quarta-feira, 18 de março de 2020

Ceramista com Certeza (Parte 2)



Volto a falar do artista plástico recifense Francisco Brennand. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, sem título (1). Aqui, temos uma bifurcação, como numa pessoa bipolar, dilacerada por sentimentos em oposição, no termo “abraçar o Mundo com as pernas”, numa pessoa indecisa existencialmente. Temos aqui um ser exótico, com a cabeça equivalendo à cauda, como no enigmático cachorro de Cebolinha, num bicho dúbio, nunca se revelando pro completo, assim como é o mistério formidável de Tao: Confronta e não verás rosto; vai atrás e não verás cauda. É como diferenciar sensual de sexual, numa espécie de castração mental. É como despir uma pessoa e, ao se confrontar com a genitália, vemos que não é exatamente a genitália o que atrai – é o senso de humor divino, no ancestral e ótimo talento humano para a Comédia. Aqui, temos um ser se contorcendo em vida, querendo viver, explorar o Mundo, como numa pessoa dentro de casa “arranhando as paredes” em um sábado à noite, louca para sair, beijar, dançar e viver, pois é patética a pessoa que não se permite viver, pois sou meu próprio inimigo... Aqui, é como uma caixa de água cheia, sempre provendo, sempre nutrindo irmãos num mesmo condomínio, na questão do compartilhamento, pois só há graça em se ter as coisas quando podemos compartilhar estas, como na lição de Quico em seu aniversário, repreendido pela mãe quando ele desejou que ninguém fosse ao aniversário, para que Quico pudesse comer tudo sozinho. Este ser de Brennand olha para o Céu, talvez querendo buscar alguma inspiração, como no homem primitivo, olhando para o Céu noturno e vendo deuses nas estrelas, como no mais fino cristal, como na mítica construção do grande panteão hollywoodiano, transformando seres humanos em deuses, atiçando a imaginação do público, na grande ambição de um artista em se tornar estrela, como no nome de uma banda de Pagode, a Constelação, ou seja, cada membro da banda sendo um astro em si, numa reunião. Aqui, é como um cavalo pronto para ser montado, num cavaleiro se aventurando por campos virgens, como nos conquistadores europeus, na barbárie da crueldade humana: os indígenas, que por séculos foram senhores de tais terras, hoje têm descendentes miseráveis. É o infeliz talento humano para o termo “levar tudo a ponta de faca”. Este bicho exótico de Brennand tem certos anéis circundando seu pescoço e cauda, no modo como não canso de remeter às sensuais colunas barrocas, as quais parecem se contorcer tais quais a serpente maligna do Éden, como em certas culturas a serpente não remete ao Mal, mas à Fertilidade e à abundância liquidiscente, ou seja, ao prazer de se sentar numa privada e fazer um delicioso xixi, no prazer de se esvaziar a bexiga. Aqui, é como um alegre cachorrinho balançando a cauda para dono, no modo claro e autêntico com o qual o cão se expressa, ao contrário do gato, que é mais enigmático. É como numa pessoa autêntica, a qual deixa muito claro quando está contente ou descontente, como num brutal Hulk, o super-herói ultra agressivo que deixa claro quando está furioso. Como deve ser lindo e plácido este parque de esculturas de Brennand! Aqui, este ser nos convida a montar e tirar uma foto, como num souvenir, numa lembrancinha comprada para que tenhamos uma recordação. É a coragem do artista em expressar o que há dentro de si, na purificação dos vômitos catárticos. Este ser parece ser um inocente filhotinho, tendo muita vida ainda pela frente, recém aprendendo os passos mais básicos, cercado dos cuidados de pais zelosos, assim como é o zelo de um artista fazendo uma obra, tentando imitar o infindável amor de Tao quando este cria algo, depositando sua integral atenção em tal momento conceptivo. Como são interessantes estes seres estranhos de Brennand, num artista com completo repúdio ao óbvio, ao medíocre, no modo como o grande mestre educador gaúcho Tatata Pimentel desprezava as mentes medíocres. Salve, professor! Certamente Tatata olha, lá do Céu, para todos os seus alunos.


