Volto a falar do artista
plástico recifense Francisco Brennand. Os textos e análises semióticas a seguir
são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, sem título (1). Aqui,
temos uma bifurcação, como numa pessoa bipolar, dilacerada por sentimentos em
oposição, no termo “abraçar o Mundo com as pernas”, numa pessoa indecisa
existencialmente. Temos aqui um ser exótico, com a cabeça equivalendo à cauda,
como no enigmático cachorro de Cebolinha, num bicho dúbio, nunca se revelando pro
completo, assim como é o mistério formidável de Tao: Confronta e não verás
rosto; vai atrás e não verás cauda. É como diferenciar sensual de sexual, numa
espécie de castração mental. É como despir uma pessoa e, ao se confrontar com a
genitália, vemos que não é exatamente a genitália o que atrai – é o senso de
humor divino, no ancestral e ótimo talento humano para a Comédia. Aqui, temos
um ser se contorcendo em vida, querendo viver, explorar o Mundo, como numa
pessoa dentro de casa “arranhando as paredes” em um sábado à noite, louca para
sair, beijar, dançar e viver, pois é patética a pessoa que não se permite
viver, pois sou meu próprio inimigo... Aqui, é como uma caixa de água cheia,
sempre provendo, sempre nutrindo irmãos num mesmo condomínio, na questão do
compartilhamento, pois só há graça em se ter as coisas quando podemos
compartilhar estas, como na lição de Quico em seu aniversário, repreendido pela
mãe quando ele desejou que ninguém fosse ao aniversário, para que Quico pudesse
comer tudo sozinho. Este ser de Brennand olha para o Céu, talvez querendo
buscar alguma inspiração, como no homem primitivo, olhando para o Céu noturno e
vendo deuses nas estrelas, como no mais fino cristal, como na mítica construção
do grande panteão hollywoodiano, transformando seres humanos em deuses,
atiçando a imaginação do público, na grande ambição de um artista em se tornar
estrela, como no nome de uma banda de Pagode, a Constelação, ou seja, cada membro da banda sendo um astro em si,
numa reunião. Aqui, é como um cavalo pronto para ser montado, num cavaleiro se
aventurando por campos virgens, como nos conquistadores europeus, na barbárie
da crueldade humana: os indígenas, que por séculos foram senhores de tais
terras, hoje têm descendentes miseráveis. É o infeliz talento humano para o
termo “levar tudo a ponta de faca”. Este bicho exótico de Brennand tem certos
anéis circundando seu pescoço e cauda, no modo como não canso de remeter às
sensuais colunas barrocas, as quais parecem se contorcer tais quais a serpente
maligna do Éden, como em certas culturas a serpente não remete ao Mal, mas à
Fertilidade e à abundância liquidiscente, ou seja, ao prazer de se sentar numa
privada e fazer um delicioso xixi, no prazer de se esvaziar a bexiga. Aqui, é
como um alegre cachorrinho balançando a cauda para dono, no modo claro e
autêntico com o qual o cão se expressa, ao contrário do gato, que é mais enigmático.
É como numa pessoa autêntica, a qual deixa muito claro quando está contente ou
descontente, como num brutal Hulk, o super-herói ultra agressivo que deixa
claro quando está furioso. Como deve ser lindo e plácido este parque de
esculturas de Brennand! Aqui, este ser nos convida a montar e tirar uma foto,
como num souvenir, numa lembrancinha comprada para que tenhamos uma recordação.
É a coragem do artista em expressar o que há dentro de si, na purificação dos
vômitos catárticos. Este ser parece ser um inocente filhotinho, tendo muita
vida ainda pela frente, recém aprendendo os passos mais básicos, cercado dos
cuidados de pais zelosos, assim como é o zelo de um artista fazendo uma obra,
tentando imitar o infindável amor de Tao quando este cria algo, depositando sua
integral atenção em tal momento conceptivo. Como são interessantes estes seres
estranhos de Brennand, num artista com completo repúdio ao óbvio, ao medíocre,
no modo como o grande mestre educador gaúcho Tatata Pimentel desprezava as
mentes medíocres. Salve, professor! Certamente Tatata olha, lá do Céu, para
todos os seus alunos.
