O recifense Francisco
Brennand (1927 – 2019) é notório ceramista, e sua recente morte repercutiu do
Oiapoque ao Chuí. Em 2017 ganha a Medalha do Mérito Guararapes – Grã-Cruz,
honraria do estado de Pernambuco. Brennand nasce dez anos depois do próprio pai
abrir uma fábrica de cerâmicas. Francisco foi admirador de mestres como Gaudí,
Picasso, Matisse e Miró, entre outros. Os textos e análises semióticas a seguir
são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Feiticeiro. O mago aqui olha reto para o horizonte, como uma pessoa
observando possibilidades, observando um futuro, como numa pessoa que, frente a
uma generalizada frustração, resolve mudar de vida, trocando de carreira, de
profissão, como no próprio Brennand, que começou como pintor a óleo e acabou se
encontrando como ceramista. O feiticeiro aqui é austero, digno de respeito, com
um caráter pétreo, incorruptível, numa pessoa que conquistou o respeito da
comunidade. Há aqui certas rachaduras propositais, num formato de veia, de vaso
sanguíneo, no sangue que pulsa em todos nós, cercando-nos vampiros de almas,
loucos para sugar nosso psíquico, escravizando-nos. O feiticeiro está sereno,
respirando tranquilamente. Esta escultura é um falo, austero, como num obelisco
cujo topo anuncia, como um viril galo, o início de um novo dia, no modo como,
depois da sombria crise, vem o dia iluminado, trazendo certeza e clareza para o
olhar existencial da pessoa, num sinal de esperança, de uma vida maravilhosa
que nos espera após o Desencarne, num momento de libertação em que as dúvidas
cinzentas se dissipam e que as certezas iluminadas se revelam finalmente,
deixando para trás os patéticos caprichos dos egos humanos terrenos. Nesta foto
podemos observar um pedaço do majestoso parque de esculturas de Brennand, num
lugar plácido, que respira talento, convidando-nos a contemplar o trabalho do
artista, numa espécie de Éden de Arte, e podemos ouvir o plácido som dos
passarinhos. O feiticeiro aqui usa um colar com círculos, no modo humano de
colocar uma coleira em torno do pescoço de um bicho, fazendo metáfora com o
modo do espírito estar preso ao corpo, num cachorro louco para se libertar, no
modo como não há realização maior do que tal libertação, como num prisioneiro
que pode respirar o ar puro da liberdade, após um penoso período de cárcere – é
como nascer de novo, cercado de amigos e entes queridos, numa dimensão onde não
há o material, o tangível, derrubando as obsessões mundanas materialistas. Na
verdade, o feiticeiro aqui é o próprio Brennand, num mago como MC Escher, com
mãos mágicas que moldam e fazem coisas novas, na matéria transformadora de um
artista plástico, um artista que cria coisas novas, como Tao, o grande inventor
que nunca para de criar, dando-nos o exemplo de como a Vida precisa ser produtiva,
cheia de deliciosos desafios, como num aventureiro embarcando em uma missão. Ao
redor da cabeça deste mago, vemos estruturas que parecem ser escamas, nos links
biológicos que permeiam a Criação de Tao, numa relação de continuidade entre a
pele humana e as escamas répteis. Nas comunidades antigas, os feiticeiros eram
líderes respeitados, sensíveis, cautelosos e sábios, num líder que sabe como
pode ser arriscado atravessar um rio, sempre hesitante, sempre extremamente
polido, guiando seu povo no caminho certo, na força de liderança de certas
raras pessoas, como numa Elis Regina, guiando o Povo Brasileiro no caminho
áureo da revelação artística, tocando no tocafitas de um carro, enquanto uma
família vai para Gramado, a Europa Verde Tupiniquim. Parece que há uma apertada
cinta ao redor do pescoço deste personagem, e essa rigidez é a Disciplina, como
numa pessoa que sabe que tem que sentar e produzir, fazendo o dia valer a pena:
“Aproveite o dia”, assim como um fiel discípulo aproveita as frases do Grande
Livro de Tao, absorvendo as mensagens ao ponto de não mais precisar consultar
os textos. Aqui, temos um corpo rijo, atento, como num paladino farol guiando
marinheiros, na tarefa artística de agrupar as pessoas ao redor da
Sensibilidade, como num filme causando comoções globais.