Acima, sem título (2). Um soldado devidamente protegido e resguardado atrás de um capacete, pronto para a sanguinolenta batalha. Seu pescoço também está protegido, impedindo que ele fique numa posição cômoda ou agradável, castrando sua liberdade, seu livre arbítrio de movimentos, como os governos ditatoriais castram a inteligência do cidadão, fazendo da Censura a ilusão de que está tudo sob controle. Dois pequenos orifícios permitem a visão do soldado, mas é uma permissão limitada, restrita. É como a terrível tortura da máscara de ferro, com a pessoa sufocada, morrendo lenta e dolorosamente, remetendo às mortes atuais pelo ultrainfame Coronavírus. Aqui, o soldado é um jovem rapaz, arrancado de seu lar para lutar em nome das vaidades elitistas, no modo como o povo gaúcho virou massa de manobra das elites no episódio da Guerra dos Farrapos. O rapaz está barbeado, com disciplina, aprumando-se para a terrível morte que o aguarda, como num filme de Woody Allen, em que este expressa seu medo de morrer na batalha, sendo castrado pela própria mãe, a qual o enviou à Guerra: “Obrigado, mãe! Esta é minha mãe!” diz um sarcástico e inteligente Woody. É claro que aqui o soldado não sorri, pois como posso ser feliz ao matar meu próprio irmão? Os lábios estão fechados, como num escudo impenetrável, sem lugar para Amor ou intimidade, como numa pessoa que passou por um processo embrutecedor, tendo dificuldades para se ressocializar. Aqui, o nariz mal consegue respirar, sufocado em meio a tantas agressões e crueldades, na feiura devastadora dos campos de batalha, deixando rastros de fome e privação, pois não há Beleza na Raiva, como diz Tao: “A Paz é melhor do que a Raiva”. A pele branca do rapaz, remetendo ao branco, traz uma nesga de esperança, no modo como uma pessoa, que muito sofreu na Terra, encontra alento e libertação na reinserção metafísica, abraçando uma vida cheia de virtude, sem as intempéries materiais, como disse uma velha amiga da adolescência: “Tudo acaba bem. Se não está bem, é porque não acabou ainda”. Mas, infelizmente, esta amiga me excluiu por causa de uma bobagem sobre Política, no talento amargo humano em brigar e se desunir. Não faça assim, amiga! Acabaremos unidos novamente, mesmo que só depois do Desencarne. Uma delgada linha vermelha corta o capacete, como se fosse sangue jorrando de um ferimento de batalha, como no sangue em octógonos, num espaço de glamour zero, onde só a agressividade prevalece, num momento em que o lutador tem que ter um enorme controle emocional, para não levar os golpes para nível pessoal. O soldado aqui está calado, castrado, sem poder ter uma opinião própria, sendo oprimido por um estado vampirizador como Matrix, fazendo do cidadão uma pilha alcalina que só serve para dar energia a um sistema sem sentido, nos meandros de loucura da sociopatia, num líder se apoderando de um estado inteiro. Bem acima na peça, vemos uma saliência, como numa lombada em uma estrada, fazendo com que o condutor tenha cautela, forçando este a diminuir de velocidade, sob a pena de estragar o próprio carro, no modo como a cautela é uma grande virtude, como num líder atravessando um rio, com se tal líder soubesse que há perigos abaixo da água. É como se fosse o penteado punk, como uma grande crista ladeada por um couro cabeludo raspado, nos inícios, plenitudes, decadências e mortes das modas passageiras, dando o tom estético de cada época, como na avassaladora moda feminina de cabelos de Gisele. Aqui, temos um Meridiano de Greenwich, separando tudo entre antes e depois, como na passagem pela terra de espíritos sábios, no modo humano de dissociar e analisar os organismos, engavetando cada especialidade médica. É a organização cronológica humana, compartimentando os anos, meses e dias, no modo como, a nível cósmico, as referências humanas nada significam. Aqui, o rapaz foi forçado a lutar, na insanidade de irmão derrubando irmão, na esperança espírita de que uma dimensão (muito) melhor nos aguarda sempre, sem as pressas cronológicas.