Acima, sem título (2). Um
soldado devidamente protegido e resguardado atrás de um capacete, pronto para a
sanguinolenta batalha. Seu pescoço também está protegido, impedindo que ele
fique numa posição cômoda ou agradável, castrando sua liberdade, seu livre
arbítrio de movimentos, como os governos ditatoriais castram a inteligência do
cidadão, fazendo da Censura a ilusão de que está tudo sob controle. Dois
pequenos orifícios permitem a visão do soldado, mas é uma permissão limitada,
restrita. É como a terrível tortura da máscara de ferro, com a pessoa sufocada,
morrendo lenta e dolorosamente, remetendo às mortes atuais pelo ultrainfame
Coronavírus. Aqui, o soldado é um jovem rapaz, arrancado de seu lar para lutar
em nome das vaidades elitistas, no modo como o povo gaúcho virou massa de
manobra das elites no episódio da Guerra dos Farrapos. O rapaz está barbeado,
com disciplina, aprumando-se para a terrível morte que o aguarda, como num
filme de Woody Allen, em que este expressa seu medo de morrer na batalha, sendo
castrado pela própria mãe, a qual o enviou à Guerra: “Obrigado, mãe! Esta é
minha mãe!” diz um sarcástico e inteligente Woody. É claro que aqui o soldado
não sorri, pois como posso ser feliz ao matar meu próprio irmão? Os lábios
estão fechados, como num escudo impenetrável, sem lugar para Amor ou
intimidade, como numa pessoa que passou por um processo embrutecedor, tendo
dificuldades para se ressocializar. Aqui, o nariz mal consegue respirar,
sufocado em meio a tantas agressões e crueldades, na feiura devastadora dos
campos de batalha, deixando rastros de fome e privação, pois não há Beleza na
Raiva, como diz Tao: “A Paz é melhor do que a Raiva”. A pele branca do rapaz,
remetendo ao branco, traz uma nesga de esperança, no modo como uma pessoa, que
muito sofreu na Terra, encontra alento e libertação na reinserção metafísica,
abraçando uma vida cheia de virtude, sem as intempéries materiais, como disse
uma velha amiga da adolescência: “Tudo acaba bem. Se não está bem, é porque não
acabou ainda”. Mas, infelizmente, esta amiga me excluiu por causa de uma
bobagem sobre Política, no talento amargo humano em brigar e se desunir. Não
faça assim, amiga! Acabaremos unidos novamente, mesmo que só depois do
Desencarne. Uma delgada linha vermelha corta o capacete, como se fosse sangue
jorrando de um ferimento de batalha, como no sangue em octógonos, num espaço de
glamour zero, onde só a agressividade prevalece, num momento em que o lutador
tem que ter um enorme controle emocional, para não levar os golpes para nível
pessoal. O soldado aqui está calado, castrado, sem poder ter uma opinião
própria, sendo oprimido por um estado vampirizador como Matrix, fazendo do
cidadão uma pilha alcalina que só serve para dar energia a um sistema sem
sentido, nos meandros de loucura da sociopatia, num líder se apoderando de um
estado inteiro. Bem acima na peça, vemos uma saliência, como numa lombada em
uma estrada, fazendo com que o condutor tenha cautela, forçando este a diminuir
de velocidade, sob a pena de estragar o próprio carro, no modo como a cautela é
uma grande virtude, como num líder atravessando um rio, com se tal líder
soubesse que há perigos abaixo da água. É como se fosse o penteado punk, como
uma grande crista ladeada por um couro cabeludo raspado, nos inícios,
plenitudes, decadências e mortes das modas passageiras, dando o tom estético de
cada época, como na avassaladora moda feminina de cabelos de Gisele. Aqui,
temos um Meridiano de Greenwich, separando tudo entre antes e depois, como na
passagem pela terra de espíritos sábios, no modo humano de dissociar e analisar
os organismos, engavetando cada especialidade médica. É a organização
cronológica humana, compartimentando os anos, meses e dias, no modo como, a
nível cósmico, as referências humanas nada significam. Aqui, o rapaz foi
forçado a lutar, na insanidade de irmão derrubando irmão, na esperança espírita
de que uma dimensão (muito) melhor nos aguarda sempre, sem as pressas
cronológicas.
Acima, sem título (3).