Acima, Os Comediantes. Apesar do título, este conjunto de esculturas não
traz propriamente sorrisos ou risadas, na metáfora do palhaço que chora,
provocando riso, mas sendo, dentro de si, um tanto triste, talvez aqui num
Brennand catarseando um sentimento de melancolia, de depressão, no poder
terapêutico da Arte, libertando a alma do artista por meio das obras. Estes
comediantes remetem às antigas esculturas sumérias, com homens de grandes olhos
olhando para o Céu, talvez na crença de certas pessoas de que a Humanidade, em
um certo ponto do passado, foi regida por alienígenas colonizadores. Aqui, os
homens olham para o horizonte, como num time de futebol, visando tudo o que
pode ser feito para que o gol surja, como num empresário focado, sempre olhando
para o futuro, sempre elucubrando coisas para que o negócio dê cada vez mais
certo, numa mente objetivada, focada, do fino fio de uma adaga afiada, estraçalhando
percalços e batalhando pela tão sonhada vitória, na luta que é a vida de um
artista, sempre buscando meios para ser entendido, valorizado e amado pelo
Mundo – é um grande desafio. Aqui, há uma certa hierarquia, pois um dos homens
é mais baixinho, como na hierarquia das peças de Xadrez, com o anônimo peão na
base da pirâmide social. Os outros três são mais elevados, na superioridade de
um espírito com apuro moral, na deliciosa e irresistível hierarquia espiritual
– quanto mais fino, mais forte, no limpo discernimento taoista, onde menos é
mais. Aqui, é como três filhos mais velhos ajudando a criar um filho menor, na
precoce responsabilidade que acomete os primogênitos, com crianças que, desde
muito cedo, são escaladas em tal empreitada de responsabilidade, num espírito
que resolveu assim encarnar para adquirir mais sabedoria. Aqui, são como peças
num tabuleiro de Xadrez, cada uma com suas particularidades, no enorme desafio
que é jogar este jogo, exigindo um exercício mental que não é extremamente
comum, fazendo com que o jogador anteveja prováveis jogadas, nunca subestimando
a inteligência do oponente, pois se subestimo, sou surpreendido; se sou
subestimado, posso surpreender. Portanto, seja subestimado e não subestime.
Aqui, são como soldados num duro campo de batalha, e podemos ouvir os terríveis
estouros de bombas, no talento humano para o derramamento de sangue fraternal.
Como sentinelas, parece que esses comediantes esperam por algo, por um
chamamento do líder, como cachorros farejando drogas em malas despachadas em aeroportos. As
peças deste jogo são como um elenco de filme, como num jogo de futebol,
imprevisível, surpreendendo com grandes talentos, pessoas que deixam o Mundo
perplexo, com pessoas que vieram do nada e simplesmente conquistaram a Terra
inteira, num talento que não é muito comum de se observar, pois cada pessoa tem
que aprender a brilhar por si mesma. Aqui, são como vários frascos de perfume
em uma bandeja em um lavabo, como na casa de um fino e acolhedor anfitrião, na
magia que as fragrâncias exercem sobre o Ser Humano, com tudo girando em torno
do perfume espiritual, do perfume comportamental, pois não adianta eu ser um
psicopata que usa fragrâncias Chanel... Ou seja, as coisas materiais são apenas
molduras, as quais devem cercar um bom quadro, que é o psíquico, pois de nada
serve uma linda moldura em torno de nada... Esses três “soldados” mais altos
têm chapéus diferentes, como se cada um tivesse uma aptidão diferente. Um,
parece ser um bispo; o outro, um chef de cozinha; o outro, um militar. É o modo
humano de delegar tarefas, fazendo com que cada pessoa contribua de forma
pessoal e inconfundível, num espírito provando ser benéfico, ajudando a fazer
do Mundo um lugar com mais fé e elevação moral, no papel dos feiticeiros em
antigas tribos, unindo as pessoas em torno de Tao, o Sol que nos rege a todos.
Aqui, são como comandos em um painel aeronáutico, na enorme responsabilidade do
piloto em transportar vidas humanas, na responsabilidade do artista em
transportar a mente das pessoas, fazendo da Arte tal floresta fina e
confortável, numa sala de estar deliciosa.