Acima, sem título (3). Parecem nádegas, tendo acima de si um pescoço delgado, sem cabeça, talvez num animal sendo sacrificado e desmantelado para produzir carne. O topo deste pescoço tem anéis, como numa certa civilização tribal que circunda de anéis de ouro os pescoços das mulheres, na brutalidade patriarcal que impõe coisas horrorosas às mulheres, sempre reprimindo a sexualidade feminina, nunca permitindo que uma mulher seja livre para desenvolver uma vida sexual de fato, no arquétipo da Virgem Maria, uma mulher que simplesmente jamais transou, havendo, porém, uma nobre intenção – a de fazer metáfora com a imaculada Dimensão Metafísica, o útero primordial que nos concebeu de forma imaterial, mental, longe das vicissitudes materiais. Esta peça é um tanto fálica, remetendo à formação rochosa Dedo de Deus, na Região Serrana do Rio de Janeiro, com um longo dedo apontando para cima, na brutalidade patriarcal, fazendo com que vejamos Tao como um homem experiente, um patriarca, o que é uma bobagem, pois o espírito é assexuado, como os anjos, havendo, na dimensão acima, uma espécie de castração, de mortificação, mas numa castração psíquica, nunca literal, no modo como o Espiritismo condena a ação de mortificar o corpo físico – “mortifique o espírito, não o corpo”. O topo deste falo tem um aspecto de parafuso, num artesão atencioso, aprimorando sua técnica, sempre produzindo, como no pai carpinteiro de Jesus, havendo uma metáfora com Tao, o grande carpinteiro, sempre pulsando, sempre trazendo novidades, como numa pessoa que se conscientizou de que não pode parar de trabalhar, apenas, no máximo, tirando férias. O parafuso agressivo perfura a parede, num ato de intervenção, de posicionamento, como num intelectual que faz críticas vorazes a certos vícios sociais, como o Racismo ou o Machismo, havendo, no Mundo, uma questão delicada, num mundo que continuará sempre o mesmo, quer eu queira, quer não. Então, o Mundo se torna todo este palco de debate, numa pessoa que quer demonstrar inteligência para, assim, ser respeitada e apreciada, pois a Vida de uma pessoa desrespeitada é um inferno. Aqui, o artista revela tais nádegas, na divertida frase do genial Luis Fernando Veríssimo: “Quem mostra a bunda em Caras não mostra a cara em Bundas”, em relação à “revista” Bundas criada por LFV. As nádegas são de um nenê recém nascido, com o bumbum agredido por um tapinha do médico, numa agressão de boas vindas, no modo como as dores encarnatórias são inevitáveis, fazendo com que a pessoa conviva com tais dores, até o momento de libertação ao final de uma vida material, havendo a loucura dos que não aceitam que o Desencarne chegou, como num prisioneiro que não quer sair da prisão... Estas nádegas me remetem à bunda de um travesti em uma praia de Florianópolis, com dois rapazes comentando, após o passar do travesti: “Isso não é bunda; isso é fábrica de churros”. São como as nádegas do Davi de Michelangelo, uma parte da obraprima que não é revelada ao público, no modo como seria interessante que a Pietà, do mesmo artista, fosse exposta por todos os lados. Aqui, são como duas frutas, ou uma fruta em mutação, bipartindo-se, como nos processos biológicos de Mitose e Meiose, com uma infecção aumentando, multiplicando-se, trazendo doença e mal estar. É um organismo se bipartindo, nas dilacerantes dores de um parto, como numa princesa Isabel do Brasil, sofrendo o diabo numa cama, em um parto complicadíssimo, nos inúmeros sacrifícios que uma mãe faz pelo filho, como minha mãe, a qual depois de eu nascer de cesariana, teve acidentalmente rompidos os pontos da cirurgia, tendo que receber transfusão de sangue, tendo que haver, por parte de um filho, uma eterna gratidão, no lindo modo como os vínculos de família não se dissolvem com o Desencarne – as famílias são eternas. Aqui, são como dois seios, lactantes, cheios de vida e abundância, no prazer de mamar numa caixinha de leite condensado, na magia dos doces, com doces deliciosos sendo feitos na Dimensão Metafísica, mas doces que não engordam! Aqui, são dois testículos que fertilizam a mulher, no modo como a Vida é algo avassalador e implacável, na força de Tao, o Criador.