Parecem nádegas, tendo acima de si um pescoço delgado, sem cabeça, talvez num
animal sendo sacrificado e desmantelado para produzir carne. O topo deste
pescoço tem anéis, como numa certa civilização tribal que circunda de anéis de
ouro os pescoços das mulheres, na brutalidade patriarcal que impõe coisas
horrorosas às mulheres, sempre reprimindo a sexualidade feminina, nunca
permitindo que uma mulher seja livre para desenvolver uma vida sexual de fato,
no arquétipo da Virgem Maria, uma mulher que simplesmente jamais transou,
havendo, porém, uma nobre intenção – a de fazer metáfora com a imaculada
Dimensão Metafísica, o útero primordial que nos concebeu de forma imaterial,
mental, longe das vicissitudes materiais. Esta peça é um tanto fálica,
remetendo à formação rochosa Dedo de Deus,
na Região Serrana do Rio de Janeiro, com um longo dedo apontando para cima, na
brutalidade patriarcal, fazendo com que vejamos Tao como um homem experiente,
um patriarca, o que é uma bobagem, pois o espírito é assexuado, como os anjos,
havendo, na dimensão acima, uma espécie de castração, de mortificação, mas numa
castração psíquica, nunca literal, no modo como o Espiritismo condena a ação de
mortificar o corpo físico – “mortifique o espírito, não o corpo”. O topo deste
falo tem um aspecto de parafuso, num artesão atencioso, aprimorando sua
técnica, sempre produzindo, como no pai carpinteiro de Jesus, havendo uma
metáfora com Tao, o grande carpinteiro, sempre pulsando, sempre trazendo
novidades, como numa pessoa que se conscientizou de que não pode parar de
trabalhar, apenas, no máximo, tirando férias. O parafuso agressivo perfura a
parede, num ato de intervenção, de posicionamento, como num intelectual que faz
críticas vorazes a certos vícios sociais, como o Racismo ou o Machismo,
havendo, no Mundo, uma questão delicada, num mundo que continuará sempre o
mesmo, quer eu queira, quer não. Então, o Mundo se torna todo este palco de
debate, numa pessoa que quer demonstrar inteligência para, assim, ser
respeitada e apreciada, pois a Vida de uma pessoa desrespeitada é um inferno.
Aqui, o artista revela tais nádegas, na divertida frase do genial Luis Fernando
Veríssimo: “Quem mostra a bunda em Caras
não mostra a cara em Bundas”, em
relação à “revista” Bundas criada por
LFV. As nádegas são de um nenê recém nascido, com o bumbum agredido por um
tapinha do médico, numa agressão de boas vindas, no modo como as dores
encarnatórias são inevitáveis, fazendo com que a pessoa conviva com tais dores,
até o momento de libertação ao final de uma vida material, havendo a loucura
dos que não aceitam que o Desencarne chegou, como num prisioneiro que não quer
sair da prisão... Estas nádegas me remetem à bunda de um travesti em uma praia
de Florianópolis, com dois rapazes comentando, após o passar do travesti: “Isso
não é bunda; isso é fábrica de churros”. São como as nádegas do Davi de
Michelangelo, uma parte da obraprima que não é revelada ao público, no modo
como seria interessante que a Pietà, do mesmo artista, fosse exposta por todos
os lados. Aqui, são como duas frutas, ou uma fruta em mutação, bipartindo-se,
como nos processos biológicos de Mitose e Meiose, com uma infecção aumentando,
multiplicando-se, trazendo doença e mal estar. É um organismo se bipartindo,
nas dilacerantes dores de um parto, como numa princesa Isabel do Brasil,
sofrendo o diabo numa cama, em um parto complicadíssimo, nos inúmeros sacrifícios
que uma mãe faz pelo filho, como minha mãe, a qual depois de eu nascer de
cesariana, teve acidentalmente rompidos os pontos da cirurgia, tendo que
receber transfusão de sangue, tendo que haver, por parte de um filho, uma
eterna gratidão, no lindo modo como os vínculos de família não se dissolvem com
o Desencarne – as famílias são eternas. Aqui, são como dois seios, lactantes,
cheios de vida e abundância, no prazer de mamar numa caixinha de leite
condensado, na magia dos doces, com doces deliciosos sendo feitos na Dimensão
Metafísica, mas doces que não engordam! Aqui, são dois testículos que
fertilizam a mulher, no modo como a Vida é algo avassalador e implacável, na
força de Tao, o Criador.