Acima, Serpente. A genialidade de Brennand, fazendo do gramado um mar pelo
qual nada esta serpente, sempre misteriosa, nunca se revelando pro completo,
reservada, como se soubesse que há perigo na demasiada exposição midiática. É
como o lendário monstro do Lago Ness. É como a famosa escultura dos em um
balneário uruguaio, com dedos saindo da areia, numa mão nunca se revelando por
completo. A serpente, na sua sinuosidade, como na logomarca da Unisinos,
tremula com seus altos e baixos, dando-nos o recado de que ninguém está por
cima o tempo todo, na liquidiscência que faz com que nossa vida tenha tanto
vacas magras quanto gordas, na metáfora de As
Horas: boa ou ruim, esta hora passará. A serpente aqui está boquiaberta,
talvez na reação de um espectador que se depara com tal talento. É uma boca
faminta, sedenta por respeito e reconhecimento, no modo como é feliz a pessoa
que respeita o Mundo. Esta serpente está caçando, para ganhar o pão de cada
dia, na inevitável batalha que é a pessoa tentar se fazer respeitar pelo Corpo
Social, num desafio existencial enorme, talvez o maior – findado o contorno do
grande percalço, hora de voltar para casa, ou seja missão cumprida, no ar que
se respirava no velório de um ente querido meu, um ente que, naquele momento,
estava absolutamente consciente de que desencarnara. Esta fértil e verde grama
é a cabeça de Brennand, sempre produtivo, fazendo metáfora com a fertilidade
sensual do requebrado da serpente, como na Garota de Ipanema, inspirando
poetas, no modo como certas pessoas têm essa energia inspiradora, encorajadora,
como na personagem de Sharon Stone em Cassino. A
tarefa de um artista é esta – inspirar em meio à emissão de uma energia
vibrante, pulsante, num estrela brilhando no Céu, tal qual o mais fino cristal,
na vitória do fino sobre o grosso. Esta serpente é forte e musculosa, tal qual
um halterofilista dando o melhor de si numa competição, mostrando até onde seu
condicionamento físico pode chegar. É uma obra que mostra o quanto é importante
sermos fortes para que a Vida seja tocada para frente, exigindo do espírito um
espírito olímpico, bravo, contornando elegantemente os percalços, provando que
o talento vence a mediocridade, como num diretor de Cinema, reconhecido depois
de ser tão subestimado, na vitória da persistência, vitória embasada por um
grande potencial – quando há talento, tudo o que é preciso é persistência.
Neste registro fotográfico, temos a impressão de que flagramos a serpente em
pleno movimento, e que, depois do clique, a serpente desaparecerá abaixo do
solo, sempre subestimada, sempre discreta, sempre agindo nos bastidores, como
se soubesse que o gratuito exibicionismo não rende respeito. A serpente aqui
está completamente à vontade, livre, confortável em seu delicioso livre
arbítrio, numa pessoa que, por modo de comparação, valoriza a Liberdade em meio
à prisão, pois se digo que algo é belo, é porque sei o que é feio. Esta cobra
não é assustadora, mas simpática, no modo como deve ter sido a própria pessoa
de Brennand, como num artista plástico que conheci certa vez em Porto Alegre, uma
pessoa muito pura, muito honesta em seus sentimentos, uma pessoa inocente e
produtiva, ou seja, gente boa mesmo, pois feliz é aquele que encontra Paz e
Produtividade, injetando a quietude de Tao, a grande bandeira branca. Esta
serpente parece ser um simpático fantoche, numa brincadeira de criança, como
nos célebres Muppets, os carismáticos fantoches que encantam as crianças, na
doçura de uma fase da Vida, fase na qual a pessoa traz muito da candura
metafísica, contrastando com o duro e amargo mundo dos adultos. Esta cobra, em
sua liberdade, procura por algo, talvez num artista em busca de inspiração,
talvez num astro pop, pensando no que fará em seu próximo trabalho de estúdio,
ou na montagem de seu próximo show. As obras de Brennand pulsam vivas, saltando
aos olhos, como genuínos pedaços da mente do mestre.