Acima, sem título (4). Esta mulher está olhando para cima, com a boca aberta, como se quisesse beber uma gota da chuva, num ato de aceitação, como no passe em um centro espírita, quando a pessoa tem que posicionar as palmas das mãos para cima, para assim receber o que Tao coloca em nossas mãos, na felicidade de uma pessoa que se aceita numa boa, num autorrespeito, pois se não aprecio a mim mesmo, como posso ser feliz com meus dias aqui na Terra? A mulher está com o busto exposto, na sensação de liberdade de uma mulher fazendo topless numa praia do Rio, o que me remete a uma capa e um encarte de um CD de Marisa Monte, com o desenho de uma mulher nua, um material gráfico que foi censurado nos EUA, trazendo certas diferenças culturais, na dificuldade protestante em lidar numa boa com Sexo e Nudez, sendo estas naturais no Ser Humano. Esta força feminina parece ser uma esfinge, metade mulher, metade leoa. É o seio da leoa alimentando a ninhada, como na famosa loba amamentando Remo e Rômulo, com traços mamíferos de aleitamento, numa mãe que dá tudo de si para os filhos, num espírito que resolveu encarnar mãe, aprendendo uma lição, como no termo: “Ser mãe é padecer no paraíso”. Aqui, esta forma está num pedestal, como em pedestais em igrejas, no modo como não esqueço do que um padre disse em uma missa: “Essas imagens são mais do que adornos; são exemplos de conduta”. São os nossos irmãos depurados, os quais, apesar de ser tão superiores em apuro moral, amam os seus irmãozinhos “menores”, por assim dizer. Esta mulher tem uma boca faminta, tais quais os bicos de filhotes esfomeados de ave, com pais zelosos que levam comida ao ninho, dando comida ao mais faminto, com a boca mais aberta, como em algum concurso ou competição, sendo premiado aquele que mais merece, na importante questão da Meritocracia em escolas, acostumando a criança com a ideia de que, para se obter algo, é necessário mérito digno, luta. Esta coluna/pedestal é adornada, como numa mulher com autoestima, que se arruma antes de sair de casa, como se soubesse que, no momento de interação social, muitos olhos repousarão sobre tal mulher, pois eu tenho que ser a primeira pessoa que ama a mim mesmo. A mulher parece estar tomando um banho de Sol, como na pele bronzeada da âncora gaúcha Cristina Ranzolin, havendo no banho de Sol um momento de entrega, como se o Sol, em tal momento, fosse um cirurgião intervindo sobre o corpo de um paciente. O pescoço da mulher é firma e forte, como na Catedral de Caxias do Sul, templo erguido sobre uma rocha, sendo, por muitas décadas, o ponto mais elevado da cidade, conotando poder, no estilo “sou eu quem aqui manda”, com as escadarias convidando o fiel a um momento de elevação espiritual, como nesta mulher de Brennand, erguendo-se altivamente, como numa Nefertiti tropical de cerâmica, com sua franca nudez libertadora, conectando-se a tal Céu de Brigadeiro, no delicioso momento da vida escolar – o recreio, fazendo metáfora com a libertação do Desencarne, com tantos clubes cujos nomes remetem a isso, como Clube Juvenil ou Recreio da Juventude, no modo como o espírito desencarnado rejuvenesce e vive jovem e vigoroso para sempre, no modo como a “Juventude Feliz” é uma invenção de velhos, pois, na Terra, cada parte da vida tem vicissitudes, só havendo trégua na Dimensão Metafísica, o verdadeiro clube de recreio e libertação. Aqui, a nudez á altiva, e nunca é reprimida por puritanismo hipócrita. É o modo como o Corpo Humano tanto inspira gerações e gerações de artistas, no modo como Tao foi tão feliz ao inventar coisas lindas, como o cavalo, por exemplo. Aqui, é como uma cantora, uma diva embalando os sonhos do Mundo, fazendo da Música uma forma divina de expressão e Comunicação, no modo como a importância da Arte reside no fato de própria Arte nos diferenciar de todos os outros seres vivos que conhecemos. É a forma humana que ver na Beleza aquilo que nos remete ao nosso próprio sangue divino estelar.


