre para sonhar, sem as vicissitudes materiais. A
predominância neste quadro é de um majestoso dourado, como num belo dia
nascendo, encantando nossos olhos com tanta cor, no poder da Luz sobre a
Escuridão, numa estrela venusiana que morre ao entardecer e renasce depois, na Fênix
que ressuscita das cinzas, dando-nos esperança para que possamos contornar as
vicissitudes de nossas próprias vidas. É no majestoso Sol egípcio, banhando de
dourado as grandes imagens de faraós, mesclando Política, Arte e Religião, tudo
na figura do Faraó, o descendente direto dos Deuses. Aqui, a tarja rubra faz
uma divisão entre antes e depois, como em Jesus, que dividiu a História em
duas. É o discernimento entre Público e Privado, no pudor de não se sair de
casa nu. Este quadro é a dourada bandeira de uma terra maravilhosa, onde o
Metafísico parte de promessa para realidade, na Terra da Estrela da Manhã, a
deusa que traz Luz e Vida, nas majestosas carruagens douradas que nos levam de
volta ao Lar, à Paz. Este tom de âmbar me remete à casa onde cresci, com vitrôs
alaranjados, dourados, fazendo com que as janelas frente Leste enchessem a casa
de tal luz dourada, na memória que tenho da cozinha assim dourada, com minha
mãe comendo mamão no café da manhã. É uma terra toda banhada de dourado, num
lugar livre das misérias mundanas, com dias novos se revelando produtivos, numa
energia de trabalho, de ânimo e de significado, pois, se quero dar sentido à
minha vida, tenho que trabalhar. Esta tarja rubra é como um impedimento
temporário, no sentido em que ainda não é a hora de minha passagem para o Mundo
Metafísico. Quando chegar a hora, terei que aceitar a morte no meu corpo físico
e abraçar o corpo metafísico, no retorno ao Lar e aos braços de grandes amigos,
como minhas avós, as quais estão rejuvenescidas e felizes com a agenda
metafísica – o Labor é sempre capital. Esta tarja é como um faixa na linha de
chegada duma corrida, com atletas exaustos, dando o melhor de si, em forte
esforço. Então, a faixa é rompida e a missão está cumprida, por mais comprida
que tenha sido. Apesar de retas, as linhas de Mark são indecisas, no natural
sentimento de insegurança, pois, na Vida, não há muitas garantias de que um
sonho poderá ser concretizado, no sentido de que ninguém faz tudinho o que quer
fazer, nas inevitáveis limitações.
Acima, No. 61 (Rust and Blue).
Aqui, temos um quadro mais sério, sóbrio
e fechado. Os tons de azul são um luar sensual, numa noite tropical, com as
palmeiras tremulando em uma enluarada noite na Bahia, o estado brasileiro que,
na prática, é um país a parte. É como um segredo, algo trancado debaixo de sete
chaves. É como um quadro alegre encoberto pela escuridão noturna, como numa
misteriosa casa, com todas as janelas fechadas. Na porção superior do quadro,
um grande bloco escuro, quase negro, num vinho muito forte e concentrado, quase
negro, com um fortíssimo teor alcoólico. Talvez temos aqui um Mark catarseando
uma sensação de tristeza e abandono, como uma velha igreja abandonada, jogada à
própria sorte, com um telhado desmoronando e capim crescendo no interior do
templo esquecido. Os blocos de Mark buscam viver em harmonia, empilhados,
organizados hierarquicamente, como um totem, cheio de faces místicas, na
milenar tendência humana em recorrer ao Divino para explicar o Mundo e o
Universo, chegando a um ponto em que fica difícil não crer em uma Inteligência
Suprema, no trabalho da lógica espírita: Qual seria o sentido
de tudo se nós nos extinguíssemos no momento da morte do corpo carnal? É um
frio e matemático trabalho de lógica, de pensamento racional, nas frias lições
matemáticas nos quadros das escolas. Aqui, temos um quadro noturno, só que num
céu encoberto, sem estrelas para enfeitar o firmamento. A moldura do quadro é
de um azul marinho discreto, num quadro que não quer ser muito berrante ou
escandaloso. É uma sisuda Quarta-Feira de Cinzas, sepultando a alegria
carnavalesca e trazendo todos de volta à dura realidade diária, num belíssimo
circo que, cedo ou tarde, levantará a lona e irá embora, não importando a
beleza que este circo exalou – nunca ouvimos que beleza não põe à mesa? É o lado
sério da vida, o lado adulto, na produção de juízo, deixando para trás as
bobagens infantis, adolescentes e pós-adolescentes, no caminho de crescimento
do espírito, no sentido que absolutamente todos nós temos lições de suma
importância a ser aprendidas. Aqui é como uma janela revelando tal misteriosa
noite tropical, na sensação irônica de viajarmos ao redor do Mundo: não importa
aonde vamos, a Lua sempre será a mesma para todos nós, numa sensação de
comunhão, de compartilhamento, como gêmeos compartilhando um útero, uma casa,
uma família; como primos compartilhando avós. Esta noite sem estrelas não nos
convida a contemplar a beleza cósmica, e temos que dormir nos preparando para o
dia seguinte, para a jornada seguinte, como na vida dura de um colono alemão ou
italiano no Brasil, num colono que, em meio a uma vida tão dura, ia dormir de
noite sonhando com uma mesa farta, gerando assim a cultura da fartura nas
galeterias ou nos cafés coloniais. Cada um desses blocos de Mark tem uma
espessura própria, como se fossem pessoas em estágios diferentes de
aprendizado, como numa escola, que abriga alunos de várias idades, ou como na
pirâmide social, com contas bancárias de todos os tamanhos, nas inevitáveis
desigualdades sociais do Mundo, no elixir que é o Desencarne, o momento de luz
em que as classes sociais se evanescem por completo. Aqui, é como um sanduíche
cortado ao meio, revelando camadas, como camadas geológicas no solo, revelando
uma história, uma carreira, uma trajetória, como no ato de se esmiuçar a
carreira de um artista, no termo engraçado “penteadeira de puta” – desculpem o
palavrão. É como a timeline no
Facebook, mostrando todo um caminho percorrido, com percalços em cada passo, no
trabalho de construção que é a encarnação, como num paciente incorporador,
erguendo aos poucos, no espaço de anos, um empreendimento imobiliário, no termo
“passos de bebê”, no incessante e lento trabalho de formiguinha.