Acima, sem título. Esta obra
remete a um termo que eu mesmo inventei: “Mais sem graça do que chafariz na
chuva”. Os chafarizes são vida abundante, num Tao provedor, sempre criando,
sempre servindo ao Mundo, na felicidade da pessoa digna, que ergue a cabeça e
serve ao Mundo. Dentro de toda esta cena, temos uma grande e fértil figura
feminina, numa espécie de mulher falo, de mulher obelisco, remetendo-me à
imagem de Iemanjá em Capão da Canoa, numa mulher sensual e voluptuosa, enchendo
de fartura as redes dos pescadores, como Jesus no milagre da multiplicação dos
peixes, ou como na lenda do descobrimento da estátua de Nossa Senhora
Aparecida. Os seios desta mulher de Brennand são fartos e lactantes, sempre
nutrindo a prole, numa mãe que deixa a casa na mais completa ordem, cuidando da
roupa suja com Omo, o produto que simboliza esta supermãe, esta mãe tão zelosa.
Os seios fartos aqui são de causar inveja a qualquer mulher siliconada, e cada mama
aponta para uma direção diferente, na fartura de escolhas que se revelam à
frente da pessoa durante a Vida, no modo como me disse uma grande amiga
psicóloga: “A Vida é feita de escolhas”. A barriga desta musa está prenha, bem
inchada, prestes a parir, num momento em que a mulher se revela a responsável
pela Vida no Mundo. Este chafariz é fértil como a barriga da gestante, sempre
exalando Vida e trazendo diversidade ao Mundo, como numa imagem da Catedral de
Caxias do Sul, com Nossa Senhora cheia de anjinhos aos pés, com os anjinhos
competindo pela atenção da Virgem, no milagre fértil da Imaculada Conceição,
uma forma de expressão para que o Ser Humano entenda o que é o pertencimento à
Realidade Metafísica. Esta mulher falo é corajosa, destemida mesmo, e assume-se
mulher perante todos, na dignidade materna, nutrindo com seu leite, dando tudo
de si em nome dos filhos, no modo como há, por parte dos filhos, a eterna
gratidão, numa gratidão que perdura no Tempo, pois os vínculos de família
sobrevivem ao Desencarne, fazendo da mãe uma espécie de ponte, pois sem tal
ponte eu não poderia ter passado do estágio 1 para o estágio 2, no modo como o
Ensino Médio é uma ponte entre o Fundamental e o Superior. Esta musa de
Brennand tem os pés descalços, mostrando simplicidade na nudez, na deliciosa
sensação de se tirar os sapatos e caminhar na grama. Aos pés desta Madona
brasileira, várias pequenas figuras, como pássaros num ninho, como na logomarca
da Nestlé. São as obras da fertilidade, como mágicos ovinhos num ninho de
Páscoa, ou várias galáxias jogadas pelos confins cósmicos, como conchinhas à
beiramar. Esta fonte celebra a Vida, pois Tao é precisamente esta fonte. É como
um reino próspero, cheio de fartura, num rei benevolente, que jamais pisa nos
calos de qualquer súdito, sabendo que um reino é como uma grande família, como
disse uma jovem Elizabeth II: “Pertencemos todos à Grande Família Imperial”, ou
seja, as coisas boas na Terra fazem alusão à gloriosa vida de desencarnados,
numa dimensão em que temos a certeza de pertencermos à Grande Família Espiritual,
havendo em Tao a cola invisível que deixa tudo e todos unidos, num talento de
patriarca. Aqui, podemos ouvir o delicioso som da água sendo jorrada, como num
batuque gostoso em uma canção de Bossa Nova, nas ondas requebrando nos calçadões
cariocas. Aqui, estes vários “tucanos” se curvam perante a benevolência de tal
rei, sendo banhados pela água pura da pia batismal, no religioso ritual de
batismo em que a pessoa é “perdoada” por nascido do coito entre um homem e uma
mulher, no modo como não é muito saudável guardar tal peso, pois Sexualidade é
natural no Ser Humano. Aqui, é uma espécie de fonte de juventude, no modo como
o desencarnado não mais está atrelado às vicissitudes físicas, como um quadro
depressivo ou um câncer – é a glória. Aqui, estes bebês parecem se curvar
perante esta deusa, no modo como a Virgindade faz metáfora com o fato de sermos
todos de sangue estelar, gerando uma cópia grosseira nas linhagens mundanas de
sangue azul.
