quarta-feira, 1 de julho de 2020

Lavando a Alma



Francês de 1966, Thierry Guetta, radicando-se nos EUA, adotou o nome artístico de Mr. Brainwash, algo como Sr. Lavagem Cerebral. Tornou-se artista de Rua de Los Angeles e já fez nove grandes mostras. BW é discípulo de Andy Warhol, o monstro sagrado da Pop Art. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Cavalo de Tinta. Aqui, temos uma forte irreverência, pois temos o tradicional com jovial – o cavalo é a tradição, o garbo, a beleza clássica, a elegância de um dos bichos mais majestosos que Tao já fez; as tintas quebram com essa tradição, e trazem todo um novo frescor, quebrando barreiras e aparando sisudas arestas. O cavalo é possante e forte, como o possante Gato Guerreiro, o amigo de He-Man. O cavalo é a força, numa pessoa com muita vontade de viver e produzir. É como uma pessoa que se deparou com a inevitável vicissitude, tendo que tirar força do fundo da alma para empreender um esforço enorme e sair de tal fossa, num paciente e persistente trabalho de reconstrução, assim como a Festa da Uva de Caxias teve que se reerguer depois dos horrores da II Grande Guerra, como persistentes formiguinhas, tendo que reconstruir o formigueiro depois de alguma destruição ou desolação, como num trabalho de restauro arqueológico, tentando reconstruir eras há muito destruídas pela simples passagem do Tempo. Aqui, MB nos traz a inevitável sujeira das ruas, com rebeldes pichações, numa terra de ninguém, em que todo mundo quer deixar uma marca, havendo no vândalo tal frustração, numa pessoa que, definitivamente, não está sabendo se expressar para o Mundo, sendo altamente incompreendido por este, pois como o Mundo pode gostar de sujeira, de desnecessidade? As latas estão jogadas, num artista que, depois de fazer a obra, não quis colocar ordem no próprio atelier, numa bagunça onde só o próprio artista sabe se orientar. As cores são a diversidade, a alegria do arco-íris, num momento colorido de festa, de congregação, num momento em que o labor sério dá espaço a um momento de descontração, tendo que haver, na Vida, um balanço ponderado entre trabalho e diversão, pois, como diz Stephen King em O Iluminado: “Muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão”. É uma pessoa que já passou por umas de workaholic, tendo que aprender que a Vida não é só feita de siso, de sacrifício, numa pessoa que simplesmente não se dá aos gostosos pecadinhos, como Gula e Preguiça, ou Luxúria. Podemos imaginar MB jogando as tintas aleatoriamente. É como se uma bomba atômica tivesse caído sobre uma fábrica de tintas, numa espécie de destruição positiva. O cavalo é uma pessoa forte, que quebrou a cara várias vezes e que teve que se reerguer depois de um inacreditável e miserável fundo de poço. Aqui, a obra de MB se mescla com as ruas, e as pichações não deixam de ser coloridas, numa pessoa querendo demarcar território, como um cachorro urinando aqui e ali, como no instinto de se perseguir uma fêmea no cio, como numa cachorrinha que tive, a qual, no cio, atraiu olfativamente um macho, que pulou a cerca e copulou com a fêmea. Aqui, temos uma bonita sujeira, num artista que, depois de “vandalizar” o cavalo, não se deu ao trabalho de jogar fora as latas vazias, como numa casa de acumulador compulsivo, com montanhas de objetos inúteis ou insalubres, numa casa que é o retrato do Inferno, numa pessoa enterrada viva, envolta em seus apegos materiais. Esta obra de MB me remete ao inesquecível Coringa de Jack Nicholson, quando o vilão entrou num museu e simplesmente vandalizou inestimáveis obras de Arte, como pintar um busto romano imitando as cores do vilão, numa cena de violação, num vilão disposto a destruir tudo e todos, no desejo do sociopata de simplesmente trazer o Mundo ao fim, numa obsessão apocalíptica, pois, se só o Amor constrói, como pode haver Amor num coração que quer só destruir? Podemos ouvir o som das latas sendo jogadas ao chão, e ouvir o relinchar do cavalo. Aqui, é como num degradante trote universitário, num momento em que os sádicos veteranos mostram ter, de modo nu e cru, toda a patetice e deselegância humanas.