Acima, sem título. Uma
grande janela se abre para um belo dia de Sol, e o visual convida para um dia
proveitoso, desfrutando com muita energia e vontade, como me disse uma médium:
“É necessário que haja muita vontade”. Ou seja, coragem para encarar o Mundo. É
como acordar, lavar o rosto e tomar café da manhã, nos rituais diários que
exigem disciplina para que a pessoa resista ao sedutor apelo de Morfeu, ou
seja, à sonolência, como disse certa vez Moacir Scliar – é necessário disciplina
para sentar e produzir. A porção mais superior do quadro parece uma parede
mofada, com o mofo sendo desafiado pela limpeza, pela luz do novo dia, no
ritual das faxinas, fazendo com que uma casa física se pareça ao máximo com uma
limpíssima, uma higienizada casa metafísica. É o eterno retorno, o refazer, o
reviver, no ritual diário de renovação, com pais incutindo na cabeça dos filhos
a importância de tomar banho e escovar os dentes, na eterna busca por Saúde, a
força que permeia todo o teor metafísico, fazendo das doenças as vicissitudes
da Matéria, com um professor exigente, que faz com que o aluno supere a si
mesmo, no caminho de crescimento, no significado da marca de brinquedos Grow,
ou seja, “cresça”. As pinceladas de Mark são incertas, indecisas, nas
inevitáveis dúvidas que nos acometem todos os dias, no desafio que é manter
viva a Fé em uma dimensão melhor, pois pouco consolo há na Matéria, no
Dinheiro. Estas incertezas de Mark catarseiam um sentimento de insegurança, de
miopia psíquica, como num desfoque, ou num paciente que, ao consultar o
oftalmo, percebe que precisa de um par de lentes para ver o Mundo do jeitinho
que este é, pois o Mundo não muda; o que muda é nosso modo de se relacionar com
tal Mundo. A porção mais inferior do quadro traz um dourado alaranjado muito
alegre e festivo, vibrante, num desejo de diversão, de descontração em meio a
um Mundo tão sério e exigente. É como um período de férias, de descanso, como
nas gloriosas férias de julho no colégio, com os jovens simplesmente se
desligando do colégio por duas semanas. Esta cor vibrante é como uma viçosa
casca de laranja, no sabor cítrico, perfumado, com renomados chefs obtendo
extração de rico sabor a partir de cascas de laranja, nas dádivas que são as
frutas, frutos concebidos por Tao, fornecendo doçura e sabores irresistíveis,
como um figo, uma bergamota, uma manga, um morango e uma vastidão de sabores,
num Pai zeloso, que quer o melhor para os filhos, tratando estes como príncipes
e princesas. Este janelão se abre faminto por um novo dia, com tesão de viver,
numa pessoa que aceita os desafios e que tem a humildade para reconhecer que
precisa crescer como espírito. É como um olho sendo aberto, percebendo o Mundo,
testemunhando as obras da criação de Tao, numa pessoa que recebeu a dádiva de
testemunhar tal primor de criação, sendo Tao o grande cientista e o grande
artista. As cores de Mark são como joias, bijuterias, brilhando e enfeitando
elegantes senhoras, no encanto de ver da Rua uma mulher elegante, com seus
sapatos impecáveis, deixando no ar pairando um perfume doce, nos doces
fascínios da Feminilidade, como num busto de Nefertiti, abraçando a
sofisticação de artistas visionários, que observam o Universo querendo
embelezar este; ou querendo ver sentido e beleza neste Universo. Aqui, é como
uma janela de uma prisão, só que sem barras, ou seja, é uma pena que foi
cumprida, libertando o detento e levando este para o Lar, o sonhado Lar, como
no encanto de, ao morarmos com nossas mães, ver estas colocando sobre nossas
camas uma roupa quentinha, recém saída da secadora, com perfume de amaciante.