Acima, sem título (4). Esta
mulher está olhando para cima, com a boca aberta, como se quisesse beber uma
gota da chuva, num ato de aceitação, como no passe em um centro espírita,
quando a pessoa tem que posicionar as palmas das mãos para cima, para assim
receber o que Tao coloca em nossas mãos, na felicidade de uma pessoa que se
aceita numa boa, num autorrespeito, pois se não aprecio a mim mesmo, como posso
ser feliz com meus dias aqui na Terra? A mulher está com o busto exposto, na
sensação de liberdade de uma mulher fazendo topless numa praia do Rio, o que me
remete a uma capa e um encarte de um CD de Marisa Monte, com o desenho de uma
mulher nua, um material gráfico que foi censurado nos EUA, trazendo certas
diferenças culturais, na dificuldade protestante em lidar numa boa com Sexo e
Nudez, sendo estas naturais no Ser Humano. Esta força feminina parece ser uma
esfinge, metade mulher, metade leoa. É o seio da leoa alimentando a ninhada,
como na famosa loba amamentando Remo e Rômulo, com traços mamíferos de
aleitamento, numa mãe que dá tudo de si para os filhos, num espírito que
resolveu encarnar mãe, aprendendo uma lição, como no termo: “Ser mãe é padecer
no paraíso”. Aqui, esta forma está num pedestal, como em pedestais em igrejas,
no modo como não esqueço do que um padre disse em uma missa: “Essas imagens são
mais do que adornos; são exemplos de conduta”. São os nossos irmãos depurados,
os quais, apesar de ser tão superiores em apuro moral, amam os seus irmãozinhos
“menores”, por assim dizer. Esta mulher tem uma boca faminta, tais quais os
bicos de filhotes esfomeados de ave, com pais zelosos que levam comida ao
ninho, dando comida ao mais faminto, com a boca mais aberta, como em algum
concurso ou competição, sendo premiado aquele que mais merece, na importante
questão da Meritocracia em escolas, acostumando a criança com a ideia de que,
para se obter algo, é necessário mérito digno, luta. Esta coluna/pedestal é
adornada, como numa mulher com autoestima, que se arruma antes de sair de casa,
como se soubesse que, no momento de interação social, muitos olhos repousarão sobre
tal mulher, pois eu tenho que ser a primeira pessoa que ama a mim mesmo. A
mulher parece estar tomando um banho de Sol, como na pele bronzeada da âncora
gaúcha Cristina Ranzolin, havendo no banho de Sol um momento de entrega, como
se o Sol, em tal momento, fosse um cirurgião intervindo sobre o corpo de um
paciente. O pescoço da mulher é firma e forte, como na Catedral de Caxias do
Sul, templo erguido sobre uma rocha, sendo, por muitas décadas, o ponto mais
elevado da cidade, conotando poder, no estilo “sou eu quem aqui manda”, com as
escadarias convidando o fiel a um momento de elevação espiritual, como nesta
mulher de Brennand, erguendo-se altivamente, como numa Nefertiti tropical de
cerâmica, com sua franca nudez libertadora, conectando-se a tal Céu de
Brigadeiro, no delicioso momento da vida escolar – o recreio, fazendo metáfora
com a libertação do Desencarne, com tantos clubes cujos nomes remetem a isso,
como Clube Juvenil ou Recreio da Juventude, no modo como o
espírito desencarnado rejuvenesce e vive jovem e vigoroso para sempre, no modo
como a “Juventude Feliz” é uma invenção de velhos, pois, na Terra, cada parte
da vida tem vicissitudes, só havendo trégua na Dimensão Metafísica, o
verdadeiro clube de recreio e libertação. Aqui, a nudez á altiva, e nunca é
reprimida por puritanismo hipócrita. É o modo como o Corpo Humano tanto inspira
gerações e gerações de artistas, no modo como Tao foi tão feliz ao inventar
coisas lindas, como o cavalo, por exemplo. Aqui, é como uma cantora, uma diva
embalando os sonhos do Mundo, fazendo da Música uma forma divina de expressão e
Comunicação, no modo como a importância da Arte reside no fato de própria Arte
nos diferenciar de todos os outros seres vivos que conhecemos. É a forma humana
que ver na Beleza aquilo que nos remete ao nosso próprio sangue divino estelar.