Acima, sem título (1). Um bom arquiteto para projetar um bom museu, com um jogo complexo de escadas e níveis, como as místicas escadas errantes de Harry Potter, num MB que soube preencher tal espaço, quebrando a neutralidade branca das paredes. Uma gigantesca lata vândala de tinta se derrama pelo espaço, como num acidente, num momento breve de descuido que acabou por detonar tal “bomba”. Podemos ouvir o som do líquido sendo derramado, na cândida cor pink de Barbie, um arquétipo feminino poderoso, na busca por Beleza e Felicidade, buscando fazer metáfora com o Nível Metafísico, a dimensão onde as enfermidades cessam para sempre, no grande e inestimável presente que é a Eternidade, a prova da indefinição enigmática de Tao, o inesgotável. Mais ao fundo, vemos um grande pincel fálico, derramando tinta amarela no chão, como se fosse o dedo divino, caído do Céu, no modo como muitos creem que a Humanidade foi instruída e educada por alienígenas no passado, numa espécie de colonização, de empurrãozinho, no modo como é complicado contemplar as estrelas e duvidar de que há outras formas de Vida orgânica ou inteligente. O Pincel pingando é como uma fonte incessante de Vida, assim como o Bem é eterno, contrastando com a medíocre finitude das intenções malévolas, como todos nós vamos conhecer muitos e muitos psicopatas em nossas encarnações, pessoas que serão visitadas no Umbral por espírito bons, que querem tirar essas almas sofredores de tal ambiente degradante e odioso, na questão do Livre Arbítrio – se quero estar no Inferno, ninguém pode me tirar dali. Mais ao fundo vemos um colorido cavalo pulando, nos ímpetos artísticos, na coragem de se fazer ver, de se expressar com coragem, quebrando barreiras e trazendo novos tempos, novas percepções, como no pioneirismo de Coco Chanel, aniquilando rançosos paradigmas, substituindo joias por bijuterias e fabricando os famosos taileurs encurtando saias, numa marca que se tornou, simplesmente, símbolo de Feminilidade, no modo como dá gosto de se ver uma mulher elegante e bem vestida. O cavalo é a força da imaginação, como diz Madonna em na icônica canção pop Vogue: “Tudo de que você precisa é da sua própria imaginação. Então use-a – é para isso que ela serve”. O cavalo é o tesão a vontade de viver, num momento em que a pessoa dá tudo de si, dedicando-se ao labor, ao prazer de se fazer coisas boas, coisas pertinentes, coisas legais. A lata derramando é o vômito catártico, num momento em que a pessoa tira de dentro de si mesmo algo que lhe estava fazendo mal, num alívio, numa limpeza de pele, extirpando acnes e impurezas. A lata é o líquido de placenta trazendo um bebê ao Mundo, como no excruciante parto de uma mãe brasileira, a princesa Isabel, com 48 horas de trabalho de parto – Jesus do Céu, como é duro ser mulher. Aqui, vemos um vazamento, talvez no infame site Wikileaks, expondo escandalosamente segredos de alta confidencialidade, como entrar numa cozinha, acender a luz e ver baratas passeando pelo chão, assustadas pela luz, como no escândalo de corrupção na Parmalat, numa revelação, como um formigueiro sendo violado, revelando o intenso movimento de formigas dentro. Aqui, temos uma certa metalinguagem, pois é tinta falando de Arte, ou seja, MB nos traz os materiais de trabalho para fazer destes o motivo da obra, ou seja, Arte falando de Arte, mostrando o pezinho de MB na Pop Art, um movimento que pega coisas já concebidas e as transformam novamente em Arte, numa releitura, fazendo menção à Cultura de Consumo, num Mundo que os não endinheirados são simplesmente invisíveis aos olhos de tal cultura, na crueldade humana em maltratar quem pouco tem. A tinta é como um corte na pele, numa cascata de sangue, revelando o que há no interior de nossos corpos. Aqui, temos uma espécie de cascata seca, nas forças naturais, incessantes, possantes, assustadoras, como na força das cataratas de Foz do Iguaçu.