As barras foram extintas e a pessoa vê um caixão sendo aberto em um jardim tão
plácido e ensolarado, num momento em que a pessoa quer descansar, descansar
muito, para depois pedir por um emprego e continuar tocando a seriedade da
Vida, uma seriedade que se põe frente a encarnados e desencarnados – a Vida é
jogo que segue. Um certo contorno negro cerca esta janela, como um lápis de
maquiagem, realçando a beleza, num ato de autoestima, em uma mulher que se
arruma, não importando a idade.
Acima, Yellow Blue Orange. Aqui, é como se a força da gravidade tivesse
arrastado para baixo este bloco de pedra cinzenta, como no choque que é a
sensação de um astronauta voltando à Terra, um astronauta antes acostumado com
a falta de gravidade, agora de volta ao solo, com a sensação de que há pedras
amarradas em torno de si. É o choque térmico de uma pessoa que, antes imersa no
miserável e ilusório submundo, retorna ao Mundo, sentindo o peso de tal
“gravidade”. É o termo “colocar os pés no chão”, no realismo necessário para
que a pessoa observe o Mundo do jeitinho que este é, sem filtros ou lentes que
distorcem. As pinceladas incertas de Mark dão a impressão das obras serem
antigas, corroídas pela passagem do Tempo, ou como na pintura degradada de um
prédio, depois de anos de chuvas, ventos e Sol escaldante, no trabalho que é
repintar um prédio, evitando que este fique com um aspecto de abandono e
degradação, no modo como é sujo e degradado o Umbral, com espíritos
maltrapilhos que não aceitam o Desencarne, o que é insano, pois o Desencarne é
a maior libertação na vida de uma pessoa. Temos aqui um azul marinho muito
profundo, como nas profundezas oceânicas, com seres que vivem com pouca ou
nenhuma luz, no modo como a Vida encontra meios de prosperar até nos ambientes
menos prováveis, na força da Vida; na força da vontade de viver. Este
alaranjado traz um por do Sol ardente, californiano, prometendo muita luz e
tempo seco no dia seguinte, na sedução de Los Angeles, na Terra do Cinema, o
lugar que fez e faz com que o Mundo sonhe por meio dos olhos de artistas
visionários, como numa genial Marilyn Monroe, marcando épocas, no modo como o
Cinema marcou o Século XX. Aqui, é como um poço, ou uma caixa de água, com a
água sedimentada. Ou é um barril de vinho, com o vinho decantado, envelhecendo
na quieta escuridão do barril, no fascínio enológico, no modo como a Arte é
este “vinho”, este canto sedutor, este líquido precioso que faz com que
relaxemos, no relaxamento mental necessário para se apreciar uma obra de Arte
em toda totalidade desta mesma Arte. É como uma haste de caneta esferográfica,
com a tinta quase acabando, na revolução que foi a Escrita, no poder da caneta,
que impera até hoje. Este é o poder que um artista busca ter, querendo
influenciar o Mundo, mudando rumos da História, como na revolução promovida por
um da Vinci, trazendo o Mundo para novas ondas, novas vogues, na tarefa da Arte
em trazer frescor e novidade, ineditismo, transformação. Aqui, é como no termo
“fundo do poço”, no momento de miséria existencial na vida da pessoa, no
momento em que a pessoa tem que dizer a si mesma: “Calma. Você vai se
reerguer”. É o poder da Esperança, o qual tem que se alimentar da Força de
Viver, pois, dos fracos, a história nada conta. São as exigências que a Vida
faz sobre nós, exigindo que tenhamos coragem, muita coragem. É como um filho,
querendo sair da sombra dos pais, como um ator que, apesar de ter tido uma
ajuda de um pai poderoso, provou, mais tarde, ter “autonomia de voo”. Aqui, é
como uma água parada, tóxica, num momento em que a pessoa percebe a estagnação
e a necessidade de colocar tal água em movimento e renovação. Aqui, é como uma
reserva de água, como um dinheiro sendo acumulado numa conta bancária, como na
fábula da formiga, a qual trabalhou no Verão para ter a provisões no Inverno,
ensinando à cigarra a tarefa da seriedade e da disciplina. Esta tarja escura é
como um texto sendo sublinhado, como num professor querendo chamar a atenção do
aluno, num árduo trabalho de paciência. E ser artista é isto – convidar o
espectador para que este veja pelos olhos do artista, num momento de comunhão.
Aqui, é como um copo quase vazio, no melancólico final de festa, com um salão
imundo para ser limpo, pois, amanhã, a vida continua. Aqui, é como uma caixa de
água sendo lentamente preenchida, num paciente trabalho de acumulação, numa
pessoa sábia, que sabe que saber esperar é uma virtude.
Acima, um selo letão em
homenagem a Mark.
Referências bibliográficas:
Mark Rothko. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 6 nov. 2019.
Paintings. Disponível em <www.markrothko.org>.
Acesso 6 nov. 2019.
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