Acima, sem título (2). Parece
que esta cobra está se afogando nos rochedos, entrando em harmonia com as
traiçoeiras ondas do mar atrás. A cobra parece gritar por socorro, desesperada,
como se estivesse afundando em areia movediça, numa pessoa que precisa de um
amigo, de um auxílio, como num artista buscando por meios para se expressar e
para expor seus trabalhos, no difícil início de uma carreira artística, numa
fase em que a pessoa tem que ter nervos de guerreiro para prosperar e para não
se amedrontar nos vários percalços, como num majestoso atleta, vencendo
olimpicamente os obstáculos, no poder da vontade de vencer, num momento em que
o Ser Humano se mostra inteligente e civilizado, diferenciando-se definitivamente
dos outros animais, como na busca artística pela beleza, num ato que visa
diferenciar humanos de macacos. Parece um peixe que dá um rápido e repentino
pulo fora da água para capturar algum inseto ou alguma frutinha, no modo como é
inevitável na busca a luta do dia a dia, com índios indo à floresta para caçar,
nas demandas diárias de se colocar comida na mesa para as crianças, num pai
preocupado se irá ser capaz de ganhar um salário que ajude em tal sustento, na
enorme responsabilidade que é não deixar algo faltar em casa. Esta cobra é
discreta e reservada, e nunca se revela por completo, como se soubesse que há
perigo na exposição, como numa pessoa reservada e discreta, expondo o próprio
trabalho mas nunca expondo a si mesma, como numa pessoa discreta como Luis
Fernando Verissimo, o qual vi certa vez em um shopping em Porto Alegre, e
Verissimo, mesmo passeando tão discretamente, era assediado pelas pessoa
tirando selfies com ele, ao invés de se respeitar o momento de lazer do
cidadão! Esta cobra reservada de Brennand parece querer nos picar, nos
capturar, no modo como ver o trabalho de um artista é penetrar na mente deste,
como entrar na casa de uma pessoa, num momento em que sentimos o hálito
comportamental da pessoa anfitriã. E o artista é isto – um anfitrião. Esta
cobra é onisciente, e seus olhos abertos capturam tudo ao redor, na tentativa
humana de se entender a infalível onisciência de Tao, num mistério: como eu, um
humilde ser humano, posso entender que Tao sempre existiu e sempre existirá? É
um desafio completo, pois a limitada mente humana não entende o ilimitado. Esta
cobra surge de surpresa e nos assusta, como num trem fantasma em um parque de
diversões, ou no prazer de se assistir a um filme de terror, no modo como eu,
na minha pré-adolescência, amava os filmes do monstro Freddy Krueger. O bico da
cobra é pontudo, agressivo, afiado, como no frio olhar preciso de um
psicoterapeuta, podendo dar diagnósticos precisos, frios, clínicos, no poder do
Pensamento Racional, como num raio x em um aeroporto, detectando cápsulas de
drogas engolidas por transportadores aliciados pelo Tráfico. Esta cobra está
acostumada com a rotina do dia, numa pessoa que sabe da necessidade de se
desenvolver Disciplina, pois só talento não adianta – tenho que ter alma de
cumpridor de tarefas, como na rotina de um artista em seu atelier, sabendo que
não bastam apenas as marés impulsivas da Sensibilidade. Aqui, é como um filhote
saindo do ovo, querendo viver, explorar o Mundo, aventurar-se. É como num jovem
que quer adquirir o controle de sua própria vida, tendo que ter a agressividade
para quebrar a casca deste ovo. É um momento de ruptura, num artista que,
apesar de admirar outros artistas, tem que partir em busca de uma identidade
inconfundível, no desafio que é a diferenciação, em um mundo tão hierarquizado,
no qual os grandes são imitados pelos pequenos. Esta cobra tem um bico de ave,
como num pica pau, picando incansavelmente, como se soubesse que é preciso
batalhar para se obter as coisas na Vida. Aqui, é como um anelídeo, com vários
anéis, numa dança sensual tal qual uma tortuosa coluna barroca, numa majestosa
madrinha de bateria de escola de Samba, na beleza da mulher brasileira, com
seus seios fartos, havendo na exuberância carnavalesca uma metáfora com a
fertilidade de um país.