Acima, sem título (2). MB gosta deste aspecto de tinta derramada, como se fosse fresca, no frescor que cada artista tenta trazer ao Mundo, como no sopro renascentista de renovação, num(a) cantor(a) que se esforça para fazer um videoclipe maravilhoso, digno de marcar época, pois existe artista que não deseja se destacar? Como diz na canção da banda Tears for Fears: “Todo mundo quer dirigir o Mundo”, no modo como tal obsessão por sucesso e êxito inspirou o nome da famosa fragrância internacional, o perfume Obsession. Aqui, temos um aspecto de lixão, pois muitas arcaicas máquinas de datilografar estão amontoadas, jogadas fora, desprezadas, descartadas, símbolos de uma época que, definitivamente, passou, como na longeva firma de produtos químicos de minha família me Caxias do Sul, uma firma de mais de cem anos de idade, que passou por uma época em que máquinas de datilografar eram o último grito vanguardista de Tecnologia. As máquinas são a passagem do Tempo, na incessante fome humana por inovações e novas tecnologias, num futuro em que o telefone celular terá apenas um milímetro de espessura. Podemos ouvir o som das máquinas sendo datilografadas, no som de encerramento das antigas edições do televisivo Jornal Nacional, um som que era a identidade da vida de jornalista, no som das redações em TVs, rádios, jornais etc., pois a Ciência não tem limites, sempre conduzindo o Ser Humano, esperando que este desenvolva o tão necessário apuro moral. Na minha infância, eu muito datilografei, numa época pré Word, sendo este o recurso inteligente de se editar um texto antes de ser devidamente publicado, quando que nas remotas máquinas um erro de ortografia era impiedosamente perene na folha de papel. As máquinas desprezadas são as pessoas desprezadas pela impiedosa Sociedade de Consumo, num Mundo cruel no qual os ricos são vistos como felizes, indo contra a crença espírita, para a qual os ricos ficam reduzidos a um estado de infelicidade inacreditável. As máquinas são como um monte de fezes, nos trabalhos diários de evacuação intestinal, havendo nos lixões as brutas arestas do Mundo Físico, um mundo cheio de suas vicissitudes, com limitações como tomar banho, dormir, alimentar-se, quando que, a nível metafísico, o espírito está livre de tal influência orgânica, libertando-se em uma vida plena, como na metáfora do filme Elysium, no qual uma máquina era capaz de curar toda e qualquer doença. Aqui, temos um cenário de descarte, como amigos esquecíveis, amigos fúteis, os quais só existem na hora do oba-oba, desaparecendo quando a situação fica mais séria – é bom olhar nos olhos de um velho amigo de verdade, aquela pessoa que será por nós plenamente reconhecida no Plano Metafísico. Acima desta descarga de resíduos, um quadro cheio de letras, no modo como foi a Letra que tirou o Ser Humano da Pré História, trazendo a era das civilizações, como escrivões em caravelas portuguesas, tomando notas para prestação de contas ao Rei, no ponto de guinada universal que é a democratização da Letra e do Conhecimento, proporcionando que todo Ser Humano entre para a Civilização. As letras aqui são como os painéis de Pré Escola, nos princípios da alfabetização da criança, no papel essencial de professor, como uma professora que tive na Pré, que é inclusive minha amiga no Facebook: Obrigado, professores, pois vocês são importantíssimos. As letras são a ânsia por Comunicação, por trocar ideias, na capacidade de um grande escritor em se comunicar com clareza, como meu ídolo Luis Fernando Verissimo, um homem discreto, apesar de célebre. Esta obra é abrigada por uma grande parede negra, na cor do submundo, num lugar infeliz e sujo, cheio de malícia, de desnecessidades, de frescura e de futilidade. O preto é a cor do Umbral, do nada, da privação, como uma pessoa tateando num quarto escuro, sem noção de Tempo ou Espaço. As máquinas abandonadas são os dentes de leite caídos, na memória de Infância que tenho, na “formiguinha” me dando dinheiro quando eu colocava meu dente caído atrás da porta de meu quarto!