Acima, sem título (5). Temos aqui uma mulher altiva, como numa bailarina que conheci certa vez na PUC de Porto Alegre, uma moça que exalava classe e elegância, como na altivez de Madonna na capa do álbum True Blue, como uma loba solitária uivando, chamando machos para o acasalamento, num poderoso instinto, como numa Sharon Stone assassina em Instinto Selvagem, como uma viúva negra que mata o macho na cópula, logo depois de ser fecundada, ou seja, o macho não mais tem função. O estilo do cabelo desta dama de Brennand remete aos sofisticados anos 1920 ou 1930, na febre das melindrosas, numa revolução estética, como numa Coco Chanel, uma feminista (na prática) que libertou as mulheres das saias e vestidos, dos cabelos compridos e das joias verdadeiras, mostrando que, na barata bijuteria, o que importa é o efeito, num ímpeto de Chanel, cheia de frescor e coragem, mostrando ao Patriarcado que uma mulher tem que ser livre, ora bolas, como numa Mulher Maravilha, dotada de sua armadura, rechaçando os tiros de espingarda machistas, numa mulher que tem o integral controle da própria vida, mostrando ao marido quem é mesmo o dono de quem, ou seja, cada um(a) é senhor(a) de si. Esta musa de Brennand faz uma espécie de renúncia, rejeitando presentes caros de namorados, como se soubesse que, antes de românticos buquês de flores, o pretendente tem que se mostrar sério e íntegro, digno de respeito. Aqui, é como o dedo do meio sendo erguido, como num Neo em Matrix, percebendo as insinuações fascistas de um mundo de mentirinha, assim como as ditaduras são mundos de mentirinha, com artistas sendo horrivelmente forçados a produzir em nome da ideologia vigente – que piada. É o simulacro de Matrix, querendo iludir o cidadão, como no estado totalitário do ousado desenho animado de Aeon Flux, na tirana dinastia Goodchild, do inglês, Boa Criança, e o que é uma boa criança num sistema opressor? É um cidadão que simplesmente não pensa por si mesmo, havendo na castração da inteligência um insulto gigantesco, como uma pessoa que, tempos depois, noto que me insultou mentindo, nesta mesma pessoa achando que sou um tolo sem eira nem beira. Esta musa está de olhos fechados, talvez num artista sonhador, sonhador como qualquer outro artista, com seus sonhos de ser reconhecido estelarmente, na ambição de fazer sucesso e ser muito bem respeitado e bem tratado, no modo como, infelizmente, na Terra, na Dimensão Material, tantos e tantos sonhos são frustrados diariamente, nesta boulevard dos sonhos despedaçados, exigindo muita força do indivíduo, como me disse uma querida professora de Língua Portuguesa: “Não deixe o fracasso subir à sua cabeça!”. E a Vida não exige que sejamos fortes? Talvez tenhamos aqui uma mulher transando, mas não vemos o parceiro. É o direito da mulher em ter uma vida sexual vibrante e interessante, como na personagem Samantha de Sex na the City, uma mulher que vive em plenitude sua liberdade sexual, transando com “meia Nova York”, numa mulher que, definitivamente, não tem vergonha de viver sexualmente, detonando com os arquétipos de mulheres santas, desprovidas de vagina. Esta obra de Brennand me remete a uma escultura que certa vez adquiri em uma loja de decoração, uma escultura que trazia uma mulher muito altiva, com o mesmo gesto de rejeição desta deusa de Brennand. O pescoço desta mulher é longo e forte como o de uma girafa, num animal que nasceu forte, preparado para as exigências do dia, numa leoa circundando gazelas desavisadas, no felino caminhando tão silenciosamente, tão secretamente, até chegar perto o suficiente da presa, abocanhando esta, no termo “matar um leão por dia”, ou seja, aceitar que a vida é luta, como numa Margareth Thatcher de Meryl Streep, dizendo que cada dia de sua vida foi deito de luta, como numa Dercy Gonçalo, digo, Gonçalves, fazendo comédia de uma boca desbocada e suja, no modo como os palavrões, de certo modo, fazem parte de nossas vidas, pois o machucado interior tem que vir à tona, curando a alma de um artista que quer se destacar, no termo em inglês prove yourself, ou seja, mostre ao que você veio.