Acima, sem título (5). Temos
aqui uma mulher altiva, como numa bailarina que conheci certa vez na PUC de
Porto Alegre, uma moça que exalava classe e elegância, como na altivez de
Madonna na capa do álbum True Blue,
como uma loba solitária uivando, chamando machos para o acasalamento, num
poderoso instinto, como numa Sharon Stone assassina em Instinto Selvagem, como uma viúva negra que mata
o macho na cópula, logo depois de ser fecundada, ou seja, o macho não mais tem
função. O estilo do cabelo desta dama de Brennand remete aos sofisticados anos
1920 ou 1930, na febre das melindrosas, numa revolução estética, como numa Coco
Chanel, uma feminista (na prática) que libertou as mulheres das saias e
vestidos, dos cabelos compridos e das joias verdadeiras, mostrando que, na
barata bijuteria, o que importa é o efeito, num ímpeto de Chanel, cheia de frescor
e coragem, mostrando ao Patriarcado que uma mulher tem que ser livre, ora
bolas, como numa Mulher Maravilha, dotada de sua armadura, rechaçando os tiros
de espingarda machistas, numa mulher que tem o integral controle da própria
vida, mostrando ao marido quem é mesmo o dono de quem, ou seja, cada um(a) é
senhor(a) de si. Esta musa de Brennand faz uma espécie de renúncia, rejeitando
presentes caros de namorados, como se soubesse que, antes de românticos buquês
de flores, o pretendente tem que se mostrar sério e íntegro, digno de respeito.
Aqui, é como o dedo do meio sendo erguido, como num Neo em Matrix, percebendo as insinuações fascistas de um mundo de
mentirinha, assim como as ditaduras são mundos de mentirinha, com artistas
sendo horrivelmente forçados a produzir em nome da ideologia vigente – que
piada. É o simulacro de Matrix,
querendo iludir o cidadão, como no estado totalitário do ousado desenho animado
de Aeon Flux, na tirana dinastia
Goodchild, do inglês, Boa Criança, e o que é uma boa criança num sistema
opressor? É um cidadão que simplesmente não pensa por si mesmo, havendo na
castração da inteligência um insulto gigantesco, como uma pessoa que, tempos
depois, noto que me insultou mentindo, nesta mesma pessoa achando que sou um
tolo sem eira nem beira. Esta musa está de olhos fechados, talvez num artista
sonhador, sonhador como qualquer outro artista, com seus sonhos de ser
reconhecido estelarmente, na ambição de fazer sucesso e ser muito bem
respeitado e bem tratado, no modo como, infelizmente, na Terra, na Dimensão
Material, tantos e tantos sonhos são frustrados diariamente, nesta boulevard
dos sonhos despedaçados, exigindo muita força do indivíduo, como me disse uma
querida professora de Língua Portuguesa: “Não deixe o fracasso subir à sua
cabeça!”. E a Vida não exige que sejamos fortes? Talvez tenhamos aqui uma
mulher transando, mas não vemos o parceiro. É o direito da mulher em ter uma
vida sexual vibrante e interessante, como na personagem Samantha de Sex na the City, uma mulher que vive em
plenitude sua liberdade sexual, transando com “meia Nova York”, numa mulher
que, definitivamente, não tem vergonha de viver sexualmente, detonando com os
arquétipos de mulheres santas, desprovidas de vagina. Esta obra de Brennand me
remete a uma escultura que certa vez adquiri em uma loja de decoração, uma
escultura que trazia uma mulher muito altiva, com o mesmo gesto de rejeição
desta deusa de Brennand. O pescoço desta mulher é longo e forte como o de uma
girafa, num animal que nasceu forte, preparado para as exigências do dia, numa
leoa circundando gazelas desavisadas, no felino caminhando tão silenciosamente,
tão secretamente, até chegar perto o suficiente da presa, abocanhando esta, no
termo “matar um leão por dia”, ou seja, aceitar que a vida é luta, como numa
Margareth Thatcher de Meryl Streep, dizendo que cada dia de sua vida foi deito
de luta, como numa Dercy Gonçalo, digo, Gonçalves, fazendo comédia de uma boca
desbocada e suja, no modo como os palavrões, de certo modo, fazem parte de
nossas vidas, pois o machucado interior tem que vir à tona, curando a alma de
um artista que quer se destacar, no termo em inglês prove yourself, ou seja, mostre ao que você veio.