Acima, sem título (3). Aqui, temos algo titânico, como num imponente Michael Jackson pisando no palco, muito além da personalidade doce e gentil do artista. Aqui, é como uma aberração de Frankenstein, num assemblage, numa mistura de partes de cadáveres, no modo como a Sociedade vê os transgêneros como aberrações, em não como pessoas. MB gosta de aspectos vintage, trazendo às suas obras aparelhos tecnologicamente obsoletos, como as televisões de tubo aqui, remetendo-me à minha infância, numa época em que tínhamos que levantar do sofá para trocar de canal, numa época simples, em que éramos felizes com apenas alguns canais da TV aberta, na simplicidade infantil, longe das sisudas exigências adultas. Aqui, temos uma congregação, e cada televisor transmite o que quiser, numa pluralidade em que as diferenças precisam ser respeitadas, como num regime democrático, em que o cidadão tem que ser respeitado em suas escolhas, no modo como plano da Política é marcado por tanta intolerância, algo muito fora das nobres intenções de Democracia e Liberdade. Aqui, é como o ícone do Cinema, o Robocop, um ser apenas cuja cabeça foi preservada, sendo substituído por um corpo robótico, fazendo metáfora com a construção técnica do espírito, no caminho da mortificação, em que a pessoa fica livre das dores emocionais, aprendendo a observar, sem expectativas, o Mundo, pois este não muda, só mudando o modo como me relaciono com tal Mundo, pois Tao observa o Mundo sem expectativas, consciente das limitações de cada um de seus filhos, desejando que estes cresçam e se tornem arcanjos, os espíritos evoluídos e perfeitos, que gozam da Suprema Felicidade. Aqui, o colosso analógico ameaça caminhar e esmagar tudo e todos à sua frente, como nos gigantescos robôs de seriados de aventura japoneses, como os Changemen, com robôs guiados por super heróis, fazendo da máquina uma extensão do Corpo Humano, como o Telefone e a Internet são extensões da voz e do intelecto humanos, com robôs que simbolizam a vitória do Pensamento Racional, dos remédios da Medicina, num robô titânico enfrentando horrorosos monstros, que são os vampiros psicopatas, as forças animalescas que ameaçam a Paz Inabalável Metafísica, ou seja, a pessoa de má fé está “dando murro em ponta de faca”, pois o Bem sempre, sempre acaba triunfando, antes ou depois do Desencarne. Aqui, temos uma democrática diversidade de opiniões e de posicionamentos, e podemos ouvir o som de tal pluralidade, com cada monitor falando e se expressando, talvez na inevitável competição entre os veículos de Comunicação, com emissores concorrendo pela atenção do telespectador durante o Horário Nobre, como na divertida rivalidade entre Globo e SBT, no episódio célebre o qual presenciei, quando a Globo, na última hora, resolver transmitir dois episódios de uma telenovela, para, assim, bater de frente com a emissora de Silvio Santos, a qual não arredou pé enquanto a novela da Globo não terminasse naquela fatídica noite, e a competitividade, o embate, não são divertidos para quem observa e assiste? Aqui, é como a empregada robótica Rose do desenho futurista Os Jetsons, num futuro em que a Tecnologia representa tudo no Mundo, na intenção positivista científica em promover a evolução e o aprimoramento da Humanidade, no conceito de Ordem e Progresso. Imaginamos a trabalheira que deve ter dado a MB construir esta obra, num gesto de pura dedicação, como nuns dos artistas plásticos mais maravilhosos da História – Christo e Jeanne-Claude. E esta é a função áurea da Arte – causar admiração, comoção e inspiração, fazendo da Arte algo muito distante da desnecessidade, pois Arte é uma questão de Saúde Mental. A Ciência tem que servir ao Ser Humano, e não ser usada para guerras, como na cruel Bomba Atômica. Aqui, o robô está à disposição, como o traiçoeiro robô Bishop na franquia Alien, ou o sorrateiro robô de 2001, mostrando que, sem um bom coração, não há tecnologia que faça milagre, como num inteligente cientista querendo trazer ao Mundo a cura do Câncer.