Acima, sem título (6). Colunas nesta praça à beiramar, como num templo, mas sem teto, como num templo do Egito Antigo, com tanto de si levado embora por milênios de erosão, num fóssil, algo reminiscente, num vestígio, como cinzas numa lareira após uma noite de fogo. São como totens indígenas, numa hierarquia vertical, com a divindade mais poderosa ao topo, como num Zeus, o Rei dos Deuses, ou num Odin, o pai de Thor, num mundo que desde cedo cria as crianças nessa relação social, na necessidade de se respeitar as posições de poder no Mundo, como numa família de realeza, acumulando um grande poder tradicional representativo. Aqui, é como um templo a céu aberto, como nos templos solares do faraó herege Aquenáton, com templos simplesmente desprovidos de teto, bronzeando os fiéis, na adoração do disco solar como a única divindade em todo o Universo, sendo o restante filhos de tal Pai Supremo, dando de presente o que de melhor pode ser dado – a Eternidade, relegando à danação todas as coisas materiais, na concepção de que até um diamante está fadado à danação, à ruína, mas com um Ser Humano que ainda não entende que tudo gira em torno do Pensamento, do Metafísico, da dimensão ligeiramente acima da nossa na Terra – é a promessa de um mundo melhor, um mundo muito além das amargas brigas e desentendimentos terrenos. Aqui, esses pilares são fortes, como se sustentassem o firmamento. Na extrema direita do quadro aqui, vemos um totem alado, com três pares de asas, o que representa a Liberdade, o livre arbítrio que tem que permear qualquer atividade artística, como num pássaro com a liberdade de ir e vir, voando majestosamente, demonstrando a genialidade de Tao, com animais majestosos, belos, deslumbrantes. Alguns dos totens aqui têm figuras faciais ao topo, numa observância, numa sentinela, prevendo a aproximação de inimigos em altomar, num trabalho de vigilância de fronteiras, com pessoas flagradas em tentativas de Tráfico Internacional de Drogas, com almas infelizes, seduzidas pelo dinheiro prometido pelos traficantes. Os totens mais à frente no quadro não são completamente retilíneos, mas têm um aspecto de gaita, ou como uma cobra vagando como água num córrego, com marcas de entalhes, como cicatrizes ou rugas, com marcas que mostram uma proveniência, uma estrada, uma história, com homens charmosos, cujas linhas faciais mostram uma certa vivência, fazendo metáfora com a trajetória do espírito, numa alma que já passou por um catatau de encarnações, crescendo e aprendendo, num espírito que percebeu a necessidade de aprimoramento moral, abraçando as vicissitudes inevitáveis de uma vida na Terra, tendo espírito de aventureiro, de desbravador, como num colono chegando à Serra Gaúcha, encarando terras virgens, cheias de índios e animais selvagens. Esses totens são como peças num tabuleiro de Xadrez, numa diversidade de papéis sociais, num jogo em que cada elemento mostra sua particularidade, na diversidade que tem que haver no Mundo, pois Toa jamais faz dois espíritos iguais, jamais se repetindo, havendo em cada filho de Tao um ser único, indivisível e eterno, pois qual seria a razão de tudo sem a Eternidade, sem o poder imenso de algo que jamais cessará? Que poder, hein? O pilar quase ao centro do quadro parece usar uma armadura, como num cavaleiro templário, nas atrocidades que o Ser Humano comete dizendo agir em nome de Tao, fazendo crueldades que Tao jamais faria. Temos aqui a magia dos museus a céu aberto, numa sensação de Liberdade, de Arte sincera, na magia de um anjo voando com suas asas, na sensação deliciosa de Liberdade, como numa Experiência Extracorporal, na piscina quentinha do Útero Divino dos domínios da Eternidade. Aqui, a ereção dos pilares é a força de vontade, numa pessoa que tem muita vontade de viver e de vencer na Vida, pois, sem vontade nem tesão, há solução? É o problema do deprimido, o qual fica chocho e desanimado, prostrado com as durezas da Vida.

Referências bibliográficas:

Francisco Brennand. Disponível em: <www.pt.dreamsite.com>. Acesso em: 4 mar. 2020.
Francisco Brennand. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 4 mar. 2020.

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