Acima, sem título (6). Colunas
nesta praça à beiramar, como num templo, mas sem teto, como num templo do Egito
Antigo, com tanto de si levado embora por milênios de erosão, num fóssil, algo
reminiscente, num vestígio, como cinzas numa lareira após uma noite de fogo.
São como totens indígenas, numa hierarquia vertical, com a divindade mais
poderosa ao topo, como num Zeus, o Rei dos Deuses, ou num Odin, o pai de Thor, num
mundo que desde cedo cria as crianças nessa relação social, na necessidade de
se respeitar as posições de poder no Mundo, como numa família de realeza,
acumulando um grande poder tradicional representativo. Aqui, é como um templo a
céu aberto, como nos templos solares do faraó herege Aquenáton, com templos
simplesmente desprovidos de teto, bronzeando os fiéis, na adoração do disco
solar como a única divindade em todo o Universo, sendo o restante filhos de tal
Pai Supremo, dando de presente o que de melhor pode ser dado – a Eternidade,
relegando à danação todas as coisas materiais, na concepção de que até um
diamante está fadado à danação, à ruína, mas com um Ser Humano que ainda não
entende que tudo gira em torno do Pensamento, do Metafísico, da dimensão
ligeiramente acima da nossa na Terra – é a promessa de um mundo melhor, um
mundo muito além das amargas brigas e desentendimentos terrenos. Aqui, esses
pilares são fortes, como se sustentassem o firmamento. Na extrema direita do
quadro aqui, vemos um totem alado, com três pares de asas, o que representa a
Liberdade, o livre arbítrio que tem que permear qualquer atividade artística,
como num pássaro com a liberdade de ir e vir, voando majestosamente,
demonstrando a genialidade de Tao, com animais majestosos, belos, deslumbrantes.
Alguns dos totens aqui têm figuras faciais ao topo, numa observância, numa
sentinela, prevendo a aproximação de inimigos em altomar, num trabalho de
vigilância de fronteiras, com pessoas flagradas em tentativas de Tráfico
Internacional de Drogas, com almas infelizes, seduzidas pelo dinheiro prometido
pelos traficantes. Os totens mais à frente no quadro não são completamente
retilíneos, mas têm um aspecto de gaita, ou como uma cobra vagando como água
num córrego, com marcas de entalhes, como cicatrizes ou rugas, com marcas que
mostram uma proveniência, uma estrada, uma história, com homens charmosos,
cujas linhas faciais mostram uma certa vivência, fazendo metáfora com a
trajetória do espírito, numa alma que já passou por um catatau de encarnações,
crescendo e aprendendo, num espírito que percebeu a necessidade de
aprimoramento moral, abraçando as vicissitudes inevitáveis de uma vida na
Terra, tendo espírito de aventureiro, de desbravador, como num colono chegando
à Serra Gaúcha, encarando terras virgens, cheias de índios e animais selvagens.
Esses totens são como peças num tabuleiro de Xadrez, numa diversidade de papéis
sociais, num jogo em que cada elemento mostra sua particularidade, na
diversidade que tem que haver no Mundo, pois Toa jamais faz dois espíritos
iguais, jamais se repetindo, havendo em cada filho de Tao um ser único,
indivisível e eterno, pois qual seria a razão de tudo sem a Eternidade, sem o
poder imenso de algo que jamais cessará? Que poder, hein? O pilar quase ao
centro do quadro parece usar uma armadura, como num cavaleiro templário, nas
atrocidades que o Ser Humano comete dizendo agir em nome de Tao, fazendo
crueldades que Tao jamais faria. Temos aqui a magia dos museus a céu aberto, numa
sensação de Liberdade, de Arte sincera, na magia de um anjo voando com suas
asas, na sensação deliciosa de Liberdade, como numa Experiência Extracorporal,
na piscina quentinha do Útero Divino dos domínios da Eternidade. Aqui, a ereção
dos pilares é a força de vontade, numa pessoa que tem muita vontade de viver e
de vencer na Vida, pois, sem vontade nem tesão, há solução? É o problema do
deprimido, o qual fica chocho e desanimado, prostrado com as durezas da Vida.
Referências bibliográficas:
Francisco Brennand. Disponível em: <www.pt.dreamsite.com>. Acesso em: 4 mar. 2020.
Francisco Brennand. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 4 mar. 2020.
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