Acima, sem título (4). Aqui, temos uma ironia irreverente, pois é um ponto turístico, em que os turistas gostam de tirar foto, e há, concebida por MB, uma pessoa como se estivesse tirando foto! Temos uma candura, no modo como a pessoa não pode permitir se tornar amarga, empedernida e insensível, como uma amiga que tenho – ou tive –, a qual está se tornando dura como pedra! Saia dessa, mulher! Aqui, MB diz que o Amor é lindo, e que o Mundo precisa menos de Ódio e menos de Guerra. O vermelho é a cor dos enamorados, no gostoso pecadinho da Luxúria, num casal em plena intimidade na cama, deixando o Mundo lá fora enquanto fazem amor entre quatro paredes. O vermelho é o sangue vibrante que pulsa, no vigor de um artista sedento por produzir e ser destacado, no modo como todos temos que ter alguns sonhos, pois a Vida não é só árduo labor – você pode cuidar de uma casa, mas não precisa fazê-lo o tempo todo, como no NAVI, o Núcleo de Artes Visuais de Caxias do Sul, uma instituição na qual artistas se reúnem no período da tarde para produzir; ou como num centro espírita que conheço, o qual só funciona na parte da tarde, ou seja, ninguém precisa mais do que uma manhã para cuidar de uma casa. O vermelho intrauterino é da cor dos bordéis, cheirando a Sexo, no termo “abajur cor de carne”, ou na famosa Casa da Luz Vermelha, de Jorge Amado. É a cor de frutas deliciosas como morango e framboesa, num perfume doce e sedutor, numa mulher que se apruma ao máximo para sempre reconquistar o namorado ou o marido, afim de que o relacionamento não entre numa mesmice destrutiva. Aqui, temos um lindo dia de Sol, como nos casais que querem fazer uma viagem romântica a Paris, com sonhos de Lua de Mel. Aqui, são irresistíveis lábios doces, como numa canção em Inglês: “Lábios como açúcar, beijos açucarados”. É na linha clara linha divisória entre fazer Sexo e fazer Amor, sendo este baseado na intimidade, mais doce, menos animalesco, como na personagem Tereza, de José Clemente Pozenato, uma mulher que, com seu marido, só sabia o que era Sexo, e que, com o amante, finalmente descobriu o que é fazer Amor, na questão de que grana compra tudo, menos Amor, cumplicidade e intimidade – o melhor da Vida não está à venda. Aqui, este fotógrafo em vermelho é a curiosidade, o ímpeto de um fotógrafo, como no mestre Sebastião Salgado, viajando em aventuras ao redor do Mundo, clicando imagens de incrível apuro técnico, no charme elegante das fotos em preto e branco, na cor das telas nos primórdios do Cinema, quando astros e estrelas passaram a seduzir tudo e todos, fazendo metáfora com a beleza dos espíritos desencarnados, entes para sempre jovens, belos, vigorosos, produtivos e divertidos, pois, após a vírgula do Desencarne, a Vida continua, e tomos temos que sair em busca de algum trabalho, de alguma ocupação nobre. Aqui, a caligrafia é doce, no aspecto de um cuidar do outro, como num casal em minha família, com um parente que enfrentou um câncer, e foi, o tempo todo no tratamento, acompanhado pela devota e amorosa esposa, numa lição aprendida na Igreja: “Na Saúde e na Doença”. O fotógrafo aqui é um jovem rapazinho, no modo como certas pessoas se sentem muito jovens, ainda com tanto por descobrir. O fotógrafo é o desejo de conhecer e desbravar o Mundo, desvirginando trilhas em “matas virgens”, no modo como cada pessoa tem que ser autodidata e desbravar seus próprios caminhos, podendo até de inspirar em Fulano, mas nunca querendo ser exatamente igual a Fulano, na dádiva inspiradora de grandes artistas, chamando a atenção do Mundo para a magia da Arte. Este pequeno e rubro fotógrafo é o tesão pela Vida, numa pessoa que encontra prazer em fazer o que faz, num expediente que passa voando, de forma leve, pois que trabalho é este que me faz sofrer? Podemos ouvir aqui o rapazote pedindo atenção do casal, e o momento do som do clique é o que é capaz de eternizar momentos, fazendo metáfora com o Nível Metafísico, no quase o Tempo não existe, pois é a Eternidade, como num Albert Einstein, o qual não tinha noção de Tempo no seu dia a dia.