Acima, Torre de Cristal. A imponência fálica, numa paladina Barbra
Streisand, erguendo-se corajosamente perante o Mundo, num talento pedindo para
ser reconhecido e devidamente valorizado. É como se esta torre de Brennand
competisse com os arranhacéus da cidade, numa natural competição que existe no
Mundo, numa competição, como no famoso baile anual da revista Vogue Brasil, num
momento em que cada mulher quer aparecer mais do que a outra, nas carnificinas
que são os concursos de beleza, com a maioria das moças na competição tendo
seus sonhos frustrados. Aqui, este obelisco tem uma roupa que dá um aspecto
viscoso, ou como numa serpente mudando de pele, num momento de renovação,
antecedido por uma crise, pois as crises, disse-me uma amiga psicóloga, são
positivas. Esta grande torre é acompanhada, a seus pés, de torres bem menores,
como filhotes, no modo como os grandes artistas fazem escola, inspirando outros
artistas, até que um deles dê provas de autonomia de voo, por assim dizer,
destacando-se inconfundivelmente. Neste trabalho, o artista nos mostra o seu
dedo do meio, no gesto agressivo de mandar a pessoa àquele lugar! É como na
espada do líder Lion, dos célebres Thundercats, numa espada que começa pequena
e aumenta até emitir um sinal que une toda a tribo, num talento de liderança,
na tarefa de um feiticeiro em manter a tribo coesa e unida em torno de Tao, o
grande rei que quer o melhor do melhor para seus próprios filhos, ou seja, nós.
Aqui, é como uma antena de transmissão de rádio ou televisão, no talento de Tao
em distribuir, fazendo metáfora com as estações de Rádio – o melhor da Vida é
de graça. Esta “roupa” desta torre tem fendas para que o organismo possa
respirar e viver, pois não posso ser amado por uma pessoa que quer me controlar
e escravizar, ou seja, Amor e Liberdade andam juntos. Aqui, é como um farol orientando
marinheiros, como numa estrela guiando navegadores na Renascença, na tarefa dos
grandes artistas em guiar o Mundo, tornando-se agentes de Tao, representantes
de Tao, para que o Ser Humano que entenda que tudo gira em torno do metafísico,
do pensamento, desprezando o material, o físico. Nesta obra de Brennand,
podemos ouvir o relaxante som de Mar, e a deliciosa brisa marítima, na
capacidade de um artista em se aliar a tais forças naturais, imitando as forças
da Natureza, como num artista que tem a capacidade de “estourar”, de se tornar
uma bomba que estimula artisticamente o Mundo, na função de atingir e comover,
pois Arte e Insensibilidade definitivamente não andam juntas – fazer Arte é
tocar o espectador, num ato de humano para humano. Esta roupa arejada é Tao, o
qual nunca sufoca seus filhos, num pai amoroso que quer fazer com que os filhos
sejam felizes, como brincar com uma criança em uma piscina. Esta roupa arejada
deixa que o ar circule por este obelisco, sempre respirando, sempre vivendo,
nunca havendo na morte física uma interrupção, pois a morte física é, claro,
uma simples vírgula – temos que nos preparar para o Desencarne. Aqui, é como
uma chaminé industrial, mostrando a pujança econômico industrial de alguma
cidade, numa cidade que tem uma energia de trabalho e produtividade, no modo
como, na Dimensão Metafísica, não faltam bons empregos, pois a improdutividade
é uma excruciante maldição, como numa pessoa improdutiva que perde tempo
fazendo fofocas... Tao é virtude e respeito. O topo deste obelisco é uma coroa,
coroando algo ou alguém, como num rei que, depois de muito “tomar na cara”,
aprendeu a ser respeitado pelos súditos, no peso que a coroa exerce sobre a
cabeça do coroado. É como um coração de bananeira, pulsando por aquilo que mais
importa, que é o Amor e a Vida. É como no poderoso ritual inglês de coroação,
com o regente absolutamente soterrado abaixo de ritualismo, mal podendo
suportar o peso de um manto e uma coroa, havendo na tradição a intenção de se
anular a passagem do Tempo, havendo, a nível metafísico, essa ausência de
Tempo, na eternidade daquilo que não perece, ou seja, nosso amigo Tao.
Referências bibliográficas:
Francisco Brennand. Disponível em: <www.pt.dreamsite.com>. Acesso em: 4 mar. 2020.
Francisco Brennand. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 4 mar. 2020.
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