Acima, sem título (5). Aqui, temos uma das principais marcas registradas da Pop Art, que é a repetição industrial, serial, como numa esteira de fábrica, fazendo bens de consumo, no divertido modo de querer fazer da Arte tal comoção mercadológica, tal sucesso de vendas, fazendo alusão à Cultura de Massa, com vinis e CDs sendo vendidos loucamente nos anos 80 ou 90, por exemplo, num ponto em que Arte e Mercado tentam se aproximar e se conciliar, na linha entre ser um genuíno artista e ser, também, um mestre de vendas, como num certo artista, cujo nome não mencionarei, uma pessoa que busca, num desafio, aproximar o comercial com o catártico. Aqui, temos um sisudo senhor de óculos escuros – são os grandes executivos da Indústria Cultural, como um diretor de empresa fonográfica, como a Virgin, por exemplo, num mundo de homens, do “Clube do Bolinha”, no modo patriarcal de centrar, no Homem, o poder e a influência fálica, com homens numa competição para ver quem tem o falo maior e mais garanhão. Aqui, temos um MB um tanto poeta, redator e citador, como nas seguintes mensagens nesta obra: “Nós temos três vidas: a que vivemos, a que sonhamos e a da que nos lembramos. Viva hoje; preocupe-se amanhã. A Imaginação é mais importante do que conhecimento (autor: Albert Einstein). O que você for, seja bom (autor: Abraham Lincoln)”. Aqui, temos uma claquete de Cinema – a claquete é o ordenamento, a organização, orientando o diretor na hora deste fazer a edição de tal filme. Podemos ouvir o som da claquete batendo, num momento de agressão e rompimento, avisando que está na hora de filmar, de trabalhar, de produzir, no modo como o diretor, no set, é tal figura patriarcal, o homenzarrão ao redor do qual tudo gira, num patriarcado que existe até em grupos humanos neolíticos, como os caciques de tribos. Aqui, este senhor está devidamente vestido e barbeado, e lembra um pouco Alfred Hitchcock, o diretor inovador que conquistou o respeito em uma indústria tão dura quanto a cinematográfica. Aqui, quem dita a regra são esses homens que marcaram a História, como na poderosíssima figura de Jesus Cristo, na imagem que todos temos de Deus – a de um velho patriarca. Aqui, temos um topo de hierarquia, como no xixi que levei do querido diretor Fabio Barreto, o qual me disse: “Quando eu falar algo, você tem que obedecer”. Ou seja, a hierarquia tem a intenção de impor Ordem ao Caos desordenado. Os óculos escuros são a proteção, talvez preservando os olhos do desenvolvimento de uma catarata. Os óculos são as celebridades chegando ao tapete vermelho, com seus óculos contra o forte Sol californiano. A gravata é o garbo, a aprumação, numa pessoa que se apruma para um importante evento social, como um casamento, ao contrário do momento de reclusão, dentro do lar, quando a pessoa sequer se preocupa se está arrumada ou não. Aqui, a tinta preta escorre, como impiedosa lava num vulcão – é a força da Natureza, amedrontando o Ser Humano, fazendo este ver divindades, como Thor, o deus do trovão com seu agressivo martelo, demarcando momentos agressivamente. As claquetes são a relação de continuidade que existe entre todas as Artes, como me disse uma artista: “As Artes estão uma dentro da outra”, ou seja, por exemplo, o que seria do Cinema sem a Música? Este senhor é altivo, e tem imponência, presença, como um marcante perfume masculino, na lembrança de infância que tenho, com meus pais saindo perfumados de casa para algum evento social. Aqui, a repetição serial da imagem vai contra o texto, os quais não se repetem, salvando a obra da monotonia. Os óculos escuros mostram um olhar frio, na fria Razão científica, impondo a mortificação às dores emocionais, como um dentista tirando a dor de um dente, no modo encarnatório como é inevitável uma dorzinha aqui ou ali – é assim mesmo, rapaz! Aqui, este patriarca não sorri, talvez por ter que administrar tantos sérios problemas em seu reino.

Referências bibliográficas:

Artworks. Disponível em: <www.mrbrainwash.com>. Acesso em: 24 jun. 2020.

Mr. Brainwash. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 24 jun. 2020.

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